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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação

XXX Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo - SP, 27 a 30 de julho de 2021

POLÍTICA DE CELEBRIDADES NO BRASIL


CONTEMPORÂNEO1
CELEBRITY POLITICS IN CONTEMPORARY BRAZIL
Paula Guimarães Simões2

Resumo: O objetivo deste texto é analisar o papel de celebridades brasileiras no movimento


#EleNão. Partindo dos conceitos de standing e footing, procuro discutir o papel que
celebridades podem desempenhar na política. A metodologia é construída a partir
de uma abordagem pragmatista, que se volta para as ações das celebridades e
orienta a análise de 62 vídeos de mulheres famosas a partir de cinco eixos de
posicionamento identificados. Elas se posicionam como cidadãs; como mulheres;
como mães; como lésbicas ou transgêneros; como mulheres negras. A análise
apresenta alguns dos valores que guiam as ações e os posicionamentos das
celebridades, a fim de apreender o papel delas nas lutas feministas, na defesa dos
direitos humanos e na democracia contemporânea.

Palavras-Chave: Celebridades. Standing. #EleNão.

Abstract: This paper aims to analyze the role of Brazilian celebrities in the #EleNão (#NotHim)
movement. I revisit the concepts of standing and footing in order to discuss their
fruitfulness for the comprehension of the role celebrities can play in politics. The
methodology is built from a pragmatic approach, which looks at the actions of
celebrities and guides the analysis of 62 videos of famous women from five axes of
positioning: as citizens; as women; as mothers; as lesbians or transgenders; as black
women. The analysis discusses some values that guide celebrities’ actions to
apprehend their insertion in politics, as well as their role in feminist struggles, in the
advocacy for human rights, and in the contemporary democracy.

Keywords: Celebrities. Standing. #EleNão.

1. Introdução

A cena pública contemporânea é marcada por um crescente processo de politização de


celebridades. Assistimos, por exemplo, às críticas públicas do youtuber Felipe Neto ao governo
do presidente Jair Bolsonaro e seu fracasso no enfrentamento da crise sanitária instaurada pela
pandemia da Covid-19. Ou ainda, às cobranças da cantora Anitta em relação ao trágico

1
Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho Comunicação e Sociabilidade do XXX Encontro Anual da Compós,
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo - SP, 27 a 30 de julho de 2021.
2
Professora Permanente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Federal de
Minas Gerais e Coordenadora do GRIS/UFMG (Grupo de Pesquisa em Imagem e Sociabilidade). Doutora em
Comunicação pela mesma instituição. E-mail: paulaguimaraessimoes@yahoo.com.br. Agradeço à CAPES, ao
CNPq e a FAPEMIG o apoio ao desenvolvimento de meus projetos. Agradeço, ainda, à University of California
Irvine (UCI), ao Center for the Study of Democracy (CSD) e ao meu supervisor Professor David S. Meyer que
me receberam para uma experiência como pesquisadora visitante na UCI, entre setembro de 2019 e maio de 2020.

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contexto enfrentado pelo Brasil em 2021 – depois de ser criticada por sua isenção nas eleições
presidenciais de 2018 e no movimento #EleNão. Partindo desse cenário marcado por uma
política de celebridade (WHEELER, 2013), procuramos analisar justamente esse movimento
construído contra a candidatura de Jair Bolsonaro em 2018 e, particularmente, o papel de
celebridades brasileiras em sua adesão ao #EleNão.
O objetivo é apreender o posicionamento sustentado por personalidades brasileiras
naquele contexto, evidenciando como elas constroem seu engajamento no referido movimento
– através das ações empreendidas por elas. Nesse sentido, realizamos uma análise pragmatista
de vídeos postados por famosas que aderiram ao #EleNão. A proposta não é perceber a eficácia
dessa atuação das celebridades no campo político, mas perceber em nome de que ideias elas
sustentaram um posicionamento contra a candidatura de Bolsonaro e o que ela representava
para o país.
Para tanto, o texto está dividido em quatro partes: 1) primeiro, discuto o modo como os
estudos de celebridades vem sendo desenvolvidos, destacando a abordagem pragmatista que
busco ajudar a consolidar; 2) em seguida, retomo o conceito de standing – e como ele pode ser
relacionado à noção de footing – para discutir sua proficuidade para a análise das celebridades;
3) apresento brevemente o movimento #EleNão e sua inserção no contexto político brasileiro;
4) discuto a metodologia (decorrente da abordagem pragmatista) e apresento a análise a partir
de eixos de posicionamento verificados na investigação. Com isso, é possível apreender a
inserção das celebridades brasileiras em uma política de celebridades, bem como seu papel nas
lutas feministas, na defesa dos direitos humanos e da própria construção da democracia
contemporânea.

2. Como analisar as celebridades: diferentes perspectivas

Existem muitas formas de estudar as celebridades e podemos agrupar tais pesquisas de


diferentes maneiras. Podemos identificar, por exemplo, autores preocupados com uma
perspectiva histórica na análise da fama. Na organização do Companion to Celebrity, Marshall
e Redmond (2016) falam em uma genealogia da celebridade, retomando reflexões de Michel
Foucault, para pensar como o fenômeno está discursivamente ligado às formações de poder.
Ou seja, a proposta é pensar as celebridades como uma formação discursiva. Inglis (2016),
Glass (2016) and Studlar (2016) atentam para essa dimensão histórica da fama, discutindo uma

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sequência de breves vidas (INGLIS, 2016), celebridade literária (GLASS, 2016) e a


emergência do estrelato no cinema (STUDLAR, 2016). Uma perspectiva histórica também
pode ser encontrada na clássica obra de Leo Braudy (1986) que aborda a fama a partir da
associação de quatro elementos: uma pessoa, uma realização, sua publicidade imediata, a
permanência na posteridade.
Uma outra abordagem é centrada na “suposta singularidade de características pessoais.
Nessas descrições, a celebridade é explicada como o reflexo de talento inato. [...] O talento é
compreendido como sendo um fenômeno único, inexplicável” (ROJEK, 2008, p. 33). É a
perspectiva nomeada por Rojek de subjetivismo, na qual o autor situa clássica reflexão de
Weber sobre carisma, entendido como um conjunto de “dons específicos do corpo e do espírito,
dons esses considerados como sobrenaturais, não acessíveis a todos” (WEBER, 1982, p. 171). 3
Centradas ou não no conceito de carisma, abordagens subjetivistas das celebridades atentam
para o perfil e a biografia das personalidades, enfatizando o seu desempenho e as questões da
vida privada.
A dimensão mercadológica da construção das celebridades é um elemento constituidor
de outra perspectiva, nomeada por Rojek de estruturalismo: aqui “as celebridades são
conceitualizadas como um dos meios com os quais o capitalismo alcança os seus fins de
subjugar e explorar as massas” (ROJEK, 2008, p. 37). A abordagem da Teoria Crítica, com o
clássico estudo de Leo Lowenthal sobre os ídolos da produção e os do consumo, pode ser
situada nessa abordagem. Assim como o trabalho de Daniel Boorstin (1992) acerca da
fabricação e do consumo das celebridades que teriam acarretado, na visão do autor, o
desaparecimento do herói.
Outra abordagem – nomeada de pós-estruturalista (ROJEK, 2008) – atenta para a
relação entre as celebridades e os contextos históricos, culturais e socioeconômicos em que
elas se inscrevem. Para Rojek, “as descrições pós-estruturalistas concentram-se na imagem da
celebridade onipresente e nos códigos de representação através dos quais essa imagem é
reproduzida, desenvolvida e consumida” (ROJEK, 2008, p.48-49). É o que faz Richard Dyer
(1998) ao propor uma análise intertextual das celebridades.

3
É importante destacar, contudo, a dimensão social e cultural do carisma (Geertz, 1997; Marshall, 2006): ele é
constituído na relação entre os indivíduos e as esferas de poder em um contexto sócio-cultural. Ou seja, é
relacional (Coelho, 1999), como discutimos em outros trabalhos (AUTOR, ano).

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Essas são algumas das abordagens que podem ser acionadas para refletir sobre as
celebridades na contemporaneidade. O objetivo aqui não é aprofundar a discussão sobre os
vários tipos de perspectivas, mas atentar para as muitas formas através das quais as
personalidades famosas podem ser estudadas, a fim de evidenciar o modo como eu venho
buscando desenvolver uma análise das celebridades.
Sem negar as dimensões histórica, subjetiva e mercadológica das celebridades, e
atentando para a sua inserção contextual, eu tenho buscado desenvolver uma perspectiva
pragmatista das figuras públicas, devedora de reflexões oriundas tanto de autores clássicos
como John Dewey (1954, 2005) e George Herbert Mead (1934) como de abordagens mais
contemporâneas, como a de Hans Joas (2000, 2012). Uma perspectiva pragmatista se volta para
a inserção do fenômeno no terreno da experiência, entendida como uma interação entre sujeito
e mundo em um processo de mútua afetação. A experiência envolve uma ação que desencadeia
consequências que afetam a vida dos sujeitos, os quais, por sua vez, (re)agem em função dessa
afetação.
Nesse sentido, uma abordagem pragmatista das celebridades (FRANÇA, SIMÕES,
2020a, 2020b) se volta para as ações que elas realizam no mundo, para sua performance, para
o modo como elas se posicionam no mundo e em relação a outros sujeitos, afetando a vida das
pessoas e convocando-as a se posicionar em relação a temas debatidos.
Como as celebridades agem no mundo? De muitas maneiras. Elas agem no desempenho
de suas atividades profissionais: elas atuam em um campo de futebol ou uma passarela da
moda; elas fazem um videoclipe para lançar um novo álbum; elas postam vídeos em seu canal
do Youtube ou escolhem representar certos papéis em um filme ou uma telenovela. Elas agem
também em sua vida privada, muitas vezes tornada pública na tela da TV, nas revistas de fofoca
ou nas redes sociais digitais: namorar, viajar, casar, divorciar, ter filhos/as, levar crianças na
escola ou à praia são ações realizadas por sujeitos célebres na vida cotidiana – ações
corriqueiras que os aproximam dos anônimos que também as realizam em sua experiência
prática. Seja olhando para a vida profissional ou para a vida privada – que constituem a
experiência pública de uma celebridade – o que buscamos é apreender os valores que orientam
as ações analisadas.
Entendemos que são os valores encarnados por uma celebridade que constroem a
adesão (ou a repulsa) dos públicos em relação a ela. Nesse processo, valores são evidenciados
e/ou criticados em um processo que atua na atualização do universo de valores de uma

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sociedade em determinado momento. Assim, compreender ações das celebridades


empreendidas no cenário político brasileiro pode nos ajudar a apreender valores que são
defendidos e evidenciados por certos sujeitos célebres em seus posicionamentos públicos.
Esse interesse pelo papel político das celebridades tem crescido nos últimos anos - e é
importante discutir algumas dessas ideias aqui. Richey e Budabin (2016) estão interessados no
papel das celebridades nos assuntos internacionais e apontam que “celebridades se tornaram
reconhecidas por atuar como diplomatas, especialistas e humanitários, refletindo o escopo
expandido de práticas e locais de engajamento”. (RICHEY; BUDABIN, 2016, p. 4, tradução
nossa).
As práticas dessas celebridades também são analisadas por Wheeler (2013) para pensar
sobre a política de celebridades: ele destaca um processo de politização das celebridades ao
lado de uma celebrização dos políticos. O autor recupera uma distinção feita por John Street
(2004) entre os políticos-celebridade, ou seja, políticos que incorporaram os princípios da fama
para buscar uma conquista eleitoral (CP1), e as celebridades politizadas, pessoas famosas que
se tornaram ativistas de determinadas causas. Atentando para os políticos-celebridade,
Wheeler analisa, por exemplo, a campanha de Barack Obama para a presidência dos Estados
Unidos em 2008, destacando como o candidato incorporou “questões de performance,
personalização, branding e relações públicas no coração de sua representação política” (2013,
p. 87, tradução nossa). São questões que integram a chamada política da imagem4 discutida
por Gomes (2004) na construção da imagem pública dos políticos (e instituições) na
contemporaneidade.
Pensando sobre as celebridades politizadas, Wheeler destaca o modo como elas podem
proporcionar credibilidade para campanhas em torno de determinadas questões dentro das
agendas políticas, chamando a atenção pública para tais causas. Entre os exemplos, o autor
destaca o engajamento do ator George Clooney, que “emergiu como a voz liberal mais forte
em Hollywood” (2013, p. 117, tradução nossa), a partir de um programa televisivo para
angariar fundos para as famílias das vítimas do atentado de 11 de setembro de 2001 nos EUA.
Entre essas celebridades politizadas, ele destaca aqueles famosos que se aproveitam da fama
para conquistar um cargo público nas eleições, como foi o caso da eleição do ator Ronald
Reagan como governador da Califórnia e, posteriormente, como presidente dos EUA.

4
Prática política voltada a competição pela produção e controle de imagens públicas de personagens e instituições
políticas. (GOMES, 2004, p. 242)

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Wheeler destaca as controvérsias existentes na leitura desse processo de politização das


celebridades. O autor salienta que não se trata de incorporar o ativismo das celebridades de
forma acrítica, mas sim de considerar o “impacto da política de celebridades a fim de avaliar o
valor dessa atividade em uma cultura política ampliada”. (2013, p. 25). Esses impactos
decorrentes da articulação entre celebridades e política também são discutidos por Kamradt
(2018). Ele propõe uma agenda de pesquisas que dê conta do fenômeno no contexto brasileiro
- o que vai ao encontro da proposta desenvolvida neste artigo. Uma das formas de analisar esse
fenômeno é olhando para a ação de celebridades.
Assim, ativando a referida perspectiva pragmatista para analisar as ações desenvolvidas
por celebridades no contexto político brasileiro, o conceito de standing parece promissor para
a investigação da performance e a ação das celebridades.

3. Os conceitos de standing e footing5

O conceito pode ser entendido, segundo Meyer e Gamson, como “uma legitimidade
socialmente construída para se engajar publicamente em uma questão particular” (MEYER;
GAMSON, 1995, p. 190, tradução nossa). É um conceito que vem do campo do Direito e se
refere ao direito de alguém (um reclamante) de abrir um caso e ser ouvido em um tribunal.
Nesse sentido, pode ser pensado como a legitimidade que uma pessoa tem de ser ouvida em
determinado caso ou como sua capacidade de influenciar uma decisão e fazer reivindicações.
Meyer e Bourdon acionaram esse conceito jurídico de standing e o traduziram para o trabalho
sobre os movimentos sociais, a fim de discutir o debate sobre armas nos Estados Unidos.
Segundo eles,
Standing no sistema legal é dicotômico: ou se está dentro ou fora. Um juiz toma
decisões sobre quais informações adicionais são relevantes e, portanto, admissíveis,
e como pesar reivindicações e requerentes específicos em relação a um padrão formal
de lei. Na arena política, o processo é menos rotinizado, obviamente não
regulamentado e muito mais incerto. Standing não é dicotômico, mas gradativo e
relacional. Aquele que é ouvido é atendido com mais ou menos seriedade por
diferentes ouvintes, e o grau de atenção pode variar com o tempo. (MEYER;
BOURDON, 2019, p. 16, tradução nossa)

Os autores chamam a atenção para o fato de que, na esfera pública, existem múltiplas
audiências disponíveis que podem ouvir aqueles que reivindicam legitimidade para defender

5
Optamos por não traduzir os dois conceitos por considerar que não há um bom correspondente na língua
portuguesa.

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uma determinada causa. Ao contrário dos tribunais, o standing na esfera política é mais
segmentado em locais e públicos. “Além disso, em uma arena política cada vez mais
fragmentada, as reivindicações de legitimidade precisam ser reajustadas constantemente e
estão sujeitas a renegociação.” (MEYER; BOURDON, 2019, p. 16). Além disso, na esfera
pública, “os grupos reivindicam sua posição com base na experiência pessoal e também com
base na expertise” (MEYER; BOURDON, 2019, p. 46).
Assim, ao olhar para aqueles que reivindicam standing na arena pública, Meyer e
Bourdon (2019) destacam: as vítimas (aqueles que sofrem as consequências de armas de fogo,
por exemplo), os especialistas (como médicos e educadores) e as celebridades:
As celebridades têm acesso imediato e rotineiro à atenção do público em decorrência
de sua notoriedade. [...] Sua notoriedade permite-lhes chamar a atenção para seus
pontos de vista sobre assuntos de interesse público. Às vezes, isso é bom para as
causas que eles endossam, mas as celebridades também podem aumentar sua própria
visibilidade ao se envolverem em uma causa política atual. (MEYER; BOURDON,
2019, p. 58, tradução nossa)

Conforme observado por Marshall (2006, p. X), o status de celebridade confere a uma
pessoa certo poder discursivo, colocando sua voz acima das demais e fazendo-a emergir como
legitimamente significativa nos sistemas de mídia. Este processo não é, no entanto, isento de
ambiguidades. Meyer e Gamson (1995) apontam que a participação de celebridades em um
movimento “oferece uma série de vantagens e restrições claras” (MEYER; GAMSON, 1995,
p. 181-182). Em todo caso, as celebridades podem ser vistas como atores importantes no apoio
a certas ideias a partir do poder discursivo que assumem na cena pública.
A partir desse entendimento, podemos pensar que o standing reivindicado por uma
celebridade está relacionado não apenas à legitimidade que ela possui para discutir determinado
assunto na esfera pública, mas ao tipo de posição que ela assume ao fazê-lo. É nesse sentido
que procuro relacionar o standing com footing, um conceito desenvolvido por Goffman em
Forms of Talk (1981) para pensar sobre como uma pessoa se posiciona em relação a outra em
uma interação social. Para o autor, uma mudança no enquadramento de uma situação - isto é,
na resposta à pergunta “o que está acontecendo aqui?” - implica uma mudança na posição dos
sujeitos envolvidos nessa interação. Footing, então, é entendido como postura, alinhamento,
posicionamento.
Ao relacionar, então, standing e footing para refletir sobre as ações das celebridades,
procuro pensar não apenas sobre sua legitimidade para debater e defender determinadas causas,

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mas como eles constroem um posicionamento sobre elas. Eles apoiam sua postura em nome de
quais ideias? Qual é a sua posição e quais os valores revelados neste processo?
Esses conceitos direcionam meu olhar para a ação da celebridade e permitem
desenvolver a análise pragmatista apresentada anteriormente. Ao olhar para a atuação das
celebridades brasileiras no contexto eleitoral de 2018, busco apreender que tipo de postura foi
sustentada por elas e o que tal posição política pode revelar acerca do contexto brasileiro
contemporâneo. O objetivo não é apreender os resultados de sua atuação, mas compreender os
significados que emergem com a postura assumida pelas celebridades ao ingressarem no
movimento #EleNão.

4. #EleNão: uma breve apresentação do movimento no contexto brasileiro

O movimento #EleNão deve ser situado em um contexto de efervescência política


feminista – ou de uma “explosão feminista” (HOLLANDA, 2018) – que vem ocorrendo no
Brasil (e em outros países do mundo), construindo o que tanto a mídia6 como pesquisadoras7
nomearam de Primavera Feminista. Em outubro de 2015, um grupo feminista (ThinkOlga)
lançou a hashtag #PrimeiroAssédio, convocando as mulheres a relatarem a primeira vez em
que sofreram assédio sexual.8 No mesmo mês, milhares de mulheres foram às ruas protestar
contra um projeto que dificultaria o acesso ao aborto para mulheres vítimas de estupro – o que
é garantido por lei no Brasil. Em 2016, outras hashtags deram sequência a tais movimentações
feministas nas redes sociais: #EstuproNuncaMais, iniciada após um estupro coletivo de uma
menina de 16 anos no Rio de Janeiro; #NãoéNão, proposta para a preparação do Carnaval de
2017; #AgoraÉqueSãoElas, em que mulheres reivindicaram espaço em colunas de opinião nos
jornais brasileiros; #MeuAmigoSecreto, que estimulava os relatos de assédio realizados por
homens próximos (não identificados). O movimento #MeToo, iniciado nos EUA a partir de
outubro de 2017, teve grande repercussão no Brasil e pode ser incluído entre essas campanhas
feministas que marcaram o contexto brasileiro antes das eleições de 2018.

6
El Pais, 12 nov. 2015. Available at:
https://brasil.elpais.com/brasil/2015/11/13/opinion/1447369533_406426.html. Acess on: 15 nov. 2019.
7
Cf. Nascimento, 2018; Arruzza, Bhattacharya e Fraser, 2019.
88
A hashtag foi impulsionada depois que uma menina de 12 anos, que participava do programa televisivo
MasterChef, foi assediada nas redes sociais.

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É, portanto, nesse contexto que devemos situar a emergência do movimento #EleNão,


na campanha eleitoral de 2018. Ele foi iniciado por mulheres que se posicionaram contra a
candidatura de Jair Bolsonaro (Partido Social Liberal) à presidência da República. Criado em
uma página do Facebook (Mulheres Unidas contra Bolsonaro), o grupo é descrito como
Grupo OFICIAL destinado a união das mulheres de todo o Brasil (e as que moram
fora do Brasil) contra o avanço e fortalecimento do machismo, misoginia, racismo,
homofobia e outros tipos de preconceitos. Acreditamos que este cenário que em
princípio nos atormenta pelas ameaças as nossas conquistas e direitos é uma grande
oportunidade para nos reafirmarmos enquanto seres políticos e sujeitos de
direito. Esta é uma grande oportunidade de união! De reconhecimento da nossa força!
O reconhecimento da força da união de nós mulheres pode direcionar o futuro deste
país! Bem-vindas aquelas que se identificam com o crescimento deste movimento.

A convocação para a união das mulheres contra esse candidato extrapolou as redes
sociais digitais e ganhou as ruas de todo o país no dia 29 de setembro de 2018. Manifestações
aconteceram em várias cidades do Brasil e do mundo, construindo, segundo a pesquisadora
Céli Pinto, “a maior manifestação de mulheres da história do país”.9 Várias celebridades
aderiram ao movimento e divulgaram vídeos em suas redes sociais convocando seus públicos
a participarem das manifestações.
Entendemos que essa adesão de celebridades brasileiras ao #EleNão pode ser entendida
como uma forma de ação dessas personalidades na cena pública. Uma ação que exibe um
posicionamento em relação a várias temáticas e é alicerçada em valores assumidos por elas ao
justificarem sua inserção no movimento. Assim, para analisar tais posicionamentos, meu olhar
incide sobre vídeos postados por celebridades que aderiram ao movimento.
Para realizar a coleta de dados, foram realizadas buscas na Internet em três locais: 1)
Youtube; 2) Instagram; 3) Google. A ideia, ao buscar depoimentos nas três plataformas, é trazer
um conjunto diversificado de posicionamentos, que não representam a totalidade das
celebridades que aderiram ao #EleNão, mas podem dar uma mostra significativa de tais
posicionamentos.
No Youtube, foi feita uma procura por “celebridades #EleNão” e selecionado o
primeiro vídeo dos resultados, que traz um compilado dos depoimentos de 20 celebridades
aderindo ao movimento (18 mulheres e 2 homens)10. No Instagram, a busca foi realizada por

9
Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45700013. Acesso em 31 de março de 2021.
10
O vídeo está disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=fZ_vVBe_M9o>. Foi coletado no dia 30 de
setembro de 2019, quando contava com mais de 200 mil visualizações.

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meio da hashtag #desafiounidasnasruas, utilizada pelo movimento para marcar as publicações


de adesão. A busca encontrou 1551 publicações, no dia 30 de setembro de 2019, e foram
selecionados (de forma arbitrária) os 100 primeiros resultados. Destes, foram excluídos os
posts que não traziam vídeos de celebridades e os que se repetiram no vídeo anterior, chegando
a 10 vídeos (9 mulheres e 1 homem). Assim, totalizamos 27 vídeos de mulheres nas duas
plataformas.
Em vários desses posicionamentos, as celebridades convocam outras amigas a aderirem
ao movimento. Para buscar tais posicionamentos, realizamos, por fim, uma busca no Google
por “nome da celebridade desafiada + #elenão”, de modo que foram selecionados mais 46
vídeos para compor a amostra qualitativa coletada para o desenvolvimento desta análise.
Depois de sistematizar os 73 vídeos, realizamos uma busca pelo número de seguidores
de cada uma das celebridades, no intuito de avaliar a medida das reverberações de tais
posicionamentos. É certo que não existe uma medida exata para avaliar se uma atriz ou cantora
se configura ou não como uma celebridade, mas o número de seguidores em uma rede social
como o Instagram pode oferecer uma pista sobre a penetração das ideias de cada uma em seus
públicos.
Assim, optei por manter no corpus da pesquisa apenas os vídeos das celebridades que
têm mais de 100 mil seguidores. Duas atrizes – Malu Mader e Renata Sorrah – não têm perfis
em redes sociais, mas permanecem na amostra em função do amplo reconhecimento delas na
cultura brasileira (em virtude de personagens interpretados em novelas na maior emissora de
TV do país). Assim, o corpus final é composto por um universo de 62 vídeos de mulheres
famosas que aderiram ao #EleNão, conforme tabela abaixo.11

TABELA 1
Número de seguidores por celebridade no Instagram em 06 de novelbro de 2019

Celebridade Profissão Número de Seguidores


no Instagram
Alessandra Negrini Atriz 523 mil
Alinne Moraes Atriz 2,8 milhões
Anitta Cantora 42,2 milhões
Astrid Fontenelle Apresentadora de TV 838 mil

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Várias celebridades convocadas não aderiram ao movimento – ou seus posicionamentos não foram encontrados
na busca no Google.

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Bruna Linzmeyer Atriz 1,9 milhões


Camila Pitanga Atriz 2,3 milhões
Caroline Abras Atriz 112 mil
Céu Cantora 137 mil
Chandelly Braz Atriz 226 mil
Cláudia Abreu Atriz 535 mil
Cláudia Leite Cantora 19,4 milhões
Cláudia Raia Atriz 5,9 milhões
Daniela Mercury Cantora 738 mil
Débora Bloch Atriz 428 mil
Débora Falabella Atriz 949 mil
Dira Paes Atriz 645 mil
Elza Soares Cantora 387 mil
Fernanda Abreu Cantora 109 mil
Fernanda Lima Cantora 4,1 milhões
Fernanda Paes Leme Atriz 3,5 milhões
Gisele Itiê Atriz 537 mil
Glória Groove Cantora 1,4 milhões
Gretchen Cantora 1,8 milhões
Julia Dalavia Atriz 723 mil
Júlia Lemmertz Atriz 434 mil
Juliana Alves. Atriz 3 milhões
Leandra Leal Atriz 2,2 milhões
Letícia Colin Atriz 3,4 milhões
Letícia Sabatella Atriz 609 mil
Letícia Spiller Atriz 3,3 milhões
Liniker Cantora 578 mil
Linn da Quebrada Cantora 186 mil
Louise D'Tuani Atriz 262 mil
Malu Mader Atriz -
Manuela Dávila Ex-deputada 1,5 milhões
Maria Casadevall Atriz 1,3 milhões
Maria Flor Atriz 312 mil
Maria Gadú Cantora 806 mil
Maria Padilha Atriz 133 mil
Maria Ribeiro Atriz 734 mil
Mariana Aydar Cantora 95 mil

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Mariana Lima Atriz 115 mil


Marília Mendonça Cantora 23,5 milhões
Marina Person Apresentadora 120 mil
Mart’nália Cantora 145 mil
MC Carol Cantora 247 mil
Monica Iozzi Atriz e apresentadora 4,1 milhões
Nátaly Neri (youtuber) Youtuber 393 mil
Nathalia Dill Atriz 3,3 milhões
Pablo Vittar Cantora 9,4 milhões
Patrícia Pillar Atriz 732 mil
Paula Burlamaqui Atriz 287 mil
Paula Lavigne Atriz 213 mil
Preta Gil Cantora 7,3 milhões
Renata Sorrah Atriz -
Samara Filippo Atriz 968 mil
Sarah Oliveira Apresentadora 199 mil
Sonia Guajajara Líder Indígena 207 mil
Sophie Charllote Atriz 2,9 milhões
Tainá Müller Atriz 1 milhão
Tulipa Ruiz Cantora 176 mil
Vanessa da Mata Cantora 1,2 milhões

FONTE – Dados da pesquisa.

4.1 Standing das celebridades no #EleNão

Ao sistematizar os dados coletados, busquei apreender algumas categorias de


posicionamento que podem elucidar as diferentes posições assumidas por celebridades
brasileiras. Foi possível identificar uma postura geral que é o eixo do movimento: um
posicionamento contra Bolsonaro. A partir disso, tentei pensar em outras posições específicas
que elas assumiram, agrupando em cinco eixos: como cidadãs; como mulheres; como mães;
como lésbicas ou transgêneros; como mulheres negras. Tais posicionamentos levantam
questões importantes relacionadas à democracia, ao feminismo e promoção dos direitos
humanos - como discuto na discussão dos resultados da análise.

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1) Como cidadãs

Como cidadãs, as celebridades reivindicam seu direito constitucional à liberdade de


pensamento e de expressão para se manifestar. Elas se posicionam em defesa da democracia.
Como faz a atriz Leandra Leal: “como cidadã brasileira, eu faço uso do meu direito de me
posicionar. #EleNão porque eu não posso compactuar com o ódio, com a violência, com a
tortura, com a negação da história”. Ela critica o desempenho de Bolsonaro como parlamentar
que nada fez de significativo pelo estado do Rio de Janeiro, diz que ele não é honesto e não
respeita a democracia.
As figuras públicas analisadas também defendem que a política deve ser usada como
uma forma de sair da crise e não para agravá-la através do ódio, como destacou a ex-deputada
estadual Manuela D’Ávila. Ou que não é com violência que se resolvem os problemas de um
país, como disse a atriz Letícia Sabatella. A atriz Bruna Linzmeyer atentou para a necessidade
do diálogo, além de leis que “diminuam nossa desigualdade social”, e a cantora Maria Gadú
salientou a necessidade de se posicionar contra qualquer forma de atraso em nossa democracia
e em relação a direitos já conquistados.
Nesse posicionamento a favor da democracia, também emerge uma contraposição entre
humanidade e barbárie (mais do que uma distinção entre direita e esquerda na polarização
eleitoral), como afirmou a atriz Maria Ribeiro. Os eleitores de Bolsonaro estariam do lado da
barbárie na medida em que endossariam a defesa da tortura e dos torturadores, a negação das
atrocidades da ditadura militar brasileira (1964-1984) e, com isso, a negação da própria
História do país. Para Bolsonaro, o golpe de 1964 é um momento a ser celebrado, e o erro da
ditadura foi torturar e não matar.12
Várias celebridades analisadas fizeram referência à raiva, ao ódio e à violência
incitados pelo candidato – que disse em um palanque durante a campanha eleitoral que iria
fuzilar os adversários, sendo ovacionado por seu público. Também já propôs fuzilar o ex-
presidente Fernando Henrique Cardoso. Ao ameaçar seus oponentes de morte, Bolsonaro os
converte em inimigos a serem destruídos – o que não é cabível em um sistema verdadeiramente
democrático. Conforme Mouffe,

12
Esse e outros posicionamentos de Bolsonaro podem ser encontrados, entre outros registros, no livro de
Piovezani e Gentile (2020) A linguagem fascista.

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o propósito da política democrática é construir o “eles” de tal modo que não sejam
percebidos como inimigos a serem destruídos, mas como adversários, ou seja,
pessoas cujas idéias são combatidas, mas cujo direito de defender tais idéias não é
colocado em questão. Esse é o verdadeiro sentido da tolerância liberal-democrática,
a qual não requer a condescendência para com idéias que opomos, ou indiferença
diante de pontos de vista com os quais discordamos, mas requer, sim, que tratemos
aqueles que os defendem como opositores legítimos. (MOUFFE, 2005, p. 20)

Contestando esse desejo de aniquilação dos oponentes, celebridades reivindicaram o


diálogo, o amor, o carinho como valores a serem opostos aos encarnados pelo grupo político
bolsonarista. Para a atriz Alessandra Negrini, se você acredita nos valores democráticos, você
deve aderir ao movimento #EleNão. A youtuber Nálaly Neri fez um longo vídeo apontando
todos os riscos do governo Bolsonaro à democracia. Ela fala da retirada dos direitos trabalhistas
(prevista em seu plano de governo), da proposta de privatizações do patrimônio público, dos
riscos ao meio ambiente.
O que podemos perceber nos posicionamentos aqui exemplificados é que emergem os
valores da liberdade, da igualdade, da honestidade, da competência e da própria vida como um
direito de todos – não apenas daqueles que compartilham das nossas ideias. Se a democracia
pode ser pensada mais do que como um sistema de governo, como uma ideia ou um modo de
vida, como sugere Dewey (1954), entendemos que o modo de vida democrático defendido por
essas celebridades não pode incluir a eleição de Bolsonaro para a presidência da República do
Brasil. Emerge a defesa de um modo de vida calcado na liberdade, na igualdade, no respeito,
valores centrais na construção da democracia.

2) Como mulheres

Uma segunda categoria identificada se refere ao posicionamento das celebridades como


mulheres. Ou seja, elas reivindicam sua legitimidade para contestar a candidatura de Bolsonaro
acionando sua experiência como mulher. Para entender esse tipo de posicionamento, é preciso
lembrar algumas falas do então candidato em relação às mulheres. Ele disse que não estupraria
uma deputada (Maria do Rosário, Partido dos Trabalhadores) porque ela é feia e não merece;
que teve quatro filhos homens e, depois de uma fraquejada, veio uma mulher; em uma
entrevista, disse que não empregaria uma mulher com o mesmo salário de um homem, pois as
mulheres engravidam e, portanto, devem receber menos.

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É, assim, contra o machismo e a misoginia evidentes nas falas de Jair Bolsonaro que
afrontam os direitos das mulheres que as celebridades analisadas se posicionam. A igualdade
salarial entre homens e mulheres é reivindicada, assim como é questionada a ideia de que as
mulheres devem ganhar menos porque engravidam e de que ter uma filha mulher é “uma
fraquejada”. Elas falam da união e da força das mulheres para fazer diferença nas eleições.
A cantora Marília Mendonça, por exemplo, usa de sua própria experiência como
cantora sertaneja para romper com o machismo no contexto brasileiro. Ela convoca as mulheres
a refletirem se merecem esse retrocesso em suas vidas e se posiciona contra o preconceito e a
favor do amor.13 A atriz Camila Pitanga destaca a falta de respeito do candidato, que defende
valores fascistas, às mulheres. Na fala da atriz Letícia Sabatella, destaque conferido à “união
das mulheres, que pode fazer diferença nessas eleições para barrar um candidato racista,
machista, fascista, homofóbico.” E a atriz Dira Paes adere ao movimento chamando a atenção
para a voz das mulheres: “#EleNão porque ele não nos representa, porque ele nos julgou muito
mal, ele achou que poderia falar o que quisesse e que nós íamos ficar caladas. Não, nós não
nos calamos”.
A apresentadora Fernanda Lima evoca explicitamente o movimento feminista para
contestar as ideias e os posicionamentos de Bolsonaro: “É muito fácil dizer que não é feminista,
trabalhando, votando, indo e vindo e sendo uma mulher livre. Mas a gente não pode esquecer
quantas mulheres já morreram, lutando pra que a gente possa estar aqui hoje, cercadas de alguns
direitos”.
Implícita ou explicitamente, essas celebridades falam em defesa dos direitos das
mulheres ameaçados diariamente pela sociedade patriarcal e, naquele momento, pela
candidatura de Bolsonaro. Elas fazem uso de seu poder discursivo (MARSHALL, 2006) para
fazer ecoar tantas pautas do movimento feminista que atentam para a pluralidade da experiência
das mulheres. É nesse sentido que podemos subdivir essa categoria de standing em outras três
dela decorrentes pois as celebridades se posicionam como 1) mulheres e mães; 2) como
mulheres e lésbicas ou trans; 3) como mulheres e negras. Isso revela a interseccionalidade
(CRENSHAW, 2002) das opressões vivenciadas por inúmeras mulheres e a necessidade de se

13
Depois de sofrer ameaças a si mesma e sua família, em virtude de sua adesão ao movimento #EleNão, Marília
Mendonça apagou o vídeo de seu Instagram e pediu desculpas a seus fãs, dizendo que não iria mais se posicionar
politicamente.

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pensar um feminismo capaz de dar atenção às existências plurais das mulheres, à


heterogeneidade do próprio movimento e de suas reivindicações.

3) Como mulheres e mães

As celebridades analisadas também acionam a sua experiência como mães para se


posicionar contra Bolsonaro. Ao assumirem esse lugar social, elas reivindicam igualdade entre
meninas e meninos, entre homens e mulheres, defendendo direitos adquiridos e, ao mesmo
tempo, ameaçados. A atriz Samara Filippo reitera seu lugar de mãe e mulher e manifesta o
desejo de que suas filhas “cresçam em liberdade, num ambiente sem repressão, violência,
truculência”.
A então deputada estadual Manuela D’ávila assim justifica sua adesão ao movimento:
“#EleNão porque como mãe e madrasta de uma menina e um menino, eu desejo que eles vivam
em um Brasil com oportunidades iguais. Que a minha filha possa sair às ruas sem medo de ser
violentada, que ela cresça em um país que não [...] remunere diferente no trabalho mulheres e
homens numa mesma função”. A atriz Tainá Müller afirma que não pode apoiar um candidato
que se posiciona contra a licença-maternidade – é preciso lembrar que o candidato, quando era
deputado, votou favorável à redução do período de licença, de 120 dias, um direito garantido
às mães pela Constituição Brasileira de 1988.
É importante destacar que, ao assumirem a maternidade para marcar seu
posicionamento, elas também estão reiterando seu lugar de mulher, que foi destacado
anteriormente. A separação entre esses eixos foi feita aqui para fins didáticos e para exibir a
interseção entre várias formas de opressão vivenciadas pelas mulheres e que ficaram evidentes
naquele contexto.

4) Como mulheres lésbicas, como mulheres trans (ou simpatizantes da causa LGBT)

Um outro eixo que pode ser percebido no posicionamento das celebridades analisadas
diz respeito às causas LGBT. Algumas delas acionam sua experiência como mulher lésbica
para denunciar a ameaça representada por Bolsonaro, como faz a atriz Bruna Linzmeyer:
“#EleNão porque o meu corpo de mulher e sapatão merece andar na rua sem ser violentada, e
eu mereço ganhar o mesmo salário que um homem que tenha a mesma profissão que eu ganha.”

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A artista trans Linn da Quebrada também aciona sua identidade de gênero para justificar sua
adesão ao movimento: segundo ela, jamais apoiaria um candidato que, além de ter um péssimo
planejamento de governo, apoia a violência e “prega ódio a corpos como o meu”. A cantora
trans Liniker denuncia que o candidato “viola todas as leis de direitos humanos”, pois é “racista,
misógino, transfóbico, sexista”. Como uma mulher trans e negra, ela se coloca na busca por
um “país de direitos e de respeito” – sinalizando a sobreposição de opressões vividas por ela e
tantas outras mulheres.
Grande parte das celebridades, mesmo que não se posicionem como lésbicas ou trans,
denunciam a homofobia manifesta pelo então candidato Bolsonaro para justificar sua adesão
ao movimento. É preciso lembrar aqui que ele disse que preferia ter um filho morto a um filho
gay; que defendeu a violência para “curar” os homossexuais; que “as minorias têm que se
curvar às maiorias; as minorias se adequam ou simplesmente desaparecem”; “que a sociedade
brasileira não gosta de homossexual”, entre outras declarações homofóbicas.

5) Como mulheres e negras:

Uma última categoria de posicionamento que foi evidenciada pela análise diz respeito
à postura como mulheres e negras. A atriz Camila Pitanga se coloca contra o candidato que
acha “racismo normal, se coloca contra cotas e projetos sociais que dão dignidade às pessoas”.
A atriz Juliana Alves afirma que o candidato “representa o genocídio da população pobre e
preta”, além do massacre aos indígenas e da perseguição às mulheres. Ela denuncia a violência
presente no discurso do candidato que não parece interessado na resolução do grave problema
da desigualdade social no Brasil – que afeta, sobretudo, a população negra.
A cantora Preta Gil também se posicionou contra o candidato, dizendo que é “#EleNão
há sete anos”. Ao ser indagado por ela, em um programa de TV, sobre o que faria se um de
seus filhos se apaixonasse por uma mulher negra, Bolsonaro afirmou: “eu não vou discutir
promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco. Meus filhos foram muito bem
educados e não viveram em um ambiente como, lamentavelmente, é o seu”. 14 Em outras
entrevistas, ele afirmou que não viajaria em um avião pilotado por um cotista nem aceitaria ser

14
Bolsonaro foi condenado por essas declarações racistas a pagar 150 mil reais por danos morais ao Fundo de
Defesa dos Direitos Difusos (FDDD), do Ministério da Justiça.

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operado por um médico cotista, que negros quilombolas não serviam pra nada, nem pra
procriar, entre outras declarações racistas. É importante destacar que celebridades não negras
também denunciaram o racismo de Bolsonaro – em empatia e solidariedade com as pessoas
afetadas pelo discurso preconceituoso do candidato.
Assim, ao denunciar esse e outros preconceitos de Bolsonaro – em relação aos negros,
aos homossexuais, às mulheres, aos indígenas, celebridades reiteraram os valores do respeito,
da igualdade, da dignidade das pessoas para integrar o movimento #EleNão. Algumas delas
reivindicam claramente a defesa dos direitos humanos para aderir ao movimento.
Para a atriz Chandelly Braz, “ele subverte o significado dos direitos humanos, ele faz
uma população acreditar que os direitos humanos estão a serviço da impunidade, o que é muito
grave”. A atriz Maria Casadevall se posiciona “contra um candidato que representa toda sorte
de retrocessos, de indiferença aos direitos humanos; de ameaça aos nossos direitos já
adquiridos”. A defesa da atriz Mariana Lima é de “que o Brasil seja um lugar de direitos
humanos compartilhados, onde as pessoas possam viver o esplendor das suas diferenças”.
Ao assumirem a defesa dos direitos humanos para justificar sua adesão ao movimento
“EleNão, celebridades atentam para o próprio fundamento desses direitos que estariam
ameaçados pela eleição de Jair Bolsonaro. Afinal, como discute Joas (2012), a fundamentação
dos direitos humanos está ligada à necessidade do reconhecimento da dignidade humana como
valor universal:
Proponho conceber a crença nos direitos humanos e na dignidade humana universal
como resultado de um processo específico de sacralização – processo durante o qual
cada ser humano individual, gradativamente e com motivação e sensibilização cada
vez mais intensas, foi passando a ser entendido como sagrado, e essa compreensão
foi institucionalizada no direito (JOAS, 2012, p. 19).

Assim, ao denunciar o machismo, a misoginia, o racismo, a homofobia e ao defender o


respeito, a igualdade, a dignidade como alguns dos valores fundantes das relações sociais,
celebridades estão atuando na defesa dessa sacralidade da pessoa humana, tal como discutida
por Joas (2012). E, portanto, na defesa dos direitos humanos. Não é o objetivo aqui medir a
eficácia dessa atuação das personalidades, mas destacar que a tematização dos direitos
humanos por elas confere visibilidade a essa questão e pode suscitar reflexões em torno das
práticas, dos valores e das instituições capazes de garantir a sua universalização (JOAS, 2012).

5. Para concluir

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Este texto procurou analisar o posicionamento sustentando por celebridades brasileiras


na adesão ao movimento #EleNão, construído em oposição à candidatura de Jair Bolsonaro nas
eleições presidenciais de 2018. Procurei articular os conceitos de standing e footing para pensar
não apenas na legitimidade que as celebridades têm para defender certas causas, mas como elas
constroem um posicionamento em relação a elas. Foi possível perceber que há uma postura
geral assumida por elas: ser contra a candidatura de Bolsonaro. A partir disso, percebemos
alguns eixos mais específicos de posicionamento a partir dos sentidos acionados pelas
celebridades para justificar sua adesão ao movimento. Ou seja, elas sustentam sua postura em
nome de que ideias? Qual a posição assumida por elas e que valores são revelados nesse
processo?
A análise mostrou que as celebridades se posicionam como cidadãs que defendem a
democracia, a política como forma de sair da crise e reduzir a desigualdade social; como
mulheres, elas se posicionam contra o machismo, a misoginia, em defesa dos direitos das
mulheres e da luta feminista; elas também se posicionam como mães, preocupadas com o futuro
das crianças; como mulheres lésbicas ou trans, elas condenam a homofobia e reivindicam o
respeito à diversidade e às causas LGBT; como negras, elas se colocam contra o racismo e a
favor de cotas e projetos sociais que contribuem no reconhecimento da dignidade de todas as
pessoas. Nesse sentido, as celebridades defendem valores como a igualdade, a liberdade, o
respeito, o amor, a paz, a dignidade, fazendo coro às quase quatro milhões de mulheres que
integraram o grupo Mulheres Unidas contra Bolsonaro no Facebook.15
Partindo dessa análise, gostaria de concluir a discussão dos resultados da pesquisa,
tecendo alguns comentários em torno do que Wheeler (2013) discute como uma política de
celebridade, levando em conta três eixos fundamentais: 1) as lutas feministas; 2) a defesa dos
direitos humanos; 3) a construção da democracia.
Olhando para os resultados apresentados neste artigo, fica evidente o processo de
politização de celebridades no contexto eleitoral brasileiro de 2018. Personalidades que nunca
haviam se posicionado publicamente em uma eleição decidiram aderir ao movimento #EleNão.
Certamente, como adverte Wheeler (2013), esse engajamento não pode ser lido de forma

15
O grupo se manteve após a eleição de 2018 com o nome Mulheres Unidas com o Brasil; contava, em 14 de
novembro de 2019, com quase 2,5 milhões de membros. Atualmente, o grupo é nomeado Mulheres Unidas com
o Brasil e tem cerca de 238 mil membros.

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acrítica. Celebridades podem ter aderido ao movimento apenas para conquistar visibilidade e
garantir fãs, mas essa é uma questão muito difícil de ser mensurada. 16 Ao mesmo tempo, é
inegável que elas atuaram na amplificação do movimento – tanto ao postar vídeos nas redes
sociais quanto ao participar dos protestos nas ruas do país.
Ou seja, as celebridades politizadas naquele contexto usaram seu prestígio e seu
potencial de visibilidade para promover o movimento #EleNão. Como destacado por David P.
Marshall (2006, p. x), o status de celebridade confere a uma pessoa um certo poder discursivo,
situando sua voz acima das outras e fazendo-a despontar como legitimamente significante nos
sistemas midiáticos. Nesse sentido, as celebridades usaram seu poder discursivo para se
posicionar em defesa dos direitos das mulheres e dos direitos humanos de forma mais ampla,
evidenciando seu compromisso com a democracia.
As celebridades aqui analisadas atuaram em um movimento que foi apontado como “a
maior manifestação de mulheres da história do Brasil”.17 Para a pesquisadora Céli Pinto, "O
que aconteceu agora foi uma popularização do feminismo. Está espraiado na sociedade.
Ninguém mais pode dizer que é contra os direitos das mulheres". Assim, ao fazer valer sua voz
para ecoar as pautas feministas, celebridades podem ser vistas como atuantes nesse processo
de popularização e podem participar da luta por “um feminismo para os 99%”, como sugerem
Arruzza, Bhattacharya e Fraser (2019, p. 29). Um feminismo atento à diversidade das
experiências das mulheres que podem se posicionar de muitas maneiras – como é possível
perceber na análise aqui apresentada. Elas se posicionam como mulheres, como mães, como
lésbicas, como trans, como negras e colocam na cena pública a pluralidade de existências que
impulsionou a adesão ao movimento #EleNão.
As celebridades que compõem o recorte da pesquisa também se engajaram na defesa
dos direitos humanos, ou seja, na reivindicação de que a dignidade das pessoas – de todas as
pessoas, independente de raça, gênero, classe social – deve ser respeitada. Trata-se de uma
sacralidade inviolável, para usar os termos de Joas (2012). Ao acionar o poder discursivo
(MARSHALL, 2006) de que dispõem na defesa dos direitos humanos, celebridades
reivindicam igualdade, respeito e amor como valores importantes na construção de uma
sociedade mais justa.

16
A cantora Anitta teve um papel contraditório no movimento #EleNão. Ela foi cobrada por seus fãs a se
posicionar contra a candidatura de Bolsonaro, mas demorou muito a aderir ao movimento. Isso causou críticas e
conflitos entre seus fãs – apoiadores e não apoiadores do movimento.
17
Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45700013. Acesso em 31 de março de 2021.

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Ao personificarem tais lutas – pelos direitos das mulheres, dos negros, dos
homossexuais, enfim, pelo direito a essa sacralidade que garante o respeito a toda existência –
celebridades cumprem um papel importante na defesa e na sustentação de um modo de vida
democrático. Se a democracia deve ser pensada assim, como um modo de vida, tal como sugere
Dewey (1954), é uma forma de viver alicerçada na liberdade, na igualdade e no respeito que é
defendida nos posicionamentos analisados.
Assim, ao decidirem integrar o movimento #EleNão e agir em sua promoção,
celebridades desempenharam um papel político importante, conferindo visibilidade às lutas
feministas, à defesa dos direitos humanos e à própria defesa da democracia. A julgar pelo
resultado das eleições presidenciais brasileiras de 2018, com a vitória de Jair Bolsonaro,
poderia dizer que o movimento e as celebridades fracassaram. Mas, apesar da derrota, as ideias
que as celebridades e o próprio movimento propagaram – e que foram discutidas aqui ao longo
da análise – persistem no contexto brasileiro e impulsionam a resistência diária aos
autoritarismos e às ameaças aos direitos conquistados que marcam o contexto brasileiro
contemporâneo.

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