Pesquisa:
A expulsão dos Jesuítas do Brasil: motivos e consequências
BELÉM/PA, 03/2021
Para entender a motivação da expulsão dos jesuítas do Brasil bem como suas
consequências para a nação, antes é preciso entender como se deu a sua fundação e
funcionamento durante o período em que estiveram em solo brasileiro. Para isso volta-se no
tempo, e verifica-se a formação da Companhia de Jesus como uma resposta à Reforma
Protestante, sendo esta uma ameaça a Igreja Católica e seus privilégios na Europa. A
Companhia de Jesus foi criada para combater esse avanço da Reforma bem como a heresia, e
também disseminar a fé católica. Nesse contexto fica claro que a Companhia teria grande
valia no intuito de influenciar a mente dos jovens tanto na Europa, bem como fortemente nas
colônias ibéricas.
No Brasil, essa influência da Ordem sobre os governantes favorecia os interesses da
Coroa, pois os jesuítas tinham um amplo poder sobre territórios e povos indígenas, bem como
os interesses da Igreja, na conquista de almas para a fé católica. Como no Brasil ainda não
haviam colégios, inicialmente os jesuítas utilizaram-se das práticas místicas nas missas e
cerimônias religiosas para atrair a atenção dos índios. Isso gerou um processo de aculturação,
onde alguns índios poderiam inclusive chegar a estudar em colégios de Coimbra, porém, ao
atingirem certa idade, eles começaram a recusar as práticas católicas e voltaram-se
novamente para sua cultura, hábitos e costumes.
Sendo assim, uma outra tática adotada pelos jesuítas para a catequização dos índios se
dá pela criação de aldeamentos. Inclusive, com a proibição do nomadismo pelo Governo é
favorecido o confinamento nesses aldeamentos, estabelecendo assim uma marca da
pedagogia dos jesuítas, com a organização das atividades no tempo e espaço, ou seja,
horários e locais para realização de atividades, reverberando no hábito social, de certa forma
até hoje.
Nesse contexto a pedagogia jesuítica visava também a substituição de hábitos e
costumes nativos pelos europeus, muitas vezes com castigos físicos para que esse fim fosse
atingido.
Dentro desse processo ocorre o que pode ser considerado o maior feito da Companhia
de Jesus no contexto histórico de escolarização: a criação de colégios na em terras brasileiras.
Nesses colégios surge então a imagem de professor-padre, caracterizado como formador não
só de almas como detentor da palavra. Assim, o objetivo geral era a formação de homens de
caráter cristão. Assim, a pedagogia da Companhia de Jesus ajudou a fornecer as bases do que
viria a ser o sistema escolar brasileiro até hoje.
No processo de compreensão dos motivos que levaram os jesuítas a serem expulsos
do Brasil é preciso levar em consideração o contexto político e econômico pelo qual passava
Portugal à época. No século XVI Inglaterra já está à frente de muitas nações como um Estado
burguês e industrializado, sendo importante lembrar que este é o período da Revolução
Industrial o que tornara a Inglaterra uma potência hegemônica naquele período. Já Portugal
encontrava-se estagnada economicamente dentro desse cenário pois não conseguia passar da
etapa de uma economia mercantil para industrial, tornando-se assim um país empobrecido,
com agricultura atrasada, sem fontes de renda e com fortes traços feudais. Em 1750 e nesse
contexto D. José I ascendeu ao poder nomeando como seu primeiro-ministro Sebastião José
de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal. A intenção do rei ao nomear o Marquês era
recuperar a economia, o poder real, a cultura e reforçar o Pacto Colonial. Iniciava-se assim
um período também conhecido como Reforma Pombalina.
Dentre os motivos da expulsão dos Jesuítas destacam-se alguns ligados aos objetivos
que tinha o primeiro-ministro. Primeiramente é preciso reforçar que o Marquês de Pombal
nutria ódio pela Companhia de Jesus, para este os Jesuítas não estavam a serviço da Coroa
mas sim da própria Ordem, formando uma espécie de Estado dentro do Estado, buscando
enriquecimento e poder, transformando-se assim numa barreira para o crescimento político e
econômico da Coroa. O objetivo do Marquês era tornar Portugal (juntamente com suas
colônias) uma potência europeia tanto quanto outras nações daquele continente, por isso
promoveu tantas reformas, inclusive no âmbito educacional. Na visão de Pombal a política de
aldeamento, proteção dos índios (inclusive da língua nativa), isenção de impostos dada aos
religiosos, propriedades dos colégios e comunidades e também o acúmulo de renda dos
jesuítas não estavam em conformidade com seus projetos administrativos. Diante desses
conflitos de objetivos e junto ao sentimento de Pombal em relação à Companhia, este acaba
tornando mais dura a relação entre Jesuítas e Estado, e leva o Marquês a pedir a expulsão
daqueles nove anos após assumir o poder como primeiro-ministro.
As consequências das reformas acabaram por fazer o Estado adentrar num período de
estagnação e até mesmo atraso educacional, e foi segundo Azevedo (apud NISKIER, 1969, p.
53) “a primeira, grande e desastrosa reforma de ensino no Brasil”.
Houve uma estatização da educação. Primeiramente publica-se em 1757, o Diretório
para os Índios da região amazônica. Estando desde então proibida o uso de idiomas indígenas
e obrigando os índios a darem nomes portugueses para os seus filhos. Além disso, Pombal
também funda as Escolas de Ler e Escrever, ainda com o objetivo de proibir as línguas
nativas, nessas escolas de acordo com aspectos da época, a educação é separada entre homens
e mulheres. O primeiro-ministro acreditava que somente uma educação secularizada poderia
corresponder aos interesses do Estado, dessa forma por meio do Alvará Régio abria
precedentes para que o Estado intervenha e controle todo o sistema de Ensino. Porém,
Portugal percebe que o sistema ainda estava muito estagnado e para combater isso o Marquês
de Pombal inicia um processo de encurtamento dos estudos, na tentativa dos estudantes
adentrarem rapidamente nos cursos superiores, mas isso leva a uma reclamação grande por
parte da população pois percebe-se notoriamente a diferença entre esse modelo e o anterior
(jesuítico). Os professores nessa época eram nomeados por indicação ou concordância de
bispos, porém eram muito mal remunerados (quando não sofriam atrasos em seus salários),
bem como tinham baixo preparo para o ensino pedagógico. na comparação com o modelo
jesuíta isso foi percebido como retrocesso, mas por outro lado também percebe-se um
pequeno avanço pela criação de novos métodos e livros. De qualquer forma esse período
ainda é percebido como um péssimo período para a educação no Brasil, de estagnação e
retrocesso com consequências que podem ser sentidas até hoje.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS