The Salvation of
Wanted Men #2
NANCY HAVILAND
Primeira Tradução: Édi Dapper, TmBlake,
Gislaine Vagliengo
Segunda Tradução: Clarinha, Sacra, Deia, Mari
A., Bia Q.
Revisão: Ise K, Fla, Kaka, Merida, Ray,
Rafinha
Revisão Final: Silvia Helena
Verificação: Nana Lima
Leitura Final: Sónia Campos, Luciana Vaccaro
Formatação: Sónia Campos
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Apenas algo tão importante como o casamento de sua
melhor amiga com o chefe da máfia Gabriel Moretti poderia
permitir a Nika Paynne uma pausa de seu cativeiro. Seu
marido abusivo a mantém na palma da mão com fotografias
de seu querido irmão, Caleb, matando outro homem. Mas a
pausa de sua vida violenta não é o único incentivo. Vincente
Romani - o guarda mais mortal de Gabriel - é um dos
padrinhos do casamento e Nika pensa insistentemente no
fascinante mafioso... pensamentos lascivos que poderiam
colocar sua vida em perigo.
Nika sabia que não deveria ter saído. Porque agora era somente
uma questão de tempo.
Foi longe demais. Estava tão ansiosa para escapar que se tornou
indiferente ao monstro com o qual vivia.
Kevin Nollan.
Seu marido.
Ao passar, não viu as obras de arte das lojas de departamentos
penduradas sobre o sofá esfarrapado, estava muito concentrada em
passar pelo curto corredor até o quarto.
Não havia nada pior do que quando ele se juntava à ela na cama,
a puxando com muita força contra seu corpo quente demais e a
mantendo presa mesmo quandoàtentava dormir. Graças à Deus, seu
orgulho não permitia que fizesse isso muito frequentemente. Não
podiam fazer nada nessa cama, exceto dormir e Nika tinha certeza que
isso salvou sua sanidade.
— Quarto errado.
Estava aqui.
Nessa ordem.
Era uma pequena satisfação saber que Kevin não tinha o prazer
de ver esses sentimentos em meses, mas ainda sentia medo dele e do
que representava: seu confinamento sufocante.
Condicionalmente.
Não! Está dando a ele o que ele quer! Está se preparando para a
frustração porque lutar contra ele não lhe trará nenhum bem!
Não. Não sou fraca. Sou forte. Forte o suficiente para vencê-lo
neste jogo que está jogando. E eventualmente, eu ganharei.
Por favor, o tubo de metal não. Por favor, o tubo de metal não...
— Onde está sua boca agora, escrava? Não tem nada para dizer?
Isso é porque é uma covarde muda e...
Zaz!
Logo.
Estava ali desde setembro. Agora era final de julho. Mais dois
meses e seria um ano. Piscou. Não percebeu. Um ano...
Caralho!
Gabriel dividia uma casa com três de seus amigos: Maksim Kirov,
o magnífico, um absurdamente arrogante mafioso russo, que era dono
de um clube noturno no Hell's Kitchen; Alekzander Tarasov, primo de
Eva e outro homem russo tão bonito quanto Maksim, mas um pouco
menos “sei que está olhando porque sou bom”. Ele e Gabriel possuíam
TarMor, a super bem-sucedida empresa de gestão de projetos, onde
Eva trabalhava agora como associada na função de gerente de
negócios.
Vincente Romani.
— Está pronta?
Algo a percorreu, como o choque de um fio elétrico exposto.
Deixou cair os braços de seu desordenado coque sem levantar o olhar.
Tinha que jogar com astúcia. Se o sádico suspeitasse que estava
impaciente por esta viagem, ele cancelaria. Apontaria para a mala, lhe
dizendo que a desarrumasse e não haveria absolutamente nada que
pudesse fazer à respeito. Por quanto tempo teria que esperar pela
próxima chance para encontrar o maldito cartão de memória?
E perigoso.
— Acabei de terminar.
Em você. Morto.
— Eu me perguntava o que deveria usar esta noite, já que vou me
trocar e colocar o vestido que Eva tem para mim assim que chegar lá.
Os trajes que tenho já estão fora de temporada ou são para o
escritório. — Um escritório que já não tinha. Devido à condição em que
Kevin a deixava às vezes, perdia muitos dias de trabalho, então
finalmente decidiu deixar seu trabalho como contadora. Pensava no
futuro e queria garantir uma boa referência, mas foi embora logo
depois do Natal e Kevin ficou satisfeito, dizendo que sobreviveriam sem
seu salário. Mas pelo jeito não estavam, a julgar pelas poucas notas de
vinte que lhe jogava antes de ir ao supermercado.
Ele bufou.
Muitas semanas de nada mais do que isto. Por que, porra, ela
não desaparecia de sua cabeça?
Então, por que o marido idiota não insistia que usasse seu
sobrenome? Não conhecia nem sabia nada do cara, mas permanecia
sendo um idiota. Por quê? Porque Vincente queria entrar no corpo da
mulher e ficar lá para sempre. E Nollan o impedia de fazer isso.
Seu pai tratou sua mãe como lixo e não foi muito melhor com
Vincente e Sophia. Então, as coisas foram de mal a pior quando sua
mãe foi assassinada por um carro bomba destinado ao seu marido.
Não o faria.
— Er...
Ela suspirou.
— Em um hotel.
Adeus sorriso.
— Oh. Legal. Eu, uh, acho que nos veremos lá. — Isso foi um
pouco de interesse que ouviu em sua voz?
— Não.
Merda.
— Vejo você no Ditch em uma hora e depois poderemos ir ao Mob
Central. — O Ditch era a sala de jogos/gravação onde todos passavam
um tempo. Mob Central era a casa dos Moretti e de seus rapazes, em
uma área muito rica nos subúrbios de Long Island.
Depois, ele ligou para Vincente. Caleb sabia que o Ceifador era
perito em ler uma situação estranha com um olhar atento. Talvez
pudesse captar alguma coisa esta noite.
— Vá em frente.
— V. Tudo bem?
Humm.
Tão suspeito. E por que aquela voz grave mudou? Apesar do nojo
em pensar que seu amigo gostava de sua irmã, Caleb quase sorriu.
Usaria qualquer isca que pudesse para tirar Nika desse casamento,
até mesmo o Ceifador.
— Por quê?
— Porque tentei fazer com que ela deixasse este imbecil desde o
primeiro dia. Nunca deveria ter se casado em primeiro lugar, é um
preguiçoso. Ele costumava frequentar a sede do clube em Seattle, é
um inútil e não tem trabalho. Na verdade, não está bem da cabeça,
talvez seja isso. Nika tem um coração mole, mas ela não está
apaixonada pelo palhaço.
Mas ele logo saberia. Não iria desistir até saber por que sua irmã
se mantinha nessa prisão.
— Obrigado, homem.
Porra. Idiota.
Vincente desligou o telefone ao som da profunda risada do
bastardo.
Ficou de pé.
Ele apertou seu rosto antes de passar os dedos por sua garganta
até o decote de seu vestido. Sua pele se arrepiou quando os colocou
por dentro para segurar seu seio, debaixo do sutiã.
Stefano.
Essa foi a primeira vez em sua vida que Vincente soube o que era
ser impressionado por alguém. Andou com o Moretti mais jovem a
partir desse dia e esteve com ele desde então guardando suas costas,
onde ficaria até que um deles desse seu último suspiro.
Será que ela sorriria para ele? Será que seus olhos esmeraldas
brilhariam com a lembrança da última vez que estiveram juntos?
Talvez se aproximasse daquele jeito relaxado com que se movia... sim,
com seu marido atrás.
— Como pode...?
A lava quente que uma vez foi o sangue de Vincente, viajou com
rapidez dirigindo-se diretamente para sua virilha com o som melodioso
que ouviu, o deixando sem fôlego.
— Olá.
— Obrigada.
— Ótimo. Suba.
Como Vincente.
Vasily Tarasov deixou Eva e sua mãe quando Eva nasceu, com a
esperança de protegê-las de seus laços com a máfia, mas sempre ficou
nas sombras, mantendo uma vigilância sobre elas de longe, até que a
mãe de Eva morreu em um acidente de carro alguns meses atrás e foi
então que Vasily apareceu para sua filha.
— Senhor Tarasov?
— Está...
Ela e Eva eram melhores amigas desde a sétima série e não tinha
outra pessoa nesta terra, com exceção de Caleb, a quem Nika quisesse
e em quem confiasse mais. Passaram pelo ensino médio e foram juntas
à universidade, mas se separaram quando Eva se mudou para Nova
Iorque para ser transferida para Columbia, a linda espertinha.
Eva sorriu.
— Sei que o fará. Entretanto, acho que vamos seguir com o plano.
Você entende, certo? Não quero que minha decisão o machuque.
— Não quero fazer isto sem ela. — A tentativa de rir de Eva saiu
mais como um soluço. — Parece tão frio da minha parte casar, mesmo
informalmente, logo depois de sua morte. Eu ficaria feliz com um juiz
de paz, mas não faria isso com Gabriel. Ele merece mais do que isso.
— Não, foi ver seu primo. Estou sozinha. — Para sempre, se tudo
correr bem mais tarde, acrescentou mentalmente.
— Sério? — Os olhos de Eva se arregalaram com a notícia e
revelou sua alegria lentamente.
— Tem certeza?
Esforçou-se mais.
— Ambos?
— Boa ideia. Está bem do outro lado. — Eva fez um gesto para o
quarto. — Avise se precisar de uma mão com o zíper, pode ser difícil
de alcançar.
Nika deixou o cabelo liso preto ônix de Eva com algumas ondas
soltas, que caíam em uma massa brilhante sobre seus ombros nus e
desciam até o meio de suas costas. O vestido de noiva que escolheu,
tinha alças finas acompanhando o cetim branco que fluía em uma
linha suave sobre seu corpo esguio. O colo não mostrava decote -
como Eva costuma usar - a barra era um pouco mais longa na parte
de trás, semelhante a uma pequena cauda. Suas joias eram um par de
brincos de diamantes e um bracelete que combinava, presente de
casamento de seu pai. Eva disse que quase desmaiou ontem à noite
quando foi presenteada com a caixa azul.
Era evidente que todos pensaram que ela não iria aparecer.
Maldito Kevin e sua recusa em permitir que visse seus entes queridos.
Tinha que se desculpar ou cancelar seus planos tão frequentemente,
que era evidente que agora tinha uma reputação por isso.
— Olá.
— Acho que todo mundo está um pouco melhor agora que você
está aqui. — Disse antes de romper o estranho contato e virar-se para
o pai de Eva, que acabava de se aproximar. — Vasily. — Estendeu a
mão.
Nika piscou quando percebeu que a última parte foi dirigida à ela.
O jeito que Maksim saltava de um assunto para outro em alta
velocidade, era como assistir vários programas de televisão ao mesmo
tempo.
— Oh, uh, estou bem. Apenas não estou acostumada a ser tão
maltratada. — Encolheu-se internamente pela forma que soou.
Deveria estar acostumada a isso.
Samnang negou tão forte que seu cérebro deve ter se sacudido.
Uma mulher loira que parecia ser alguns anos mais velha do que
Nika, uniu-se ao grupo. Deu a Samnang um beijo carinhoso na testa
enrugada.
— Nada que você mesma não dissesse. — Assegurou-lhe o
homem mais velho antes de partir rapidamente.
Sabia que seu irmão iria grudar nela praticamente a noite toda e
sem se preocupar, não protestou e seguiu para a noite agradável.
Aspirou o ar fresco misturado com o tênue aroma do cloro de uma
enorme piscina muito bem iluminada.
Oh... merda.
Com seu coração batendo forte, Nika olhou por sobre o ombro de
seu irmão diretamente para aqueles olhos quase vulcânicos que via
todas as noites em seus sonhos.
— Olá, V.
Houve uma breve pausa e depois sua voz vibrou em seus ossos
com cada palavra que saiu de sua boca exuberante.
— Irei atrás...
Incapaz de impedir, seu olhar pousou sobre ela outra vez. Aquele
cabelo em chamas dela fluía como um rio derretido, um bonito
contraste com o tecido preto que cobria seus ombros. Percebeu isso
porque não olhou para cima de seu pescoço delgado. Um pescoço no
qual queria enterrar o rosto e simplesmente respirar.
Você também.
— Obrigado.
Algo pequeno se agitou sobre suas cabeças muito rápido para vê-
lo, mas suficientemente alto para ser ouvido. Olhou para Nika,
esperando que corresse ou gritasse, mas tudo o que fez foi sorrir um
pouco.
Eu queria isso.
Ela se virou sem esperar para ver se Caleb, a quem foi dirigida a
pergunta a seguia, e depois desapareceu novamente na casa.
— Por que não a trouxe com você esta noite? — Disse seu primo
por cima do ombro enquanto os conduzia a um desastre de mesa no
canto rodeada por meia dúzia de cadeiras metálicas. — Poderia ter
visto como eram as coisas. Poderíamos começar amanhã em vez de
esperar mais um dia.
Como ele fez assim que a viu pela primeira vez, passando pelas
portas da sede do clube em Seattle e esperou que algum dia pudesse
chamá-la de sua. Malditos motoqueiros. Os idiotas não o deixaram
entrar. Caleb Paynne não o deixou entrar. Ouviu aquele idiota dizer ao
presidente da sede em Seattle que não considerava Kevin material
para os Obsidian Devils.
O presidente concordou.
Mas o rejeitaram. Disseram-lhe que podia vagar, mas que não lhe
pediriam que se juntasse a eles. Nunca pertenceria realmente. Como
sempre.
Mas isso exigia dinheiro. O dinheiro que este filme com Darren - e
quatro malditos bastardos sortudos que vão ganhar um pedaço de Niki
do jeito que ele não podia - daria.
— Mantenha esse frasco na mão para amanhã. — Disse
bruscamente, e fez um ajuste em uma ereção imaginária, pois sabia
que isso era esperado.
Pelo que lhe foi ensinado, Lorenzo enviou uma prece de desculpas
em silêncio, enquanto folheava o arquivo em seu escritório. Levantou a
cabeça em direção à janela que permitia olhar para a delegacia
movimentada.
— Por que eu saberia algo sobre isso? Esses caras são problema
seu, não meu.
— Apenas pensei que, já que esses ratos de rua permanecem
juntos e sabendo que seu irmão está casando o novo Chefão e sua
princesa russa neste momento, poderia ter alguma ideia.
Sarcasmo enorme.
O sacerdote chegou e todo mundo se reuniu lentamente. Nika
deixou uma Eva nervosa no lobby e tomou seu lugar à esquerda do
celebrante, em frente a um Gabriel de aspecto ansioso e de seus
amigos, para os quais, não olhou.
Não com essas palavras exatas, é claro, mas a ideia sempre era a
mesma. O corpo de Eva ameaçado e então sua vida. Quem fazia a
ameaça era neutralizado imediatamente, seja por sua mão ou a de
Vincente. Mas as palavras continuavam na cabeça de Gabriel durante
várias horas. Porque mostravam que muitos daqueles homens da
Organização que foram eliminados, tinham a ideia de usar a mulher
junto dele como uma forma de enviar uma mensagem: não
concordavam com as mudanças que ele fazia.
Quando foi a última vez que viu Lore?— Reprimiu um bufo. Está
bem. O cara agora era um orgulhoso detetive da polícia de Nova
Iorque, um dos primeiros na cena quando Gabriel foi chamado pelo
assassinato de seus pais. Sentaram-se um em frente ao outro na
cozinha de sua mãe sem dizer uma palavra. Lore sabia tão bem quanto
Gabriel, que ninguém encontraria uma maldita coisa. Nem mesmo
quando os federais aparecessem para assumir o caso.
Uma gota de suor desceu por suas costas. Sem dúvida, Lore ou
alguém de seu departamento vigiava a casa neste instante. Ou tão
perto da casa quanto o sistema de segurança de Maksim lhes
permitiria estar. Seu lábio se curvou.
Sua esposa.
Gabriel riu.
— Faça isso. Tenho certeza que ele está bem preparado para o
que vem sobre nós.
Sorriu. Estive ali, passei por isso. E voltou sua atenção para a
cerimônia.
Uma vez que a breve interrupção passou - claramente o sacerdote
era amigo pessoal do noivo - o coração de Nika se derreteu enquanto
Eva se comprometia com seu homem. Caleb entregou um lenço à
noiva enquanto Gabriel repetia seus votos com sua voz poderosa. Nika
entregou o anel, e depois que alguém ao lado de Gabriel fez o mesmo
— não olhou para ver se era Maksim, Alek ou Vincente — a cerimônia
terminou.
— Eu o farei em um minuto.
Mesmo que fosse por um que acelerava seu pulso somente com
um olhar e fazia de um simples beijo, um acontecimento tão
memorável como perder a virgindade. E pelo que sabia a esta altura,
os beijos poderiam ser apenas parte do que seria capaz de fazê-la
sentir. Quando chegasse o momento de ter intimidade com um homem
novamente, será que congelaria? Ou pior, enlouqueceria e teria um
acesso de raiva porque se lembraria dos toques nauseantes de Kevin?
Não sabia e certamente não iria experimentar com alguém como
Vincente Romani.
— Volto logo.
— Por que você não está aqui? E por que não atendeu? — As
demandas furiosas fizeram com que os pelos de sua nuca se
arrepiassem.
— Vinte. Minutos.
Estava tão surpresa de que estivesse ali, que alguém tivesse visto
o que tanto tentou esconder durante todo o último ano, que seu
cérebro se negou a trabalhar. Esforçou-se para chegar a qualquer
possível razão para ter os tipos de marcas que tinha em seu corpo.
Um acidente de carro? Uma mentira muito evidente.
Um relógio soou no fundo de sua mente. Tinha que ir. O pior que
podia fazer era dar tempo a Kevin para pensar.
— Por que iria falar com você, quando realmente não é assunto
seu? — Disse bruscamente, e tentou dar o recado de “agora você
ultrapassou o limite.” Falhou... soava um pouco histérica.
Nika girou sobre seus saltos e saiu. Foi só o que pôde fazer para
não tirar os sapatos e correr. Caminhou em um ritmo constante, sem
ser seguida até à escada. Cruzou os dedos quando chegou ao amplo
hall de entrada e sentiu-se culpada por abandonar Caleb. Foi
diretamente à porta principal. Saudou os três guardas e saiu sob o
murmúrio de vozes procedentes da sala de estar.
Nika mentiu. Tinha que ter mentido. O sexo duro não machucava
um corpo da maneira que viu em sua escultural figura. Porra!
— E se não?
Caleb esfregou os olhos com as palmas das mãos com tanta força
que Vincente se surpreendeu que suas órbitas não explodissem para
fora de seus globos oculares. Pelas linhas de tensão ao redor da boca e
o tom pálido da pele, estava claro que o pobre homem concordou com
as suspeitas de Vincente. Porra. Iria se desmanchar em culpa a
qualquer segundo. Vincente sabia o que era isto.
— Paynne. Vamos.
— Nika!
Ela viu com horror que Kevin agarrava a mala e corria pela janela
aberta para a escada de incêndio.
Não!
Kevin se virou para trás, e puxou até que Nika sentiu a brisa
quente e fétida de seu fôlego sobre seu rosto.
E as lágrimas caíram.
Viu sua mão manchada de vermelho brilhante. Foi então que ela
se deixou levar pela névoa da escuridão.
Simplesmente flutuou e desistiu. Longe do seu corpo quebrado.
E ele estava certo. Não havia uma só pessoa por ali que deu
alguma importância — e passaram por sete desde o quarto até a
entrada do hotel — e ninguém levantou uma sobrancelha ao ver dois
homens levarem uma mulher inconsciente e sangrando. Vincente
queria se irritar com isso, mas estava muito ocupado tentando
acalmar seu pânico por quão absolutamente imóvel Nika estava.
— Ela foi agredida. Tem sangue em seu rosto, mas não acho que
seja dela. Não consigo achar a fonte, a menos que tenha mordido a
língua ou algo assim. — Sim. Quando aquele homem, agora homem
morto, cravou o punho no seu rosto. O pensamento o fez rosnar como
um animal.
— Vincente?
— Depois.
Era evidente que ela não notou o cabelo emaranhado com sangue
de sua amiga. Também estava claro que Tegan não contou os detalhes.
Vincente não olhou para Eva. Não podia.
— Vincente! Fora!
— Não sei, V.
— Você sente? Você sente por ele? — Gritou para seu amigo. — O
que porra está errado com você? Ele não foi constantemente agredido e
sabe Deus mais o quê. Ele não estava lá numa luta por sua vida, por
quem sabe quantas vezes. — Virou-se para Caleb, e todo o ódio pelo vil
bastardo Kevin Nollan penetrou em suas palavras. — Todas as vezes
que foi para a puta prisão em que ela vivia, você vai me dizer que
nunca viu nada que lhe desse uma pista do que acontecia? Uma coisa
que não se encaixasse? Uma arma ou talvez uma mordaça que
provavelmente foi empurrada por sua garganta para que não pudesse
pedir ajuda? Bem, mas a quem teria chamado? — Deixou a resposta
suspensa no ar. — Por que não obrigou sua irmã mais nova a dizer-lhe
a razão pela qual ficava com um animal desses? Por que você
permitiu? — Gritou. — Por que não queria lutar contra isso? Por ela?
Você não queria lutar com ela?
— Ela sofreu o abuso para que você não tivesse que viver em uma
cela. Entendeu isso?
Gabriel se adiantou.
— O que você fez por ela, Paynne? O que você fez para salvar sua
irmã desse monstro? Fazer com que Vex visse alguns registros
bancários depois de quase um ano de casamento? Sim. Isso foi o que
você fez. — Sua visão se sacudiu pela culpa, o remorso e o ódio contra
si mesmo. — Eu teria matado uma centena de homens por minha irmã
mais nova! — Gritou. — Se a tivesse encontrado à tempo, teria matado
todos!
Ups... Merda.
Caleb virou-se e Vincente teve sua primeira visão do que ele vivia
a cada dia de sua vida. Viu em primeira mão o que seus amigos eram
obrigados a olhar todos os dias.
Sentia-se entorpecido, sua mente tão cheia com essa tragédia que
se sentia vazio. E seu coração, seu coração sangrava rios de sangue,
uma fonte sem fim enchendo o poço de desespero e dor que havia ao
seu redor.
O que eu fiz?
Não podia encontrar uma resposta. Não podia fazer seu cérebro
se esforçar o suficiente para sequer tentar.
Uma dor aguda subiu por suas pernas quando seus joelhos
bateram no chão de madeira com um ruído surdo.
— Ela estava errada. Porra, estava tão errada ao ter feito isto por
mim!
Oh... homem.
Colocou seu braço ao redor dela e fechou os olhos para sentir sua
suavidade pressionada contra suas costelas. Sua longa perna passou
sobre a dele e seu cabelo sedoso fez cócegas em seu pescoço, enquanto
colocava a cabeça debaixo do seu queixo. Seu braço descansou sobre
seu estômago, como se quisesse segurá-lo onde estava. Ela parecia
precisar da conexão com outra pessoa e Vincente tentou ignorar o
quanto estava familiarizado com isso. Parecia que ela tinha verbalizado
o que sentiu há alguns anos: sozinho em uma multidão.
Sua voz era suave e tranquila enquanto rasgava seu coração aos
pedaços. Muito tranquila. Ela sofreu e atravessou um inferno que a
maioria das pessoas não podia nem imaginar. E falava assim
casualmente sobre isso hoje? Ela iria explodir. Sabia disso.
Veja o que aconteceu com ele há alguns minutos com seu irmão.
A merda que engarrafou não ficaria guardada para sempre.
Mas, como ela disse, precisava ter alguém com quem falar sobre
tudo o que passou. Esteve sozinha durante tanto tempo... seria bom
ser livre agora e tirar um pouco de peso de seu peito ferido,
especialmente em sua neblina induzida por analgésicos.
— Ouça, você fez muito bem, baby. Na verdade, fez o que pensou
ser certo em uma situação de merda. Ignore-me... só pensei em voz
alta. — Vincente olhou para baixo enquanto passava os dedos por seu
cabelo. Tantas cores: dourado e vermelho vibrante. O jeito que ela
inclinava a cabeça para que ele pudesse alcançar mais longe, lembrava
um animal que implorava por um toque gentil. Cedeu, mas teve a
precaução de manter-se afastado da área onde estavam seus pontos de
sutura. Esperando que não estivesse cometendo um erro, moveu sua
outra mão e colocou o cartão de memória em seu peito diante dela. —
Você mesma pode destruí-lo.
— Então eu as encontrarei.
— Por quê?
Ele hesitou.
— Perdão?
Essa seria a verdade. Ele queria fazer isso, por essa razão.
Mas não teria sido toda a verdade. Porque também queria fazer por
ela. Queria que se sentisse segura e livre para viver sua vida como
quisesse. E isso não tinha nada a ver com qualquer outra pessoa.
— Nik, eu sint...
— Por favor, não faça isso. Kevin é o culpado. Ele fez isto. A nós
dois. Não havia nada que você pudesse ter feito para impedir. Eu não
culpo você Caleb, então por favor, não se desculpe por algo sobre o
qual não tinha controle. Está bem? — Limpou seu rosto úmido e
esperou que fizesse sentido. Soava como se estivesse falando besteira.
Deve ter parecido uma louca para Vincente.
— Não deveria ter feito isso. Por quê? Por que, porra, fez isto por
mim? — Encolheu-se e negou novamente. — Quer dizer, eu sei que
você fez porque me ama, assim como eu a amo. Mas por que não me
contou para eu poder ajudá -la?
— Vincente e eu.
— Sério? Ele disse alguma coisa? — Apertou os lábios. Merda.
Parecia muito ansiosa. Suas bochechas se aqueceram de vergonha.
— Não. Mas não precisava dizer nada. Suas ações falaram mais
alto do que qualquer palavra que pudesse usar. Estava trêmulo.
Muito. Perdeu o impressionante controle pelo qual é famoso. Estava
pronto para matar Kevin... isso era certo. E a qualquer outra pessoa
que ficasse no caminho para trazer você aqui.
— Como assim?
Nika negou com a cabeça, enquanto algo que parecia como derrota
se instalava em seu peito machucado. Vincente não agia como seu cão
de guarda porque queria cuidar dela de algum jeito. Tentava salvar sua
própria consciência. Afundou a cabeça ainda mais no ombro de seu
irmão e com um suspiro longo e baixo, relaxou enquanto seus olhos se
fechavam.
Outra coisa para fazer o ano passado infernal em sua vida valer à
pena.
Vex.
Oh... merda.
Alek ficou tenso e deu uma olhada para Vincente. Viu a raiva
pura e simples, passar pelas sinistras feições de seu amigo com o
gesto amedrontado de Nika. Havia algo mais ali também. Era a mesma
possessividade que Alek sentia cada vez que outro homem se
aproximava de Sacha.
Alek queria dizer que não adiantaria, mas sabia que era uma
dolorosa lição que seu amigo teria que aprender por si mesmo.
— Cuide de Eva para mim Gabriel. Ela disse que se sentia mal
esta manhã. Vi que oscilou e agarrou-se ao balcão quando servia café.
Sua mãe tinha diabetes tipo 1 e sempre fazia um check-up em Eva.
Mas sei que não fez um durante muito tempo. Talvez deva fazer
novamente.
Ele ficou longe porque ela estava lá? Ou sua ausência era uma
coisa normal?
Esteve com uma delas? Dormiu em sua cama, a amou com aquele
corpo poderoso, a segurou com tanta ternura como Nika vagamente
lembrava, na noite em que deixou Kevin?
— Nika?
— Farei isso.
Sua esposa.
Um homem que o odiou por toda sua vida iria querer essa
relação?
— V.
— O quê?
— Depois disto quero que você vá para casa e durma. Parece uma
merda.
— Ah tá. Isso quer dizer que vai me trocar por alguém mais
bonito?
— Idiota teimoso.
— Rapazes.
— Gabriel, por Deus homem, eu não sou louco, porra! Não peguei
nenhum dinheiro!
— Por favor, eu não fiz nada. Eu não sei quem fez, eu juro! —
Queixou-se Tommy através do ranger de seus dentes. — Eu diria se eu
tivesse feito, eu juro!
Mas neste caso, Vincente não via como algo ruim. Considerava
uma execução justificada. Um favor à sociedade. Porque sabia
exatamente que tipo de parasita DeLuca era. Talvez não no começo,
quando ele começou a fazer negócios com a família Moretti. Mas o
homem claramente se envolveu em alguma merda.
Ele não voltou para casa a noite toda. Gabriel foi baleado no
estômago e Vincente teve muito medo de deixar seu menino aos
cuidados do médico se ele morresse.
Porque estava ocupado cuidando de seu amigo e finalmente,
atirou-se no sofá de Vasily nas primeiras horas da madrugada para
descansar um pouco, ele não estava lá na tarde do dia seguinte,
quando Sophia não voltou para casa do colégio. Foi sequestrada na
rua a uma quadra de sua casa.
Levou os dedos aos seus olhos que ardiam enquanto uma pesada
mão descansava em seu ombro.
Gabriel se virou para Quan e lhe disse que fossem para a casa de
Vincente, ao redor de Forest Hills no Queens. Usava seu carro
reformado quando não estava com humor para fazer a viagem ao Old
Westbury. Ele e Gabriel também mantinham um apartamento em
Astoria, que era mais confortável, mas não tinha esconderijos
carregados de armas e outros objetos como este lugar. E não era onde
Vincente tinha suas Harleys.
Eu preciso vê-la.
Se não fosse “ O que ela faz agora”? Era “ Ela está bem”? Ou
“Ficará na casa de Caleb ou terá a sua própria”?
Sério?
— Vincente?
Esperaram até que ele abriu e entrou em sua casa para depois
irem embora.
Nika sacudiu a permanente sensação de mal-estar e abriu
amplamente a porta do apartamento, colocando as duas sacolas de
mantimentos que levava no chão da entrada, antes de fechar e
trancar.
A sala era espaçosa com seus tetos altos, móveis de couro preto e
janelas do chão ao teto. Sentia-se muito pequena, como se todo o
espaço fosse muito grande para ela. Preferiria algo mais acolhedor,
menor, em algum lugar em que pudesse se recuperar. Mas a cavalo
dado não se olha os dentes e isso era o que tinha por enquanto.
Ele esperou, segurou seus olhos, até que ela recusou. Não
cederia. Se não fosse esse apartamento, encontraria outro. Ele
resmungou algo sobre mulheres obstinadas e disse. — Bem. Não apoio
sua decisão de ficar sozinha, mas sem dúvida entendo. Ao menos este
lugar será mais seguro do que encontraria por sua conta. Vou chamar
o encarregado do edifício e direi ao porteiro que a espere. Se precisar
de alguma coisa, tem segurança no piso térreo vinte e quatro horas
por dia, ninguém entra sem passar por eles.
Pelo menos não teve que pedir dinheiro emprestado para Caleb,
um detalhe a menos em seu orgulho inexistente. Usou, pela primeira
vez, a herança que seu pai lhe deixou, as economias que usaria até
que se recuperasse. Graças à Deus, Kevin não sabia dela. Caso
contrário, teria jogado tudo como se fosse seu próprio dinheiro. O
fundo não era interminável, mas era suficiente para mantê-la pelos
meses que demoraria para se instalar em seu novo trabalho e a ganhar
um salário fixo novamente. Ela e Eva conversaram brevemente sobre
uma posição em TarMor e se encolheu diante de outra esmola. Mas
novamente, não podia ser exigente e ingrata, por isso concordou que
Eva perguntasse por aí. Com um pouco de sorte, haveria um cargo
livre e se acomodaria em seus compromissos tão facilmente como fez
na empresa em que trabalhou em Seattle. Ainda sentia falta das
garotas de seu escritório; a maioria eram jovens mães, algumas das
quais ainda eram solteiras como aquelas com quem saiu uma vez ou
duas. Estava confortável lá, assim, era de se esperar que pudesse se
adaptar novamente.
Esse não era seu papel, ela era uma sobrevivente. Venceu. E iria
agir como a campeã que era. Bem, talvez não como uma campeã, mas
certamente brigaria por sua normalidade. Ficaria neste lugar enorme
durante o tempo que fosse necessário para conseguir recuperar-se e
para poder seguir em frente como a mulher independente que foi
criada para ser. Não precisava de mais ninguém e iria se assegurar de
continuar dessa maneira. Realizaria os sonhos que tinha enquanto
estava no canto do sofá, com Kevin ao lado dela assistindo televisão.
Não faria nada para ficar em dívida com um homem novamente.
— Olá?
— Onde você está, porra? Diga que levou um dos rapazes com
você. — A voz de seu irmão era baixa e furiosa. Devia estar rodeado de
gente.
— O que você está fazendo aí? Por que não podemos falar quando
eu chegar em casa?
Homem teimoso.
— O quê?
— A mim.
Idiota arrogante.
Gabriel riu.
— Deve estar aqui a qualquer momento. — Eu não sei muito
sobre amor, V., mas sei alguma coisa. Ele é algo mais do que sua
necessidade de salvá-la, apenas porque não pôde salvar Sophia. Os
rapazes pensam que isso é tudo sobre do que se trata seu interesse.
Impossível.
Porra.
Vincente se endireitou.
— O quê?
Maks se sentou.
— Que merda acontece com esses caras? Juro por Deus, estou
doente da cabeça por continuar a pensar que as coisas não podem
piorar, até que pioram. — Lorenzo passou a mão por seu cabelo e
amaldiçoou como o diabo, porque sabia o que estava à ponto de fazer.
E porra, ele não queria fazer isso.
— Sim, coelhinho.
Ele negou.
Caleb sorriu.
— Sinto muito, Nik. O hematoma não é tão ruim como antes, mas
ainda parece como se tivesse sido... ferida pelo punho de um homem.
Isso... porra...
— Diga de novo?
Ela teve suas crises e certamente não queria passar por essa
experiência novamente. Catatônica, sua bunda. Mais como cansativa e
deprimente. Deus, as coisas que passaram por sua cabeça. Era como se
lembrasse de cada coisa brutal que Kevin lhe fez.
Continuou e tentou explicar as coisas de modo que esperava que
ele entendesse.
Podia ver, pelo ângulo de seu queixo teimoso, que não o tinha
convencido, mas continuou com sua tentativa.
Isso era o que ela era! Uma mulher! E estava aliviada por ainda
ter essas necessidades, embora não tivesse nenhuma intenção de agir
sobre elas. Se desejava Vincente Romani, não era assunto de ninguém,
exceto seu.
— Eu não estava com ele. Não o vi desde que saí da casa de Eva.
Mas esqueça Vincente e me ouça, por favor. Fiz isto porque quero ser
independente. Preciso ser independente. Seguirei com minha vida,
conhecerei pessoas normais que não carregam armas e facas como o
restante de nós carrega celulares. — Fixou o olhar de seu irmão e
manteve sua voz baixa. — Você é livre para viver sem responder a
ninguém. Se quiser levar essa garota para casa agora... — fez um gesto
para a garçonete, que limpava uma mesa junto à janela da frente. —
Diria que a trate bem e faria minha discreta saída. Agora vou exigir o
mesmo respeito de você. Se eu quiser levar vinte homens como
Vincente para casa, então esse é meu assunto e é o que farei. Você não
vai julgar.
Ficou de pé, tirou uma nota de vinte de seu bolso e jogou sobre a
mesa.
— Se você puder fazer isso por mim, então vamos. Levarei você ao
apartamento e lhe mostrarei tudo. Se não for assim... — Tossiu para
esconder o tremor que sentia envolver sua voz. — Ligue-me quando
recobrar a razão.
Atrás dele, ouviu alguém arrastar os pés. Caleb sem dúvida, ficou
de pé e outra pessoa deixou sair um gemido profundo para que todos
soubessem que estava despertando.
Inclusive pedir a sua ajuda, o que não foi dito. Mas o que
Vincente poderia fazer para ajudar? Nada. Realmente não sabia muito,
exceto quem estava fazendo a matança. E mesmo isso era uma
especulação. E se estivesse certo, não sabia onde encontrar Nollan.
Não tinha ideia de onde procurar... até agora.
Seu celular tocou e fez uma careta quando o tirou de seu bolso, a
ferida de faca ardendo. Respondeu a ligação depois de parar.
— Diga.
Laranjas e jasmim.
Que porra Nika fazia ali? Por que não estava com seu irmão?
Muitas.
Meu... deus.
— V-Vincente?
— Sim, uh, Gabriel não me disse que você estava aqui ou eu não
viria.
— Está bem. Você não me odeia. Contente? Fez seu ponto, agora
vire-se.
— E o seu nome?
Ela riu suavemente, o que fez com que sua respiração quente
acariciasse seu ombro nu.
— Eu nunca soube que você era tão falante. — Disse com ironia,
segurando a toalha para pressionar seu braço durante alguns
segundos. — Caleb voltou para casa com feridas piores do que esta
uma ou duas vezes. — Moveu-se sob seu braço para enxaguar a
toalha. — Posso fazer algumas suturas muito bonitas também, que...
— Deu umas batidinhas. — Tenho certeza que você precisa.
Ele foi para a sala de estar e viu um sutiã preto que aparecia de
uma sacola que foi jogada casualmente no sofá de dois lugares junto à
lareira a gás. Uma imagem da seda fúcsia explodiu em sua mente, a
calcinha bonita que Nika usava na noite em que a viu no quarto de
Gabriel e Eva. Por uma fração de segundos, antes que as marcas em
seu corpo fossem notadas, Vincente não se sentiu digno de ver tal
perfeição.
Obrigou-se a afastar o olhar da roupa íntima e começou a suar.
Na sala principal, foi fechar as cortinas antes de voltar para acender a
fluorescente luz brilhante da cozinha, que usou muitas vezes para
situações como esta. Estavam no alto o suficiente para que ninguém
na rua pudesse olhar para dentro, mas nunca se arriscava com a sua
intimidade. Plantou sua bunda na mesa da sala de jantar e esperou
por sua enfermeira.
— Sim?
— V.?
— Sim. Com um idiota. Quer me explicar por que ela está aqui
sozinha?
Outra pausa tensa, o que mostrava que seu amigo não queria lhe
explicar uma merda. Mas o fez.
— Você não a viu quando Eva e eu fomos ao clube esta manhã.
Era como um animal enjaulado na casa de seu irmão. Tinha que sair
de lá. E você acha que não tentamos convencê-la a vir para cá idiota?
É claro que sim. Ela não aceitou. Ficou presa por muito tempo e acho
que apenas quer viver sua vida. — Houve um som no fundo. — Está
tudo bem, baby. Estarei aí.
— Ouça, V., nós vimos que ela precisava ficar sozinha. Não está
completamente. Comprei o apartamento do outro lado do corredor do
nosso no ano passado. Eu lhe disse isso? Não me lembro. Bem, Veto e
Alesio estão ali para manter um olho nela.
Foi inútil. Não estava calmo, porque Nika o tinha bem preso.
Quando estava a ponto de lhe dizer que sim, percebeu que era
provável que ficasse irritada se não dissesse e por alguma estúpida
razão, não queria isso.
Ela ficou imóvel, com a cabeça virada até encontrar seus olhos
ansiosos com os dele, e a contusão que se esvanecia em sua bochecha
se destacou sob a luz brilhante.
— Você já fez isto antes. — Disse, com voz mais rouca do que há
um minuto. Vê-la fazia isso com ele.
Caleb era um idiota. Deveria ter deixado que levasse aquela bala
esta noite. Nika merecia algo melhor do que todos eles.
— Seu irmão foi um idiota por colocar você em uma merda assim
quando era somente uma criança.
— Ruiva?
Tanto faz.
— Não deixe que Maks ouça você falar assim. Sede de sangue o
excita. Estaria sobre um joelho em segundos.
Pela vida dela, Nika não poderia distinguir a estranha nota na voz
de Vincente. Portanto, porque estava tensa, balbuciou sobre a razão
pela qual tentava tão facilmente aceitar tudo isto.
— Espere.
Ela fez uma pausa e cometeu o erro de olhar para ele, algo que
evitou fazer. Não o viu em uma semana. Realmente apenas o viu
durante alguns minutos, durante sua saída da casa de Eva. Mas o
tempo separados não fez nada para diminuir a atração que sentia por
ele. Sentia atração sem que fizesse absolutamente nenhum esforço.
Desde o momento em que o conheceu pela primeira vez. Mesmo agora,
não queria nada mais do que passar os dedos por todo esse grosso
cabelo. Queria pressionar seus lábios nos dele. Queria saber se sua
barba a arranharia ou faria cócegas. Suas coxas tremiam, pelo amor
de Deus, pela primeira vez na história. Não sabia que podia sentir isso,
mas começou no segundo em que entrou no quarto ou começou depois
que superou o desejo de se atirar nele. Queria tão desesperadamente
observar e em seguida percorrer toda a bonita obra de arte colorida
sobre seu torso, peito e braços...
Não que isso explicasse sua inegável atração por ele. Cresceu com
homens tatuados toda sua vida, então ver um corpo com tinta não era
nada novo. Mesmo assim... ali estava ela. Cobiçando-o.
Depois de tudo o que passou com Kevin, pensou que este
sentimento, que esta necessidade, estaria morta. Fora dela. Mas
Vincente a fazia sentir-se viva.
Sabia que sua surpresa devia fazê-la parecer idiota, por isso
sorriu trêmula.
Sim. Terrível para ela. Porque não poderia deixá-lo partir. Tinha
medo que significasse algo e não queria isso.
Mas então, o quê? Fariam sexo, ele assumiria que ela era dele, a
limitaria, tiraria suas decisões e iria se colocar no caminho de suas
novas metas que eram concentrar-se em sua carreira e ter encontros
casuais se alguma vez sentisse vontade.
Nada.
Nada, exceto que queria subir nele como em uma árvore e devorar
sua boca. Queria tocá-lo, ser tocada por ele.
— Ei, será melhor que vá olhar agora. — Disse com voz rouca
enquanto dava um passo para trás.
— Acredite em mim quando digo isto, Ruiva. — Sua voz fez com
que seu corpo se derretesse. Podia sentir a umidade reunindo-se entre
suas pernas. E voltou a chamá-la de Ruiva. — Sua força de caráter
vem do seu coração. Sua família pode ter lhe dado um impulso, mas
esse espírito dentro de você? Isso é todo seu.
Nika fechou seus olhos com força para evitar as lágrimas. Como
ele podia saber que precisava ouvir isso?
— Obrigada, Vincente.
Ela teve que engolir várias vezes antes que pudesse falar.
Ou de sexo.
— Você não brincou quando disse que sabia o que fazer. Tegan
ficará impressionada ao ver isto.
Igual a você.
— O quê?
— Não.
Sim. Que sorte. Ela abriu a água e usou um pouco de sabão para
lavar os recipientes, esfregou com tanta força que se surpreendeu por
não ter feito um buraco através dele.
— Niki?
Absurdo.
Por fim desistiu de dormir por volta das seis e meia e saiu do
quarto para encontrar o apartamento silencioso e vazio. Sentiu-se
ridiculamente abandonada. Assentiu, apertou os lábios e pensou:
Bem. Podia dispensá-la tão facilmente? Sem nem sequer um bilhete de
despedida? Ela faria o mesmo e o tiraria de sua cabeça. Vestiu-se e foi
para o metrô. O movimentado transporte a levou à Manhattan e
passou a maior parte do dia passeando pelos incríveis corredores do
Museu Metropolitano de Arte. Algo que sempre quis fazer.
Com Vincente.
Por que ela sonhava acordada em estar com um homem que nem
sequer a desejava? E por que isso? Era pouco atraente? Sempre
pensou ter uma aparência normal. Não uma grande beleza como Eva,
mas tampouco feia. Será que cheirava mal? Colocou o queixo no peito
e cheirou, depois lambeu seus dentes. Estavam bem. Mas mesmo
Kevin não se sentiu atraído por ela o suficiente para ter uma ereção...
felizmente, mas mesmo assim...
Ainda sozinha.
Seus ombros ficaram tensos. Bem. Podia não ser uma perdedora,
mas estar ali sozinha era irresponsável se considerasse as
circunstâncias. Claro, Kevin poderia estar tão longe como no México
agora. Mas também, poderia ainda estar em algum lugar em Nova
York. Como iria encontrá-la ali neste lugar em particular, ela não
sabia, mas mesmo assim. Deveria chamar Caleb. Pedir que fosse
buscá-la. Ou poderia apenas pegar um táxi para casa e continuar
afogando suas mágoas em uma garrafa de tequila.
— Oh, não, não. Eu não pedi isso. — Disse com um gesto de mão.
Na verdade, terminou. Era hora de ir para casa.
— Ruiva.
Deliciosamente?
Deus, devo estar bêbada. E também não estava mais com raiva
porque a abandonou bruscamente esta manhã.
— Você é tão bonito, Vincente. — Parou. Acabava de dizer isso em
voz alta?
Por que não mexia os lábios quando falava? E por que o fato de
que ele assumisse o controle e dirigisse o espetáculo a fazia se sentir
tão quente e macia? Não deveria estar com raiva? Podia cuidar de si
mesma.
Sim. Eu estava, admitiu essa parte de seu cérebro que gritou com
ela. Mas vou perder. Não é mesmo?
— Deus, adoro o jeito que você cheira. E o jeito que se parece, soa
e olha.
— É claro.
Awww
— Eu sou Vito.
— Alesio.
Com o tempo, esta seria sua realidade. Vê-la assim com outra
pessoa. As mãos de Alesio se elevaram em uma pose de rendição.
Moveu sua cabeça de um lado para outro bruscamente como se
dissesse —“Não fui eu. Eu não fiz nada”.
— Obrigado.
Ficou quieta.
Ela assobiou.
Sua cabeça virou lentamente para ela. Que porra fazia na porta
do quarto de Quan?
— Eu não estava bisbilhotando, nem nada. — Explicou
rapidamente. — Vi no caminho para o quarto de Eva antes do
casamento, quando parei para olhar aquela foto sensual que estava
pendurada na parede acima dela.
— Esqueceu o quê?
Pego.
— Não rosnei para você.
Pensou em algo para dizer que não saísse como uma discussão
de uma criança de cinco anos, mas ficou em branco. Felizmente, ela se
cansou de esperar e voltou a brigar com seu cinto. — Por que é que
você não gosta?
— Como sabe?
— Só bebi quatro.
Ou não?
— Nika!
Deus, era tão bom... como podia um homem ser tão bom?
— Perigoso?
— Sim, mas como eu disse ao meu irmão, Kevin pode ter sumido,
mas minha cabeça realmente precisava do descanso. Não quero ser
essa mulher que traz uma garrafa para casa e bebe sozinha. — Disse
rapidamente e aconchegou-se um pouco mais perto quando o ar
condicionado ligou e soprou frio sobre ela. — Acabei bebendo sozinha
de qualquer jeito, mas pelo menos tinha outras pessoas no lugar. Me
senti um pouco menos patética com esta alternativa. — Eu arrastava
as palavras? Merda, estava cansada.
— Ah.
Soava decepcionada?
Sem dúvida, deveria ter ido embora quando acordou esta manhã,
mas mesmo que dissesse a si mesmo que deveria ter feito
precisamente isso, não pôde mover um músculo. Em vez disso, ficou
junto dela, desfrutando da sensação de Nika aconchegada contra ele
enquanto dormia. Um contato tão simples, mas do qual foi incapaz de
se afastar.
E ele tinha que ir, cavar tão fundo quanto pudesse para fazer o
que sabia ser o certo.
Lore cobriu o rosto com o lenço. Estava certo de que era a vítima
número cinco assim que chegou na cena do crime antes do FBI. Mas
isso somente porque conhecia as ruas melhor do que eles. Sem dúvida
o tirariam da cena, por isso seria melhor pensar rápido.
Um: todas eram jovens ruivas. Mesmo que com trabalhos ruins
de tintura ou com perucas, todas tinham cabelo ruivo.
Esta não.
Está de serviço?
Odiava fazer isso, mas respondeu com outra má notícia.
Sim. Obrigado.
Sim, Ruiva. Seu corpo está escondido somente por uma grande
toalha de rosto.
Ela se moveu em direção ao quarto, soltou o fôlego e murmurou
sobre o ombro: — Vou me vestir. — antes de fechar a porta.
Não queria que ela se vestisse, queria que lhe mostrasse, que se
apresentasse na frente dele com todo o corpo corado e pronto, queria
se banquetear, se fartar, até que ambos estivessem muito cansados
para fazer nada mais do que respirar.
Não aconteceria.
Está bem, olhe para ela. Ela está bem. Não chora mais, está
vendo? Agora se levante e se afaste.
Mas não fez, ficou no lugar onde estava. Não estava chorando
mais, mas aqueles círculos verdes brilhantes reluziam com
curiosidade e um desejo tão irresistível, tão quente e acolhedor que
Vincente sentiu que afundava. Seu olhar foi para a boca de Nika.
Apenas uma prova. Como a que teve em Seattle. Precisava disso.
Muito.
Ficou quieto. É claro que não faria isso, que merda estava
pensando? Ele a beijaria e depois diria o quê? Obrigado, apenas queria
ver se você ainda tinha a capacidade de fazer minha mente voar? Não,
claro que não.
— Vincente?
— Está bem.
— Mas isso é tudo o que haverá. Apenas um beijo. — Precisava
saber que isto não mudaria nada.
Mas foi ela quem levou seus lábios mais perto, tocando os seus
levemente. Mas o matou da mesma maneira.
Sua boca tocou a dela, suas mãos seguraram suas pernas, e sua
língua saiu para acaricia-la com avidez, enquanto se abria para ele
sem nenhum estímulo. Ela inclinou a cabeça e o puxou, passando sua
mão ao redor do pescoço.
Merda. Afastou os lábios dela. Isso tinha que parar, não deveria
ser tão bom, porra.
— Mais. Deixe tocá-lo, por favor. — Nika arqueou as costas, e sua
cabeça se levantou para que pudesse tocar sua boca novamente.
Lambeu-o e em seguida chupou seu lábio inferior mordendo levemente
enquanto se movia colocando uma de suas pernas presas ao redor de
seus quadris e puxando-o sobre seu corpo. — Oh. Sim. — Gemeu em
sua boca, levantando os quadris para esfregar-se contra seu pau
dolorido.
Mas não podia dizer isso, porque então saberia a maneira como o
possuía completamente. Não podia mostrar sua reação desse jeito, não
podia deixá-la ver sua fraqueza no que dizia respeito à ela,
principalmente porque precisava ficar longe.
Ainda mais porque ela merecia algo muito melhor que a terra
desolada emocional que ele era.
E porra, foi incrível. Não era de estranhar que seu corpo fizesse o
que fazia quando ele estava perto, devia saber instintivamente que
seria muito bom. E agora queria se soltar para... espere, não tinha
permissão para tocá-lo, certo? Gemeu. Todo seu lado direito não era
mais do que uma massa de arrepios e membros fracos onde ele a
segurava.
Meu Vincente?
Ele soltou seus pulsos e levantou a cabeça para poder olhar para
ela. Sem perceber que de repente ele ficou parado, agarrou seu cabelo
e o puxou para ela, abrindo a boca para poder beijá-lo com tudo o que
tinha. Agora sabia que sua barba por fazer fazia cócegas mais do que
arranhava, da melhor maneira possível. Moveu a outra mão
rapidamente por suas costas e sobre seu traseiro duro como pedra,
mas no momento em que passou seus dedos pela magnífica ereção
atrás da barreira do jeans, ele afastou a boca da dela e recuou
novamente.
— Não, não, não. Vincente, por favor, não faça isso. Não pare.
Com cautela, quase com medo do que pudesse ver, ela encontrou
seu olhar e seu brilho morreu. Instantaneamente.
Mas...
Franziu a testa. Não. Essa não era quem ela era, não quem
queria ser de qualquer jeito.
Sua cabeça se virou para ela, tirando todo aquele cabelo suave de
seus ombros. Se não estivesse tão irritada, o aspecto frágil em seu
olhar escuro a teria assustado. O homem apaixonado que minutos
antes deu-lhe um dos orgasmos mais intensos de sua vida, havia
desaparecido. O primeiro orgasmo que não deu a si mesma. Em seu
lugar estava seu estoico protetor. Nada mais.
— Pelo que me lembro. — Disse ele com voz sedosa. — Você foi a
pessoa que se satisfez.
Kevin estava certo sobre ela? À respeito do que dizia ... que
ninguém mais a desejaria quando ele terminasse com ela?
Mal sendo capaz de respirar pelo pânico incitado por sua postura,
Nika se abaixou para recolher suas coisas. Jogou o batom e a carteira
macia de couro preto, pegou seu desodorante e o colocou novamente
em sua bolsa, junto com um guardanapo de papel que deve ter pego
no clube ontem à noite, porque estava gravado com as palavras Clube
Pant. Estava prestes a colocá-lo na bolsa quando viu a escrita na parte
de trás. Pegou ao mesmo tempo em que atirava a alça de sua bolsa
sobre sua cabeça, endireitando-se e levantando o queixo. Vincente
precisava deixá-la passar.
— Temo que não possa fazer isso, não vou deixar você sair daqui
quando está irritada. Quem sabe no que se colocará sem querer? O
que é isso? — Apontou para o guardanapo.
E ela fez. Desistiu. Cedeu. Nunca iria convencê-los que era forte e
capaz, certo? Lutou durante tanto tempo e uma noite em particular,
perto do começo, lutou por sua vida mesmo quando Kevin não sabia
quando parar de agredi-la. Foi horrível, acordou em um hospital com
seu pulso engessado, com uma enfermeira a olhando com
preocupação e um médico que observava com interesse profissional e
um encolher de ombros, como se ela não estivesse ciente de que seu
casamento era violento e precisasse que um desconhecido lhe dissesse
que era preciso sair dele antes de não ter a sorte de acordar na manhã
seguinte.
— O que é? — Repetiu.
— Ruiva!
— O quê?
— Não é assunto seu, Vincente. Não posso ser mais clara do que
isso. Agora, saia do meu caminho.
Seu olhar se desviou do seu rosto para sua bolsa. Percebeu sua
intenção, e deu um passo para trás. Seu braço disparou, e ela se
agachou para escapar do seu alcance, de modo que a bolsa e seu
conteúdo caíram e tentou forçar seu caminho por dele. Teve sucesso e
chegou à porta. Pensou que se a abrisse, o mais provável era que
conseguisse deixá-lo para trás, mas essa opção também foi roubada
dela, quando foi virada com um surpreendentemente gentil, mas firme,
aperto no braço. Ela ofegou quando ele colocou suas costas contra a
porta. Vincente a manteve ali, pressionou toda a parte superior de seu
corpo no dela.
— Não. Não tem nada a ver com você, agora afaste-se para que eu
possa sair. Eu teria ficado em Seattle com Kevin se quisesse viver
assim.
— Isso é meu!
Deus, o êxtase em seu rosto enquanto gozava para ele. Por ele!
Por que não sentiu medo quando leu as palavras duras? Ela
empalideceu, mas isso foi tudo. Por que não parecia assustada ou
alarmada? Como qualquer outra mulher ficaria ao ler algo tão
perturbador como isto.
Merda. Astoria não era pequena, mas também não era grande e
Nollan matou no bairro. Ele esteve no clube ontem à noite. De que
outra forma poderia escrever o bilhete em um de seus guardanapos e
colocar na bolsa de Nika? E claramente os seguiu até ali. Por isso
causou mais danos ao corpo da vítima desta vez? Porque ficou com
raiva, já Nika não voltou para casa sozinha.
Porra.
Ele ignorou a pontada inesperada por ouvir que não confiava nele
e apertou os olhos pela maneira fácil como concordou.
— Simples assim?
— Eu nunca...
— Sim, sim, blá, blá blá, eu já ouvi tudo isso antes. — Ela agitou
a mão, ignorou enquanto se virava com um movimento do seu cabelo
para a sala principal. — Guarde para alguém que acredite. — Disse
por cima do ombro. — Melhor ainda, guarde para alguém tão
desesperada que realmente acredite na merda que caras como você
dizem.
— Nika...
— Espere aqui. — Disse, sem tentar fazer com que fosse uma
ordem. — Vou buscar a arma e então iremos para casa ver Eva. — Ela
se sentiria melhor quando estivessem lá.
Nollan tinha que morrer para que Nika pudesse ser livre. Era
simples assim.
Nika ouviu os passos de Vincente e balançou a cabeça pela
ingenuidade do homem, sem sentir nada por claramente tê-lo
incomodado com a hipótese de que a agrediria se lhe desse a chance.
— Alô?
— Estou à caminho.
Depois ligou para Caleb, e disse que fosse até sua casa. Contou
sobre o bilhete de Nollan e as últimas atividades. Tinha certeza que
ouviu uma moto ligar no fundo antes mesmo que desligasse.
Não era desta maneira que queria que as coisas entre eles
acontecessem. Deveria ter mantido distância. Seus dentes se
apertaram ao ser parado por outro sinal vermelho. Podia odiá-lo tanto
quanto quisesse, mas isso não mudaria nada. Agora não. Não quando
seu ex se aproximou o suficiente para tocá-la. O aviso o fez cantar os
pneus quando pisou no acelerador com muita força quando a luz
verde brilhou.
Não importava que meios tivesse que usar, faria as coisas bem
seguras para essa mulher, mesmo se fosse a última coisa que fizesse.
— Nika ligou faz muito tempo, Vincente. Onde ela poderia estar?
— Sentou-se na beirada de um grande vaso de cimento cheio de flores
de verão. — Deus, me sinto doente. — Acrescentou, parecendo
realmente mal.
— Você perguntou para Nika sobre os amigos que ele pode ter na
cidade?
— Você perguntou?
— Porra. Não. Estava tão preocupado com ela, tentei não falar
muito desse bastardo, não pensei em perguntar. — Admitiu o
motoqueiro como um homem. Um com vergonha, mas ainda assim um
homem.
— Vou com vocês. — Caleb ficou de pé, mas não teve a chance de
dar um passo antes que Eva estivesse no banco do passageiro e
fechasse a porta.
Nunca esteve tão exausta em toda sua vida. Quem teria pensado
que simplesmente sobreviver seria tão desafiador e por tão pouco
ganho? A ponta de sua sandália ficou presa em um pedaço de asfalto
levantado e tropeçou. Provavelmente pareceu como se tentasse dançar.
Tinha algo de errado com ela e não conseguia saber o que era?
Mas estava.
A empatia em seu tom era apenas o suficiente para fazer com que
Nika se sentisse compreendida, mas não com pena.
— Você acha que poderia ser útil falar com alguém à respeito
disso? Sei que me ajudou depois do tempo que passei naquela cabana
com Stefano e Furio. Não me refiro a um psiquiatra. — Disse
rapidamente. — A menos que isso seja o que você queira. Mas falei
com um amigo de Gabriel, Michael. É o padre que nos casou. Muito
agradável. Não age de maneira moralista.
— Como falar com ele a ajudou? — Nika não acreditava que falar
disso fizesse algo mais do que trazer todos os maus sentimentos que
experimentou durante o ano passado à tona novamente. Por que
passar por isso?
— De Barbie?
— Ele mentiu.
— Amo você.
Eva a abraçou.
Ela assentiu e olhou pela janela enquanto faziam uma meia volta
e se dirigiam para casa.
— Desculpe por fugir de você e por algo que eu possa ter dito que
o irritou. Estava chateada, mas isso não é desculpa. — Sugeriu que ele
era capaz de fazer o mesmo que Kevin. Os dois homens não podiam
ser mais diferentes. Ela aproximou-se e lhe ofereceu o mesmo tipo de
abraço que teria dado a Vex. Apesar de saber que sentia mais, o
ignorou com bastante facilidade em seu drenado estado mental e
emocional. — Sinto muito, Vincente. — Sussurrou enquanto o
esgotamento a inundava. — Fui cruel e dura sem necessidade. Não
sou assim.
— Ruiva...
— Finalmente.
Paz.
Tranquilidade.
Mas não estava tudo bem. Nunca estaria bem, percebeu que o
nível de asfixia em seu peito subia até que não era mais do que uma
caixa bruta, cheia de terror.
— Ele virá, Vincente. — Ofegou. — Ele não vai parar. Ele virá...
atrás... de mim. — Suas palavras finais foram sem som enquanto a
escuridão a levava.
Vincente amaldiçoou quando pegou Nika em seus braços e saiu
da cozinha. Ignorou um Quan com a testa franzida, que entrava pela
porta da frente. Foi para a escada, de dois em dois e voou pelo
corredor para seu quarto. O medo e a certeza que esteve na voz de
Nika eram tudo o que podia ouvir. Ela esperava a morte. Nas mãos do
seu agressor. Não importava que pareceu lidar com as coisas, até hoje,
pelo menos, temia por sua vida. Pensava que a chegada de Nollan era
uma conclusão indiscutível de sua história.
Ela estava errada. Não havia como este cara estar a poucos
metros dessa casa sem que ele descobrisse isso. Não era possível.
— Sério? Pelo que ouvi, não foi muito agradável hoje mais cedo.
Por que a tratou dessa maneira, Vincente? — Perguntou com frieza, e
lançou o olhar para a porta. — Depois do que ela passou, acho que o
que você fez foi cruel.
Estava com raiva. No entanto, mantinha isto entre os três. Era
grato por isso.
— Por quê?
— Como?
— Oh, então ela vai sair com Alek agora? E depois com Quan e
Gabriel? Ah e não vamos esquecer de Maksim. Poderia até mesmo ter
sexo com ele, assim ele entenderia sua gratidão, por ter tirado um
tempo de sua agenda de apertar algumas das teclas de um
computador.
Vincente teve que lutar para não deixar isso passar por seu peito.
Nika sentia-se atraída por ele. Tinha o desejado esta manhã.
Respondeu a ele...
— Apenas espere.
Desmaiada?
— Oh. Uh, sim. Olá, Tegan. — Nika olhou a familiar loira e tentou
sorrir. Conseguiu, apenas porque se lembrou de Vincente dizendo que
Tegan não era sua namorada. — Sinto muito...
Nika caminhou pelo pântano que era sua mente e tentou pensar
em tudo exceto no pulsar em suas têmporas. Pegou um táxi... ela e
Eva conversaram... todos terminaram na cozinha...
— De Vincente.
— Diga outra vez qual é seu problema. — Disse para Eva por
cima de seu ombro enquanto caminhava pelo corredor.
Eva riu.
— Não terminei!
Nika sorriu.
Eva soluçou.
— Não, não está. Vamos terminar com isto. — Tegan ficou frente
a frente com Eva. — Estamos bem, você e eu? Nunca foi minha
intenção incomodá-la.
— Para quê?
Perto de tirar a calça de sua amiga ela mesma, Nika pegou o copo
de Tegan e o agitou sob o nariz de Eva.
Merda.
Sabia que Gabriel e Quan voltaram para casa. O chefe disse algo
à respeito de não se sentir bem em deixar as mulheres sozinhas — o
que não estavam realmente, não com Tegan em casa, Alesio e Vito de
serviço. Mas independente disso, ninguém ignorava seus instintos
quando vinham à tona. Então Maks o entendia, mesmo que ele
zombasse em silêncio. O sistema de segurança que instalou na casa
também era impecável. Nada o atravessava e nada acontecia lá sem
que ele soubesse.
— Caralho. Já?
Maks sorriu. Seu garoto trabalhava rápido.
— Já. Mas mantenha para você até que lhe diga. Ninguém deve
saber disso ainda.
E nem sequer tentou conter seu gemido alto. Obrigado pelo aviso
V., pensou enquanto fechava a boca aberta e figurativamente limpava
a saliva do queixo. Porra!!!
Sua expressão não mudou, mas Maks poderia jurar que ela
revirou os olhos sem na verdade, tê-lo feito. Ela olhou para Micha e
perdeu o sorriso de Maks.
— Posso ajudá-lo?
— Isto tem algo a ver com a ruiva que ele acompanhou para fora?
Micha se afastou sem dizer uma palavra, como era seu costume,
enquanto Maks amaldiçoava o fato de que Gheorghe obviamente o
ultrapassou no que se referia à australiana. Decepcionante. Estava
muito irritado.
Maks cerrou os dentes e olhou para cima para ver seu pequeno
duende ocupar a posição atrás de uma mesa, que continha somente
um telefone e um notebook fechado. Na verdade, todo o escritório era
estéril, sem dar nenhuma pista quanto à personalidade de sua
proprietária. Não havia nem sequer uma planta ou um calendário na
parede. Apenas os móveis: mesa, uma cadeira, arquivos e um sofá.
— Como?
— Seus olhos, querida. São magníficos. — Uma coisa que ela iria
aprender sobre ele, se pensasse em algo, simplesmente dizia.
— Como tem que ser, papai. Como deve ser. — Proteger aos que
consideravam seus era a única maneira que conheciam. Uma mulher
que ele amava carregando seu filho? Caralho. Maks não acreditava
que pudesse lidar com essa merda. Razão pela qual decidiu não voltar
a tentar. — Assumo que não disse a V.
— Vincente?
— Desculpem, Vincente?
Maldito irreverente.
— Não sei onde ele vai quando sai daqui. Darren sabe. Ele sabe
tudo. Acho que vai para um hotel, mas não sei qual, nem onde fica. E
ultimamente falaram de um prédio em algum lugar do bairro, mas não
comigo. Eu somente os ouço. Isso é tudo o que eu sei. Por favor, me
deixe ir homem. Por favor! Estou nisto pelo dinheiro.
— Que dinheiro?
— Kevin disse que me daria cem dólares para levar a ruiva para o
beco atrás do clube ontem à noite. No entanto, não nos deu o dinheiro
porque você apareceu. Então estamos quites, certo?
Não era bom para ele. Inclinou-se até que pôde cheirar o medo do
homem.
— Você se meteu em algo tão fora da sua liga que chega a ser
engraçado. É uma pena que não tenha a chance de rir.
Caleb agarrou Paul e lhe deu um golpe tão duro na coluna que
caminhou como se estivesse grávido de gêmeos.
Suspirou forte.
Mordeu a língua.
— Claro.
O som da garrafa sobre o balcão a fez olhar para cima. Ele parou
no meio do ato de servir.
— Abaixe a tigela.
Se sim, bem-vinda.
Vincente observou a luz que refletia nos olhos verdes de Nika e se
forçou a afastar o olhar de seus lábios enquanto bebia. Sua rotina
quente-fria devia criar uma confusão em sua cabeça. Um minuto eu
dizia a ela que não era suficiente para excitá-lo. No próximo a olhava
como se quisesse comê-la viva. Sentia isso. Mas não sabia como deixar
de fazer isso.
Sua voz era rouca em seus ouvidos e vibrava por sua coluna
tensa. — Dispare. — Não lutaria contra a sua necessidade por ela esta
noite. Não quando o conselho de Gabriel enchia sua cabeça. E não
quando as coisas pareciam tão complicadas como agora. O que havia
entre eles era muito fácil.
— Oh uh, ok.
— Sim, acho que isso é a marca em sua orelha. — Sua voz era
mais baixa do que há um segundo. — Queimadura de cigarro.
— Sim. Eu gostaria.
— Vincente?
— Eu também. Você não fala nada sobre seus pais. — Disse ela.
Com exatidão.
Uau. Sabia que era perigoso para sua paz mental, mas isto era
uma loucura.
— Ruiva...
— Sim?
— Obrigada.
Pelos próximos minutos, Nika lavou todo o rastro de sujeira do
corpo de seu novo mascote. Limpou até mesmo entre os dedos das
espalmadas e peludas patas. O pequeno e doce animal brincou com
ela o tempo todo. Nika tagarelava com Vincente, contava sobre cada
um dos três cães que ela e Caleb tiveram.
— Você acha que ele está com fome? O que devemos lhe dar para
comer? Não acredito que a lasanha seja saudável e ainda está no
forno. — Mordeu o lábio inferior. — Não pode ter mais sede. Não
depois que bebeu a maior parte da água. Oh. Espero que o sabonete
que ingeriu não vá fazer com que adoeça. Aposto que terá que...
— Nika.
— Humm?
— Por favor, relaxe, baby. — Charlie soltou um gemido triste
enquanto ficava quieto e a olhava, como se apoiasse a sugestão de
Vincente. — Viu? — Riu. — Acho que você o deixou louco.
Mas ele viu e foi atrás dele. Ou teria ido se as coisas tivessem
acontecido como planejado. Em vez disso, Nika viu sua grande bota
preta escorregar em uma pequena poça. Seus grossos braços
tatuados se moveram, enquanto seus pés voavam e um golpe sólido
soou quando aterrissou de costas. Duro. Muito. Muito. Duro.
Ela tentou não começar a chorar, mas não pôde evitar de jogar
seus braços ao redor de seu pescoço e enterrar seu rosto em seu
cabelo.
Sua cabeça abaixou e ele pode ver o rubor cobrir suas bochechas
enquanto olhava para Maksim por baixo de seus cílios antes de levar
sua atenção a ele.
Vincente tinha certeza que nunca odiou outro ser humano, mais
do que odiava Kevin Nollan. Deixou-se cair na cadeira e soltou um
suspiro duro.
Vincente assentiu.
— O quê?
Vincente pensou nisso por um segundo. Era por isso que tinha
um momento tão difícil? Era um esforço para manter Nika por perto?
Porque Maks tinha razão, uma vez que Nollan não fosse mais uma
ameaça, ela seria livre para ir. Para iniciar essa nova vida com outra
pessoa.
Maksim riu.
Poderia ser tão simples? Vincente fazia disto algo que não era?
Nika apenas queria sexo com ele? Ele poderia ter sexo com ela e deixá-
la ir? Não pensava assim.
— O rumor é que não sai com ninguém, então boa sorte com isso.
De qualquer forma, uh, se importaria se fizer uma pergunta pessoal?
Ele fez uma careta. Não acreditava que nenhum dos rapazes, a
não ser Vasily, se atreveria a perguntar sobre seu passado. Tudo o que
sabiam era que aos quatorze anos Maksim foi sequestrado e mantido
como refém na Rússia. O único detalhe que Vasily deixou escapar era
que Maks passou quase três meses em uma cela, o que levou Vincente
a acreditar que o cara sabia uma coisa ou duas à respeito de como
lidar com traumas emocionais.
O som que saiu de sua garganta fez pulsar sua ereção matinal,
em busca de um lugar quente e úmido onde se enfiar. Sua atenção se
concentrou no final da cama quando seus pés começaram a se mexer.
Que porra? Um segundo depois, um focinho e dois olhos piscando
surgiram por baixo do cobertor.
Charlie.
Deus o ajudasse, mas essa voz rouca da manhã desceu por sua
coluna como uma língua molhada.
— Oh. Ei, acho que deveria ir lá e cuidar dele antes que a ataque
até matá-la.
Ela parou e olharam um para o outro por alguns minutos. Com
outro giro, um que lançou seu aroma diretamente no seu nariz, ela foi
para o banheiro e fechou a porta antes que ele pudesse abrir a boca e
agradecer por ter permitido que ele tivesse a melhor noite de sono em
semanas. Não fez nada específico, simplesmente ficou ali. Mas sabia
que era graças à ela.
Ele negou.
— Não, baby. Definitivamente não estou rindo de você. — Seus
olhos se estreitaram como se não soubesse se acreditava nele ou não.
Ficou ali na porta do banheiro, com sua camiseta tão grande que
chegava até a metade de sua coxa. Um lado da gola caiu, revelando a
pele macia de um ombro e a metade de seu braço.
— Está ótima.
— V.?
— O quê?
— Explique-se.
Olha o que aconteceu com Sophia. Sua imagem final veio até ele,
cinza e fria na morte. Com os braços e as pernas cheios de marcas de
agulhas. Com contusões na pele que não voltariam a se curar.
Não sabia. Mas enquanto subia pela escada, sabia que precisava
tentar.
Nika se afastou da janela para ver Vincente entrando, ainda a
provocando com o peito nu e suas belas tatuagens. Percebeu
imediatamente que algo mudou. Podia sentir a frieza de onde estava,
do outro lado do quarto. Moveu-se para frente, cruzou os braços sobre
sua cintura e esperou que ele falasse. Ele se aproximou da mesa de
cabeceira e pegou seu telefone. Tirou o curativo das suturas e pôde ver
que estavam bem presos. Tegan as tiraria? Ou ele pediria a Nika que o
fizesse por ele?
— Estou com fome. — Tinha certeza que não poderia engolir nem
um grão de arroz, mas foi para a porta mesmo assim. — Verei...
Aproximou-se e atendeu.
— Olá?
Vincente deu a volta na cama. Ela ficou sem fôlego pela forma
como ele a observava, com uma intensidade quase predatória.
— Olá, Niki.
— K-Kevin?
— Por que não voltou para o apartamento, Niki? Onde você está?
Com ele?
Seu coração parou de bater, sua respiração junto com ele. Caiu
sentada na beirada da cama e Vincente se ajoelhou diante dela.
— Quem é ele, Niki? Ele fode você, puta? Você gosta? Sinto sua
falta. Eu a amo tanto, porra. Vou atrás de você, cadela. Espere.
Cuidarei de você novamente, como fiz antes. Mas serei agradável desta
vez. Eu juro. Pouco antes de abri-la e vê-la sangrar, boceta infiel!
Depois de ouvir a maior parte, ela apertou os dentes e arrastou-se
por suas costas. Estava prestes a apertar desligar quando Vincente
pegou o telefone dela.
— Bem. Por favor, irá me deixar vê-lo depois que fizerem o que é
preciso? Eu preciso saber que ele se foi.
Sua boca se apertou em uma linha firme que indicava que não
estava contente com seu pedido, mas disse. — Se insistir nisso, sim.
Deixarei que veja o que sobrar dele.
— Obrigada, Vincente. — Tocou-lhe a bochecha e se levantou. Ele
ficou com ela.
— Ruiva?
— Hmm? — Ele olhou para baixo para seu protetor de tela. Uma
foto dela e de Caleb que tiraram no outro dia na Union Square.
— Por que não fica perturbada com as coisas que ele lhe diz?
Como pode simplesmente aceitá-las assim?
— Onde vai?
— Encontrar Eva.
— Charlie.
Gabriel bufou.
Nika desviou seus olhos e olhou para Maksim para ver como
lidava com essa muito estranha discussão, não muito surpresa
quando encontrou um sorriso.
Gabriel pegou a mão de Eva e a levou para o sofá, mas antes que
pudesse colocá-la lá, ela balançou a cabeça escura.
— Não, não. Temos trabalho a fazer. — Disse com firmeza. — Se
Vincente vai para Manhattan para o seu escritório, o mínimo que
podemos fazer é caminhar pelo corredor para o nosso.
Ela disse a Nika antes, que Gabriel insistia que descansasse mais
durante as tardes. Ela concordou com ele para fazê-lo feliz, porque
dizia que estava um pouco mais cansada do que o normal e sentia a
necessidade real de dormir um pouco. Então corou como uma garota e
Nika estava convencida que não dormiam muito durante estes
cochilos.
Gabriel indicou o quarto para sua esposa, mas Eva se virou para
Nika.
Estúpido.
— Porra, Maks. Não estou de bom humor. — Olhou para a
piscina e ouviu o homem se sentar na espreguiçadeira. — Fomos para
Crown Heights esta noite. Astoria também. Não encontramos merda
alguma.
Ainda não tinha uma resposta para essa pergunta quando parou
em frente à porta de seu quarto, com os joelhos fracos, com o pulso
acelerado, com o estômago tenso e respirando em rajadas curtas.
Estendeu a mão e virou a maçaneta, entrando e fechando a porta
silenciosamente.
Porra.
O quarto ficou com uma aparência aconchegante quando a luz
mostrou que ela usava apenas uma camiseta branca com a palavra:
Abrace-me —e ele iria, em um minuto — estampada no peito e a
pequena calcinha preta. Seu cabelo estava despenteado e selvagem, e
seus olhos cansados.
— Eu não acho que agora seja um bom momento para falar sobre
isto. Você está cansado de fazer o que fez durante toda a noite. Estou
cansada de me preocupar toda a noite com Eva e Quan. Ele foi uma
ótima companhia. Tão calado e estável. Jogamos cartas. Acho que nos
deixou ganhar.
Parecia que ela queria dizer não, seus olhos foram rapidamente
para a porta novamente, mas assentiu uma vez de maneira quase
imperceptível.
Ela levou o seu tempo e quando falou, sua voz era baixa e
cuidadosa. — Então, me machucou quando disse que eu não era
suficiente para você... por nada? Por quê?
Quanto eu poderia dizer? Tudo? Uma parte? Talvez devesse dizer
toda a história de merda e deixar que o chutasse.
— Isso é bom, porque, uh, não estou assustada com o que disse e
eu realmente quero fazer sexo com você. — Seu corpo estremeceu
quando sua boca pousou, aberta e quente, seus dentes e língua
deixando uma úmida e suave linha entre sua orelha e o nervo de seu
pescoço. Gentilmente o mordeu bem no seu pulso. A sensação
explodiu seu corpo, o que lhe dizia como seria um suave toque
enquanto seu cérebro desligava e suas pernas enfraqueciam. Ela
inclinou-se para trás e passou um dedo por seus lábios e pareceu
como se houvesse outra coisa em sua mente.
Ela arranhou suas costas, encantada com o som baixo que ele fez
contra ela e moveu suas mãos entre seus corpos. Sentiu seu pau
quente e abriu o botão e desceu o zíper também.
— Oh Deus, Vincente!
Ele fez que com seu nome soasse como uma oração quando a
esticou com seus polegares e trabalhou no pequeno feixe de nervos na
parte superior de sua boceta. Era disso que precisava; o corpo de Nika
se apertando como uma corda de arco e ela gozando. Suas unhas
cravaram forte em seu couro cabeludo enquanto um grito apaixonado
saía dela se transformando em um interminável gemido pelo prazer
que lhe proporcionou. Lambeu sua doçura até que os espasmos finais
a deixaram.
Queria obedecer, fazer todas essas coisas para que nenhum outro
homem se aproximasse dela. Não sem incitar sua raiva. Fazer um
círculo ao redor dela em público e protegê-la de tudo o que pudesse
prejudicá-la de alguma forma. Ele a faria feliz. Ajudaria a se recuperar.
Daria muitos presentes. E se houvesse algo que não pudesse
encontrar para agradá-la, construiria o filho de puta com suas
próprias mãos. E na privacidade de seu quarto, adoraria seu corpo.
Amaria uma e outra vez. Agradaria e a satisfaria tão completamente
que nunca desejaria outro homem.
Nunca.
Apenas ele.
Ele e ela.
Vincente e Nika.
Sim, senhora. Ele os fez rolar para que ela ficasse embaixo dele,
quase sem alterar seu ritmo e ela gritou quando entrou mais fundo.
Deus, os sons que fazia tão vocais o excitavam, seus suspiros
delicados o inquietavam, seu corpo se contorcia e levava sua
necessidade de satisfazê-la à frente de sua mente.
Sua cabeça voltou a descer e ele piscou com espanto, uma vez
que compartilhou isso sem esperar nada em troca. Esta mulher era a
razão de seus sonhos.
— Ruiva.
— Oh, ele fala! — Sussurrou ela enquanto segurava sua base com
uma mão e muito lentamente colocava sua ereção na boca. Seus
quadris se levantaram enquanto o levava profundamente e ele gemeu.
Foi mais do que um gemido, mas sendo o homem que era, chamaria
assim. Suas mãos encontraram o seu cabelo enquanto ela se inclinava
para trás e liberava a cabeça de seu eixo da tortura com um pop
suave. Quando ela falou, sua respiração passou sobre ele e fez com
que seu controle parecesse como um punho fechado ao redor dele. —
Eu nunca fiz isto. — Admitiu. — Mas quero fazer com você. Sonhei em
fazer isso duas vezes. — Fez uma coisa de redemoinho na cabeça de
seu pau e depois imitou o que fez com ela e arrastou a língua para
baixo da ponta até a base. — Tenho lido muitas novelas românticas
para saber o básico. Mas se não for bom, estou aberta a sugestões.
Sua fascinação com esta incrível criatura não tinha limites e tudo
o que podia fazer era ficar ali e se divertir. Quando ela sorriu
lentamente, com os olhos enrugados nos cantos, a garganta de
Vincente realmente engrossou de emoção.
Ela se inclinou para trás e olhou para fora. Ainda estava escuro.
Ela o amava.
— Fez com que eu tivesse que esperar por mais detalhes! O que
aconteceu ontem à noite? Merda, quase morri quando Gabriel voltou
para o quarto cheio de sorrisos! Sorrindo, Nika! — Aprofundou sua
voz: — V. não me deixou entrar em seu quarto porque disse que Nika
não estava decente. — Voltou para sua voz normal e saltou para ficar
de pé e aplaudia como uma foca. — Por que não estava decente? Eu
tinha razão? Ele mentiu à respeito de não desejar você, não é?
— Viu? Isso demonstra como ele é bom para você. Não a ouvia
falar assim há mais de um ano. — Ficou de pé enquanto comia e
apunhalava um pedaço de melancia. — Estou tão feliz que as coisas
funcionem para...
— Não.
— Eu sei.
— Você sentiu medo quando acordou e ele lhe disse que tinha
que sair? — Segurou a xícara colocando leite nela, grata que tivessem
o tipo de amizade que não precisava de rodeios.
Merda.
— Deixe-me em paz, V. Não estou com humor para isso. Não tive
sexo em dias. Dias. Sim, você ouviu direito. A próxima coisa será não
dormir. E aquela pequena australiana se recusa a jogar pelas minhas
malditas regras. — Abriu a porta junto de Vincente e olhou para
dentro. — Sim. É esse.
Vincente o cortou.
— Ele tem razão. Tinha que ser uma identificação positiva. Não
conseguimos nenhuma informação dos traficantes do filho da puta.
— Não me diga.
— Nada acontecerá com você, meu irmão. Estará aqui para criar
seu filho ou filha, porque se alguém se atrever a tentar derrubá-lo,
terão que responder à mim muito antes de chegar perto de você.
— Interrompo?
A voz musical quase fez com que seus olhos se fechassem. Negou
uma vez, enquanto se movia em direção à ela. Esticou a mão e a
puxou quando ela colocou a mão dela na sua.
Sem dizer uma palavra, a puxou para mais perto, assim estariam
escondidos atrás do Kombat se alguém a procurasse, e então a beijou.
Fez com que recuasse, a levantando contra a parede da garagem ao
mesmo tempo. Ela bateu na parede e fez com que uma linha de cabos
que estava pendurada ao lado deles, atingisse a placa. Ele rosnou
quando seus dedos fizeram um túnel através de seu cabelo, as pontas
se afundando em seu couro cabeludo.
— V.?
— Obrigado.
Ela riu e ele foi direto para a cama. Abaixou com sua boca já
devorando a dela, à medida que tiravam a roupa um do outro. Sentiu
que ela tirou seus sapatos enquanto Vincente fazia o mesmo com suas
botas. Multitarefa em seu melhor momento. Sua camisa se foi e suas
mãos encontraram seus seios.
— Você não vai a lugar nenhum desta vez, Vincente. Não... vá.
Fique comigo.
— Apenas quero que dure para você, baby. Nada mais. — Disse
com os dentes apertados. Como poderia haver qualquer outra coisa?
— Sente-se.
Abaixou a cabeça para ver Eva de pé diante dele com seus ovos e
torradas em um prato. Olhou seus seios perfeitos, que estavam
cobertos por um bonito vestido preto que tinha margaridas.
— Que porr...
Pelo tremor na voz de Nika, ela já sabia que era algo que não
queria ouvir.
— Não. Eva e eu ligamos, mas ele não nos retornou ainda... não.
Deve estar com alguma mulher em seu quarto, Vincente. Caleb vai
ligar... não. Não, é meu irmão... — Seu rosto se enrugou e os braços de
V. a envolveram para segurá-la enquanto assimilava o que estava
acontecendo.
— Abel disse que você havia deixado ele e Jerod ocupados com
um site de pornografia em um prédio desocupado. Era sobre isto que
falavam?
— Havia deixado?
— Por que eu não ligo para Kevin? — Nika saiu dos braços de V. e
começou a caminhar. — Vou ligar e dizer que me encontrarei com ele.
Ela parecia tão desesperada que ele quis concordar, mas não
pôde.
— Nunca é fácil, Nika — disse Gabriel. — Não quando se trata de
um cara como Nollan. E se o lugar estiver cheio de armas ou fizer
alguma coisa com Caleb antes de sair?
— Mas sou eu quem ele quer! — Sua voz era estridente com sua
insistência. — Eu o conheço. Não pensará em Caleb depois que eu
concordar em ir com ele.
— Não, você não irá, Ruiva. Então tire essa porra de pensamento
da sua cabeça. — O tom de Vincente não admitia discussão.
Vincente negou.
Tinha que funcionar. Esta poderia ser sua única chance de acabar
com isto. Dar fim à Kevin. Porque se não estivesse morto, não iria
libertar-se dele nunca. Algo profundo dentro dela escureceu. Depois que
seu irmão estivesse livre, poderia ir para frente desse prédio e
encontrar-se com seu marido como estava previsto. Usaria essa pistola e
faria com que Kevin nunca mais pudesse machucar ninguém.
Nika contou até cinco, então se levantou e foi para a porta que
levava à garagem. Estava descalça percebeu, mas não se importou
enquanto puxava a coisa pesada para abrir e agarrava a chave debaixo
do painel ao lado do interruptor de luz. Sabia que havia câmeras por
todos os lugares da casa e nos jardins. O mais provável é que os
homens a vissem, então subiu a porta da garagem e tirou o Mercedes
imediatamente. Esperava que os homens estivessem tentando localizar
o armazém onde Kevin estava e que não olhassem para as câmeras de
segurança muito de perto. Relutando correr esse risco, abriu a porta
do carro e se acomodou o mais rápido que pôde. Colocou a chave no
contato e a girou.
Jesus Cristo.
Palavras vazias.
Peito vazio.
Cabeça vazia.
— Sim. Vou corrigir. Por favor, me diga onde está. Podemos nos
ver e esquecer de Caleb. Ok?
— Sim...
— Sim! Sim, Kevin, estou! Falo sério. Onde você está? — Estou a
caminho neste momento. Já estou no carro. Dê-me o endereço, para
poder colocar no meu telefone. Estarei aí o mais rápido que puder.
Apenas prometa que me encontrará do lado de fora e se esquecerá
dele.
— Como saberei se você não trará esse cão de guarda com você,
cadela suja? Como pôde, porra...?
Mas diria em breve. E então destruiria esse monstro que fez isto
com eles. Ela e seu irmão não seriam mais uma estatística.
Mas todo o ano passado foi por seu irmão. Tudo o que passou, foi
por ele. Como poderia não seguir em frente agora, quando mais
importava?
A raiva que sentiu era tão grande, que de repente, fez com que
um fluxo constante de ar inflasse os pulmões de Nika e ela tossiu. Pelo
olhar que viu em seus olhos, não tinha certeza se Kevin tinha controle
suficiente para deixá-la viver. Para seguir adiante com sua ameaça de
matar seu irmão diante dela. O mais provável é que fosse o contrário.
Mas não deixaria que Caleb a visse morrer dessa maneira. E se negava
categoricamente a deixá-lo à mercê de Kevin quando tivesse ido.
Kevin parou e deu uma olhada. Nika tentou fazer o mesmo, mas
não pôde. Estava muito machucada. Sua cabeça era uma massa de
dor difusa. Seus ouvidos trovejavam. Seu pescoço doía.
— Por que quer que eu o deixe em paz? Está ansiosa pelo que
vem para você, puta da máfia? Eu senti falta disto. — Aproximou-se.
— Eu matei você, sabe. Uma e outra vez. Cinco vezes desde que me
deixou, eu a matei.
— Ruiva!
O rugido que saiu de sua boca foi selvagem, soava mais animal
do que humano.
Ele recuou.
— Não acredito que farei isso. Minha mulher está onde pertence.
Mesmo que seja uma puta infiel. Agora, fique de joelhos Ceifador,
antes que eu mude de ideia à respeito dos meus planos e faça um
buraco em sua cabeça.
— Eu o tenho.
Mas não podia, não quando seus olhos, aqueles olhos esmeraldas
agora apagados, muito, conectaram-se com os seus.
— Maks... — Começou.
— Não. E-eu não poderia ter feito isso. — Maksim negou como se
não pudesse entender o que aconteceu, recuando e caindo sobre seu
traseiro. Seu rifle foi jogado de lado, seu fone de ouvido caiu de sua
orelha no chão empoeirado junto dele. Em nenhum momento, nos
quase vinte anos que Gabriel o conhecia, viu o homem tão desfeito. —
Eu não fiz isso. — Falou, em russo agora. — Eu não atirei nela. Ele se
moveu... inferno do caralho. Eu não poderia atirar na mulher de
Vincente, Gabriel. Não faria isso.
— Hei! Vamos. Agora mesmo. Você e eu. Nunca é tão ruim como
você pensa. Sabe disso. — Segurou o olhar selvagem prateado, com
medo de que se o deixasse cair, perderia seu já tão prejudicado amigo
para sempre. — Não foi sua culpa!
— Maksim!
— Maks.
— Vá.
— Kirov.
Ele a ignorou.
— Tudo bem.
— Ok.
— Eu vou carregá-la.
— E a outra?
— Eu.
Eu a matei, sabe. Uma e outra vez. Cinco vezes desde que você me
deixou, eu matei você.
— Lore?
— Lore?
— Lorenzo.
Quando e se aparecesse.
Duas semanas depois.
E continuava lutando.
— Ele sabe.
— Nunca poderei pagar pelo que fez por mim hoje. Se algum dia
você precisar de alguma coisa, venha e fale comigo, sou seu homem. —
Beijou-o com força em ambas as bochechas e continuou com sua
morte em vida, deixando o hospital no meio de uma rajada de
mensagens e ligações que não respondeu até o dia seguinte.
Há cinco dias atrás, eles pararam de ligar. Mas ele ouviu muitas
vezes: — Ela está muito bem, fisicamente.
Porque acha que Nika tem que se acostumar com a vida sem você.
E você sem ela. Mas isso é besteira!
Não sabia, mas acharia uma maneira. Tinha que fazer. Fechou os
olhos sabendo que falhou novamente.
Não. Em absoluto.
Nika, ele amava com todo seu coração e sua alma. Com todo o seu
corpo e seu ser. Tudo o que ele tinha pertencia a ela.
E merecia ficar sentado ali, sangrando até a morte, por suas
feridas invisíveis. — Ao contrário das muitas visíveis de Nika.
Ela se sacrificou por Caleb, uma e outra vez, porque adorava seu
irmão. E o ama, Vincente.
Porra, não.
Nika negou.
— É claro.
Ele negou.
— Aqui?
— Está perfeito. Então, uh, Vincente estará no Rapture esta
noite?
— Olá.
O russo negou.
— Nem eu, por isso parece que vamos nos fazer companhia,
enquanto cuidamos do bêbado.
Ele não viu Micha sair porque se virou para Maks, que o olhava
fixamente com uma expressão tão torturada, que fez com que suas
pálpebras picassem.
Caleb bateu na parede com tanta força que seus dentes bateram.
Ponto feito, pensou presunçosamente, apesar do que sentia agora em
seu coração. Sabia que V. estava mal por causa de sua irmã. O cara
estava apaixonado por ela. Qualquer pessoa com dois olhos podia ver
isso. E os de Caleb funcionavam muito bem. Apenas não sabia por que
o cara não agia. Pela culpa, provavelmente. A mesma merda que
nadava como uma enguia através de suas veias, lembrando-o a cada
vez que tentava esquecer, do horror do mês passado.
— Essa mulher está tão acima de nós que nem os anjos têm
direito de olhar para baixo para vê-la... — Disse Vincente com os
dentes apertados. — Recue, Paynne. Não estou com humor para estes
jogos.
— Por que nã...? Por que ela está aqui? — A dor que irradiou de
sua voz era forte o suficiente para que Caleb se sentisse ainda mais
como um lixo. Afastou-se da parede e encolheu os ombros, embora ele
não pudesse vê-lo.
—Ela não veio sozinha. Eva está sempre com ela. — Como para
provar que estava certo, Eva entrou em cena. Moretti a cobria como se
ela fosse a chefe da família. Bom homem. Sabia que só poderia levar
Nika para algum lugar que estivesse tão protegido como o clube de
Kirov para este pequeno passeio.
Caleb passou uma mão pelo cabelo com força e teve que limpar a
garganta para poder soltar a respiração e falar.
— Sim. Foda-se V. se você acha que ela ficará bem. Sabe, acho
que estava certo antes. Você não sente nada por ela. — Nem sequer se
alterou quando lhe deu outro olhar mortal. — Porque um homem
apaixonado por uma mulher faria qualquer coisa para não machucá-
la, como Moretti faz com Eva. Mas você? Não, nem tanto. — Fez um
impaciente movimento cortante com a mão e se afastou indo para a
porta. — Continue olhando para esse monitor e veremos o quanto você
não se importa. — Disse enquanto saía com o telefone já em seu
ouvido. Deixe que os bons tempos passem, filho da puta.
Vincente olhava a imagem de Nika na frente dele e se sentia
como...Merda. Já não podia sentir absolutamente nada. Era quase
como se a dor que viveu nas semanas anteriores, se manifestassem em
um entorpecimento frio que o preenchia da cabeça aos pés.
Não sabia quanto tempo ficou sentado ali com a cabeça para trás
enquanto olhava o teto cinza acima dele. Mas quando finalmente
levantou a cabeça, se sentiu tentado a bater na mesa na frente dele
até que seu coração bastardo parasse de gritar a palavra não!
Vex inclinou-se para falar com Nika, movendo a mão sobre seu
ombro e a acariciando com o polegar. O ritmo cardíaco de Vincente foi
a um nivel perigoso; seus músculos ficaram tensos com uma dor um
milhão de vezes pior do que qualquer ferimento a bala que já
recebeu.Lutava para não reagir. Não iria pegar sua arma e abrir fogo
na frente de qualquer pessoa que pudesse testemunhar o que seria
uma matança.
Não importa. Não importa. Você a está deixando ir, lembra? Não
importa. Ela tem que encontrar alguém melhor. Lembra-se? Para seu
próprio bem.
— Espere.
— Mais devagar, V.
Não era muito para contê-los, mas pelo menos conseguiu passar
por eles.
Abriu a porta de metal com tanta força, que ela se chocou contra
a parede. Saiu disparado do clube... bem a tempo de ver o carro de
Vex afastando-se da calçada.
Caralho!
— Como você pôde deixar que fosse com ele? — Rugiu. O volume
de sua voz fez um trabalho de primeira classe e chocou a todos no
lugar. Como se ele desse a mínima.
— Eu pensei que você não quisesse ter mais nada a ver com ela,
V. Nika queria um pouco de companhia. Ele perguntou se estava tudo
bem a levar para casa. — Gabriel encolheu os ombros. — Quem era eu
para dizer que não? — Estendeu a mão e pegou a de Eva de maneira
protetora, colocando-a atrás dele, como se Vincente pudesse machucá-
la. O que o incomodou mais ainda. — Eu dei os códigos e eles saíram.
— Uh, Nika disse que iria para o seu quarto. Mas poderi...
E agora que ele finalmente aceitou isso, tinha que dizer a ela e a
todos os outros.
O que? Caralho!
Por que fez isso? Perguntou em algum lugar através de sua raiva,
quando viu um vidro de perfume e uma coisa em forma de árvore
pendurada com várias jóias na cômoda ao lado da tigela que usava
para jogar suas chaves e carteira no final de cada dia.
Uh, ele poderia querer dar uma maldita atenção, antes de ter um
vislumbre de Vex saindo do seu banheiro mostrando a enorme ereção
que o motoqueiro usaria para reclamar Nika em sua cama.
Tanta. Fúria.
— Onde ele está? — Sua pergunta saiu tão fria e dura que Nika
piscou.
— Foi embora.
— E-eu e-estou...
Ela sorriu.
— Vincente.
— O quê, baby?
— Acho que você está ciente sobre como me sinto ficando presa.
— Estou bem ciente disso. Por que acha que lutei tanto? Sei o
que Nollan lhe fez quando tirou sua liberdade. E tinha medo de que a
vida comigo fosse igual. Ainda tenho. Sim, estará envolvida em doces e
corações, mas continuará igual. Você sabe o que eu faço, a merda de
sociedade com a qual às vezes tenho que lidar. Esses bastardos a
ameaçarão agora, da mesma maneira que ameaçam Eva. Mas eu farei
o melhor que puder, como Gabriel e prometo agora protegê-la com
tudo o que tenho, sem tirar sua liberdade.
Ele assentiu.
— Juro pela memória da minha irmã, baby, que não vou fugir de
você, nunca falharei novamente. Quero deixar isso claro. Me dar uma
chance depende de você. — Seu toque em suas costas, sua grande
mão acariciando suavemente, fez seus olhos se fecharem. Graças a
Deus que ele estava ali. Todo seu.
— Você não tem que me compensar por nada mais que... — Seus
olhos se arregalaram enquanto uma onda primitiva e instintiva de
posse se apoderavam dela. — Onde você estava, afinal? Estava com
outra mulher?
Ela sabia que ele a amava, mas mesmo assim era uma coisa
bonita de ouvir. Esta era a razão pela qual não desistiu dele. Por que
sucumbiu a ele. Não é que realmente tivesse escolha no final. Não
podia afastar-se do que sentia. Do que ambos sentiam.
— Amo você também. — Sussurrou. — Posso lhe mostrar o
quanto?
— Nika...
— É lindo. Porra. Acho que é a coisa mais sexy que já vi, baby.
— Sério? O que é?
Era negro.
Hesitou.
— Para... mim? — Sussurrou, sua garganta dolorida. Apesar de
estar casada, nunca recebeu o anel de um homem antes. — Eu não...
— Tem certeza?
— Acho que lhe disse isso uma vez ... isso não é possível.
— Vincente?
— Humm?
— Eu tenho que agradecer a você também. Estou... grato que
tenha visto além do que eu mostrava ao mundo naquele dia em
Seattle.
Ouviu-se um sussurro.
— Venha aqui!