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A MODA BRASILEIRA – UMA AVALIÇÃO SOBRE A BUSCA PELA

ESSÊNCIA NAS CRIAÇÕES INTERNACIONAIS

THE BRAZILIAN FASHION – AN EVOLUTION OF THE ESSENCE IN THE


QUEST FOR INTERNATIONAL CREATIONS.

Jaqueline Morbach Neumann


Unisinos – RS
e-mail jmorbach@terra.com.br

Tais Rissi
UCS – RS
e-mail tais.rissi@gmail.com

Resumo
Este artigo apresenta reflexões sobre o importante mercado têxtil brasileiro e a evolução
da moda no Brasil, demonstrando uma trajetória de dificuldades constantes que não
possibilitou a imposição de um estilo brasileiro, pois o Brasil continuou sofrendo fortes
influências da alta costura prêt-à-porter francesa ou a “pronta pra usar” respectiva a
dinâmica americana. O propósito central deste artigo é realizar uma análise sobre vários
aspectos que são fundamentais para o desenvolvimento do design com a identidade
brasileira, deixando de buscar em outros mercados tradicionais de pesquisa a essência
para criação.
Palavras chaves: moda - moda brasileira - identidade

Abstract
This article presents reflections on the important Brazilian textile market and the
evolution of fashion in Brazil, demonstrating an history of difficulties in not allowing to
impose a Brazilian style and that continued suffering strong influences of haute couture
and French prêt-à-porter, “or ready to use”, respective the dynamic American. The
core purpose of this article is analyse different aspects that are fundamental to design
development it a Brazilian identity, avoiding in this way the necessity of going behind
the essence of creation in other traditional markets.
Key-word: fashion – brazilian fashion – identity

1. Introdução
Atualmente, a indústria têxtil mundial passa por uma reorganização, devido à
demanda que não acompanhou o crescimento no mercado de novos produtores (FINEP,
2004). Desta forma, para as empresas conseguirem mais competitividade, houve a
necessidade de diversificação de produtos focados a nichos bem delineados com
trabalho de fixação de marca, desenvolvimento de produto, marketing, canais de
distribuição e comercialização (FINEP, 2004).
A indústria têxtil brasileira surgiu a partir dos anos 50 apresentando muitas
limitações tecnologias e de mão-de-obra qualificada decorrentes de uma política e
economia brasileira fechada sem muitos incentivos para o desenvolvimento. A partir de
1990, com a abertura da economia brasileira, teve a oportunidade de se modernizar e
aumentar a sua competitividade, resultando numa indústria de confecção pulverizada,
apresentando uma melhora em capacitação produtiva, atualização tecnológica,
produtividade e desempenho de vendas com marcas estabelecidas, ou seja, se adaptando
à via de diferenciação de preço-qualidade-criatividade gerada pela grande
competitividade mundial (FINEP, 2004). Criatividade está vinculada diretamente com a
condição de desenvolver design.
Para Kotler (1998), design significa a forma mais potente para diferenciar e
posicionar os produtos e serviços de uma empresa, e o designer será o profissional que
dará as diretrizes para a organização: quanto investir no desenvolvimento de
característica, desempenho, conformidade, confiabilidade, facilidade de conserto, estilo
e assim por diante.
A proposta deste artigo é realizar uma reflexão sobre os motivos que permeiam o
Brasil a manter a condição principal de copiador e não de lançador de moda com uma
identidade própria. Pois se mantém como base de pesquisa as tendências impostas pela
Europa e EUA (FEGHALI, 2004). Avaliando, também, os aspectos necessários para o
desenvolvimento de bons profissionais e das empresas necessária para que consigamos
reconhecimento nacional e internacional da moda brasileira sem cair no estereótipo
folclórico.

2. A Moda e sua Dinâmica


A moda surge com o domínio exclusivo da sociedade ocidental, sendo
desenvolvida por uma tríplice engrenagem que é estética, psicológica e social, e assim
como diferencial entre os vários grupos culturais ou de gêneros (PONTES, 2004;
FEGHALI, 2004). Está inserida no próprio desenvolvimento humano e da
transformação da sociedade, como um manifesto artístico representando costumes e
comportamentos (BERGAMO, 1998).
Através de estudos do sociólogo Gabriel de Tarde, a moda é descrita como uma
forma de definir um indivíduo, na qual ele imita outro indivíduo, e assim, se
assemelham formando um grupo. Existe uma lógica para tal, ou seja, imitamos aquilo
que nos parece superior, representando uma necessidade de luxo que se sobrepõe às
necessidades primitivas, mas que não há uma cópia única, mas generalizada (TARDE
apud MONNEYRON, 2007).
A moda é considerada como indício de um grupo mais ou menos favorecido.
Buscando sua legitimação através da mídia e editoriais de moda, resultando numa
demanda, consideram estilos de sua legitimação e assim descrevendo suas qualidades de
caráter individual - sensualidade, coragem, rebeldia, força, romantismo, etc.
(BERGAMO, 1998).
A moda descreve um juízo de valor decorrente de experiências sociais,
percepções de injustiças e tudo aquilo que orienta as pessoas, demonstrando a
complexidade da sociedade e uma concepção estética do mundo (BERGAMO, 1998).
Através destas percepções busca-se a diferenciação, que é a busca incessante da vida
urbana e democrática descrevendo o movimento da moda que impulsiona o mercado e
de desenvolvimento de especialistas desde a criação, produção, informação até o
próprio consumo (BERGAMO, 1998), surgindo à festa como responsável pelo
cerimonial de iniciação para apresentação dos atributos relativos ( BERGAMO, 1998;
PONTES, 2004; ).

2. A Evolução da Moda no Brasil


O Brasil inicia os primeiros passos para a moda nos anos 50 com a abertura da
Casa Canadá de Luxe (FEGHALI, 2004). A partir dos anos 60, a moda brasileira
consegue alcançar certa qualificação (JOFFILY apud Santos, 2007). Foi neste período
que a Rhodia realiza exposição de 74 vestuários produzidos por costureiros com 21
temáticas populares desenvolvidas por artistas plásticos para a promoção de tecidos
(SANT ANNA apud SANTOS, 2007).
Em 1964, é importante destacar que, devido a um Estado autoritário, é integrada
a categoria de Estado nacional e popular, buscando assim concretizar uma identidade
autêntica brasileira (ORTIZ apud SANTOS, 2007).
A indústria da moda brasileira era caracterizada como defasada e com poucos
recursos tecnológicos para produção de confecção de alta qualidade (FEGHALI, 2004).
Isto é decorrente de uma proteção de mercado internacional, devido a poucas barreiras
de entrada (ABRAVEST, 2006), e do mercado nacional, onde há incidência de altos
impostos de importação (FEGHALI, 2004, FERRAZ, 1997).
A partir dos anos 90, com a abertura da economia brasileira no governo Color de
Melo, o mercado têxtil brasileiro se desenvolveu sobre uma indústria de predominância
de micro e pequenas empresas, com jovens profissionais da moda de formação
universitária internacional, possibilitando ser mais competitiva em relação aos produtos
importados, colocando o Brasil no calendário Internacional Oficial da Moda através do
São Paulo Fashion Week (SANTOS, 2007; ABAEST, 2004)
Atualmente, o Brasil compreende a importância de mais de 30 mil empresas que
geram 1,65 milhões de empregos (incluindo fios, fibras, tecelagens e confecção),
apresentando um dos maiores parques fabris do mundo, é o 2º fornecedor de índigo e o
3º fornecedor de malha a nível mundial, está entre os 5 principais países produtores de
confecção e um dos 8 maiores mercados de fios, filamentos e tecidos. As exportações
entre janeiro e agosto de 2007 chegaram a US$ 306,9 milhões representando um
aumento de 48,77% (ABIT, 2008).

4. Estilistas Brasileiros
O Brasil teve seu avanço na moda a partir da década de 50 e alcançando
determinado auge nos anos 60 através de alguns figurinistas como o expoente máximo
Dener. Mas nenhum destes conseguiu impor um estilo brasileiro. A moda continuou
sendo fortemente influenciado pela alta costura prêt-à-porter (Francesa) ou “pronta pra
usar” respectiva à dinâmica da moda americana (FEGHALI, 2004). Possuindo uma
estrutura de apoio precária em relação a administração e marketing do negócio
(FRAGA, 2008; SABBAG, 2008).
A seguir, descrevemos aqueles que consideramos as principais influências:
a.Casa Canadá de Luxe
A primeira casa de alta costura do Brasil, Casa Canadá de Luxe, inaugurada no
RJ em 1944, pelo proprietário Jacob Feliks e administrada pelas irmãs Mena Fiala e
Cândida Gluzman, é reconhecida como o ato impulsionador para promover a inovação
da confecção brasileira. Pois através de suas viagens a Europa, aprimoraram técnicas de
produção, formação de mão-de-obra especializada, utilização de modelos vivos para
apresentar a coleção, e Design de Moda Brasileira com seus ricos vestidos de noiva
feitos de tecido finos bordados com ouro, prata e pedraria e trabalhado com rendas
criadas pelas próprias irmãs (FRAGA, 2008).
O seu fechamento aconteceu em 1967 após a desapropriação do prédio
(FRAGA, 2008).
b. Alceu Penna
Alceu Penna é descrito como um homem que criava e demonstrava a arte,
indiferente se como ilustrador, figurinista, carnavalesco, escritor ou estilista, de uma
forma rica e esplendorosa, mas com traços simples e suave (FRAGA, 2008).
Alceu Penna realizou muitos trabalhos marcantes em sua carreira profissional
como a colaboração em revistas como “A Cigana”, “O Globo Juvenil”, “Manequim” e
“O Cruzeiro”, por quem viajou a Feira de Nova Iorque e foi correspondente de moda em
Paris. Também realizou ilustração do livro "Detalhes de Elegância e Beleza" de Elza
Marzulo, organizou o calendário Santista, responsável pelos desenhos do caderno de
orientação de moda da Rhodia e dos figurinos para o show “Momento 68” (SABBAG,
2008).
Um dos trabalhos mais conhecido de Alceu Penna foram “As Garotas de Alceu”,
que apresentavam a expressão da vida moderna, e que virou referência para garotas
modernas, adotando os penteados e atitudes que as imagens descreviam. Além de
referência para lançamentos e desenvolvimentos na indústria têxtil como tramas de
tecidos, texturas e cores de estação. Este trabalho foi realizado por 28 anos consecutivos
de publicação ininterrupta (SABBAG, 2008).
Na década de 60, a Cia Rhodia Brasileira, lançou os seus grandes desfiles e
shows internacionais de moda, com modelos e estampas exclusivas de Alceu Penna que
passa a executar os grandes desfiles da Rhodia. Estes desfiles estiveram presentes na
Europa, Ásia e América do Norte percorrendo Roma, Paris, Hong Kong, Beirute e
depois em quase todas as capitais brasileiras em espetáculos beneficentes (SABBAG,
2008).
Seu último trabalho foi em 1975 com assessoria e desenhos de estilismo para
Raicharm Indústria de malhas e modas Ltda. Em 1980 Alceu Penna morre (SABBAG,
2008).
c. Denner
Dener inicia sua trajetória profissional na Casa Canadá, que descreve como
sendo a primeira escola e de grande importância para adquirir os segredos da alta
costura. Em 1957, aos 21 anos, abre o seu primeiro atelier, e desenvolve sua confecção
que era fora das comodidades do copismo, desenhado conforme o tipo físico, idade e
gosto dos clientes em consonância como o clima tropical, mas não perdendo a
identidade do prêt-à-porte (SABBAG, 2008).
Usava bordados, recortes suntuosos e certa dramaticidade nos vestidos de festas,
ele sabia o grande segredo da alta-costura. Seu estilo era clássico e elegante, e seus
tailleurs tinham bases simples e cortes perfeitos (FRAGA, 2008).
Denner afirmava que um país somente tem moda própria quando possui uma
excelente alta costura, que inspira e mexe as engrenagens de todo mundo da moda,
lança padrões e estilos (SABBAG, 2008). Recebeu prêmios como a Agulha de Ouro
(Festival da Moda) em 1959, e a Palma de Ouro (Festival Internacional da Moda) em
1964 além de ser indicado para substituir Christian Dior, após a sua morte, na criação da
maison francesa (SABBAG, 2008).
d. Zuzu Angel
Em meados dos anos 50, Zuzu Angel apresentou sua moda diferenciada e
original, trazendo consigo uma forte influência da cultura baiana e introduzindo a
mulher como um ser criativo superando um estereotipo masculino da época com a sua
simplicidade, feminilidade e profundidade do seu trabalho. Seu maior desejo era não
somente vestir a elite, mas a mulher da rua no seu dia-a-dia produzindo em massa
(SABBAG, 2008).
Zuzu Angel foi pioneira em várias ações com sua linguagem pessoal e cores
tropicais: utilizando materiais brasileiros como bambu e pedras brasileiras, misturando
tecidos como casimira e seda pura, introduzindo produtos no mercado americano,
ganhando espaço em importantes espaços editoriais e lojas de departamento americanas
(SABBAG, 2008).
A figura de anjinhos, crucifixo e dos tanques de guerra forma metáforas
utilizadas para simbolizar o seu trabalho e a história de seu filho, morto pela ditadura
brasileira em 1968, período em que seu trabalho apresentou algumas faixas de luto
(SABBAG, 2008; MAJOLO, 2008). Zuzu Angel morreu em 1978 antes de ter se
tornado um nome de expressão fora do Brasil (SABBAG, 2008).
e. Ronaldo Fraga
Ronaldo Fraga, após a sua graduação na UFMG e pós-graduação em Parson‟s
School em Nova York, e Millenery pela Saint Martins em Londres, voltou ao Brasil e
participou de uma das primeiras edições do Phytoervas Fashion (1997) em São Paulo,
recebendo a premiação como o “estilista revelação”. Em 2002, pela ABIT recebeu o
prêmio de “melhor coleção feminina” com a coleção “Quem matou Zuzu Angel?”, e é
autor do livro “Moda, roupa e tempo – Drumond selecionado e ilustrado por Ronaldo
Fraga” (FRAGA, 2008; CARVALHO, 2008). Neste último dia 07 de maio recebeu o
prêmio “Ordem do Mérito Cultural” recebido em mãos do Presidente da República Luiz
Inácio Lula da Silva (ZARA MODA, 2008).
Ronaldo Fraga, sob um olhar humorado, vigilante e amoroso, usa como base
para criação de sua coleção a “consciência do esquecimento”, buscando o não
valorizado e o esquecido, realçando em caráter heterogêneo uma variedade de
influências da formação cultural brasileira, colocando sob uma lupa a incapacidade do
homem de ver além da própria consciência, valorizando aspectos desta sem folclorizar
(CARVALHO, 2007).
Ronaldo Fraga comercializa em duas lojas próprias (BH e SP), e em 30 lojas
multimarcas. Desde 2001, é responsável pelo conceito “Lei Básica” que possui seu
showroom em SP (FRAGA, 2008).
f. Lino Villaventura
Lino Villaventura (Lino) iniciou seu trabalho em 1978 com pequenas produções
de tiragem limitada, e em 1982 registrou a sua marca abrindo a primeira loja em
Fortaleza (SANTOS, 2007). Ele é descrito com um senso estético apurado, que combina
elementos diferentes desde rústicos, artesanais e tecidos sofisticados ou de fibras
naturais, resultando em uma roupa de forte impacto visual, fazendo uma releitura do
luxo e da beleza (CONTE & VENZON, 2007).
Participou de muitos eventos internacionais como em Paris, Tóquio, Dusseldorf
e Beiruti, podendo apresentar suas criações e levar a identidade em moda brasileira
(SANTOS, 2007). Atualmente tornou-se referência para editoriais de moda na Vogue,
Elle, Marie Claire, no Brasil e no exterior com L‟Officiel, Collezione, Homme,
Magleria Italiana (SANTOS, 2007).
Para o estilista Lino, a moda somente pode ser considerada de um determinado
lugar quando os profissionais envolvidos pela criação são de origem daquele lugar e que
irão influenciar de alguma forma usando referenciais de sua origem, mesmo que estes
não sejam perceptíveis ao olhar da maioria (SANTOS, 2007).

5. Gerenciamento do Design da Moda.


No mercado globalizado, o design representa a identidade, a qualidade e o
diferencial de um produto num mercado de tecnologia homogenia. Também oportuniza
a competitividade entre empresas de pequeno e grande porte, ou ainda que possuam um
diferencial tecnológico. O design garante a subsistência da organização no mercado,
pode determinar o sucesso comercial ou ainda ter uma representatividade estratégica do
negócio (RECH, 2007).
Para o desenvolvimento das empresas no mercado da moda com design,
consideramos relevante a abordagem sobre os assuntos abaixo:
a. O gestor de design da moda:
As organizações, através dos gestores de design da moda, precisam estar atentas
à forma de viver dos consumidores, do desenvolvimento tecnológico, as tendências
culturais, sociais e econômicas da sociedade, para poder atender as exigências do
mercado (WOLF apud RECH, 2007).
Para Bonsiepe (apud RECH, 2007), há requisitos necessários para o bom
desempenho do gestor de design da moda como: a observação e análise das tendências
do mercado em termos de design; a formulação das especificações de uso de um
produto; a elaboração de cenários de uso para novos produtos e sistemas de produto; a
interpretação e a tradução das contribuições do marketing para a realidade do mercado;
a elaboração de anteprojetos, dos detalhes técnicos e formais, e de propostas para o
acabamento, cores, texturas e design gráfico do produto; a participação na escolha dos
materiais e dos processos da fabricação; a interpretação dos „testes‟ dos usuários, a
contribuição para a criação de uma identidade corporativa; e a avaliação da
compatibilidade ambiental dos projetos (apud RECH, 2007).
Estes requisitos tornam o gestor de design da moda, um profissional polivalente,
obtendo uma visão geral de todo o processo de desenvolvimento de um novo produto,
podendo ser um importante articulador entre várias áreas como marketing, engenharia e
desenho industrial (BAXTER apud RECH, 2007). A capacidade de articulação também
permitirá o desenvolvimento de comitês, onde profissionais como gerentes de produto,
gerente comercial e estilistas, podem ter participação efetiva de decisão de
desenvolvimento de produto e o próprio sucesso do mesmo (ABRANCHES apud
RECH, 2007).
b.Instituições de Ensino:
As instituições de ensino surgem como uma forma de desenvolver competências
de criação e interdisciplinaridade para atender as novas necessidades do mercado, com
uma vocação econômica regional, para as novas áreas de conhecimento utilizando as
inovações tecnológicas emergentes (DIAS, 2004). As instituições de ensino surgem
como a função de incubadoras e perpetuação da renovação do conhecimento,
legitimando as suas criações (SANCHES, 2006).
Conforme Nojima (apud RECH, 2007), somente através das Universidades
poderemos impulsionar o país ao controle de seu próprio desenvolvimento e dar
respaldo a uma massa crítica responsável.
O estudo realizado por Sanches (2006) verificou que os alunos no curso de moda
da FURB (Universidade Regional de Blumenau) do Estado de Santa Catarina, e FASM
(Faculdade Santa Marcelina) do Estado de São Paulo, desenvolvem criatividade,
preocupação com o design, exercendo funções múltiplas mantendo suas grifes para
grupos elitizados e criando para outras marcas.
No Brasil, por diversos motivos políticos, ocorreu o atraso no desenvolvimento
da institucionalização do ensino de design (DIAS, 2004). Pelos fatores decorrentes da
cultura da cópia de produto bem sucedido do exterior e o desentendimento dos
empresários sobre a atividade, também foram complicadores para o desenvolvimento de
profissionais na área da moda (WOLLNER apud DIAS, 2004).
Somente a partir do ano de 1987, com o reconhecimento formal do design por
parte de instituições governamentais, trabalhando pela redução da falta de preparação
didática dos docentes, superficialidade no tratamento de teorias e do desconhecimento
do mercado, e com apoio a pesquisas e intercâmbio de estudantes, os cursos superiores
e de pós-graduação foram difundidos pelo país, introduzindo a sistemática de
disciplinas de diferentes áreas de conhecimento, (DIAS, 2004).
c. Mídia e suas influências
A sociedade pós-moderna desviou-se de hábitos tradicionais como a convivência
no bairro, bate-papos em livrarias, idas freqüentes às salas de cinema, e passou a buscar
saberes e informações na mídia (SCHMITZ, 2007; LIPOVESTSKY, 2004). Atualmente
a mídia representa uma contemplação ou ampliação das relações pessoais
(LIPOVESTSKY, 2004), promovendo a integração social e se tornando uma matriz de
configuração de sentidos, marcando processos de apropriação e construção (SCHMITZ,
2007).
A mídia também é percebida como tendo uma profunda relação com as práticas
capitalistas (MALDONADO apud SCHMITZ, 2007). Com os bombardeios diários de
publicidade que se recebe ao ligar a televisão, ela se faz necessária para girar a máquina
comercial da indústria da moda. Também são consideradas importantes as revistas, os
jornais, os livros, os filmes, os programas de rádio e TV, associadas à cultura de
consumo, pois incentivam o desenvolvimento e as transformações pessoais, os
relacionamentos e as ambições (LIPOVESTSKY, 2004).
A mídia televisiva é considerada como o meio mais eficiente para divulgar a
ideologia do efêmero da moda, pois atinge a todas as classes sociais (STEFFENS,
2007). Para Duran, isto é decorrente aos fracos hábitos de leitura devido à baixa
condição financeira para compra de livros e revistas (apud STEFFENS, 2007). E
também é acusada de instrumento de manipulação e alienação totalitária, controlando os
pensamentos (LIPOVESTSKY, 2004).
A estratégia de teatrar o desejo através de modelos vivos que encenam o desejo
enfeitiça o publico, em programas televisivos, estimulam a compra e o consumo, através
da superexposição dos produtos e pela liberdade de escolha (LIPOVESTSKY apud
STEFFENS, 2007).

6. Método
Este trabalho tem como objetivo realizar uma pesquisa exploratória, utilizando
como base fontes bibliográficas como materiais já elaborados constituídos de livros,
artigos científicos e pesquisa de textos em sites de moda. Esta pesquisa possibilita a
rápida investigação e obtenção de informações para um estudo histórico que,
posteriormente, será utilizado para analisar e definir contradições, ou identificar
possíveis tendências do setor. Estes possibilitarão novos questionamentos para estudos
mais aprofundados (GIL, 2007).

7. Conclusão
O Brasil já tomou consciência que o design se tornou o maior diferencial
competitivo dentro de uma indústria com baixas barreiras de entrada e forte
concorrência. Podemos identificar que a organização necessita a uma nova
reestruturação interna com um novo profissional capacitado para comunicar e articular
entre várias áreas sistêmicas, adequando o fluxo de conhecimento, os recursos
tecnológicos, de marketing (publicidade), humanos, e financeiros para gerar uma
competência essencial, responsável por ofertar num produto um conjunto de benefícios.
Esta competência essencial é um dos fatores determinante a releitura de um produto à
inovação do mesmo, e conseqüentemente, criação de um diferencial competitivo para a
organização mantendo-a atuante no mercado a longo prazo.
As instituições de ensino são o primeiro passo para a preparação e inclusão
deste profissional, através da internalização de conceitos e estágios de trabalho junto ao
mercado, gerando um conhecimento que pode ser flexibilizado dentro de organizações
com culturas diferentes.
Para a integração deste profissional na organização, cabe a empresa criar um
ambiente de trabalho que possibilite a troca de informação e um conseqüente
aprendizado. Este ambiente deve proporcionar uma boa comunicação, possibilidade de
atualização profissional, indiferente à situação hierárquica. Este ambiente será utilizado
como base a um trabalho em grupo dos novos profissionais trazendo novas
competências individuais junto a colaboradores antigos, gerando uma unidade de ação
para uma nova forma de criar e desenvolver um produto.
Podemos afirmar, através desta pesquisa bibliográfica, que atualmente o
mercado têxtil brasileiro apresenta as peças fundamentais para desenvolver um produto
com criatividade e design. Mas este mesmo trabalho apresenta limitações para
identificar se as organizações estão adequando a sua cultura organizacional para esta
nova realidade. Somente com um estudo quantitativo mais aprofundado poderemos
identificar com mais exatidão fatores restritivos a busca pela essência brasileira e não
mais de mercados internacionais.

8. Referências
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Jaqueline Morbach Neumann


Mestranda em Administração (Unisinos), Especialização em andamento em
Criatividade em Produtos e Negócios de Moda (UCS), Especialista em MBA em
Marketing (FGV), Bacharel em Administração de Empresas (FEEVALE). Consultoria
em Gestão Empresarial e docente no curso de administração da Faculdade Cenecista de
Nova Petrópolis.

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