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AVALIACÃO DOS LIMIARES DOLOROSOS POR ALGOMETRIA DE

PRESSÃO EM PACIENTES COM TRANSTORNO DE PERSONALIDADE


BORDERLINE

INTRODUCÃO

A maneira pela qual o indivíduo enxerga o seu próprio sofrimento


constitui um dos pontos-chave da constituição da sua personalidade
(MARTINS, 2021a). Quando o indivíduo tem uma distorção na interpretação de
qualquer fato que ocorra em si mesmo ou no mundo externo a si, dizemos que
ocorre um transtorno de personalidade (TP) (MARTINS, 2021b).
O TPs acontecem em 10 % da população, sendo o transtorno de
personalidade borderline (TPB) responsável por metade desse contingente.
Esses pacientes tem graves alterações cognitivas, que resultam em
interpretação distorcida do sinal da dor. Vários estudos corroboram a
observação clínica de que os portadores de TPB apresentam com frequência
dores crônicas numa prevalência bem maior que a população geral (MARTINS,
2021b).
O transtorno de personalidade borderline se caracteriza por Instabilidade
persistente nos relacionamentos, na autoimagem e nas emoções
(desequilíbrio emocional), bem como acentuada impulsividade.
Esse padrão é caracterizado por ≥ 5 dos seguintes:

 Esforços desesperados para evitar o abandono (real ou imaginado)


 Relacionamentos intensos e instáveis que se alternam entre
idealização e desvalorização da outra pessoa
 Autoimagem ou senso do eu instável
 Impulsividade em ≥ 2 áreas que pode prejudicá-los (p. ex., sexo
inseguro, compulsão alimentar, dirigir de forma imprudente)
 Comportamentos, gestos ou ameaças repetidos de suicídio ou
automutilação
 Mudanças rápidas no humor, normalmente durando apenas algumas
horas e raramente mais do que alguns dias
 Sentimentos persistentes de vazio
 Raiva inadequadamente intensa ou problemas para controlar a raiva
 Pensamentos paranoicos temporários ou sintomas dissociativos graves
desencadeados por estresse

Além disso, os sintomas devem ter acontecido no início da idade adulta, mas
também podem ocorrer durante a adolescência.
Algumas estruturas neurais da região fronto-límbica se apresentam
alteradas nos pacientes com TPB. Estudos com RMN funcional evidenciam
diminuição da atividade em regiões do córtex pré-frontal e parte anterior do giro
do cíngulo e aumento da reatividade da amígdala. Essas mesmas regiões
cerebrais são implicadas no processamento anormal da dor nos pacientes
crônicos (MARTINS, 2021b).

Pacientes com transtorno de personalidade borderline tem diminuição


da sensibilidade para estímulos dolorosos agudos, porém tem uma maior
sensibilidade no caso de dores crônicas (MARTINS 2021b).

O dano tecidual causado por traumas ou inflamações produz a liberação


de substâncias químicas chamadas algogênicas que podem levar à
sensibilização dos nociceptores. Dentre essas substâncias estão a acetilcolina,
bradicinina, prostaglandina, serotonina, leucotrieno, substância P, fator de
ativação plaquetária, Tromboxano, monofosfato de adenosina e fator de
crescimento neural (WOOD, 2004).
Essas substâncias contribuem para a geração e manutenção do
processo inflamatório, exercendo papel fundamental no mecanismo de
sensibilização periférica à dor. A bradicinina leva a um aumento na
permeabilidade capilar. A substância P e a neurocinina levam à vasodilatação e
também aumento da permeabilidade capilar, ocasionado a propagação da
inflamação (SCHMIDT, 2008).
A sensibilização central pode ser definida como uma resposta mediada
pelo aumento da dor para estimulação nociceptiva por meio de amplificação da
sinalização no sistema nervoso central e é caracterizada por diferentes
alterações somatosensoriais (DE-LA-LLAVE-RINCÓN et al., 2012). A
sensibilização central implica em alterações dos impulsos periféricos com
redução do limiar ou aumento da resposta aos impulsos aferentes.
As descargas persistentes após estímulos repetidos levam à ampliação
de campos receptivos em neurônios do corno dorsal. Impulsos repetidos na
fibra C amplificam os sinais sensoriais em neurônios espinhais, enviando
mensagens para o encéfalo (ZHUO, 2007).
A algometria é uma técnica capaz de medir a fisiologia do sistema
nociceptivo, quantificando a percepção e a tolerância dolorosa através de
estímulos físicos (pressão sobre os nociceptores). Essa pressão é diretamente
relacionada com o peso (força) e indiretamente relacionada com a área
estimulada elevada ao quadrado. Por isso, todos os resultados são expressos
em KPa ou (Kg/cm). A utilização da algometria na área diagnóstica permite
avaliar semi-quantitativamente a intensidade da dor, assim como a localização
dos pontos dolorosos.
O limiar de detecção da dor induzida por pressão diz respeito ao
estímulo mais baixo de pressão que é percebido como dor (PIOVESAN et al.,
1998). Isso possibilita avaliações com a comprovação de que os limiares
dolorosos em pacientes com determinadas condições clínicas são mais baixos
do que na população geral (BERNARDINO, 2012).
Em estudos experimentais, a algometria avalia os resultados imediatos
sobre os pontos dolorosos, após a infiltração desses, por bloqueios
anestésicos. Além do mais, quantifica a melhora da dor após técnicas não
invasivas como calor local, imobilizações e fisioterapia. Além do mais,
mensuram o efeito de analgésicos ou outra drogas que influenciam o controle
nociceptivo central, como os antidepressivos (PIOVESAN et al., 2001).
Acredita-se que os padrões clínicos diferem de acordo com o grau de
mielinizacão dos nociceptores, pois levam a diferenças nas características da
condução (PIOVESAN et al., 1998).
Esse será o primeiro estudo a avaliar os limiares dolorosos através da
algometria em pacientes com transtorno de personalidade borderline.

HIPÓTESE

O limiar para sensação dolorosa é menor em pacientes com transtorno


de personalidade borderline, nos territórios inervados pelo nervo trigêmeo,
nervo mediano e nervo fibular superficial.

OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL

Determinar os limiares dolorosos em pacientes com transtorno de


personalidade borderline em território inervado pelo nervo trigêmeo, pelo nervo
mediano e pelo nervo fibular superficial.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Comparar os valores obtidos com o grupo controle.


- Relacionar com a escala de gravidade dos sintomas.

MÉTODO
A pesquisa será realizada na clínica Unidade do Cérebro, na cidade de
Surubim. Serão avaliados 40 pacientes com transtorno de personalidade
borderline e 40 sujeitos controle, entre os meses de outubro de 2021 e março
de 2022. O mesmo examinador fará a avaliação de todos os sujeitos da
pesquisa. Todos os sujeitos da pesquisa responderão ao questionário BSL-23
(ANEXO 1) antes da avaliação pela algometria.

GRUPOS

Os grupos serão divididos em : A) Controle (n=40): voluntários sadios que são


familiares dos pacientes e B) Pacientes com diagnóstico de transtorno de
personalidade borderline segundo os critérios diagnósticos do DSM 5.

CRITÉRIOS DE INCLUSÃO

Serão selecionados pacientes com diagnóstico de transtorno de personalidade


borderline entre 18 e 99 anos de idade.

CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO

Pacientes com qualquer tipo de patologia que interfira na percepção da dor,


tais como: déficit cognitivo de quaisquer tipos, doenças dermatológicas
(psoríase, herpes zoster, hanseníase), transtornos psiquiátricos com sintomas
psicóticos, neuropata sensitiva, diabetes, tireoidopatias.

RISCOS

Os pacientes poderão sentir uma sensação desconfortável ou até dor leve


quando for aplicada a pressão pelo algômetro, porém a sensação
desconfortável dura alguns segundos e não acarreta nenhum risco à vida dos
participantes.

AVALIACÃO DOS PACIENTES

As áreas estimuladas serão divididas em: A) Território do nervo trigêmeo


a parte anterior da região temporal, B) Território do nervo mediano na mão e C)
Território do nervo fiibular superficial na face anterior da perna.
Os participantes ficarão em repouso durante dez minutos, tempo
considerado suficiente para o relaxamento, antes de ser iniciada a aferição pelo
algômetro (PIOVESAN, 2001). Será utilizado um algômetro digital da marca
americana Wagner com display de cristal líquido de 5 dígitos, 0,5’’e certificado
de calibração. Obtendo-se um ângulo de aproximação de noventa graus,
formado entre a superfície de estimulação e o ponto estimulado. Será
administrada velocidade de aproximação constante. Os participantes serão
orientados a informa a primeira sensação desagradável de dor (percepção
dolorosa). Imediatamente após essa informação, será interrompido o estímulo
e registrados os valores em Kg/cm.

ANÁLISE ESTATÍSTICA

A análise estatística será realizada por meio da obtenção de percentuais


e medidas estatísticas tais como: média aritmética, desvio padrão e os
percentis 25% e 75%, com erro de 5%. Os parâmetros serão testados com
relação à caracterização da normalidade pelo teste de Shapiro-Wilk. Para
dados com distribuição não-paramétrica, o teste de Kruskal-Wallis será
utilizado. No caso de diferença significativa serão realizadas comparações
pareadas com o teste (posthoc) de Dunn.

CRONOGRAMA

10/2021 a 03/2022– coleta dos dados


04/2022 a 06/2022 – avaliação dos resultados

CUSTOS

Algômetro – R$1.000,00

REFERÊNCIAS
SCHMIDT, A.P.: Estudo sobre os mecanismos envolvidos na atividade
antinocecipetiva das purinas: o papel dos derivados da guanina. Tese de
doutorado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2008, 14-20p.

WOOD, J.N.: Recent advances in understanding molecular mechanisms of


primary afferent activation. Gut, London, v. 53 (Suppl 2), p. 9-12, mar.2004.

ZHUO, A.; KOSOVETS, L. Na assessment of the sympathetic function within


the hand in patients with carpal tunnel syndrome. J Hand Surg Eur., Oxford, v.
35, n. 5, p. 402-8, jun. 2010.

PIOVESAN, E.J.; WERNECK, L.C.; TEIVE, H.T.; NAVARRO, F.; KOWACS,


P.A.: Neurofisiologia álgica na irritação tentorial: descrição de um caso
secundário a meduloblastoma. Arq Neuropsiquiatr, São Paulo, v.56, n. 3B, p.
677-82, set. 1998.

PIOVESAN, E.C.; TATSUI, C.E.; KOWACS, P.A.; LANGE, M.C.; PACHECO,


C., WERNECK, L.C.: Utilizacão da algometria de pressão na determinacão dos
limiares de percepção dolorosa trigeminal em voluntários sadios. Arq. Neuro-
Psiquiatr, São Paulo, v.59, n.1, p. 92-6, mar. 2001.

BERNARDINO S.N. Medidas dos limiares dolorosos por algometria de pressão


em pacientes com cefaleia primária. Dissertação de mestrado, Recife, UFPE,
2012, 25p.

MARTINS, H,A.L., MARTINS B.B.M., MARTINS, B.B.M., RIBAS, V.R.,


SANTOS, A.L.B. Borderline and antissocial personality disorders in the bible.
Journal of psychology and psychotherapy research, 2021, 8, 11-21.

MARTINS,H.A.L. Is borderline personality disorder the cause of chronic


headache? Avancos em Medicina, 1 (1): 75-76.

ANEXO 1. BSL -23

(ATENCÃO CAMILAAAA!!!!!) rsrssr

Colocar aquele mesmo questionário do BSL-23 aqui!


Eu não consegui importar para aqui no formato que eu tenho.

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