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Coie ates cad rey _ FUNDAGAO CALOUSTE GULBENKIAN = Primeira Parte COMUNICACAO E SOCIOLOGIA viylttalZauy Cull Val UM POUCO MAIS DO QUE UMA INTRODUCAO, A SOCIOLOGIA COMO CIENCIA: A PROBLEMATICA DA COMUNICAGAO NA GENESE DA DISCIPLINA A importincia da comunicagio para a vida humana, na_miiltipla variedade de formas que esta apresenta niveis de realizagio, & para todos nés, hoje, um fac /Considerando’a presenga permanente da comunicagao na vida dos ocessos de constituigio € sedimentagio da ismos cada vez mais com- ¢ em todos os seus diferentes indiscutivel. individuos em geral, nos proc sua experiéncia simbélica, através dos me plexos de interlocugao ¢ interac¢io sociais, podemos assim referit-nos a lade da comu- essa presenga em termos, propriamente, de uma centra nicagao para a vida umana/Temos como referéncia a nogio de espaco\ te como «a relagdo de troca de discursos entre espago social, muito embora seja deste intrinsecamente constitutivo (no | sentido em que a interlocugo através da inguagen se apresenta como / “Esta forma de compreender © mundo e a realidade humana assume hoje em dia um valor de conhecimento praticamente indiscutivel, nto apenas a nivel da ciéncia (em geral e, muito em particular, das ciéncias 7 Digitalizado com Can socioLocia DA COMUNICAGAO mas cada vez mais, também, a nivel do te esta situagdo, com uma certa facie longo € sinuoso caminho que foj cae ra se chegar até aqui; e € acima de tudo isso — ta; o contributo que coube (e ainda ny para_uma mais clara percepes,| do homem consi sario percorrer pal rte deste livro tral desbravar desse terreno, co na vida hn ts : ‘um ser social. “) , primeira Pa a sociologia NO tancia da comunica da importancia da Con rado, primordialmente, ‘como um si : ecordar que SO bastante recentemente, nq ‘Ede maior tansparéncia — que a nova opacidade_veio_tornar_mais urgente. ~ 7. iedades nao é dificil A atengao a0 esforco de afirmacao da sociologia como ciéncia niio pode dispensar uma referéncia ao importante contributo de Auguste Comte, numa fase ainda muito embriondria da historia da disciplina, na primeira metade do século XIX. Com a sua proposta de uma -filosofia positivar, constituida na base de uma estrita interdependéncia entre teoria Cerinipios) € observaciio (empirica), definiu este autor, em termos de conhecimento, ums aria (Ce ae uma alternativa (e a contestago) radical aos modelos da filosofia especulativa dos séculos anteriores, que assumiam © conhecimento como algo independer eee te Igo independente da realidade observiivel. Por um lado, toda a ositiva ane ee apes on deve necessariamente ser fundada em s, mas é também verdade, por outro k . Por outro lado, que, x bcaat cae , que, part se realizarem oo ates © nosso espirito necessita de alguma teoria, Se, ao contemplar os fenémenos, no os : 92: 20: conleniee M0 os relacionarmos imediatamente com alguns prit viyltalzauy cui van PRIMEIRA PARTE: ComunicagAo # SocioLoaia Gipios, no apenas nos ser impossfvel relacionar esis observagdes Isola- das, €, consequentemente, delas tirar qualquer fruto, como seremos também absolutamente incapazes de Permanecerao imperceptivei S rete, ¢, na maioria das situagdes, os factos 105 nossos olhos- (Comte, 1830-1842: 23). Nesta motivacio original, o positivismo comteano adquire um signi- ficado perfeitamente distinto daquele que o termo (positivismo-) viria a revestit mais tarde, j4 em pleno século XX, quando passou a prescrever uma _supremacia da observacio sobre a teoria ¢ a constituigiio desta como um puro exercicio de indugio. Para fazer plena justia 4 filosofia positiva, devemos sublinhar, por um lado, como os propésitos deste ambicioso projecto de conhecimento tangem a formagio da sociologia, mas também, ao mesmo tempo, a transcendem amplamente. A afirmagio da especificidade/autonomia da sociologia face as demais ciéncias (em fungio da singularidade clos seus objecto € método de estudo) constituiu o factor crucial do reconheci- mento memorivel de Auguste Comte, mas dos propésitos deste autor constava também o projecto de desenvolvimento do que se pode consi- derar uma teoria sociolégica do pensamento e da ciéncia de um modo geral; a partir do entendimento de que 0 pensamento ¢ 0 saber sio um trabalho de geracdes, cujo desenvolvimento representa um aspecto ( apenas um aspecto), do movimento mais geral de evolugio das estn tunas sociais — contra 0 ponto de vista solipsista do -sujeito de conhe- cimento- da filosofia da consciéncia. E ainda, em termos mais gerais, Constava também do projecto da filosofia positiva a ambiglo de esta- belecer um quadro de relacdes entre os diferentes grupos de ciéncias, como uma espécie de sistematizagao do saber global (ou uma perspec- tiva integrada do conhecimento humano) (ibid: 31 € ss.). Como é sabido, no desenvolvimento cientifico dos séculos seguintes, esta preocupagio prioritiria da filosofia positiva acabou por se perder, em larga medida como resultado da tendéncia para uma crescente espe- cializagio das disciplinas e dos saberes. Os ensinamentos de Comte, que hoje cabe retomar com revigorada actualidade, so pois os que se referem a uma autonomia da sociologia que nao pode ser considerada sin6nimo de independéncia desta ciéncia em relagio a todas as demais, A autonomizagio da sociologia consti- 31 viyitalZauy cuilt Can HecILORIA 1X COMUNIERER Jo come eWwekt: allramanele encial da atid COOSTITG me Ar abjecty ale estilo pHdptie, Tui LIM PaBKRE ENrE vitagaa le set se essencialmente peli elit! : : onjunte clas INEWENEEET ai no Ambit cha sty no trHeMtiveds as Jeis da Diologia: humana ALL canta, pola prinelnr ves, J annito singular ate Jategragto humana no cosmos, O qual se Fefere AO UIWVEERO dla dintludneia teeiproedt dos indtive: duos: (bid.; 87) = Universo CON as SUAS Pela gdes, ESUTITUBES © PLOCESSOS proprios, distintos daqueles que CHEOnERMES TOKLOS wivels cle integra: @ncias Ga biotogia, a fisted OU a Psicologia), Apres QUE ON fl a sociedade como 0 ¢ spe on ae viduos cstabelecem entte infludncias ¢ relagoer que Jou da psicologta individual, Deste inorto se da pertingncia de wn ive ao estudados por Cutras cl Mas estes universos nao so mundos isolados ou septnrdtas catty si, Os diferentes niveis de integragdo No Cosmos AMAHLEN ertte si relades ¢ Interdependéncias. Besta fol a ideia, precisamente, que o dlesenvolvi- mento cientifico, com a sua hiperespecializagao cliseiplinar, acabou por pdr em causa, cOncorendo para a criaglo de unr sistema de conbeci- Mentos altamente fragmentados — no Limite, Ma especie de sisteua de J entte si Completumente sepamtdas, CORT COMMA: des insuperiveis dos seus citeuitos de COMMNICARO. monadas de saberes, Neste sentido, aos novos modelos epistemologicos da interdiscipli naridade © da trinsdisciplinanduide, sungidos com maior vigor desde neados do século passado, part repensie o sistema global de desenvol: vimento da _ciencia, deve s Treconhecidht unr tindamental motivagto comuni LA COMUNICARO Que, assim, NO se restringe a um certo (ec aum tinico) nivel de integrago humana no jeosttioas (a soctedade), mas que esta presente em (ou subjacente IMegrIGlo; e, Mais importante ainda, grau de homogencidade que lecem entre si (nas su: sO todas os demats niveis de » QUES Tesponsivel por uM certo, os diferente S HWeis de tnt : ats MUltiplas intentependeneias). Esta teflexdo parece-nos titil par rayaY estabe Re ADEE UN hore, ara a definica ve Para a definigdo de um quadro de “ comunicagao; Ambito em que AUito promissor Sedvolvimento das cidneias da AMOS que a sootolagia tent Una des consider: palavea it ie - Ni I 1 muito importante a diger ain que: menos a tinica, AWE NAG deviniva © Muito we 8 VIYILallZaUuV LCUITI LU n PRIMEIRA PARTE: ComUNicagao § Sociotooia Para pensar a sociologia da comunicagao temos necessariamente de nos confrontar com este magno proble 7 z ‘oblema da especializagao disciplinar, rrersentido em que, Por um lado, esta dsciplina é ela propria um resul ‘iado desse proceso @, por outro Tado, evidencia também potenciali- dades que lhe perm de_uma forma critica selativa- mente ao ‘A especializagao da sociologi A semelhanga da de outras ciéncias, apresenta uma dupla vertente: é uma mais clara diferenciagio em rela. cao aos outros saberes e, tamb&m, uma certa especializagao interna “emi ambos 5 casos, tudo passa pela linguagem, pelos procedimentos ¢ ~pelos mélodos de trabalfo, OS quais se vio tornando progre dominios e matérias mais exclusivos de especialistas e, desse modo, inacessiveis no apenas ao comum dos cidadios, mas também aos pro pris especialistas de outros dominios cientificos, ora, Tavallagio que cabe hoje realizar desta tendéncia para uma hiper-especializagao da sociologia é, antes de mais, quanto aos seus resultados: em que termos nos podemos referir (ou no) a um progresso ( — cientifico assim alcangado? Ne Estamos habituados a associar a desconstrugio de mitos a algo como & um impulso original do pensamento cientifico, préprio dos chamados momentos fundadores das varias ciéncias. Mas, como refere Norbert Xs esse esforco esta longe de se limitar a tais momentos — ou, pelo S menos, seria muito conveniente que assim nao o considerassemos; todo (© “o-wabatno Clentifico (e nlio_apenas os momentos fundadores) deve | *y ler permanentem pacio_e esse objectivo no seu hori- | © “gonte Eéa esta prova que a presente especializacao disciplinar se deve L\ “submeter. A pergunta a colocar é esta: que real contributo as diferentes © cspecializagdes trazem_a_um_progresso Jo conhecimentc? Em_que “Cesconstrugio de mitos (de formas de conhecimento , Gientificas), ou pelo contrario se torné es | “A vertente das provisdes de conhecimentos, como é sabido, constitui © ponto mais forte da especializagio disciplinar. Mas a questi do pro- Bresso cientifico pio pode deixar de equacionar outras dimensdes do 33 viyitaiZauy cuir Can SOCIOLOGIA DA COMUNICAGAO itérios de exactidio) dos conheciment siber, como sejam a do rigor (critérios de aemenes ee = auclquiridos, ow a da disponibilizagio dem : a eens irene AMIGA esses Mesmos conhecimentos, ou, aint oe ae idéncias et s observada lo entre teorias produzidas e evidéncias empirica: . 1970; 56 & s8,), aoe , Como adiante explicaremos mais detalhadamente, 2 sociologia da comunicagio deve submeter-se de forma des critica deste tipo etitico deste tipo, sombrida_a um juizo ectiva que traduz o sentido Para- oxal dt si disciplinar d sociologia, perante a qual ela se encontra em condigoes : + Pe qual ¢la se encontra em condigoe de afirn unicag’o como um novo paradigm epister ar comuni Beal; © 2. seu proprio Cautoxquestionamento como sociologi , ean : 1. O questionamento como especializagio nolbgico specialidade da qual cabem importantes responsabilidades pela Unit série de“novos mitos ade social), AS palavias finais que capitulo (em jeito de Rostariamos de deixar no fecho de introdugio) so ainda, Ste primeiro . indiscutivelmente, de con. flanga no que respeita a delimitagao de um ©9pago préprio de trabalho la Sociologia da comunicagdo. Nao e« no 2ig0) fechada sobre Si mesma, mas como uma disciplina qu dlo seu préprio ponto de vista ions ingular (comunicacion: Condigoes de tazer uma tenov ante = porque nao? tD, se coloca em a socio = també: = logia geral (ou 34 VIYILallZaUuy LCUITI LU n 0 O CONHECIMENTO SOCIOLOGICO: COMUNICACAO E LINGUAGEM NA EXPLICACAO E NA COMPREENSAO DA REALIDADE SOCIAL A formagio da sociologia corresponde a um ambicioso projecto de reajustamento cognitive, em larga medida relacionado com a propria dinamica social (de instabilidade e forte aceleragio dos processos de mudanga) que toma evidente um certo anacronismo das imagens tadi- cionais do mundo (a sua forca de validade € posta em causa, por que- bra da sua capacidade explicativa da realidade social do seu poder de regulacao da experiéncia colectiva). As construgdes simbélicas tradicio- nais de cariz thitico-religioso entram ém crise, perdem progressivamente Gapacidade de atraccao € de mobilizacao, criando assim condigdes para Zalirmacao de um novo espaco cultural, de reflexao e critica, propicio a emergéncia de um pensamento cientifico sobre a vida social; um pensa- mento construido em bases racionais e que tem como contexto de pro- dugao o espaco piiblico da modernidade: a livre expresso € 0 debate de ideias, a procura da verdade como uma actividade/esforgo colectivo. Como motivacao original para a emergéncia desta nova ciéncia, pode- mos reconhecer um eminente interesse de emancipaga a sociologia enquanto projecto de pensamento critico — que na actualidade importa, Ye Torma muito especial, recordar. Temos, por um lado, a sociologia enquanto critica das explicagdes tradicionais da realidade - as ideias 35 VIYILallZaUuyV CUIII ual f } | SOCIOLOGIA DA COMUNICAGAO, propriamente nio cientificas sobre 0 mundo, mas também a ad pseudocientificas (estas, muitas vezes, paradoxalmente, o resultado de desenvolvimentos cientificos equivocos). E, por outro lado, a sociologia ais tradicionais (da propria reali- ou até mesmo de também como critica das formas socia dade social), no que estas apresentam de negativo, mesmo destrutivo/ameagador, para proprio homem — a coercao, a violencia, a segregacio, a desconsideragio, o desrespeito, etc. As explicagdes tipicamente historicistas da modernidade nao permi- tem uma perfeita compreensio das complexas condi¢des de racionali- zagAo por que passou o pensamento ocidental. Nao ser possivel deter- minar um momento exacto da viragem racional, em que a oposicio entre explica cientificas e nao cientificas se coloque de forma per- feitamente inequivoca, originando a partir dai uma suposta solucao defi- nitiva para o conhecimento. No célebre texto de Theodor Adorno e Max ‘Horkheimer sobre mito e esclarecimento (1944: 97-128), a epopeia de Ulisses surge como metdfora do (complexo e ambivalente) processo de desenvolvimento da razio, pondo em evidéncia como a apropria- ao humana desta capacidade segue um longo, lento e extremamente sinuoso trajecto. Ao contririo das imagens da razio construidas a branco © preto, na explicagio destes autores torna-se evidente, por um lado, como a raz4o encontrou no interior de certas formas magico-miticas de Densamento as condigdes que tornaram possi rSpria afirma- 40; €, a0 mesmo tempo, por outro lado, como a razio conserva dentro de si centos tacos de irracionalidade, q\ tincias do seu Jade, que em determinadas circuns- r6prio desenvolvimento podem gerar formas de auto- So cognitivo, e dos mecanismos de racionalidade, a saciologia tem procurad forma atentamente tam- m discurso de autoques ¢ de efiiea auto-ref arse das certezas absolutas ¢ das verdades inquestiondveis (a comegar, desde logo, pelas | PRIMEIRA PARTE CoMUNICAGAO F SoctoLoGIA Este compromisso criti = isso critico da sociologia po a . § gia poe em evidéncia que a questo da autonomia P idéncia | fundacional desta d : constitui_um_ problema estritamente sciplina — bem pelo contririo, trata-se de um desafio permanentemente ao seu trabalho. E este aspecto é tanto — Timaorunte se tive | mais importante se tivermos em conta a nature: nporta a demasiado humana, | por assim dizer, do discurso e cla linguagem da sociologia, que toma bem evidente como esta disciplina se apresenta mais vulnerivel auma auto-ilusi0, a criar, sob a_aparéncia de_um conhecimento cientifico/ facional, meras ilusdes € mistifieacdes pseudocientiicas da realidade. ‘A constituicao de diferentes (e importantes) escolas de pensamento dentro da sociologia é um reflexo deste espirito tio peculiar de auto- | questionamento desta disciplina, no qual sobressaem um ambiente € um estilo préprios de uma livre e muito viva discussio interna. E a partir | deste contexto que se tem desenvolvido 0 esforgo de uma delimitacao | mais rigorosa do objecto de estudo da disciplina -.sobre a_especifici- | dade dos fenémenos sociais (a sua irredutibilidade face a outras dimen- Ges da realidade) ~ € da construcao dos respectivos dlispositivos de conhecimento. “As visoes magico-miticas do mundo so, muito provavelmente, © principal obstéculo a uma mais plena e definitiva afirmacao do conheci- mento cientifico sobre a realidade social. Devemos ter em conta, porém, que tais visOes nao sdo meras ‘extravagincias do espirito, mas, pelo con- tririo, sio muitas vezes interpretagoes ‘extremamente complexas da reali- dade que nos rodeia e, em geral, enraizadas de uma uma doxa de crengas € conviccdes al se opera ja uma (certa) racio- forma muito sélida | | j na experiencia quotidiana,Traa-se de | com origem no mundo da vida na qu: ue per falizagao fundamental da existéncia humana, € q énfrentar com um minimo de se ‘propria existéncia_ (as_ameagas,_¢ as Q) ges, ete. de um meio exterior desconhecido e hostil). Um aspecto essencial da afirmagio do pensamento ¢ do conheci- assa pela assuncio do seu caricter (€ da sua PP sores, as angtistias, as_frustra- mento sociolégicos tensio) de universalidade, contra precisamente ess tipo de doxa rela- te racionais que, como tal, se tivista: visoes ainda_muito_grosseirament zi oS ee ammnenrsoa ia ras apresentam entre si como incomensuriveis € poten almente gerade! >mo incomensw——— ————— 37 viyitaizauy cui van SOCIOLOGIA DA COMUNICAGRO universos fechados de isolacionismo — as diferentes eee —— Be) também, em certo sentido, 0 mesmo fe SE eee Viduos no interior das suas proprias culturas (na a seus Nghe Se tigi cTectdos de war modo irrevogavel): : legiada da sociologin com a comunicacio, nto por via agora do objecto ‘de estudo da disciplina, mas em fung’o do seu procedimento de traba- iho G@ forma de consirugio do pensamento € do conhecimento); o exer- ciio reflexivo e racional sobre a realidade (observac&o, compreensio e is: 1.0 didlogo comas diferentes interpretagdes dessa mesma realidade que Girculam entre 95 actores sociais, fa vida do dia-a-dia (na sociologia, tal como nas ciéncias sociais em geral, nao Possivel alcancar a explicacio sem algum esforco prévio de compreensao); 2. O didlogo entre as dife- Eentes escolas de pensamento da disciplina, constituidas como forma de SOncretizagio de uma Comunidade critica (de comunicagio) alargada, a qual passou agora a ser o lu a ar por exceléncia onde acontece o jogo da verdade (enquanto juizo racional de validade ao qual 0s enunciados 2. Mesmo depois de estar da sociologia, passou alg afirmar 0 seu proprio di vida social foi re Presentada a ima un longo periodo, a x th dle uma certa organizacio biolé- ~ Bio chegando, assim, Propriam, Ite, a _estabele- 20 des ; nte, a € —— este dots planos (sociale bighs co), como se a Sua diferenca TOSS uma questao mea : RICO), como se. \ diferenga Tose uma mente de de simples grau de complexidaue O termo “sociobiologia. 6 digma de conhecimento, as 38 viyitalzauy cull Val PRIMEIRA PARTE: COMUNICAGAO SOCIOLOGIA tivos) 0 estatutlo de principio de explicaga i ic ° Plicaglo primordial da realidade + assim, em consequénci como uma ordem estat dle instituig 4 repras sociais «ve se impie ao home cde) como lei da soc apreser Se, de uma forma deter- Li ere pendlico indiscutivel. Tr _ReNeTICO indiscutivel. Trata-se j4 de uma sociales ‘arredada da dimensio cultural espeeffica ¢: © mostra capaz de mas ainda bastante fa realidade humana, que nao preender os aspectos simbélicas ¢ rack ‘iltima — tudo aquilo que radi il Imente nos singulariza enquanto espécie. Neste quadro, o reconhecimento do valor da aegao humana enquanto acgio social & ainda bas Me _rudimentar — enquanto uma realidade Constitufda para além das pulsd s ¢ dos demais mecanismos instintivos, partir das capacidades de vida do homem, a formacio da vontade como 0 mecanismo de ordenamento primordial da nossa existéncia. Trata-se, portanto, de uma explicagio da vida humana que fica aquém daquilo que verdadeiramente no nos distingue enquanto espé- Gie: seres dotados de capacidade simbélica, capazes de dominar formas seres dotados ce caf pa pa: ‘abstractas de representagio (através _da_linguagem, nomeadamente) ose gracas as quais 0 homem se pode pensar a si mesmo ¢ a0 mundo que o rodeia. Uma aquisigao propria da_evolugio da espéciea.partir do momento em que o Homo Sapiens passou a estabelecer uma relacio aberta com o mundo: na sequéncia da aquisicio da postura erecta, da libertagao do facies e dos membros anteriores, do desenvolvimento das regides pré-frontais do cérebro, que possibilitaram ao homem passar a dominar a capacidade técnica de invengao € produgio de artefactos (extensées sensoriais do seu proprio corpo que permitem uma melhor percepcao do mundo e um maior controlo sobre o mesmo). Na percepgao desta singulari que apenas implicita ¢ incons cacao é um dado incontorndvel realidad socal. © homem como ser dec capaz de definir, dade pela sociologia, a presenca (mesmo fase) da comuni- | — contra as explic: de construgao a nivel filog enético € 0 € onto} i ee eaten pope e me rnaci) COMO se pode dar de uma vez /por todas (em qualquer circunstincia) con constituido: armado de cfpacidade simbéli homem ganha a possi- s oles Coon hes * A O Se Ol es = cet © ey Qs see ues We ast u cou Can SOCIOLOGIA DA COMUNICAGAO io ilimitadamente, isto €, para além de gj igo especifica. mesmo num determinado momento e numa condi¢ i lise a Nao se trata de votar a0 esquecimento a nossa base bioldgica de vida, mas de uma compreensio da singularidade da nossa existéncia para além de tais atributos: bilidade de se pensar no mund 0 facto de as sociedades humanas poderem mudar a sua estrutura indepen. dentemente de quaisquer transformagdes genéticas reconheciveis entre os seus membros é uma singularidade surpreendente. [...l Os seres humanos estio biologicamente aptos a mudar a forma da sua vida. _Em virtude dos ‘seus atributos evolutivos, eles podem desenvolver-se socialmente- (Euas, 1989: 35 ¢ 36). 3. As explicagdes da realidade social que a sociologia foi (e ainda hoje €, ém muitas circunstancias) levada a combater so, quase sempre, uma combinagio de nogées pré-cientificas do mundo e de ideias transpostas inapropriadamente de outros dominios (cientificos) de saber. De modo similar ao que vimos antes para a sociobiologia, este é q também 0 caso para uma sociologia de cariz psicologizante. Partindo do principio aceitével de que a realidade social se exprime sempre, de alguma forma e acima de tudo, em termos dos individuos concretos que a constituem, a explicagdo psicologizante tende depois, porém, a reduzir essa_mesma realidade a um aglomerado de meros fenémenos de consciéncia subjectiva; como se o individuo em si, isolado, fosse a lgénese “da vida social e a sua realidade interior Subjectiva_constituisse chave de explicacao dos fenémenos sociai 7: Contra este ponto de vista, a sociologia teve de por em evidéncia cxaclamente © seu contrario, ou seja, 0 facto de a realidade subjectiva interior (do individuo) ser em grande medida determinada pela (sua) vida colectiva ~ como se evidencia desde os gestos aos modos de apre- senta¢ao, ou nas formas € nos estilos de vida em geral. Todos estes fen6- menos apresentam uma forte expressio individual, mas a sua dimensio € inquestionavelmente social, Naquilo que a vid: i i ! . vida colectiva tem de mais singular — a accao social -, torna-se evid oe i ‘ente como esta transcende sem- Pre os objectivos € os efeitos visados lo: individuai: Pelos actores individuais — mesmo 40 viyltalZauy cul Can PRIMEIRA PARTE: Comunicacho Sociotoats os daqueles que nela se encontram mais directa ¢ pessoalmente envol- vidos (isoladamente considerados ou m ‘ smo em conjunto, enquanto somatério de Es ct com vista a afirmar a sua explic: propria da realidade social e humana € de importincia crucial para um entendimento do fenémeno da comuni ” pdes individuais). a demarca ees 10 da sociologi ‘10, do_em termos mais abra mas ela ndo & em qualquer caso redutivel a existéncia mesmos individuos. Cada um de nés 86 pode assumir-se como agente de comunicagao/sujeito de discurso a partir do momento em que se encontra inserido numa dada rede de sociabili- dade, isto é, em conjunto com outros individuos, dando assim origem a “um processo que transcende amplamente 0 contributo singular de cada ‘um dos participantes. Mesmo a chamada comunicagao solitiria, sob a Forma de um diilogo interior do individuo consigo mesmo, é algo que cada individuo s6 pode experienciar a partir de uma vivencia (prévia) como ser social — que nos permite dirigir a nés mesmos como se de um Na historia da sociologia, 0 primeiro autor a abordar de uma forma George Herbert Mead, a0 consequente este conjunto de problemas foi por em evidéncia a estreita imbricagaio de self, mind e society, € como sa constitui a base da aquisicao da capacidade simbélica de expresso: nna passagem de uma interacco mediada por gestos a_uma # interaccio ‘mediada por simbolos, para a qual é essencial 0 taking of the role of the Q s “other (Mead, 1934: 6188). (QOSe0qys aio see do ealeed) © 4, s da realidade Neste Ambito de explicagdes mais ou menos fantasios social, forjadas a partir da influéncia de outras perspectivas cabe ainda referir o chamado darwinismo social: um ponto de vista que hiperboliza 0 carficter determinado da vida colectiva, reduzindo hist6- rico-culturalmente © processo social & mera transmissio de uma 1 dada heranga (cultural). "A forga exacerbada d: dade social de uma forma dindmica. cientificas, ra reali- ia tradigao reduz 0 espago para pens ‘Ao mesmo tempo que o discurso Al viyitalZauy Cuill Can le Bergan SOCIOLOGIA DA COMUNICAGAO de explicagao da realidade assume a forma de uma narrativa funda mental das origens, orientando-se Getta Para uma descricag das grandes etapas evolutivas — a sociologia primeira de Auguste Comte inscreve-se de modo muito claro neste registo, de oe con a chamada O equivoco por exceléncia deste tipo de darwinismo esta na tentativa de reduzir a explicagio da realidade social a uma dada génese func. Permanentes composicao e recomposi¢ao: reporta ao passado, mas nio se fixa nem limita a ele, dependendo antes, em larga medida, de uma Giniimica contingente da vida colectiva (a imponderabilidade da vontade humana). A intengao de explicagao da realidade social nao dispensa o sensibilidade ao devir permanente da vida, que € a partir de onde se constréi_o sentido do social (com referéncia, mas tambi ém sempre em _transcendéncia, as origens). © que torna mais evidente esta demarcagao em relagio ao darwi- nismo social € também a muito “iais como uma realidade eminer entemente! Fealidade que s6 pode ser produzida a partir momento a vida (em socie- * simbélicas sempre novas, através das A partir das criticas ¢, acabimos de percorre: de vista sociolégico izar-se enguant icagh nao redutora da realidg : aes “ial, que procura da_especifici- dade prépria do seu ———— at car _conta_da_es] re CO seu obj — ecto de est Studo (essa mesma realidade), fazendo }e5MO tempo justic, a ~

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