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Apresenta

The Salvation of

Wanted Men #2

NANCY HAVILAND
Primeira Tradução: Édi Dapper, TmBlake,
Gislaine Vagliengo
Segunda Tradução: Clarinha, Sacra, Deia, Mari
A., Bia Q.
Revisão: Ise K, Fla, Kaka, Merida, Ray,
Rafinha
Revisão Final: Silvia Helena
Verificação: Nana Lima
Leitura Final: Sónia Campos, Luciana Vaccaro
Formatação: Sónia Campos
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Apenas algo tão importante como o casamento de sua
melhor amiga com o chefe da máfia Gabriel Moretti poderia
permitir a Nika Paynne uma pausa de seu cativeiro. Seu
marido abusivo a mantém na palma da mão com fotografias
de seu querido irmão, Caleb, matando outro homem. Mas a
pausa de sua vida violenta não é o único incentivo. Vincente
Romani - o guarda mais mortal de Gabriel - é um dos
padrinhos do casamento e Nika pensa insistentemente no
fascinante mafioso... pensamentos lascivos que poderiam
colocar sua vida em perigo.

Com a angústia que sofreu, a brutalidade que oferece,


Vincente sabe que é a última pessoa que pode proporcionar a
Nika um felizes para sempre. Entretanto, mantém sua
promessa. Fará o possível para libertar a ruiva de sua
violenta prisão, mesmo que isso signifique perdê-la para
sempre.
Estava se aproximando. Ela sabia.

Nika Paynne caminhava entorpecida pela sala sem vida. Bege.


Tudo era bege. Insípido. Sem vida. Como ela. As mesas junto às
paredes, os tapetes, a mesa de café, o sofá, o puff. Tudo.

Ela soube quando persuadiu sua melhor amiga para ir a um


clube em vez de ir a um lugar tranquilo para tomar um café: a noite
provavelmente terminaria mal para ela. Mas não se importava. Estava
desesperada para rebelar-se, para fazer algo fora do normal. Agora que
as consequências de sua revolta a alcançaram, desejava ter mantido a
boca fechada.

Seus lábios deveriam ter permanecido fechados no clube


também. Não deveria ter dito o pouco que contou à Eva sobre sua
situação. Dizer que se mudaria para Nova Iorque assim que pudesse,
fez com que sua melhor amiga suspeitasse mais do que esperava.

Nika sabia que não deveria ter saído. Porque agora era somente
uma questão de tempo.

Foi longe demais. Estava tão ansiosa para escapar que se tornou
indiferente ao monstro com o qual vivia.

Kevin Nollan.

Seu marido.
Ao passar, não viu as obras de arte das lojas de departamentos
penduradas sobre o sofá esfarrapado, estava muito concentrada em
passar pelo curto corredor até o quarto.

Rezando para ficar sozinha nele.

Não havia nada pior do que quando ele se juntava à ela na cama,
a puxando com muita força contra seu corpo quente demais e a
mantendo presa mesmo quandoàtentava dormir. Graças à Deus, seu
orgulho não permitia que fizesse isso muito frequentemente. Não
podiam fazer nada nessa cama, exceto dormir e Nika tinha certeza que
isso salvou sua sanidade.

A ansiedade percorreu seu corpo, enchendo seu peito com a


sensação familiar sufocante que ela quase não notava mais. Respirou
ofegante, rápida e superficialmente. Inalando apressadamente uma
última vez, esperou um momento para se deleitar com a sensação de
seu corpo sem dor. Porque não seria assim por muito tempo. Levantou
o braço, a nuca formigando porque sabia que Kevin estava a poucos
passos atrás dela e alcançou o interruptor da luz em...

— Quarto errado.

Estava aqui.

Embora o terror a inundasse, fazendo com que uma camada de


suor gelado cobrisse sua pele, ela não se permitiu nenhuma reação
aparente. Se negava a dar esta satisfação ao filho da puta. Estava
acostumada a fazer isso. No começo, antes que percebesse o quanto
Kevin adorava ver seu medo, ouvi-la implorar, ela demonstrava todo o
seu horror. No começo. Agora não mais.
— Pare! Farei o que quiser, Kevin. Você não precisa me
machucar.

Tolas palavras. Suposição estúpida de que ele não queria


machucá-la. Foi uma aluna rápida. O cenário se repetiu somente duas
vezes antes de se prevenir contra seu jogo. Em ambas as vezes, ele
relaxou a tensão de seu corpo e afrouxou o aperto que causava
hematomas em seus braços. Sentiu alívio, pensando ter conseguido
falar com ele. Então ele deu um tapa, jogando-a no chão e sorriu
enquanto ela limpava o sangue da boca.

Sempre lamentaria essas primeiras semanas quando permitiu


que Kevin presenciasse suas emoções: surpresa, descrença, medo,
humilhação, raiva e depois depressão, cansaço, desesperança.

Nessa ordem.

Era uma pequena satisfação saber que Kevin não tinha o prazer
de ver esses sentimentos em meses, mas ainda sentia medo dele e do
que representava: seu confinamento sufocante.

Seu estômago se revirou violentamente quando o ouviu se mover.

— Vai me fazer repetir, Niki?

Agora estava bem atrás dela.

— Kevin. — Abaixou sua cabeça na pose submissa que


costumava deixá-la sufocada com fúria. Agora, apenas tinha a
esperança de que pudesse funcionar. Há muito tempo perdeu a voz em
sua cabeça que costumava gritar: Isso não é quem você é! Não deixe
que ele faça isso! Claro, foi educada para ser forte e independente. Não
o covarde saco de pancadas de algum bastardo cruel. Mas foi nisso
que se transformou. E odiava admitir, mas aceitou.

Condicionalmente.

Aceitou, somente até que encontrasse a evidência condenatória


que Kevin tinha contra Caleb. Por ele, por seu amado irmão mais velho
e sua única família, aguentaria tudo. Não era menos do que ele faria
por ela.

— Desculpei-me no carro, Kevin. Disse que estava arrependida e


que não aconteceria de nov...

Foi interrompida quando ele agarrou uma mecha de cabelo e


puxou sua cabeça para trás com tanta força que a umidade encheu
seus olhos. Seu couro cabeludo picou onde alguns fios foram
arrancados. Os sapatos que estava segurando caíram de seus dedos e
teve que morder o lábio para não gritar. Outro ponto insignificante
para não dar a este demônio o que ele queria.

Piscando rapidamente para limpar sua visão, Nika se encontrou


olhando para o depravado rosto que detestava. Podia ver a loucura em
seus olhos. E era arrepiante.

— Você pensou que aconteceria o que esta noite, puta ardilosa?


Achou que eu não faria nada e esperaria você voltar para casa?
Perguntaria se teve um bom momento agindo como uma puta com
aquela prostituta?

Fechou os olhos com a malícia que brotava de sua voz e ficou em


silêncio. O ar entrando e saindo rapidamente de seus pulmões. Talvez
se não tentasse se defender ele cederia. Esperança ridícula, mas era
tudo o que tinha.

Kevin a empurrou para o lado e a puxou cambaleando até o


quarto de hóspedes. Sua autopreservação apareceu e ela começou a
lutar.

Não! Está dando a ele o que ele quer! Está se preparando para a
frustração porque lutar contra ele não lhe trará nenhum bem!

Protestou silenciosamente e sua mente foi ignorada. Deu-lhe um


bom murro nas costelas.

Ele grunhiu. — Oh, sim. Lute contra mim, escrava. — Esse


apelido e a emoção retorcida que surgiu em sua voz, fizeram com que
Nika congelasse. Como odiava quando ele a chamava assim! — Sempre
é melhor quando luta comigo.

Nika ficou em silêncio, como se acostumou a fazer. Mas em sua


mente gritava uma ameaça violenta após outra, enquanto abaixava os
braços.

Em segundos, estrelas explodiram atrás de suas pálpebras


quando Kevin lhe deu um murro no lado da cabeça. Não mais no
rosto. Isso não podia ser escondido e levaria muito tempo para se
curar.

Santa Mãe de Deus, isto doía, pensou atordoada. E foi


escorregando sem resistir, não fazendo nada para impedi-lo.

De repente, estava deitada sobre seu estômago. Ele segurava seu


rosto contra o tapete felpudo, seu joelho entre suas omoplatas,
apertando tão forte que mal podia respirar. Desceu até ficar muito
perto, pressionando os lábios contra seu ouvido. O hálito de cerveja a
obrigou a engolir com força.

— Caralho, você é tão fraca, Niki.

Não. Não sou fraca. Sou forte. Forte o suficiente para vencê-lo
neste jogo que está jogando. E eventualmente, eu ganharei.

Sua mente tentava se animar com sua retórica habitual, mas


faltava-lhe convicção. Isto vinha acontecendo o tempo todo. Onze
vezes. Onze golpes. Incontáveis tapas de aviso na cabeça. E era sua
prisioneira somente há dez meses. Esta seria a surra número doze.
Uma dúzia.

— E é tão tola que acho que faz estas merdas de propósito.


Rebaixando-se como uma delinquente. — Kevin soltou uma
gargalhada ao sentir a mudança de peso. — Saindo com essa puta,
sabendo que a odeio com todas as minhas entranhas. — Os sons de
objetos indicavam que ele tinha à mão o saco de brinquedos.

Por favor, o tubo de metal não. Por favor, o tubo de metal não...

— Agora você pagará por me envergonhar. — Obviamente se


decidiu por algum quando o barulho parou. — Tem sorte que eu não
me joguei sobre você no clube quando a vi sentada lá, olhando para
cada homem do lugar, como uma cadela no cio. O que você faria, Niki?
Iria deixá-los se revezar para fodê-la? Pegaria dois de uma vez? Três...?

Os insultos seguiram cada vez mais cruéis e explícitos, mas


poderiam ser uma brisa fresca pela atenção que ela dava a eles.
Entretanto, o aumento da loucura em sua voz? Isso sim ela notou e o
que pôde fazer, foi apenas rezar para que se cansasse logo.

— Onde está sua boca agora, escrava? Não tem nada para dizer?
Isso é porque é uma covarde muda e...

— Caralho! — As palavras saíram antes que pudesse impedir. —


Minha boca está bem aqui, filho da puta! Vou matá-lo! Meu irmão vai
matar você! Eu direi o que me fez todos esses meses! Assistirei a vida
drenar de...

Kevin empurrou a parte traseira de sua cabeça até que a pressão


grudou seu queixo contra o chão.

Zaz!

Um primeiro golpe agonizante do que sabia ser o maldito tubo de


metal se cravou na parte superior de suas costas. Esse som profundo,
oco de campainha que odiava ecoou em seus ouvidos. Em seguida veio
a dormência instantânea que era quase pior que a dor ardente que se
seguiria e ela teve que morder a língua para conter o grito que subiu
até sua garganta, sentindo o gosto do sangue quando engoliu. Outro
golpe aterrissou no dorso de seu braço, passando pela carne e o
músculo até bater no osso. Não o suficiente para quebrá-lo,
entretanto. Não. Ele praticou muito para isso. Este monstro sabia a
quantidade certa de força a usar para causar uma grande dor, mas
não para causar uma lesão que precisasse de tratamento médico.

Ele apenas cometeu este erro uma vez.


— Se você fizer alguma outra merda ou tiver alguma ideia nessa
cabeça oca de dizer a alguém a respeito do nosso acordo... — Disse
inclinando-se para frente, seu peso tornando impossível levar mesmo
uma minúscula quantidade de oxigênio à seus pulmões. — Enviarei
esse merda para a prisão e direi a todos que seu irmão é um
assassino.

Moveu-se levemente, o que lhe permitiu um pouco de ar,


enquanto o próximo golpe se cravava no outro braço.

Por favor, deixe-me encontrá-lo - chorou em silêncio através da


bruma de dor e impotência que nublava sua mente. Precisava
encontrar o cartão de memória que continha a evidência contra Caleb.
Precisava fazer. Porque não poderia aguentar muito mais disto. Se
Kevin não fosse tão paranóico, a ponto de se recusar até mesmo a
fazer uma cópia do vídeo ou guardá-lo em uma nuvem como qualquer
pessoa sã faria, já o teria encontrado. Mas não. Era uma pequena peça
de plástico e metal que poderia estar escondida em qualquer lugar. E
ela ainda não encontrou, não importa o quanto tivesse procurado.

— Sabe outra coisa? — Disse cuspindo saliva em sua bochecha


pela pergunta emocionada. — Você me deixou infeliz esta noite, então
vou devolver o favor seguindo em frente com meu plano. Já falei com
meu primo sobre isso. Ele diz que será grande, Niki. Enviei uma
mensagem com sua foto. A desejou igual os homens desse clube para
o qual foi esta noite, porque é muito bonita. Mas você é minha. Amo
você, Niki, sabe disso. Você é minha e eu te amo. — Niki fechou os
olhos, espantada que sua voz parecesse embargada e engasgou
quando ele afundou o rosto em seu cabelo. Estremeceu pela repulsa, o
que fez suas costas pulsarem de dor novamente, mas a ignorou,
notando que Kevin já parecia estar perdendo as forças. Os murmúrios
desconexos surpreendentemente começaram muito cedo. — Assim que
estiver bem cicatrizada, faremos um filme. — Continuou. Seu
repentino tom de aprovação fez com que sua pele se arrepiasse. —
Você será famosa. Meu primo está em Nova Iorque e disse que
podemos ganhar muito dinheiro com isso. Os homens a verão. Você é
minha, Niki. Desculpe se a machuquei. Não era minha intenção. Eu
não sei por que faço isto. A amo muito.

E ali estava. Aqueles lábios úmidos e a língua viscosa passando


pela sua bochecha, a pressão de seus quadris sobre seu traseiro
enquanto se empurrava contra ela com seu pau flácido. A bile viajou
do seu estômago até queimar sua garganta.

Por favor, deixe-me encontrar o cartão de memória - rezou com


mais força, apesar de saber que não tinha ninguém ouvindo. - Por
favor, deixe-me encontrar antes que estes hematomas desapareçam.

— Você ficará tão atraente. Um pedaço de carne perfeito. Será


melhor que não goste... — Ficou rígido sobre ela e se afastou
bruscamente. — Você gostará de ser fodida por esses bastardos, certo?
— Gritou, enfurecido movamente.

Não! Um grito silencioso encheu sua cabeça e começou a lutar.


Esta não era a maneira normal das coisas. Não era para começar de
novo. Estava ficando pior. Ele estava piorando. Mais desumano,
percebeu, se movendo violentamente em um esforço para escapar. Por
quê? Por que agora? Seria apenas o pensamento de alguns homens
imaginários fazendo sexo com ela, uma vez que ele não podia por
causa de sua impotência ser o gatilho?

— Oh, sim. Tente se afastar, escrava. Eu nunca deixarei que faça


isso.

E isso foi a última coisa que ouviu antes que os golpes


começassem novamente.

Um golpe particularmente duro na parte posterior da cabeça fez


com que Nika caísse, com os braços abertos no abençoado alívio da
inconsciência.

Com a esperança de que desta vez pudesse ficar assim para


sempre.
Seis semanas depois...

Logo.

Nika estava começando a odiar essa palavra. Fechou o zíper da


mala que acabou de arrumar, a colocando no chão e fez uma careta
quando suas costas protestaram com o peso. Sentou-se no colchão
irregular.

No entanto, seria muito em breve, certo? Tinha que ser. Porque


ela estava se aproximando do final. Quem queria enganar? Estava
próxima do fim desde que este pesadelo começou.

Seus ombros caíram enquanto suspirava e inclinava a cabeça,


mesmo enquanto se rebelava contra o que via como fraqueza.

Nika, usando suas últimas reservas de coragem, obrigou-se a se


endireitar e a mover a cabeça para cima novamente. Não mergulharia
nisso. Não desistiria.

Estava ali desde setembro. Agora era final de julho. Mais dois
meses e seria um ano. Piscou. Não percebeu. Um ano...

Perdeu quase um ano de sua vida nesta situação insuportável.


Mas não importava o quanto as coisas ficassem horríveis, não se
renderia. Não podia. Não até que encontrasse a evidência que Kevin
tinha contra seu irmão, uma gravação que enviaria Caleb para a
prisão. Por um crime que Nika sabia que era justificado. Sim, ele tirou
uma vida, Kevin a fez assistir o vídeo. Mas conhecia seu irmão
suficientemente bem para acreditar com todo seu coração, que fez por
uma boa razão e quando pudesse lhe perguntar, quando tudo isto
terminasse, descobriria qual era.

Quando tudo isto terminar. Repetiu a frase em sua cabeça. Isso


poderia ser hoje. Talvez amanhã, dependendo de como as coisas se
encaminhassem, quando ela e Kevin chegassem à Nova Iorque. Era
provável que pudesse ganhar sua liberdade e a de Caleb antes que o
fim de semana terminasse.

Reduziu o otimismo sabendo que era melhor não senti-lo, e olhou


para a mala que acabou de arrumar. Viu o convite de casamento
impresso sobre a mesa de cabeceira. Recolheu o papel e se perguntou
quantas vezes o leu desde que recebeu.

Evangeline Marie Jacobs/Tarasov

Gabriel Albert Moretti

Solicitam a honra de sua presença para compartilhar a celebração de seu


casamento
Piscou para afastar a dor por trás de suas pálpebras. Sua
querida Eva, sua melhor amiga e irmã em todos os sentidos, exceto no
sangue, estava se casando com um apaixonado, na maioria das vezes
muito sério e super protetor mafioso ítalo-americano. Essas eram as
palavras da noiva. Nika não conhecia Gabriel bem o suficiente para
fazer alguma afirmação sobre quem ele era.

Ela e Eva conversaram sobre o casamento durante as poucas


conversas telefônicas que puderam ter quando Kevin não estava
presente. Mas o convite que segurava em suas mãos a levava para
casa. Sua melhor amiga seria a esposa de um recém coroado chefe da
máfia. E nem dois meses depois de descobrir que era filha de um chefe
do crime organizado russo.

Caralho!

Eva entrou no mundo da máfia subitamente. Tendo dois dos seus


mais poderosos chefes em sua vida: um como pai, o outro como
marido. Garota corajosa. Mas Nika já sabia disso sobre ela.

Concentrou-se no cartão em sua mão e notou o endereço da rua


em Old Westbury, Nova Iorque - uma pequena cidade não muito longe
de Long Island. Ela e Kevin ficariam no Brooklyn, mas Nika não se
importava. Ficaria bem no Rikers, contanto que Kevin em seu estado
perpetuamente paranoico, trouxesse as provas contra seu irmão com
ele, como fazia sempre que saíam por mais de uma noite.
Ao passar o polegar pelo endereço mais uma vez, o coração de
Nika acelerou. Mas não por seus pensamentos de libertar seu irmão e
seu notório clube de motoqueiros de Kevin quando tivesse as provas
em suas mãos. Não. Esta emoção tola era causada por saber quem
mais assistiria o casamento.

Gabriel dividia uma casa com três de seus amigos: Maksim Kirov,
o magnífico, um absurdamente arrogante mafioso russo, que era dono
de um clube noturno no Hell's Kitchen; Alekzander Tarasov, primo de
Eva e outro homem russo tão bonito quanto Maksim, mas um pouco
menos “sei que está olhando porque sou bom”. Ele e Gabriel possuíam
TarMor, a super bem-sucedida empresa de gestão de projetos, onde
Eva trabalhava agora como associada na função de gerente de
negócios.

Mas era o terceiro companheiro que fazia o corpo de Nika reagir.


Que assombrou seus sonhos por semanas. Que a provocava, a fazia
reviver o beijo que estremeceu seus ossos, o beijo que compartilharam
em um silencioso corredor em Crown Jewel, o luxuoso hotel que
Gabriel e Alek possuíam no centro de Seattle.

Vincente Romani.

Caleb disse que Vincente tinha uma empresa de construção de


médio porte chamada ROM, que tinha sua base fora de Manhattan. Ah
e parecia que, quando Gabriel assumiu o cargo de chefe da família
criminosa em que cresceu, promoveu Vincente como seu vice capo.
Era tenente da família Moretti antes disso, do ex-chefe Stefano, que é o
irmão mais velho de Gabriel. Segundo Eva, Stefano desapareceu há
algumas semanas.
Como resultado final, Nika tinha sonhos inapropriados com um
magnífico, mas mortal mafioso italiano.

Mire alto, irmã.

Ignorou o High Five que seu orgulho lhe ofereceu em sentido


figurado, muito ocupada em tentar fingir que não era desejo o que
percorria seu corpo apenas por pensar no homem.

A primeira vez que Nika o viu, ele estava em pé na calçada em


frente ao Crown Jewel. Ela atravessou a rua, preocupada com a reação
de Kevin quando percebesse que deixou o apartamento. Afinal,
acabava de receber uma surra dele, forte como nenhuma outra, há
apenas alguns dias antes. Quando levantou os olhos, deparou-se com
um rosto que era sinistro e frio, mas entretanto tão bonito, que ficou
imediatamente cativada. Seu cabelo longo e preto, caía além de seus
ombros largos. Era mais alto que ela, o que era difícil, considerando
que gostava de usar saltos que a colocavam em um saudável um
metro e oitenta e cinco, mais ou menos. Seu corpo era musculoso,
seus traços igualmente marcados e duros. E seus olhos... aqueles
olhos castanhos escuros, atormentados, transmitiam um aviso: siga
adiante ou se arrependerá, a qualquer um que se atrevesse a olhá-los.

Bem, olhou, e seguiu adiante. O que viu a sacudiu até os ossos.


Tanto é, que tropeçou e teria caído se Vincente não a tivesse segurado.

E então ele a beijou, poucos minutos depois.

Moveu-se e limpou a garganta, sentindo-se nervosa. Era estúpido


se excitar com o pensamento de voltar a vê-lo.
Ele a olharia com o mesmo interesse que a última vez? Será que
se lembrava de seu último encontro? Pensava sobre isso tanto quanto
ela?

Aquele beijo, uma simples união de suas bocas, ficou gravado na


memória de Nika. Por quê? Porque se excitou. Por ele. E sentiu alívio.
O desejo que a percorreu quando Vincente a beijou, a deixou saber
que Kevin não venceu. Ainda era possível sentir algo por um homem,
mesmo depois de tudo o que passou.

Não que desejasse outro homem. Estremeceu. Talvez nunca.

Quando encontrasse o cartão de memória e pudesse finalmente


permitir que Caleb enfrentasse Kevin da maneira que quisesse, isso
terminaria. Oh, talvez tivesse sexo casual algum dia, se fosse capaz de
ir além de um beijo. Mas não saberia até que tentasse. Não sabia o
quanto estava arruinada, depois da forma como viveu no ano anterior.
Não saberia até que tudo tivesse terminado.

Então, poderia experimentar. Testar seus limites. Mas uma coisa


era certa: nunca se colocaria na posição de estar sob um homem
novamente. Seria ela quem tomaria as decisões. Quem ditaria o
relacionamento. Quem se afastaria se quisesse. Estaria no controle.

Um rosto dominante do evidente macho alfa apareceu em sua


mente. Vincente Romani não aceitaria o tipo de mulher que Nika
queria ser uma vez que fosse livre. Então, dizia para si mesma cada
vez que pensava nele: ele não era para ela.

Não importava quão atraente e heroico parecesse quando chegou


à cidade várias semanas atrás, junto com alguns outros da
organização de Gabriel. Parecia tão controlado e confiante, enquanto
lutava com a situação que o irmão de Gabriel criou. E essa confiança
era muito atraente para ela.

Heroismo exercia um grande magnetismo. O colocou nesse lugar


desde o dia que Eva deixou Seattle. Nika voltou para o apartamento de
Kevin depois de passar a noite no Crown Jewel com Caleb. Seu irmão,
pelo amor de Deus. As razões de sua ausência não importaram para
Kevin. Que Eva quase morreu não importou. Ficou furioso,
embebedou-se a noite toda e quando finalmente lhe permitiu se
arrastar até o banheiro, para fora de seu alcance, ela ofegava através
de cada dolorosa respiração. Ele deixou marcas de golpes sobre as que
lhe tinha dado há apenas alguns dias antes e não se importou. Ficou
horrorizada com sua crueldade. Enquanto enxaguava o sabor metálico
do sangue de sua boca, pressionou um pano frio contra suas costelas
machucadas com as mãos trêmulas, e desejou com todo seu ser que
Vincente atravessasse a porta principal e destruísse a abominação
com a qual se viu obrigada a casar.

Graças a Deus, Eva e Caleb partiram para Nova Iorque nesta


mesma noite e nenhum deles a viu depois. Não poderia fingir nos
ocasionais abraços e falsos sorrisos. Não dessa vez.

Com um suspiro cansado, jogou seu cabelo para trás, prendendo


a massa vermelha brilhante e dourado com a fita elástica que sempre
usava em seu pulso. Pensou: o que daria para poder dormir durante
um ano?

— Está pronta?
Algo a percorreu, como o choque de um fio elétrico exposto.
Deixou cair os braços de seu desordenado coque sem levantar o olhar.
Tinha que jogar com astúcia. Se o sádico suspeitasse que estava
impaciente por esta viagem, ele cancelaria. Apontaria para a mala, lhe
dizendo que a desarrumasse e não haveria absolutamente nada que
pudesse fazer à respeito. Por quanto tempo teria que esperar pela
próxima chance para encontrar o maldito cartão de memória?

Pelo canto do olho, pôde vê-lo na porta, a aura escura, o escasso


cabelo castanho para trás, olhos castanhos escuros a encarando.
Tinha os braços cruzados sobre o peito, os pés plantados... como se
estivesse ali por um tempo. A observava enquanto se lembrava de
Vincente.

Deus! Esperava que não. Isso era sagrado para ela.

E perigoso.

Se Kevin suspeitasse que estava sentada ali imaginando - não


que estivesse fantasiando – estar com outro homem, não queria nem
pensar no que lhe faria.

Limpou a garganta e relaxou suas feições para não mostrar


absolutamente nada, antes de levantar a cabeça e se virar para ele.

— Acabei de terminar.

— No que estava pensando neste momento?

Em você. Morto.
— Eu me perguntava o que deveria usar esta noite, já que vou me
trocar e colocar o vestido que Eva tem para mim assim que chegar lá.
Os trajes que tenho já estão fora de temporada ou são para o
escritório. — Um escritório que já não tinha. Devido à condição em que
Kevin a deixava às vezes, perdia muitos dias de trabalho, então
finalmente decidiu deixar seu trabalho como contadora. Pensava no
futuro e queria garantir uma boa referência, mas foi embora logo
depois do Natal e Kevin ficou satisfeito, dizendo que sobreviveriam sem
seu salário. Mas pelo jeito não estavam, a julgar pelas poucas notas de
vinte que lhe jogava antes de ir ao supermercado.

— Que merda quer dizer “fora de temporada”?

— São vestidos de inverno. — Provavelmente era algo bom, já que


tinham mangas longas e a cobririam completamente. Já tinha
guardado na mala um de seus casacos de seda, para o caso do vestido
de dama de honra que Eva lhe comprou não ter ombro ou Deus me
livre, fosse aberto nas costas. Rezou para que não fosse, porque não
teria outra opção a não ser se negar a usar. E como explicaria isso
sem ter que revelar os hematomas que ainda salpicavam seu corpo?

— Bem, escolha um e termine antes que eu mude de ideia à


respeito de levar você a essa piada.

A raiva ardeu em sua garganta, mas a engoliu. Foi ao armário e


tirou um vestido dourado de seda que comprou um par de anos atrás
em uma viagem a Nova Iorque. Ela e Caleb foram visitar Eva durante
seu primeiro ano em Columbia.
Depois de embalar o vestido, que a faria parecer como se fosse
incapaz de escolher uma roupa adequada em uma capa para roupas,
colocou-o junto à mala. Guardou um par de brincos de ouro, o
bracelete que combinava com os brincos e que pertenceram à sua
mãe em um tecido acetinado e fechou o zíper da bolsa de mão. Seus
sapatos já estavam dentro da mala.

Durante todo o tempo, sua coluna esteve tão rígida que se


surpreendeu por sequer poder se mover. Kevin estava muito calado.
Muito concentrado nela. Mais do que o normal.

Ele saberia? De algum jeito descobriu sobre o beijo com


Vincente? Este era seu maior medo.

— Você quer ir à esse casamento? — Ele disse casamento como


uma pessoa normal diria assassinato em massa.

Encolheu-se, com uma voz tão ausente de emoções como pôde e


disse. — Eva e Caleb achariam suspeito se eu não aparecer no
casamento. Se não fosse por isso, não voaria para o outro lado do país
para me sentar e ver duas pessoas trocarem votos sem sentido.

Sim, ela faria! Eu me arrastaria por cima de um campo cheio de


aranhas para ver minha melhor amiga comprometer-se com o homem
que ama!

Ele bufou.

— Essa é a única razão pela qual iremos. Pegue as coisas. O táxi


espera lá embaixo.
Com isso, Kevin desapareceu no corredor, deixando Nika para
recolher sua bolsa, bagagem de mão, a capa de roupa e a mala.

Alívio enfraqueceu seus membros enquanto seguia de perto seu


Satanás pessoal para fora do inferno que ele criou para eles.

Os olhos de Vincente Romani se abriram de repente, com uma


luxúria desenfreada pelos sonhos, lembranças recorrentes, que
percorria suas veias. Pouco a pouco, sua visão ficou menos turva
enquanto seus olhos cansados se concentravam nos móveis de mogno
e couro de seu quarto. Ocupavam muito espaço, mas suas coisas eram
unicamente funcionais.

Fez uma careta de dor quando se virou, quase partindo ao meio


sua ereção matinal. Merda. Com um golpe forte, acomodou seu
travesseiro antes de abaixar a cabeça, movendo seus quadris para que
seu pau não tentasse atravessar o colchão.

Muitas semanas de nada mais do que isto. Por que, porra, ela
não desaparecia de sua cabeça?

Nunca deveria tê-la beijado. Era o único culpado. Ele a deixou


entrar. Sim. E maldição se não foi a coisa mais doce e mais viciante da
história. Mas, e daí se foi bom? Grande coisa. Era a irmã casada de
Caleb Paynne, por Deus. Duas coisas poderiam resumir tudo: fora de
seu alcance e apenas em seus sonhos.

Gabriel disse que tinha alguns alarmes ativados no que se referia


à esse casamento – o lembrou uma voz ansiosa no fundo de sua
mente. Uma voz que apelidou de: “Admirador de Nika Paynne”. Idiota
implacável.

Mesmo que fosse um casamento instável, continuava sendo a


irmã de um motoqueiro. E você não fode com a irmã de um
motoqueiro. Ou com a esposa de alguém.

Nollan, o cunhado de Caleb era um motoqueiro? Vincente não


tinha certeza dos detalhes. Deliberadamente optou por permanecer na
ignorância. Ou estava desinformado somente porque Maksim ainda
não mencionou voluntariamente nada do que descobriu sobre Nika e
seu marido?

Gabriel casou com a filha de Vasily - o Admirador de Nika soou


um pouco mais forte em sua cabeça, com um encolher de ombros de:
falei apenas.

Então? Vincente suspirou bruscamente. Nika deveria tê-lo


esbofeteado por se atrever a beijá-la naquele dia em Seattle. Mas não,
em vez disso correspondeu tão maravilhosamente que não podia tirá-la
de sua mente.

Também não o repreendeu, e desde que sua pequena irmã o


encontrou imitando atos sexuais com suas bonecas Barbie quando
tinha onze anos, ninguém mais o tinha repreendido desde então.
— Vinnie! Minhas meninas não beijam meninos assim! Porco! O
que há de errado com você?

Seu peito se apertou ao se recordar da advertência surpresa e


chateada de Sophia. Ela puxou as bonecas das suas mãos com a testa
franzida e correu para contar à sua mãe. Treze anos... e a perda dela
continuava tão viva que quase não podia suportar.

Virou para o outro lado e enfrentou a grande janela com vista


para a piscina, e assim fechou a porta de suas lembranças. Tudo o
que faziam eram engrossar o gelo que guadava seu coração.
Certamente o que lhe disseram, que com o tempo isso passaria, não
aconteceu. Mentirosos de merda.

Pense em outra coisa.

Quase revirou os olhos para o Admirador, quando o rosto perfeito


de sua ruiva apareceu em sua mente. Por que foi apresentada como
Nika Paynne e não como Nika Nollan?

Se estivesse casada com Vincente, teria o selo Romani sobre todo


o seu corpo. Tatuado bem no seu belo traseiro. Grunhiu e se permitiu
continuar com os pensamentos sobre o seu traseiro por um segundo.

Então, por que o marido idiota não insistia que usasse seu
sobrenome? Não conhecia nem sabia nada do cara, mas permanecia
sendo um idiota. Por quê? Porque Vincente queria entrar no corpo da
mulher e ficar lá para sempre. E Nollan o impedia de fazer isso.

E então, ele se tornou amigo de Caleb. Mas novamente, como


descobriram no caso do Gabriel, não havia maneiras de evitar certos
sentimentos. Mas nada disso realmente importava. Estando em sua
linha de trabalho, além de sua empresa de construção, Vincente não
tinha nada para oferecer a uma mulher. Muito menos a uma mulher
como Nika.

Entre suas transações ilegais e sua infância fodida, era a última


pessoa na terra que poderia oferecer um “felizes para sempre”.

Seu pai tratou sua mãe como lixo e não foi muito melhor com
Vincente e Sophia. Então, as coisas foram de mal a pior quando sua
mãe foi assassinada por um carro bomba destinado ao seu marido.

Vincente tinha doze anos e a única coisa que se lembrava de seu


pai depois disso, era a merda que dizia aos seus filhos quando cruzava
a porta de sua casa de pedra vermelha no Queens, completamente
bêbado. Corte o cabelo Vin, parece com o maldito Frankenstein, dizia
com uma careta, franzindo seus lábios com bigode. É melhor que pare
de crescer menino, ou do contrário será um monstro. As garotas
fugirão de você.

Sim. Momentos felizes, pensou Vincente, afastando os lençóis e


ficando de pé. Seu reflexo no espelho em cima da cômoda chamou-lhe
a atenção. Superou um metro e noventa e três e seu tamanho veio a
calhar umas dez ou vinte vezes, para que não o pegassem. Olhou seu
cabelo preto. Chegava a seu peito agora. Sua mãe costumava passar
os dedos através dele e falava sobre seu brilho, enquanto o sufocava
com amostras de carinho, como apenas uma mãe italiana podia fazer.
Sentia falta disso. E Sophia, que ficou presa sendo criada por ele
enquanto seu pai se encontrava desaparecido na maior parte do
tempo, não teve o suficiente. Vincente fez o melhor que pôde,
considerando-se que ele mesmo era uma criança.

E o melhor que conseguiu foi um ‘bom’. Até que falhou.

Pela primeira vez, deu as boas-vindas à imagem do cabelo de fogo


e olhos verdes que subia como fumaça por sua mente. Agarrou-se a
ela, em substituição a uma lembrança com a qual não podia lidar.
Outra luta contra o Admirador para ter a ruiva. Vincente não podia
correr o risco de que a história se repetisse. Por que se colocaria de
novo no lugar de protetor de uma mulher inocente, correndo o risco de
falhar?

Não o faria.

Amaldiçoou, foi para o banheiro azul marinho e branco enquanto


as perguntas vinham novamente em sua mente. Por que Nika deixou
que a beijasse naquele dia? Por que estava tão entusiasmada?

E por que aqueles incríveis olhos esmeraldas estavam cheios de


medo pouco antes de se afastar dele? Esta era a pergunta que o
afetou, principalmente, durante as últimas semanas. O que estava a
assustando?

Descubra, - implorou o Admirador.

Não. Estava cansado disto. Doente de pensar naquele dia. Nela.


Quem se importava de não usar uma merda de aliança? Quem se
importava por que não usava seu sobrenome de casada?

Girou a alavanca cromada e entrou no banho frio. Não era da sua


maldita conta. Seu irmão podia ocupar-se disso. Enquanto pegava o
sabonete do pequeno orifício na parede e se lavava, ignorou
completamente o último sussurro do Admirador. Ao diabo com isso.
—Nós acabamos de chegar.

Caleb Paynne ouviu o murmúrio triste da voz de sua irmã, tão


diferente do tom lúdico, brincalhão que ela costumava ter. Era como
se seu espírito estivesse morto. Como se ganhasse um marido e
perdesse a si mesma.

Ele se imaginou dando um soco no rosto de Kevin. Provavelmente


estava junto dela, fazendo-a se sentir errada ao falar com seu próprio
irmão.

— Kevin está aí com você? — Perguntou, enquanto tentava


manter a voz calma. Nada desanimava Nika mais rápido do que lhe
perguntar daquele bastardo. Sabia que não deveria perguntar ou dizer
sua opinião ofensiva. Queria falar com sua irmã mais do que queria
insultar o merda com quem ela estava casada.

Caleb estava deitado no sofá, com um braço sobre os olhos


enquanto tentava acordar de um cochilo rápido. Foi para a cama cada
vez mais tarde desde que estabeleceu um negócio na sede do clube no
Queens. Gabriel Moretti o enviou a Nova Iorque no começo desse ano
com a tarefa de cuidar de Eva, a melhor amiga de Nika e alguém que
considerava como sua própria irmã. Certamente já não precisava mais
de um guarda-costas, agora que ela e Gabriel estavam comprometidos.
A porra do chefe do crime organizado. O que estava pensando?

Olhou o relógio no canto da tela do televisor mudo. Seis e meia.


Porra. Balançou a cabeça e prestou atenção antes que Nollan
terminasse a ligação.

— Kevin desceu para pegar um cachorro-quente do vendedor aqui


em frente.

O tom morto na voz de Nika, que era oposto do que se ouvia


quando Eva falava sobre Moretti, fez Caleb balançar a cabeça.

Maldito Kevin Nollan. Controlador, bastardo ignorante. Os dias do


cara estavam contados, não importava o que Nika dissesse, o que
infelizmente não era muito. Apenas ela percebeu, há quase um ano,
que tinha sentimentos pelo cara, um parasita no clube dos Obsidian
Devils MC em Seattle, onde Caleb costumava passar um tempo com
seus irmãos.

Caleb era membro do clube Obsidian Devils desde os vinte anos e


além de Nika e Eva, os rapazes eram a única família que teve desde
que seus pais morreram de câncer. Nem mesmo suas mortes
mudaram sua irmãzinha como o casamento fez. Desapareceu o
pequeno e forte foguete que os rapazes no clube diziam que seria uma
perfeita old lady e em seu lugar, havia uma escura e desconfortável
sombra.

Mesmo assim, Nika não deixava Nollan.


Seu estômago apertou. Ficaria louca quando descobrisse que
Caleb deu a Vex, seu melhor amigo e presidente do clube, e que tinha
algumas conexões importantes, a permissão para começar a
investigar. Com sorte, descobriria algo e Nika finalmente veria o
verdadeiro perdedor que Nollan era.

— A que horas você vai?

A pergunta de sua irmã o tirou de seus pensamentos.

— Er...

Ela suspirou.

— Caleb? Acordei você? Ou está fazendo sexo silencioso? — Riu


com o pequeno vislumbre de seu espírito.

— Sinto muito, Nik. Acabei de acordar de um cochilo. —


Assegurou-lhe. — Onde você está?

— Em um hotel.

Adeus sorriso.

— Sim. Isso eu deduzi sozinho. Onde? Em qual parte da cidade?


Talvez eu possa vê-la antes do casamento.

— A que horas você irá para casa? — Repetiu, ignorando sua


oferta de companhia e suas perguntas. Pequena cabeça dura de
merda.

— V. disse para estar lá às oito. — Murmurou. Um estranho


silêncio saudou sua resposta.
— V.?

Caleb sentou-se devagar, agora totalmente acordado.

— Vincente. O vi ontem à noite e ele disse que a celebração


começaria por volta das oito. Eva disse o mesmo quando falei com ela
esta tarde.

— Oh. Legal. Eu, uh, acho que nos veremos lá. — Isso foi um
pouco de interesse que ouviu em sua voz?

— Nós? Não pode ir sem ele?

— Não.

Diga-me que porra está acontecendo para que eu possa resolver


para você! Quis gritar. Mas em vez disso, forçou um tom calmo em sua
voz que estava longe de sentir.

— Precisa de instruções de como chegar? Uma carona? Um carro


fúnebre?

— Eva já me enviou. E tenho meu telefone, então estamos bem.


Obrigada.

Incapaz de evitar o impulso, disse. — É só dizer a palavra Nik e


nós cuidaremos de tudo. Você sabe disso. — A oferta saiu impaciente,
quase suplicante.

Percebeu um suave suspiro através da linha.

— Não vamos falar sobre isso, Caleb.


— Por quê? — Disse a palavra em um claro desafio.

— Porque, como eu já disse antes, há mais em jogo do que você


está ciente. E não pergunte o motivo, não vou lhe dizer... merda.
Tenho que ir. Vejo você mais tarde.

Ela desligou antes que pudesse responder. O marido, obviamente


havia voltado. Com este tom de ansiedade na voz dela, Caleb quase
não se conteve em socar a mesa de café. Pressionou com força seu
polegar sobre o número de Vex enquanto se levantava e caminhava
para o armário. Isto tinha que acabar. Agora.

— Olá. — Respondeu Vex.

O som reconfortante de um compressor que guinchava no fundo


da sala cruzou a linha, as ferramentas batendo com força na loja
embaixo.

— Nada de novo sobre Nika? Ela chegou bem?

— Sim. Está em um hotel. Não me disse qual.

— Pirralha. — Murmurou Vex com uma risada. — Não. Meu cara


está tendo dificuldades. Além do básico que eu já te disse, ele não
conseguiu nada. Há um registro que está escondido em um pequeno
recinto em algum lugar de Michigan, mas ainda não conseguiu
hackear e está paranoico sobre procurar ajuda externa. Me dirá
quando tiver algo novo.

Merda.
— Vejo você no Ditch em uma hora e depois poderemos ir ao Mob
Central. — O Ditch era a sala de jogos/gravação onde todos passavam
um tempo. Mob Central era a casa dos Moretti e de seus rapazes, em
uma área muito rica nos subúrbios de Long Island.

— Desculpe, irmão. — disse Vex.

— Está tudo bem. Até logo.

Depois, ele ligou para Vincente. Caleb sabia que o Ceifador era
perito em ler uma situação estranha com um olhar atento. Talvez
pudesse captar alguma coisa esta noite.

— Vá em frente.

— V. Tudo bem?

— Paynne. Tudo bem? Você, uh, sua irmã está bem?

Primeiro Nika reagindo ao nome dele e agora Vincente tentando


obter informações sobre ela?

Humm.

— Sim. Chegou um tempo atrás. Na verdade, acabei de falar com


ela. Por isso estou ligando para você, tinha esperança de que me ajude
com Nika esta noite.

— Ajudá-lo com ela... como?

Tão suspeito. E por que aquela voz grave mudou? Apesar do nojo
em pensar que seu amigo gostava de sua irmã, Caleb quase sorriu.
Usaria qualquer isca que pudesse para tirar Nika desse casamento,
até mesmo o Ceifador.

— Apenas a observe. Veja como se comporta com esse merda com


quem está casa...

— Por que você odeia esse merda? Em Seattle, você mencionou


que Vex estava trabalhando em algo. Tem a ver com esse cara?

Quanto deveria lhe dizer?

— Não diga a ninguém. — Avisou, apesar de saber que não havia


necessidade. — Sim, Vex está investigando o histórico de Nollan.

— Por quê?

Caleb tirou uma camisa de cor cinza ardósia do armário.

— Porque tentei fazer com que ela deixasse este imbecil desde o
primeiro dia. Nunca deveria ter se casado em primeiro lugar, é um
preguiçoso. Ele costumava frequentar a sede do clube em Seattle, é
um inútil e não tem trabalho. Na verdade, não está bem da cabeça,
talvez seja isso. Nika tem um coração mole, mas ela não está
apaixonada pelo palhaço.

Não podia conter a raiva em sua voz enquanto tirava um jeans


decente da gaveta da cômoda. Eva insistiu em roupa casual para a
ocasião.

— Nollan a trata como um cão e a mantém trancada. Ela deixou o


emprego e sei que foi por ele, eu sei. Nika é uma contadora V., não é
nenhuma tola, e entretanto, agora tem tempo estipulado para falar
comigo no telefone, pelo amor de Deus. Que porra é essa? — Jogou
sua roupa sobre a cama. — Se recusa a deixá-lo e quero saber por
que. Diz que há mais coisas do que está disposta a dizer e antes que
me pergunte, não tenho nem ideia do que é. A mulher não deixa
passar nenhuma maldita coisa. Talvez tenha uma amante e quer pegá-
lo no ato...? Não sei.

Mas ele logo saberia. Não iria desistir até saber por que sua irmã
se mantinha nessa prisão.

Vincente estava sentado em seu carro um Kombat T-98 do lado


de fora de um bar decadente, em que alguém teve a coragem de
estampar um letreiro de hotel e ouvia Caleb falar sobre a vida de sua
irmã. Antes de sair da casa, pegou o notebook que usava no bar da
sala principal do hotel, e como uma espécie de perseguidor, procurou
no Google os horários de chegada dos voos ao JFK do SeaTac. Enviou
um de seus rapazes ao aeroporto e chegou naquele lugar depois que
Alesio lhe enviou uma mensagem com o destino final do casal. Por
razões que se negava a analisar, Vincente precisava dar uma olhada
no marido.
Apenas observar, para ver com o que lidava. Não que ele quisesse
se envolver com isso, mas o faria se preciso. A raiva ferveu ao ouvir à
respeito da vida restrita de Nika.

— O que mais sabe à respeito, Paynne?

A voz de Caleb era uma mistura de raiva e fúria.

— Vex investigou, como lhe disse, mas apenas conseguiu o


básico. Nollan vem de uma família fodida, pais e o irmão mortos, não
descobrimos como. Ele nunca se casou. Sua folha de antecedentes
criminais não tem mais do que pequenos delitos, como roubo, invasão
de domicílio e resistência à prisão, mas isso não significa muito.
Poderia ter se livrado da merda real.

Sem dúvida. Os dedos de Vincente coçavam para ligar para


Maksim, seu gênio de tecnologia veterano, que poderia hackear
qualquer coisa.

— Por que simplesmente não a pega? — Como eu teria feito com


minha irmã se pudesse tê-la encontrado.

— Eu tentei isso uma vez. Fui a Seattle um mês depois de seu


rápido casamento, disse que íamos dar uma volta e a levei diretamente
ao SeaTac. Planejei vir para Nova Iorque e deixá-la com Vex até que a
tempestade passasse, mas V., o olhar em seus olhos... Inicialmente
pensei que fosse um: não me afaste do meu homem, mas estava
assustada e começou a chorar, implorando que a levasse de volta.
Disse que assim eu estragaria tudo. Minha irmã não é um bebê
chorão, a menos que veja um animal com algo quebrado. — Um
familiar afeto fraternal soou em seu tom, sobrepondo-se à intensa
preocupação. — Ela é a mulher mais forte que conheço ou costumava
ser. É diferente agora e me deixa com raiva. Ultimamente Nika parece
nervosa e cansada. Me fez jurar sobre a memória dos nossos pais,
naquele dia em frente ao aeroporto, que eu deixaria as coisas em paz,
mas estou quebrando esta promessa neste momento.

A raiva de Vincente borbulhava com a ideia de Nika temer alguma


coisa. Ou qualquer mulher, na verdade. Mas alguma coisa nesta
situação que não estava certa. Havia algo muito errado. E ele perdeu
quase um mês ocupado com coisas estúpidas, quando poderia ter feito
alguma coisa em relação à isso.

— A que horas eles irão esta noite? — Ao casamento que tanto


temia, como antecipava. Tinha medo, porque entregaria seu melhor
amigo. Ansiava, porque o confiaria a uma mulher que iria cuidar bem
dele.

— Ela não me disse, mas provavelmente um pouco antes de


começar, já que é a dama de honra.

— Vou ficar de olho nela.

Desligou e discou de novo imediatamente.

— Se tivesse que adivinhar onde se encontra neste momento,


teria que dizer...

— Corte a merda, Kirov. — Interrompeu, não estava de bom


humor. Especialmente depois de ouvir Maksim adivinhar
corretamente. — Eu preciso que trabalhe sua magia de gênio da
informática. Descubra o que puder à respeito de um tal Kevin Nollan, e
consiga o endereço atual da amiga de Eva. Investigue.

— Já o tenho. Gabriel me colocou nisso há algumas semanas, e


não encontramos nada. Exceto um novato aspirante a criminoso. Tive
que colocá-lo em espera enquanto me encarregava de alguns assuntos,
mas posso voltar para isso agora. O que está acontecendo, irmão?

Vincente saiu com o Kombat e entrou no lento fluxo do tráfego.

— Caleb Paynne ligou e perguntou se... nós.... lhe daríamos uma


mão. — Talvez ficasse um pouco menos preocupado se houvesse um
esforço em grupo. O modo como as coisas aconteceram em Seattle,
quando não foi capaz de esconder a amiga de Eva, os rapazes
perceberam sua atração por ela, o que o incomodava. Como se
estivessem no ensino médio ou algo assim. — Vex se ocuparia disso,
mas ele pode demorar um pouco e Paynne disse que algo a mantém
casada, mas não algo tipo “Evabriel” — Seus lábios se arquearam
enquanto utilizava o apelido que Jak, o capanga de Gabriel que ainda
estava em Seattle, inventou para o casal.

Maksim riu antes de prometer. — Se houver alguma coisa ali,


encontrarei.

— Obrigado, homem.

— Não tem que me agradecer V. , apenas me diga... está no seu


hotel, certo?

Porra. Idiota.
Vincente desligou o telefone ao som da profunda risada do
bastardo.

Enquanto se dirigia ao cemitério Saint John para sua visita


semanal a Sophia, realmente esperava que qualquer coisa que
encontrassem sobre Nollan não fosse tão ruim como seus instintos lhe
diziam que poderiam ser.

Onde poderia estar, porra?

Nika continuou sua busca, ouvindo o som do chuveiro. Quando o


barulho da água cessasse, teria que parar. Porra.

Empurrou a mala para o lado, contra a parede com manchas de


água e se levantou. Kevin levaria o cartão de memória para o banheiro
com ele? Mas ele apenas levou uma toalha. Estremeceu ante a
lembrança e olhou ao seu redor, talvez tivesse escondido na axila,
porque certamente não estava ali e ela procurou em todos os lugares.

Agachou-se novamente, apalpando as extremidades da mala e...


espere. O que é...?

A água do chuveiro parou de cair.


E Nika quis gritar ainda mais forte quando ouviu os anéis
metálicos da cortina do chuveiro moverem-se contra o ferro. Passou os
dedos atrás da larga protuberância que tocou na costura interna da
mala e levantou-se rapidamente, movendo-se para a cama tão rápido
quanto seus pés calçados em salto alto puderam. Caiu sentada, com o
coração batendo contra suas costelas e com as mãos trêmulas
enquanto a adrenalina fluía através de sua corrente sanguínea.

Tinha encontrado? Aquele pequeno objeto retangular poderia ser


seu bilhete de fuga?

Levantou a cabeça enquanto Kevin saía do minúsculo banheiro


em uma nuvem de vapor. Ficou sentada, com seus nervos dando nós
nas entranhas, e com as mãos sobre o colo.

— Fique de pé. — Ordenou. — Quero ver como está.

Ficou de pé.

Desfrute enquanto pode idiota, porque se o que encontrei é o que


acredito que seja, seus dias estão contados.

Antes de começar sua busca, ela colocou um xale dourado que


cobria muito para uma noite quente de julho, mas não podia evitar de
usá-lo. A contusão tinha que ser escondida.

Kevin assentiu, com os olhos asquerosamente invasivos enquanto


percorriam seu corpo. Ela ficou em silêncio e permitiu que o tremor de
nojo a percorresse quando ele se virou. Nika se olhou no espelho junto
à cômoda e observou através do reflexo quando Kevin ia até a mala.
Fingiu afofar seu cabelo e ajustar seu brinco dourado quando ele se
virou para olhá-la. No momento em que sua cabeça virou, seus olhos
estavam fixos nele de novo e seus joelhos quase se dobraram com a
visão dele pegando uma de suas camisetas para esconder a área de
sua recente descoberta.

Oh, meu Deus!

Seus joelhos cederam e ela caiu forte sobre o colchão duro.


Lutava mais do que nunca para manter seu rosto inexpressivo.
Encontrou! Realmente encontrou! Oh, Deus!

Não chore! Não se atreva a chorar!

— Enviarei você a esta merda de casamento sozinha. Seu táxi


deverá estar aqui em cinco minutos.

Piscou estupidamente e tentou segurar o fluxo de umidade que


enchia seus olhos. Uh, acabava de ganhar algum prêmio da loteria
que desconhecia ou algo assim? Será que ouviu bem? Ele a enviaria...
sozinha? Em um táxi... sozinha?

— Não entendi. Qual é a brincadeira?

Kevin fechou o zíper de seu jeans, deixou o botão aberto e colocou


a mesma camiseta amarrotada que usou durante todo o dia. Por que
alguém tomaria banho e depois colocaria uma roupa suja? Ugh. Kevin
estava pálido e ganhou peso no ano passado. Odiava pensar que era
porque ela cozinhava para ele; Também odiava pensar que se saísse ao
ar livre mais frequentemente, tomasse um pouco de sol e talvez
deixasse crescer o cabelo, seria considerado bonito.
— Vou me encontrar com meu primo e esta noite era o único
tempo livre que ele tem.

Ficou tensa quando ele se aproximou, ficando de pé na frente


dela. Agarrou seu queixo para inclinar sua cabeça para trás.

Não olhe para ele, Nika.

— Vá ver essa cadela dizer sim, aceito. Depois volte diretamente


para cá. Entendeu? Não vá a lugar nenhum, não faça tolices ou farei
com que realmente lamente, Niki.

Ele apertou seu rosto antes de passar os dedos por sua garganta
até o decote de seu vestido. Sua pele se arrepiou quando os colocou
por dentro para segurar seu seio, debaixo do sutiã.

— Eu a deixarei a par sobre a reunião quando voltar. Será melhor


que esteja aqui.

Engoliu várias vezes em um esforço para não vomitar com seu


toque.

— Sim. — Imediatamente concordou e pela primeira vez, Nika


teve vontade de voltar.
Sete e quinze.

Vincente deixou o braço cair novamente ao seu lado e mais uma


vez ficou olhando pelas portas francesas para a grande piscina na
parte de trás, sua posição habitual. Continuava atento ao toque da
campainha.

— Posso trazer-lhe algo, senhor Vincente?

Ele virou-se para ver Samnang Oung, seu mordomo cambojano,


que esperava ansiosamente. O velho encantador, junto com uma
pequena equipe leal, cuidava dele e dos rapazes há anos. Desde que
ele, Alek, Maks e Gabriel compraram a monstruosidade de doze
quartos no Old Westbury, dentro da qual se encontrava agora.

— Não. Apenas esperando os convidados, Sammy. Obrigado.

Samnang assentiu com sua perfeita cabeça arredondada e moveu


seu corpo magro para acender ao que parecia ser uma centena de
velas e organizar as flores já perfeitas, dispostas em todas as
superfícies polidas na sala. Vincente se afastou das portas, olhou e
observou como o lugar estava sendo invadido por sutis toques
femininos que incluíam panos brancos de seda sobre cada superfície,
as já mencionadas flores em vasos de cristal e velas em reluzentes
suportes de prata. O efeito? Estranhamente... bonito.
Merda. Parecia uma garota por notar algo assim.

— Os casamentos são ocasiões felizes. — Disse Samnang. — Não


há nada melhor do que um novo começo.

Resmungou para que seu mordomo soubesse que o ouviu.

— A senhorita Eva está muito emocionada pela chegada de seu


pai e de sua amiga.

Espero que a garota não chegue atrasada, afinal, é a dama de


honra.

Sim. Queria honrá-la bem.

— Uh, senhor Vincente?

Piscou enquanto Samnang aparecia junto a ele, seu rosto todo


enrugado com um sorriso.

— Por favor. Posso lhe trazer uma bebida? Para ajudá-lo a


relaxar?

Os dedos ossudos do homem puxaram os punhos de Vincente da


toalha, agora amassada, que colocou tão perfeitamente sobre a mesa
de bilhar.

Merda. Estava nervoso.

— Não, obrigado. Ei, desculpe.


Samnang saiu rapidamente, voltando segundos depois com um
vaporizador portátil que fez maravilhas com as rugas que Vincente
causou.

Puxou seu colarinho outra vez. O caro terno preto abotoado


parecia extremamente sofisticado para seu gosto habitual de camiseta
e jeans. Mas por G., ele usaria. Ao menos até que trocassem os votos.

O novo chefe não quis escolher apenas um de seus amigos como


padrinho. Sendo assim, Gabriel pediu a todos que o apoiassem.
Vincente, Alek e Maksim estariam ao seu lado.

Ele e Gabriel se conheciam desde que eram pequenos.


Frequentavam os mesmos casamentos, batizados e todos estes
eventos, mas não foi até o ensino médio que se tornaram amigos
íntimos. Uma das primeiras coisas que Vincente notou no mais jovem
dos Moretti, era sua cautela quando se tratava de seus colegas. Mesmo
quando era criança, Gabriel agia com cuidado e Vincente sabia em
primeira mão o porquê.

Stefano.

Perguntou a si mesmo, cruzando os braços, se o irmão de Gabriel


apareceria esta noite, mas ele duvidava.

Eles estavam na sexta série e Vincente naquele dia chegou


atrasado na escola. Teve que deixar sua irmã primeiro porque sua mãe
tinha uma consulta com o médico. Ele se virou, indo para a porta da
frente do prédio e viu Gabriel, que era tão grande quanto ele, agachado
recolhendo seus livros espalhados pelo chão e sua mochila vazia. Seu
irmão mais velho, Stefano, estava de pé junto dele. — Sem garras. —
Disse Stefano com uma careta, enquanto chutava um livro de
matemática para fora do alcance de Gabriel. — Por que você não
chama o papai? Ele vai ensiná-lo a se levantar sozinho, seu pirralho
mimado. — Sem reação às suas palavras, nem às provocações de
intimidação, Gabriel esticou sua mão, juntou o resto de seus
pertences, levantou e se afastou. Enquanto passava pela entrada da
escola, deu um aceno muito amadurecido para sua idade a Vincente e
continuou andando. Aos dez fodidos anos.

Essa foi a primeira vez em sua vida que Vincente soube o que era
ser impressionado por alguém. Andou com o Moretti mais jovem a
partir desse dia e esteve com ele desde então guardando suas costas,
onde ficaria até que um deles desse seu último suspiro.

O som de vozes o obrigou a olhar para cima para ver Vasily


Tarasov na sala. Assentiu para o pai de Eva, atual chefe de uma das
organizações russas mais poderosas nos Estados Unidos. O homem foi
direto para o andar de cima, claramente ansioso para estar com sua
filha.

Podia ouvir os dois guardas de Vasily, Dimitri e Aron, falando


com Veto, seu porteiro sanguinário da noite que montava guarda na
entrada da sala. Havia um jogo passando na pequena tela de plasma
embutida discretamente na parede.

Como ele cumprimentaria Nika quando chegasse?

Será que ela sorriria para ele? Será que seus olhos esmeraldas
brilhariam com a lembrança da última vez que estiveram juntos?
Talvez se aproximasse daquele jeito relaxado com que se movia... sim,
com seu marido atrás.

Olhou para cima quando ouviu passos pesados e quase gemeu


quando Maksim entrou. Ótimo, tudo o que eu preciso, dez minutos da
falação do russo até que brigassem. Ah, G. ficaria muito orgulhoso
deles. Roupas em farrapos, os rostos e nódulos sangrando, de pé junto
a ele enquanto Eva caminhava pelo corredor.

Maks o viu, se aproximou imediatamente e pegou alguns palitos


de cenoura de uma bandeja do bar ao passar.

— Os pais e o irmão foram assassinados. — Disse antes de roer o


vegetal entre seus dentes brancos. — Foram encontrados degolados
em sua casa, sem arrombamento, ninguém foi acusado.

Vincente olhou fixamente para o mostro, o cara media um e


noventa e três de puro: vou fodê-lo enquanto sorrio. Seu corpo enorme
era duro e musculoso, coberto por tatuagens que somente outros
mafiosos russos saberiam o significado. Recentemente começou a
deixar o cabelo crescer, depois de raspar a cabeça por mais anos do
que Vincente podia se lembrar. Maks agora ostentava um corte de
cabelo de Júlio César que ficava bem nele.

E se não ficasse bem, quem lhe diria?

Bom, ele diria. Assim como Alek e G. Ele e os rapazes teriam


incomodado o idiota irreverente como loucos e ficariam gratos pela
oportunidade.
Maksim mastigou ruidosamente outra cenoura, seus olhos
prateados fixos em Vincente, enquanto esperava uma resposta.

— Pode ter sido um roubo que deu errado. — Disse Vincente.

— Não. — Maks levantou seu telefone para lhe mostrar um cara


com o cabelo despenteado e os olhos que diziam que algo estava
errado. Nollan. Vincente observou um pouco mais de perto e viu o
queixo fino e a pele pálida que apareceu mais cedo no hotel, o cara
parecia anêmico.

Abandonou sua análise da foto quando o impulso de rosnar


subiu por sua garganta.

— Os suspeitos? — Perguntou e ficou tenso. Como diabos um


cara como esse conseguiu uma deusa como a irmã de Paynne?

— Uma nota escrita à mão, no canto do antigo relatório policial


concluído, apontava nosso rapaz como suspeito. Mas nunca o
localizaram para ser interrogado. Os assassinatos aconteceram em
uma pequena cidade de Michigan chamada Lapeer.

— Como pode...?

Maks levantou uma grande mão.

— V. de verdade? Você se atreve a questionar minha experiência?


E eu ainda não o estudei bem, isso foi apenas um exame superficial
dos canais mais evidentes. Investigarei mais profundamente esta noite
depois da festa. Falando nisso, vi o carro de Vasily. Onde ele está? E
tem um táxi próximo à entrada enquanto falamos.
Acostumado aos combos de informação de Maks, Vincente
acenou para a escada do quarto, enquanto suas entranhas se
retorciam de antecipação. O táxi deveria ser dela.

— Seu Pakhan está com Eva. — Na Bratva Russa, o Pakhan era o


chefe da organização.

— Ouvi dizer que Russo é o sacerdote. Aposto que fez um buraco


no traseiro do seu irmão mais velho. — A mente de Maksim
obviamente se movia quando ele se lembrou de seu velho amigo do
ensino médio, Lorenzo, que agora era detetive da polícia de Nova
Iorque. Seu irmão mais novo, o padre Michael Russo, Mikey, como era
conhecido, iria celebrar a cerimônia de Gabriel e Eva. Vincente não
acreditava que Lore desse à mínima. — Provavelmente terá policiais ao
longo da estrada para ver quem aparece. — Acrescentou Maks. — Se
não ele, então é aquele outro idiota, Smythe. Embora pelo que soube,
acho que foi colocado a serviço dos Obsidian Devils. E a dama de
honra? Já não deveria ter chegado? Ou está no táxi? — Seu sorriso
torcido e investigativo, rodeado pelo cavanhaque cortado com precisão,
fez com que Vincente desejasse bater em seu rosto quando o
comentário inesperadamente chegou aos seus ouvidos.

Em vez de fazer isso, olhou seu relógio Breitling novamente.

— Ela... — A campainha tocou e o interrompeu. Seu corpo


começou a tremer como um diapasão.

— Oh! Eu vou! — Exclamou Maks com voz sarcástica.

Vincente levantou uma mão e segurou o enorme bíceps de Maks.


— Porra, não me pressione esta noite, Kirov. — Advertiu
enquanto empurrava o homem para fora do caminho e se dirigia à
porta ele mesmo, já ouvindo a saudação de Veto.

A lava quente que uma vez foi o sangue de Vincente, viajou com
rapidez dirigindo-se diretamente para sua virilha com o som melodioso
que ouviu, o deixando sem fôlego.

— Olá.

Merda. Aquela voz. Parou pouco antes de chegar à entrada, com


suas pernas se recusando a se mover. Seus olhos se fecharam, seu
peito pressionado ante o som de sua voz. Quantas vezes durante as
últimas semanas, precisou ouvi-la?

— Sou Nika Paynne. Amiga de Eva.

Ouviu o sorriso na voz de Veto enquanto ele respondia.

— Vire à esquerda no final da escada, bambina. Segunda porta à


direita, ela pediu que subisse assim que chegasse.

— Obrigada.

— Não há problema. Oh, espere. Aqui diz que seriam dois?

— Houve uma mudança de planos. Estou sozinha. — Sentiu um


inconfundível alívio com suas palavras.

— Ótimo. Suba.

Sim, porra. Ótimo. Veto, Dimitri e Aron provavelmente deixariam


a baba cair do queixo com a visão daqueles chamativos olhos verdes
que poderiam queimá-lo somente com um olhar. E não, não lutaria
para processar o que significava Nika estar sozinha.

— Você apenas ficará aqui? — Maksim sussurrou por sobre o


ombro no seu ouvido.

Vincente mal o ouviu enquanto ela aparecia. Atravessou a sala


espaçosa, movendo-se como um gato descontraído, com o cabelo
brilhante, semelhante a ondas de sol e calor, caindo até chegar à parte
baixa de suas costas enquanto começava a subir para o segundo
andar. E homem, agora era ele quem babava. Porra, babava.

Ela usava um vestido dourado que teria feito os críticos de moda


do Oscar sentirem orgulho, a coisa apertada chegava ao meio das lisas
e suaves coxas. Cristo, suas pernas eram espetaculares. Tinha outro
xale de seda, como o que usou em Seattle, esta noite a pequena beleza
brilhante pendurada em seu braço. Devia sentir frio facilmente. Seus
dentes se apertaram quando seu olhar se concentrou naquele ponto
sensível na parte de trás de seu joelho.

Aproximou-se mais e seus passos chamaram sua atenção. Teve


que endireitar-se nos saltos agulha dourados de dez centímetros.
Atraente, mas elegante.

— Impressionante. — Comentou Maks enquanto Nika


desaparecia no final da escada. — Porra, V., isso é um controle de
ferro que você tem aí, irmão.

Deu-lhe uma palmada no ombro e então estava sozinho, como


Nika.
Por que seu marido a deixou vir sozinha? De verdade. O homem
era idiota ou o quê? O lugar se encheria de homens solteiros em
menos de uma hora.

Vincente se afastou com uma maldição desagradável e bateu as


portas francesas.

Nika caminhava pelo amplo corredor do segundo andar da nova


casa de Eva e tentou não parecer muito impressionada se por acaso
houvesse câmeras ocultas... algo que apostaria que teria. Quando o
táxi passou através do portão de entrada, não pensou nisso porque a
sede do clube de seu irmão também estava protegida da mesma
maneira. Mas então, o táxi percorreu o que parecia um longo caminho
até à entrada e estacionou em frente à deslumbrante casa de dois
andares. Ela não teve outra reação a não ser olhar boquiaberta.

O clube de motoqueiros não era assim.

A casa era linda. Quartos luxuosos, mas não pretensiosos. O


ambiente totalmente masculino era mais do que evidente, o que a fez
perguntar se algum dos homens que viviam ali, além de Gabriel, teria
uma namorada. Os bandidos na porta definitivamente davam ao lugar
um tom de ambiente mafioso. Aquele com quem falou com certeza era
italiano, adorável com seu rosto comprido e olhos caídos. Os outros
dois, que a fizeram pensar no filme Senhores do Crime, deveriam ser
russos e eram muito mais intimidantes. Mas aparências enganam às
vezes, os que pareciam mais temíveis eram os mais agradáveis.

Como Vincente.

Sem pressa, Nika admirou as pinturas. Parou em frente a uma, e


sentiu suas bochechas se esquentarem pela forma como parecia
sexual apesar do tema ser de anjos e querubins. Esticou a mão e
passou seu dedo sobre a caixa de vidro que estava na mesa sob a
imagem. Protegido, havia um modelo Harley Davidson em miniatura
que Caleb amava, uma Softail Deluxe, se não estivesse errada. Quem
seria o colecionador? Vincente talvez? Cada vez que o via, usava um
lindo casaco de couro. Não que isso significasse algo, mas geralmente
os motoqueiros e o couro estavam intimamente ligados.

Suas pernas enfraqueceram levemente com a antecipação que


não deveria sentir, uma reação que quase se perdia pelos nervos que
ocupavam seu sistema. Deveria concentrar-se em Kevin e nesse
maldito cartão de memória e não em um inquietante mafioso. Em
algumas horas, poderia ter sua liberdade e a de seu irmão na palma
da mão. Poderiam estar livres pela manhã.

Tentou não deixar suas esperanças irem longe demais, caso


estivesse errada à respeito do que viu Kevin fazer no quarto do hotel, e
continuou pelo corredor, apenas para parar quando a porta em frente
a que estava de pé, se abriu.
Um bonito homem asiático que sempre estava atrás de Gabriel
saiu, seus olhos amendoados escuros eram agudos e sua expressão
tensa, que relaxou quando a viu.

— Olá, Nika. — Saudou-a no tom suave e descontraído que a


lembrava de Seattle.

— Olá, Quan. Que prazer vê-lo novamente.

— E em melhores circunstâncias. — Inclinou o queixo, o que


indicava uma porta mais abaixo no lado oposto do corredor, ainda a
cinco metros de distância. — Eva estava preocupada que não
conseguisse chegar.

— Não perderia seu casamento por nada.

— Isso foi o que Gabriel lhe disse. — Mostrou um sorriso de


comercial de creme dental. — Não vou segurá-la. — Quan acenou e ela
seguiu adiante enquanto ele desaparecia em seu quarto mais uma vez.

Bateu na porta quando chegou à correta e um desconhecido a


abriu, um homem alto de cabelos escuros que ainda não conhecia,
mas que sabia quem era. O pai de Eva.

Vasily Tarasov deixou Eva e sua mãe quando Eva nasceu, com a
esperança de protegê-las de seus laços com a máfia, mas sempre ficou
nas sombras, mantendo uma vigilância sobre elas de longe, até que a
mãe de Eva morreu em um acidente de carro alguns meses atrás e foi
então que Vasily apareceu para sua filha.

— Nika. — Disse com um sorriso de matar. Depois de celebrar


quarenta e quatro anos de idade há uma semana, o cabelo escuro e
olhos azuis surpreendentes recordavam os de Eva. Deus, era
estupidamente bonito.

— Senhor Tarasov?

Assentiu e lhe estendeu a mão.

— Vasily, por favor. Entre. — Convidou depois que apertou sua


mão. — É bom finalmente conhecê-la, minha filha fala muito bem de
você.

— Está...

Eva surgiu do nada e se jogou nos braços de Nika enquanto seu


pai fechava a porta.

— Você está aqui. — Sussurrou sua melhor amiga enquanto Nika


tentava não se encolher pelo desconforto de seu abraço. — Estou tão
feliz que esteja aqui.

— Estava preocupada que você não viesse. — Disse Vasily


ironicamente.

Nika engoliu o nó que lhe subiu pela garganta e acariciou o


sedoso cabelo preto de sua amiga.

— Eu não teria perdido isso por nada. — Disse baixinho.

Ela e Eva eram melhores amigas desde a sétima série e não tinha
outra pessoa nesta terra, com exceção de Caleb, a quem Nika quisesse
e em quem confiasse mais. Passaram pelo ensino médio e foram juntas
à universidade, mas se separaram quando Eva se mudou para Nova
Iorque para ser transferida para Columbia, a linda espertinha.

— Posso trazer algo antes de descer? — Perguntou Vasily,


enquanto Eva dava um passo para trás com uma leve careta.

— Não. Acho que estamos bem. — Disse distraidamente, olhando


o vestido de Nika. Virou-se para seu pai. — Nos vemos em alguns
minutos.

— Bom. Se mudar de ideia à respeito do que falamos antes, me


avise. Sei que eu disse que não a entregaria e ainda não o farei, mas a
acompanharei por qualquer corredor improvisado que Samnang tenha
preparado.

Eva sorriu.

— Sei que o fará. Entretanto, acho que vamos seguir com o plano.
Você entende, certo? Não quero que minha decisão o machuque.

Vasily franziu a testa. — Eva. É seu casamento e já lhe disse, se


você está feliz, eu estou feliz. Apenas queria que soubesse que a opção
está lá. — Beijou sua filha na cabeça e cumprimentou Nika antes de
sair.

— Está tudo bem? — Perguntou Nika quando Eva olhou à porta


fechada por um longo tempo.

— Sim. Apenas espero que ele esteja sendo honesto comigo.


Disse-lhe que não quero... — Seus dedos se aproximaram para cobrir
sua boca e negou. — Desculpe. — Falou como se tivesse um nó na
garganta. Nika apertou sua mão livre e compreendeu imediatamente.
— Sua mãe.

— Não quero fazer isto sem ela. — A tentativa de rir de Eva saiu
mais como um soluço. — Parece tão frio da minha parte casar, mesmo
informalmente, logo depois de sua morte. Eu ficaria feliz com um juiz
de paz, mas não faria isso com Gabriel. Ele merece mais do que isso.

— Tenho certeza que ele entenderia.

— Ele entende. Eu lhe disse que quando costumava pensar no


dia do meu casamento, minha mãe era sempre uma grande parte dele,
e eu supunha que ela me levaria pelo corredor. — Tossiu, secou os
olhos e piscou rapidamente. — Eu me sinto mal pelo meu pai, mas
não me atrevo a dar essa tarefa para outra pessoa, nem mesmo para
ele. Caminharei sozinha. Dessa forma, ela estará ao meu lado, mesmo
que somente simbolicamente.

— Oh, Eva. — Nika deu um sonoro beijo no rosto de sua amiga,


inspirou no meio de outro abraço e não pôde evitar de sentir-se grata
que seus próprios pais não tivessem sido testemunhas de sua farsa de
casamento.

Eva limpou a garganta e pegou um lenço da caixa sobre a mesa


de café atrás delas.

— Bem. Chega disso. Uh, Kevin está lá embaixo? — Perguntou


com a voz cautelosa que ela e Caleb usavam sempre que perguntavam
por ele.

— Não, foi ver seu primo. Estou sozinha. — Para sempre, se tudo
correr bem mais tarde, acrescentou mentalmente.
— Sério? — Os olhos de Eva se arregalaram com a notícia e
revelou sua alegria lentamente.

Nika sorriu e assentiu em resposta. Tinha que tomar cuidado. Da


última vez que estiveram juntas, antes da dura experiência de Eva nas
mãos de Stefano e seu vice-capo, Furio, Nika admitiu seu ódio por
Kevin e nas últimas semanas, adiou falar da razão pela qual disse isso
quando falaram por telefone. Mas se Eva a encurralasse e
pressionasse o assunto, não tinha certeza de que poderia explicar.

— Bem. Pelo menos você poderá relaxar. Isso é bom. E páre de


me olhar assim, não vou arruinar sua noite e perguntar por ele. Agora,
venha ver seu vestido. — Eva se aproximou e pegou seu pulso, a
arrastando através do grande quarto até um armário enorme. —
Preciso que me ajude com meu cabelo, então poderemos nos trocar e
descer.

Nika segurou o fôlego enquanto Eva abria o zíper de uma bolsa


branca para roupa e dentro estava pendurada uma magnífica criação
verde oliva brilhante, a simplicidade do vestido apenas acrescentando
algo mais à sua beleza. Chegava até o joelho e era justo, mas não
apertado, com mangas que estavam cobertas de pequenas pérolas que
brilhavam como estrelas. Nika estendeu a mão e o virou... e tentou
não gemer alto quando viu três longos cortes em forma de meia lua na
parte superior. Merda.

Colocou um sorriso no rosto e tentou dizer com entusiasmo. — É


lindo, Eva. Adoro a cor.

— Tem certeza?
Esforçou-se mais.

— Absolutamente, é perfeito. Escolheu este tom para combinar


com meu cabelo ou os olhos de Gabriel? — Arqueou uma sobrancelha.
Gabriel tinha olhos verde musgo.

— Ambos?

— Foi o que eu pensei. Bem, você fez muito bem. — Tirou-o do


cabide e o dobrou sobre seu braço. — Eu, uh, preciso ir ao banheiro,
assim poderia me trocar ao mesmo tempo. — Abraçou com força o
casaco preto que, graças a Deus, teve a precaução de trazer com ela.

— Boa ideia. Está bem do outro lado. — Eva fez um gesto para o
quarto. — Avise se precisar de uma mão com o zíper, pode ser difícil
de alcançar.

Nika assentiu, mas sabia que teria que se tornar uma


contorcionista antes de pedir ajuda a alguém para vestir-se.

Saiu do banheiro luxuoso alguns minutos depois, com seu


vestido dourado agora no saco de roupas, vestindo seu casaco preto
que infelizmente escondia o que era um lindo vestido de dama de
honra.

— Você não pode usar isso. — Eva estava de pé no meio do


quarto, e franziu a testa para seu casaco. — Tire isso e me deixe ver,
os sapatos dourados combinam perfeitamente, mas se não acredita,
tenho os prateados no armário.

— Estou bem com eles e isto. — Aconchegou-se no casaco. —


Onde quer que eu vá, sinto muito frio ultimamente, e preciso de toda a
ajuda que puder conseguir, por isso me deixe em paz. — Fez um
biquinho para Eva. Vou mostrar-lhe o vestido depois que me aquecer.
Agora sente-se. — Jogou o vestido na cama e indicou a cadeira que
Eva já tinha colocado na frente do espelho de corpo inteiro pendurado
na parede. — A semelhança entre seu pai e você é ridícula. —
Adicionou como uma distração. — Conte-me como vão as coisas. Ele é
agradável?

Eva aproximou-se e ajustou o termostato na parede antes de


voltar a se sentar. Começou a conversar com entusiasmo, embora um
pouco nervosa, sobre seu pai e a facilidade com que entraram em uma
relação confortável.

Nika soltou um suspiro de alívio e começou a penteá-la.


Trinta minutos depois, Nika descia a escada ao lado de Eva, e
olhou com inveja a expressão no rosto do noivo, que esperava no final
da escada. Estava claro que ele aprovava a aparência de sua futura
esposa. O mesmo fazia Nika. Sua melhor amiga nunca esteve tão
linda.

Nika deixou o cabelo liso preto ônix de Eva com algumas ondas
soltas, que caíam em uma massa brilhante sobre seus ombros nus e
desciam até o meio de suas costas. O vestido de noiva que escolheu,
tinha alças finas acompanhando o cetim branco que fluía em uma
linha suave sobre seu corpo esguio. O colo não mostrava decote -
como Eva costuma usar - a barra era um pouco mais longa na parte
de trás, semelhante a uma pequena cauda. Suas joias eram um par de
brincos de diamantes e um bracelete que combinava, presente de
casamento de seu pai. Eva disse que quase desmaiou ontem à noite
quando foi presenteada com a caixa azul.

No entanto, a favorita de Nika era a fina tornozeleira de ouro que


Eva usava, escondida sob a barra de seu vestido. Era de sua mãe e
Eva disse que quando Vasily a viu, compartilhou em voz baixa com
sua filha a história de como deu para Kathryn essa mesma
tornozeleira no hospital poucas horas depois dela ter dado à luz a Eva.
Nika tinha certeza que sua amiga nunca mais a tiraria.
— Não é costume não ver o noivo até a hora da cerimônia? —
Murmurou para uma Eva agora corada.

— É a hora da cerimônia. — Raciocinou Eva. — Começaremos em


alguns minutos.

Lembrando do que significava para Eva a ausência de sua mãe,


Nika se calou e derreteu em silêncio pela ternura com que Gabriel
cumprimentou sua noiva quando chegaram ao fim da escada.

Ele pegou o rosto de Eva entre suas grandes mãos e a beijou


duas vezes, suave como um sussurro. O cara era realmente grande.

— Você está espetacular. — Disse em voz baixa contra os lábios


de Eva.

— Você também. — Respondeu e passou a mão sobre seu peito.


— Obrigada por não usar terno.

— Obrigado por não me obrigar a fazê-lo. — Gabriel se virou para


Nika e assentiu. Beijou sua bochecha. — Você está linda, Nika. Nós
estamos felizes que você veio.

Era evidente que todos pensaram que ela não iria aparecer.
Maldito Kevin e sua recusa em permitir que visse seus entes queridos.
Tinha que se desculpar ou cancelar seus planos tão frequentemente,
que era evidente que agora tinha uma reputação por isso.

— Meu irmão já está aqui? — Perguntou, olhando para além da


sala vazia. Gabriel inclinou o queixo para trás dele.

— Ele e Vex estão no salão principal.


Gabriel ofereceu um braço a cada uma delas e as levou através do
piso de mármore cor de mel até o vão de entrada que dava para uma
grande sala decorada impecavelmente e que estava cheia. Caleb e Vex
se desculparam, e se afastaram de uma conversa que estavam tendo
com um homem que Nika suspeitava, das várias atualizações que Eva
lhe deu, ser Lucian Fane. Lucian era um homem de negócios
extremamente rico e influente que usava o poder como um manto.
Informantes afirmavam que tinha práticas comerciais questionáveis.
Intimidada, Nika nem sequer fez contato visual com ele.

Maksim Kirov e Alekzander Tarasov assentiram de onde se


encontravam abaixo de uma linda pintura, que era sem dúvida do
Lago Como, na Itália. Quan estava de pé ao lado da entrada, com um
rapaz jovem que se parecia muito com Gabriel. Outros quatro homens
que Nika tampouco reconheceu, estavam espalhados, com olhos
atentos, seus corpos à espera, do que ela nunca queria descobrir.

— Olá.

Nika foi tomada em outro daqueles abraços que estava tentando


não reclamar, mas foi um que devolveu com mais força e carinho do
que deu à Eva. Inalou o aroma de seu irmão... vestígios de óleo de
motor e couro, mas com um toque de colônia esta noite. Deus, sentiu
sua falta. Amava-o demais.

— Você está linda, Nik. — Caleb disse suavemente, dando um


beijo em sua testa como se ainda tivesse dez anos.

Ela o beijou de volta e tirou o brilho que deixou em sua bochecha.


— Obrigada. Você também. — Parecia como se não tivessem se
visto em meses, quando na verdade se passaram apenas algumas
semanas.

Ele olhou em volta distraidamente, com seus frios olhos de cor


café expresso. — Onde está?

— Não está aqui. — Sentia-se bem em dizê-lo.

Seu olhar encontrou o dela. — O quê?

— Tinha outra coisa para fazer.

O calor apareceu e recebeu o sorriso autêntico de seu irmão, com


os olhos enrugados e tudo. Ele era lindo. Parecia-se tanto com seu pai,
com seu curto cabelo escuro e olhos castanhos. A diferença era que
seu pai não tinha tatuagens. Mas compartilhavam o queixo forte e
quadrado.

— Isso é bom. Isso é muito bom. — Caleb deu-lhe um aperto no


braço e se aproximou para cumprimentar os outros, ganhando um
olhar de Gabriel quando deu a Eva o mesmo tipo de saudação que
acabou de dar à ela.

Segurou firmemente seu casaco e sofreu com outro abraço de


Vex.

— Como está, linda? — Perguntou o grande loiro. Com seu cabelo


quase bagunçado e vibrantes olhos azuis, ele parecia mais um surfista
do que o presidente de um clube de motoqueiros.

— Estou bem. E você?


Afrouxou seu aperto, mas não a soltou. Curiosamente, levantou-
lhe o queixo com os dedos e olhou para ela. O que era isto?

— Acho que todo mundo está um pouco melhor agora que você
está aqui. — Disse antes de romper o estranho contato e virar-se para
o pai de Eva, que acabava de se aproximar. — Vasily. — Estendeu a
mão.

— Ei, garoto. Você não deveria estar enterrado até o pescoço em


um carburador em algum lugar?

— Meus brinquedos ainda estarão lá quando eu chegar em casa.


— Riu.

— Não te disse que era assim que aconteceria? No momento em


que entraram, a linha se formou. — Maksim, que acabava de unir-se a
eles, sorriu, seus incomuns olhos prateados brilharam
maliciosamente. — Venha aqui, malishka. — Puxou uma Eva que
revirou os olhos para um caloroso abraço. — Permita um último beijo
antes que me destrua completamente quando casar com este...
italiano feio. Qual o problema, G.? É apenas um abraço inocente,
embora tenho certeza que sua mulher queria que não fosse. Sem
acompanhante esta noite? Eu deveria aproveitar.

Nika piscou quando percebeu que a última parte foi dirigida à ela.
O jeito que Maksim saltava de um assunto para outro em alta
velocidade, era como assistir vários programas de televisão ao mesmo
tempo.

Quis amaldiçoar quando sentiu seu rosto quente. O cabelo


vermelho e um rubor não eram bons juntos. Aceitou um beijo
prolongado que aterrissou muito perto do canto de sua boca - o
homem cheirava bem - e tentou manter seu sorriso natural. Começou
a sentir-se um pouco aflita. Endireitou o casaco novamente,
preocupada que pudesse escorregar e revelar algo que não deveria com
todos os abraços que estava recebendo.

— Você está bem? — Sussurrou Eva a seu lado. — Parece corada.

— Oh, uh, estou bem. Apenas não estou acostumada a ser tão
maltratada. — Encolheu-se internamente pela forma que soou.
Deveria estar acostumada a isso.

Kevin apertou seu seio há apenas algumas horas atrás. O fato de


que ele fosse completamente impotente com ela era uma bênção em
toda a confusão de seu casamento. Mas isso não impedia suas mãos
errantes. Estremeceu com a lembrança desse contato indesejado. —
Então, está pronta? — Perguntou-lhe, provavelmente pela quinta vez
desde que chegou.

— Você está fria. — Exclamou Eva em voz baixa. — Não posso


acreditar que tenha arrepios. Estou tentando não ter manchas de
suor. — Esfregou o braço de Nika em um esforço para fazê-la se
aquecer. Deus, se eu soubesse o que causou isso.

— Eu disse. — Murmurou. Ao menos já não teria que defender


sua escolha de roupa esta noite.

— Ficarei feliz quando esta parte terminar. Eu gostaria de apenas


ir ao tribunal. — Eva olhou ao redor nervosa.
— De verdade? — Disse Nika com falsa surpresa. Esse olhar não
tinha nada a ver com o fato de Eva sentir falta de sua mãe. — Mas
pensei que ser o centro das atenções, com todo mundo te olhando
fixamente era do que gostava. — Não era um segredo que sua melhor
amiga odiava toda a atenção que sua aparência atraía. Eva era muito
bonita e foi observada durante a maior parte de sua vida adulta. Como
resultado, quase conseguiu acabar com a sua vida para ser tão
invisível quanto fosse possível.

— Cale-se. — Murmurou Eva enquanto começava a reordenar um


lindo buquê de flores brancas em um floreiro junto ao seu cotovelo,
embora já estivesse perfeito. Oh, Oh.

Eva também entrava em modo de TOC quando estava ansiosa.

— Não comece com isso. — Disse Nika em voz baixa e pegou as


mãos de sua amiga entre as suas. — Falei apenas de brincadeira com
você. Tudo está perfeito. — Viu as lágrimas que de repente brilharam
nos cílios de Eva quando assentiu. Merda. — Não se atreva. Pode
imaginar as piadas sobre o sexo frágil se chorar diante deste grupo?

Isso lhe rendeu uma risada trêmula e um beijo na bochecha.

— Estou tão feliz que você está...

— Beijem-se nos lábios da próxima vez, garotas. Adicionem um


pouco de ação com a mão. Alguns gemidos. Curvem as costas. E sim,
eu poderia ganhar milhões com vocês.

Maksim recebeu olhares idênticos de somente em seus sonhos de


ambas. E uma queixa de: — Retroceda, Kirov. — De Gabriel.
— Cuidado com a boca, Maksim. — Grunhiu Vasily, sua falta de
sorriso mostrava que não achou graça. — Deixe essas duas fora de
suas fantasias depravadas ou irá se encontrar sem o equipamento
adequado para realizá-las.

Um homem mais velho, magro, aproximou-se com uma grande


bandeja cheia de uma variedade de bebidas. Entregou copos a todo o
grupo, obviamente sabendo quem bebia o quê, e depois se virou para
Nika e Eva.

— Por favor, o que posso trazer para as senhoritas?

Eva o apresentou como Samnang, seu mordomo e pediu vinho


branco para ambas. — Vou lhe acompanhar e...

Samnang negou tão forte que seu cérebro deve ter se sacudido.

— Não, não. Fique. Além da senhorita Tegan, é a única outra


mulher que foi corajosa o bastante para pegar um destes rapazes. —
Riu quando se virou para Gabriel, seu tom orgulhoso. — E ao senhor
Gabriel, nada menos. Seu desejo é uma ordem senhorita Eva.

Algo no peito de Nika se sacudiu. Quem era a senhorita Tegan?


Seria a namorada de Vincente?

— Ouvi meu nome. Sammy? Que tipo de histórias está contando


agora?

Uma mulher loira que parecia ser alguns anos mais velha do que
Nika, uniu-se ao grupo. Deu a Samnang um beijo carinhoso na testa
enrugada.
— Nada que você mesma não dissesse. — Assegurou-lhe o
homem mais velho antes de partir rapidamente.

Nika preocupada e com ar ausente, mordeu o lábio inferior


enquanto saudações e beijos eram trocados. Quem era ela? Ou mais
exatamente, de quem era? —Perguntou-se Nika enquanto apertava a
mão da mulher quando Maksim a apresentou como a doutora Tegan
Mancuso.

— Quer parar de fazer isso? — Tegan deu uma cotovelada no


russo sorridente. — Juro que pensa que minha profissão lhe
conseguirá alguma coisa. — Disse a Nika, que se sentiu relaxando.
Esta devia ser a namorada de Maksim, que era bastante segura para
não se importar que paquerasse com outras mulheres. — Não vai
mudar de ideia, não? — Perguntou a Eva, que negou e sorriu. — Não a
culpo, é um bom partido. — Tegan piscou para Gabriel e depois olhou
ao seu redor, com o reluzente cabelo comprido até os ombros. — Onde
está V.?

O sorriso social diminuiu do rosto de Nika como se uma


avalanche a tivesse derrubado. V.? Por que estava tão familiarizada
com Vincente que podia chama-lo de V.? E por que o pensamento
deles juntos fazia com que Nika se sentisse doente de repente?

— Vou pegar uma taça e buscá-lo. Deveria estar aqui agora. —


Tegan afastou-se com seus quadris curvos em um vaivém, pernas que
pareciam intermináveis em uma saia preta justa e saltos altos. Nika
tinha certeza de que a blusa azul-celeste que a doutora usava era
emprestada do armário de Eva.
Depois de dar a Samnang - que voltou com vinho para ela e Eva -
um sorriso tenso enquanto aceitava a taça, Nika tomou um gole
enorme e desejou ter a garrafa.

— Quem era? — Sussurrou a Eva com tanta naturalidade quanto


pôde.

— Tegan conhece os rapazes desde o ensino médio. É agradável.


Ela e Maksim são amigos, como Caleb e eu. Muito próximos. De fato,
tem seu próprio quarto lá em cima e parece passar mais tempo aqui
do que em seu apartamento no Brooklyn. Quan se rendeu e é um
elemento permanente por aqui também. — Eva olhou para os homens.
— Então acredite em mim, aprecio a companhia feminina.

Nika assentiu devagar e tomou outro gole de sua taça. Sentia-se


completamente fora de seu elemento. Desajeitada, de uma forma que
nunca sentiu em reuniões sociais. Antes de Kevin, teria desfrutado de
tudo isto. Conhecia todos os que se tornaram uma parte da vida de
Eva, e discutiria verbalmente com Maksim, colocando-o em seu lugar
por seus comentários sugestivos. Agora? Sentia-se ansiosa e precisava
de uma pausa.

— Vou tomar um pouco de ar antes que as coisas comecem. —


Disse a ninguém em particular enquanto se dirigia para as portas
abertas do outro lado da sala.

— Eu vou com ela. — Anunciou Caleb.

Sabia que seu irmão iria grudar nela praticamente a noite toda e
sem se preocupar, não protestou e seguiu para a noite agradável.
Aspirou o ar fresco misturado com o tênue aroma do cloro de uma
enorme piscina muito bem iluminada.

— Oh, uau. — Aproximou-se e ficou de joelhos para afundar os


dedos, suspirando com a sensação da água quente em sua pele. — O
que não daria para me despir e dar um mergulho. — Murmurou para
seu irmão, que se aproximou e parou ao seu lado.

— Sinta-se livre. Tenho certeza que ninguém se importaria.

Oh... merda.

A vertigem a atingiu ao som da voz profunda e áspera e antes que


percebesse, Nika perdeu o equilíbrio e começou a balançar. Caleb a
agarrou pelo braço e a salvou de conseguir seu desejo de molhar-se
nas águas tranquilas. Puxou-a para trás e a abraçou.

Com seu coração batendo forte, Nika olhou por sobre o ombro de
seu irmão diretamente para aqueles olhos quase vulcânicos que via
todas as noites em seus sonhos.

Muito para escapar, —pensou Vincente de sua cadeira escondida


na sombra, enquanto segurava o olhar surpreso de Nika. Merda.
Sacudida mundial. Com um só olhar.
Ele foi ao salão principal há alguns minutos apenas para se virar
e voltar em seguida para fora, quando percebeu os olhares que Vex e
Maks davam à sua ruiva.

Não, não sua.

De seu Admirador interior.

— Olá, V.

Assentiu à saudação de Caleb, sua atenção ainda presa à irmã do


homem.

— Você está bem, Nik? — Caleb pegou a taça de vinho da mão de


Nika e se aproximou para deixá-la sobre a mesa em que Vincente
estava sentado, levando-a com ele.

— E-estou bem, Caleb. Apenas... surpresa. Não sabia que tinha


mais alguém aqui, exceto nós dois.

Vincente obrigou-se a afastar seus olhos dos dela, levando-os a


algum lugar à direita de sua orelha. Bem. Podia lidar com isto. Seja
casual. Aja normalmente.

— Que bom que veio, Ruiva. Como foi seu voo?

Houve uma breve pausa e depois sua voz vibrou em seus ossos
com cada palavra que saiu de sua boca exuberante.

— Sem acontecimentos notáveis. Um pouco longo, mas consegui


ler um pouco.
Ele assentiu uma vez e achou que o caminho estava limpo para
entrar novamente - quando tinha se tornado um maricas? Ficou de pé
bem a tempo para que seus músculos ficassem tensos. Uma brisa leve
soprou por trás de Nika e teve que tossir para esconder seu gemido
quando o aroma de laranjas e jasmins se chocaram contra seu nariz, o
rodeando, envolvendo Vincente em uma teia erótica de luxúria.

Maldito cheiro. Precisava entrar e rápido.

— Vex está com você? — Grunhiu para seu irmão.

— Está lá dentro. Você precisa dele?

— Sim. Eu queria comparar notas.

— Irei atrás...

— Eu irei atrás dele. — Disse Vincente, quando cortou a oferta.


Não haveria jeito de sobreviver se ficasse ali sozinho com ela, merda!
Não sem fazer um idiota de si mesmo.

— Posso ir se precisarem de um tempo a sós. — Ofereceu Nika.

Incapaz de impedir, seu olhar pousou sobre ela outra vez. Aquele
cabelo em chamas dela fluía como um rio derretido, um bonito
contraste com o tecido preto que cobria seus ombros. Percebeu isso
porque não olhou para cima de seu pescoço delgado. Um pescoço no
qual queria enterrar o rosto e simplesmente respirar.

É a irmã de Caleb. Lembra-se? No caso de ter esquecido, mais uma


vez, ele está de pé bem ao seu lado. E você e sua vida de merda não
são o que está mulher precisa.
— Tudo bem, Ruiva. — Limpou a garganta e se perguntou onde
estaria o vestido dourado. Agora usava um verde, o que fez seus olhos
chamativos brilharem. — Onde está seu homem?

Ela empalideceu com a pergunta, mas se recuperou rapidamente.


Não perdeu o sutil endurecimento de seus traços enquanto encolhia
um ombro frágil.

— Ele tinha outros planos.

Vincente fez um som para lhe dizer que a ouviu. E a olhou


fixamente. Ela também. Porra, era tão linda que mal podia suportar.
Suave e delicada, apesar de ter um metro e oitenta sem saltos, sua
feminilidade era inegável.

E isso levava seus instintos protetores a rugirem à superfície


como nada mais. Sem querer, deu um passo mais perto, o que levou
suas coxas contra a mesa e quase gemeu quando os lábios dela se
abriram em uma respiração tranquila.

Recue, amigo. Esqueceu?

O tom do telefone de Caleb foi uma distração bem-vinda. Tanto


ele como Nika olharam para seu irmão quando ele puxou o celular do
bolso.

— Desculpe, garotos. — Murmurou o motoqueiro, e depois disse


no receptor. — Sim. Ah, merda. Quando ele ligou?

Seu acompanhante se afastou enquanto falava e Vincente quis


agarrá-lo e trazê-lo de volta.
— Posso ver por que escolheu ficar aqui. — Disse Nika e olhou ao
seu redor. — É sossegado. Sua casa é linda, Vincente.

Você também.

— Obrigado.

Algo pequeno se agitou sobre suas cabeças muito rápido para vê-
lo, mas suficientemente alto para ser ouvido. Olhou para Nika,
esperando que corresse ou gritasse, mas tudo o que fez foi sorrir um
pouco.

— Morcegos? — Questionou ela, saindo debaixo da marquise para


olhar para cima.

— Sim. É a época do ano.

— Pequenas coisas lindas.

Sua testa se arqueou. — Lindas?

Ela olhou para cima e então para longe.

— Eva e eu costumávamos trabalhar na loja de roupas de sua


mãe durante o verão. Um dia, fomos trabalhar e encontramos um
morcego, que de algum jeito conseguiu entrar à noite. Fomos ao
restaurante de sushi, do outro lado da rua, para decidir o que fazer e o
dono nos ouviu falar dele. Veio com uma vassoura e uma vasilha de
plástico transparente e pegou a coisa. Uma visão de primeiro plano
perfeita, seu rosto era uma mistura entre um camundongo e um
pequeno cão. — Virou-se para ficar ao lado da mesa novamente. — O
morcego, quero dizer. — Sorriu e inclinou a cabeça para esconder a
expressão de um milhão de dólares e ele quis amaldiçoar porque o
privou de vê-la por mais de uma fração de segundo. — Não me
interprete mal. Teria gritado se tivesse voado no meu cabelo e
mostrasse os dentes. Mas... — encolheu os ombros. — São
relativamente inofensivos.

Ele colocou a mão no bolso dianteiro de sua calça para ajustar


seu eixo e com sua mão livre, colocou um dedo no pescoço e puxou a
maldita camisa.

— É amante dos animais?

— Nunca conheci um que eu não goste. Teve também um gambá


que abordou Eva, sua mãe e a mim uma noite, enquanto as
acompanhava para sua casa. Foi agressivo e horrível. E os porcos-
espinho, que também admiro à distância, embora geralmente não
machuquem ninguém, a menos que os assuste. Caleb e eu sempre
tivemos cães, mas não tive um mascote desde que estou sozinha.

— Não está sozinha. — Lembrou-lhe. Ou precisava lembrar a si


mesmo?

Inclinou a cabeça novamente, sem sorriso desta vez.

— Não, não estou. — Concordou baixinho.

— Se aparecerem, me ligue. — A voz de seu irmão foi ouvida e


desligou, balançando a cabeça, e caminhou de volta para ele e Nika. —
Nosso garoto da polícia de Nova Iorque disse que Smythe virá outra vez
para nós este ano. Idiota.
Vincente não prestou muita atenção ao comentário. Os policiais
estavam sempre em algum lugar ao fundo. Qual era a novidade à
respeito? Estava mais preocupado em lembrar-se que esta mulher na
frente dele estava casada com algum idiota e que Vincente levava uma
vida de merda e não tinha nada para lhe oferecer. Era a irmã mais
nova de Caleb, pelo amor de Deus e o homem estava parado bem ali!

E nada disso importava absolutamente. Ainda queria se envolver


ao redor do corpo longo e curvilíneo da ruiva durante uma semana
inteira. E se lhe desse uma mínima chance, sabia que pegaria.

Sem se importar com nada. Com. Nada.

O conhecimento era... bem, não diria chocante. Porque ele


sempre viveu mais ou menos com suas próprias regras, pegava o que
queria, quando queria. Mas nunca fez nada sem antes assegurar-se de
que qualquer dano colateral fosse mínimo. Neste caso, não seria. E
esse fato não lhe importava o suficiente.

Isso era inaceitável. Geralmente levava a si mesmo a um nível


mais alto do que isso. Sua mãe e sua irmã estariam envergonhadas.

Tinha que manter uma distância dela.

Piscou quando Nika endureceu. Notou porque era o único que


estava atento. Ela recuou esse passo que ele deveria ter dado há
alguns minutos, piscou rapidamente, e sua pele perfeita empalideceu.
Sua voz saiu como um sussurro:

— Vou entrar. Você vem?

Eu queria isso.
Ela se virou sem esperar para ver se Caleb, a quem foi dirigida a
pergunta a seguia, e depois desapareceu novamente na casa.

A fumaça do cigarro e o cheiro de mato preenchiam o ar,


enquanto Kevin Nollan caminhava entre dois grandes contêineres de
transporte e chegava a uma clareira no centro do edifício em ruínas
em Crown Heights. Ficou de um lado, ao redor dos cabos e sistemas
de iluminação estrategicamente colocados.

— Por que não a trouxe com você esta noite? — Disse seu primo
por cima do ombro enquanto os conduzia a um desastre de mesa no
canto rodeada por meia dúzia de cadeiras metálicas. — Poderia ter
visto como eram as coisas. Poderíamos começar amanhã em vez de
esperar mais um dia.

Kevin olhou para Darren, o fodido cinegrafista oficial de sua


família, e se perguntava novamente se o cara iria querer ação quando
começassem a filmagem. Queria um pedaço da propriedade de Kevin?
A sua esposa? Da mesma maneira que cada bastardo que a via a
desejava?

Como ele fez assim que a viu pela primeira vez, passando pelas
portas da sede do clube em Seattle e esperou que algum dia pudesse
chamá-la de sua. Malditos motoqueiros. Os idiotas não o deixaram
entrar. Caleb Paynne não o deixou entrar. Ouviu aquele idiota dizer ao
presidente da sede em Seattle que não considerava Kevin material
para os Obsidian Devils.

O presidente concordou.

Bastardo. Apenas o que queria era um lugar para passar o tempo.


Caras com quem passar o tempo. A irmandade que vinha com grupos
como os Obsidian Devils MC.

Mas o rejeitaram. Disseram-lhe que podia vagar, mas que não lhe
pediriam que se juntasse a eles. Nunca pertenceria realmente. Como
sempre.

Porra. Não precisava deles, de qualquer maneira. Agora tinha algo


melhor do que irmãos. Tinha Niki.

E a queda de Caleb Paynne, se algum dia o abandonasse.


Conseguir a evidência que usou para casar com Niki, foi relativamente
fácil, porque Paynne não perdeu a oportunidade de brincar de herói. O
cara não precisou de nenhuma insistência para vingar o nome de seu
amigo no cenário que Kevin configurou. O que ele precisou fazer
depois de ter Paynne no lugar certo, no momento adequado, foi
pressionar a tecla gravar.

E conseguiu uma linda esposa com o negócio.— Kevin zombou.


Uma linda mulher que nem sequer podia excitá-lo. Tinha feito
algumas vezes, no começo. Quando entrou na sede do clube, ao sul de
Seattle, com seu irmão e sua amiga cadela, Kevin endureceu como um
cano.
Mas nunca pôde fazê-lo novamente dessa maneira, quando a teve
em seu punho. Não desde que Niki estragou tudo, confundiu as
coisas, transformou a simples vingança contra seu irmão em outra
coisa. Sim, achou que ela era atraente e a tinha desejado. Mas queria
se vingar de Caleb. Então ela o fez se apaixonar. Ele valorizava sua
opinião. Ela o fazia se sentir como um lixo por dar às pessoas o que
mereciam. O que Niki merecia. Sentia-se culpado agora, quando tinha
que ensinar uma lição da mesma forma que seus pais usavam com ele
e seu irmão idiota. E o fato de que não gostava de fazê-lo, tornava as
coisas piores para ela. Quando sentia essa pressão no peito, batia nela
com mais força, por mais tempo. Mas tudo era sua maldita culpa.

E Darren podia ir para o inferno, pensou Kevin, enquanto olhava o


rasgo no joelho de seu jeans, sentindo a familiar pressão aflorar. Todos
podiam ir para o inferno. Com exceção dos que teriam um vislumbre
de sua esposa durante a filmagem. Isso iria ensinar a Niki a olhar por
cima do ombro. A não julgá-lo pela merda que fazia. Permitiria que
estes homens fizessem o que ele não podia, porque sabia que para
uma garota, ser fodida por alguém a quem não conhecia e não
desejava, era humilhante ao extremo. E para Niki, seriam vários ao
mesmo tempo. Isso a reduziria à fumaça. Eles a foderiam, e então
talvez, ela visse a si mesma mais ao seu nível. E depois que a ação
fosse filmada, não voltaria a vê-los novamente.

Embora tivesse que ver Darren no futuro, porque talvez tivessem


que fazer mais de um filme. Tudo dependeria da quantidade de
dinheiro que ganhasse. Ainda tentava encontrar uma maneira de Niki
trabalhar sem ter que passar tanto tempo longe dele.
E se ela chegasse a gostar de Darren?

Suas mãos se fecharam em punhos ante o som dessa pequena


voz em sua cabeça.

E se ela quisesse seu primo na ação?

Uma fúria desenfreada encheu a cabeça de Kevin. Faria com que


pagasse por isso.

— Então, onde ela está? — Perguntou seu primo.

— Foi a um casamento. — A puta, adicionou em sua cabeça.


Igual à cadela que iria se casar. A amiga de Niki.

A repugnante e preconceituosa Eva Jacobs. Deveria ter cuidado


dela quando voltou para Seattle no mês passado. Deveria ter se
desfeito dela para sempre. Agora que estava aqui em Nova Iorque,
novamente perdeu a oportunidade. Especialmente agora que estava
com esse homem de merda que o humilhou no clube em Seattle, há
algumas semanas atrás. Não poderia pegá-la agora. Mesmo Kevin
reconhecia o poder quando o via. E esse idiota com quem Eva casou,
era poderoso.

— Então, decidimos por quatro caras? Ou você quer um quinto?

Os olhos de Kevin se estreitaram sobre seu primo. Ele queria ser


o quinto?

— Quatro está bem nesta primeira vez. Veremos um quinto na


próxima.
Darren assentiu, como se não estivesse preocupado. Um ato?

— Soa bem. Estará de acordo ou vai precisar de um pouco de


convencimento? — Pegou um pequeno frasco com um líquido
transparente com uma tampa de borracha. Do tipo do consultório de
um médico.

— Você usa isso em todas as mulheres?

— Se elas precisarem de um pouco de suco feliz. Alguns


milímetros cúbicos desta merda e abrem as pernas para qualquer
pessoa que se aproxime delas. — Darren riu enquanto colocava a
garrafa no bolso.

A imaginação de Kevin decolou diante de suas palavras.


Apareceram imagens de Niki com seu cabelo vermelho assanhado, com
quatro desconhecidos se revezando com ela. Merda. Era sorte que
precisassem do dinheiro, caso contrário não tinha certeza de poder
oferecê-la, sem importar a lição que precisasse. Ela era sua. Pertencia
a ele e logo iria perceber isso. Pertencia tão completamente que podia
controlar quem a fodia e quando. Depois poderiam fazer esse
movimento que estava pensando. Talvez levá-la a São Francisco ou Los
Angeles. Em algum lugar com menos chuva. Em algum lugar onde seu
maldito irmão já não pudesse incomodá-los.

Mas isso exigia dinheiro. O dinheiro que este filme com Darren - e
quatro malditos bastardos sortudos que vão ganhar um pedaço de Niki
do jeito que ele não podia - daria.
— Mantenha esse frasco na mão para amanhã. — Disse
bruscamente, e fez um ajuste em uma ereção imaginária, pois sabia
que isso era esperado.

— Não tem problema. Então vamos falar sobre os detalhes. —


Darren se colocou diante dele, com sua mão desaparecendo em seu
colo debaixo da tampa da mesa. — Pensamos para começar
amarrando ela. Essa merda sempre as quebram. Depois pensei que
poderíamos...

Os próximos minutos se passaram, o braço do rapaz se movia


enquanto fazia a descrição das diferentes posições e cenários para o
filme de Niki. Kevin mal percebeu. Apenas o que realmente via nesse
momento eram os dólares e o rosto indignado de Caleb Paynne quando
soubesse do que sua irmã participou. Uma irmã com quem não
poderia gritar porque sumiu sem deixar rastro. Kevin era bom nisso.
Em desaparecer. Faria novamente, como da última vez. Mas com sua
própria máquina de fazer dinheiro ao seu lado.

Ele nunca a deixaria ir.

O som de telefones e o ruído dos teclados martelavam a cabeça


dolorida do detetive Lorenzo Russo, enquanto acrescentava ao barulho
à sua volta uma maldição. Sem dúvida, seu irmão teria desaprovado
esse seu jeito de falar. Em sua defesa, Michael era sacerdote, então
franzia a testa quando o nome do Senhor era falado em vão.

Pelo que lhe foi ensinado, Lorenzo enviou uma prece de desculpas
em silêncio, enquanto folheava o arquivo em seu escritório. Levantou a
cabeça em direção à janela que permitia olhar para a delegacia
movimentada.

— Vou para casa à noite. Importa-se se te fizer algumas


perguntas primeiro, Russo? — Perguntou um companheiro detetive ao
entrar no escritório e cair na cadeira em frente à mesa de Lore.

Cabelo loiro como areia, olhos azuis. David Smythe. Um maldito


idiota do mais alto nível. Parecia mais político que policial.

— É para isso que eu vivo, Smythe. — Disse com enorme


sarcasmo. Enorme.

— Estou curioso para saber se ouviu sobre o êxodo maciço do


JFK há algumas semanas. — Alguns dos caras mais importantes de
seu antigo bairro, fugiram da cidade. Voltaram depois de vinte e
quatro horas com cerca de uma dúzia de indivíduos a menos. Alguma
ideia de onde foram? O que aconteceu?

Lore se recostou em sua cadeira e observou o preconceituoso


traseiro da “Ivy League” em frente à ele.

— Por que eu saberia algo sobre isso? Esses caras são problema
seu, não meu.
— Apenas pensei que, já que esses ratos de rua permanecem
juntos e sabendo que seu irmão está casando o novo Chefão e sua
princesa russa neste momento, poderia ter alguma ideia.

Lorenzo deixou cair as mãos em seu colo como se estivesse


tranquilo e relaxado. Era exatamente o contrário. Seus dedos se
fecharam em punhos por que desejava bater em ambos os lados da
teimosa cabeça de seu irmão mais novo. Maldito Michael e sua
necessidade de ver o bem, mesmo nas pessoas nas quais muito
provavelmente não existia nenhum.

E homem, doía ser deixado fora do circuito.

— Eu não estava ciente de que Michael oficiaria as bodas do


Moretti. — Odiava admitir. — Se você está tendo dificuldades, sempre
posso ir ao Saint Luke's amanhã. Perguntar se viu algo incomum esta
noite. Eu tenho certeza que ele não se importaria de lhe atirar algumas
migalhas.

O rubor rosa que apareceu naquele rosto bonito, satisfez Lore


mais do que nada fez em um longo tempo.

— Não há necessidade. Temos vigilância na área. Se acontecer


algo inapropriado, saberemos.

Inapropriado? Este cara falava a sério?

— Se mudar de ideia, me avise detetive.

Enquanto Smythe saía, com o rabo entre as pernas, Lorenzo


pegou seu telefone do canto da mesa e começou a escrever. De forma
longa, enfatizando seu ponto de vista.
Apesar de sua vocação, você é um maldito idiota. Tome
cuidado. Envie uma mensagem assim que tirar seu rabo daí. Os
olhos estão voltados sobre você.

Apertou enviar e colocou dois M&M de amendoim na boca, e o


papel no pequeno contêiner de metal que sua irmã Ashlyn lhe deu de
presente para sua mesa. O metal tinha uma imagem de um gato
listrado assobiando com a legenda embaixo dizendo: —Não, ainda não
tomei meu café. Por que pergunta?

Olhou para seu telefone quando tocou.

Meus olhos estão sangrando.

Não pôde evitar sorrir enquanto balançava negativamente a


cabeça e voltava a se concentrar no arquivo na frente dele: uma queixa
recebida do pai de uma garota que dizia que sua filha foi drogada,
violentada e o crime filmado em algum prédio abandonado por alguém
que dizia ser produtor de filmes pornô. Um cara fraco que se intitulava
Flash. Não haveria nenhum problema em encontrar o idiota com uma
descrição tão detalhada.

Sarcasmo enorme.
O sacerdote chegou e todo mundo se reuniu lentamente. Nika
deixou uma Eva nervosa no lobby e tomou seu lugar à esquerda do
celebrante, em frente a um Gabriel de aspecto ansioso e de seus
amigos, para os quais, não olhou.

Tentou fortemente ignorar o pedaço de chumbo que parecia ter se


instalado em seu estômago revirado.

Deus, esse olhar no rosto de Vincente. Não podia tirar de sua


mente. O desgosto que viu em sua expressão. Por que me olhou
como... como se eu fosse alguma puta viciada em crack que lhe
implorava que comprasse meu bebê para poder adquirir mais drogas?

Apertou os dentes enquanto Gabriel falava com o sacerdote e


aproveitou esse pouco mais de tempo para se acalmar. Vincente
saberia que ainda se sentia atraída por ele? Não escondeu bem o
suficiente, quando ficou parada ali e falou à respeito de morcegos,
enquanto pensava se seus lábios ainda seriam tão suaves como se
lembrava? Isso em si não teria sido um grande problema.

Embaraçoso, é certo, mas estava mais preocupada de que a


considerasse uma mulher casada. Em um casamento verdadeiro. Para
ele, ela pertencia à outra pessoa. Então, além de tê-lo beijado em
Seattle, se percebeu sua atração, devia pensar que era uma puta
desleal que não tinha nenhum problema em enganar seu marido.
Apenas a ideia fez com que seu rosto esquentasse. Estava tão
longe da realidade... Mas Vincente não sabia. E na verdade, sua
opinião não deveria importar tanto. Mas importava. Olhou o colarinho
impecável do padre, e de repente sentiu seu coração pesado. Talvez
pudesse falar com ele antes de ir, perguntar por que Deus virou-lhe as
costas e a deixou morrer por dentro pouco a pouco a cada dia.

Fechou os olhos em um esforço para acalmar a ardência que se


instalou atrás de suas pálpebras. Não eram lágrimas. Porque não
sentia pena de si mesma. De verdade.

— Nik? — Caleb estava junto a ela novamente. Quando ele


entrou? Ficou rígida. Isso significava que Vincente agora estava no
salão. A julgando.

Não podendo negar o conforto, aconchegou-se no largo peito de


seu irmão por um segundo, e absorveu seu amor incondicional
quando seus braços a rodearam.

— Realmente penso que você deveria se sentar um minuto. —


Disse baixinho, a preocupação em seu rosto, enquanto ela se inclinava
para trás. Passou sua mão sobre seu cabelo curto da maneira que
fazia quando estava agitado.

Ela balançou a cabeça.

— Estou cansada e precisava de um abraço. Isso é tudo.

— Eu gostaria de começar a falar...

Seu pobre irmão preocupado se derreteu atrás dela enquanto o


sacerdote começava. Nika prestou atenção imediatamente, segurando
o anel que Eva lhe deu há alguns minutos. Fixou seu olhar na
entrada, onde viu sua melhor amiga entrar. Através de sua visão
turva, assistiu Eva começar sua vida com Gabriel. Nika colocou de
lado seus próprios problemas para poder dar a esta união de duas
pessoas que se amavam, o devido respeito que merecia.

Observou e ouviu, mas não pôde deixar de compará-la com sua


própria experiência. Sua troca de votos foi feita numa noite horrível em
Las Vegas. Se não fosse o casamento de Eva, Nika não acreditava que
pudesse estar aqui e ouvir o que chegou a pensar que eram palavras
vazias. Ela disse as palavras. Kevin as repetiu. E não significaram
nada.

Amor. Respeito. Confiança. Lealdade.

Coisas que um homem e uma mulher deveriam sentir e ter um


pelo outro quando se apresentavam na frente de um padre e se uniam
por toda uma vida.

Algo que Nika não voltaria a fazer durante o tempo em que


vivesse. Um sonho quebrado era suficiente para ela, muito obrigada.

Se tudo desse certo, em algumas horas seria livre e nada, nem


ninguém, tiraria isso dela nunca mais.
Gabriel Moretti ouviu Mikey ou melhor, o padre Russo, enquanto
falava com eloquência e muito formalmente para seu gosto.

— Alguns dizem que o amor fortalece o homem e à mulher, mas


eu não concordo. O amor os enfraquece, deixa o forte vulnerável,
porque dá ao outro o poder de simplesmente destruí-lo...

Meeerda. Não precisava do resumo. Vivia isso. Sabia tudo sobre o


poder que Eva tinha sobre ele. O poder que agora permitia que seus
inimigos - que de repente pareciam ter saído de todos os lugares -
tivessem sobre ele. Menos de um mês, e já não podia contar o número
de vezes desde que recebeu a última ameaça.

Não era um simples: Vou matá-lo, de homem para homem.


Sempre era o mais covarde: Vou encontrar sua mulher russa e ter muito
sexo com ela antes de matá-la.

Não com essas palavras exatas, é claro, mas a ideia sempre era a
mesma. O corpo de Eva ameaçado e então sua vida. Quem fazia a
ameaça era neutralizado imediatamente, seja por sua mão ou a de
Vincente. Mas as palavras continuavam na cabeça de Gabriel durante
várias horas. Porque mostravam que muitos daqueles homens da
Organização que foram eliminados, tinham a ideia de usar a mulher
junto dele como uma forma de enviar uma mensagem: não
concordavam com as mudanças que ele fazia.

No entanto, estava ali mesmo assim. Era egoísta e a mantia ao


seu lado com um “até que a morte nos separe”.

— Confiança. Respeito. Lealdade. Três coisas em um casamento


que são iguais, mas mais importantes do que o amor que um homem e
uma mulher sentem um pelo outro. Pela traição de um só, se destrói
tudo...

Mikey continuou. Era difícil pensar no garoto como um sacerdote


respeitado, quando Gabriel só enxergava o magricelo irmão mais novo
de um de seus companheiros de escola. Lembrou-se do menino que
perseguia uma bola que Lorenzo jogou no beco, para que os ouvidos
inocentes de seu irmão não ouvissem que Maksim fodeu com as
gêmeas Mancini no banheiro da escola durante a aula de ginástica.

Quando foi a última vez que viu Lore?— Reprimiu um bufo. Está
bem. O cara agora era um orgulhoso detetive da polícia de Nova
Iorque, um dos primeiros na cena quando Gabriel foi chamado pelo
assassinato de seus pais. Sentaram-se um em frente ao outro na
cozinha de sua mãe sem dizer uma palavra. Lore sabia tão bem quanto
Gabriel, que ninguém encontraria uma maldita coisa. Nem mesmo
quando os federais aparecessem para assumir o caso.

Os dois se abraçaram no pátio de trás. Se precisar de alguma


coisa, me chame, — Lore disse, apesar de que os dois sabiam que isso
nunca aconteceria. Mas foi bom ouvir a oferta. —Se você se sentir
muito sozinho, vá ao Saint Luke's e sente-se com Mikey por um tempo.
Cuide-se, Gabriel.

Gabriel saiu de Seattle horas depois e não voltou a olhar para


trás. Nunca. Agora aqui estava, cinco anos depois, de volta a Nova
Iorque. De volta ao jogo, sentado no maldito trono da família Moretti.

Uma gota de suor desceu por suas costas. Sem dúvida, Lore ou
alguém de seu departamento vigiava a casa neste instante. Ou tão
perto da casa quanto o sistema de segurança de Maksim lhes
permitiria estar. Seu lábio se curvou.

— Honestidade. Outro aspecto importante de qualquer relação.


Sem ela, estão condenados. Por que provar ao que dizem amar acima
de tudo, que são dignos somente de suas mentiras...?

Graças a Deus não havia mentiras entre ele e Eva — pensou


enquanto a olhava ao seu lado. Ela ouvia Mikey respeitosamente. Uma
parte de sua atenção deveria estar nele, porque lhe deu uma olhada
imediatamente. Sorriu de modo fácil antes de voltar sua atenção para
a cerimônia e este foi tão lindo como sempre, o que o fazia se
maravilhar com o fato de que em alguns minutos, ela seria sua esposa.

Sua esposa.

— Continue, Mikey. — Interrompeu. — Não temos a noite toda. —


Com o tsc de Eva, o sacerdote com o olhar solene, atento - inclusive
quando jovem - olhou Gabriel diretamente nos olhos e disse com
seriedade:

— Não, não temos. Então não gastemos o que temos, porque


nunca sabemos quando tudo vai desaparecer.

Os dedos de Eva se apertaram ao redor dos seus, diante de seu


pessimismo. Gabriel fez uma careta.

— Mantenha o resto um pouco mais leve, garoto. — Advertiu com


um beijo na parte superior da cabeça de sua noiva — Ninguém precisa
da realidade se intrometendo em uma noite como esta. Certo?

O sorriso que Mikey lhe deu foi tímido.


— Desculpe, Gabe. Guardarei minhas advertências apocalípticas
para meu irmão.

Gabriel riu.

— Faça isso. Tenho certeza que ele está bem preparado para o
que vem sobre nós.

A cerimônia continuou, mas para Gabriel ainda era difícil relaxar.


E não era o único. Olhou para Vincente a seu lado. O cara parecia
como se usasse uniforme e saudasse um general de tão rígido que
estava.

Um toque de cor brilhante lhe chamou a atenção e deu uma


olhada à esquerda de Eva, onde Nika estava. Ela colocava seu cabelo
sobre o ombro em um gesto muito contido para alguém da sua idade.

Ah, sim. Agora entendia o problema de V. Ele e Nika tiveram uma


breve coisa em Seattle antes que a merda explodisse com Stefano há
algumas semanas. Parecia que a tensão ainda existia entre ambos.

Sorriu. Estive ali, passei por isso. E voltou sua atenção para a
cerimônia.
Uma vez que a breve interrupção passou - claramente o sacerdote
era amigo pessoal do noivo - o coração de Nika se derreteu enquanto
Eva se comprometia com seu homem. Caleb entregou um lenço à
noiva enquanto Gabriel repetia seus votos com sua voz poderosa. Nika
entregou o anel, e depois que alguém ao lado de Gabriel fez o mesmo
— não olhou para ver se era Maksim, Alek ou Vincente — a cerimônia
terminou.

Nika deu um suspiro de alívio e foi a primeira a abraçar a


senhora Gabriel Moretti. Não estava certa de quantos tiveram a
oportunidade, antes que Gabriel pegasse sua esposa pela mão e a
levasse para fora da sala.

— Que porra você está fazendo, Moretti? — Vasily rosnou para


seu genro. Gabriel desacelerou para permitir que uma sorridente Eva o
alcançasse com seu vestido justo e saltos altos, mas não olhou para
trás enquanto virava à esquerda e dirigia-se para um corredor fora do
lobby.

— Preciso ver minha esposa em particular por um momento. —


Disse por cima do ombro. — Comecem sem nós. Voltaremos. — Os
gritos e alaridos dos homens os seguiram para fora da sala.

Dando um discreto olhar ao redor, imaginando se alguém


perceberia se mudasse novamente para seu traje dourado, Nika
ajustou o casaco. Um mal-humorado Alek começou uma conversa com
o irritado pai da noiva. Quan sorria enquanto brindava com o
sacerdote e Lucian... ambos pareciam não entender o que era essa
estranha expressão no rosto do asiático. É um sorriso rapazes, — ela
transmitiu. Caleb e Vex davam voltas ao redor de uma mesa de bufê
cheia de comida. Seu irmão olhou e notou que o observava. Tocou seu
prato e levantou uma sobrancelha. Nika negou, ainda não estava
pronta para comer e ele fez um gesto com a boca enquanto se dirigia
para ela.

— Você deve comer alguma coisa. — Disse em tom de


desaprovação.

— Eu o farei em um minuto.

Não satisfeito com isso, pegou uma batata pequena de seu


próprio prato para que provasse. Comeu porque não queria um
sermão e quase sufocou com ela quando viu Vincente voltar para o
salão de onde quer que tivesse ido. Bom senhor. Simplesmente ele era
demais, pensou, enquanto tremia com a visão daqueles perigosos
olhos negros ocultos pelas pálpebras baixas. Deixou crescer uma
pequena barba desde que o viu pela última vez, o que lhe dava um
fator a mais de intimidação e o deixava sexy. Esta também era a
primeira vez em que o via sem o casaco de couro que tanto o favorecia.
Se fosse possível, parecia ainda mais perigoso sem ele, que era tão
comprido que rodeava suas pernas. Provavelmente porque tinha uma
visão sem obstáculos de seu corpo sólido vestido com calça e camisa
social, ambos pretos. Igual à seu cabelo longo, que parecia tão sedoso
que queria chutar a si mesma por não tê-lo tocado quando teve a
chance naquele dia em Seattle. Deveria ter passado os dedos através
dele, pelo menos. Talvez pegá-lo em suas mãos enquanto o puxava e
aprofundava o beijo.

Vincente a olhou durante o caminho para unir-se a Maksim e a


outro homem que não reconheceu. Rapidamente desviou o olhar.
Brincou com seu cabelo, torceu um pouco ao redor do seu dedo
enquanto tentava responder à pergunta de Caleb sobre o casamento.

Por que a visão de Vincente ainda a abalava? Respirou através do


calor que invadia seu corpo e desejou que aquilo acabasse. Era inútil,
afinal. Não havia futuro para ela até que encontrasse a evidência de
Kevin contra Caleb. E mesmo assim, seria um dia frio no inferno antes
que voltasse a desistir de sua liberdade por causa de um homem.

Mesmo que fosse por um que acelerava seu pulso somente com
um olhar e fazia de um simples beijo, um acontecimento tão
memorável como perder a virgindade. E pelo que sabia a esta altura,
os beijos poderiam ser apenas parte do que seria capaz de fazê-la
sentir. Quando chegasse o momento de ter intimidade com um homem
novamente, será que congelaria? Ou pior, enlouqueceria e teria um
acesso de raiva porque se lembraria dos toques nauseantes de Kevin?
Não sabia e certamente não iria experimentar com alguém como
Vincente Romani.

Vex se uniu a eles quando o telefone de Nika vibrou contra o osso


de seu quadril, fazendo com que seu estômago revirasse e essa
pequena batata fizesse um grande esforço para voltar a subir.

— Volto logo.

Afastou-se antes que pudessem dizer alguma coisa e se lembrou


do banheiro que Eva anteriormente indicou fora do lobby e perto da
porta principal. Praticamente correu para lá, mas não foi rápida o
suficiente. A chamada foi para o correio de voz. Levantou a saia e tirou
seu telefone do cós de sua calcinha, o único lugar que tinha para
colocar, já que não se atrevia a deixá-lo. Não teve que olhar para a tela
para saber quem ligou.

Marcou rapidamente o número de Kevin.

— Por que você não está aqui? E por que não atendeu? — As
demandas furiosas fizeram com que os pelos de sua nuca se
arrepiassem.

— Voltarei logo. Foi uma cerimônia católica e sabe que podem


demorar. Acabou de terminar. — Falou baixinho, esperando que as
paredes fossem grossas.

— Tem vinte minutos.

Sua pele se arrepiou pela ameaça.

— Demorará mais do que isso para que eu poss...

— Vinte. Minutos.

— Mas mesmo se...

— Vinte minutos! — Gritou Kevin.

O volume de sua voz em seu ouvido fez seus olhos se fecharem.

— Ok. Está bem. — Sussurrou.

Depois de desligar, chamou um táxi e saiu do banheiro. Tentava


não parecer como se estivesse correndo enquanto subia as escadas.
Graças a Deus, Gabriel não levou Eva para cima para sua celebração
privada,— pensou enquanto entrava no quarto do casal, jogando seu
casaco e desabotoando seu vestido enquanto caminhava. Deixou que
caísse pelo seu corpo, encolhendo-se com o desconforto que lhe
causavam seus movimentos bruscos e o empurrou sobre seus quadris,
quase tropeçando nele porque continuava caminhando. Chegando na
cama, deu um passo para fora dele e abriu o zíper do saco de roupa
para tirar o vestido com o qual chegou. Era estranho como estava mais
preocupada em não sujar de sangue o presente de Eva, do que pelo
fato de que iria sangrar na próxima hora.

Uma respiração e uma maldição profunda fizeram Nika gritar e


virar-se. Agarrou o tecido dourado como um escudo em frente ao seu
corpo quase nu e seu coração ameaçou sair do peito enquanto olhava
para as feições furiosas de Vincente.

Estava de pé na porta do banheiro — deveria estar lá dentro


quando entrou no quarto, razão pela qual não o viu — e segurava um
pequeno presente envolvido em papel prateado com um pequeno laço
na parte superior.

E acabava de ter uma visão perfeita dos violentos machucados


verdes e amarelos que cobriam suas costas, tríceps e ombros. Para
não falar da evidência ainda mais desagradável dos golpes mais
recentes de Kevin na parte inferior de suas costas e costelas.

— Que porra aconteceu com você?

Estava tão surpresa de que estivesse ali, que alguém tivesse visto
o que tanto tentou esconder durante todo o último ano, que seu
cérebro se negou a trabalhar. Esforçou-se para chegar a qualquer
possível razão para ter os tipos de marcas que tinha em seu corpo.
Um acidente de carro? Uma mentira muito evidente.

Uma queda pela escada? Não tinha uma em seu apartamento.


Um assalto? Não lhe permitia sair de casa para ser assaltada.

— Uh... — Tinha um último recurso, mas se houvesse alguma


forma de evitar usá-lo, tentaria.

— Quem fez isso em você? — Sua pergunta era um sussurro tão


sombrio que os pelos de seus braços se arrepiaram. Aproximou-se
ainda mais. — Foi ele? Seu marido...? — Fechou os olhos com um
olhar de dor que se tornou feroz, como se estivesse a ponto de
transformar-se no diabo. — Jesus Cristo. É um homem morto.

As palavras pareciam ser arrancadas de sua garganta e só o que


pôde fazer, foi olhá-lo fixamente. Era assustador, e no entanto, não
estava assustada. Na verdade, sua fúria era tão atraente, tão bem-
vinda para a parte dela que desejava um salvador, que seus membros
tremeram com a necessidade de se jogar em seus braços e permitir
que ele lutasse suas batalhas por ela.

— Não. — Sussurrou, pensando no volume que sentiu no canto


da mala. — Não, Vincente. Isto não é... o que você pensa. — Não podia
interferir agora. Não quando estava tão perto de colocar fim a este
pesadelo.

Um relógio soou no fundo de sua mente. Tinha que ir. O pior que
podia fazer era dar tempo a Kevin para pensar.

— Então será melhor que me diga o que é neste momento, Ruiva.


Não olhava para ela, mas por trás dela e seguiu seu olhar para
ver seu reflexo na janela, que mostrava seu traseiro quase nu.

— Por favor, vire-se. Agora! — Disse quando ele não obedeceu


imediatamente.

Ele se afastou e ela passou o vestido pela cabeça enquanto a


ansiedade atingia seu corpo como se estivesse ferida e sangrando.
Kevin iria matá-la por fazê-lo esperar.

— Ouça. — Disse enquanto se separava dele para colocar o


vestido verde na bolsa, mais para manter as mãos ocupadas do que
por qualquer outra coisa. — Tenho que ir e não tenho tempo para dar
explicações neste momento, mas estou bem. Ok? Não é grande coisa.
— Terminou com sua tarefa, passou ao seu lado, mas ele levantou um
braço para impedi-la de sair. Vincente não a tocou, apenas levantou o
braço como se fosse uma barricada em um cruzamento ferroviário com
as luzes piscando.

Olhou-o através de seus cílios e sentiu uma onda de vergonha


que não tinha nenhuma razão para sentir, mas sentiu mesmo assim.
Isto não era nada parecido com os sonhos que teve com ela e Vincente
sozinhos em um quarto, se tocando e se beijando, enquanto tiravam a
roupa um do outro, pouco a pouco... e então conteve o
estremecimento. Bem, certamente não se tocavam. Nem sequer
permitia que seu corpo entrasse em contato com o dela para evitar que
se fosse. Mas definitivamente viu sua bonita calcinha cor fúcsia. Só
que em vez de ver uma mulher desejável, Vincente viu apenas as feias
contusões e golpes que começavam a se curar e que cobriam seu
corpo. Se estava irritado com ela lá fora na piscina, como estaria se
sentindo agora?

— Não irá a lugar nenhum. Não até que me fale.

— Por que iria falar com você, quando realmente não é assunto
seu? — Disse bruscamente, e tentou dar o recado de “agora você
ultrapassou o limite.” Falhou... soava um pouco histérica.

— Moretti quer saber o que está acontecen...

Ambos se viraram para ver Caleb na porta que dava para o


corredor. Nika fraquejou. Isto estava acontecendo? Agora, neste
momento, quando realmente tenho que sair daqui? Deveria ter saído há
muito tempo.

— Aí está você, Nik. Que porra você fez, V? — Perguntou Caleb e


observou a postura de Vincente, que demonstrava claramente sua
negativa em deixar Nika passar.

— Ela está machucada.

As sobrancelhas de Caleb se levantaram enquanto entrava mais


no quarto. — O quê?

— Entrei acidentalmente quando ela estava trocando de roupa e


vi... — Nika chutou seu caro sapato de couro italiano.

— Cale a boca. — Disse através dos dentes cerrados. E depois,


com maior clareza. — Não é nada, Caleb. Vincente acha ter visto algo
que não viu.
— Parece que alguém bateu com uma barra de ferro em suas
costas. — Ela engasgou com a traição e fulminou o Neandertal com os
olhos.

Ele cruzou os braços sobre seu peito e lhe devolveu o olhar. As


faixas de couro que cobriam uma pequena porção visível de uma
tatuagem em seu pulso largo, chamaram sua atenção. A meia dúzia de
tiras desgastadas não eram luxuosas, exceto pelo pequeno pingente
em uma delas. Um bonito anjo de prata, suas asas dobradas enquanto
se inclinava e cheirava um buquê de flores. Por que a visão dessa
delicada figura de repente fez sua garganta doer, mesmo com raiva
pela audácia deste homem, não sabia.

— Nik? — A nota de alarme na voz de seu irmão tocou seu


coração. — Do que ele está falando?

— De nada. — Insistiu. — É um hematoma. Não é grande coisa.

— Hematomas. Muitos. — Acrescentou Vincente.

— Quer parar de fazer isso? — Bateu o pé com frustração.

Por mais que tentasse pensar em algo aceitável para dizer, a


mente de Nika estava tão em branco como uma lousa nova. Então,
armou-se por alguns instantes com uma vergonha indescritível, abriu
a boca e quase vomitou sua próxima palavra. — BDSM. — Disse
através de sua garganta obstruída.

O silêncio que se seguiu foi semelhante a como Nika imaginou


que soaria o espaço. Nada foi registrado por seus ouvidos, exceto um
zumbido enquanto sua pressão arterial aumentava de maneira
constante, segundo a segundo.

— O que você disse? — O rosto de Caleb se transformou em uma


estranha expressão.

— Submissão e essa merda toda. — Disse Vincente.

— Eu sei o que é. — Disse Caleb e franziu a testa, incrédulo por


um segundo. Não que houvesse algo errado na prática...

— De qualquer maneira, é mentira. — Acrescentou Vincente. —


Brincar com a dor não machuca o corpo do modo que eu acabei de
ver. Agora pare de mentir Ruiva, e nos diga por que está acobertando o
homem morto com quem está casada.

Para salvar a vida do meu irmão! —Quis gritar. Em vez disso,


deixou escapar. — Obrigada por arruinar minha tentativa de fazer
meu irmão se sentir melhor, senhor expert. — Sua necessidade de sair
dali de repente foi como um grito e rugido em sua cabeça. Kevin ficaria
louco.

A menos que de algum jeito pudesse conseguir o cartão de


memória antes que ele começasse a surra, e conseguisse se afastar
dele.

— Vou procurar Eva. — Disse e olhou para a porta. — Ela


responderá por mim. Sabe no que estou envolvida. — Como posso
dizer isso sem rir histericamente? Parou e levantou uma mão quando
ambos tentaram segui-la. — Oh não, não me seguirão. — Se somente
pudesse dizer o que acontecia e levá-los com ela para sua proteção...
Mas não. Porque se não fosse o cartão de memória o que sentiu na
mala, então a evidência contra seu irmão estaria em outro lugar. E se
fosse com estes dois na frente de Kevin, seu segredo seria descoberto.
Ele não hesitaria em enviar esse material à polícia e Caleb iria para a
prisão. Seu irmão perderia sua liberdade e não a recuperaria até ter
cinquenta anos. Não podia deixar que isso acontecesse. — Vocês
fiquem aqui e eu trarei Eva. Já é bastante ruim que a procure em sua
noite de casamento. Não acho que apreciaria falar disso diante de seus
convidados.

Nika girou sobre seus saltos e saiu. Foi só o que pôde fazer para
não tirar os sapatos e correr. Caminhou em um ritmo constante, sem
ser seguida até à escada. Cruzou os dedos quando chegou ao amplo
hall de entrada e sentiu-se culpada por abandonar Caleb. Foi
diretamente à porta principal. Saudou os três guardas e saiu sob o
murmúrio de vozes procedentes da sala de estar.

Enquanto descia pelos degraus de pedra para o táxi que a


esperava — graças a Deus que chegou — Nika rezou como nunca para
ser capaz de sobreviver a essa noite.
Vincente estava cravado no chão no meio do quarto de Gabriel e
Eva.

Nika mentiu. Tinha que ter mentido. O sexo duro não machucava
um corpo da maneira que viu em sua escultural figura. Porra!

Quando saiu do banheiro, depois de pegar o presente que Gabriel


pediu que viesse buscar, viu Nika de pé em nada mais do que um
conjunto de roupa íntima. Quase caiu de joelhos para adorá-la. Mas
então percebeu os hematomas que se espalhavam em sua pele sedosa,
o amarelo, o verde e a coloração cinza neles. Viu as protuberâncias em
forma de folhas em seu ombro, que significavam que as contusões mais
antigas estavam se curando e estavam inchadas quando novamente
recebeu golpes brutais. E a expressão de horror em seus olhos
esmeralda quando se virou para ele, foram uma revelação trágica de
seu segredo.

Essa expressão não era de vergonha sobre sua vida sexual. O


estômago de Vincente saltou, sua garganta apertando ao engolir.

— Não foi sexo que fez isso, Paynne.

— O que você viu?

Caleb parecia doente e odiava acrescentar mais, mas...


— Dezenas de marcas. Algumas antigas e outras não. Profundas
e escuras. Até os ossos... — Ele respirou furioso. — Que porra estamos
esperando aqui? Eu sei que ela mentiu!

Caleb parecia inseguro, mas mesmo assim seguiu Vincente.

— E se não?

— Ela está. — Vincente decidiu há muito tempo sempre ouvir


seus instintos, e esses bastardos gritavam tão forte que sua cabeça
parecia como se estivesse à ponto de explodir. Saber que as lesões
foram colocadas ali pelas mãos de um homem... Merda. O poder de
sua raiva era assustador, até mesmo para ele.

Seu marido a chantageava. Nenhuma outra coisa poderia explicar


por que ficava com o agressor. Kevin Nollan, esse filho de uma cadela
tinha algo contra Nika.

Chegaram ao vestíbulo e a primeira coisa que viu foi Eva rindo de


algo que seu pai lhe dizia. Estavam dentro da sala e quando ela o
olhou, o sorriso deixou de seu rosto.

— O que aconteceu? Caleb? Onde está Nika?

— Disse que desceria para buscar você.

— Eu não a vi depois da cerimônia. Ia procura-la, mas Maksim


disse que todos foram para o quarto e eu não queria interromper.

Maks estava obviamente de olho nas câmaras de segurança.


Vincente, olhou ao redor, e fez gestos para o homem em questão.
— O que fizeram para assustá-la? — O russo arrastou as
palavras e levantou a vodca com gelo para tomar um gole.

— Ela foi embora? — Questionou Vincente. — Por que não fez


soar o alarme, porra?

— Não sabia que deveria fazê-lo. Um táxi parou e ela desceu um


minuto depois. Devemos ir atrás dela?

— Caleb e eu iremos. Não precisamos de um monte de corpos


para chamar atenção.

— O quê? Por que ela se foi? — Exclamou Eva. — O que


aconteceu?

Agora, um Vasily sério colocou um braço em volta dos ombros de


sua filha, enquanto Gabriel caminhava para o grupo com curiosidade.

Caleb esfregou os olhos com as palmas das mãos com tanta força
que Vincente se surpreendeu que suas órbitas não explodissem para
fora de seus globos oculares. Pelas linhas de tensão ao redor da boca e
o tom pálido da pele, estava claro que o pobre homem concordou com
as suspeitas de Vincente. Porra. Iria se desmanchar em culpa a
qualquer segundo. Vincente sabia o que era isto.

— Paynne. Vamos.

O motoqueiro se aproximou e ficou parado como se não soubesse


mais o que fazer. Vincente sentiu algo no peito que doeu. Ninguém,
nem mesmo ele, queria ver um homem como Caleb Paynne caindo de
joelhos assim. E Vincente sabia em primeira mão o choque
entorpecente que se sentia por não ter protegido uma irmã mais nova.
— Para onde? — Interveio Vex, suas botas fazendo um ruído
surdo enquanto também se aproximava com uma cerveja na mão. — O
que aconteceu, irmão? — Disse para Caleb. — Parece que acabou de
ver um fantasma.

— Estávamos certos sobre Nika. — Disse Caleb. Vex congelou,


suas feições endureceram e seus olhos azuis ficaram tão frios como
Vincente viu em Alek algumas vezes.

— Fale comigo, V. — Disse Gabriel. — Onde está Nika? — Olhou


sobre Vasily e colocou Eva ao seu lado.

— Ela foi embora. — Disse sua esposa.

— Paynne. — Repetiu Vincente. — Vamos.

Vex se meteu no caminho e Vincente negou. — Você fica.

— Porra, Romani. — Grunhiu Vex.

Maks se moveu, e parou a poucos centímetros das costas do


presidente dos Obsidian Devils MC.

O padre Russo discretamente começou a sair. Graças a Deus que


podia confiar que o homem não iria dar uma de informante para seu
irmão no segundo que saísse da casa. Isso era tudo o que precisavam
para Lorenzo começar uma investigação e querer fazer isto conforme
as regras.

— Você sabe onde ela está? — Vincente perguntou a Vex, que


ficou tenso antes de negar com a cabeça uma vez. — Bem, eu sim...
então Caleb e eu iremos. — Por alguma razão, apesar de Vincente
sempre ter gostado de Vex, não estava gostando agora.
Provavelmente, era pela forma com que o motoqueiro a admirou
durante toda a noite.

Cansado de esperar, agarrou o irmão de Nika pelo pescoço e o


arrastou para a porta da frente.

— É melhor que respire e acorde rapaz. — Grunhiu no ouvido de


Caleb.

— Dêem mais um passo e vou atirar nessas cabeças teimosas. —


Vincente congelou. Merda. Não tinha tempo para isto. Virou-se e
encontrou o olhar frio de Gabriel. — Quero algo mais do que “ela foi
embora”.

Vincente olhou fixamente para uma Eva agora pálida.

— Diga-nos, Vincente. — Implorou.

— Nollan usa Nika como saco de pancada. Eu mesmo vi a


evidência.

Comoção e horror percorreu o grupo.

— Vá. — Gabriel passou uma mão pelo rosto. — E tenha a


certeza de chamar os rapazes da limpeza quando terminar com ele.
Mas a levem para um lugar seguro primeiro.

— Levem-na para a sede do clube. — Disse Vex enquanto seguia


Vincente e Caleb pela porta. — Encontrarei vocês lá.
Caleb assentiu e entrou no lado do passageiro da caminhonete de
Vincente quando este sentou atrás do volante. Neste ponto, Vincente
não se preocupava com o lugar onde Nika iria ficar. Bastava que
estivesse longe do bastardo que colocou aquelas marcas em seu corpo.

Nika abriu a porta do quarto do hotel com a chave, o que


mostrava o tipo de lugar que era, uma vez que permitia que saísse com
ela. Entrou rapidamente e fechou com o coração dando intensas e
pesadas batidas no peito.

Seu medo aumentou imediatamente, quando sentiu que seu


cabelo era agarrado e puxado para trás. A expressão furiosa de Kevin
pôde ser vista, mas apenas por um segundo. A próxima coisa que
sentiu foi que voava através do quarto. Aterrissou no chão, patinou até
a mesa e bateu no abajur.

O medo afogou o pouco da raiva que restava em seus pulmões


enquanto chutava o sapato que ainda tinha nos pés e ficava de pé.
Bem a tempo de sentir o punho que bateu em seu rosto. Em seu rosto!
Nunca batia na sua face! O que significava que estava louco, perdido.
E ela estaria também.

Nódulos duros se conectaram com sua bochecha e sacudiu sua


cabeça para os lados. E então a dor explodiu atrás de seus olhos.
Caiu com parte do corpo na cama e a outra metade fora. Lutou com
todas as suas forças quando o pesado corpo de Kevin caiu sobre ela.

— Você está morta neste momento. Ouça-me, cadela mentirosa!


— Disse em uma voz que a aterrorizou. — Onde você estava? O que
fez? Com quem fez?

Nika arranhou seu rosto e bateu, dando-lhe um murro forte no


nariz. Depois levantou o joelho e acertou seu lixo inútil. Ficou sem
fôlego, gemendo, mas não diminuiu. Os longos dedos rodearam seu
pescoço e começaram a apertar, sua expressão completamente
maligna. Começou a pressionar cada vez mais, o sangue do nariz
pingando sobre suas bochechas. Pontos negros começaram a salpicar
sua visão enquanto se esforçava para respirar.

Ele ia matá-la. Realmente iria matá-la desta vez.

— Foda-se. — Disse. Não chegou tão longe para deixá-lo ganhar


agora. Apertou os dedos em sua camiseta e jogou o braço para um
lado... mais perto... mais perto... até que alcançou e percebeu que era
o abajur caído. E com todo o resto de força que tinha, bateu com ele
em sua cabeça.

O metal fez um som estranho ao se chocar contra crânio de


Nollan. O atordoou o suficiente para que o aperto em sua garganta se
afrouxasse. Respirou profundamente e o empurrou tão forte como
pôde, apenas o suficiente para sair debaixo dele.

Bateu e arranhou cruzando a cama, mas antes que pudesse


chegar ao outro lado, uma mão pegou seu tornozelo e puxou-a para
trás. Outro punho se cravou nela, desta vez no peito. Poderia jurar que
seu coração parou por um segundo antes de acelerar, bombeando
mais rápido do que nunca. A dor era coisa do passado enquanto Nika
se esforçava para respirar, a sobrevivência estando em primeiro lugar
em sua mente.

— Não se afastará, maldita covarde. Nunca deixarei você escapar.


Você me pertence.

— Não. Não lhe pertenço. — Apertou os dentes. Colocou o


calcanhar da mão sob seu queixo,bateu em sua cara e virou seu
cotovelo o atingindo no olho. Outro grunhido disparou de sua boca.

— Você nunca foi assim, Niki. Merda, eu adoro. — Ofegou. — E


todos os outros também irão. Você verá. Esta é a forma como será
feito. Lutará contra eles. — Envolveu seu cabelo ao redor de seu pulso
e bateu sua cabeça contra um lado da cabeceira. Com a mão livre
capturou um de seus braços.

Com um repentino enjoo, ela acertou um murro em seu rosto e o


anel que usava cortou sua pele, deixando um longo corte que começou
a sangrar.

— Eles lhe darão bofetadas e em seguida, depois de bater muito


em você, quebrar seu espírito, vão fodê-la, Niki. Essa será sua estreia
no mundo da pornografia. Você estará um pouco pior para uso. —
Disse com um sorriso doente enquanto torcia seu braço com força e
colocava a coxa entre suas pernas. — Mas mesmo assim vai transar
com quatro homens amanhã à noite.

Somente sobre o meu cadáver, — pensou através de um tsunami


de pânico diante do que sentia na coxa. Ele estava excitado. Pela
primeira vez em um ano, Kevin tinha uma ereção. Será que devido à
ferocidade com a qual brigavam?

— Nika!

Tudo aconteceu tão rapidamente que mal pôde acompanhar.

Kevin a soltou tão depressa que teria sido cômico se a situação


não fosse tão trágica.

— Nika? Abra a porta! — Vincente voltou a gritar.

Ela viu com horror que Kevin agarrava a mala e corria pela janela
aberta para a escada de incêndio.

Não!

Nika se levantou e se jogou, fechou seus dedos em um punho de


ferro na mala de couro barato.

— Porra, não! — Ofegou, segurando seu olhar enquanto ela


puxava.

Kevin se virou para trás, e puxou até que Nika sentiu a brisa
quente e fétida de seu fôlego sobre seu rosto.

Uma batida forte na porta fez com que os olhos de Kevin se


enchessem de medo, a empurrando de volta para o quarto, e junto
com ela, também a mala. O som dos passos pelos degraus de metal
ecoou em seus ouvidos e Nika cambaleou. Seus pés tropeçaram no
cobertor que havia caído da cama e bateu com a nuca no armário
atrás dela. Ao mesmo tempo, a porta se abriu e seu irmão e Vincente
entraram no quarto bagunçado.

— Nika! — Caleb voou a maior parte do caminho, porque caiu de


joelhos.

Deus, tinha que tirar a água de seus ouvidos, — pensou com


confusão enquanto tentava se concentrar. Sua visão era imprecisa,
fogos de artifício e teias de aranha pretas quase obscureceram sua
visão.

— Faca. — Disse ofegante.

— O quê? Ele tinha uma faca? — A voz de Vincente. Virou a


cabeça ou pensou que fez e o viu ali. — Onde ele está, baby? Porra,
Ruiva! — explodiu. — Por que você não ficou comigo?

O som torturado de sua voz desaparecia dentro e fora de sua


mente. Por que ele estava ali? Realmente tinha perguntado por que
não ficou com ele? E a chamou de baby?

— Faca. — Murmurou outra vez enquanto tentava sentar-se


através das ondas de vertigem que a atingia.

— Qual faca, Nik?

— Preciso... uma faca!

Queria gritar, mas suas palavras saíram fracas e confusas.

— Tome. — Vincente entregou um canivete aberto. Bendito seja!

Ela pegou com mãos trêmulas.


— Escadas de incêndio. — Disse com um suspiro, queria
informar para onde Kevin foi.

Acidentalmente se cortou duas vezes, mas empurrou as mãos de


seu irmão quando quis lhe tomar o objeto. Finalmente abriu o tecido
do lado da mala o suficiente para colocar sua mão machucada e
sangrenta dentro. Seus dedos se envolveram ao redor de um plástico
suave.

E as lágrimas caíram.

Soluços silenciosos saíram de sua garganta e sacudiram seu


corpo enquanto levantava a mão. Segurou-o para que seu irmão visse.

— Eu o tenho. — Sussurrou com voz rouca, áspera. — Nos salvei,


Caleb. Consegui.

Os braços fortes de Vincente foram ao redor de sua cintura para


puxá-la de volta, mas ela manteve seus olhos em seu irmão. Ele
negou, sua expressão era uma mistura de confusão, horror e dor.

— Nik, não entendi.

Ela não conseguiu a energia suficiente para explicar. Não com o


calor do corpo de Vincente de repente ao redor dela. Não com a palma
da mão macia que acariciava tão delicadamente seu cabelo molhado.

Molhado? Por que seu cabelo estava molhado?

Viu sua mão manchada de vermelho brilhante. Foi então que ela
se deixou levar pela névoa da escuridão.
Simplesmente flutuou e desistiu. Longe do seu corpo quebrado.

Vincente observou o gotejamento de sangue até seu pulso e


sentiu um pânico gelado estender-se pelo seu corpo. Sem hesitar
pegou seu celular e chamou Tegan.

— Olá, Vincente. Gabriel disse que poderia...

— O que eu faço com uma ferida na cabeça que sangra muito? —


Sua voz se parecia como um chicote.

— Pegue algo limpo, pressione sobre a ferida e deite-o. Quem é,


V.? Você está bem? — Tegan assumiu o modo médico sem perder o
ritmo.

— Espere. — Agarrou um travesseiro que estava meio escondido


debaixo da cama. Merda. Estava sujo. Tirou sua camisa, puxando-a
por trás da cabeça de Nika. Com a mão na frente, puxou-a de modo
que seu peito agisse como uma parede sobre a pressão improvisada.
Precisava das mãos livres para agarrá-la.

Deixando seu telefone no tapete sujo, falou rápido. — Estou bem.


Nika não. Você ainda está na casa?
— Sim.

— Chegaremos tão rápido quanto for possível. Por favor, T.,


prepare-se. Ela está... mal.

Por que não tinha uma sirene de emergências soando ao longe?


Perguntou-se enquanto desligava. Como podia o hotel e os edifícios ao
redor deles ainda estarem de pé através do redemoinho que distorcia
seus pensamentos? O peso de Nika mal se registrava em seus braços
enquanto ele e Caleb se colocavam em movimento.

— Você está bem para dirigir? — Perguntou ao motoqueiro, cujos


olhos estavam fixos em sua irmã. — Vamos para minha casa, não para
o clube.

— É claro. Que porra ela quis dizer com “nos salvei”? —


Perguntou Caleb enquanto a cor pouco a pouco, muito lentamente,
voltava para seu rosto. — Dê-me as chaves. Levarei a caminhonete à
parte traseira. Na verdade, não, isso nos fará perder tempo. Ninguém
vai nos incomodar com perguntas sobre esta merda de qualquer jeito.

E ele estava certo. Não havia uma só pessoa por ali que deu
alguma importância — e passaram por sete desde o quarto até a
entrada do hotel — e ninguém levantou uma sobrancelha ao ver dois
homens levarem uma mulher inconsciente e sangrando. Vincente
queria se irritar com isso, mas estava muito ocupado tentando
acalmar seu pânico por quão absolutamente imóvel Nika estava.

No segundo em que estavam no banco traseiro de sua


caminhonete, seu corpo estendido ao lado dele, voaram do Brooklyn
para o Old Westbury e pegou o telefone novamente.
— O que acontece? — Exigiu Tegan.

— Ainda está desmaiada. Isso é normal? Passaram-se uns seis


minutos. Por favor, diga que é normal.

— Quão forte foi atingida? Ou foi agredida? Caiu? Preciso de algo,


homem.

— Pelo que parece ela caiu... — Se tivesse caído simplesmente, a


ferida poderia ser tão ruim? — Foi empurrada e sua nuca bateu em
uma cômoda de madeira.

— Ok. O que mais?

— Ela foi agredida. Tem sangue em seu rosto, mas não acho que
seja dela. Não consigo achar a fonte, a menos que tenha mordido a
língua ou algo assim. — Sim. Quando aquele homem, agora homem
morto, cravou o punho no seu rosto. O pensamento o fez rosnar como
um animal.

— O quê? O que aconteceu? — Perguntou Tegan ao som de sua


raiva.

— Nada. Somente... reagi.

— Bem. Vinnie, não se assuste, mas está inconsciente há muito


tempo. Com um golpe na cabeça, apenas deveria estar desmaiada
durante três ou quatro minutos. Agora, isso não significa
necessariamente...

Vincente deixou cair o telefone no banco. Não se assustaria. Não


se assustaria.
Respirou, puxou suavemente o corpo muito quieto, muito bonito
em seus braços e a aproximou mais, rosnando para seu irmão.

— Acelere essa merda, Paynne! Precisamos chegar em casa


agora!

Depois de passar a porta que Vito mantinha aberta, Vincente


invadiu o hall bem iluminado com Caleb em seu traseiro e se dirigiu
para as portas duplas que conduziam ao porão. Com sorte, não teria
ninguém ao redor.

Ótimo. Seus dentes rangeram quando viu Maks, Alek, Quan,


Alesio, Gabriel e Eva, perto da porta que tinha que usar para levar
Nika para o quarto que Tegan usava como enfermaria. Maldito
galinheiro. Exceto Eva, é claro. A pobre criatura parecia como se
estivesse a ponto de se perder. Podia ver isso em seus olhos.

Vasily saiu da sala com seu médico particular, Yuri Davidenko,


em seus calcanhares. Vincente relaxou muito mais vendo o brilhante
doutor, sem se preocupar com o porquê de estar ali de repente quando
não estava antes. Dois médicos eram melhores do que um.

Seus passos não hesitaram enquanto apontava para as portas já


abertas, com a esperança de passar através da multidão. Mas Eva o
impediu com uma mão em seu braço. Sortuda. A única em quem não
daria um golpe no nariz para que saísse do seu caminho.

— Vincente?

Ele olhou para um Gabriel sombrio com a testa franzida.

— Depois.

— Ela está bem?

Era evidente que ela não notou o cabelo emaranhado com sangue
de sua amiga. Também estava claro que Tegan não contou os detalhes.
Vincente não olhou para Eva. Não podia.

— Está inconsciente. — Disse com os dentes apertados. — Por


favor Eva, deixe-me levá-la para baixo.

— Sim, é claro. — Sua voz tremeu como se estivesse em uma


montanha russa.

Os braços de Vincente se apertaram ao redor de Nika e começou


a se mover novamente descendo pela escada larga. Atravessou a sala
de estar com sua enorme área de bar e o espelho na parte de trás. Foi
para à esquerda em vez da direita, que o teria levado por um corredor
e para além da sala de conferências, onde havia dois quartos de
hóspedes, e finalmente, a suíte de Maksim. Desta maneira, iria para a
área do ginásio, ao escritório de Maks e à sua enfermaria improvisada.
Não era o mini hospital de Yuri, onde se podia realizar uma cirurgia,
mas serviria. Depositou-a sobre a mesa de metal e saiu do caminho de
Tegan, que puxou uma bandeja de instrumentos, deixando espaço
para que Yuri pudesse chegar até ela. Moveu-se até o final da mesa e
colocou uma mão ao redor do tornozelo de Nika. Por alguma razão,
precisava da conexão enquanto observava a brilhante cabeça do russo
descer para poder ver a ferida.

— Meeerda. — Amaldiçoou Yuri, apesar de sua expressão se


manter impassível. — Desmaiou imediatamente ou ficou lúcida
durante um tempo depois do golpe?

Suas palavras foram breves e profissionais, seu inglês era perfeito


apesar de seu sotaque.

— Estava agitada, mais ou menos três minutos antes de


desmaiar. — O suspiro de alívio que chegou aos seus ouvidos foi um
presente do céu, assim como as palavras.

— Isso é bom. Muito bom.

Vincente moveu-se até à mesa, mantendo sua mão na pele de


Nika o tempo todo. Em seu pé, panturrilha, joelho, coxa. Puxou seu
vestido até uma altura decente e pegou sua mão enquanto Tegan
dirigia uma luz para seus olhos, que estavam opacos e turvos debaixo
de suas pálpebras. Ele olhou para baixo enquanto desdobrava o
punho do vestido de Nika para poder segurar sua mão e viu o cartão
de memória USB. Segurava com tanta força, mesmo inconsciente, que
deixou uma marca na palma de sua mão. Pegou e deu um passo para
trás quando Tegan lhe deu uma cotovelada nas costelas.

— Fora daqui Vinnie. Vamos costurá-la.

Sua voz de — não foda com o médico — o fez mover-se lentamente


para a porta. Merda. Ele não queria sair. Queria ficar. Queria estar ali
quando acordasse, caso sentisse medo. Não queria deixá-la, como fez
em Seattle. Como pôde fazer isso? Falhou com outra inocente a quem
deveria ter protegido. Ignorou o que claramente reconheceu como
medo em seus olhos no dia em que o beijou. E voltou para Nova
Iorque, a deixando sozinha para lidar com isso.

O que aconteceu com Sophia não lhe ensinou nada à respeito


disso?

— Vincente! Fora!

Virou-se com o grito de Tegan e quase caiu sobre Caleb, que


entrava no corredor.

— O que é isto? — Perguntou e segurou o cartão. O motoqueiro


sacudiu a cabeça, com os olhos em sua irmã.

— Não sei, V.

— Vamos ver então. Maks?

Maksim abriu a mão e Vincente deixou cair o objeto em sua


palma. Todo mundo, exceto Vasily e Eva, caminharam para trás do
bar para o conjunto dos sonhos de computadores de Maksim. As telas
cobriam as paredes, os teclados se mostravam on-line. Notebooks,
torre, controles e botões cobriam cada superfície. Parecia a espaçonave
Enterprise.

O fã da tecnologia sentou-se em uma enorme cadeira preta de


couro digna de um rei, e colocou o cartão de memória em uma entrada
USB. Apontou para a grande tela no meio de uma meia dúzia de
outras.
— Está aqui. — Murmurou enquanto teclava. — O arquivo se
chama número um.

Vincente e Caleb, Gabriel e Quan, Alek e Maks, todos ficaram em


silêncio enquanto olhavam para a tela azul. Vasily entrou na sala
enquanto uma imagem aparecia. Um pátio com ervas daninhas. Perto
de um alambrado.

Ninguém ao redor, exceto três coletes dos Obsidian Devils e um


agressor solitário.

Durante quase três minutos observaram as cristalinas imagens.


No final, o agressor estava morto. Pela mão de Caleb Paynne.

Prova suficiente para colocar o motoqueiro atrás das grades por


um tempo muito longo. Tudo o que Nika passou, o porquê de ter ficado
com seu agressor por tanto tempo, de repente tudo se encaixou.

— Ela passou por tudo isso... por você. — Disse Vincente no


silêncio que se seguiu.

— Merda. — A voz de Gabriel foi amortecida pelas mãos ao


esfregar o rosto.

— Amigo. Porra, me desculpe!

Vincente se virou diante do mais absoluto e sincero pedido de


desculpa que ouviu de Maksim. Seu controle se rompeu e a raiva
esmagadora que reprimia encontrou a saída que procurava.

— Você sente? Você sente por ele? — Gritou para seu amigo. — O
que porra está errado com você? Ele não foi constantemente agredido e
sabe Deus mais o quê. Ele não estava lá numa luta por sua vida, por
quem sabe quantas vezes. — Virou-se para Caleb, e todo o ódio pelo vil
bastardo Kevin Nollan penetrou em suas palavras. — Todas as vezes
que foi para a puta prisão em que ela vivia, você vai me dizer que
nunca viu nada que lhe desse uma pista do que acontecia? Uma coisa
que não se encaixasse? Uma arma ou talvez uma mordaça que
provavelmente foi empurrada por sua garganta para que não pudesse
pedir ajuda? Bem, mas a quem teria chamado? — Deixou a resposta
suspensa no ar. — Por que não obrigou sua irmã mais nova a dizer-lhe
a razão pela qual ficava com um animal desses? Por que você
permitiu? — Gritou. — Por que não queria lutar contra isso? Por ela?
Você não queria lutar com ela?

— Vincente! — A voz de Vasily era aguda, seu tom cheio de


desaprovação. Aproximando-se, tocou seu ombro e o apertou em sinal
de advertência. — É sufic...

Vincente afastou-se do agarre, enquanto pensava nos horrores


que as mulheres indefesas viviam nas mãos dos homens em suas
vidas. Para não falar dos estranhos que as agrediam. O horror era mil
vezes pior porque homens como Paynne ou pessoas como os vizinhos
de Nika, optavam por fazer vista grossa ao que acontecia embaixo de
seus narizes. Como que nenhuma pessoa notou uma garota de
dezesseis anos sendo empurrada para dentro de um carro enquanto
caminhava para sua casa na volta da escola em um dia brilhante e
ensolarado? Ele mal piscou para a mudança em seus pensamentos.
Ou se notaram, decidiram que não era de sua conta e resolveram não se
envolver? Ouviram os gritos de angústia de Nika e simplesmente
subiram o volume em seus televisores para abafá-los?
Primeiro Sophia. E agora Nika...

Seus olhos ardiam e falou com uma voz estranhamente calma:

— Ela sofreu o abuso para que você não tivesse que viver em uma
cela. Entendeu isso?

Gabriel se adiantou.

— V., acho que você poderia...

Mas Vincente não terminou.

— O que você fez por ela, Paynne? O que você fez para salvar sua
irmã desse monstro? Fazer com que Vex visse alguns registros
bancários depois de quase um ano de casamento? Sim. Isso foi o que
você fez. — Sua visão se sacudiu pela culpa, o remorso e o ódio contra
si mesmo. — Eu teria matado uma centena de homens por minha irmã
mais nova! — Gritou. — Se a tivesse encontrado à tempo, teria matado
todos!

Houve um silêncio impressionante.

Em seguida seus amigos amaldiçoaram e os gestos de simpatia se


misturaram com a respiração ofegante de Vincente.

Ups... Merda.

— Eu sabia que isto viria. — Murmurou Vasily enquanto se movia


para ficar diante de Paynne. Agarrou o motoqueiro pelo queixo com
sua grande mão tatuada e aproximou seu rosto do dele. — Apesar do
que ele acabou de dizer, isto não foi sua culpa. Sua irmã é claramente
uma vítima. Mas foi sua escolha não envolver você na situação.
Provavelmente teria feito o mesmo por ela, se fosse o contrário. Não
falte com respeito às decisões dela. Você me entende, garoto?

Quando não obteve resposta, Vasily bateu sua testa na do


motoqueiro e lentamente saiu da sala.

Os sentidos de Vincente levaram um tempo para se alinhar


novamente. E quando isso aconteceu, desejou retirar o que disse. Que
porra ele acabou de fazer? Puniu este homem quebrado por não proteger
sua própria irmã?

A indignidade de suas ações caiu sobre ele enquanto olhava ao


seu redor. Viu a cautela nos olhos dos seus amigos, uma vez que
pronunciou aquelas poucas palavras sobre o ano negro que o mudou
para sempre.

— Caleb. — Endireitou-se. — Merda, irmão... Sinto muito. — O


que ele fez? As palavras não podiam ser retiradas depois que foram
pronunciadas. Não importava o quanto se desculpasse. Ele sabia.
Vasily estava certo, foi escolha de Nika. Vincente sentiu vergonha de si
mesmo.

Os dedos frios de Caleb agarraram seu pulso, seus olhos


castanhos atormentados.

— Você tem razão, V. Vasily... — Calou-se, olhando para a porta.


— Não sei. — Colocou seu olhar novamente em Vincente. — Mas não
retire suas palavras agora. Porque você está certo. Eu fodi... tudo.

Vincente negou essa admissão muito familiar.


— Eu falei de um lugar em que não tinha direito a...

— Isso não muda nada. — Insistiu Caleb com voz plana.

— Sim, sim. — Disse Maksim com firmeza. — Vasily estava certo,


concorde ou não. Sua irmã fez isto por decisão própria, optou por lutar
com ele. Provavelmente ela lhe dirá a mesma coisa. Já verá.

Caleb virou-se e Vincente teve sua primeira visão do que ele vivia
a cada dia de sua vida. Viu em primeira mão o que seus amigos eram
obrigados a olhar todos os dias.

A culpa e uma incrível quantidade de dor pela tragédia de uma


garota inocente.

Algo que seu irmão mais velho deveria ter evitado.


Sem conseguir conversar mais, Caleb afastou-se da companhia
de Vincente e seus amigos. Arrastou os pés pela porta e saiu pelo
corredor. Não sabia para onde ir, mas qualquer lugar era melhor do que
onde estava.

Sentia-se entorpecido, sua mente tão cheia com essa tragédia que
se sentia vazio. E seu coração, seu coração sangrava rios de sangue,
uma fonte sem fim enchendo o poço de desespero e dor que havia ao
seu redor.

O que eu fiz?

Não podia encontrar uma resposta. Não podia fazer seu cérebro
se esforçar o suficiente para sequer tentar.

Seu coração continuava a bater, lentamente como se tentasse


decidir se queria dar a próxima batida.

Pela primeira vez em sua vida, Caleb quis morrer.

Correção. Queria o esquecimento que a morte traria. Queria que


sua mente se limpasse do horror que acabou de presenciar. Um horror
que ela aguentou por causa dele. Uma tragédia que poderia, deveria ter
evitado, mas que não impediu porque não queria incomodar sua... sua...
Uma imagem de Nika quando menina de repente encheu sua
mente. Voltou à sua infância, para um dia em que ela quis juntar-se a
ele e a seus amigos na casa da árvore, que seu pai ajudou a construir
em um grande espaço aberto no canto de seu quintal. Nika tinha
muito medo de subir a escada sozinha, por isso Caleb subiu os
degraus um a um com ela, e manteve o pequeno corpo magro entre
seus braços. Sentia seus cabelos brilhantes que batiam em seus olhos
e lhe faziam cócegas no queixo, enquanto a segurava para que não
caísse de costas no chão duro. O olhar de adoração que lhe deu, uma
vez que sentou seu traseiro de oito anos no chão de madeira
compensada da fortaleza, fez com que seu coração de doze anos se
inchasse de orgulho. Tinha se sentido como um cavalheiro de
armadura brilhante.

Uma dor aguda subiu por suas pernas quando seus joelhos
bateram no chão de madeira com um ruído surdo.

Sua irmã. Sua linda, encantadora, efervescente irmãzinha, a quem


durante todo o ano passado, viu transformar-se em uma sombra de si
mesma e não fez uma maldita coisa à respeito.

Sua garganta apertou e a respiração parou. Não quis deixá-la


mais infeliz do que já estava. Manteve-se com os braços cruzados,
negou-se a pressioná-la mais. Não quis colocar um fim em sua tortura,
para não fazê-la infeliz.

A ironia disso era incrível.

Ele mal sentiu as mãos pesadas sob suas axilas. O levantaram,


arrastaram, e depositaram suavemente em algum lugar nas almofadas
do sofá. Levantou os olhos a tempo de ver a expressão de empatia de
Alek, antes que o homem desaparecesse pela escada.

— Ela ficará bem. — Maksim entrou também, sua voz acentuada


sobre o tinir do gelo que colocava em dois copos. — Você ficaria
surpreso com o quanto a mente pode lidar e ainda conseguir funcionar
normalmente.

— Ela me fez prometer. — Encolheu-se. As palavras o


envergonhavam porque soavam como uma defesa. Mas as repetiu
porque precisava se lembrar da insistência de Nika. Da razão pela qual
deu sua palavra e deixou que seu abusador continuasse seu jogo
doentio. — Tantas vezes porra, me fez prometer ficar fora disso. Pensei
que talvez Nollan estivesse a traindo e que estava esperando para dar
o troco.— Soltou uma gargalhada de incredulidade por ser tão idiota.
— Deveria ter feito algo. Qualquer coisa. Deveria ter investigado antes.
Encontrado algo. Mas não o fiz. Não fiz uma maldita coisa por Nika. —
Fechou os olhos e voltou a ver sua irmã estendida no chão daquele
quarto de hotel sangrando.

— Agora já foi, irmão. Isso vai fodê-lo o tempo todo. — O grande


russo parou quando derramou um pouco de líquido nos copos. — Sua
irmã tentou protegê-lo. Como disse Vasily, respeite-a porque teria feito
o mesmo por ela. Me parece fascinante o quão longe foi. O sacrifício
não é algo que eu entenda. Talvez pudesse falar com Gabriel sobre
como enfrentar os pesadelos que todos sabemos que tem, sobre Eva
naquela cabana com Stefano e Furio. Sua esposa optou em ir para a
morte por ele e seu pai. Quem faz merdas assim? — Riu e colocou a
tampa na garrafa antes de pegar as bebidas. — Respeito muito as
mulheres. De qualquer jeito, fale com Gabriel. Veja como ele enfrenta
isso. Se é que consegue. Entretanto, não acredito que nenhum de nós
se sinta confortável que alguém mais aguente merda em nosso nome.
Nenhum de nós sentimos que valemos à pena. Certo?

Absolutamente. Nunca foram pronunciadas palavras mais


verdadeiras. Mas a culpa continuou na mente de Caleb.

— Ela estava errada. Porra, estava tão errada ao ter feito isto por
mim!

Maks colocou um copo na mão de Caleb antes de se sentar em


uma cadeira de frente à ele.

— Acho que não. Os “o que aconteceria”, “deveria ter”, “se


houvesse”, “devia”, são uma perda de tempo meu homem. —
Continuou no mesmo tom de acredite em mim, eu sei. — A única coisa
que pode fazer agora é deixá-la saber que está aqui. Apoiá-la. Dizer
que está agradecido. Ajudá-la a se recuperar disto. E o fará.

Caleb viu o bastardo intimidante engolir a metade de sua bebida.


Então os misteriosos olhos prateados de Maks se encontraram com os
seus e o conhecimento e dor nesse olhar o chocou.

— E um conselho. Não se ofenda com V. por unir-se ao clube do


deveria tê-la salvo. O cara nunca mais foi o mesmo depois que sua
irmã mais nova foi estuprada e assassinada.

Caleb não sabia que Vincente perdeu uma irmã.

Maksim o colocou a par dos detalhes do sequestro de Sophia. A


forçaram a desenvolver um vício às drogas. Sua morte por overdose
era algo que Vincente raramente mencionava e escolheu guardar para
si mesmo.

— Essa dor interminável com a qual viveu durante mais de uma


década, obviamente saiu para fora durante seu discurso. Lembre-se
das minhas palavras, Paynne. Ele estará ali para sua irmãzinha... da
maneira que não pôde estar para a dele.

Vincente seguiu Tegan para a enfermaria. O som de um jogo de


bola que vinha de alguma parte parecia absurdo, mas permaneceu
apenas como um ruído de fundo.

Quis falar com Caleb, mas no último minuto decidiu dar-lhe um


pouco de espaço. Isso é o que iria querer se estivesse na situação do
motoqueiro. Muito espaço. Mas então, ele era desse jeito. No final,
deixou Maksim falar com ele.

— Ah, está acordada.

Prestou atenção no comentário com voz suave de Tegan. Nika


estava deitada de lado na cama de casal, onde esteve depois que a
costuraram. Notou que a faísca vibrante que normalmente havia em
seus olhos, desapareceu, sendo nublada pelas drogas. Ele não gostava
disso.
— Onde está o cartão de memória?

Sua voz era rouca e grossa, a qualidade musical se foi. Outra


coisa que ele não gostou.

Talvez se isto continuasse, sua atração por ela morreria.

Ou não, pensou no próximo batimento cardíaco, enquanto a


encarava. Sentiu algo reconfortante. Incapaz de evitar, levantou a mão
e tirou uma mecha de cabelo brilhante do canto de seus lábios
perfeitamente formados. Tinha várias mechas na bandeja prateada ao
lado. Yuri ou Tegan devem ter raspado um lugar no couro cabeludo,
afim de dar pontos no ferimento. Odiava isso, mas pelo menos não
haveria necessidade que fosse se preocupar com isso, já que estava em
um lugar em que ninguém seria capaz de ver.

Limpou a garganta, deixou cair seu braço e tirou do bolso o artigo


solicitado. A imagem de seu corpo machucado, encheu sua mente.
Recebeu esta surra sobre todas as marcas que já tinha. Teve que
apertar os olhos para bloquear esse conhecimento e tirar o foco disso
tudo. A gravação de Caleb implicaria facilmente o motoqueiro, sua
imagem foi capturada perfeitamente, quase como se a câmera de
segurança tivesse sido direcionada especificamente para ele.

Maks descobriria se foi exatamente assim.

Vincente estendeu o cartão de memória, mas Nika nem sequer


olhou para ele. Continuou o encarando, uma estranha expressão de
perplexidade estava em seu rosto. Parecia como uma vítima de um
acidente que tentava compreender o que lhe aconteceu. Não tinha
dúvida de que estava tendo dificuldade para conseguir processar os
pensamentos com todos os medicamentos em seu sistema.

— Não sou uma pessoa ruim, sabe. — Murmurou o


surpreendendo. — Eu não merecia o que ele me fez.

— Jesus Cristo, eu sei disso, baby. — Assegurou baixinho. Foi


tudo o que pôde deixar sair depois de ouvir suas palavras e de ver o
inchaço arroxeado em sua bochecha.

— Ele apareceu no meu escritório em setembro do ano passado.


Nem sequer chovia naquele dia. — Refletiu, sua expressão distante. —
Não o via por mais de um ano. Eu mal sabia quem ele era, apenas que
costumava passar um tempo no clube de Caleb. Usava aquela camisa
xadrez horrível. — Fez uma leve careta. — Perguntou-me se eu
gostaria de ir tomar um café com ele. Disse que queria falar comigo
sobre meu irmão. — Fechou os olhos enquanto balançava a cabeça. —
Nos sentamos no Starbucks e me contou sobre um vídeo que tinha,
que poderia colocar Caleb na cadeia pelo resto da sua vida. Depois
levantou-se e foi embora. Disse que entraria em contato comigo no dia
seguinte para me dizer como a situação se resolveria. — Sua voz ficou
mais rouca, como se tentasse imitar Nollan. — Você irá me fazer um
homem muito feliz, Niki, foi o que disse no meu ouvido antes de se
afastar.

A promessa de Vincente de bater em Nollan até o ponto que nem


mesmo as lembranças dele existissem, depois que o bastardo
sangrasse rios por seus pecados, consolidou-se ao ver sua ruiva lutar
com sua história.
Nika o olhou nos olhos e disse solenemente. — Não volte a me
chamar de Niki, ok?

— Nunca. — Um voto que manteria até o final.

— Ele me disse a mesma coisa em nossa noite de núpcias. —Você


irá me fazer um homem muito feliz, Niki. Eu pensei que queria dizer
sexualmente. Mas graças a Deus, não pôde fazer isso. Não comigo, de
qualquer maneira. Embora acho que poderia tê-lo feito esta noite. —
Estremeceu com tanta força que seus dentes bateram e Vincente viu
que arrepios cobriam a pele perfeita de seu braço que aparecia por
baixo do lençol branco com que se cobria.

O que quis dizer com não pôde fazer isso?

— Até esta noite...? — Questionou vacilante, sentindo o medo


percorrer sua coluna.

— Excitou-se quando o enfrentei esta noite. Teve uma ereção.


Isso nunca aconteceu antes. Essa foi a maneira que Deus ou quem me
observava, encontrou para me ajudar. Nunca tive que sofrer ter
relações sexuais com ele.

Vincente piscou algumas vezes, certo de que seus olhos tentavam


saltar do seu rosto. Não sabia se sentia alívio ao saber disso ou
remorso por esta tragédia.

— Ele me fez comprar duas passagens para Las Vegas uma


semana depois que nos encontramos pela primeira vez no café. —
Continuou. — O cara que nos casou estava muito drogado. Não sei
como leu as palavras certas, já que olhava mais para meus seios do
que para os papéis em suas mãos. Mas fez, e quando voltei para
Seattle era a senhora Kevin Nollan. Ele gostava de me chamar de
escrava porque sabia que eu odiava.

Estremeceu novamente e Vincente teve que relaxar


deliberadamente o aperto no cartão de memória, antes de esmagá-lo
até virar pó. Pela segunda vez desde que conheceu esta mulher, se
esqueceu de como respirar. Maldição. Porra. Mas desta vez, não era
pela forma como o olhava. Não. Esta asfixia se devia às emoções
negativas que o percorriam. Eram malévolas, nocivas, escuras e cheias
de dor.

Kevin Nollan logo pagaria.

— Não sou uma má pessoa, Vincente. — Murmurou novamente.


— Não vou à igreja, mas sempre fiz o meu melhor para ser boa, para
ajudar no que pudesse. A menos que o indivíduo que se senta na
calçada e segura uma caneca, tenha sapatos que custem mais do que
os meus. Eva e eu costumávamos ser voluntárias o tempo todo
enquanto crescíamos. Ela tornava divertido, não importava o que
fazíamos. Você sabia que meu irmão tem mestrado em Educação
Especial? Ele é um bom homem. Foi para a Universidade de Seattle, e
Eva e eu costumávamos acompanhá-lo quando fez seu CO-OP1 no The
Alliance. Nos ajudaram a escolher nossa universidade.

Ao ouvir um eco de solidão em sua voz, Vincente se aproximou da


cama e ofereceu o pouco consolo que podia, ao passar seus dedos pelo
seu braço.
— Você não tem que me dizer essas coisas, Ruiva. Sei que Caleb é
um bom homem. — Apesar do que insinuou há meia hora, pensou se
encolhendo. — E sem que tivesse me dito uma palavra, já sabia que
tipo de pessoa você é. — Tocou uma mecha de seu cabelo. — Ilumina
toda a sala quando você está nela, baby. O que poderia ter de ruim
nisso?

Ela assentiu, mas não pareceu muito convencida.

Outro tremor a sacudiu e ele procurou um cobertor. Parou


quando ela disse:

— Você poderia se deitar comigo? Eu não consigo me aquecer. —


Antes que pudesse responder, ela continuou — Alguma vez já sentiu
que mesmo em uma sala lotada, você está sozinho, Vincente?
Ultimamente, me sinto assim o tempo todo. Foi tão difícil ser a única
que sabia o que acontecia. Às vezes, quando ele terminava de bater em
mim, eu me sentava ao lado da banheira e desejava que houvesse
alguém com quem pudesse contar, somente para não me sentir tão
sozinha. Mas eu não faria isso com Eva. E Caleb não poderia saber.

Enquanto se identificava com o que Nika falava, Tegan moveu-se


de onde esteve de pé com os braços ao redor de si mesma. Deslocou-se
como uma sombra silenciosa. Ele olhou para sua amiga de muitos
anos, enquanto colocava um cobertor azul macio que estava nos pés
da cama sobre Nika. Com rastros de lágrimas em suas bochechas, os
olhos azuis brilhantes de umidade, indicou-lhe que fecharia a porta e
então se foi.
O suor floresceu na nuca de Vincente com a intimidade do que
estava à ponto de fazer. Deixou de lado seu desconforto, e sem dar a
oportunidade de pensar nisso ou arrumar uma desculpa para sair dali
rápidamente, indicou a Nika que se deslocasse mais para o canto da
cama. Ela mudou-se com cuidado, cedendo um espaço para ele que se
deitou de costas, ao lado dela. Segurou a respiração enquanto se
movia para ficar ao seu lado.

Oh... homem.

Colocou seu braço ao redor dela e fechou os olhos para sentir sua
suavidade pressionada contra suas costelas. Sua longa perna passou
sobre a dele e seu cabelo sedoso fez cócegas em seu pescoço, enquanto
colocava a cabeça debaixo do seu queixo. Seu braço descansou sobre
seu estômago, como se quisesse segurá-lo onde estava. Ela parecia
precisar da conexão com outra pessoa e Vincente tentou ignorar o
quanto estava familiarizado com isso. Parecia que ela tinha verbalizado
o que sentiu há alguns anos: sozinho em uma multidão.

— Não me senti tão segura por um longo tempo. Você é tão


grande. — Disse ela distraída, enquanto levava a mão em seu peito até
alcançar o precioso colar de dente de lobo que usava e brincava com
ele. Colocou-o sobre a camiseta preta que Quan deu-lhe antes, já que
sua camisa foi arruinada pelo sangue de Nika. Depois, pegou uma
mexa de seu cabelo, enrolando em torno do seu dedo da mesma forma
que a viu fazer com o seu. — Eu adoro seu cabelo. — Levou-o ao seu
nariz e cheirou.

Vincente relaxou um pouco e a observou. Ele não acreditava que


alguma vez fez isto com uma mulher antes; apenas deitar-se com ela e
lhe oferecer conforto e calor. Era agradável. Sentia-se bem. Muito bem.
Se não tomasse cuidado, Nika poderia fazê-lo esquecer todas as razões
pelas quais deveria manter-se afastado dela. Tão inocente como era
estar aqui com ela, também era perigoso, já que o fez sentir algo. Coisas
bonitas. E isso nunca durava, certo?

— Quantos anos você tem, Ruiva?

— Farei vinte e cinco em novembro. Kevin disse que poderia ser


bom comigo no meu aniversário. Esse seria meu presente. Pensei que
me deixaria entrar em contato com meu irmão. No ano passado, não
me permitiu ligar para Caleb. Por isso, ele não chegou a me desejar
feliz aniversário nesse dia. Sei que isso o incomodou. Meu pobre
irmão. Não choro muito, mas fiz isso naquela noite. Talvez devesse
fazer isso mais vezes. Ouvi dizer que purifica. Que limpa você.

Sua voz era suave e tranquila enquanto rasgava seu coração aos
pedaços. Muito tranquila. Ela sofreu e atravessou um inferno que a
maioria das pessoas não podia nem imaginar. E falava assim
casualmente sobre isso hoje? Ela iria explodir. Sabia disso.

Veja o que aconteceu com ele há alguns minutos com seu irmão.
A merda que engarrafou não ficaria guardada para sempre.

Mas, como ela disse, precisava ter alguém com quem falar sobre
tudo o que passou. Esteve sozinha durante tanto tempo... seria bom
ser livre agora e tirar um pouco de peso de seu peito ferido,
especialmente em sua neblina induzida por analgésicos.

Mesmo se esse alguém fosse Vincente.


— Onde estão seus pais, baby?

Um pequeno sopro de ar saiu de sua boca, como se tivesse


bufado sem uma grande quantidade de energia.

— Eu achei que tinha imaginado você me chamar assim. — Disse


suavemente, e o deixou atordoado pela satisfação que havia em seu
tom. — Eu gosto. Faz com que me sinta bem. Como tudo com você.
Por alguma estranha razão, me faz sentir... alguma coisa. Não sei o
quê. Apenas algo. Não tenho me sentido muito bem ultimamente,
então obrigada por isso. Eu não gostei do jeito que me olhou no
casamento, no entanto. Mas entendi. Ao menos agora sabe que não
sou uma pessoa desleal e enganadora. Não beijei você em Seattle com
um marido desatento me esperarando em casa. Eu nunca fui
realmente casada.

Na verdade, não achou que estivesse bem casada. Realmente não.


Mas não mencionou isso. O ruído de passos chegou do corredor e ele
ficou rígido. Quem quer que fosse, passou ao longe e pôde relaxar
novamente.

— Minha mãe morreu de câncer quando eu era pequena e meu


pai morreu do mesmo quando eu tinha dezoito anos. — Respondeu
Nika à sua pergunta anterior, sem saber que a cada palavra, o
parafuso ao redor de seu gelado coração se apertava. — O pobre Caleb
ficou preso comigo.

— Seu irmão a ama. — Assegurou, e pensou no tratamento


injusto que teve em sua curta vida. Tantas perdas, sob camadas de
um grau de abuso que nenhuma pessoa inocente deveria ter que viver.
Como seguiu adiante, porra?

— Eu o odeio, Vincente. — Suas sobrancelhas se ergueram até


que esclareceu. — Odeio tanto Kevin que me assusta. Porque não
quero nada mais na vida do que vê-lo morrer. Uma e outra vez. Não
pode ter permissão para machucar mais alguém. Há algo de ruim nele.
Ele está louco. Tão paranoico e delirante... Ele se recusou a fazer
cópias do vídeo do Caleb no ciberespaço com medo de que alguém o
encontrasse. — Citou isso com os dedos de uma mão no ar. — Não
tem nem sequer uma conta bancária ou licença para dirigir. Disse que
não queria que o governo pudesse manter controle sobre ele.

Vincente quase zombou alto. Era mais como se o idiota não


quisesse que as autoridades estivessem em seu rastro para condená-lo
pelo assassinato de sua família.

— Suponho que seja outra coisa boa. Ao menos sabemos que o


segredo de Caleb está seguro conosco. Queria ter encontrado antes.
Meu irmão não merece ir para a cadeia. Embora não esteja certa do
porquê matou esse homem, sei que deve ter uma boa razão. — Fez
uma pausa e ficou calada por um momento antes de continuar. —
Quando chegou o convite para o casamento de Eva, sabia que viria à
Nova Iorque e que poderia me salvar. Sabia que Kevin não deixaria a
evidência para trás. Assim é como se sente ao ser um vencedor,
Vincente? Porque não me sinto muito bem.

Com o coração doendo, tentou processar com rapidez tudo o que


ela disse. — Vai melhorar. — Mentiu. Nada ficou melhor para ele depois
que Sophia morreu. Por que teria que ser diferente para Nika? — Por
que não disse para Caleb o que acontecia? Ele e Vex poderiam ajudar.
Teriam se encarregado de Nollan e depois destruído esse material. Ou
Gabriel. Ou eu.

Ela negava com a cabeça antes mesmo que ele terminasse de


falar. Isso fez que seu aroma enchesse o ar ao redor deles e o permitiu
inalar seu cheiro de laranjas e jasmim, mesmo sobre todo o cheiro de
antissépticos.

— Porque não tinha certeza se podia acreditar em Kevin ou não.


E se estivesse jogando comigo? E se não fosse tão paranoico como me
levou a acreditar e tivesse feito cópias? E se algo lhe acontecesse e
outra pessoa enviasse a evidência à polícia? Não podia confiar nele. E
por mais que procurasse, não conseguia encontrar onde guardava
essa coisa. Então, como Caleb, você ou Gabriel poderiam encontrar?
Por tudo o que sabia, Kevin o escondia atrás de um contêiner de lixo a
duas quadras do apartamento. Se ele se fosse, alguém mais poderia o
encontrar e enviar as imagens. Não sei. Talvez tenha fodido tudo. Feito
tudo errado. Tentei fazer o melhor que pude.

Deu-lhe um suave aperto.

— Ouça, você fez muito bem, baby. Na verdade, fez o que pensou
ser certo em uma situação de merda. Ignore-me... só pensei em voz
alta. — Vincente olhou para baixo enquanto passava os dedos por seu
cabelo. Tantas cores: dourado e vermelho vibrante. O jeito que ela
inclinava a cabeça para que ele pudesse alcançar mais longe, lembrava
um animal que implorava por um toque gentil. Cedeu, mas teve a
precaução de manter-se afastado da área onde estavam seus pontos de
sutura. Esperando que não estivesse cometendo um erro, moveu sua
outra mão e colocou o cartão de memória em seu peito diante dela. —
Você mesma pode destruí-lo.

Ela fez uma careta quando se apoiou sobre um cotovelo, e o


pegou com uma mão que tremia levemente. Porra, ela era linda.

— O que acontece se houver mais?

— Então eu as encontrarei.

— Por quê?

Ele hesitou.

— Perdão?

— Por que você se importa? Por que você me ajudaria? A nós?

Merda. Se essa não era uma pergunta perigosa. Uma que


facilmente, dependendo da resposta, explodiria bem no seu rosto.
Agradeceu por uma batida oportuna na porta que o salvou de ter que
responder.

— Deve ser Caleb. — Murmurou, saindo do seu abraço e


reprimindo um gemido de decepção quando o calor do seu corpo se
dissipou imediatamente.

O que eu poderia dizer em resposta à sua pergunta? Que minhas


ações realmente não tinham nada a ver com ela? Que queria matar seus
dragões porque não tinha matado os de Sophia?

Essa seria a verdade. Ele queria fazer isso, por essa razão.
Mas não teria sido toda a verdade. Porque também queria fazer por
ela. Queria que se sentisse segura e livre para viver sua vida como
quisesse. E isso não tinha nada a ver com qualquer outra pessoa.

Nika observou Vincente através de um estado de estupor


nebuloso, aflito, enquanto seu grande corpo se movia facilmente
através do quarto para abrir à porta. Seu irmão mais velho estava de
pé no corredor. Seu pobre irmão, com o maior sentimento de culpa de
quem tentou muito evitar tudo isto. As lágrimas a sufocaram pela
agonia que pôde ver nos grandes olhos castanhos dele. As tatuagens
de adagas em seu grosso pescoço ondularam enquanto engolia,
obviamente lutando contra as emoções tão fortes como as dela.
Levantou os braços pesados e os agitou com impaciência.

— Venha aqui. — Sussurrou.

Ele estava sentado ao seu lado um segundo depois, a puxando


para seus braços. Deus, maravilhou-se, era tão cuidadoso para um
homem tão grande. Mas mesmo sendo tão suave como era Caleb, este
abraço doía muito.

Ouviu a porta se fechar suavemente, soube que Vincente os


deixou sozinhos e apreciou isso. Mais por seu irmão do que por ela
mesma. Estava tão fora de si para se importar com quem a visse
agora... mas, que homem iria querer ver seu companheiro chorando no
ombro de sua irmã? Era o que Caleb fazia agora, seus ombros largos
tremendo em silêncio. Ela o segurou enquanto suas próprias lágrimas
caíam.

Depois de alguns minutos, afastou-se, e com seu polegar e


indicador limpou as lágrimas que ainda caíam.

— Nik, eu sint...

Ela cobriu-lhe a boca com a palma da mão. Mesmo que ainda


estivesse pensando e processando tudo lentamente.

— Por favor, não faça isso. Kevin é o culpado. Ele fez isto. A nós
dois. Não havia nada que você pudesse ter feito para impedir. Eu não
culpo você Caleb, então por favor, não se desculpe por algo sobre o
qual não tinha controle. Está bem? — Limpou seu rosto úmido e
esperou que fizesse sentido. Soava como se estivesse falando besteira.
Deve ter parecido uma louca para Vincente.

Seu irmão negou, com sombras preenchendo seus olhos.

— Não deveria ter feito isso. Por quê? Por que, porra, fez isto por
mim? — Encolheu-se e negou novamente. — Quer dizer, eu sei que
você fez porque me ama, assim como eu a amo. Mas por que não me
contou para eu poder ajudá -la?

Cansada, repetiu mais ou menos o mesmo que contou para


Vincente. Menos sobre Las Vegas e Kevin ser impotente. Ele não
precisava ouvir isso.

— Nik... eu não sei o que dizer.


— Porque não há nada a dizer. Acabou. Exceto, que você pode me
dizer por que matou aquele homem.

O rosto de Caleb escureceu.

— Você se lembra do Mark? O vice-presidente do clube de


Seattle? — Assentiu, lembrando do homem corpulento com seu
cavanhaque grisalho e a cabeça raspada.

— Aquele bastardo agrediu o filho de onze anos de Mark.


Sexualmente. Os policiais disseram que não havia provas suficientes
para prender o pedófilo e Mark estava escondido, acusado de assalto.
Por isso eu me encarreguei.

— Eu sabia que você tinha um bom motivo. E se aplaudir o que


fez me torna uma pessoa má, então que assim seja. — Entregou o
cartão de memória que causou tantos problemas. — Por favor, o
destrua. — Disse enquanto se recostava nos travesseiros. Silvou
quando a parte de trás de sua cabeça ardeu de dor. — O quê...? —
Colocou a mão sob seu cabelo com desgosto e sentiu um pequeno
curativo.

— Quando você caiu contra a cômoda, abriu a cabeça. Tegan


disse que vão tirar os pontos em poucos dias. Você ficou desmaiada
por um tempo. Muito. Você nos assustou pra caramba.

— Quem é nós? — Suas lembranças eram imprecisas depois que


Kevin desapareceu pela escada de incêndio. Lembrava vagamente de
ter dificuldade para abrir a mala, mas isso foi tudo.

— Vincente e eu.
— Sério? Ele disse alguma coisa? — Apertou os lábios. Merda.
Parecia muito ansiosa. Suas bochechas se aqueceram de vergonha.

Caleb franziu a testa. Um gesto que reconheceu como a testa


franzida de forma fraternal.

— O que há entre vocês dois?

— Nada. — Disse honestamente. — Por quê? Ele disse alguma


coisa? — Ansiosa, novamente! Grr.

— Não. Mas não precisava dizer nada. Suas ações falaram mais
alto do que qualquer palavra que pudesse usar. Estava trêmulo.
Muito. Perdeu o impressionante controle pelo qual é famoso. Estava
pronto para matar Kevin... isso era certo. E a qualquer outra pessoa
que ficasse no caminho para trazer você aqui.

Não havia dúvida do prazer que percorreu seu corpo nesse


momento.

— Bem, talvez seja somente um bom homem.

— Ele é. Também passou pela mesma coisa.

— Como assim?

Caleb se moveu, colocando-se ao seu lado, sua orelha próxima a


sua testa, porque ela estava deitada de lado. Nika aconchegou-se no
irmão, atrás de seu calor. Ainda sentia muito frio e relaxou contra sua
presença reconfortante.
— Kirov disse que Vincente tinha uma irmã. Mais jovem do que
ele, pela impressão que me deu. Um dia, foi sequestrada na rua em
seu caminho da escola para casa, por alguns homens que dirigiam
uma rede de prostituição. Fizeram ela e as outras meninas ficarem
viciadas em metanfetamina e as obrigavam a negociar sexo por mais
drogas. Realmente, as arruinaram. Vincente encontrou seu corpo em
uma de suas rondas noturnas ao necrotério. Teve uma overdose
depois de quase um ano.

Nika mal podia respirar, não podia sequer compreender o que


deve ter sido para Vincente.

— Oh, meu deus, Caleb. Eu gostaria que não tivesse me contado


isso. — Ofegou através de um nó em sua garganta. — Pobre Vincente.

Caleb apertou brevemente seu braço ao redor dela.

— Sinto muito, Nik. Não pensei claramente. Maks também disse


que pensa que V. levou isto muito a sério, para compensar o fato de
não ter podido salvar a sua própria irmã. — Disse, mas sem nenhum
sentimento real. — Então se prepare para tê-lo por perto. Eu, de
minha parte, estou contente. Se alguém pode nos ajudar a encontrar
esse desgraçado é ele e seus homens. Você tem alguma ideia de onde
Kevin pode ter ido?

Nika negou com a cabeça, enquanto algo que parecia como derrota
se instalava em seu peito machucado. Vincente não agia como seu cão
de guarda porque queria cuidar dela de algum jeito. Tentava salvar sua
própria consciência. Afundou a cabeça ainda mais no ombro de seu
irmão e com um suspiro longo e baixo, relaxou enquanto seus olhos se
fechavam.

Se Vincente ajudava a si mesmo enquanto cuidava dela, estava


bem com isso. Se encontrasse um encerramento ao se envolver com sua
desordem, então pelo menos teve um pequeno papel em ajudá-lo a
ganhar um pouco de paz e ficar bem.

Outra coisa para fazer o ano passado infernal em sua vida valer à
pena.

Seus olhos abriram de repente, arregalados ao se lembrar.

— Eva. Oh, meu deus. Arruinei seu...

— Ouça. — Disse Caleb a surpreendendo. — Você não fez nada. E


nem sequer pense em se desculpar com ela e Moretti. Nenhuma outra
coisa poderia ser mais importante do que aconteceu esta noite.

Nika acalmou-se outra vez e estava certa de que sorria enquanto


caia em um sono profundo.
Uma semana depois, Alekzander Tarasov pegou sua maleta do
banco do passageiro e saiu de seu Range Rover. Enquanto fechava a
porta, viu Caleb, que estava com frequência na casa ultimamente,
descer os degraus da entrada. Sua irmã de aspecto frágil bem atrás
dele e uma Eva preocupada atrás dela. Alek seguiu seus olhares e viu
um Escalade cinza contornar o caminho circular.

Gabriel e Quan estavam alguns passos atrás da abelha rainha e


Alek notou a mão do asiático casualmente colocada na parte inferior
de suas costas, onde teria escondido sua arma. Não precisava ter se
incomodado. Nem Samnang nem Maksim teriam permitido que o
veículo atravessasse o portão da entrada se não estivessem seguros
dos ocupantes.

A porta traseira do Escalade se abriu e um grande loiro vestido


em jeans e couro desceu do banco traseiro.

Vex.

O presidente dos Obsidian Devils MC, da sede de Manhattan


cumprimentou a todos com um aceno antes de se aproximar e puxar
Paynne para um abraço de palmadas nas costas. Segurou o queixo do
cara grande em um aperto, disse algo em voz muito baixa para que
ninguém, exceto ele escutasse. Paynne assentiu e foi solto.
O prez, em seguida, se virou para Nika e...

Oh... merda.

A Kombat de Vincente parou atrás do Escalade.

Alek aproximou-se de Gabriel para estar ali quando V. descesse.


Eles obviamente, tinham a mesma ideia de uma possível intervenção.
Entregar a vulnerável ruiva para seu irmão e Vex sabia que não era
algo que Vincente acharia fácil de fazer. O cara tinha uma fraqueza
por ela e certamente não gostaria de ver Vex abraçá-la suavemente em
seus braços como fazia agora.

— Como vai, querida? — Perguntou Vex em um tom que era


francamente terno.

Todo mundo viu o motoqueiro levantar uma mão para tocar o


hematoma no rosto de Nika. O súbito olhar de alarme que brilhou nos
olhos dela com essa ação, era lamentável. Parecia como a de um cão
antes de receber uma palmada na cabeça, e fez com que cada corpo
masculino paralisasse. Era como se todos tivessem disparado com
pistolas elétricas.

Alek ficou tenso e deu uma olhada para Vincente. Viu a raiva
pura e simples, passar pelas sinistras feições de seu amigo com o
gesto amedrontado de Nika. Havia algo mais ali também. Era a mesma
possessividade que Alek sentia cada vez que outro homem se
aproximava de Sacha.

Merda. Quase tropeçou quando uma dor incapacitante explodia em


seu peito e tirava sua capacidade de respirar. Como deixou que seu
nome passasse por sua mente tão facilmente? Geralmente era mais
cuidadoso.

Negou reconhecer o que sentia, como se um punho apertasse seu


coração, e manteve um olho em seu amigo, que desapareceu há uma
semana. Vincente foi embora sem dizer uma palavra na noite em que
trouxe Nika. Ao vê-lo, com os olhos fundos, a pele pálida, a boca
apertada atrás de um queixo sem barbear, o aspecto era familiar. Via
isso cada vez que olhava para seu próprio reflexo em um espelho.
Sabia que tinha uma fraqueza por Nika pela maneira como agiu ao
redor dela em Seattle, mas talvez fosse mais do que isso. O que quer
que fosse, V. claramente tentava fugir disso.

Alek queria dizer que não adiantaria, mas sabia que era uma
dolorosa lição que seu amigo teria que aprender por si mesmo.

— Você está bem com isso? — Perguntou Vex em voz baixa


enquanto Nika se afastava.

O cabelo longo de Vincente balançou em seus ombros com o leve


movimento de sua cabeça.

— Não! — Respondeu, mais honesto do que nunca. — Não


importa, no entanto. — Ficou quieto como uma estátua quando o
olhar de Nika o encontrou.

Porra! — Pensou Alek, mexido pela emoção da expressão da ruiva


enquanto caminhava.
Caralho. À luz do dia, parecia pior, com manchas e um
espetacular hematoma em sua bochecha, que se destacava em sua
pele tão pálida.

— Estou feliz que tenha vindo, antes de eu ir. — Deu um abraço


caloroso em Vincente, que mal devolveu, obviamente tentando ser
cuidadoso com as muitas lesões que praticamente enchiam todas as
partes de seu corpo. Mesmo ao redor do pescoço. A gola em V da
camiseta que usava, mostrava a ferida inflamada que subia por seu
peito. — Obrigada, Vincente. Caleb e eu apreciamos sua ajuda mais do
que imagina.

A única resposta de V. foi um movimento seco de cabeça. Ela


assentiu e se moveu para Gabriel, abraçando o chefe e dizendo
baixinho:

— Cuide de Eva para mim Gabriel. Ela disse que se sentia mal
esta manhã. Vi que oscilou e agarrou-se ao balcão quando servia café.
Sua mãe tinha diabetes tipo 1 e sempre fazia um check-up em Eva.
Mas sei que não fez um durante muito tempo. Talvez deva fazer
novamente.

A atenção de Gabriel foi para sua esposa, que nesse momento


parecia verde. — Ela não me disse nada. — Parecia zangado.

Nika bufou e lhe deu um olhar que dizia: É tolo?

— Porque é Eva, bobo. Somente a observe, ok? — Deu-lhe um


beijo na bochecha. — E obrigada por tudo. — Sorriu para Alek e se
aproximou para dizer adeus para Eva. As mulheres se abraçaram
como irmãs. — Obrigada, querida. E lamento novamente por arruinar
a festa de seu casamento. Ligarei para você assim que carregar meu
telefone. — Sua voz era apenas um sussurro, mas aparentava uma
tranquilidade tensa.

Eva assentiu e secou as lágrimas de suas bochechas. Algo que


fazia muito nos últimos tempos. Chorar.

Um forte exalo infeliz soou junto dele, enquanto Gabriel


testemunhava o choro de sua esposa.

— Relaxe, homem. Poderá aliviar essa tristeza depois! —


Murmurou Alek, tanto aborrecido quanto ciumento do amor dos
recém-casados. Tentou não grunhir com o toque do cotovelo em suas
costelas.

Caleb, cujos olhos estavam injetados de sangue e cansados, deu


à sua irmã um empurrãozinho suave para a caminhonete e com um
gesto de despedida a todos, desapareceu no interior e fechou a porta
atrás dela.

O corpo grande de Vincente perdeu parte de sua rigidez quando


ela desapareceu, mas logo se esticou mais do que nunca quando Caleb
se virou para ele. A mão estendida do motoqueiro imediatamente foi
apertada.

— Onde você esteve? — Exigiu Caleb. Então continuou sem


esperar uma resposta. — Já encontraram alguma coisa?

Com o movimento de cabeça em negativa de V., Caleb disse. —


Quero sair com você quando for procurar. Tenho que estar lá quando
encontrar esse idiota.
— Estarei em contato. — Foi tudo o que Vincente lhe disse.

Um limpar de garganta fez com que desse uma olhada para um


Vex de aspecto impaciente.

— Devemos ir para casa. — A atitude geralmente arrogante do


presidente diminuiu um pouco, mas ainda pensava que era
claramente responsável.

Este era um daqueles momentos que poderiam se transformar


tanto em —“Oh, merda!” quanto em — “Corra por sua vida”. Alek ficou
preocupado. Um vice capo mortal da máfia e o presidente macho alfa
de uma notória organização MC atrás da mesma mulher?

Oh, sim. Isto poderia ser realmente desastroso.

Caleb agradeceu a Gabriel com um abraço sólido, saudou o


restante deles e em seguida entrou na caminhonete com Vex.
Enquanto se afastavam, Gabriel partiu com Eva e a abraçou antes de
levar sua esposa para casa.

Alek se manteve ao lado de Vincente que olhava o carro


desaparecer pelo longo caminho, se perguntando que tipo de
pensamentos violentos estariam passando pela mente de seu amigo.
A viagem de quarenta minutos de carro até a sede do clube foi
feita silenciosamente, quebrada somente pelo som que tocava ao
fundo.

O couro rangeu quando Vex se moveu, inclinando a cabeça para


um dos rapazes que saía em sua moto, enquanto entravam em um
estacionamento pavimentado através de um portão metálico. Pararam
atrás de um muro de concreto que escondia uma fila de Harleys e
todos desceram.

Nika apertou os olhos contra o brilho do sol enquanto observava


o cinza e degradado tijolo do edifício, com dúzias de janelas altas,
separadas por uma boa distância e que se estendiam ao redor de todo
o clube. Vex reformou o interior do antigo lugar e deixou o espaço
habitável com a criação de mais de uma dúzia de suítes de tamanho
médio para qualquer membro dos Obsidian Devils MC que precisasse
de um lugar para ficar. Ninguém mais além de Vex, Caleb e outros
dois viviam ali permanentemente. Mas o lugar sempre estava cheio de
alguns dos rapazes e suas namoradas atuais.

E agora ela, pensou Nika, cansada e tensa.

Mas não por muito tempo, prometeu à si mesma. Daria a seu


irmão o tempo que Eva lhe deu e depois iria viver por sua conta
novamente. Começaria a viver sua vida.

Uma imagem da grande caminhonete de Vincente saindo da casa


veio-lhe à mente. Para onde ele foi na semana passada? Realmente não
importava. Era só curiosidade, porque certamente não estava em casa.
Todos os dias pensava que o encontraria caminhando pela sala
principal, onde ela e Eva passaram a maior parte de seu tempo.
Esperou vê-lo na cozinha na hora das refeições , quando se encontrava
com Alek, Maksim, Quan e Gabriel e na maioria das vezes, com Vasily
também.

Mas isso não aconteceu. Nem uma só vez.

Ele ficou longe porque ela estava lá? Ou sua ausência era uma
coisa normal?

Não sabia e estava com muita vergonha de perguntar.

Talvez ele apenas estivesse trabalhando. Quem sabe teria uma


casa na cidade...

Ou talvez estivesse com uma mulher. Provavelmente tinha meia


dúzia esperarando uma ligação dele.

Esteve com uma delas? Dormiu em sua cama, a amou com aquele
corpo poderoso, a segurou com tanta ternura como Nika vagamente
lembrava, na noite em que deixou Kevin?

— Nika?

— O quê? — Grunhiu através do ciúme que a invadiu. Juntou


suas mãos e sentiu a picada de suas unhas perfurando a pele. Vex e
Caleb a olharam. — Sinto muito. — Disse, agarrando sua bolsa de
roupas emprestadas do banco. Tudo era de Eva, claro, e a maldita
lona tornava seu humor mais ainda escuro, já que a fazia sentir-se
como uma mendiga.
— Eu gostaria de ir às compras, Caleb. — Depois fechou a porta
da caminhonete. Os dois homens ficaram silenciosos, cuidadosamente
atrás dela. — Você pode me levar? Também preciso que me empreste
um pouco de dinheiro até que possa ir ao banco. E, mesmo que
apenas por uma só vez... — Advertiu através dos dentes apertados
enquanto passavam pela grande porta de aço e se dirigiam para o
andar de cima. — Disser algo que se pareça com “não se preocupe, eu
me encarrego” ou “tudo ficará bem, Nik”, baterei no seu nariz.
Entendeu? — Parou na parte superior da escada, sem saber que
caminho tomar.

Não vou chorar.

Foi para a direita quando a mão de alguém empurrou seu ombro


naquela direção.

— Tudo bem! — Disse Caleb suavemente. — Vex buscou suas


coisas no hotel. — A parou com um puxão na barra de sua camisa,
que também de Eva, e a rodeou para pressionar um código no teclado
da parede, abrindo a porta para ela.

— Queime-as. — Instruiu Nika. — Não quero nada mais do que


minha bolsa e meu telefone.

— Farei isso.

Sua complacência ansiosa, aceitando sua atitude maliciosa e


irracional, despertou seu temperamento. E em vez de andar até o
quarto, voltou-se para Caleb.
Quando olhou para ele, sua inquietação desapareceu e sua visão
se turvou mais uma vez com lágrimas. Não chorou tanto desde que era
uma menina!

— Por favor, não aguente meu comportamento assim, Caleb. —


Declarou com raiva. — Você nunca fez isso antes. Teria me dado uma
caixa de pastilhas Midol e me diria para ser eu mesma agora. Sim,
estou estressada, chateada e preocupada. — Porque Eva tinha dito o
quanto eles estavam procurando Kevin, sem encontrá-lo. —Estou
machucada e juro que realmente terei minha menstruação a qualquer
momento. Mas é claro, não sei com certeza porque minha agenda e
tudo o que eu tinha está naquele inferno... onde permanecerá! —
Prometeu, sem querer sequer um fio de cabelo para lembrá-la do que
já considerava seu passado. Eva também lhe disse que Gabriel
chamou Jakson Trisko, outro em sua equipe de segurança que ficou
em Seattle para amarrar qualquer ponta solta do fiasco Stefano/Furio,
para ir ao apartamento de Kevin. Ele fez uma varredura e não
encontrou nenhuma cópia do vídeo de Caleb. — Mas o que me parece
pior do que qualquer coisa. — Continuou ouvindo o tom agudo em sua
voz, mas incapaz de fazer qualquer coisa à respeito. — É que todo
mundo anda na ponta dos pés ao meu redor. Os olhares que recebo
me deixam louca. Mesmo de Eva, pelo amor de Deus! Olham para mim
como se eu fosse uma espécie de pobre cachorrinho chutado.

Afastou-se e entrou na suíte de Caleb, onde a primeira coisa que


viu, tão inocente em uma estante entre dois manuais sujos de Harley,
uma foto dela e Caleb com seu pai quando tinham dezesseis e vinte
anos, respectivamente.
A mão de Nika foi para sua boca enquanto sua garganta se
fechava. Oh, Deus. A inocência em sua expressão. O sorriso verdadeiro.
Quando foi a última vez que sorriu assim? Quando foi a última vez que
até mesmo teve o impulso de formar um?

Por que sua vida terminou assim?

Seus joelhos bateram no chão com um baque suave e a bolsa de


Eva caiu ao seu lado enquanto suas lembranças a consumiam.
Rendeu-se às lembranças e se despedaçou de um jeito que não tinha
se permitido fazer até agora, de luto pela garota ingênua e esperançosa
que foi. E chorou com todo seu coração pela mulher quebrada que era
agora.

Durante todo o tempo em que Kevin a aterrorizou, não se sentiu


tão devastada, tão desesperada. Não quando era sua prisioneira e
ameaçava a liberdade de Caleb. Não quando a chutava. Esbofeteava.
Quando quebrou seu pulso naquele primeiro mês. Quando fez com
que sangrasse. Tratou-a pior do que a um animal. Nem uma só vez
durante tudo isso, permitiu-se se libertar e sangrar, derramar suas
emoções, como fazia agora.

Mas na frente desta fotografia, esse doloroso antes e depois


refletido no espelho, ela não conseguiu mais segurar.

E através da poderosa tempestade que finalmente a envolveu, seu


irmão e melhor amigo se ajoelhou ao seu lado, a abraçou e lhe
ofereceu sua força, seu consolo em forma de toques suaves e
carinhosos na parte de trás de sua cabeça machucada e costurada.
Palavras calmas e suaves acariciaram seus ouvidos, palavras que não
podia ouvir por cima do ruído alto de sua mente.

Para onde ir à partir dali? Onde iria encontrar um porto seguro?


Porque como se encontrava agora, sentia-se como se estivesse
flutuando longe de tudo o que conheceu. Mesmo que durante o ano
passado a maior parte do tempo fosse violenta e negativa, era ao
menos algo com o qual estava familiarizada.

Com ser livre não.

Caminhando através de um armazém que estava na linha que


separava o Queens do Brooklyn, Gabriel notou o agradável aroma de
madeira e tecido ainda no ar. O lugar era usado para construir móveis.

Sua expressão era sombria enquanto as lembranças dançavam ao


redor de sua cabeça. A última vez que passou por um lugar como este,
foi a pedido de Stefano. A mesma noite em que Gabriel deixou um
caminhão cheio de explosivos em uma fábrica no Bronx, que causou a
explosão que matou a namorada de seu irmão. Por ordens do pai
deles. Bem, do seu pai.
Sacudiu a cabeça. Achava incrível que ele e Stefano fossem
somente meios irmãos e não verdadeiros, como sempre pensaram.

Onde Stefano estava, porra? Ninguém sabia. Ainda tinha que


colocar Maksim nisso, e queria dar ao seu irmão todo o tempo que
precisasse. Mas começava a ficar impaciente. Assim como Eva. Então,
parecia que Gabriel teria que seguir adiante com a promessa que fez à
sua esposa.

Sua esposa.

Homem... tinha que ser a palavra mais sexy já criada. Para


combinar com a mulher mais sexy já criada. Sua esposa.

Quem diria. Sorte que Vincente, que caminhava ao seu lado e


Quan, que estava em seu outro lado, não podiam ouvir seus
pensamentos.

Sem dúvida, teria que manter a promessa que fez à Eva e


procurar Stefano com mais insistência. Deu ao seu irmão tempo para
ressurgir. Agora teria que caçar o idiota e trazê-lo para casa. Tentar
formar algum tipo de relação com um homem que ainda considerava
seu irmão, já lhe parecia impossível.

Um homem que o odiou por toda sua vida iria querer essa
relação?

Segundo Eva, Stefano teve algum tipo de epifania no mês


passado, quando as coisas entre ele e Gabriel chegaram a um ponto
crítico. Então sim, tinha certeza que seu irmão se comportaria bem.
Talvez até desse a mão a Gabriel, apesar das idiotices que ele deixou
para trás no negócio da família. Apesar de que, o submundo contra o
qual ele e Vincente lutavam, em sua maioria não foram contratados
por Stefano. Mas sim por seu braço direito e agora morto, Furio. O
bastardo atrevido executou todos os acontecimentos mais depravados
nas costas de seu chefe.

Os dedos de Gabriel se fecharam em punhos ao pensar naquele


bastardo com Mohawk. O desejo de matá-lo atravessando-o
novamente. Recusou-se a deixar entrar em sua lembrança o modo
como encontrou Eva agredida e à ponto de ser violentada...

— Quem achou este idiota? — Perguntou aos homens em um


esforço para se distrair. Se tivesse que usar um desses idiotas que
Stefano deixou para trás como distração, então que assim fosse.

— Eu. — Disse Vincente, sua mente claramente em outro lugar.

— Como chegou a ele?

— Notei uma discrepância na receita procedente de uma das


maiores operações de apostas que você tem em Newark. Procurei para
ver se podia achar o rastro e o nome de DeLuca continuou a aparecer.
Parece que desviou um pouco de dinheiro para poder financiar sua
própria operação. Fui a Jersey esta tarde e eu mesmo o peguei.

— O que ele fazia por conta própria? Se trata-se de alguma coisa


em jogos de azar, realmente não me importa muito, agora se pegou
milhares...
— Ele não apostava. — Falou V., e seu tom raspou os ouvidos de
Gabriel como um cotonete. — E foram trezentos mil. Usou-os para
comprar uma casa em Bushwick.

Quan assobiou enquanto Gabriel parava a alguns metros de


distância do que assumiu, ser a sala de interrogatório. Os homens
fizeram o mesmo.

— Se me derem detalhes, vou querer arrancar a cabeça deste


homem?

— Você vai querer cortá-lo, irmão. — Vincente olhou para o


caminho por onde eles vieram, mas Gabriel não achou que notou o
carrinho de mão que estava abandonado e as dezenas de pisos
empilhados. A menos que o equipamento tivesse o cabelo vermelho e
os olhos assombrados.

— V.

— O quê?

— Vincente! — Disse Gabriel, com mais força.

Um olhar exausto e escuro o encontrou.

— O quê? — Repetiu Vincente lentamente e cerrou os dentes.

Olharam um para o outro durante alguns instantes e finalmente


Gabriel apenas suspirou bruscamente.

— Depois disto quero que você vá para casa e durma. Parece uma
merda.
— Ah tá. Isso quer dizer que vai me trocar por alguém mais
bonito?

— Idiota teimoso.

Passaram através da porta giratória, mas mesmo antes de ver o


indivíduo sentado no meio do que era um escritório, a julgar pelos dois
arquivos separados por uma janela coberta e a mesa cheia de pó no
canto, Gabriel aproximou-se para trocar um aperto de mãos e um par
de abraços sentimentais com os gêmeos.

— Rapazes.

Os irmãos Berkman estiveram com ele durante anos e o


apoioaram, mesmo durante seu tempo em Seattle. Há duas semanas,
Gabriel levou Eva à Astoria para lhe mostrar alguns apartamentos que
ele e Vincente possuíam na área. Ficaram lá durante a tarde toda e
caminharam pela rua até uma delicatessen para um lanche depois. Os
gêmeos estavam na calçada quando eles saíram. Sem aviso. Apenas
ali.

— Tudo bem aqui? — Perguntou para Abel, que se machucou no


cumprimento do dever no mês passado com uma grave ferida de faca
no peito. — Não faça isso! — Advertiu o homem barbudo com aquela
voz suave que transmitia a paz que ele e seu gêmeo compartilhavam e
que nunca falhava em afrouxar os músculos tensos no pescoço de
Gabriel.

— Jerod mal me permite limpar meu próprio traseiro. Não preciso


de você também, chefe. Sou duro. Se não fosse, não estaria falando
comigo agora.
Gabriel deu uma palmada no ombro de Jerod em um gesto
indicando um trabalho bem feito. A rotina super protetora era
compreensível. Estes dois não sobreviveriam um sem o outro, seu
vínculo era muito forte. Virou-se, reprimiu um suspiro antes de tirar
qualquer suavidade de sua cabeça e coração, e aproximou-se para
ficar de pé diante dele, a quem reconheceu imediatamente como
Tommy Shark DeLuca. Conhecia o homem por mais de uma década.
Mas não deste modo. Era uma sombra do que foi.

— O que você fez com meu dinheiro, Tommy? — Perguntou


suavemente e sem preâmbulos.

— Gabriel, por Deus homem, eu não sou louco, porra! Não peguei
nenhum dinheiro!

Mentirosos simplesmente não entendiam. Os olhos de Shark


eram selvagens, suas pupilas estavam dilatadas. Sua pele amarelada,
com aspecto doentio, pendia de seus ossos como se alguém tivesse
chupado a carne debaixo dela. Cheirava a banheiro. A um drogado.

— Sério, homem! — Disse DeLuca quando Gabriel indicou a


Vincente que continuasse. Em sua visão periférica, viu que V. já tinha
sua pistola SIG feita sob medida na mão. Um ceifador de aspecto doce
estava gravado no punho da arma. Maks tinha uma com um crânio
em uma careta, cujo olho era uma pedra ametista.

Um brilho de luz piscou da navalha que apareceu na outra mão


de Vincente. Merda. O ceifador queria algo esta noite. O que mostrava
que isto sem dúvida, tinha algo a ver com mulheres.
— Para que você usou o dinheiro, Tommy? — Repetiu Gabriel,
quando o braço de V. desceu e incrustou o aço afiado na coxa de
Shark. O grito de dor fez com que os dentes de Gabriel rangessem e
pareceu confirmar o que pensava ter ouvido. Vincente atingiu o osso.

— Eu lhe disse. Não toquei nele! Dê-me alguns dias.


Encontrarei...

A mentira se perdeu quando Vincente torceu a lâmina e em


seguida, levantou a pistola apontontando para o meio de sua testa
úmida. O suor atingiu o piso de cimento e foi adicionado a ele o
gotejamento de sangue. Sua bexiga falhou.

Gabriel deu um passo mais perto para poder ouvir enquanto V.


se inclinava para sussurrar no ouvido de Tommy.

— Filho da puta. Quantas garotas você arruinou? Pelo menos


sabe? Você ao menos pensa nas mães e nos pais que rezam para que
suas filhas voltem para casa? Pelo menos se importou alguma vez, que
essas orações nunca seriam atendidas? Ano após maldito ano. — Os
olhos negros de V. eram tão frios como um rio da Sibéria em janeiro.

— Por favor, eu não fiz nada. Eu não sei quem fez, eu juro! —
Queixou-se Tommy através do ranger de seus dentes. — Eu diria se eu
tivesse feito, eu juro!

— Você não tem que me dizer nada, mentiroso de merda. Eu já


sei. Por que você acha que está aqui?
Vincente endireitou-se, puxando sua navalha. Limpou-a na perna
da calça do homem que uivava e levantou seu braço novamente. O
estalo abafado soou plano na pequena sala.

Como fez em inúmeras ocasiões, Gabriel não pôde evitar de se


perguntar o que se passava pela mente deste homem enquanto morria.
Pensaria em seus entes queridos? Será que tinha algum? Alguma
pessoa a quem realmente amasse? Poderia sentir emoção? Foi muito
longe? Arrependeu-se do que fez em sua vida? Enviaria uma oração e
pediria perdão? Ou simplesmente sentou-se ali e agarrou-se a uma
mentira, acreditando que seria o suficiente para que Vincente lhe
permitisse viver mais um dia?

Seria sua esposa e seus homens que passariam pelo coração e


pela mente de Gabriel quando chegasse o momento para ele. E
aconteceria. Como acontecia para todo mundo. Talvez não da forma
violenta que foi com DeLuca, mas ainda chegaria.

Os olhos safira de Eva vieram à sua mente, quando virou e se


dirigiu a uns poucos metros de distância. Seu peito se apertou em um
doloroso nó com a ideia de deixà-la. Cem anos não seriam suficientes
para estarem juntos. Nem sequer perto.

Quanto medo e repulsa mostraria se soubesse o que acabou de


acontecer aqui? Que palavras usaria para colocar fim ao seu
casamento de apenas uma semana? Quão rápido fecharia a porta de
sua casa e iria para o cuidado protetor de seu pai, que também já
esteve em uma situação como esta muitas vezes para contar?
Seu olhar se voltou novamente para o cadáver e percebeu que
seus olhos realmente pareciam com os de um tubarão.

Estáticos. Mortos. E agora totalmente cegos.

— Onde estão as garotas, V.? — Perguntou com a voz baixa.

— Fiz com que Alesio levasse Tegan para buscá-las há algumas


horas. Levou-as para o Centro de Reabilitação Noturno para Crianças
em White Plains.

Graças a Deus pela diligência deste homem.

— Coloque o lugar que ele comprou com nosso dinheiro no


mercado e doe o valor para o Centro.

Olhou para ele quando não houve assentimento. A visão do


movimento da garganta de V. quando engolia, sua expressão intensa
de respeito enquanto lhe devolvia o olhar, fez Gabriel querer abraçar
seu torturado amigo.

Como seria viver com fantasmas, porra?

Vincente viu de longe o olhar de simpatia de Gabriel e nem sequer


teve energia suficiente para lhe dizer para parar com essa merda. O
respeito pela generosidade do novo chefe era uma manta quente ao
redor de seus ombros, não acreditava que Stefano fizesse o mesmo.
Setecentos mil ajudariam muito essas garotas.

Sua atenção se voltou para o cérebro salpicado na parede.

E Vincente não sentiu nada. Alguns poderiam encontrar sua falta


de angústia em tirar a vida de um ser humano como algo alarmante.
Sem dúvida, o Admirador da ruiva correria para as montanhas se
soubesse o que acabou de fazer.

Mas neste caso, Vincente não via como algo ruim. Considerava
uma execução justificada. Um favor à sociedade. Porque sabia
exatamente que tipo de parasita DeLuca era. Talvez não no começo,
quando ele começou a fazer negócios com a família Moretti. Mas o
homem claramente se envolveu em alguma merda.

E agora? Vincente viu por si mesmo o cara se arrastar pelos


arruinados bairros de Morrisania, Brownsville e Far Rockaway em
busca de garotas jovens desesperadas. Garotas tão desesperadas que
deixariam Tommy e outros bandidos as prostituírem a fim de ganhar
dinheiro suficiente para sua próxima dose.

Na verdade, Vincente o observou durante toda a semana passada.


Investigou muito antes de fazer seu movimento. Viu um barracão sujo,
com mulheres doentes, viciadas em drogas. Elas mantinham com
tesão os clientes que formavam uma fila na porta, os colchões sujos
cobertos com manchas das ejaculações, das lágrimas e do sangue.

Seus olhos tremeram com raiva. Este predador teve o que


merecia.
Assim que o pensamento passou por sua mente, a imagem de
uma garota com cabelo castanho chocolate liso e alegres olhos
castanhos flutuou em sua mente. Não permitia que isso acontecesse
há algum tempo. Devia estar mais cansado do que pensava. Fechou os
olhos enquanto a dor e a perda o percorriam com a lembrança de
Sophia.

A última vez em que a viu com vida, estava de pé na porta de sua


casa de pedra vermelha. Era seu aniversário e usava a jaqueta de
couro que lhe comprou. Gostava de seu senso de moda, queria que ela
estivesse bem protegida quando montasse na parte de trás de sua
moto. A conversa de seus amigos se ouvia fora da casa e tinha lhe
soprado um beijo apressado, enquanto ele subia no banco dianteiro do
Explorer de Gabriel. Fez um gesto para dentro quando sua amiga
Ashlyn apareceu atrás dela, com a boca torcida em uma expressão de
contrariedade, telefone na mão. Vincente sorriu pelo olhar de Sophia
depois que Ashlyn lhe disse alguma coisa.

— O quê? Você realmente acha que eu iria deixar as meninas


sozinhas toda a noite sem acompanhante? — Gritou e sorriu quando
ela ergueu seu punho para ele. Na semana anterior, perguntou à mãe
de Ashlyn se não se importaria de ficar com as meninas até que ele
chegasse em casa para fiscalizar a festa de pijama. Não porque não
confiasse em Sophia e suas amigas, mas porque não confiava nos
caras que viriam.

Ele não voltou para casa a noite toda. Gabriel foi baleado no
estômago e Vincente teve muito medo de deixar seu menino aos
cuidados do médico se ele morresse.
Porque estava ocupado cuidando de seu amigo e finalmente,
atirou-se no sofá de Vasily nas primeiras horas da madrugada para
descansar um pouco, ele não estava lá na tarde do dia seguinte,
quando Sophia não voltou para casa do colégio. Foi sequestrada na
rua a uma quadra de sua casa.

A imagem no centro de sua mente se distorceu de repente, a


saúde juvenil acabada e transformada em um fraco corpo destruído.
Com incontáveis marcas de injeções para cima e para baixo em seus
braços usados excessivamente. Cabelo castanho escorrido e sujo. Os
hematomas na pele azul acinzentada agora da morte. Ele fazia rondas
noturnas no necrotério durante meses até esse ponto, e negou-se a
acreditar que ela estivesse morta. Quase cobriu a menina e seguiu
adiante. Até que viu a asa do anjo tatuado no interior do seu pulso.
Levando em conta a quantidade de tatuagens que ele tinha aos vinte
anos, Vincente não foi capaz de recusar quando lhe perguntou se
podia fazer uma do tamanho de uma moeda. Pouco a pouco, olhou
para o rosto de Sophia e sentiu a humanidade escorrer dele e descer
pelo ralo no chão, aceitando o que era. O impulso de dizimar quem
arruinou sua irmã era uma doença fixada na medula dos seus ossos.

Levou os dedos aos seus olhos que ardiam enquanto uma pesada
mão descansava em seu ombro.

— Vamos V. Vamos para casa.

Deixou que Gabriel se virasse e entrou pela porta que Quan


mantinha aberta. Os três saíram do armazém em silêncio e entraram
na caminhonete.
Se ao menos soubesse que em seu aniversário seria a última vez
que a veria. Se ao menos estivesse lá para encontrar-se com ela depois
da escola da maneira que gostava de fazer. Se ao menos a porra de
Stefano não tivesse armado para Gabriel naquela noite em um esforço
para livrar-se da concorrência!

E se, e se, e se...

Fechou toda essa bobagem com um golpe violento na tampa de


seu cérebro, e observou a paisagem que passava pela janela do banco
traseiro do Escalade de Gabriel, as ruas da cidade que nunca
terminavam.

Algo como na semana passada.

— Deixe-me em casa. — Disse à parte dianteira da caminhonete


antes que pudessem chegar à rodovia.

— Você voltará para casa, V. — Informou-lhe Gabriel do banco do


passageiro. Chutou a parte de baixo do mesmo.

— Deixe-me na minha casa. Quero pegar minha moto. — Mentiu.

Gabriel virou a cabeça para que seu perfil se mostrasse, com a


tensão refletida em seu rosto. O homem estava chateado porque ouviu
a mentira.

— A primeira coisa que eu quero ver na primeira hora da manhã,


é seu rosto em casa, porra!. Se você não se apresentar, eu vou voltar e
queimar sua maldita casa até os alicerces. Você entendeu?
Vincente sentiu um sorriso puxar para cima os cantos de sua
boca. Não durou.

— Sim, irmão. Eu entendi.

Gabriel se virou para Quan e lhe disse que fossem para a casa de
Vincente, ao redor de Forest Hills no Queens. Usava seu carro
reformado quando não estava com humor para fazer a viagem ao Old
Westbury. Ele e Gabriel também mantinham um apartamento em
Astoria, que era mais confortável, mas não tinha esconderijos
carregados de armas e outros objetos como este lugar. E não era onde
Vincente tinha suas Harleys.

Eu preciso vê-la.

Esticou o pescoço e quis bater no Admirador interno com os


punhos bem colocados. O maldito idiota não lhe dava um minuto de
paz, e arrancou suas bolas há dias.

Se não fosse “ O que ela faz agora”? Era “ Ela está bem”? Ou
“Ficará na casa de Caleb ou terá a sua própria”?

Esse pensamento assustador era seguido geralmente por um


impulso possessivo de quebrar a porra da cerca ao redor da sede do
clube, para garantir que ela estivesse sozinha. Vincente freou o
impulso de bater sua cabeça na janela. Ou talvez no marco da porta.
Isso era difícil.

Ela estava se alimentando bem? Cuidaria de si mesma? Teria


pesadelos? Estaria assustada? Sentia-se sozinha? Ainda estaria de
mau humor? Estaria curando da forma adequada? Sentia-se
machucada? Sua pele continuaria sedosa? Ainda cheiraria tão bem
como da última vez que a abraçou? Seu cabelo ainda seria tão vibrante
e rico quanto lembrava?

Engoliu um gemido e olhou o sinal luminoso de: Não cruzar, ao


lado deles.

Que porra estava acontecendo com ele? Desde quando importava


como se parecia a pele de uma mulher? Ou notava o suficiente para se
lembrar? Quando o cheiro de uma mulher o deixou duro no instante em
que chegou em seu nariz? Desde quando a cor do cabelo de uma mulher
o fazia se sentir como se acabasse de tomar um vidro de Viagra?

Mexeu-se no banco de couro e desejou que Quan pisasse no


acelerador. Tinha que lhe dar um descanso. Nika estava fora dos
limites. Ele sabia. Aceitou.

Ou pensava que sim.

Especialmente agora que sabia o que aconteceu. Depois de sua


terrível experiência, ela mais do que ninguém, merecia paz e felicidade.
Com ele, nunca as teria. Não nos círculos violentos e fodidos em que
se movia. Também devia a Caleb manter-se afastado depois de tê-lo
repreendido verbalmente como fez na outra noite. Cruzou a linha
quando empurrou sua própria culpa e remorso pela garganta do
motoqueiro.

Vincente ajudou muitas mulheres ao longo dos anos, mas


nenhuma o afetou do modo como Nika fazia. Por que não podia
simplesmente enfrentar esta merda sem querer fazer disso algo
pessoal?
Por dias, ele alternou entre seguir Tommy DeLuca e ir de um
hotel nojento ao outro procurando o último lugar em que Kevin Nollan
foi visto. Pegou DeLuca, mas não chegou a lugar nenhum com o que
realmente queria.

Uma coisa interessante: Maks interceptou outro relatório policial


encerrado e encontrou algumas informações sobre a arma do crime
usada para matar a família de Nollan. E surpresa: as impressões
digitais de Kevin estavam por toda a enorme faca com sangue. A
polícia atrasou a acusação formal, no entanto, porque a faca vinha da
própria cozinha da família e Kevin poderia tê-la usado a qualquer
momento para cortar um peru... antes de abrir as jugulares de seu
irmão e de seus pais.

Puff. Leis de merda. Não sabia como Lorenzo conseguiu alguma


vez fez uma prisão, tendo as mãos amarradas devido a tantas leis.

Entraram no bairro de Vincente e ele soltou o cinto de segurança,


tentando ir para a porta. Precisava de uma hora para bater em seu
saco de areia. Então, talvez ligasse para Paynne para ver se tinha
alguma ideia de onde poderiam ter melhor sorte procurando seu
cunhado.

Ou talvez Vincente pudesse apenas com um pouco de sorte


aparecer no clube apenas para ver se ela...

Sério?

O Admirador parou de montar seu pônei imaginário rodando em


círculos, e o fulminou com o restante de fibra moral que Vincente
escondeu na parte de trás de sua fodida cabeça.
Fibra esta que lhe devolveu o olhar, que parecia crescer em
tamanho, enquanto Quan estacionava junto à calçada e parava.

Vincente saltou da caminhonete, mas parou na metade do


caminho quando ouviu o zumbido da janela do Escalade descendo.

— Vincente?

Virou-se e olhou para seu melhor amigo. O homem podia ser o


assassino implacável quando era necessário, mas tudo o que Vincente
viu na expressão dura foi preocupação por um dos seus.

— Na primeira hora! — Prometeu a Gabriel, em um esforço para


acalmá-lo. — Diga a Sammy que eu quero panquecas. E garanta que
sua esposa não coma todas antes que eu chegue lá. — Acrescentou
com uma piscada antes de continuar.

Esperaram até que ele abriu e entrou em sua casa para depois
irem embora.
Nika sacudiu a permanente sensação de mal-estar e abriu
amplamente a porta do apartamento, colocando as duas sacolas de
mantimentos que levava no chão da entrada, antes de fechar e
trancar.

Parou e escutou o silêncio durante um minuto. Normalmente,


levaria seus fones de ouvido, escutando música enquanto comprava.
Hoje não. Sentiu muito medo de não ouvir alguma coisa. Algo. Um
passo. Seu nome sendo chamado.

Uma arma disparada.

Apesar de seus pensamentos, uma sensação estranha de paz


fluiu através dela, seguida quase imediatamente por uma onda de
culpa. Caleb ficaria tão irritado.

Deixou o chaveiro TarMor na pequena mesa à sua esquerda e


caminhou com suas sandálias recém compradas antes de pegar as
sacolas do supermercado e ir para o espaço luminoso da cozinha,
ajustando o controle do ar condicionado enquanto passava.

Porra, estava sufocante. Mas era agosto em Nova Iorque.

Colocou as coisas sobre a bancada de granito e ouviu o barulho


baixo da geladeira. Colocou seu iPhone no suporte antes de olhar em
volta, eletrodomésticos de aço inoxidável e paredes de cor bege no
fundo, para contrastar com o conceito moderno.

A sala era espaçosa com seus tetos altos, móveis de couro preto e
janelas do chão ao teto. Sentia-se muito pequena, como se todo o
espaço fosse muito grande para ela. Preferiria algo mais acolhedor,
menor, em algum lugar em que pudesse se recuperar. Mas a cavalo
dado não se olha os dentes e isso era o que tinha por enquanto.

Ela passou a semana com seu irmão, passou sete dias a


perambular pelo clube em um estado de estupor, com Caleb a
seguindo, fazendo as coisas antes que tivesse a chance de fazê-las por
si mesma. Quando entrava na cozinha, ele pegava uma Coca-Cola da
geladeira, abria e lhe entregava antes que ela mesma tivesse certeza de
que essa era a razão pela qual foi até lá. As refeições eram iguais, seu
prato era feito com qualquer iguaria que o talentoso Vex preparasse e
era acomodada gentilmente em uma cadeira, com Caleb dizendo à ela:
Coma já. Sou mais rápido que uma tartaruga e desse jeito, você vai voar
da parte de trás da minha moto, Nik.

Tentou lavar sua roupa na quinta-feira e ele a interceptou no


meio do processo de transferir as roupas da máquina de lavar para a
secadora, dizendo que ela não estava lá para fazer suas tarefas por ele.

Também tolamente passou esses sete dias desejando que as


coisas fossem diferentes. Odiava as sombras escuras sob os olhos de
Caleb e o arrependimento ao dizer que nada ainda havia de novo,
quando lhe perguntava à respeito de Kevin.
Agora ela via esses dias como um desperdício. Perdeu sete dias
para dar início ao seu novo plano de vida, que manteria o mais
simples possível: conseguir um lugar que pudesse chamar de seu.
Evitar todos e cada um dos enredos românticos... por enquanto.
Colocar sua carreira novamente nos trilhos. Três metas simples que
comentou com Eva na conversa telefônica desta manhã. Possivelmente
deva ter parecido um pouquinho desesperada quando o mencionou no
começo. Em uma hora, sua absolutamente incrível melhor amiga e seu
novo marido chegaram na sede do clube e com uma severa e
desaprovadora expressão, Gabriel entregou à Nika a chave deste lugar.

— Você pode usá-lo durante o tempo que quiser. Mas apenas


para você saber. — Sua expressão era séria enquanto se inclinava e
Nika recebeu o primeiro olhar do intimidante mafioso que Caleb dizia
que Gabriel era. — Acho que você deve ouvir a sua bonita amiga aqui.
— Fez um gesto para sua esposa. — E reconsiderar voltar para casa.

Ele esperou, segurou seus olhos, até que ela recusou. Não
cederia. Se não fosse esse apartamento, encontraria outro. Ele
resmungou algo sobre mulheres obstinadas e disse. — Bem. Não apoio
sua decisão de ficar sozinha, mas sem dúvida entendo. Ao menos este
lugar será mais seguro do que encontraria por sua conta. Vou chamar
o encarregado do edifício e direi ao porteiro que a espere. Se precisar
de alguma coisa, tem segurança no piso térreo vinte e quatro horas
por dia, ninguém entra sem passar por eles.

Por conhecer Gabriel como conhecia, Nika suspeitava que


realmente não estaria sozinha de qualquer jeito. Não que ela tenha
visto algum bandido à espreita no prédio ou em algum lugar, pois
estava no décimo andar e não podia evitar de se sentir como se
estivesse em um hotel. Desde o amigável porteiro com quem falou na
primeira vez que chegou, até a piscina, sauna, jacuzzi, ginásio. Se não
quisesse, agora que tinha comida, nunca teria razão para sair.

Caleb ficou com raiva quando contou a ele. Sentiu-se insultado


porque aceitou a ajuda de Gabriel e não quis ficar com ele. Nika odiava
isso, mas não queria incomodá-lo. Ele já lidava com o suficiente e não
muito bem. Estava preocupada, e mordeu o lábio enquanto começava
a guardar as coisas. Havia uma dureza nele desde a noite em que se
inteirou do que Kevin fez com ela, uma escuridão em sua expressão
que nunca esteve ali antes.

Foram para Union Square e Chelsea juntos ontem, assim Nika


pôde começar a comprar algumas camisetas, bermudas e jeans. Na
maior parte do tempo ele estava em seu habitual estado encantador...
divertido e cômico ao extremo, com seus comentários sarcásticos e
humor seco. Mas de vez em quando, ficava calado e o pegava a
observá-la, o olhar ferido e cheio de culpa. Algo ameaçador refletia em
seus olhos, o que a assustou. Assim, ela o abraçava com força cada
vez que via isso e lhe dizia que parasse de pensar no que quer que
fosse que estivesse passando por sua mente, lembrando firmemente
que tudo terminou e que o pior ficou para trás. Ele a abraçou de volta
e formava uma capa protetora como uma jaula ao seu redor, mas nem
uma vez pareceu se convencer.

Trabalhariam nisso, prometeu a si mesma mais uma vez.


Desejava que seu irmão não tivesse descoberto o que aconteceu, e esse
era seu objetivo; nunca quis que ele soubesse o que aconteceu com ela
e a última coisa que queria era que sentisse culpa e tristeza da mesma
forma que Vincente sentia sobre a tragédia de sua irmã.

Nika se afastou rapidamente dessa distração, antes que ficasse


obcecada.

Pelo menos não teve que pedir dinheiro emprestado para Caleb,
um detalhe a menos em seu orgulho inexistente. Usou, pela primeira
vez, a herança que seu pai lhe deixou, as economias que usaria até
que se recuperasse. Graças à Deus, Kevin não sabia dela. Caso
contrário, teria jogado tudo como se fosse seu próprio dinheiro. O
fundo não era interminável, mas era suficiente para mantê-la pelos
meses que demoraria para se instalar em seu novo trabalho e a ganhar
um salário fixo novamente. Ela e Eva conversaram brevemente sobre
uma posição em TarMor e se encolheu diante de outra esmola. Mas
novamente, não podia ser exigente e ingrata, por isso concordou que
Eva perguntasse por aí. Com um pouco de sorte, haveria um cargo
livre e se acomodaria em seus compromissos tão facilmente como fez
na empresa em que trabalhou em Seattle. Ainda sentia falta das
garotas de seu escritório; a maioria eram jovens mães, algumas das
quais ainda eram solteiras como aquelas com quem saiu uma vez ou
duas. Estava confortável lá, assim, era de se esperar que pudesse se
adaptar novamente.

Balançou a cabeça pela forma que seus pensamentos soavam, até


para si mesma, e comprometeu-se mais uma vez que não iria dar uma
de vítima.

Esse não era seu papel, ela era uma sobrevivente. Venceu. E iria
agir como a campeã que era. Bem, talvez não como uma campeã, mas
certamente brigaria por sua normalidade. Ficaria neste lugar enorme
durante o tempo que fosse necessário para conseguir recuperar-se e
para poder seguir em frente como a mulher independente que foi
criada para ser. Não precisava de mais ninguém e iria se assegurar de
continuar dessa maneira. Realizaria os sonhos que tinha enquanto
estava no canto do sofá, com Kevin ao lado dela assistindo televisão.
Não faria nada para ficar em dívida com um homem novamente.

Nika inclinou-se e pegou seu iPhone, colocando um pouco de


música para preencher o silêncio. Tinha que admitir que nunca
desfrutou de uma viagem ao supermercado mais do que esta.
Completamente sozinha, sem alguém que olhasse por cima de seu
ombro, sem ninguém ficando à espera ao seu lado, revisando suas
compras e gritando com ela por gastar muito dinheiro. Ninguém para
repreendê-la por não comprar itens suficientes, o que significaria
outra viagem ao supermercado quando seu nariz parasse de sangrar...
sem ser empurrada no chão porque comprou a marca/sabor errados e
assim sucessivamente.

Repeliu o flash de arrepio que sentiu. Guardou sua Nutella, pão,


e sem se incomodar em lavar a uva que colocou na boca, guardou o
cacho verde na geladeira junto ao queijo, as azeitonas e às maçãs que
comprou.

Quando terminou, caminhou até à espaçosa sala de estar,


olhando para fora da janela com vista para a ponte Triborough, que de
acordo com o porteiro, era uma grande vista. Olhou diretamente para
baixo dela e teve que recuar quando sentiu uma vertigem. Altura
nunca foi seu forte.
Tirou seu telefone do bolso de trás de seu jeans e enviou uma
mensagem para Caleb. Enquanto escrevia para se encontrarem, sabia
que deveria ligar, mas estava sendo covarde.

Onde nos veremos? Você está em casa, certo?

Ela se encolheu diante de sua resposta e teclou o nome da


delicatessen na esquina, dando as direções para que ele pudesse
colocá-las em seu telefone. Não tinha certeza se ele sabia que
Gabriel...

O telefone tocou. Merda.

— Olá?

— Onde você está, porra? Diga que levou um dos rapazes com
você. — A voz de seu irmão era baixa e furiosa. Devia estar rodeado de
gente.

— Eu estou bem, Caleb. Você pode me encontrar na deli? Eu


preciso falar com você.

— O que você está fazendo aí? Por que não podemos falar quando
eu chegar em casa?

Homem teimoso.

— Estou indo agora. Falaremos quando chegar, está bem? Dirija


com cuidado.

Desligou antes que ele pudesse responder e se surpreendeu ao


ver que não a chamou de novo imediatamente. Não se preocupava que
ele fosse gritar nem nada disso. Caleb não era de gritar. Era mais
como um cara calmo, frio e mortal.

Afastando-se da janela, guardou o telefone e se dirigiu à porta,


sentindo-se calma e controlada. Não se reuniria com seu irmão para
lhe pedir permissão para começar sua vida, simplesmente iria fazer a
gentileza de comunicar que deu o primeiro passo para retomá-la.
Apenas esperava que entendesse seu desejo desesperado de
independência, porque a vontade era muito forte para ignorar. Para
qualquer um.

Vincente bateu no punho oferecido por Quan com o seu próprio


antes de pegar uma cadeira junto à piscina, as luzes debaixo da água
refletindo na mesa de cristal em frente à ele. Gabriel tocava um
clássico de Simon e Garfunkel com seu apreciado violão Fender
Telecaster '58 e não abriu a boca até que seus talentosos dedos
pararam depois do acorde final.

— Você chegou. — Observou.

A culpa por ter desaparecido desde a noite do casamento, além de


ontem à noite alcançou Vincente no peito, para não falar que entre
essa manhã e aquelas panquecas que pediu ontem à noite, estava sem
aparecer há mais de doze horas.
Estou envergonhado, porra, porque estou perdido por causa de
uma mulher!

Sem saber mais o que dizer, respondeu com um entrecortado. —


Sim.

— É assim, certo? Bem, então será melhor que eu comece antes


de sair novamente. — Gabriel colocou o violão sobre suas coxas, como
se tratasse de um recém-nascido, e moveu seu queixo como se seus
dentes precisassem do exercício. — O que aconteceu com seu desejo
por panquecas? Preferiu as caseiras em vez das de restaurantes? E
onde você esteve ultimamente, porra? Eu sei que não esteve em sua
casa, além de ontem à noite; não esteve no Astoria e não se incomode
em ir para o apartamento agora, porque está sendo dedetizado. Você
não deu à ROM atenção no mês passado, e essa sua empresa não se
dirige sozinha. Eu ouvi, novamente através de Maks, que ainda está
por aí em busca de Nollan por conta própria. Temos problemas mais
sérios do que encontrar essa escória fodida, V. — Fez uma pausa,
inclinou-se para frente e envolveu suas mãos ao redor do que
provavelmente era vodca Stoli com gelo diante dele. — Sabe o que vejo
quando olho para você?

Um maricas pouco confiável e desleal que não consegue parar de


pensar na irmã danificada de seu amigo?

— O quê?

— A mim.

Vincente estreitou os olhos.


— Como?

— Você está fazendo exatamente o que eu faria se Eva se


encontrasse na posição de Nika. Mas com muito mais... controle... do
que eu teria nessa situação.

Pelo que Vincente lembrava, o controle de Gabriel quando Eva


esteve naquela cabana com Stefano era mortal.

E ele acabou de ser pego. Mexeu-se em sua cadeira.

— O quê? Então pensa que estou apaixonado pela amiga de sua


esposa?

— Meeerda. — Quan se levantou, bateu em seu ombro enquanto


caminhava para dentro. — Isso foi tão lamentável e carente de genuína
veracidade, que oficialmente sinto vergonha por você. — Vincente
fulminou com o olhar as costas do filho da puta.

Idiota arrogante.

— O rapaz está procurando uma surra. Quando Jak virá? —


Conhecia o bastardo cruel desde o ensino médio. Além de fechar a loja
em Seattle, pois Gabriel voltou à Nova Iorque, também estava
fiscalizando a transferência do resto das coisas de Eva da sua casa na
ilha Mercer, que decidiu manter para um futuro imprevisível. Vincente
não a culpava. Tinha muitas lembranças de sua vida lá, quando
cresceu com sua mãe. Mas apenas lembranças, entretanto. Vincente
demorou oito anos antes que tivesse a coragem de vender o tríplex
depois da morte de Sophia.

Gabriel riu.
— Deve estar aqui a qualquer momento. — Eu não sei muito
sobre amor, V., mas sei alguma coisa. Ele é algo mais do que sua
necessidade de salvá-la, apenas porque não pôde salvar Sophia. Os
rapazes pensam que isso é tudo sobre do que se trata seu interesse.

Acariciou o dente de lobo ao redor de seu pescoço em um gesto


afetuoso. Sophia deu um para cada um deles, inscrito com sua
passagem favorita de perdão da bíblia. Vincente ainda tinha que
dominar esse sentimento.

Como poderia perdoar alguém, um homem como Kevin Nollan e as


coisas que ele fez para Nika?

E perdoar a si mesmo por Sophia?

Impossível.

Vincente olhou para Gabriel. Se alguém mais se referisse à morte


de sua irmã tão casualmente, teria batido nele, mas não ele, não G.
Ele conhecia, mais do que qualquer um dos outros, o que Vincente
passou durante esse tempo escuro, sabia sobre a culpa. A
responsabilidade por ter falhado, a fúria, a perda, a impotência, a
dor... ele tinha consciência de tudo.

Porque foi ele quem o levantou do chão a cada manhã quando se


tornou um bêbado, murmurando incoerentemente que deveria ter
estado lá, o que deveria ter feito, como fodeu tudo, que era sua culpa
por não tê-la encontrado à tempo, por ter permitido que seu sequestro
acontecesse.

— É parte disso. — Admitiu Vincente bruscamente.


— Mas não tudo?

Ele deu uma risada áspera.

— Merda, não. Ah, porra, mas não. — Esfregou a parte de trás de


seu pescoço, sentindo um estranho calor nas bochechas com o que
estava prestes a admitir.

— Eu a desejo. Não é apenas a satisfação de saber que ajudei


uma mulher a sair de uma situação de merda, apesar de estar
danificada e tudo. Ela é... sim. Somente... sim.

Porra.

— Isso era o que eu pensava. — Gabriel bateu na mesa como um


juiz com um martelo e mudou de assunto. — Então, o que você
achou? Algo à vista? Maks disse que lhe deu uma foto do bastardo.
Algumas áreas nas quais não terei que me preocupar em investigar?

O homem merecia um abraço.

As portas francesas se abriram e Maks saiu, com um grande copo


de café na mão, vestido com um jeans desbotado e nada mais.

— Samnang está lavando sua roupa? — Gabriel perguntou


secamente enquanto o homem se aproximava. — Duvido que minha
esposa queira dar uma olhada em toda essa sua história.

O corpo do russo era tatuado com histórias. —Porra, Ghost era


um artista com talento. — Vincente pensou em seu tatuador preferido
enquanto olhava à frente de Maksim. Uma impressionante Virgem
Maria envolta em túnicas segurava o menino Jesus, o amanhecer
emanando raios divinos por trás, enquanto dois mensageiros angélicos
de Deus permaneciam como figuras em guarda de cada lado. Embora
Ghost não usasse cor, todo o retrato era feito em tons de preto mais
escuro ao mais leve tom de cinza. Você poderia jurar que o brilho
dourado de um novo começo podia ser visto. E sentido.

— Eva vai adorar. Eu lhe prometo. — Respondeu Maks com um


bocejo. — Paynne era o alvo. — Adicionou, sua voz se amorteceu
quando afundou seu nariz no copo. O início da noite era sua manhã.

Vincente se endireitou.

— O quê?

Maks se sentou.

— Parece que Nollan já trabalhou no ferro-velho onde Paynne


matou o estuprador. Sim, eu o investiguei também, assim como um
amigo do nosso alvo. Meu palpite é que Nollan fez uma armadilha para
Paynne, assim teria a chave para obrigar a ruiva a ficar ao seu lado.
Não tenho certeza se Nollan foi tão longe para preparar o estupro
desse menino, apenas para dar a Paynne o incentivo para matar o
pedófilo, mas e se ele fez? Porra, haveria uma razão ainda maior para
matar esse bastardo.

Ficaram em silêncio, o suave barulho do sistema de filtração da


piscina era o único som, além da estranha ave que voava pela noite.

— Esse assunto? Cuidaremos dele. — Vincente disse, embora


soubesse que Caleb tinha mais direito do que ele. Mas ainda bem que
estava na porra do comando disso, porque se Nollan não morresse por
suas mãos, quem o matasse iria lamentar muito por ter tirado de
Vincente sua necessidade desesperada de conclusão.

Ninguém machucava sua ruiva e saía impune, mesmo que ela


estivesse fora dos limites.

— Temos outra, detetive.

Lorenzo levantou os olhos cansados da tela de seu notebook.


Transcrevia notas, não tinha muita coisa para acontecer. Hoje
entrevistou moradores da área onde três ruivas foram encontradas
assassinadas em incidentes separados durante as últimas duas
semanas. Se pensava que um trio era altamente suspeito e muita
coincidência, com mais esta eram quatro. Tinha um assassino em
série em suas mãos.

Olhou para o rosto inexpressivo de uma de suas agentes


femininas. Bonita e dura, Jayne tinha uma boca suja que deixava a
dele com vergonha. Ela atirou uma pasta em sua mesa e parou, com
suas pernas escoradas, e ele tentou não sorrir da pose irritada. Supôs
que não deveria ter recusado sua oferta de ir tomar uns drinques... o
que fez há dois fodidos meses atrás! Absteve-se de mover a cabeça.
Nunca entendeu o guardar rancor, mas porque gostava dela e
compreendia seu orgulho ferido, ignorou sua atitude.

Abriu o arquivo e nem sequer sentiu a necessidade de reprimir


um gemido do jeito que estava acostumado a fazer. Ver o cadáver de
uma mulher tornou-se comum, já não sentia mais surpresa. Merda,
precisava de umas férias ou de um novo trabalho.

— Detalhes? — Perguntou, embora soubesse que não seriam


diferentes dos que já tinha, exceto pelo número, o que significava que
o FBI apareceria para assumir.

— Jane Doe, prostituta, encontrada na área de Crown Heights.


Jovem ruiva, estrangulada, estuprada como as outras, a menos que de
algum jeito, permitisse que seu último cliente fizesse alguma dolorosa
alteração de suas partes íntimas. — Adicionou, sem poder esconder
seu desgosto. — Foi assassinada na noite passada. — Lore deu um
murro sobre a mesa e levantou-se, suas botas fizeram um ruído surdo
enquanto caminhava para a pequena área atrás de sua cadeira.

— Que merda acontece com esses caras? Juro por Deus, estou
doente da cabeça por continuar a pensar que as coisas não podem
piorar, até que pioram. — Lorenzo passou a mão por seu cabelo e
amaldiçoou como o diabo, porque sabia o que estava à ponto de fazer.
E porra, ele não queria fazer isso.

— Se você precisar relaxar, estarei no Benji's. — Disse Jayne, e


fez a oferta número dois, dando-lhe um olhar de simpatia – faminto -
antes de sair.
Lore mal tinha tempo de sentir pela família dessas pobres filhas
de alguém, antes que outra tivesse que passar a mesma coisa. Lore
conspiraria com o inimigo, porque nenhum policial em um gabinete ou
ao redor de Nova Iorque, sabia o que acontecia nos cantos escuros
mesmo no mais áspero dos bairros, como estes homens faziam.

O antigo grupo de Lorenzo… Jesus Cristo, sua supervisora lhe


daria um chute no traseiro até Newark, se ela soubesse o que estava
prestes a fazer. Mas faria mesmo assim e apenas podia esperar
encontrar algo antes que os engravatados aparecessem e mostrassem
seus distintivos por aí.

Pegou o telefone de sua mesa e foi visitar alguns membros locais


das máfias russas e italianas.
Os olhares no rosto dos clientes que comiam seus sanduíches,
estavam tipicamente cautelosos quando Caleb entrou no restaurante e
exibiu suas tatuagens. No entanto, Nika não notou nada mais do que
aprovação nos olhos da bonita garçonete enquanto seu olhar admirado
assimilava as tatuagens e o corpo tonificado de Caleb. Suas pesadas
botas ecoavam no chão e Nika levantou da mesa de duas pessoas que
escolheu no canto para dar um abraço e um beijo em seu irmão, caso
não tivesse a oportunidade depois que lhe dissesse o que tinha que
dizer. A garçonete pareceu decepcionada e depois irritada.

— Ei. Você não deveria ter deixado o clube sozinha.

O tom de “garota tola” de Caleb a incomodou e Nika lhe deu um


olhar enquanto se sentavam.

— Pelo que sabemos, Kevin é coisa do passado. Ele é um covarde,


provavelmente está em Detroit ou Chicago agora.

— Ou poderia estar à sua espera, para pegá-la sozinha.

Ela empalideceu e não pôde evitar de olhar pelas janelas da frente


procurando através do entardecer lá fora. TP, um dos irmãos do MC de
Caleb, estava junto à calçada, apoiado em sua moto e fumava um
cigarro.
— Desculpe! — Caleb cobriu sua mão — Apenas quero que você
fique segura, o que significa que não deve correr nenhum risco.

Isso soava como uma introdução.

— Ouça, sobre isso...

— Posso lhes trazer alguma coisa?

Ambos levantaram os olhos depois da gelada oferta para ver a


garçonete olhar de cima a baixo para Caleb. Nika deu um sorriso
simpático, antes de levantar a sobrancelha para Caleb novamente.
Assim como ontem, estranhos aleatórios o fulminavam com o olhar o
dia todo. Mediam seu punho contra a contusão descolorida no rosto de
Nika. Era tão injusto!

— Meu irmão ama café. — Disse repentinamente. — E acho que


ele poderia precisar de um, agora que sabe da minha... situação. —
Tocou discretamente o hematoma em sua bochecha enquanto os olhos
da garota se abriam. — Pode nos trazer uma torta de mirtilo também?
Não acredito que ele vá querer chutar o muito merecedor traseiro do
meu namorado com o estômago vazio.

— Oh... raios. Sinto muito! — A garota sussurrou para Caleb —


Apenas pensei... merda. Meu irmão me mataria por tirar conclusões
como essa sem analisar os fatos apropriadamente. Meu outro irmão
me mataria por pensar o pior das pessoas. Uh sim, torta.
Absolutamente. — Assentiu com entusiasmo, as estrelas mais uma vez
brilhando em seus olhos castanhos enquanto olhava fixamente para
Caleb, que a observava com um pequeno sorriso em seu rosto.
Claramente, acabava de encontrar um novo herói. — Meu pai o fez
esta manhã. Quer um pouco de sorvete com ele, coelhinho?

Caleb parecia ter sido esbofeteado.

— É claro. Obrigado! — Disse lentamente.

— Ok. Volto em seguida.

Ela se foi e já movia a cabeça para a outra moça que estava no


balcão. Obviamente sua amiga. Sussurraram enquanto servia a
sobremesa.

— Obrigado pelo resgate. Ela realmente me chamou assim?

Nika assentiu, tentando não rir.

— Sim, coelhinho.

Ele negou.

— Ela tem um grande corpo, mas precisa trabalhar em seus


apelidos.

—Sim. — E não tem que me agradecer por esclarecer a situação.


Eu gostaria de usar um sinal nas costas com o nome e a foto de Kevin
para que as pessoas saibam quem fez isto em mim. Esses olhares
quase arruinaram meu dia com você ontem.

— Aqui está! — Torta, sorvete e café foram colocados sobre a


mesa e Nika tinha certeza que a garota queria colocar cada colher
diretamente na boca de Caleb.
— Obrigado, gatinha. — Disse ele, mas Nika não podia dizer se
era sarcasmo.

A garçonete obviamente não acreditou que fosse, porque seu


sorriso foi sensacional.

— Não há problema. Se precisarem de qualquer outra coisa, como


um martelo para o cara que fez isso... — Disse a Nika — Avisem.

— Você deveria se casar com ela. — Nika disse de brincadeira


depois que a moça se afastou.

Caleb sorriu.

— Não se pode culpar as pessoas por pensarem o que pensam. —


Comentou, voltando para sua conversa. Comeu a metade da fatia em
uma boa mordida. — Eu faria o mesmo... quer dizer, olhe para você.

— Caleb! E não coma dessa forma. Mordidas menores.

Ele limpou a boca com um guardanapo e piscou um olho para


ela.

— Sinto muito, Nik. O hematoma não é tão ruim como antes, mas
ainda parece como se tivesse sido... ferida pelo punho de um homem.
Isso... porra...

— Ouça! — Ela o interrompeu, balançou a cabeça e sorriu


enquanto a garçonete levantava a cafeteira em sua direção. — Eu lhe
pedi para me encontrar porque queria falar com você sobre, eu, uh...
sei que você me quer à salvo e uh... eu estou em minha própria casa
hoje. — Soltou finalmente e podia jurar que a temperatura da sala
despencou vinte graus.

— Diga de novo?

Obrigou-se a não recuar pela mudança em sua expressão e se


apressou em fazer seu anúncio.

— Gabriel me ofereceu um apartamento nesta rua. Me mudei esta


tarde.

Depois de colocar suavemente o garfo sobre a mesa, ele moveu


seu prato para o lado, parecendo relativamente calmo. Mas quando
falou, sua voz era dura como uma rocha.

— Levarei você agora para que pegue suas coisas. Deixarei as


chaves no clube de Kirov mais tarde esta noite e ele pode dá-las de
volta a Moretti.

A boca de Nika abriu. Apenas assim? Não tinha espaço para


discussão? Ou argumento? O último era o mais provável para o que
estava prestes a acontecer.

Ficou tensa, inalou lentamente, não querendo parecer


desequilibrada e tentou lembrar-se que ele apenas queria o melhor
para ela.

— Caleb. Não posso viver no clube...

— Então teremos uma casa própria. — Interrompeu com um


encolher de ombros.
— Não. Não vou afastá-lo do...

— Não fará! — Cortou de novo, seu tom cheio de desprezo. Tomou


um gole de café e se inclinou para trás. — Você não viverá em um
lugar de propriedade da porra de um mafioso, Nika.

Seu temperamento se acendeu com isso e se inclinou:

— Gabriel é muito mais do que um mafioso... — Disse


firmemente. — É uma pessoa maravilhosa. Salvou a vida de Eva, pelo
amor de Deus.

— Sua vida não estaria em perigo se ele tivesse mantido suas


mãos longe dela porra!

Nika ficou sem fôlego.

— Caleb! Ela é mais feliz do que jamais foi.

Seu irmão a olhou, um músculo pulsando em seu queixo. Ele


guardava ressentimento de Gabriel pelo que Stefano e Furio fizeram
com Eva? Ela não tinha percebido isso.

— Lamento o que aconteceu com você, Nik. — Disse de repente,


seu olhar desfocado em algum lugar sobre o balcão. — É por isso que
não quer ficar, certo? Por minha causa. Merda. Eu deveria ter previsto
isso.

Seus olhos se arregalaram.

— Espere, espere, espere. Eu não saí do clube porque estou com


raiva ou chateada com você. —Sentou-se mais na beirada de sua
cadeira. Queria poder subir em seu colo e abraça-lo até que ele
acreditasse nela. — Eu não culpo você, Caleb. Por favor, me ouça. Não
faço isso. Nem sequer um pouco. Se fizesse, diria a você. De verdade!

Ele cobriu suas mãos onde agarrava os lados da mesa.

— Bem, bem. Acalme-se. Acredito em você. Apenas se acalme,


certo?

Nika apertou os olhos para expressão dele de “uh-oh ela está


prestes a enlouquecer”. Ele ainda a tratava como se não fosse
suficientemente forte para ter uma dura discussão. Moveu as mãos
para trás e cruzou os braços sobre o peito. Mas então, percebeu que
esta era uma posição defensiva e se inclinou para descansar seus
braços sobre a mesa.

— Ouça, e não me interrompa novamente! — Disse, quando ele


abriu a boca. Fechou-a e levantou a sobrancelha, agitando suas mãos
para que ela continuasse a falar. — Eu não podia passar outro dia
sendo vigiada por todo mundo. No primeiro sinal de conflito, durante
um maldito programa de televisão na outra noite, os rapazes me
olharam como se esperassem que eu me enfiasse em um canto, me
balançasse para frente e para trás e fizesse ruídos estranhos. Acredite
em mim, não sou tão frágil.

Ela teve suas crises e certamente não queria passar por essa
experiência novamente. Catatônica, sua bunda. Mais como cansativa e
deprimente. Deus, as coisas que passaram por sua cabeça. Era como se
lembrasse de cada coisa brutal que Kevin lhe fez.
Continuou e tentou explicar as coisas de modo que esperava que
ele entendesse.

— Não vou afastá-lo de sua vida enquanto tento encontrar a


minha. Você não vê? Não posso deixar que o que Kevin fez, me faça ter
medo de sair e interagir com as pessoas, por algum medo absurdo de
que estejam lá fora para me pegar. Tenho que superar essa paranoia.
Ficar com você, envolvida no casulo que criou -embora eu o ame por
isso e aprecie o que fez - simplesmente não é o que preciso. Você sabe
que não é o que eu sou. Não sou uma pessoa fraca que precisa ser
salva. No entanto, você me trata assim. Sei que apenas se passaram
duas semanas e eu sei que você se confronta contra o que Kevin fez,
mas me sinto sufocada, Caleb.

Podia ver, pelo ângulo de seu queixo teimoso, que não o tinha
convencido, mas continuou com sua tentativa.

— Nunca mais permitirei que alguém, que ninguém, — enfatizou,


— diga-me como viver a minha vida. Nem mesmo você. Farei isto do
meu jeio. Não é o ideal, ter que ficar sob a proteção de outra pessoa,
mas neste momento, é isso o que farei. E serei grata pelo descanso
que Gabriel me ofereceu na forma de minha própria casa e de um
possível trabalho, que me dará a chance de mostrar que não sou tão
indigna como Kevin dizia que sou. — Levantou uma mão e engoliu a
bola de vergonha que flutuava em sua garganta, sem nenhuma razão
em particular. — Esse idiota fez algo que me atingiu, Caleb, alterou a
forma como me vejo e quero que isso acabe. Eu desejo voltar a ser
como era e não vou conseguir se me afogar em autocompaixão. Assim
como papai e você ensinaram, subirei novamente. Vou trabalhar duro,
agradecer aos que me ajudaram e finalmente, serei novamente forte o
suficiente para devolver o favor para aqueles que precisam, uma vez
que eu não vou precisar mais.

A tensão saiu de seus ombros. Fez a coisa certa. Ela sabia.

— E como disse, pelo que sabemos, Kevin se foi. O mais provável


é que tenha fugido, porque sente medo o suficiente de você e de
Vincente para não andar ao redor com a remota possibilidade de que
pudesse me pegar sozinha em algum lugar. Ele nunca deixaria o
cartão de memória se não estivesse se cagando de medo. E agora que
você sabe a história completa de como ele me chantageou, terá ainda
mais medo. — Negou com a cabeça. — Não, não acredito que corra o
risco de aparecer novamente aqui.

Caleb cruzou os braços sobre o peito, e moveu a cabeça como se


tivesse conseguido convencê-lo.

— Você acha que passando um tempo em seu mundo, você


poderia ter uma chance com V.? Era lá que você estava antes? Estava
com ele?

As perguntas se chocaram contra ela com a força de uma dúzia


de golpes, e a deixou tão envergonhada que apertou a pele de seu
braço até que sentiu uma dor real. Seu interesse por Vincente foi
notado. Quem mais teria percebido? Vincente também? Foi por isso
que não ficou perto dela desde aquela noite? Ela fez alguma coisa para
deixá-lo desconfortável?

A mortificação quase a afogou... até que a raiva a atingiu.


Não. Não permitiria isto. Não mais.

Endireitou as costas e encontrou os olhos de seu irmão, sem


piscar. Não se sentiria envergonhada. Nem desconfortável. Não ficaria
constrangida por seus desejos e necessidades como mulher.

Isso era o que ela era! Uma mulher! E estava aliviada por ainda
ter essas necessidades, embora não tivesse nenhuma intenção de agir
sobre elas. Se desejava Vincente Romani, não era assunto de ninguém,
exceto seu.

— Você não ouviu uma palavra do que eu disse! — Acusou-o.

— Ele não é o tipo de pessoa que você precisa, Nik. — Murmurou


Caleb com voz rouca enquanto arrastava seu garfo através do creme
gelado que derretia em seu prato. — O que você fazia com ele, porra?

— Eu não estava com ele. Não o vi desde que saí da casa de Eva.
Mas esqueça Vincente e me ouça, por favor. Fiz isto porque quero ser
independente. Preciso ser independente. Seguirei com minha vida,
conhecerei pessoas normais que não carregam armas e facas como o
restante de nós carrega celulares. — Fixou o olhar de seu irmão e
manteve sua voz baixa. — Você é livre para viver sem responder a
ninguém. Se quiser levar essa garota para casa agora... — fez um gesto
para a garçonete, que limpava uma mesa junto à janela da frente. —
Diria que a trate bem e faria minha discreta saída. Agora vou exigir o
mesmo respeito de você. Se eu quiser levar vinte homens como
Vincente para casa, então esse é meu assunto e é o que farei. Você não
vai julgar.
Ficou de pé, tirou uma nota de vinte de seu bolso e jogou sobre a
mesa.

— Se você puder fazer isso por mim, então vamos. Levarei você ao
apartamento e lhe mostrarei tudo. Se não for assim... — Tossiu para
esconder o tremor que sentia envolver sua voz. — Ligue-me quando
recobrar a razão.

Caleb agarrou seu pulso e se levantou quando ela tentou se


afastar. Sem uma palavra, atraiu Nika para um forte abraço.

— Eu a amo muito para perdê-la apenas porque não consigo


entender o que você precisa. Explique isso novamente no caminho.
Apenas... não me deixe de fora, Nik.

Ela colocou seus braços ao redor de seus ombros largos e lhe


devolveu o abraço bem ali no pequeno restaurante e Nika teve certeza
que ouviu um soluço e um barulho de pratos a poucos metros de
distância.

— Pedido pronto, Ashlyn! — Veio a chamada da cozinha.

Vincente passou pelo beco escuro em sua habitual Harley V-Rod.


Desligou o motor e agora estava parado. Depois de sair de casa, viajou
pelo Grand Central Parkway, indo ao redor de Cunningham Park,
dizendo a si mesmo que estava indo nessa direção porque queria
chegar na melhor padaria dinamarquesa da cidade. Era uma pena que
o lugar não estivesse aberto a esta hora da noite. Também era uma
pena já estar satisfeito com os perfeitos bifes grelhados de Samnang e
salada de batata que derretia na boca.

Pendurou seu capacete no guidão, passou a perna sobre a sua


moto e parou, franzindo a testa enquanto olhava novamente para a
rua. Se perguntava por que dois dos rapazes dos Obsidian Devils MC
teriam suas motos estacionadas a mais de duas quadras do clube.
Especialmente aquela que sabia pertencer a Caleb.

Foi para as sombras, e seguiu o som de uma voz abafada.


Homem, esperava estar prestes a interrompê-los com algumas
prostitutas.

Diminuiu o passo um pouco antes de virar a esquina do prédio e


em seguida correu. Em perfeito silêncio, parou e recuou. Não. Estavam
sendo fodidos, mas não no bom sentido. Caleb estava de barriga para
baixo no chão sujo, segurado ali por um bastardo com capuz que
tinha seu joelho pressionado na coluna do motoqueiro e com o cano de
uma arma na parte de trás de sua cabeça. O proprietário da outra
moto estava deitado a alguns metros de distância- esperava que
inconsciente e não morto - com um companheiro da pessoa com
capuz, mais ou menos na mesma posição bem ao lado dele, com uma
nove milímetros a um palmo de sua mão. Também inconsciente. Ou
morto.
— Onde está ela? — Grunhiu o bastardo com capuz no ouvido de
Caleb, enquanto apertava a pistola tão funda que V. tinha certeza que
atingia o cérebro.

Uma onda de fúria o cegou e não esperou para ver o que


aconteceria depois. Moveu-se como uma sombra, arrastou-se ao longo
da parede até que chegou perto de ambos. Com um agarre rápido,
pegou o bastardo pelo capuz e bateu forte debaixo de seu cotovelo,
fazendo com que a arma voasse para uma pilha de sacos de lixo.
Levantou-o e o afastou das costas de Caleb com um forte puxão, o
jogando de cabeça nos tijolos na frente deles. O golpe foi como um som
doente e docemente misturado com o uivo de dor do cara.

Atrás dele, ouviu alguém arrastar os pés. Caleb sem dúvida, ficou
de pé e outra pessoa deixou sair um gemido profundo para que todos
soubessem que estava despertando.

Vincente bateu na boca do cara que segurava e agachou para


evitar um gancho de direita, do qual se desviou de qualquer maneira.
O que estes caras queriam? Atacaram dois dos homens de Vex perto
da central de comando. Não tinham ideia? Ou tinham alguém
importante em suas costas?

— Para quem você trabalha? — Perguntou com curiosidade.

A pergunta mal saiu de seus lábios quando sentiu uma dor


lancinante em seu tríceps esquerdo. Apertou o controle sobre a
garganta de sua presa e sua cabeça se moveu para o lado bem à tempo
de ver o companheiro do de capuz ser atacado por um selvagem Caleb.
A faca que o cara usou para cortar Vincente fez um ruído com o
impacto.

— Eles perguntaram por Nika! — Gritou Caleb.

E aí a merda ficou real.

No entanto, em vez de ir para sua pistola- com certeza os rapazes


eram mais valiosos para eles vivos- Vincente levantou o joelho e o
cravou nas bolas do infeliz candidato em frente à ele, apreciando o
som estrangulado que saiu de sua garganta.

— Nollan mandou você? Diga-me onde encontrá-lo e talvez não


corte seu pau e alimente você com ele. Tem até cinco...

O som das sirenes chamou sua atenção e virou o olhar incrédulo


para Caleb ao ouvir o familiar alarme. Ambos amaldiçoaram. Não
importava que fossem a parte lesada ali. Vincente sabia tudo sobre o
preconceito que surgia no momento em que alguém da polícia de Nova
Iorque via coletes dos Obsidian Devils.

— Temos que ir, rapazes.

O anúncio veio do homem que Vincente agora podia ver se tratar


de TP, um irmão de Caleb, que acabou de ficar de pé e já arrastava os
pés para a entrada do beco onde deixou sua moto.

Com uma última cotovelada violenta de um lado da cabeça do


homem de capuz, Vincente deixou o cara cair e foi para sua própria
moto. Merda. A frustração o devorou. Ele deveria estar com sua
caminhonete. Carregaria os dois nela e os levaria para sua casa, onde
ele e Maks não teriam problemas em conseguir com que falassem.
Nenhum homem que conheceu sabia torturar como Maksim Kirov.

Colocou o capacete e foi para a entrada do beco enquanto as


luzes traseiras de Caleb e TP desapareciam na esquina. Indo em
direção oposta, Vincente se assegurou de andar como se fizesse uma
viagem de passeio. Gemeu e assentiu ao rosto familiar no volante do
carro disfarçado que levava duas luzes e piscava em seu caminho. O
chiado de freios no asfalto úmido o fez ranger os dentes. Diminuiu a
velocidade e parou na calçada. Não teve que esperar muito antes de
ouvir a marcha ré. Os outros dois veículos chegaram ao local,
enquanto Lore parava a seu lado.

A janela desceu enquanto os freios soavam mais uma vez.


Vincente também desligou sua moto. Apesar de terem tomado
caminhos diferentes na vida, ele e Lore ainda compartilhavam um
profundo respeito um pelo outro. E seria assim até o dia em que o
detetive tentasse prender a ele ou a um de seus amigos.

Então, todas as apostas seriam pagas.

Merda. Esperava que seu braço cooperasse e não sangrasse


muito até que a conversa tivesse terminado. Imaginava que era no seu
lado esquerdo.

— Se você pode acreditar. — Disse Lore, com os olhos estreitados.


— Estava em meu caminho para Westbury para fazer uma visita aos
rapazes. — Apontou para a mesma rua. — Até que ouvi uma chamada
sobre uma dupla de motoqueiros que atacavam dois civis. Pensei em
verificar com os caras. Você sabe algo sobre isso, V.?
Viram? Uma testemunha viu os coletes e assumiu
automaticamente que os motoqueiros eram os agressores.

— É claro que não, Lore. Por que saberia?

— Sim. Por quê? — Disse Lore ríspido e continuou o jogo.

— Você acha que os rapazes de Vex iriam atrás de duas pessoas


aleatórias, sem razão nenhuma? — Perguntou, porque não conseguiu
evitar.

Lore parecia segurar o riso.

— Não. Apenas queria me apresentar para trabalhar amanhã e


esfregar no nariz de Smythe o fato de que vi os Obsidian Devils em
ação, quando ele nem sequer pode conseguir uma foto de um deles
dando uma mijada.

Vincente sorriu. Realmente era uma pena que estivessem em


lados opostos.

— De qualquer maneira, você quer conversar aqui? Ou prefere


que eu vá à sua casa? — Olhou para o teto de seu carro por um
segundo, seu rosto franzindo como se tivesse chupado um limão —
Isto é extraoficial, se fizer diferença... — Grunhiu.

O que era aquilo? O detetive Lorenzo Russo da polícia de Nova


Iorque estava prestes a pedir sua ajuda com alguma coisa? Isto devia
ser bom.

— Não há necessidade de desperdiçar gasolina indo até lá quando


estou bem na sua frente. O que acontece?
Lore pegou uma pequena pilha do que pareciam blocos de notas
do painel e as entregou para Vincente. Ele pegou e quase amaldiçoou
quando sentiu uma grande quantidade de sangue acumulando-se na
manga de sua camisa. Uma gota caiu sobre o asfalto, a luz por cima
deles realçando-a perfeitamente. A sorte é que Lorenzo estava no
carro.

— E isto é...? — Questionou enquanto virava a pilha para ver que


não eram notas afinal, a não ser fotografias de cenas de crime de
quatro mulheres diferentes. A de cima, de uma jovem.

— Queria saber se os rapazes têm alguma pista do porquê temos


até o momento, quatro mulheres no necrotério nos últimos quatorze
dias. Agora, isso normalmente não significaria muito. Realmente não
importaria. Mas o fato de que todas eram jovens, prostitutas, todas
estupradas exatamente da mesma forma bárbara, estranguladas até a
morte eencontradas ao redor da mesma área, Crown Heights. Se ajuda
saber, eram todas ruivas.

O rosto de Vincente esfriou enquanto o sangue drenava de sua


cabeça. Merda. Nollan? Poderia ser? Mataria essas mulheres? Essas
ruivas? Porque elas lembravam Nika?

— Os federais vão intervir a qualquer momento e não acredito


que tenham a coragem para pegar esse bastardo doente. Tenho um
assassino em série em minhas mãos V. e estou disposto a fazer de
tudo para impedi-lo.

Inclusive pedir a sua ajuda, o que não foi dito. Mas o que
Vincente poderia fazer para ajudar? Nada. Realmente não sabia muito,
exceto quem estava fazendo a matança. E mesmo isso era uma
especulação. E se estivesse certo, não sabia onde encontrar Nollan.
Não tinha ideia de onde procurar... até agora.

Se soubesse a localização desse bastardo, já teria feito o trabalho


de Lore e parado os homicídios, destruindo o assassino.

Entregou as fotos novamente depois de olhar apenas as duas


primeiras, incapaz de ver mais.

Duas gotas de sangue caíram sobre o asfalto. Plac. Plac.

— Você não imagina o quanto eu gostaria de poder ajuda-lo, Lore.


— Disse, e queria dizer isso do fundo do coração — Mas não sei uma
merda sobre onde pode encontrar este bastardo. Embora não queira
dizer que não manteremos um olho nisso. — De fato, iria para a área
de Crown Heights amanhã na primeira hora. Estaria em seu caminho
nesse momento se não tivesse que cuidar da porra do seu braço.

Lore pegou as fotos com um aceno resignado, sobrancelhas para


baixo.

— Se você ou seus sócios ouvirem algo nas ruas que possa me


ajudar, entrará em contato?

Seus olhares se encontraram e Vincente sentiu que seu rosto


endurecia pela simpatia que podia ver nos olhos sombreados do
detetive.

A mãe de Lore foi a dama de companhia na festa do décimo sexto


aniversário de Sophia. Ashlyn, a convidada de Sophia naquela noite e
melhor amiga, era a irmã de Lore.
— Se ouvirmos algo. — Disse Vincente com cuidado, e sustentou
esse olhar. — Sem dúvida lhe direi, irmão. Não se preocupe.

Lorenzo assentiu uma vez.

— Eu preferiria uma ligação pessoal, mas não importa a quem se


dirija, desde que este cara saia das ruas, acho que é tudo o que
qualquer um poderia pedir. — Deixou cair as fotografias sobre o banco
do passageiro e ligou o carro — Agora, vá procurar alguém que costure
você ou o que quer que seja isso, antes que sangre até a morte. —
Murmurou com um gesto para o braço de Vincente.

Vincente sorriu e despediu-se de seu companheiro. Enquanto se


afastava, olhou Lore através do espelho lateral. O miserável bastardo
somente lhe deu o mais básico dos sorrisos.

Sem perder mais tempo, arrancou sua moto e moveu o pneu


dianteiro na direção de Astoria, o apartamento mais próximo para se
curar. Gabriel lhe disse que o lugar estava sendo dedetizado devido
aos insetos, mas que se dane. Precisava parar o sangramento agora e
perder tempo no pronto-socorro não iria acontecer. Enquanto dirigia,
pensou no que descobriu na última hora. De acordo com Caleb, os
dois que assaltaram a ele e TP perguntaram por Nika, o que apenas
podia significar que Nollan ainda estava vivo e que procurava
ativamente informações sobre sua esposa. Através de Lore, a presença
de Nollan - provavelmente - foi confirmada e agora sabia que o filho da
puta era muito mais perigoso do que pensaram antes. Se Nollan
cometeu os homicídios, do que Vincente estava convencido que era o
caso, a ideia de que Nika viveu com um homem que matou quatro
mulheres recentemente, somente porque se pareciam com a que foi
embora, dava-lhe arrepios.

Também dava vontade de vasculhar os becos de Crown Heights


até encontrar o bastardo.

Seu celular tocou e fez uma careta quando o tirou de seu bolso, a
ferida de faca ardendo. Respondeu a ligação depois de parar.

— Diga.

— V. — A voz de Caleb era baixa em seu ouvido.

— Olá. Você está bem, irmão?

— Sim, obrigado homem. Esta merda apenas continua somando


a a seu favor. — Ele riu — De onde você saiu, porra? Num minuto
esperava ter um buraco em minha cabeça, no próximo vejo sua cabeça
feia na minha frente.

— Passava por ali e vi sua moto.

— Estava indo para a sede do clube?

Vincente apertou os dentes.

— Não. Conte-me sobre eles.

O furioso bufo em seu ouvido o fez ouvir atentamente.

— Queriam saber onde encontrar Nika Nollan.

Os pelos da nuca de Vincente se arrepiaram como o de um puto


cão raivoso.
— Onde os encontrou? — Filhos da puta. Deveria tê-los matado
quando teve a chance, não importava que Lorenzo estivesse a uma
quadra de distância.

— Um deles entrou em contato com TP e pediu para se reunir.


Disseram que tinham informações sobre onde encontrar Nollan.
Corremos o boato de que estávamos procurando por ele, por isso
pensamos que eram de confiança. Mostraram suas pistolas no
segundo em que chegamos e não pudemos fazer merda nenhuma sem
levar um tiro à queima-roupa. Quando surgiu a oportunidade e TP
começou a lutar com ele, o outro com o capuz colocou sua arma no
meu rosto. Um fodido desastre. Fiz o que pude para não deixar que
atirasse. Isso era a última coisa que eu precisava, enquanto Nika
precisa de mim. Especialmente depois do que ela fez para garantir que
eu não fosse preso.

Vincente desejou ter chegado antes.

— Acabo de ter uma conversa com um amigo e parece que Nollan


ficou louco. Quatro prostitutas ruivas apareceram mortas desde a
noite em que a situação com sua irmã se tornou pública. Duvido que
seja uma coincidência. Eu tenho que cuidar de algo, depois entrarei
em contato. Podemos sair, mostrar sua foto, ver se podemos descobrir
por nós mesmos.

— Maldita merda, V. Este bastardo tinha a mi... — Parou,


claramente incapaz de terminar. — Não vai dizer para onde vai, certo?

— Não. — Porque se Caleb e Vex decidissem ir para Crown


Heights por conta própria, Vincente acrescentaria suas fotos ao pôster
dos procurados. Era melhor evitar isso totalmente. — Mantenha ela
segura, Paynne. A merda é mais séria do que pensávamos. — Advertiu.
O que significava que Nika teria que se mudar. — Estarei em contato.

— Mas ela está...

Desligou e guardou seu telefone, ignorando quando tocou no


bolso quase que imediatamente. Tinha que lidar com seu braço antes
que sangrasse até morrer ali, ao lado da estrada. A raiva era sua única
companheira enquanto ia para o tráfego e se dirigia ao apartamento.
Amaldiçoou a cada quadra que passava. Esperava que precisasse
somente de alguns pontos de sutura.

Essa esperança morreu imediatamente quando chegou ao


estacionamento subterrâneo do edifício e desceu da moto. Um fluxo de
sangue saiu de sua manga e caiu no chão quando deixou que seu
braço caísse ao seu lado. Esse idiota enfiou a faca muito
profundamente.

Cumprimentou Tyson, o porteiro de guarda na mesa, que


inteligentemente deu uma olhada e depois se afastou do sangue que
escorria dos dedos de Vincente sem lhe oferecer ajuda, e entrou no
elevador, contente de que já fosse muito tarde para que muitas
pessoas estivessem para fora. Rodou seu pescoço tenso e subiu ao
décimo andar, erguendo o braço para cima para não deixar nenhum
rastro de sangue em seu apartamento. A maldita merda molhou sua
camisa sob suas costelas e músculos e a cintura de sua calça em seu
lado esquerdo também. Sorte que levou sua jaqueta. Maks sempre o
incomodava por usar couro no meio do verão, mas valeu à pena esta
noite. Esta era exatamente a causa do porquê Vincente a vestia todas
as noites antes de sair. Se a faca não tivesse que passar pela grossa
primeira pele, certamente seu braço teria sido cortado até o osso.

Não se preocupou em acender as luzes enquanto abria e fechava


as portas, mas respirou fundo com a dor e foi quando se encolheu...

Laranjas e jasmim.

A combinação atingiu seus pulmões e se negou a reconhecer o


quanto estava saboreando esse cheiro. Somente uma mulher que
conhecia tinha o aroma das laranjas e jasmim e Gabriel receberia um
tiro nos dentes por ter mentido à respeito da dedetização de merda.

Atordoado, se moveu lentamente tendo sua antecipação e raiva


sob controle. Tentou não fazer ruído ao andar. O lugar aberto permitia
ver a sala de estar vazia com seus quadros emoldurados e a tela plana
em seu caminho pelo curto corredor. Tinha sacolas de compras e
algumas caixas de sapatos no chão ao lado do balcão da cozinha.
Respirou fundo novamente e sentiu que seus joelhos oscilaram. Suas
mãos começaram a tremer.

Que porra Nika fazia ali? Por que não estava com seu irmão?

Mais importante ainda, por que não ficava em segurança atrás


das quatro paredes da sede do clube, onde ninguém poderia machucá-
la? Era isso o que Caleb tentou dizer quando desligou? Que ela foi
embora? Seu telefone tocou no bolso, indicando uma mensagem.

Vi você entrar. Não sabia que estava vindo para substituir.


Vemo-nos fora. Alesio.
Gabriel deve ter colocado seu primo, junto com um de seus
outros homens, de guarda. Sempre trabalhavam em pares. Vincente
ficou imóvel durante um segundo, preso ao pânico que queimava seu
peito agora que sua escolha de cuidar dela foi tirada dele. De jeito
nenhum a deixaria ali sozinha. Este apartamento era seguro, mas não
seguro o suficiente. Merda. Evitou vê-la durante uma semana, e agora
não tinha mais escolha a não ser passar a merda da noite com ela.
Porque não iria se comportar como um idiota retornando a ligação
para Alesio. Muitas perguntas seriam feitas.

Muitas.

Moveu-se mais uma vez, estendeu a mão e lentamente abriu a


porta do quarto.

Meu... deus.

Ele prendeu a respiração com a visão que o recebeu. Sua fantasia


se transformou em realidade. Nika estava seminua na cama, todo
aquele cabelo multicolorido espalhado ao redor dela. Seu corpo
impecável – porra, esqueceu quão impecável era - estava coberto por
nada mais que um minúsculo short verde preso em seus magros
quadris. Um pequeno top branco que mal cobria a perfeição que
deveria ser um de seus seios. As contusões amareladas que ainda
manchavam sua pele em várias áreas, não diminuíam sua beleza, mas
levavam Vincente para um lugar que lhe lembrava de parar com sua
apreciação. Ela não precisava que a comesse com os olhos,
especialmente quando afirmava não querer fazer nada mais do que
ajudá-la.
Portanto, deveria acordá-la e dizer-lhe que estava ali? Ou deixá-la
dormir e o visse pela manhã? Porque com tudo o que aconteceu esta
noite, depois de ver as fotos e ouvir à respeito das ruivas
assassinadas, não havia maneira de que a deixasse fora de sua vista.
Não esta noite.

— Merda! — Sussurrou, sem saber o que fazer.

Mesmo em um sussurro, o som de sua voz fez Nika sentar-se e


mover sua mão por baixo do travesseiro para tirar o que parecia ser
uma SIG e apontá-la direto para seu peito.
Vincente colocou-se de lado e deu um puxão na porta do quarto,
a deixando meio fechada. Encolheu-se enquanto esperava ouvir um
disparo. A visão dela armada com tanta rapidez? Era a coisa mais sexy
da história.

Definitivamente não era daquelas que se derrubavam e ficavam


loucas, como Nollan. Ela estava preparada.

Por que pensou que o cara viria atrás dela?

— Ruiva. — Limpou a garganta, tentando fazer com que sua voz


fosse a menos ameaçadora possível, o que era sorte, se considerasse
que estava duro depois que a viu quase nua. — Ruiva, abaixe a arma.
Sou eu. — Nada. Nenhum som absolutamente. Nem sequer uma
respiração. — Ruiva? — Seus músculos se contraíram com o fraco
suspiro que soou atrás da porta. — Sou eu, baby. Abaixe a arma.

— V-Vincente?

Ele fechou os olhos por um segundo e depois levantou uma mão


para empurrar a porta e abri-la novamente. E sim, todo seu corpo se
esticou com a visão dela, com suas pernas longas dobradas de lado em
uma pose erótica não intencional. Ele apertou os dentes e deu um
passo adiante quando ela abaixou a arma, piscando várias vezes
enquanto tentava acordar.
Vê-la agora, depois de apenas sete intermináveis dias, era como
sair à superfície do oceano para respirar profundamente quando nem
sequer percebeu que estava se afogando.

Não tinha nenhum direito de sentir-se atraído por Nika da forma


como estava, não depois de tudo o que aconteceu. Mas ela sempre teve
controle sobre ele, desde o primeiro momento em que colocou os olhos
nela naquela rua em Seattle. Muito antes de saber quem ela era.

— Vincente. — A perplexidade em sua voz quando pronunciou


seu nome foi tão calmante como uma mão quente passando por suas
costas.

— Sim, uh, Gabriel não me disse que você estava aqui ou eu não
viria.

Um flash imediato de dor apareceu em seus olhos brilhantes, a


cor que agora ele podia ver. A visão de seu mal-estar fez com que seus
dedos se fechassem em punhos, suas próximas palavras fazendo-o
querer fazer um buraco na parede.

— Não duvido. — Ele achou que ela disse essas palavras


enquanto olhava para seu colo. — Se você me der um minuto, posso
reunir algumas coisas e voltar para a sede do clube até você sair. —
Deixou a pistola na mesa de cabeceira enquanto falava e passou o
polegar de forma eficiente pela trava.

— Não há necessidade disso. — Grunhiu, enquanto ela ficava de


pé e se aproximava para pegar um robe da cadeira no canto. Afastou o
olhar de seu firme e arredondado traseiro e jogou a cabeça para trás
para procurar no teto a força que precisava para continuar a ser um
cavalheiro. Nunca teve que trabalhar tão duro por algo que ele
pensava estar enraizado.

— Ok. Obrigada. — Ela mordeu o lábio enquanto se virava, como


se estivesse pensando. — Gabriel não me disse que você usava este...
oh, Deus... — A seda azul vibrante se arrastou atrás dela e abriu-se
enquanto ela dava um passo na direção dele, sua mão subindo como
se fosse tocá-lo.

— Não. — Sussurrou, escuro e perigoso, porque não estava certo


de que seu controle pudesse suportar que ela tocasse sequer o
mindinho de sua mão.

Seu rosto mostrou claramente a mágoa, mas se recuperou com


suficiente rapidez.

— Apenas queria ajudá-lo. Você está sangrando.

Com a testa franzida, olhou para baixo. Uma pequena poça


vermelha se formou no chão de madeira ao lado dele e pingava da
ponta de seus dedos.

— Oh, merda. Sinto muito. — Esqueceu completamente do


ferimento de faca. Não era de estranhar que estivesse enjoado.

Afastou-se, cruzou o corredor até o banheiro e colocou a mão na


parede. Moveu os ombros, deixando a jaqueta cair antes de abrir as
torneiras de água corrente. Tirou a camisa molhada pela cabeça e a
jogou na banheira com um ruído. Em seguida, pegou uma toalha da
prateleira, a rasgou e ao mesmo tempo enviou uma mensagem para
Paynne dizendo que tinha vigilância sobre sua irmã e que entraria em
contato com ele pela manhã para ir atrás de Nollan.

— Oh, Vincente. — Ela ofegou baixinho. — Deixe-me ajudar você.

Pelo canto do olho, viu Nika na porta.

— Eu me encarrego disso. — Colocou o telefone no bolso de trás e


colocou a toalha sob a torneira aberta com uma mão e a fechou com
os dedos enquanto espremia...

— Oh, pelo amor de Deus. Me dê a maldita toalha. — Sua


impaciência pareceu como uma toalha úmida batendo em seu traseiro
quando entrou no banheiro.

Sem esperar que estivesse de acordo, o alcançou. Incapaz de


protestar, de se mover absolutamente, observou em silêncio enquanto
espremia o excesso de água e agarrava seu cotovelo, o empurrando.

— Acertaram na parte de trás do braço e será difícil para você. Eu


estou aqui. Agora vire. Vamos. — Estalou os dedos diante de seu rosto
e puxou novamente quando ele hesitou. Vincente virou-se para ela.

— Você poderá me odiar novamente depois que eu tenha te


limpado. — Murmurou. Mas ele ouviu. E congelou no meio do
caminho, sua mente furiosamente rejeitando suas palavras.

Devagar, virou-se para ela.

— Não odeio você, Ruiva. — Deveria deixar que pensasse isso...


seria mais fácil. Mas ao abaixar o olhar para o topo de sua cabeça
inclinada, não pôde.
— Tanto faz. — Sua recusa foi brusca e cortante. Ele bloqueou e
esperou. Ela demorou somente dois segundos antes de soltar um
impaciente bufar e levantou os olhos para ele.

— Realmente não a odeio Ruiva.

— Está bem. Você não me odeia. Contente? Fez seu ponto, agora
vire-se.

Ele escondeu um sorriso com sua pequena amostra de


temperamento e obedeceu. De alguma forma, sabia que pensaria que
estava rindo dela, quando o que ele fazia na verdade, era apenas
aproveitar sua companhia. Usufruía de um espírito que não viu o
suficiente. Homem, Nika seria explosiva se alguma vez se irritasse.
Qualquer pessoa com cabelo tão quente como este não podia ser
diferente. Obteve mais do que um vislumbre naquele dia em Seattle
quando a pressionou, e foi uma coisa linda de ver.

— De quem herdou o cabelo vermelho? — Perguntou antes que


pudesse se parar.

— Da minha avó irlandesa por parte de pai.

Irlandesa. Muito bonito.

— E o seu nome?

— Os pais da minha mãe eram croatas.

Bons pais. A mistura resultou em uma mulher quente. Mas


Vincente sabia que era mais do que isso. Muito mais.
— Você está bem para fazer isto? — Perguntou a seguir, sem
querer que enlouquecesse com o que ele sabia que seria um desastre
sangrento.

— Estou bem. — Ela limpou sua ferida gentilmente com algodão.

— As feridas feitas com facas não a assustam? — Pressionou,


incapaz de se calar.

Ela riu suavemente, o que fez com que sua respiração quente
acariciasse seu ombro nu.

— Eu nunca soube que você era tão falante. — Disse com ironia,
segurando a toalha para pressionar seu braço durante alguns
segundos. — Caleb voltou para casa com feridas piores do que esta
uma ou duas vezes. — Moveu-se sob seu braço para enxaguar a
toalha. — Posso fazer algumas suturas muito bonitas também, que...
— Deu umas batidinhas. — Tenho certeza que você precisa.

Grato por ter qualquer coisa para concentrar-se exceto nela,


Vincente voltou a revisar seu braço no espelho e viu que a profunda
laceração continuava sangrando em ritmo acelerado, a carne rosada
brilhava com visível clareza. Merda. Não era de estranhar que estivesse
tonto.

— Quer provar sua declaração?

Ela franziu os lábios e ele quase sorriu novamente. Blefava, não


sabia como suturar.

— Não tenho agulha nem linha.


Ou não.

— No bolso interno da minha jaqueta.

Ela estendeu a mão para a jaqueta e procurou, sem mencionar a


faca e a pequena pistola que deve ter sentido. Quando se levantou,
seu kit de sutura- que cada um dos rapazes tinha- estava na mão,
cortesia de uma tal doutora Tegan Mancuso.

— Sente-se. — Ordenou Nika, apontando com a cabeça para a


tampa fechada do vaso sanitário. Mas em seguida agarrou seu braço
para mantê-lo de pé, e seus dedos quentes se fecharam sobre sua
tatuagem de lobo uivando. — Espere. Acho que talvez a luz da cozinha
seja mais clara, certo?

Ele assentiu e se soltou - para correr, fugir, o que fosse - sem


esperar para ver se ela o seguia, o que não fez imediatamente. Ele
agradeceu. Deu-lhe tempo para se recompor.

Cristo, com toda esta fuga que fazia ultimamente, começava a


sentir-se como um maricas. Sério? Era tão difícil resistir à porra de uma
mulher?

Ele foi para a sala de estar e viu um sutiã preto que aparecia de
uma sacola que foi jogada casualmente no sofá de dois lugares junto à
lareira a gás. Uma imagem da seda fúcsia explodiu em sua mente, a
calcinha bonita que Nika usava na noite em que a viu no quarto de
Gabriel e Eva. Por uma fração de segundos, antes que as marcas em
seu corpo fossem notadas, Vincente não se sentiu digno de ver tal
perfeição.
Obrigou-se a afastar o olhar da roupa íntima e começou a suar.
Na sala principal, foi fechar as cortinas antes de voltar para acender a
fluorescente luz brilhante da cozinha, que usou muitas vezes para
situações como esta. Estavam no alto o suficiente para que ninguém
na rua pudesse olhar para dentro, mas nunca se arriscava com a sua
intimidade. Plantou sua bunda na mesa da sala de jantar e esperou
por sua enfermeira.

Olhou para o corredor vazio, e puxou rapidamente seu telefone


ligando para Gabriel.

— Sim?

— Você mentiu para mim, idiota do caralho. — Disse.

— V.?

— Mentiu para mim, imbecil.

Houve uma breve pausa e em seguida Gabriel amaldiçoou.

— Oh, merda. Você está em Astoria.

— Sim. E teria sido agradável não entrar e encontrar uma mulher


seminua na minha cama. — Disse.

— Sério, V.? Você sabe com quem está falando?

— Sim. Com um idiota. Quer me explicar por que ela está aqui
sozinha?

Outra pausa tensa, o que mostrava que seu amigo não queria lhe
explicar uma merda. Mas o fez.
— Você não a viu quando Eva e eu fomos ao clube esta manhã.
Era como um animal enjaulado na casa de seu irmão. Tinha que sair
de lá. E você acha que não tentamos convencê-la a vir para cá idiota?
É claro que sim. Ela não aceitou. Ficou presa por muito tempo e acho
que apenas quer viver sua vida. — Houve um som no fundo. — Está
tudo bem, baby. Estarei aí.

— Ouça, V., nós vimos que ela precisava ficar sozinha. Não está
completamente. Comprei o apartamento do outro lado do corredor do
nosso no ano passado. Eu lhe disse isso? Não me lembro. Bem, Veto e
Alesio estão ali para manter um olho nela.

— Não mais. Alesio me viu entrar e pensou que fosse seu


substituto. Ele saiu e estou preso aqui. Não me importo em admitir
que isto é um sério teste para o meu controle. Farei você pagar por
isso, Moretti. Lembre-se das minhas palavras.

Desligou com o som de outra alegre risada às suas custas de um


de seus amigos e tentou colocar sua mente em branco. Uma mente em
branco era um sinal de calma. Mente em branco. Mente em branco.

Foi inútil. Não estava calmo, porque Nika o tinha bem preso.

Pés descalços soando na madeira o fizeram olhar para o corredor


e a viu ainda com sua pequena camiseta e seu bonito robe azul. Era
evidente que esteve ocupada, já que junto com seu equipamento,
agora tinha algodão cirúrgico esterilizado, gaze, esparadrapo e toalhas
de rosto. O armário do banheiro estava bem sortido.

Supostamente secou o suor da testa e tentou não olhar fixamente


para seu cabelo alvoroçado pelo sono. Depois de abrir um dos
armários, ela esticou a mão e pegou um recipiente de plástico para
enchê-lo com água. Ele se negou a olhar para suas pernas longas e
bem torneadas.

— Vai contra as regras perguntar como você recebeu esta ferida


em particular? — Perguntou enquanto colocava o recipiente sobre a
mesa e aproximava uma cadeira atrás do seu lado esquerdo.

Quando estava a ponto de lhe dizer que sim, percebeu que era
provável que ficasse irritada se não dissesse e por alguma estúpida
razão, não queria isso.

— Eu a recebi quando dei uma mão ao seu irmão, hoje mais


cedo.

Ela ficou imóvel, com a cabeça virada até encontrar seus olhos
ansiosos com os dele, e a contusão que se esvanecia em sua bochecha
se destacou sob a luz brilhante.

— Ele e TP saíram daqui recentemente. Ele está bem. Certo?

— Sim. Falei com ele em meu caminho para cá e já estavam na


sede do clube.

Fechou seus olhos e se encolheu, sentindo-se culpada.

— Graças a Deus. — Exalou. — Você foi o único que saiu ferido?

Por que seria sua culpa? Encolheu os ombros com a pergunta.

— Não tenho certeza. TP estava inconsciente quando os


encontrei, por isso provavelmente terá dor de cabeça. No entanto, os
policiais estavam chegando, então saímos. Não tivemos tempo de
comparar as feridas. — Sua pressão arterial subiu com a lembrança
do que Lore lhe disse sobre as mulheres mortas.

— O que aconteceu? Como chegou lá?

A vergonha o fez deixar escapar. — Não importa.

Ela encolheu os ombros como se não desse a mínima - o que o


incomodou, porque não foi dor o que sentiu - e abriu o kit. Colocou
sobre a mesa, foi para a pia para lavar as mãos, ensaboando mais do
que ele pensava ser necessário, mas o afetando estranhamente que ela
se preocupasse o suficiente para fazer isso.

Depois de secar as mãos com uma toalha de papel, se virou e


profissionalmente pegou a linha preta, colocando-a na agulha curva
rápida e eficientemente, antes de colocar ao lado uma tira limpa de
gaze. Seus dedos eram longos e bonitos, suas unhas longas apenas o
suficiente para ter essas pontas brancas que pareciam sublimes
quando arranhavam as costas de um homem.

— Você já fez isto antes. — Disse, com voz mais rouca do que há
um minuto. Vê-la fazia isso com ele.

Encolheu os ombros novamente e então ele notou que ela já não


olhava para ele. Era tão consciente dele como ele dela?

— Eu lhe disse. — Comentou brevemente enquanto se afastava


para o lado e se sentava. Levantou-se novamente. — Odeio o silêncio.

Ele mal captou suas palavras murmuradas enquanto desaparecia


pelo corredor e respirava fundo duas vezes antes que ela voltasse com
um suporte para iPod em suas mãos, que conectou e mexeu por um
segundo.

— Preferências? — Perguntou sobre seu ombro.

Nada que me faça querer foder você.

— Nada muito pesado.

Jamming de Marley começou e tudo o que Vincente pôde fazer foi


não rugir para que desligasse a maldita coisa. As pessoas faziam algo
mais do que foder com essa música?

Mas ficou ali sentado como um bom menino. Silencioso e tenso


enquanto ela se aproximava. E quase se partiu ao meio quando se
sentou e abriu as pernas para se acomodar em seu lado esquerdo.
Caralho, ele ficaria louco.

— Você disse que costumava fazer isto para ajudar Caleb? —


Faria qualquer coisa para se concentrar em algo além da mulher ao
seu lado.

— Mmm. — Ela limpou o sangue e começou a trabalhar com a


agulha.

Depois do primeiro par de espetadas no vermelho vivo, com o fio


costurando através de sua carne, sentia como se uma serra dentada
de lenhador estivesse atravessando sua pele, e por isso disse com os
dentes cerrados: — Fale comigo enquanto trabalha, Ruiva.

Olhou para ela e a viu morder o interior da bochecha, como se


segurasse um sorriso por sua necessidade de distração. Mas falou.
— Escutava uma batida na janela do meu quarto no meio da
noite e sabia que Caleb estava ferido. Lembro que ficava aliviada que
estivesse em casa, que nem sequer me preocupava em ser acordada. O
mínimo que podia fazer era cuidar dele, certo? De qualquer maneira,
erguia o vidro, em silêncio, porque o tinha bem lubrificado para tais
ocasiões e ele entrava. Tinha alguns dos seus amigos com ele, para
não ter que responder nenhuma pergunta no hospital.

Os músculos de Vincente, que começaram a relaxar lentamente


enquanto se concentrava em sua voz, esticaram-se novamente. Tudo o
que precisava saber, era que seu irmão costumava colocar seus
amigos em seu quarto no meio da noite. Suas coxas quentes e
cremosas ficaram niveladas assim com algum outro idiota? Seus dedos
longos e elegantes tocaram partes de seu corpo enquanto os costurava
como fazia com ele?

Caleb era um idiota. Deveria ter deixado que levasse aquela bala
esta noite. Nika merecia algo melhor do que todos eles.

— Que idade você tinha? — Perguntou com os dentes apertados.

— A primeira vez que notei minha própria obra, quase morri de


rir. — Ela riu e Vincente não pôde evitar de esperar que os homens
não morressem de rir amanhã quando vissem seu braço. — Então
olhei na internet e aprendi uma técnica de sutura. Dizia para praticar
com laranjas. Então eu o fiz. Tinha quatorze anos. Às vezes me
perguntava se nosso pai sabia o que acontecia. Ele nunca disse nada,
então talvez não soubesse. Mas era tão paciente com Caleb, tinham
uma grande relação. Duvido que ele ligaria se soubesse.
Caleb sortudo.

— Seu irmão foi um idiota por colocar você em uma merda assim
quando era somente uma criança.

Ela chegou ao final do corte.

— Acho que sim. No entanto, ele me salvou de ter que pagar a


conta médica no ano passado.

Seus dedos pararam, quase como se esperasse uma reação dele,


que mal respirou, mas depois de alguns segundos tensos, virou a
cabeça para poder vê-la. Ela olhava seu braço.

— Ruiva?

Seu precioso olhar esmeralda se moveu até encontrá-lo. Quase


babou na frente dela quando viu o sorriso que transformou seu rosto
de bonito em absolutamente deslumbrante.

— Por um segundo pensei que você iria enlouquecer. Controle


impressionante. — O elogiou com um tapinha nas costelas. E...
acabava de acaricia-lo? Ela desceu o olhar para seu braço e seu
sorriso ficou íntimo, mas Vincente não conseguia afastar os olhos dela.
— Provavelmente você quer saber como posso falar sobre isso assim,
não é? — Disse.

— Eu gostaria de acabar com toda a cidade quando penso no que


lhe fez.

Apertou os dentes. O Admirador aplaudiu com aprovação


entusiasmada. A ponta de fibra moral ficou de braços cruzados e
disse: é assim que se faz, idiota. Sério, ninguém fala - mantenha a
distância-, ao dizer que se esforçaria e destruiria milhares de pessoas
inocentes só para encontrar esse bastardo para poder vingá-la.

O problema era que Vincente faria isso.

Ele diria isso a qualquer mulher em sua situação, Nika disse a si


mesma enquanto se levantava, pegava uma toalha seca da pilha e se
aproximava da pia para molhá-la. Mesmo que a tigela junto ao cotovelo
de Vincente estivesse cheia de água morna e limpa.

Tanto faz.

Respirou fundo sem felizmente inalar o cheiro de couro e madeira


de sândalo, e endireitou sua coluna indo novamente para ele. Limpou
suavemente seus novos pontos de sutura e disse:

— Se acabasse com toda a cidade, então não teríamos o prazer de


ver Kevin tomar seu último fôlego. Então espere antes de colocar o
explosivo, ok?
Mesmo que soasse cruel, quis dizer cada palavra. Precisava ver
Kevin morrer. Ou ao menos, vê-lo morto se não pudesse realmente
presenciar o evento. Isso a tornava um monstro?

De outro modo, como saberia que estava verdadeiramente livre


dele? Continuava pensando que ele se foi, mas e se Caleb estivesse
certo e ele não foi? Ir às autoridades e fazer com que passasse uns
dias de férias na prisão, simplesmente não valeria. Estaria fora e faria
o mesmo com outra mulher a qualquer momento. A pena por violência
doméstica era insignificante, o que era irritante.

— Não deixe que Maks ouça você falar assim. Sede de sangue o
excita. Estaria sobre um joelho em segundos.

Pela vida dela, Nika não poderia distinguir a estranha nota na voz
de Vincente. Portanto, porque estava tensa, balbuciou sobre a razão
pela qual tentava tão facilmente aceitar tudo isto.

— Meu pai e meu irmão me criaram para não desistir quando as


coisas ficam difíceis. — Explicou. — Se não passasse por cima disso e
virasse um zumbi pelo que Kevin me fez, seria uma decepção absoluta
para papai e Caleb. Não posso fazer isso com eles. Nem à mim mesma.
Não me interprete mal. — Disse enquanto empurrava a cadeira para
trás e se levantava novamente, abrindo um pacote de gaze. Deu um
suspiro de alívio porque pôde voltar a escapar do calor que saía dele, o
interior de suas coxas já estavam quentes como o sol. — Tinha dias
em que queria jogar a toalha, simplesmente engolir alguns
comprimidos e terminar com tudo. É evidente que não fiz isso.
Principalmente porque não podia deixá-lo ganhar. Mas também
porque nunca faria isso com meu irmão. Já perdeu nossa mãe e à
papai. Não queria acrescentar isto na lista. — Depois de cortar duas
partes de fita branca, estava a ponto de cobrir a ferida quando os
dedos fortes de Vincente rodearam seu braço.

— Espere.

Ela fez uma pausa e cometeu o erro de olhar para ele, algo que
evitou fazer. Não o viu em uma semana. Realmente apenas o viu
durante alguns minutos, durante sua saída da casa de Eva. Mas o
tempo separados não fez nada para diminuir a atração que sentia por
ele. Sentia atração sem que fizesse absolutamente nenhum esforço.
Desde o momento em que o conheceu pela primeira vez. Mesmo agora,
não queria nada mais do que passar os dedos por todo esse grosso
cabelo. Queria pressionar seus lábios nos dele. Queria saber se sua
barba a arranharia ou faria cócegas. Suas coxas tremiam, pelo amor
de Deus, pela primeira vez na história. Não sabia que podia sentir isso,
mas começou no segundo em que entrou no quarto ou começou depois
que superou o desejo de se atirar nele. Queria tão desesperadamente
observar e em seguida percorrer toda a bonita obra de arte colorida
sobre seu torso, peito e braços...

Amava tatuagens em um homem. Naturalmente, este estava


coberto delas.

Não que isso explicasse sua inegável atração por ele. Cresceu com
homens tatuados toda sua vida, então ver um corpo com tinta não era
nada novo. Mesmo assim... ali estava ela. Cobiçando-o.
Depois de tudo o que passou com Kevin, pensou que este
sentimento, que esta necessidade, estaria morta. Fora dela. Mas
Vincente a fazia sentir-se viva.

Como uma mulher normal, com desejos normais. Era refrescante.


E estranho.

Nem sequer tinha certeza do que fazer... com este... desejo.


Passou muito tempo desde que sentiu algo parecido.

Vincente interrompeu seus pensamentos.

— Sua força interior é incrível, Nika.

Um leve tremor a percorreu. Merda. Ele usou seu nome.


Geralmente, era Ruiva ou baby e tinha que admitir que gostava, mas
nunca usou Nika antes.

Sabia que sua surpresa devia fazê-la parecer idiota, por isso
sorriu trêmula.

— Uh, graças a meu pai e Caleb. Ensinaram-me bem. É possível


que queira dar uma olhada no banheiro antes que eu o feche. — Disse,
quando colocou a gaze sobre a mesa. Mas ele ficou e porque ela estava
instável, continuou a murmurar em um esforço para preencher o
silêncio. — Ei, Eva e eu conversamos antes que adormecesse sobre o
que eu faria agora que ficarei em Nova Iorque. Gabriel, seu amigo, é
incrível, por sinal. Disse que não teria nenhum problema em me
colocar no TarMor. No departamento financeiro ou algo assim. Tenho
um diploma em contabilidade da Seattle Pacific e costumava trabalhar
em uma empresa grande em Seattle. Até que a deixei depois do Natal
porque faltava muito ao trabalho e quis sair antes que me
despedissem. Pelo menos, posso usá-los como referência agora. —
Deveria parar de falar, mas não conseguia. Não quando os olhos quase
negros de Vincente olhavam sua boca com tanta atenção. — Cuidava
das conciliações e análise financeiras mensais para diferentes
departamentos, ajudava a preparar os arquivos de auditoria de fim de
ano...

Sua voz sumiu. O desejava. E queria que ele sentisse o mesmo.

Isso a assustava tanto quanto a excitava. Seria terrível repetir o


beijo que compartilharam em Seattle?

Sim. Terrível para ela. Porque não poderia deixá-lo partir. Tinha
medo que significasse algo e não queria isso.

Além disso, e se beijasse Vincente e não quisesse parar somente


em um beijo? Poderia fazer mais? Mesmo com ele? Depois do que
Kevin lhe fez, será que corresponderia?

É claro que sim. Já fez e nem sequer a tocou. Seu corpo


respondia à sua presença de modo instintivo e sexual.

Mas então, o quê? Fariam sexo, ele assumiria que ela era dele, a
limitaria, tiraria suas decisões e iria se colocar no caminho de suas
novas metas que eram concentrar-se em sua carreira e ter encontros
casuais se alguma vez sentisse vontade.

Sentia esta necessidade. Mas sua vida já não era complicada o


suficiente? E envolver-se com alguém do círculo íntimo do marido de
sua melhor amiga poderia explodir em seu rosto. Mesmo que fosse
somente casual.

Compreendeu que seus pensamentos à respeito de Vincente


estavam em um impasse.

Ele seria temperamental? Seria o tipo de homem que se


descontrolava no quarto quando estava irritado? E se fosse, essa
violência alguma vez seria dirigida para a pessoa que estivesse com
ele?

Eu duvido, mas, o que eu sei?

Nada.

Nada, exceto que queria subir nele como em uma árvore e devorar
sua boca. Queria tocá-lo, ser tocada por ele.

Sentir-se viva novamente, da mesma forma que se sentiu em


Seattle, quando ele a beijou. Piscando a fim de se concentrar, lambeu
os lábios secos e observou a maneira que seu olhar seguiu o
movimento.

— Ei, será melhor que vá olhar agora. — Disse com voz rouca
enquanto dava um passo para trás.

O aperto em seu pulso a impediu de se afastar. Como ele podia


não sentir seu pulso acelerado sob seus dedos?

— Acredite em mim quando digo isto, Ruiva. — Sua voz fez com
que seu corpo se derretesse. Podia sentir a umidade reunindo-se entre
suas pernas. E voltou a chamá-la de Ruiva. — Sua força de caráter
vem do seu coração. Sua família pode ter lhe dado um impulso, mas
esse espírito dentro de você? Isso é todo seu.

Nika fechou seus olhos com força para evitar as lágrimas. Como
ele podia saber que precisava ouvir isso?

— Obrigada, Vincente.

— Depois de passar pelo que aconteceu, acho que todos


entenderíamos se ficasse para baixo por um tempo. Mas não o fez.
Duas semanas e já está tentando seguir adiante, começar uma vida.
Admiro você por isso, mais do que imagina. Mas se você sentir que
está triste, um de nós estará aqui para você. Apenas quero que saiba
disso. — Fez um som estranho. — Eu tinha uma irmã que morreu
quando eu tinha vinte e um anos e ela dezesseis. Eu queria ter tido
bom senso durante esse tempo. Eu caí. Bebi para acalmar a dor. Seu
pesadelo durou quase um ano também. Como prostituta. Viciaram-na
em metanfetamina. — Vincente ficou tenso e balançou a cabeça, para
desfazer-se das lembranças. — Deixei que o que lhe aconteceu me
devorasse durante anos. Ainda faço isso. E nem sequer foi comigo que
aconteceu. Apenas fui aquele que ficou para trás.

Ela teve que engolir várias vezes antes que pudesse falar.

— Às vezes, isso é pior. — Disse, com o coração dolorido de


compaixão pelo que deve ter sofrido. E ainda sofria. — Quer dizer, a
vítima está em paz, enquanto quem fica permanece com os “e se” e os
remorsos, os pensamentos de que poderia ter feito de outra maneira. É
duro viver com isso. Sinto muito pelo que você teve que passar,
Vincente.
Ele a olhou durante um longo tempo, parecendo surpreso que o
entendesse. Mesmo as vítimas viviam com essas perguntas sem
resposta. Ela sabia disso em primeira mão.

— No meu caso, tenho que ganhar. — Explicou. — Isso não quer


dizer que não esteja afetada pelo aconteceu. — Uma risada sarcástica
lhe escapou. — Talvez me afete mais tarde, como fez depois que o meu
pai morreu. — Encolheu os ombros e olhou para todos os lugares,
menos para ele. — Hoje quase me joguei debaixo das bananas quando
o carrinho de um menino bateu contra o meu no supermercado. O pai
sorriu e se desculpou e em seguida pegou a mão de seu filho e se foi.
O normal, o cotidiano, certo? Não. Porque enquanto se afastava, eu
estava convencida de que fez de propósito, me perguntei se seria um
bom pai, se alguma vez perderia a paciência e bateria no pequeno, em
sua esposa. Isso é algo que ficou em mim... a suspeita e os problemas
de confiança, entre outras coisas. Mas, quem sou eu para me queixar?
Pelo menos estou aqui. Certo?

Dando uma batidinha em sua mão que ainda a segurava, Nika


saiu de seu aperto antes de se render e tomá-lo em seus braços,
embora ele não quisesse isso dela. O guiou para o caminho do
banheiro.

Entrou e ficou ao lado do espelho enquanto as botas de Vincente


caíam no chão atrás dela. Teve a visão de toda essa pele nua, as linhas
coloridas provocando leves arrepios. Quando se virou, obviamente
com a intenção de olhar às suturas, seus olhos encontraram um bem
esculpido rosto que com orgulho estava em seu peitoral direito. Sem
pensar, concentrada em como o artista capturou a alegria nos olhos
da garota, Nika levantou a mão e passou as pontas dos dedos pela
bochecha da imagem.

O forte espasmo de Vincente e sua brusca inalação a fizeram


afastar a mão tão rápido que bateu o cotovelo no armário atrás da pia.

— Desculpe. — Murmurou, e o olhou nos olhos rapidamente pelo


espelho antes de deixar cair seu olhar para o chão enquanto esfregava
o local que bateu. — Sinto muito. É lindo.

Ele ficou em silêncio por um momento.

— Está tudo bem. — Disse rispidamente. — É Sophia.

É claro. Sua garganta se obstruiu com a emoção.

Deus, precisava dormir um pouco.

Ou de sexo.

Sua risada estrangulada fez com que os olhos de Vincente fossem


para os dela.

— Sinto muito, apenas me ignore. — Escondeu seu rosto atrás de


suas mãos e esfregou sua pele quente.

— Como se isso fosse possível. — Ela pensou que o ouviu


murmurar, mas foi muito baixo para ter certeza.

Ele se moveu para o lado e levantou seu braço novamente para


poder olhar os pontos.
Seu olhar pousou no sabonete líquido ao lado da pia e depois no
copo limpo junto dela, para a escova de dentes que usou antes, para
as toalhas na prateleira, às reluzentes torneiras de aço inoxidável...
olhou para qualquer lugar, exceto para seus músculos tensos e
ondulantes.

O assobio de Vincente captou sua atenção e levantou os olhos


para ver que um sorriso torcido apareceu em seus lábios. Ficou sem
fôlego e percebeu com tristeza, que nunca o viu fazer isso antes.
Nunca o viu sorrir. Sorrir de verdade. E se sentiu oprimida por sua
beleza masculina.

— Você não brincou quando disse que sabia o que fazer. Tegan
ficará impressionada ao ver isto.

Tegan? Por que se importaria com o que a médica pensasse?

Moveu-se e a olhou diretamente nos olhos.

— Obrigado. São perfeitos.

Igual a você.

— Ela é sua? — Oh, Deus. Que humilhante.

— O quê?

Oh, bem. Já tinha dito.

— Tegan é sua namorada? — Segurou a respiração enquanto


esperava uma resposta.

Sua risada era profunda e chegou até seus ossos.


— Não. Tegan não pertence à ninguém, exceto à Tegan.

— Você tem uma? Uma namorada, quero dizer?

— Não.

Alívio. Doce alívio que derretia os músculos a percorreu. Junto


com uma corrente de lágrimas, porque não queria saber por que
estava perguntando algo que não deveria lhe importar.

Assentiu novamente e se virou rapidamente, saindo pela porta


murmurando algo à respeito de limpar, enquanto fugia novamente
para a cozinha.

— Você é tão estúpida. — Repreendeu a si mesma em um


murmúrio quase silencioso enquanto caminhava para a mesa. — Ele
não a deseja, de qualquer maneira. Se desejasse, faria algo para...

— Está tudo bem, Ruiva?

Saltou bruscamente quando a voz de Vincente veio de trás dela.


Virou-se e quase deixou cair a fita e tesouras de suas mãos.

— Eh, sim. Então, agora que costurei você. — Apressou-se a sair,


rodeando seu corpo meio nu para colocar as coisas no balcão. — Vou
para a cama.

Manteve a cabeça baixa, voltou para a mesa e pegou a


embalagem de gaze, as toalhas sujas e o recipiente com água,
certificando-se de lhe dar um amplo espaço enquanto caminhava para
a pia.
Ele limpou a garganta.

— Eu quis dizer o que disse. Obrigado por isso. Estou


acostumado a chamar T. quando preciso de alguma coisa. Ou Maks.
Ou simplesmente fazemos nós mesmos quando conseguimos. Mas
acho que tenho sorte, por você estar aqui.

Sim. Que sorte. Ela abriu a água e usou um pouco de sabão para
lavar os recipientes, esfregou com tanta força que se surpreendeu por
não ter feito um buraco através dele.

Ouviu-o afastar-se enquanto enxaguava as toalhas o melhor que


podia antes de desligar a água. Demorou um segundo com sua cabeça
abaixada, esperando que não voltasse e a pegasse...

— O que aconteceu, baby?

O coração bateu em seu peito e se virou para encontrá-lo bem


atrás dela outra vez.

— Vincente! Eu pensei que...

— O que aconteceu? — Repetiu com mais firmeza.

Suas sobrancelhas estavam baixas e encobriam a cor chocolate


de seus olhos. Por que se sentia tão aflita com sua necessidade por
ele? Com um homem que claramente não queria nada com ela? Um
cara que não deveria desejar. Um que parecia estar tão
emocionalmente danificado quanto ela e que poderia arruinar todos os
planos de sua nova vida. Vincente era muito perigoso, porque tudo o
que desejava desaparecia no fundo de sua mente quando ele estava
perto. Não existia medo, nada, exceto ele. Nem um novo começo, nem
um bom trabalho, nem amigos, nem um bom lugar próprio. Somente
Vincente.

Essa coisa murcha em seu peito - seu orgulho, tinha certeza -


diminuiu ainda mais com sua reação a ela antes no quarto. Tornou-se
ainda menor quando ouviu o estranho som que fez quando passou
seus dedos sobre sua tatuagem no banheiro antes. Quase como se seu
toque o tivesse ferido.

— Não é nada. — Respondeu finalmente. — Apenas estou


cansada. Durma bem, ok?

Desligou a música enquanto passava e o deixou de pé na cozinha.


Foi pelo corredor e fechou a porta do quarto antes de subir novamente
na cama, com roupão e tudo.

Moveu-se como uma velha cansada. Nika ficou de lado e apoiou a


cabeça no travesseiro com cheiro de limão. Abraçou o outro travesseiro
contra seu peito e de repente fechou os olhos úmidos, sentindo-se
mais só do que esteve em toda sua vida.
Ele conduziu a ruiva pelo beco, o clique de seus saltos sendo
amortecidos enquanto passava entre jornais velhos e lixo de todo tipo.
No momento em que estavam longe o suficiente, que se sentiu a salvo
de olhares indiscretos, colocou-a contra a parede, e beijou-a
rudemente, seus dentes mordendo seu pescoço, suas mãos agarrando
seus seios com tanta força que ela empurrou seus ombros.

— Mais devagar, tarado. — Disse ela. — Você não me deu o


dinheiro ainda.

A raiva latente de Kevin se reacendeu com a atitude da vadia e


apertou os dedos ao redor de sua garganta. O medo imediatamente foi
reletido em seus olhos, quando se encontrou com os dele. Lutou
histericamente, cravando as unhas em seu pulso... era bonito,
caralho. Foi muito antes do que esperava, mas ainda bonito.
Geralmente brincava com elas um pouco mais.

— Você acha que pode me foder, puta? — Sussurrou, piscando


enquanto o rosto da cadela mudava, tornando-se pouco a pouco no da
mentirosa da sua esposa, seus traços infiéis olhando para ele. — Você
acha que eu não vou encontrar você? Eu nunca irei desistir. Vou
matar você, cadela estúpida. — Disse com os dentes apertados. —
Onde você está? Com quem está? Com o amigo de Caleb? Aquele que
eu vi esta noite? Ele está fodendo você agora? Ele está dentro desse
corpo que me pertence? — Kevin engoliu a raiva que fazia com que sua
garganta se obstruísse. Sua raiva, pensou. — Como você pôde, Niki?
Como pôde me trair? Puta... — Sussurrou enquanto agarrava sua
esposa para que não caísse no chão. — Estou perto. Você não sabe o
quanto.

Franziu a testa quando sua cabeça pendeu de seus ombros. Seu


medo se foi, assim como o pânico. Agora sua boca estava aberta, seus
olhos não totalmente fechados, tampouco totalmente abertos.

— Niki?

Sacudiu-a. Merda. Estava desmaiada. Como esteve muitas vezes


antes. Sorriu um pouco e a deitou no chão imundo e depois fez o que
sempre fazia quando a deixava inconsciente, depois de bater nela com
muita força. Começou a tocá-la. Em todos os lugares onde podia
alcançar. Com força. Seus seios, seu abdômen, quadris, coxas.

Por que vestiu essa merda suja e barata, porra? Perguntou-se


com confusão enquanto tirava sua esfarrapada roupa íntima de cor
cinza de seu caminho.

Enquanto buscava sua faca no bolso, Kevin olhou para certificar-


se de que ainda estivesse desmaiada e congelou quando, mais uma
vez, via o rosto agora sem vida de uma desconhecida.
Vinte e quatro horas mais tarde, Nika respirou fundo enquanto
observava seu reflexo no espelho do banheiro feminino e limpava a
maquiagem manchada sob seus olhos. Piscou. Piscou um pouco mais
forte para se concentrar. Endireitou os ombros. Levantou o queixo e
ficou orgulhosa quando não oscilou ao sair do banheiro do clube e
com cuidado, caminhou pelo longo corredor espelhado para a porta
que levava para a parte de trás em direção ao bar.

Passou a noite dando voltas em sua cama, com vergonha e depois


com raiva, por permitir a Vincente ter tanto controle sobre suas
emoções e seu corpo. Até sonhou com ele. Ele entrou no quarto,
passou sua mão por baixo de sua nuca para levantar a metade dela do
colchão e depois a beijou tão profundamente e tão completamente que
tinha certeza que gemeu e o alcançou em seu sonho. Mas em seguida,
Kevin entrou, transformou o filme erótico em um pesadelo de violência
e gritos maníacos sobre quanto dano lhe causaria quando a matasse.
Acordou molhada de suor, seu rosto banhado em lágrimas. E a pior
parte? Ficou mais irritada porque ela e Vincente foram interrompidos
do que pelo medo de quem os interrompeu!

Absurdo.

Por fim desistiu de dormir por volta das seis e meia e saiu do
quarto para encontrar o apartamento silencioso e vazio. Sentiu-se
ridiculamente abandonada. Assentiu, apertou os lábios e pensou:
Bem. Podia dispensá-la tão facilmente? Sem nem sequer um bilhete de
despedida? Ela faria o mesmo e o tiraria de sua cabeça. Vestiu-se e foi
para o metrô. O movimentado transporte a levou à Manhattan e
passou a maior parte do dia passeando pelos incríveis corredores do
Museu Metropolitano de Arte. Algo que sempre quis fazer.

Pena que a experiência estava arruinada para ela.

Vincente a arruinou. Ao estar em sua mente e em sua pele.

Não gostava disso. Quem dera ele se fosse. O maldito homem


tornava mais difícil para ela concentrar-se em seu projeto de vida, a
segunda parte para a qual se movia agora. Ficou encantada quando
Eva lhe enviou uma mensagem esta manhã e disse que sua entrevista
no TarMor foi marcada para quarta-feira com uma mulher chamada
Natalie. Eva acrescentou que Gabriel lhe disse que a entrevista era
uma mera formalidade, necessária para descobrir exatamente suas
melhores habilidades e para saber onde poderiam colocá-la.

Nika sorriu, percebendo nesse momento que poderia estar um


pouco apaixonada pelo marido de sua melhor amiga. Ele era tão
generoso. Amável. Realmente, Eva tinha muita sorte por ter alguém
como Gabriel. Ele era o chefe.

Ela riu. Ele era o chefe.

E Vincente era o assistente do chefe. Nika queria estar sob o


assistente que estava debaixo de sua pele.

Gemeu. Outra vez com isso?

Os saltos baixos de suas botas novas escorregaram no chão,


enquanto parava para evitar ser atropelada por um casal que fazia
carinhos um no outro enquanto passavam por ela. Provavelmente
teriam sexo em uma das cabines do banheiro, pensou com irritação e
ciúmes, através de uma névoa alcoólica que confundia seu cérebro.

Ela poderia ter sexo.

Com Vincente.

Mas ele não a desejava.

Por que ela sonhava acordada em estar com um homem que nem
sequer a desejava? E por que isso? Era pouco atraente? Sempre
pensou ter uma aparência normal. Não uma grande beleza como Eva,
mas tampouco feia. Será que cheirava mal? Colocou o queixo no peito
e cheirou, depois lambeu seus dentes. Estavam bem. Mas mesmo
Kevin não se sentiu atraído por ela o suficiente para ter uma ereção...
felizmente, mas mesmo assim...

Fez uma careta quando voltou para o bar, e se sentou em um


banquinho vazio, com sua cabeça girando. Puxou seu telefone e
simulou enviar uma mensagem que provavelmente seria apagada de
sua lista de contatos pela atenção que recebia do mesmo. O que fazia
ali? Deveria ter ligado para Eva. Deveria tê-la chamado esta tarde e
passado o dia resmungando com sua melhor amiga. Em vez disso,
vagou pelo museu sozinha, sentou-se no Central Park com um
cachorro quente - algo que na verdade aproveitou - sozinha e agora ali
estava, bêbada em um clube chamado Pant que um taxista muito
agradável lhe recomendou.

Ainda sozinha.

Deus, realmente era uma perdedora. Talvez Kevin tivesse razão...


Pare!

Seus ombros ficaram tensos. Bem. Podia não ser uma perdedora,
mas estar ali sozinha era irresponsável se considerasse as
circunstâncias. Claro, Kevin poderia estar tão longe como no México
agora. Mas também, poderia ainda estar em algum lugar em Nova
York. Como iria encontrá-la ali neste lugar em particular, ela não
sabia, mas mesmo assim. Deveria chamar Caleb. Pedir que fosse
buscá-la. Ou poderia apenas pegar um táxi para casa e continuar
afogando suas mágoas em uma garrafa de tequila.

Engoliu o nó que se formou em sua garganta diante da ideia de ir


para o apartamento vazio... talvez devesse encontrar esse canto onde
todo mundo esperava que acabasse de qualquer modo.

Deixou de lado o telefone no bar, e o latejar em sua cabeça


piorou. Levantou os olhos para todos os hostis e distorcidos reflexos
nas centenas de espelhos pendurados nas paredes. As luzes
ricocheteavam a fazendo piscar, apertando os olhos para concentrar-se
nas muitas pessoas. Os arcos balançando lhe fizeram sentir ainda
mais enjoada.

O garçom apareceu e colocou uma bebida fresca na frente dela.

— Oh, não, não. Eu não pedi isso. — Disse com um gesto de mão.
Na verdade, terminou. Era hora de ir para casa.

Eu não tive um verdadeiro lar desde que papai morreu.

Passou por cima do pensamento deprimente e se concentrou no


garçom, que disse: — Os homens além do bar querem que você o beba.
Ela olhou para onde ele apontava e viu dois caras que lhe faziam
sinais de paz.

— Eu não quero isso. — Disse rapidamente.

— Já está pago, boneca. Apenas saia daqui e o tirarei quando se


distraírem. Ela assentiu com um agradecimento. Mal se virou quando
sentiu dois corpos ao lado dela. Merda.

— Como alguém com sua aparência está sozinha em um lugar


como este?

Desejou somente poder ignorá-los, mas sabia que provavelmente


isso os irritaria. Girou em seu banquinho. Dois homens de aspecto
médio. Não havia motoqueiros ali. Nem mafiosos.

Eles pareciam trabalhadores da construção civil ou algo assim.

— Não tenho certeza. — Disse e decidiu pegar o caminho


amistoso. — Mas eu já estava de saída.

O que fez a pergunta boba riu. Tinha um sorriso agradável.

— Espero que não a tenhamos afugentado.

— Esperamos um tempo e ninguém se juntou a você, então


decidimos testar nossa sorte. — O outro levantou a voz, seu sorriso
não tão agradável. Lembrava o de Kevin antes de agredi-la.

— Não tem nada a ver com vocês. — Disse ela com um


estremecimento, o peito se apertando com ansiedade. Os músculos de
suas costas congelaram e fizeram com que quisesse esticá-los. Deveria
ter ido diretamente para o apartamento. Não estava segura ali sozinha.

— ... aqui antes. Eu me lembraria de você. — Dizia o cara com o


sorriso nojento.

Ela o ignorou completamente. Não importava quão zangados


ficassem por se afastar, não poderiam fazer nada diante de todas estas
pessoas, certo? Agarrou sua bolsa do bar, passou a alça por cima de
sua cabeça enquanto seu amigo tentava novamente.

— Nós estávamos indo para um lugar mais tranquilo também.


Fica a uma quadra. Você quer...

— Ruiva.

Seu cérebro cheio de álcool registrou a voz profunda. O som


representava segurança e nunca ficou tão agradecida por ouvi-lo como
agora. Jogou a cabeça pesada para o lado e seu corpo gelatinoso
tentou segui-la. Teve que colocar a bota na frente dela para se
levantar.

— O que você fez, porra? Onde está Caleb?

Sua pele formigava e o coração palpitava. Observou as linhas


ferozes do rosto de Vincente, rodeadas de todo esse cabelo que caiam
deliciosamente ao redor de seus ombros largos.

Deliciosamente?

Deus, devo estar bêbada. E também não estava mais com raiva
porque a abandonou bruscamente esta manhã.
— Você é tão bonito, Vincente. — Parou. Acabava de dizer isso em
voz alta?

A julgar pelo ardente olhar chocolate, tinha certeza de que fez


isso.

Encolheu-se envergonhada e fechou os olhos. Mas quando sentiu


o puxão da gravidade, sacudiu-se novamente abrindo os olhoss e teve
que esticar uma mão para não perder o equilíbrio. Sua mão bateu em
seus abdominais musculosos, que estavam cobertos por um tecido
fino de algodão preto. Não ceda a isto. Nunca.

— Camisa suave. Pergunto-me que tipo de sabão Samnang usa


para lavá-la. — Para lavar a roupa que cobria este delicioso corpo no
qual pensei durante toda a noite e todo o maldito dia. Congelou e
olhou para cima, esperando não ter dito a última frase em voz alta.
Parecia não ter falado.

Uau. Devia parecer muito assustador para as pessoas de pé ao


redor deles. Suspirou e assimilou toda a raiva que irradiava dele. Era
curioso que não pudesse ver onde terminava seu cabelo e começava o
couro preto de seu casaco longo. Deus, seus ombros são largos e essas
pernas grossas, mmm...

Olhou para cima e esqueceu do perigo que emanava dele quando


viu que ele a observava.

— Sinto muito. — Desculpou-se por sua olhada descarada. — Oh,


uh, eu os apresentaria, mas não sei quem são. — Por que esses dois
pegajosos continuavam ali agora que seu herói chegou?
— Eu sou Paul e este é Darren. — Informou um deles.

— Oh. Bem, aí estão. — Murmurou ela, sem realmente se


importar. Seu olhar ficou preso em Vincente.

— Bem, Paul e Darren. — A silenciosa ameaça na voz de Vincente


se fez ouvir através da música. Nivelou cada um deles com um olhar
que provavelmente, fez suas bolas doerem. — É hora de vocês irem
embora.

Por que não mexia os lábios quando falava? E por que o fato de
que ele assumisse o controle e dirigisse o espetáculo a fazia se sentir
tão quente e macia? Não deveria estar com raiva? Podia cuidar de si
mesma.

Você estava com medo.

Sim. Eu estava, admitiu essa parte de seu cérebro que gritou com
ela. Mas vou perder. Não é mesmo?

Deu uma olhada ao cara do sorriso nojento, que a olhava com


olhos excitados.

— A senhorita iria con...

Vincente se aproximou mais dela, com seu tamanho bloqueando


as vertiginosas luzes que lhe davam vontade de vomitar. Não iria a
nenhum lugar com eles, pensou, colocando suas mãos sob o suave
algodão preto para encontrar nada mais do que pele suave. Talvez se
pensassem que ela estava com Vincente, sairiam sem protestar.
Inclinou-se mais para ele, inalou profundamente e fechou os
olhos enquanto sua testa pousava em seu peito.

— Deus, adoro o jeito que você cheira. E o jeito que se parece, soa
e olha.

Poderia continuar, mas estava com medo de começar a gritar a


lista até que todos a ouvissem, ao invés de apenas pensar nelas. E
Vincente não precisava ser incomodado com suas tolices.

Cara, eu realmente precisava dormir.

Antes de me autodestruir completamente.

O controle de Vincente desaparecia rapidamente. Olhou o


brilhante cabelo de Nika que reluzia com as luzes piscando, e a doce
intimidade de suas ações quase o colocou de joelhos.

Pegue-a. Ela é sua.

Piscou diante do sussurro de um dos rapazes. Merda. Era sua.


Talvez sua responsabilidade, porque ele prometeu isso a ela, mas era
apenas isso.

Graças aos malditos Vito e Alesio que o atualizavam sobre seus


movimentos ao longo do dia que ela passou sozinha. Ele estava indo
para um grande torneio de pôquer que fazia parte de uma de suas
operações e que aconteceria durante os próximos dias, quando Alesio
ligou em vez de enviar mensagens, como fez durante todo o dia e lhe
disse onde Nika estava há mais de uma hora. Pant, um clube noturno
em Hell's Kitchen, a poucas quadras do clube de Maksim.

Vincente quase ganhou uma multa com seu giro ilegal em U,


amaldiçoando por terem esperado tanto tempo para lhe comunicar.
Mas pelo menos o fizeram. Parece que Gabriel disse que informassem
sobre essa situação à Vincente. Apesar do que as pessoas poderiam
pensar, o novo chefe era um cara sensível, já que disse para Alesio e
Vito que não enfrentassem Nika, mas sim chamassem V. já que era
mais familiar para ela.

Feliz de ouvir isso diretamente de Alesio, Vincente desligou e


chegou ao clube em quinze minutos. Ligou e pediu - ordenou - à
proprietária do clube, uma australiana a quem ele e Vasily se
apresentaram não faz muito tempo, fechar todas as saídas para
qualquer mulher com cabelo vermelho. Sydney Martin pareceu
suspeitar, mas concordou em colocar seu pessoal nisso sem fazer
muitas perguntas.

Levantou os braços, abriu seus punhos e passou seus dedos sob


o cabelo de Nika para segurar sua nuca, sendo cuidadoso com a área
onde estavam seus pontos. Sua outra mão pousou em suas costas
para fazer um lento e reconfortante movimento para cima e para baixo.

— Rapazes, se afastem agora e não os matarei. Continuem aqui e


vão precisar de uma lupa para recolher o que sobrar de vocês.
Nem sequer se incomodou em olhar para os insignificantes
enquanto falava. Estava muito ocupado olhando as sombras sempre
oscilantes dos longos cílios de Nika em suas bochechas, agora que
fechou os olhos.

Quando finalmente levantou a cabeça para conseguir a atenção


do garçom, a área estava limpa.

— Ela pagou tudo? — Perguntou quando o cara se aproximou.

— Sim, homem, está tudo bem.

Vincente guardou o telefone de Nika no bolso e assentiu para o


cara. Mordeu a língua para não repreender o imbecil por servir
bebidas para uma mulher que obviamente já havia bebido o suficiente.
Falaria com Sydney para treinar melhor seu pessoal.

Segurou suavemente os ombros de Nika e a moveu um pouco


para trás. Queria sorrir quando gemeu e franziu a testa como se
estivesse chateada por ter sido incomodada.

— Ruiva. Ruiva. — Essas esmeraldas preciosas foram reveladas e


o sorriso de sono que apareceu em seu rosto o fez engolir um gemido.
— Você consegue caminhar?

Diga que não, - implorou o Admirador.

— É claro.

Awww

— Venha. Vamos levar você para casa.


— Eu não tenho mais casa. — achou que a ouviu dizer, mas a
música estava muito alta.

Passou o braço ao redor de sua cintura, ajudou-a a ficar de pé e


ficou impressionado quando ela se levantou sem esforço. Começou a
se mover e estava tão bem que até o surpreendeu. Colocou os braços
ao seu redor e se apoiou nele. Virou a cabeça e se aconchegou em seu
peito, suas delicadas costelas se expandindo como se inalasse.

— Você cheira tão bem. — Disse ela. — Eu já te disse isso?

Apesar de seu pau duro, seus lábios se curvaram.

— Sim, baby. Faz uns cinco minutos.

Ela assentiu e suas costelas expandiram-se novamente.

— Bem. Provavelmente direi isso novamente em um segundo.

Um sorriso completo apareceu e teve que se esforçar para


escondê-lo quando viu Alesio e Vito se movendo em sua direção.

— Nós estamos bem. Obrigado, rapazes.

A cabeça de Nika se levantou para ver com quem ele falava.

— Olá! É o rapaz da porta. — Obviamente lembrou de Vito do


casamento na casa de Eva. — Obrigada por não me delatar na outra
noite, quando fugi. — Sussurrou em voz alta com uma piscada
inocentemente sexy que fez Vincente sentir o arranhão do ciúme. —
Acabou sendo a melhor e a pior noite da minha vida. Mas sou livre
agora. — Separou-se de Vincente e fez um movimento com os braços
que fez com que os três a olhassem com interesse. Porra. Alesio olhou
muito atentamente para as meias pretas e a camisa de seda preta que
usava, o decote tão amplo que caía em um ombro. Seus braços caíram
a seu lado e ela pareceu perder sua pequena explosão de energia. —
Entretanto, não é tão divertido como pensei. — Grunhiu enquanto se
aproximava do seu lado outra vez. — Não posso fazer muito. Nem
mesmo brincar com alguém como Vincente aqui, porque ele não gosta.

Ele apertou os dentes, ignorou os olhares interessados de Alesio e


Vito. Passou seu braço ao redor de sua cintura.

— Venha, Ruiva. Vamos levar você para casa.

Ela continuou como se ele não tivesse falado. — Qual é seu


nome? — Perguntou para Vito.

— Eu sou Vito.

Ela riu, o som musical e encantador.

— É claro que é. E você? — Virou-se para o primo de G. Vincente


o fulminou com o olhar, o fio de seu controle se esticando.

— Alesio.

Nika ofegou, seus olhos arregalados a fizeram parecer uma


inocente fantasia pornô transformada em realidade.

— Você é o Alesio do Gabriel? Oh, meu Deus! — Lançou-se para


ele, envolveu seus braços ao redor de seu pescoço e beijou sua
bochecha. Parecia beijar mais no canto de sua muito surpresa boca. —
Você ajudou a salvar Eva! Obrigada! É oficialmente meu novo herói.
Talvez possamos nos reunir um dia e possa me contar o que aconteceu
naquela cabana. Eva não quer falar comigo sobre isso porque tem
medo que as coisas ruins possam me levar à beira do que ela parece
pensar que estou...

Enquanto continuava a balbuciar a respeito dos tolos e adoráveis


instintos protetores de Eva, Vincente olhou fixamente. Para ela. Nos
braços de outro homem. Seus dedos distraidamente brincavam com o
cabelo da nuca de Alesio. Seu corpo apertado contra o dele. Seus belos
lábios, que agora provaram o primo de Gabriel! A poucos centímetros
de possivelmente fazer novamente. Toda sua atenção no belo rosto que
pertencia a um cara mais perto da idade dela do que Vincente.

Com o tempo, esta seria sua realidade. Vê-la assim com outra
pessoa. As mãos de Alesio se elevaram em uma pose de rendição.
Moveu sua cabeça de um lado para outro bruscamente como se
dissesse —“Não fui eu. Eu não fiz nada”.

O fraco fio que mantia o controle de Vincente se quebrou com um


som vibrante, perigoso e sem perceber seu corpo se encarregou da
situação. Estendeu a mão e apertou os dedos ao redor da parte
superior do braço de Nika para afastá-la do inimigo, que teve a sorte
de estar de pé no meio de um clube cheio de gente. Virou-a para que o
enfrentasse, puxando até que seus narizes se roçaram.

— Nunca se jogue nos braços de outro homem na minha frente


novamente. Você me entendeu? — Sua voz soava como se tivesse saído
das profundezas do inferno, sua expressão parecida com a do próprio
Lúcifer.
Nika, alheia à nuvem luminosa que se pendurava como um
manto ao seu redor, deu uns tapinhas em sua bochecha com a palma
de sua mão suave e sorriu.

— É claro. Certo. — Virou-se novamente para os rapazes ou


tentou, já que Vincente não a soltou. — Foi um prazer conhecê-los,
rapazes. Acho que os verei novamente quando visitar Eva. Certo? —
Perguntou à eles.

Esforçando-se para se acalmar, passou a mão pelo seu quadril e


a aproximou ainda mais ao seu lado. Ela foi com tanta facilidade,
como se fizessem isso há anos.

Se cedesse e a tomasse como estava tão tentado a fazer, isso a


arruinaria. Roubaria sua independência ao tê-la ao seu lado, lhe daria
uma fileira sem fim de dias provavelmente violentos e perigosos, os
quais ela não precisava ou merecia. Talvez até morresse no momento
errado, no lugar errado, igual ao carro bomba que tirou a vida de sua
mãe. E isso, enquanto estava presa a um homem sem coração, e sem
uma alma com quem falar.

Ele não queria isso para Nika.

Apertou sua mão livre em um punho e deu um murro no peito de


Vito e em seguida mostrou o dedo médio para Alesio, sem querer que
se sentisse excluído.

— Até mais tarde, rapazes.

Cinco minutos mais tarde, subia no lado do motorista depois de


ter depositado Nika no banco do passageiro do Kombat.
— Esta caminhonete é fantástica. — Elogiou e olhou ao seu
redor.

— Obrigado.

— Caleb iria adorar.

O motoqueiro tinha esse mesmo olhar estúpido em seu rosto


quando viu o Kombat que Vincente tinha e a cada vez que via o Pagani
Zonda de Maksim.

— Todos temos nossos brinquedos.

— Esta pode ser uma pergunta estúpida. — Comentou ela


enquanto lentamente colocava o cinto de segurança. — Mas, você tem
uma moto? Usa couro, por isso pergunto.

— Tenho algumas motos, sim.

Ficou quieta.

— Tão poucas? É verdade? O que você tem?

— V-Rod, Street Glide e uma feita por encomenda que uso


somente em ocasiões especiais.

Ela assobiou.

— Muito bom. Então o modelo na mesa fora do quarto de Quan


era sua.

Sua cabeça virou lentamente para ela. Que porra fazia na porta
do quarto de Quan?
— Eu não estava bisbilhotando, nem nada. — Explicou
rapidamente. — Vi no caminho para o quarto de Eva antes do
casamento, quando parei para olhar aquela foto sensual que estava
pendurada na parede acima dela.

Ele tentou lembrar da pintura da qual falava, mas só invocou


uma imagem de anjos.

— Nunca pensei que bisbilhotasse, Ruiva.

— Oh, bem. — Ela puxou o cinto novamente e se inclinou para


encontrar a fivela em seu quadril. Parou a tarefa novamente e o olhou.
— Obrigada, Vincente. Por me tirar de lá e pelo passeio.

Colocou a mão em seu pulso, mas depois a retirou bruscamente o


que o fez franzir a testa.

— Sinto muito, sinto muito. Esqueci. — Seu rosto ficou sério.

— Esqueceu o quê?

— Que você não gosta quando o toco.

Ele quase começou a rir.

— De onde você tirou essa ideia, porra? — Sorte que bebeu,


porque não pôde esconder o quão absurdo esse pensamento era.

— Você rosnou para mim quando toquei sua tatuagem ontem à


noite.

Pego.
— Não rosnei para você.

Ela levantou os olhos de outra tentativa com o cinto. Continuava


sem conseguir prendê-lo, e levantou suas sobrancelhas.

— Uh, sim, você fez.

Pensou em algo para dizer que não saísse como uma discussão
de uma criança de cinco anos, mas ficou em branco. Felizmente, ela se
cansou de esperar e voltou a brigar com seu cinto. — Por que é que
você não gosta?

Vincente ficou tenso. Cristo, era corajosa e falante quando se


embebedava.

— Eu gosto. — Murmurou. Tanto, caralho.

— Não parece assim.

— Eu gosto. — Repetiu, embora não tivesse certeza de que ela o


ouviu. Suspirou, aproximou-se e pegou o cinto de seus dedos e o
colocou no lugar.

— Obrigada. Oh, não! — Ofegou de repente.

Ele quase se irritou.

— O quê? O que aconteceu?

Apenas apalpava sua SIG, quando ela gemeu. — Esqueci meu


telefone no bar. — Seu lábio inferior formou o mais adorável beicinho
que jamais viu. Porra, queria beijá-la.
Não o fez. Em vez disso, guardou a pistola e ligou a caminhonete.
Vasculhou no bolso interno de seu casaco e puxou seu telefone.

— Eu o peguei. — Entregou e deu uma olhada pelo retrovisor


antes de entrar no fluxo constante do tráfego.

Ela arrebatou bruscamente o telefone das mãos dele.

— Você tem que deixar de ser tão perfeito, Vinnie. — Murmurou,


soando quase chateada enquanto colocava o telefone na bolsa.

Um sorriso apareceu muito rápido para que o contivesse. Vinnie?

— Suponho que estamos quites agora, não?

Ele manteve os olhos na estrada.

— Como sabe?

— Eu ajudei você ontem à noite. Você me ajudou esta noite.

Ajudou? Se ela estivesse falando da ereção que não conseguiu


diminuir nas últimas vinte horas, então sim, tinha lhe ajudado
bastante.

— Onde está seu irmão, Ruiva?

— Não sei. Não quis chamá-lo.

Suas sobrancelhas desceram. Caleb se incomodaria se a ouvisse


dizer isso. — Por que não?
— Porque se ele me encontrar assim, saberia que estou afetada
pelo que Kevin me fez. — Suspirou e se moveu para mais perto dele,
dando mais do que um vislumbre de sua essência.

Parou em um sinal vermelho e deu uma olhada. Ela parecia um


pouco mais consciente agora do que no clube, mas ainda parecia
atordoada.

— Você está afetada, baby. Qualquer pessoa estaria.

Ela encolheu os ombros e piscou sonolenta antes de olhar para a


frente.

— Quanto você bebeu?

— Pedi sete margaritas.

— Sete? — Repetiu. Porra. Ela aguentava bem o álcool.

— Só bebi quatro.

— O que fez com as outras?

— Empurrei-as para o lado para que parecesse que alguém as


deixou no bar.

— Por que você fez isso? — Questionou com curiosidade. Que


pequena gatinha divertida ela era.

— Porque não vi o barman quando estava as preparando. Ele se


virou bloqueando minha visão, ou alguém passou na frente dele. Tive
muito medo de beber depois disso, no caso de que colocassem algo que
não deveria estar nelas. — Virou-se e o olhou, com uma ruga em sua
testa. — Isso soa fodido para você? Deus, eu poderia dormir durante
um ano. — Murmurou e fechou os olhos.

— Você não está fodida, baby. — Disse suavemente e cobriu a


mão que descansava sobre o console. — Você fez as coisas como
deveria.— Ou algo como isso. — Acrescentou em silêncio. Não deveria
ter ficado sozinha esta noite.

Ligou o rádio e deixou que dormisse o resto do caminho até ao


apartamento. Em vez de ir para a garagem, Vincente parou quando viu
a vaga na frente. Abaixou e pegou o corpo dócil de Nika em seus
braços. Ficou ali por um segundo e se permitiu desfrutar da sensação
dela junto ao seu corpo, e em seguida continuou e se dirigiu para
dentro, assentindo a um Tyson sonolento antes de entrar no elevador.

Entrou no apartamento, e sem sobressaltá-la muito, foi


diretamente para o quarto e a colocou suavemente sobre a cama
enorme. Virou-a até que estivesse quase sobre seu estômago. Ela se
aconchegou no travesseiro que ele normalmente usava, e seu suspiro
de satisfação torceu algo dentro dele.

Agora ela está onde pertence.

O murmúrio de satisfação do Admirador flutuou em sua mente


enquanto se levantava sobre ela. O suave resplendor do abajur
iluminava sua pele de maneira que parecia como se brilhasse sobre
seus delicados ombros. Como alguém podia machucar
voluntariamente uma criatura tão frágil?
Ajoelhou-se, tirou suas botas e depois sentou sobre suas pernas,
com os olhos de repente exaustos de cansaço. Não era surpreendente,
já que não dormiu muito nas últimas semanas.

Sua boca se abriu em um bocejo quando ficou de pé e foi verificar


as fechaduras. Tirou sua arma antes de ir ao banheiro para lavar o
rosto com água fria, usar as instalações e voltar para o quarto para
tirar as botas e seu recentemente substituído casaco. Colocou o couro
sobre a cadeira na parte superior do roupão de Nika e sentiu a
inclinação do colchão, enquanto se deixava cair junto à sua bela
adormecida.

Por que estava se envolvndo nesta situação? Deveria estar no


outro quarto.

Ela poderia precisar de alguma coisa durante a noite.

O fato de que os dois estivessem completamente vestidos, não


fazia nada para diminuir a intimidade de estar na cama com ela e era
tudo o que podia fazer para não estender a mão e puxá-la contra seu
corpo repentinamente frio. Virou-se para o lado com um profundo
suspiro e moveu sua mão para seus cabelos, pegando alguns fios entre
o polegar e o indicador.

Seu olhar foi para a porta enquanto bocejava novamente, suas


pálpebras se fechando. A sensação de alegria e paz que se infiltrou
lentamente em seu interior, era tão pouco familiar que parecia
desconcertante. O que havia nela que o fazia se sentir tão conectado?
Não se sentia como um espectador da vida quando estava com ela;
observava e desejava, quando se permitia esse luxo. Sentia-se como
um participante. Quando ela o olhava, sua vivacidade o atraía e o
prendia. Era como se o visse... como se o enxergasse.

A emoção desconhecida que o percorria era tão reconfortante que


não pode evitar de saboreá-la, enquanto se entregava ao sono.
O ruidoso toque de seu telefone fez Nika gemer, sentindo como se
uma dúzia de anões martelassem diretamente em seu cérebro.

Merda. Tinha acabado de dormir.

Ou não?

Ficou de joelhos com os olhos fechados, esperando poder parar a


explosão na cabeça e no estômago que se rebelava. Deu uma palmada
na mesa de cabeceira e teve que abrir um olho quando apenas o que
sentiu foi sua bolsa. Pegou o celular e se horrorizou ao ver que dormiu
de roupa.

Fechou os olhos novamente, apertou o polegar sobre a tela e se


deixou cair. — Porr...

Sua saudação resmungona se transformou em um grito quando


sua cabeça bateu contra algo duro. Estremeceu, seus olhos se
arregalaram e tentou não vomitar com o movimento, ficando sem
fôlego com o que viu.

Vincente estava deitado ao seu lado, olhando com aqueles olhos


escuros, divertidos. Um de seus braços estava atrás da cabeça, o outro
descansava sobre seu estômago duro e suas longas pernas estavam
estendidas com os pés cruzados nos tornozelos.
Relaxado.

Pela primeira vez na história, o estava vendo relaxado.

Moveu-se para frente, com nenhuma sensação de


responsabilidade por suas ações, ao menos neste momento, e afastou
seu braço com a cabeça para poder usar seu estômago como
travesseiro. Suspirou enquanto sua testa entrava em contato com o
músculo quente.

A ação parecia familiar por alguma razão e não se importava com


o porquê.

— Nika!

O som da voz de Eva em pânico veio do telefone, a lembrando por


que estava acordada agora. Levou o telefone novamente para a sua
orelha.

— Sim, sim, desculpe. — Disse com voz rouca. — Por favor,


sussurre, Eva. Não posso aguentar mais do que isso.

— Você está bem? Onde está? Por que gritou?

— Não aconteceu nada, eu estou bem, no apartamento. Gritei


porque Vincente está na cama comigo.

Houve uma pausa prolongada.

— E você gritou porquê...? — Perguntou Eva lentamente.

Soava tão interessada que era quase divertido.


— Porque eu não sabia que ele estava aqui. Quer falar com ele?
— Sem esperar uma resposta, esticou a mão para cima. — É para
você.

Ele pegou o telefone. — Olá, anã.

Sua voz retumbou, profunda e relaxante.

Disposta a pegar quase qualquer tipo de alívio que pudesse ter,


Nika dobrou as pernas e se preparou para relaxar, passando as mãos
entre o colchão e as costas de Vincente.

Deus, era tão bom... como podia um homem ser tão bom?

Não deveria estar tão confortável com ele.

Ah e por que não? —Pensou com cansaço. Não era como se


fossem ficar unida a ele por causa de um simples abraço; ela estava de
ressaca, ele estava à mão, grande coisa.

Sem falar que não conseguia se lembrar da última vez em que se


aconchegou a um homem em uma cama. Nem sequer sabia quanta
falta sentiu de um pouquinho da inofensiva normalidade, até agora.

Virou a cabeça para o lado e ouviu o forte batimento do coração


de Vincente, e o ritmo era calmante.

— Sim, eu a trouxe para casa ontem à noite. — Disse. — Não me


senti confortável a deixando sozinha, do jeito como estava. — Ah, o
estômago de Nika se moveu todo alegre. — Não tem problema, sim, eu
farei. Diga-lhes que estarei em casa mais tarde. — Ouviu-se um estalo,
e isso a deixou saber que encerrou a ligação. Ouviu o telefone
aterrissar na cama atrás dela quando foi jogado. — Eva disse que
deveria pensar melhor.

— Não brinca. — Murmurou ela. — Vou ter que lembrar de dizer


a ela quando a vir. — Mal terminou de dizer as palavras quando sentiu
seus dedos alisarem seu cabelo. Começou na têmpora e foi descendo
lentamente, parando exatamente no local onde antes estavam seus
pontos. O céu. Absolutamente. — Mmm, isso é tão bom. — Suspirou
sentindo-se muito bem para perguntar por que ele fazia algo tão
agradável, quase afetuoso. Gemeu com seu próximo pensamento. —
Eu disse alguma coisa ontem à noite que o envergonhou? Se fiz, sinto
muito, meu filtro tem tendência a desaparecer quando bebo. Por isso
normalmente não faço isso.

— Por que fez ontem à noite?

Vagamente notou que não respondeu sua pergunta. Sabia que se


fosse contar, diria que bebeu em um esforço para tirá-lo de sua cabeça
depois que a evitou como se ela fosse uma coisa danificada que queria
esquecer.

— Precisava esquecer, por isso as margaritas. A tequila não é o


meu forte. — Admitiu. — E antes que comece, já sei que foi uma
estupidez ter ido lá sozinha. Irresponsável, quase imaturo e realmente
tolo. Faltou alguma coisa?

— Perigoso?

— Sim, mas como eu disse ao meu irmão, Kevin pode ter sumido,
mas minha cabeça realmente precisava do descanso. Não quero ser
essa mulher que traz uma garrafa para casa e bebe sozinha. — Disse
rapidamente e aconchegou-se um pouco mais perto quando o ar
condicionado ligou e soprou frio sobre ela. — Acabei bebendo sozinha
de qualquer jeito, mas pelo menos tinha outras pessoas no lugar. Me
senti um pouco menos patética com esta alternativa. — Eu arrastava
as palavras? Merda, estava cansada.

— Outras pessoas no lugar? — Perguntou enquanto mudava o


tom de voz. — Quer dizer os dois caras que estavam a minutos de levá-
la para fora do clube para sabe-se lá onde?

Ela tinha certeza, ele estava irritado. Mas se sentia muito


confortável para levantar a cabeça.

— Mas você estava lá para mim. — Murmurou e desejou lhe dar


um tapinha nas costas por isso. — Por que você estava lá, Vincente?

A ira residual de Vincente desapareceu com a pergunta. Por que


estava lá?

Para fazer exatamente o que fez, salvá-la de uma situação que


poderia ter sido sexual, se considerasse um trio, ou salvá-la do tipo de
pesadelo que passavam nos noticiários das onze da manhã.

Quem sabe o que teria acontecido?


E tudo porque precisava... o que disse? Esquecer? Merda.

Deveria ter se juntado a ela, seria agradável sair da maldita


desordem em sua própria cabeça durante algumas horas.

Sabia tudo à respeito da necessidade de se desconectar. Usou


muitas vezes a garrafa da mesma maneira que ela fez ontem à noite,
mas cortou isso antes que se transformasse em um problema. Na
maioria das vezes, conseguia paz para a culpa que sentia e esse efeito
durava por algumas horas. Mas não sempre.

Às vezes, a bebida tornava seus erros ainda mais evidentes. Mas


finalmente respondeu à sua pergunta.

— O clube do Maksim está a poucas quadras do Pant, então parei


para uma bebida à caminho de casa.

— Ah.

Soava decepcionada?

— Quer comer alguma coisa, Ruiva?

— Ugh. Deus, não.

Um sorriso apareceu com sua resposta. Porra, sorriu mais nas


últimas doze horas do que fez no ano passado inteiro.

— Que tal um pouco de café?

— Mmm... — Sério, tinha que deixar de fazer esse som. — Café.


Minha fraqueza. Seria bom agora e nem teria que ser do Starbucks.
Mmm...
Com esse som, o Admirador ficou de pé, com a testa apoiada
contra a parede da mente de Vincente, os olhos fechados e uma
expressão de paz absoluta em seu rosto.

Sem dúvida, deveria ter ido embora quando acordou esta manhã,
mas mesmo que dissesse a si mesmo que deveria ter feito
precisamente isso, não pôde mover um músculo. Em vez disso, ficou
junto dela, desfrutando da sensação de Nika aconchegada contra ele
enquanto dormia. Um contato tão simples, mas do qual foi incapaz de
se afastar.

Durante mais de uma hora a observou respirar, nada mais. Este


era o mesmo tempo que levaria para chegar a Crown Heights. No
entanto, pensou que se Nollan estava matando prostitutas, fazia isso
durante as horas de trabalho das mulheres, que na maioria das vezes
não era às nove da manhã. O bastardo tinha que dormir em algum
momento e o melhor horário provavelmente era durante o dia.

Bem, já era suficiente. Tinha que se mexer.

Certo de que ela dormiu novamente, pegou um travesseiro e


cuidadosamente a colocou de lado, com a intenção de colocá-lo
debaixo dela em vez do seu corpo. Mas não teve a chance.

Seus dedos se fecharam sob suas costas, segurando sua


camiseta, enquanto sua cabeça se apoiava em seu estômago,
prendendo-o exatamente onde estava.

— Por favor. — Protestou sonolenta. — Ainda não. É estranho,


mas o calor de seu corpo é tudo o que vai me ajudar agora. Sei que
provavelmente deveria me levantar e vomitar, mas não gosto de fazer
isso. Me lembra do ensino médio durante nosso último ano. Eva e eu
costumávamos ir aos bailes da escola. Nós gostávamos de misturar
muito álcool, um pouco de cada garrafa do armário onde guardávamos
a comida para gatos, de forma que meu pai não soubesse que
bebemos, ou pelo menos era isso o que pensávamos. — Disse
suavemente. — Mas ele sabia. De qualquer maneira, bebíamos,
provavelmente cheirávamos mal e dançávamos a noite toda. Caleb
sempre estava esperando do lado de fora para nos levar para casa
depois, orgulhoso por termos escolhido álcool em vez de comprimidos
igualmente estúpidos como todos os outros. — Sorriu. — Era muito
divertido, até de manhã. Depois, segurávamos o cabelo uma da outra
enquanto vomitávamos e meu irmão ficava na porta do banheiro rindo
de nós. Não posso vomitar agora sem me lembrar disso.

Vincente sorriu enquanto a imaginava jovem e feliz. — Vocês


duas são muito unidas, não?

— As mais unidas. Espero que Gabriel não se importe que eu


precise tanto dela. — Ele franziu a testa.

— Gabriel não se importa, Ruiva. — Garantiu enquanto voltava a


passar os dedos por seu cabelo. Ela precisava de um pouco de
consolo, e sentia-se doente. — Acho que ele gosta que tenham uma à
outra.

— Isso é bom. O que se faz com a ressaca, Vincente? —


Perguntou devagar.

— Dormir ou suar na academia.


— Você está louco, isto é melhor. Está tão quentinho... —
Adormeceu em questão de segundos.

E ele tinha que ir, cavar tão fundo quanto pudesse para fazer o
que sabia ser o certo.

Devia deixá-la sozinha, porque isto... o que sentia em seu coração


não tinha nada a ver com a simples atração física. Essa conexão que
sentiu na noite anterior parecia muito mais sólida esta manhã, o que
significava que se conectou com suas emoções e isso o arruinaria.

Não podia permitir que isso acontecesse, porque se ele falhasse e


a perdesse, não acreditava que conseguiria sair desse buraco negro
novamente.

Lore cobriu o rosto com o lenço. Estava certo de que era a vítima
número cinco assim que chegou na cena do crime antes do FBI. Mas
isso somente porque conhecia as ruas melhor do que eles. Sem dúvida
o tirariam da cena, por isso seria melhor pensar rápido.

Este caso o incomodava mais do que os outros, mas não


conseguia entender por que. É certo que não podiam conseguir um
descanso, mas isso acontecia na maioria das vezes.
Talvez com esta última vítima, acabava de conseguir um. Não
sabiam ainda, mas havia um problema com a descoberta da vítima
número cinco. Em todas as mulheres que encontraram, haviam cinco
fatores que as uniam ao mesmo assassino.

Um: todas eram jovens ruivas. Mesmo que com trabalhos ruins
de tintura ou com perucas, todas tinham cabelo ruivo.

Dois: todas eram prostitutas, mas a isso poderia se atribuir o fato


de serem muitas e fáceis de conseguir.

Três: o estrangulamento era a causa da morte. Por que? Um meio


limpo de matar? Sem sangue? Menos provas do que com uma arma?

Quatro: todas foram brutalmente violentadas depois de mortas da


mesma forma sádica e cruel: com uma navalha, de forma alienada, o
que resultava em algo sangrento que poderia ser usado como prova, o
que favorecia a hipótese anterior sobre porque a deixaram.

No entanto, o problema era que o assassinato número cinco não


tinha nada que o conectasse aos anteriores. A anterior Jane Doe, foi
encontrada dentro de um raio de seis quadras da área de Crown
Heights.

Esta não.

O telefone de Lore tocou e o tirou do bolso para olhar a


mensagem. Já sabia o que encontraria. Considerando a hora, e que
era domingo pela manhã, sabia que a mensagem era de seu irmão.

Está de serviço?
Odiava fazer isso, mas respondeu com outra má notícia.

Desculpe irmão, encontrei outra. Não poderei escapar.

Orarei para que seja a última. Ligue se precisar de mim.

Sim. Obrigado.

Lore afastou o telefone apenas para que vibrasse novamente


quase que imediatamente. A perita forense se aproximou ao mesmo
tempo, seu cabelo loiro balançando e tinha as feições tensas. Ele
levantou um dedo e leu rapidamente.

Mamãe quer saber se você estará aqui para o almoço.

Era sua irmã, Ashlyn.

Fale com o Michael.

Apertou enviar e guardou o telefone. Sabia que não tocaria


novamente, sua família entendia estas coisas e davam o espaço que
precisava quando estava em serviço em um caso.

— Acha que pode ser um imitador? — Perguntou Patti, agora que


tinha sua atenção. E com os olhos ainda em sua prancheta, batia o
lápis na frente de seus dentes e olhava para o beco. — Se não, isto
significa que está em movimento. Alguma ideia do porquê?

Lore negou, desejando que sua resposta fosse diferente. —


Nenhuma.

— Bem, espero que algo o ilumine logo ou melhor, aos dois


engravatados que estão saindo do carro para atravessar a rua, porque
a localização não é a única coisa diferente sobre esta. As outras foram
estranguladas, como ela. — Apontou para a maca com a cabeça
pendurada de lado e moveu-se com a brisa, o tecido sedoso preto com
o qual a mulher estava vestida era uma escolha incomum. — A
traqueia foi feita em pedacinhos, o que significava que a raiva de seu
garoto aumentou ou algo em particular disparou ontem à noite. Uma
pena que não sabemos o que é. — Disse enquanto olhava novamente
para os agentes.

Lore colocou as mãos nos bolsos e tocou as contas do rosário que


levava desde o dia que Michael lhe deu. Obrigou-se a limpar a mente
de todas as provas e representações visuais das mulheres e se limitou
a observar enquanto os agentes faziam seu trabalho. O corpo
finalmente foi transportado para o veículo forense e tirado dali, com os
carros oficiais o seguindo e um bem atrás não oficial. Continuou a
olhar até que a área ficou limpa, exceto pelo contorno de giz e dois dos
meninos que ficaram para recolher algo que outros pudessem ter
perdido nas sete horas que ficaram ali.

Lore apoiou-se no carro, permitiu que apenas pensamentos


superficiais passassem por sua mente, de modo que deixasse espaço
para algo importante que pudesse subir à superfície, algo que poderia
ter perdido.

Moveu-se e olhou para frente enquanto a vida continuava ao seu


redor. Passou por um mensageiro de bicicleta um segundo depois, dois
táxis brigavam pela liderança, um motorista de ônibus parou em seu
ponto, e discutiu claramente com um passageiro. A jovem passageira
desceu e se afastou pela calçada, o motorista apertou o acelerador
para colocar o monstro azul e branco em movimento e revelou uma
Kombat T-98 estacionada.

Lore observou a caminhonete. Carro bom. Caro. Nunca viu uma


na cidade a não ser no grande salão do automóvel em que Ashlyn o
acompanhava todos os anos em Manhattan. Fabricada na Rússia, se
lembrava da explicação que o cara fez enquanto girava ao redor dela
em abril passado.

Afastando-se com um suspiro, Lore ficou no volante de seu carro


e fez a pergunta de um milhão de dólares mais uma vez: o que
impulsionou este cara a aumentar gradualmente a violência e à mudar
a localização da ação de Crown Heights para Astoria?

Vincente voltou novamente ao apartamento. A razão pela qual


finalmente se levantou e saiu, estava firmemente em sua mão direita.
O Admirador sorriu feliz enquanto procurava sua ruiva. Finalmente se
arrastou para fora da cama, - fazia anos que não ficava entre os
lençóis até o meio-dia -, tomou banho e saiu pela porta para descer a
quadra. Resolveu seu assunto o mais rápido que pôde, fez uma pausa
no caminho de volta ao edifício para olhar com receio para dois
engravatados ao redor do beco do outro lado da rua. Deixou-os com
ela porque odiava deixá-la desprotegida por mais tempo do que o
necessário. Vito e Alesio não deviam voltar dentro de uma hora. E sim,
tentaria ver a ruiva de seu Admirador como um objetivo mais uma vez.

Sua compra recente acabou por ser um fracasso, mas naõ se


importava.

Com as mãos ao lado do corpo, entrou nas pontas dos pés na


sala principal justamente quando a porta do banheiro se abriu.
Congelou no meio do caminho, com os joelhos quase dobrados quando
viu Nika sair com uma pequena toalha ao redor de seu corpo,
evidentemente nua. Seu corpo fresco, com as escuras e onduladas
mechas do seu cabelo caíam até a cintura.

Santo par de pernas assassinas.

Os olhos do Admirador rolaram na cabeça antes de cair. Saltou


mais uma vez antes de congelar.

Nika deve ter escutado o impotente som que retumbou do peito


de Vincente, porque sua cabeça virou e fez uma careta de dor pelo
movimento rápido.

— Merda, Vincente. — Ofegou e esfregou a têmpora com os


dedos. — Juro que vou comprar um sino para você usar... —
Interrompeu-se, e seu peito praticamente brilhou enquanto um lindo
rubor subia por seu pescoço e em seguida colocou um pouco de cor
em suas bochechas pálidas.

Sim, Ruiva. Seu corpo está escondido somente por uma grande
toalha de rosto.
Ela se moveu em direção ao quarto, soltou o fôlego e murmurou
sobre o ombro: — Vou me vestir. — antes de fechar a porta.

Não queria que ela se vestisse, queria que lhe mostrasse, que se
apresentasse na frente dele com todo o corpo corado e pronto, queria
se banquetear, se fartar, até que ambos estivessem muito cansados
para fazer nada mais do que respirar.

Não aconteceria.

O som que fazia ao se vestir o fez ir à cozinha, como se precisasse


ser acordado do meio de seu sonho, das muitas maneiras que queria
tê-la. Pegou o açúcar e foi para o sofá quando ela entrou, com uma
rajada fresca de laranjas e jasmim. Merda. O aroma o atordoou
enquanto deixava seu café e o açúcar na mesa.

Sua respiração levemente agitada o fez querer perfurar algo. —


Você... me trouxe... um latte?

Vincente apertou os dentes quando sua voz se rompeu no final.


— Sim, mas não fique toda emocionada. É apenas café. — Disse
rispidamente quando se virou, praticamente levando a mão aos olhos
como um cego para não vê-la e foi novamente para a cozinha.
Rapidamente pegou sua pistola de trás da torradeira onde escondeu
na noite anterior, e a outra estava no saguão...

Que som era esse, caralho?

Colocou a SIG junto a uma tigela de uvas no balcão e se virou


lentamente com uma sensação apertando suas entranhas. Ficou
boquiaberto quando viu Nika sentada e inclinada no sofá, passando as
mãos pelas bochechas enquanto tentava esconder a evidência de suas
lágrimas. Ele se aproximou e ficou de joelhos na frente dela antes que
percebesse que se moveu.

— Ei, ei. — Acalmou enquanto a puxava contra seu peito. — O


que aconteceu? Por que está chorando? Me deram chá por engano? —
Sua voz saiu fraca quando tentou usar um pouco de humor. Nunca
podia ficar de pé quando uma mulher chorava, sempre se lembrava da
única vez que viu Sophia chorar. Ela chorava histericamente porque
um garoto a traiu com uma menina que não conhecia, e isso foi
somente algumas semanas antes de desaparecer.

Afastou o pensamento e se distraiu ao reconhecer o quão bem


Nika ficava em seus braços, com sua quente e sexy fragrância. Ela
balançou a cabeça e soluçou. Tão adorável.

— Desculpe. Deus, sou uma idiota, apenas me pegou de


surpresa. É tão... terno, acho que simplesmente me surpreendeu. —
Suas mãos tocaram seus ombros, suas mãos o queimaram através de
sua camiseta enquanto se inclinava para trás. Secou seu rosto
enquanto seu coração sangrava por ela, embora seu corpo queimasse
em cinzas. Ficar nervosa por uma gesto de bondade tão simples
quanto alguém lhe trazer uma bebida quente? — Sinto muito. —
Repetiu e respirou fundo. — Apenas estou estressada, eu acho.
Obrigada. Pelo latte.

Os olhos de Vincente foram para suas mãos.


— Está tudo bem. — Disse enquanto notava as diferenças entre
eles, apesar de ser alta para uma mulher, era ultra feminina e muito
delicada.

Suas mãos pareciam pesadas e monstruosas quando se


acomodaram na parte externa de suas coxas. Ela usava um jeans de
cintura baixa...

Cale-se e se afaste o mais longe possível dela!

Suas mãos se apoiaram na parte superior das coxas. Levou os


polegares para baixo entre eles e os bastardos começaram uma lenta
carícia, passando suavemente para trás e para frente.

Uma pequena mudança na respiração de Nika o fez levantar os


olhos lentamente.

Está bem, olhe para ela. Ela está bem. Não chora mais, está
vendo? Agora se levante e se afaste.

Mas não fez, ficou no lugar onde estava. Não estava chorando
mais, mas aqueles círculos verdes brilhantes reluziam com
curiosidade e um desejo tão irresistível, tão quente e acolhedor que
Vincente sentiu que afundava. Seu olhar foi para a boca de Nika.
Apenas uma prova. Como a que teve em Seattle. Precisava disso.
Muito.

Porra, V. Não! Não vá se aproveitar desta mulher que já viveu um


inferno e voltou, apenas porque você não pode se controlar.

Ficou quieto. É claro que não faria isso, que merda estava
pensando? Ele a beijaria e depois diria o quê? Obrigado, apenas queria
ver se você ainda tinha a capacidade de fazer minha mente voar? Não,
claro que não.

Seus músculos se esticaram para se afastar.

As pernas de Nika se abriram lentamente, o suficiente para que


sentisse uma leve onda de calor sobre seus dedos e seu cérebro
começou a falhar... e... e... se esqueceu... de tudo.

Aproximou-se de joelhos enquanto ela vinha para frente,


lentamente, como se tentasse não assutá-lo.

Isso o incomodou. Não precisava de cuidado, sabia o que fazia.

Sabia o que deveria fazer.

Sabia o que queria fazer.

Sabia o que não deveria querer fazer.

— Vincente?

Seu fôlego quente de hortelã fluiu sobre seus lábios. Merda.


Apenas uma prova. O toque suave de seus dedos foi para sua
garganta, deixando um rastro de fogo enquanto se moviam até seu
queixo.

— Vou beijar você, Ruiva. — Advertiu-lhe.

Seus olhos se dilataram e seus dedos pararam.

— Está bem.
— Mas isso é tudo o que haverá. Apenas um beijo. — Precisava
saber que isto não mudaria nada.

Mas foi ela quem levou seus lábios mais perto, tocando os seus
levemente. Mas o matou da mesma maneira.

— Apenas um beijo, Vincente. — Sussurrou.

Sua boca tocou a dela, suas mãos seguraram suas pernas, e sua
língua saiu para acaricia-la com avidez, enquanto se abria para ele
sem nenhum estímulo. Ela inclinou a cabeça e o puxou, passando sua
mão ao redor do pescoço.

Senhor! Seu entusiasmo era absolutamente demais.

Seus pensamentos sumiram quando ambas as suas mãos


passaram hesitantes por seu cabelo e sua língua se esfregou quase
que de forma acidental em sua boca. Seus joelhos se moveram para
prendê-lo entre elas. Nesse momento, o desesperado desejo que sentia
por ela e apenas por Nika, rugiu através de seu corpo como um trem
de carga e se deixou levar.

Levantou-se, pressionou-a de costas para deitá-la e se acomodou


sobre ela no sofá sem interromper o beijo. Prendeu suas longas pernas
entre as suas e colocou seus pulsos sobre sua cabeça. Nika tinha que
parar de tocá-lo; não podia controlar as coisas quando o tocava.

Sim, porque estou no controle disto totalmente.

Merda. Afastou os lábios dela. Isso tinha que parar, não deveria
ser tão bom, porra.
— Mais. Deixe tocá-lo, por favor. — Nika arqueou as costas, e sua
cabeça se levantou para que pudesse tocar sua boca novamente.
Lambeu-o e em seguida chupou seu lábio inferior mordendo levemente
enquanto se movia colocando uma de suas pernas presas ao redor de
seus quadris e puxando-o sobre seu corpo. — Oh. Sim. — Gemeu em
sua boca, levantando os quadris para esfregar-se contra seu pau
dolorido.

Mais. Ele precisava de muito mais e isto estava crítico.

— Porra, Ruiva. — Gemeu enquanto puxava seus pulsos; se o


tocasse, a deixaria nua e se juntaria à ela em um fôlego.

— Sim, Vincente, por favor.

Jesus Cristo. À medida que cedia, mordia e lambia sua boca,


passando a mão livre pelo seu corpo. A segurou no lugar para poder
mover sua ereção até o ponto doce entre suas pernas.

Engoliu seu gemido de prazer, e porque morreria se não o fizesse,


arrastou seus dedos até a camiseta verde, encontrando sua pele nua e
seu seio sem sutiã.

Perfeita para caralho! — ofegou em sua cabeça. Sabia que seria


perfeita.

Mas não podia dizer isso, porque então saberia a maneira como o
possuía completamente. Não podia mostrar sua reação desse jeito, não
podia deixá-la ver sua fraqueza no que dizia respeito à ela,
principalmente porque precisava ficar longe.
Ainda mais porque ela merecia algo muito melhor que a terra
desolada emocional que ele era.

Apesar de seus pensamentos, afundou mais seu peso sobre Nika,


pressionando-a no couro do sofá e se maravilhou com o seio macio
encaixado na palma de sua mão como se Deus a tivesse criado
somente para ele.

Encontrou seu mamilo duro, girou o pequeno bico entre os dedos,


provocando cada um de seus nervos. Quando ela abriu a boca e
gemeu, se arqueando contra ele, se moveu para dar ao outro seio o
mesmo tratamento.

Soltou sua boca e Vincente deixou um rastro úmido em sua


bochecha e queixo para poder chegar à suave pele de seu pescoço. Mal
conseguia se concentrar no que fazia porque ela continuava a mexer
os quadris, esfregando-se em seu pau, pressionando para acabar as
coisas antes mesmo de começarem.

Finalmente, sua boca chegou ao duro músculo de seu ombro, que


se encontrava com o pescoço e mordeu. O prazer correu por sua
coluna quando Nika soltou um grito selvagem que encheu seus
ouvidos, e a sensação ao redor de seus quadris apertou suas bolas
quando cravou as unhas em suas costas. Vincente a mordeu
novamente, assumiu o controle de seus movimentos frenéticos, e
encurtou a corrida para que fosse mais rápido e constante.

Porra, precisava acabar com isto.

Sim, termine, — gritou o Admirador.


Não! Não foi isso que eu quis dizer!

Dilacerado com sua discussão interna, quase explodiu quando


sentiu o belo corpo sensível de Nika endurecer contra ele. Soltou seu
seio e moveu a mão entre seus quadris, esforçando-se para não fazer
um buraco em seu jeans e aplicar uma pressão firme em seu sexo.

Isso, baby. Entregue-se. Me deixe dar isso à você. Apenas isso e


vou te deixar em paz para sempre.
O orgasmo repentino percorreu Nika com uma força poderosa até
que gritou, endureceu e então se contorceu sob a mão de Vincente.
Seu grande peso a imobilizava no sofá enquanto gemia através das
elétricas sensações, seus músculos internos se apertando e soltando
uma e outra vez.

Se fosse para morrer de prazer e enfim experimentar o toque


deste homem, teria morrido, porque gozou somente com algumas
carícias e apenas com um beijo. Mas gozou! Respondia ao toque de um
homem!

Ao toque deste homem.

E porra, foi incrível. Não era de estranhar que seu corpo fizesse o
que fazia quando ele estava perto, devia saber instintivamente que
seria muito bom. E agora queria se soltar para... espere, não tinha
permissão para tocá-lo, certo? Gemeu. Todo seu lado direito não era
mais do que uma massa de arrepios e membros fracos onde ele a
segurava.

Tão incrível, seu Vincente.

Meu Vincente?

Quando pôde ver e ouvir novamente, Nika puxou seus braços.


— Solte-me. — Disse ela. Queria tocá-lo. Precisava senti-lo. Poder
devolver o prazer que lhe deu.

Ele soltou seus pulsos e levantou a cabeça para poder olhar para
ela. Sem perceber que de repente ele ficou parado, agarrou seu cabelo
e o puxou para ela, abrindo a boca para poder beijá-lo com tudo o que
tinha. Agora sabia que sua barba por fazer fazia cócegas mais do que
arranhava, da melhor maneira possível. Moveu a outra mão
rapidamente por suas costas e sobre seu traseiro duro como pedra,
mas no momento em que passou seus dedos pela magnífica ereção
atrás da barreira do jeans, ele afastou a boca da dela e recuou
novamente.

— Não, não, não. Vincente, por favor, não faça isso. Não pare.

Suas palavras saíram como um apelo. Humilhantes. Mas porra,


por que parou? Queria mais. Foi surpreendente e estava grata por
querer mais com ele, que sua experiência com Kevin não arruinou isto
para ela.

Com cautela, quase com medo do que pudesse ver, ela encontrou
seu olhar e seu brilho morreu. Instantaneamente.

Tinha razão em hesitar, não deveria tê-lo olhado, o castanho


escuro de seus olhos era quase invisível, suas pupilas estavam
dilatadas, sua respiração era irregular, com os lábios vermelhos e
úmidos, sua pele avermelhada. Totalmente excitado. Desejava-a.

Mas...

Olhava, hesitante. Talvez não a desejasse.


— Vincente? Por favor, deixe-me cuidar de você. — Sussurrou e
acariciava com hesitação através de sua calça. Se tudo o que lhe
permitisse fazer fosse satisfazê-lo da forma como fez, aceitaria.

Realmente estava se rebaixando ao aceitar as migalhas que ele


estava disposto a lhe jogar?

Franziu a testa. Não. Essa não era quem ela era, não quem
queria ser de qualquer jeito.

— Porra, Nika. — Ele ofegou, fechando os olhos. Quando os


abriu novamente, estavam distantes. — Não posso.

Cubos de gelo juntaram-se ao fluxo de sangue quente que corria


por suas veias. Seu interior estava completamente frio, mas quando
ele se afastou e desabou no canto do sofá, Nika ainda sentiu a perda
dele como se alguém tivesse quebrado um de seus membros.

Sentiu-se milhares de anos mais velha, se sentou e fez uma


careta quando o tecido de sua camiseta esfregou seus mamilos
sensíveis. Levantou a cabeça enquanto endireitava a roupa e o olhava,
sentado com os cotovelos apoiados nos joelhos, com o cabelo para
frente para esconder uma parte de seu rosto, parecendo um maldito
garoto-propaganda da “Damos Orgasmos”.

Irritada por sua rejeição e por sua fraqueza quando se tratava


dele, levantou e pisou sobre tudo em seu caminho.

— Você se satisfez com isto?

Sua cabeça se virou para ela, tirando todo aquele cabelo suave de
seus ombros. Se não estivesse tão irritada, o aspecto frágil em seu
olhar escuro a teria assustado. O homem apaixonado que minutos
antes deu-lhe um dos orgasmos mais intensos de sua vida, havia
desaparecido. O primeiro orgasmo que não deu a si mesma. Em seu
lugar estava seu estoico protetor. Nada mais.

— Pelo que me lembro. — Disse ele com voz sedosa. — Você foi a
pessoa que se satisfez.

Abriu a boca, os olhos arregalados com o lembrete contundente.


— E você não se satisfez. É esse seu problema? Ou é apenas comigo
que não funciona?

— Costumo me satisfazer muito bem. — O sorriso torto que lhe


deu não chegou aos seus olhos.

A humilhação fluiu como lava sobre ela. Queimou, machucou,


reduziu-a até que sentiu como se medisse somente dez centímetros.
Novamente isto? O que fazia para os homens quererem machucá-la?
Por que sentiam a necessidade de menosprezá-la, de fazer com que
não se sentisse suficientemente boa? Nunca boa o suficiente. Engoliu
a bílis que subiu em sua garganta, ficou de pé, e praticamente correu
para o quarto e trancou-se antes de ir para a cômoda. Com falta de ar,
revirou a gaveta e quase arrancou a camiseta enquanto se esforçava
para pegar um sutiã, envergonhada por quão sensíveis seus seios
ainda estavam. Calçou as sandálias que deixou junto à cama no dia
anterior.

Pensamentos de pânico tomaram conta de sua cabeça, o mais


ruidoso dizia-lhe que fosse embora dali, longe do bastardo à quem ela
mesma se ofereceu.
Oh, por que fiz isso? Eu deveria saber!

Sabia que ele era imprevisível no que se referia a ela,


inconsistente.

Por que ele a beijou, a tocou, se não a desejava? Por que


simplesmente não a deixou sozinha? Mas não, tinha lhe dado mais
combustível para suas fantasias ridículas. Acreditou no que ele disse,
no que fez. O problema não era ele. Era ela.

Eu sou tão estúpida!

Lágrimas encheram seus olhos e sua garganta doeu como se


tivesse se afogado. Claro, estava excitado, mas um homem podia ter
uma ereção com uma brisa forte, não é? Pelo que sabia, poderia
pensar em outra pessoa, imaginar alguma pequena loira em vez da
estranha ruiva. A mulher que não foi nada mais do que um saco de
pancada de um homem no ano anterior, que foi alvo de cada um dos
desagradáveis e degradantes comentários de Kevin.

Kevin estava certo sobre ela? À respeito do que dizia ... que
ninguém mais a desejaria quando ele terminasse com ela?

Não acreditou nele, mas agora...

Nika pegou sua bolsa da mesa de cabeceira, onde Vincente a


colocou na noite anterior quando a levou para sua casa. Foda-se isto.
Esta não era sua casa, era somente outra versão do inferno.

Depois de ir para a porta do quarto, parou com a mão na


maçaneta e respirou fundo para se acalmar. Fez novamente quando
uma vez não funcionou. Como se fosse mesmo possível que se
acalmasse agora. Sacudiu-se, virou a maçaneta e saiu corredor
abaixo, procurando sua chave enquanto saía.

— Onde você pensa que vai?

Ela levantou a cabeça e deixou cair sua bolsa. Vincente estava


parado na frente da porta, bloqueando sua única saída e restringindo
sua liberdade.

Mal sendo capaz de respirar pelo pânico incitado por sua postura,
Nika se abaixou para recolher suas coisas. Jogou o batom e a carteira
macia de couro preto, pegou seu desodorante e o colocou novamente
em sua bolsa, junto com um guardanapo de papel que deve ter pego
no clube ontem à noite, porque estava gravado com as palavras Clube
Pant. Estava prestes a colocá-lo na bolsa quando viu a escrita na parte
de trás. Pegou ao mesmo tempo em que atirava a alça de sua bolsa
sobre sua cabeça, endireitando-se e levantando o queixo. Vincente
precisava deixá-la passar.

— Vou embora. Por favor, saia do meu caminho.

— Temo que não possa fazer isso, não vou deixar você sair daqui
quando está irritada. Quem sabe no que se colocará sem querer? O
que é isso? — Apontou para o guardanapo.

A compreensão caiu sobre ela. Seus desejos e necessidades não


significavam nada, sua liberdade de escolha não existia. Era
insignificante, todos pensavam que ainda não era capaz de cuidar de
si mesma, de distinguir o bem do mal, os perigos com relação à sua
segurança. Ainda estava presa, mas com as correntes que seu irmão e
Vincente decidiram chamar de proteção.
Algo dentro de Nika se desintegrou, estilhaçou-se com um forte
impacto, feriu suas vísceras com fragmentos afiados, irregulares.

De repente, sentiu-se tão pequena que teve que se perguntar se


ainda existia.

As dolorosas sensações foram fugazes, quase tão rápido quanto


ela sentia e depois... nada. Um bendito nada. Uma dormência
absoluta. Seu coração que batia loucamente desacelerou, seus
pulmões perderam a rigidez sufocante, a tensão fugiu de seus
músculos.

E era livre. Por dentro, pelo menos.

Nenhuma emoção avançou para atacá-la como esperava


enquanto tudo se esclarecia. Como nada. Esse desprendimento
pacífico, algo que teria sido muito útil se pudesse ter usado quando
Kevin batia nela. Mas não. Nunca experimentou isso antes. Levou
outros densos poucos segundos para perceber o que era.

Você se rendeu, - sussurrou com tristeza uma voz no fundo de sua


mente.

E ela fez. Desistiu. Cedeu. Nunca iria convencê-los que era forte e
capaz, certo? Lutou durante tanto tempo e uma noite em particular,
perto do começo, lutou por sua vida mesmo quando Kevin não sabia
quando parar de agredi-la. Foi horrível, acordou em um hospital com
seu pulso engessado, com uma enfermeira a olhando com
preocupação e um médico que observava com interesse profissional e
um encolher de ombros, como se ela não estivesse ciente de que seu
casamento era violento e precisasse que um desconhecido lhe dissesse
que era preciso sair dele antes de não ter a sorte de acordar na manhã
seguinte.

Sim, porque o despertar era uma nova rodada de sorte para a


pessoa abusada.

Nika piscou enquanto algo se solidificava em seu peito. Depois de


ter lutado para superar o ano passado, era quase um alívio sentir-se
assim. Ou especificamente, não sentir. Finalmente, era alguma ajuda
com a qual lutar. E se essa ajuda chegava na forma de não ter que se
matar e preocupar-se com a opinião de outras pessoas, de seu pobre
irmão e sua desnecessária culpa e com o homem na frente dela.

Levantou a cabeça e olhou para Vincente Romani com olhos que


pareciam vazios como uma tela de TV desligada.

— É meu. — Disse categoricamente e segurou o guardanapo


amassado. Os homens que lhe compraram uma bebida na noite
anterior, provavelmente deixaram seus números. Corajoso da parte
deles, mas quem se importava?

Vincente passou uma mão nervosa na parte de trás do pescoço.

— O que é? — Repetiu.

Levantou, mas não que realmente importasse. Poderia sentir uma


faísca de satisfação por agitar o número de telefone de outro homem
sob o nariz do senhor Arrogante, enquanto ela observava o que estava
escrito no guardanapo. Tudo ao seu redor despareceu, tudo o que viu
foram as letras mal escritas e ainda não sentiu nada mais do que uma
leve inconveniência por saber que ainda não terminou.
Não disse a você para que nunca se afastasse de mim?
Encontrei-a. Sempre a encontrarei. Farei você pagar por ter me
deixado.

Vou cortar sua garganta e dançar em seu sangue, Niki.


Prepare-se para mim.

A visão de Nika tremeu levemente à medida que pequenos pontos


brancos explodiam em sua periferia.

Era divertido. Estava um pouco surpresa, mas não sentia medo.


Por quê? Kevin a encontrou. Por que não sentia medo?

Talvez realmente desse as boas-vindas à morte, seria melhor do


que este pesadelo no qual se encontrava.

Kevin esteve perto o suficiente para colocar esse guardanapo em


sua bolsa na noite passada ou deixou que alguém fizesse por ele.

Ela nunca ficaria livre dele.

— Ruiva!

Levantou os olhos e piscou algumas vezes para Vincente.

— O quê?

— Que porra é isso?


— Nada. — Disse, sua garganta parecendo seca. Colocou o
guardanapo em sua bolsa, foi para a porta, e o enorme corpo não se
moveu um centímetro. — Estou bem para sair. Com licença.

— Mostre o que estava escrito no guardanapo.

— Não lhe interessa. Agora, se me der licença...?

— Mostre-me. — Disse, obviamente sem ouvi-la.

Sua cabeça se moveu para cima, com os olhos estreitos.

— Não é assunto seu, Vincente. Não posso ser mais clara do que
isso. Agora, saia do meu caminho.

Seu olhar se desviou do seu rosto para sua bolsa. Percebeu sua
intenção, e deu um passo para trás. Seu braço disparou, e ela se
agachou para escapar do seu alcance, de modo que a bolsa e seu
conteúdo caíram e tentou forçar seu caminho por dele. Teve sucesso e
chegou à porta. Pensou que se a abrisse, o mais provável era que
conseguisse deixá-lo para trás, mas essa opção também foi roubada
dela, quando foi virada com um surpreendentemente gentil, mas firme,
aperto no braço. Ela ofegou quando ele colocou suas costas contra a
porta. Vincente a manteve ali, pressionou toda a parte superior de seu
corpo no dela.

— Afaste-se! — Explodiu, finalmente sentindo algo: indignação.

Empurrou-o. Ou tentou. Merda. Teria melhor sorte se tentasse


mover a porta atrás dela.

— Dê-me esse guardanapo.


Sua voz profunda retumbou em seu peito onde se pressionavam,
mas Nika não sentiu nada exceto a vibração.

— Não. Não tem nada a ver com você, agora afaste-se para que eu
possa sair. Eu teria ficado em Seattle com Kevin se quisesse viver
assim.

Ele prendeu a respiração, surpreso e imediatamente deu um


passo para trás, mas não antes de arrancar sua bolsa tão rapidamente
que não teve nenhuma chance. Levantou-a sobre sua cabeça apesar
do abraço de morte que tinha sobre ela e segurou-a fora de seu
alcance enquanto tirava o guardanapo amassado.

— Isso é meu!

Ignorou-a enquanto jogava sua bolsa de volta para ela antes de


afastar-se para ler o que estava escrito no guardanapo.

Depois de soltar o couro macio da bolsa de Nika, Vincente


continuou sua luta para colocar oxigênio em seus pulmões, incapaz de
tirar de sua mente o olhar morto que colocou nos olhos dela. A
expressão de seu belo rosto quando deu a entender que não o excitou
o suficiente para que quisesse ter sexo com ela estava gravada a fogo
em seu cérebro.
O que estava muito longe da verdade! Se a maldita mulher o
excitasse mais um pouco, estaria pendurado de cabeça para baixo na
porra do teto com uma corda na garganta.

No entanto, ela acreditou nele. Achava que não era desejável.


Como era possível? Não via seu reflexo quando se olhava no espelho?
Como podia pensar isso depois do que compartilharam? Não podia
dizer o que sentia nesse momento. Que a afastou para protegê-la dele,
para não a machucar.

Deus, o êxtase em seu rosto enquanto gozava para ele. Por ele!

Mas tinha que deixá-la acreditar nas mentiras, já que enquanto


estava ali sob ele, se encaixando tão bem em seus braços, soube sem
sombra de dúvida que se ele a tomasse, se fizesse amor com ela, se a
reclamasse como sua, nunca, jamais teria forças para deixá-la ir. E
Nika merecia muito mais do que podia lhe oferecer. Então soltou
golpes verbais com força suficiente para machucá-la. Talvez se
continuasse a olhar fixamente para ele da forma que olhou durante
aqueles últimos minutos, seria mais fácil negar esta selvagem fixação
que sentia. Porque a última coisa que ela precisava era uma sufocante
obsessão em sua cama. Eu a materia trancada, apenas no caso de
algo acontecer com ela. Ela merecia alguém que lhe permitisse a
liberdade de abrir suas asas e voar para o céu. Vincente não poderia
lhe dar isso.

Sentiu náuseas, afastou-se e olhou o guardanapo que a


transformou em um fantasma bem diante de seus olhos. E o que viu o
fez tremer de raiva.
Nollan a encontrou! Aquele bastardo esteve perto o suficiente
para deixar este guardanapo!

Por que não sentiu medo quando leu as palavras duras? Ela
empalideceu, mas isso foi tudo. Por que não parecia assustada ou
alarmada? Como qualquer outra mulher ficaria ao ler algo tão
perturbador como isto.

Porque viveu isso durante quase um ano, era impossível saber


quantas vezes o ouviu antes.

O telefone de Vincente tocou e o tirou de seu bolso para ver a


mensagem, que era de Lorenzo. Como o cara conseguiu seu número?

A número cinco foi encontrada esta manhã. Astoria. O dano


ao corpo foi maior. O FBI está dentro. Mantenha os ouvidos
abertos.

Merda. Astoria não era pequena, mas também não era grande e
Nollan matou no bairro. Ele esteve no clube ontem à noite. De que
outra forma poderia escrever o bilhete em um de seus guardanapos e
colocar na bolsa de Nika? E claramente os seguiu até ali. Por isso
causou mais danos ao corpo da vítima desta vez? Porque ficou com
raiva, já Nika não voltou para casa sozinha.

Poderia tê-la seguido todo o dia de ontem? Teria visto Alesio e


Vito também a seguindo e ficou com medo de fazer um movimento?

O sangue de Vincente ficou frio e enviou uma mensagem com


uma pergunta para Lorenzo, precisava ter certeza. Teve sua resposta
em questão de minutos. O assassinato foi cometido bem do outro lado
da rua, onde os dois engravatados que notou anteriormente reuniam
provas.

Porra.

Seu plano de repente foi para o inferno, já que não havia


nenhuma maneira do caralho de deixar Nika fora de vista enquanto
aquele bastardo estava tão perto. Não podia ficar longe dela agora. Não
podia confiar seus cuidados a um dos outros homens. Não até que
visse a vida sair do corpo de Kevin Nollan com seus próprios olhos.

Concentrou-se e observou a teimosa inclinação do queixo de


Nika, uma beligerante e condescendente expressão que agora estava
em seu rosto, uma que nunca viu antes.

— Você iria sair daqui sem me deixar ver isto? — Perguntou de


repente, aumentando o volume de sua voz com cada palavra,
agarrando o bilhete desprezível em seu punho e agitando-o em seu
rosto muito pálido.

— Estou bem na sua frente. Não tem necessidade de gritar.


Devolva, por favor.

O frio, tão frio tom, o deixou à beira de um colapso total.


Lentamente abaixou o braço, e sentiu uma pontada de pânico quando
ela o observou como se fosse uma camada de tinta seca na parede.

Era como se não o visse mais.

— Onde você estava indo?


Ela encolheu os ombros como se não tivesse nenhuma
preocupação no mundo.

— Por que eu lhe diria? — Perguntou em um tom calmo que o fez


querer colocar algum sentido em sua cabeça.

— Ele estava perto, Ruiva. — Não entendia o que isso significava


para ela? — Eu sei que você está irritada agora, mas ele estando por
perto, honestamente não pode pensar que vou deixar que saia daqui.

Ela se virou e cruzou os braços.

— Não, claro que não. O que faz sentido, já que o privilégio de


decidir o “sim” ou “não”, está reservado para todos menos para mim.

Vincente ignorou isso e se aproximou para bloquear mais uma


vez sua única saída. Odiava fazer isso, mas não tinha outra opção.
Nika não ficaria em perigo por causa do que aconteceu entre eles. Iria
segurá-la se tivesse que fazer.

Ele a deixaria odiá-lo como odiava Nollan, mas porra, continuaria


viva!

Talvez devesse contar sobre as prostitutas, assustá-la para que


quisesse ficar com ele.

Não. Não queria que ela se sentisse responsável por aquelas


mulheres.

Sabia o que era ter a morte em sua consciência e não causaria


isso quando estava tão perto de desintegrar-se com tudo com o que já
lidava.
— Tratamento de silêncio? — Ela balançou a cabeça como se
estivesse desgostosa. — Bom. Mas se tiver que ficar com você, quero
uma arma.

Vincente se inclinou para trás, surpreso por sua exigência


extravagante para sua rendição.

— O quê? — Exclamou incrédulo.

— Não confio em você. Quero estar armada.

Ele ignorou a pontada inesperada por ouvir que não confiava nele
e apertou os olhos pela maneira fácil como concordou.

— Simples assim?

— Não, não simples assim. — Ela disse. — No caso de que tenha


perdido a informação Vincente, ele me espancou o suficiente para
saber quando prestar atenção, assim em vez de voluntariamente me
submeter a você, desisti.

Ele ficou completamente imóvel, surpreso por sua opinião sobre


ele. Pelo que pensava que era. Nunca em sua vida tocou uma mulher
com raiva. Nunca. E nunca o faria. E pensava que poderia fazer isso
com ela?

A bile queimou sua garganta, seguido de uma indignação que


nunca conheceu.

— Eu nunca...
— Sim, sim, blá, blá blá, eu já ouvi tudo isso antes. — Ela agitou
a mão, ignorou enquanto se virava com um movimento do seu cabelo
para a sala principal. — Guarde para alguém que acredite. — Disse
por cima do ombro. — Melhor ainda, guarde para alguém tão
desesperada que realmente acredite na merda que caras como você
dizem.

Ele não podia se mover. Quem era esta mulher de temperamento


forte, porra? Foi até ela, virou seu rosto para ele com um toque suave
em seu pulso fino. Era tão frágil. Como podia acreditar que algum dia
eu a machucaria?

— Vamos deixar uma coisa clara neste momento. Você pode me


insultar, dar um soco no meu queixo ou chutar minhas bolas. —
Aproximou-se mais, assim sabia que tinha toda sua atenção. — Mas
nunca, sob nenhuma circunstância, eu levantaria a mão para você.

Ela puxou seu pulso e caiu no sofá.

— Usar os punhos não é a única maneira de ferir alguém


Vincente. Diga à uma mulher que ela é feia ou que seu nariz é muito
grande e ela nunca esquecerá. Isso dói. Dizer a um homem que é fraco
em vez de forte, é machucá-lo. Dizer a alguém que não é inteligente ou
bom o suficiente, que tudo o que faz está errado, o faz sangrar
enquanto você se afasta. Na maioria das vezes o corpo se cura de um
ataque físico. De um verbal? Nem tanto. — Tocou a têmpora e o
fulminou. — Nossos estúpidos cérebros não têm que acreditar no que
a outra pessoa diz, mas isso não impede que absorva as palavras
prejudiciais. — Ficou de pé e foi olhar pela janela, com as costas
tensas enquanto cruzava os braços, um gesto de defesa em vez de
agressivo. — E a mente não sabe o momento certo para bater de volta
com a lembrança quando pensa que está em terreno sólido. Eu quero
a arma com a qual quase atirei em você na outra noite. Vou colocá-la
novamente onde Gabriel me disse que podia encontrá-la.

Falava como se lhe desse uma lição, mas vinha do coração.


Maldito Nollan. O dano físico que lhe infligiu era visível para cada um
deles. Curavam agora, mas visível. Que dano não podiam ver?

— Nika...

Ela levantou uma mão sem se virar.

— Guarde isso para você. Realmente, não me interessa ouvir. —


E não importava. A falta de interesse era evidente em sua voz.

— Espere aqui. — Disse, sem tentar fazer com que fosse uma
ordem. — Vou buscar a arma e então iremos para casa ver Eva. — Ela
se sentiria melhor quando estivessem lá.

Ele foi para o quarto, com o bilhete de Nollan apertado no


punho.Marcou o número do Maks em seu celular enquanto abria o
cofre para tirar a pequena SIG e colocá-la de volta como Nika disse.
Teria dado uma arma mesmo que não a tivesse pedido. Se por alguma
razão Nollan conseguisse colocar uma bala na cabeça de Vincente,
tinha que dar a Nika a chance de atirar no filho de puta antes que
pudesse causar mais dano do que já fez.

Nollan tinha que morrer para que Nika pudesse ser livre. Era
simples assim.
Nika ouviu os passos de Vincente e balançou a cabeça pela
ingenuidade do homem, sem sentir nada por claramente tê-lo
incomodado com a hipótese de que a agrediria se lhe desse a chance.

Que homem não o faria? Pensou amargamente.

Depois de silenciosamente se levantar do sofá, aproximou-se da


porta na ponta dos pés e fez uma careta quando a fechadura soou
quando a virou. Sem esperar para ver se ouviu, pegou sua bolsa e
correu pelo corredor. Quase esperava que ele fosse atrás dela.
Pressionou o dedo no botão do elevador uma e outra vez e
praticamente mergulhou nele quando ele se abriu.

Não dava a mínima para Kevin.

Não dava a mínima para Vincente.

Não dava a mínima para absolutamente nada.

Apenas queria sair dali.

Surpresa por ainda se encontrar sozinha quando chegou ao nível


da rua, não hesitou em esticar seu braço para chamar um táxi que
passava. Entrou, deu ao motorista o endereço de Eva e depois
inclinou-se para trás no banco pegajoso, com o coração firme e frio
como gelo. Claro, seguiria o plano e iria para a casa de Vincente, mas
iria fazer isso em seus termos, não nos dele.
Eva e Gabriel eram os únicos que realmente entendiam sua
desesperada necessidade de independência, os únicos que realmente
respeitaram seus desejos e talvez pudessem manter Kevin e Vincente o
mais longe possível dela.

Vincente apertou o acelerador. Ainda não podia acreditar que ela


realmente o enganou. Que estúpido foi em não perceber que era isso o
que pretendia fazer. Bem, poderia ter pago pela porra do táxi que o
porteiro lhe disse que ela pegou.

Ultrapassou uma Ferrari de bom aspecto que mais parecia estar


parada, pela lentidão que andava.

Apertou a discagem rápida para o telefone de Eva.

— Alô?

— Ei. Nika ligou para você?

— Neste instante. O que aconteceu? Ela está bem? Soava


estranha.

— Ela lhe disse para onde estava indo?

— Vem para cá.


Obrigado, merda.

— Estou à caminho.

Depois ligou para Caleb, e disse que fosse até sua casa. Contou
sobre o bilhete de Nollan e as últimas atividades. Tinha certeza que
ouviu uma moto ligar no fundo antes mesmo que desligasse.

Maks estava em casa e em estado de alerta, provavelmente já


tinha atualizado Gabriel e aos outros. Assim que Nika cruzasse a porta
da frente, não sairia novamente até que Nollan estivesse no chão.
Ponto.

O fato de que estivesse protegida da mesma maneira que na sede


do clube, era apenas um pensamento. Estaria, mas não por ele e essa
era a única maneira que poderia se concentrar para dar um fim a isto.
Colocaria Nika atrás das paredes do sistema de segurança de nível
Fort Knox de Maks.

Ela odeia você agora, - acusou o Admirador, o martelo em suas


mãos sentenciou mais uma vez e fez a cabeça de Vincente vibrar.

Não era desta maneira que queria que as coisas entre eles
acontecessem. Deveria ter mantido distância. Seus dentes se
apertaram ao ser parado por outro sinal vermelho. Podia odiá-lo tanto
quanto quisesse, mas isso não mudaria nada. Agora não. Não quando
seu ex se aproximou o suficiente para tocá-la. O aviso o fez cantar os
pneus quando pisou no acelerador com muita força quando a luz
verde brilhou.
Não importava que meios tivesse que usar, faria as coisas bem
seguras para essa mulher, mesmo se fosse a última coisa que fizesse.

A ansiedade o encheu enquanto pisava no acelerador pelas ruas e


ainda a sentia quando, trinta e oito minutos mais tarde, apoiava seu
ombro contra o batente da porta aberta de sua garagem. Seu estômago
estava incomodando demais, não era mais nada do que um nó de
nervos vendo Eva trilhar o mesmo círculo em que esteve durante os
últimos quinze minutos.

— Gabriel vai gritar se fizer disso um hábito nervoso. —


Comentou ele distraidamente. Tentava acalmá-la uma vez que não
conseguia acalmar a si próprio.

Ela parou de morder as unhas e o olhou.

— Nika ligou faz muito tempo, Vincente. Onde ela poderia estar?
— Sentou-se na beirada de um grande vaso de cimento cheio de flores
de verão. — Deus, me sinto doente. — Acrescentou, parecendo
realmente mal.

— Ela estará aqui a qualquer momento. — Assegurou. Porra,


queria se mover, mas não o faria. Não queria que Eva e Caleb, que
chegaram há alguns minutos, vissem seus nervos. Onde estava o táxi,
porra?

E se mudou de ideia vindo para cá e decidiu ir para outro lugar?


Esticou-se, estava de pé ali como um tolo enquanto ela ia... para
onde? Até Vex, talvez?
Merda. Se o motoqueiro a tocasse, teria que matá-lo, não
importava que tipo de guerra isso provocasse entre seu povo. Vincente
não se importava, não seria a primeira vez que duas facções do crime
organizado se enfrentavam e certamente não seria a última.

Você não tem o direito, idiota, - o Admirador o lembrou. Perdeu


isso quando a esmagou sob seu calcanhar duas horas atrás.

— Sério. Que porra o taxista está fazendo? Dando voltas no


quarteirão em algum lugar para fazer o taxímetro girar? — Caleb
passou uma mão por seu cabelo curto rapidamente. Estava sentado
no para-choque dianteiro do Range Rover de Alek.

— Onde está Vex? — Vincente não pôde evitar, tinha que


perguntar.

— Não sei. — Caleb puxou seu telefone e enviou uma mensagem


rápida. — Está com Lucian Fane em algum lugar. — Disse quando
recebeu uma resposta. — Você precisa dele para alguma coisa?

— Não. — O motoqueiro poderia viver mais um dia, pensou com


alívio.

Gabriel saiu da garagem e passou a mão sobre o cabelo de Eva


em uma suave carícia, antes de ir para a Range Rover e pegar o bilhete
de Nollan que Vincente atirou no interior há poucos minutos. Leu pelo
que deveria ser a décima vez.

— Diga-me, como esse idiota continua escapando?

Vincente ficou tenso antes de responder.


— Não temos conexões aqui. Se estivéssemos em Seattle,
saberíamos a quem recorrer. Em Nova Iorque, não sabemos com
quem, nem por onde anda.

— Você perguntou para Nika sobre os amigos que ele pode ter na
cidade?

Não, não perguntou. Virou-se para Caleb.

— Você perguntou?

— Porra. Não. Estava tão preocupado com ela, tentei não falar
muito desse bastardo, não pensei em perguntar. — Admitiu o
motoqueiro como um homem. Um com vergonha, mas ainda assim um
homem.

Vincente apertou os dentes e bateu-lhe no ombro.

— Junte-se ao grupo idiota, não passou por minha mente


perguntar também. — Merda. Estava muito distraído. Mas colocou-os
a par da mensagem de Lore e fez uma nota mental para pegar a
gravação das câmeras de segurança próximas ao redor do prédio.
Queria saber quão perto Nollan esteve.

A porta da casa se abriu para revelar Maks, que protegia os olhos


do sol de agosto dizendo: — Um táxi acaba de deixar uma mulher
sozinha no final da rua, e na velocidade em que caminha, chegará em
cerca de vinte minutos. Parece como se precisasse de uma amiga.

Eva ficou de pé e agarrou a mão de Gabriel antes que Maks


terminasse, e puxou seu marido para a caminhonete.
— Nós iremos.

— Vou com vocês. — Caleb ficou de pé, mas não teve a chance de
dar um passo antes que Eva estivesse no banco do passageiro e
fechasse a porta.

— Voltaremos logo, Paynne. — Assegurou Gabriel enquanto subia


e saia da calçada.

Vincente nunca ficou com tanto ciúme da hierarquia como agora.


Nika andava lentamente pela rua que conduzia à casa de Eva. O
desprendimento que se instalou sobre ela no apartamento diminuiu
pouco a pouco durante a viagem e agora quase desapareceu. Seu lábio
tremia e o mordeu em um esforço para sufocar a emoção que tentava
subir em seu peito.

Nunca esteve tão exausta em toda sua vida. Quem teria pensado
que simplesmente sobreviver seria tão desafiador e por tão pouco
ganho? A ponta de sua sandália ficou presa em um pedaço de asfalto
levantado e tropeçou. Provavelmente pareceu como se tentasse dançar.

Olhou novamente para onde desceu do táxi e depois explorou a


área. Realmente era maravilhoso ali. Pacífico. Tranquilo, com somente
o som do vento nas árvores ao longo da estrada e os diferentes cantos
das aves. Com um suspiro irregular, desviou-se para o lado e sentou
na grama.

Tinha algo de errado com ela e não conseguia saber o que era?

Arrancou um pouco de grama e a levou ao nariz. Inalar o aroma


fresco da natureza a levou de volta a Seattle. Era uma menina outra
vez, sentada na mesa de piquenique no pátio de sua casa, brincando
com suas bonecas Barbie, enquanto seu pai cortava a grama. Toda
sua vida estava na frente dela, mas nunca em seus sonhos ou seus
piores pesadelos, teria previsto onde estaria hoje.
Levantou os olhos para o som de um carro que se aproximava.
Não entrou em pânico já que vinha da casa e não da estrada principal.
O Escalade preto parou no lado oposto de onde ela estava sentada e a
porta do passageiro se abriu. Eva saltou e Nika conseguiu dar um
pequeno sorriso enquanto sua melhor amiga se aproximava e caia ao
seu lado. Sentaram-se em silêncio por um tempo. Nika não tinha
certeza do que dizer. Talvez: estou sobrecarregada, confusa e não sei
como controlar isto?

Não queria admitir. Tentou tanto negar. Não queria estar


destruída.

Mas estava.

— Não estou muito bem. — Confessou baixinho.

Eva uniu seus braços e se aconchegou até que estavam quadril a


quadril, o anel de diamante brilhando na luz do sol que passava
através das árvores.

— Muitas pessoas em sua posição não estariam.

A empatia em seu tom era apenas o suficiente para fazer com que
Nika se sentisse compreendida, mas não com pena.

— Você acha que poderia ser útil falar com alguém à respeito
disso? Sei que me ajudou depois do tempo que passei naquela cabana
com Stefano e Furio. Não me refiro a um psiquiatra. — Disse
rapidamente. — A menos que isso seja o que você queira. Mas falei
com um amigo de Gabriel, Michael. É o padre que nos casou. Muito
agradável. Não age de maneira moralista.
— Como falar com ele a ajudou? — Nika não acreditava que falar
disso fizesse algo mais do que trazer todos os maus sentimentos que
experimentou durante o ano passado à tona novamente. Por que
passar por isso?

— O melhor, acho, é que ele ouve. Ele não tenta me convencer de


não sentir o que sinto. — Abaixou a voz como se fosse viajar através
da estrada. — Conversei com Gabriel, mas ele simplesmente fica
furioso e quero que ele e Stefano consertem as coisas, sem entrar em
uma briga no momento em que se encontrarem novamente. —
Encolheu os ombros. — Sei que nossas situações são diferentes. Quer
dizer, me levaram apenas por uma noite, enquanto você... — Fez uma
pausa e engoliu em tom audível antes de dizer. — Acho que posso
entender a raiva de Gabriel, porque se alguma vez a oportunidade se
apresentasse, mataria Kevin sem um segundo pensamento.

— Entre na fila, irmã. — Murmurou Nika. Ela deixou sua cabeça


cair no ombro de Eva. — Sei que não diz muito, mas sinto muito que
tudo isto aconteça durante o que deveria ser um dos melhores
momentos da sua vida. Primeiro a noite de núpcias e agora, semanas
mais tarde, continua acontecendo. Você e Gabriel não tiveram nem
mesmo uma lua de mel apropriada. Por favor, me diga que não é por
causa da minha situação.

Eva a empurrou com o cotovelo.

— Não é, mas e se fosse? Você não faria o mesmo por mim?

Sem dúvida. — Assentiu.


— É claro que sim. — Disse Eva. Endireitou suas pernas
bronzeadas, que pareciam intermináveis no short que usava e mexeu
os dedos dos pés nas sandálias. Nika fez o mesmo e pensou em trocar
seu esmalte.

— Antes de chegarem. — Disse Nika. — Eu cheirei a grama e


lembrei de quando era pequena. Você brincou de Barbie?

— De Barbie?

Nika levantou a cabeça.

— Sim. Minha favorita era a família com o Volvo. Lembra-se?

Eva pareceu envergonhada.

— Eu não era fã da Barbie.

— Não, você não era. Era mais vassoura, pá e aspirador. —


Brincou.

— Tive o jogo inteiro. — Admitiu Eva. — Era cor de rosa e


turquesa.

Riram suavemente, mas o humor não durou.

— Então o que foi que aconteceu hoje que a incomodou? —


Perguntou Eva. — Ou você se sente assim o tempo todo? Quando eu
liguei esta manhã, além da ressaca, as coisas pareciam bem.
Especialmente quando você disse que estava na cama com Vincente...?

Nika suspirou e não sentiu nenhuma vergonha em falar de algo


tão pessoal com sua melhor amiga.
— Eu descobri que não estou em tão mau estado, por causa de
Kevin, como eu pensava. No sexo, quero dizer. — Esclareceu. —
Vincente e eu brincamos um pouco e bom, foi maravilhoso. Até que
terminou, porque não fui suficiente para ele.

Eva pareceu congelar, inclusive parou de respirar durante alguns


segundos. Seus dedos apertaram no joelho de Nika.

— Ele lhe disse isso?

— Não exatamente com essas palavras, mas essa foi a essência.

— Comecei a gostar de Vincente, mas foi uma atitude idiota. Se


você não é suficiente para ele, então por que estava ali? Acho que
talvez tenha mentido. Vê a maneira como ele a olha? — Assentiu. —
Eu tenho certeza que ele mentiu hoje. Mas por quê?

Nika bufou, lembrou da expressão em seu rosto pela manhã.


Costuma fazer muito bem

— Eu tenho certeza que ele não mentiu, Eva.

— Ele mentiu.

Ela mudou de assunto.

— Deveríamos ir. Quem está ao volante? — Apertou os olhos em


uma tentativa de ver através da película das janelas do Escalade, mas
não pôde.
— Gabriel. E não há pressa. — Ofereceu Eva. — Se quisermos
ficar sentadas aqui a tarde toda, podemos fazer isso. Posso lhe dizer
para voltar mais tarde.

— Amo você.

Eva a abraçou.

— Amo você também. — Sussurrou com voz trêmula.

Nika a olhou de perto quando se separaram.

— Está muito sensível, ultimamente. Não tanto quanto eu, mas


ainda assim.

— Estou preocupada com você.

Nika tentou sorrir enquanto Eva ficava de pé e puxava sua mão


para levantá-la. Foram para o Escalade e ambas entraram na parte de
trás.

— Olá, Gabriel. — Saudou seu motorista que esperava


pacientemente.

— Olá, querida. Você está bem?

Ela assentiu e olhou pela janela enquanto faziam uma meia volta
e se dirigiam para casa.

— Vincente e Caleb esperam por nós. — Disse.

— Imaginei que estivessem.


E estavam, ambos com os rostos idênticos enquanto observavam
os três descerem do carro alguns minutos mais tarde. Nika abraçou
seu irmão, tentou tirar forças dele. Olhou para Vincente quando se
separou dele e foi ao seu encontro.

— Desculpe por fugir de você e por algo que eu possa ter dito que
o irritou. Estava chateada, mas isso não é desculpa. — Sugeriu que ele
era capaz de fazer o mesmo que Kevin. Os dois homens não podiam
ser mais diferentes. Ela aproximou-se e lhe ofereceu o mesmo tipo de
abraço que teria dado a Vex. Apesar de saber que sentia mais, o
ignorou com bastante facilidade em seu drenado estado mental e
emocional. — Sinto muito, Vincente. — Sussurrou enquanto o
esgotamento a inundava. — Fui cruel e dura sem necessidade. Não
sou assim.

Seu toque era quase terno enquanto devolvia o abraço.

— Ruiva...

Ela se inclinou para trás com um movimento de cabeça, sem


esperar uma resposta. Não queria uma.

— Então, todo mundo sabe à respeito do bilhete? — Perguntou


enquanto Eva e Gabriel lideravam o caminho para a casa.

Terminaram ao redor da mesa na cozinha, enquanto Samnang


servia fumegantes xícaras de café diante deles.

— Kevin tem amigos em Nova Iorque, Nik? — Caleb perguntou


suavemente. — Nenhum de nós pensou em perguntar isso ou
assumimos que alguém mais o faria.
Ela negou.

— Eu não sei. Ele tem um primo, mas nunca mencionou seu


nome. — Vincente puxou seu telefone do bolso quando vibrou.
Amaldiçoou quando leu a mensagem.

— Finalmente.

— O quê? — Disseram Gabriel e Caleb em uníssono.

— Alesio e Vito conseguiram algo com a foto de Nollan.

Um pouco de medo a encheu enquanto Nika olhava a enorme


cozinha de granito e aço inoxidável. Seu olhar pousou no mordomo no
balcão que cortava verduras. Raspava uma tábua completamente
cheia de pedaços de aipo em uma panela grande. Fazia sopa? Ela
adorava cozinhar.

Quando se virou e olhou pela janela para a piscina na parte de


trás, ouviu Vincente dizer, mesmo que distante, que o dono de uma
loja reconheceu a foto de Kevin. Seu peito se apertou enquanto olhava
a superfície da água quase imóvel. Não teria problemas em estar lá
embaixo. Apenas na paz e na tranquilidade.

Paz.

Tranquilidade.

— Amo você. Por favor, tome cuidado.

A voz de Eva e o som de um beijo forçaram a atenção de Nika a


voltar para o que acontecia ao seu redor.
Resistiu ao que via.

Foi a única que ficou sentada à mesa. Caleb, Gabriel e Vincente


se foram. Cliques rápidos e curtos a fizeram olhar para Eva ao seu
lado, com suas unhas batendo a mil por hora.

Algo que sempre faz quando estava muito nervosa ou assustada.

— Espere. Como... para onde eles vão? — Exigiu Nika.

Foi Vincente quem respondeu.

— Veremos se podemos terminar isto para você, Ruiva. — Olhou-


a com preocupação. Todos o fizeram. Não deveria ser ao contrário?
Eram eles que enfrentariam Deus sabe o quê.

— Por favor, tomem cuidado. — Disse, sua visão manchando


estranhamente. — Não quero que ninguém se machuque. — Ou pior.

Sem aviso, um dilúvio de pânico caiu sobre ela. Agarrou seu


pescoço e empurrou sua cadeira com a parte de trás de seus joelhos.
Depois de tropeçar em seus pés, afastou-se de todo mundo com
expressões surpresas e fechou os olhos enquanto tentava respirar
através dos horrores que gritavam em sua mente. Seus pulmões
paralisaram, queimaram, enquanto tentava enchê-los de ar.

E se acontecesse alguma coisa com Gabriel por minha culpa?


Quando Eva precisava dele? E se Kevin fizesse algo com meu irmão?

— E-esqueçam. — Disse com a voz rouca pelo ataque de pânico.


— N-não importa. Vou lidar com isto sozinha. Em outro lugar. — Sua
voz tremia tanto que mal compreendia suas próprias palavras. —
Voltarei para Seattle. Ele não pode ferir ninguém lá. Devem esquecer
isso e me deixar ir...

Braços fortes a envolveram e uma grande mão segurou sua nuca


para pressionar seu rosto delicadamente em um peito coberto de couro
macio.

— Shh, shh, shh. Está tudo bem, baby. — Murmurou Vincente.

Mas não estava tudo bem. Nunca estaria bem, percebeu que o
nível de asfixia em seu peito subia até que não era mais do que uma
caixa bruta, cheia de terror.

E se Kevin fizesse algo com Vincente?

O que faria se nem sequer tivesse o consolo de saber que estaria


em algum lugar do mundo, mesmo se não estivesse com ela? Tentou
respirar enquanto sua visão desvanecia e seus membros
enfraqueciam.

— Ele virá, Vincente. — Ofegou. — Ele não vai parar. Ele virá...
atrás... de mim. — Suas palavras finais foram sem som enquanto a
escuridão a levava.
Vincente amaldiçoou quando pegou Nika em seus braços e saiu
da cozinha. Ignorou um Quan com a testa franzida, que entrava pela
porta da frente. Foi para a escada, de dois em dois e voou pelo
corredor para seu quarto. O medo e a certeza que esteve na voz de
Nika eram tudo o que podia ouvir. Ela esperava a morte. Nas mãos do
seu agressor. Não importava que pareceu lidar com as coisas, até hoje,
pelo menos, temia por sua vida. Pensava que a chegada de Nollan era
uma conclusão indiscutível de sua história.

Ela estava errada. Não havia como este cara estar a poucos
metros dessa casa sem que ele descobrisse isso. Não era possível.

Depois de caminhar para sua cama, retirou o cobertor e


suavemente colocou Nika no lugar em que ele dormia todas as noites.
Seu cabelo vermelho era um brilhante contraste com o branco de seu
lençol. Seu peito ficou apertado com impotência pelo que acontecia ao
lidar com isso apesar de tudo. Queria acabar logo com tudo e colocar
uma bala na cabeça daquele homem.

Colocou o cobertor sobre ela enquanto Eva corria para dentro.


Caleb estava de pé junto à porta, com a cabeça inclinada, o rosto
endurecido.

— Deveria tê-la levado para o nosso quarto, Vincente. — Eva se


aproximou do outro lado da cama e se arrastou para se sentar sobre
seus joelhos. Ele não se incomodou em responder. Limpou as lágrimas
de suas bochechas enquanto passava a outra mão carinhosamente
sobre a parte superior da cabeça de sua amiga. — Não pode aguentar
muito mais.
A raiva e o alarme silencioso em sua voz eram evidente à medida
que declarava o óbvio.

— Homens de merda. — Amaldiçoou ela baixinho.

Ele se surpreendeu, não esperava isso de Eva, especialmente no


plural. Levantou-se e perguntou. — Você sabe onde Tegan está? Ela
está trabalhando?

— Está a caminho. — Disse enquanto se inclinava para frente. —


Nika? Vamos, querida. — Sussurrou. — Acorde. Por favor. — Virou-a
sobre seu quadril e em seguida se sentou com as pernas cruzadas,
com a mão de Nika firme entre as suas. — Alguma vez a viu tão fraca
antes, Caleb?

— Não. — O motoqueiro nem sequer olhou para cima, em vez


disso manteve seu olhar na irmã. — Nunca a vi assim. Nem mesmo
quando o pai morreu, mas então, era como se esperasse que isso
acontecesse. Superou sem parecer assimilar o que significava.
Lembra-se? Se desfez dois anos após os fatos. Estávamos vendo um
filme em que os pais do garoto morriam e se perdeu. Disse que sabia
que seu pai se foi mesmo antes que soubesse que tinha câncer. Assim
como mamãe. — Ofereceu Caleb com força. Seu telefone tocou e saiu
para atendê-lo.

Primeiro, sua mãe a deixou, pensou Vincente, algo devastador


para uma criança. Então seu pai. Depois Eva, quando saiu de Seattle
para vir para Columbia. E finalmente, Caleb, quando se mudou para
Nova Iorque, justamente no ano passado, quando mais precisou dele.
Todos foram embora.
Amaldiçoou e foi para a mini geladeira no canto do quarto, e
voltou com uma garrafa de água. Não gostava de como se sentia ao ter
os acusadores olhos de Eva nele. Não que os encontrasse. A ignorou e
sentou-se, seu quadril tocando Nika enquanto abria a tampa e
colocava a garrafa na mesinha de cabeceira para quando ela
acordasse.

Estendeu a mão e afastou uma mecha de cabelo do rosto de Nika.

— Descanse bem, baby. — Murmurou sem pensar. — Vou tentar


cuidar disso para você esta noite. Colocar um fim de uma vez por
todas. — Acariciou sua bochecha, que tinha somente a sombra de
uma contusão. — Isto vai terminar e seguirá adiante. — Desejou poder
seguir adiante com Nika. — Confie em mim, certo?

— Por que você está sendo gentil com ela agora?

Vincente franziu a testa e olhou para Eva. Então ele entendeu.


Nika contou-lhe o que aconteceu essa manhã. Merda.

— Sempre tento ser gentil com ela.

Mais emoção, se isso fosse possível, encontrou os olhos azuis


idênticos aos de Vasily. Os de Eva continuavam a brilhar com
umidade.

— Sério? Pelo que ouvi, não foi muito agradável hoje mais cedo.
Por que a tratou dessa maneira, Vincente? — Perguntou com frieza, e
lançou o olhar para a porta. — Depois do que ela passou, acho que o
que você fez foi cruel.
Estava com raiva. No entanto, mantinha isto entre os três. Era
grato por isso.

— Não foi minha intenção incentivá-la. — Disse. Podia ouvir o


ressentimento em seu tom, mas não pôde contê-lo. Simplesmente não
falaria de coisas como estas. Com ninguém e muito menos com a
esposa do seu melhor amigo. — O que aconteceu entre nós foi... —
Incrível. Lindo. Assustador. — Bem, não deveria ter acontecido. Foi...

— Por quê?

— Como?

Eva olhou para a porta novamente e depois novamente para ele.

— Por que não deveria ter acontecido?

Sua resposta foi honesta.

— Porque ela merece algo melhor do que qualquer coisa que eu


possa lhe dar.

A agressão saiu de Eva como se uma represa tivesse rompido e


sua testa franzida mostrou um: ooooh em sua cabeça.

— Oh Vincente. Eu não acredito nisso. Na verdade, eu o acho


maravilhoso. — Sorriu. — Sinto muito. Eu sei que você não gosta de
ouvir esse tipo de coisa, mas é verdade. E Nika gosta de você.

Ele apertou os dentes e desejou estar em qualquer lugar menos


ali.
— Não, não gosta. Ela apenas está grata por ajudá-la a enfrentar
Nollan. Ou tentar fazer isso.

— Oh, então ela vai sair com Alek agora? E depois com Quan e
Gabriel? Ah e não vamos esquecer de Maksim. Poderia até mesmo ter
sexo com ele, assim ele entenderia sua gratidão, por ter tirado um
tempo de sua agenda de apertar algumas das teclas de um
computador.

— Você quer me irritar, baixinha? — Sussurrou, furioso com as


imagens que colocou em sua cabeça.

— Não. — Respondeu Eva paciente. — Quero mostrar quão tolo


está sendo. Ela não fez o que quer que seja que fizeram esta manhã
porque estava grata. Ela fez porque se sente atraída por você. E para
alguém que atravessou o que ela passou, você deveria estar
extremamente lisonjeado por fazê-la sentir algo.

Vincente teve que lutar para não deixar isso passar por seu peito.
Nika sentia-se atraída por ele. Tinha o desejado esta manhã.
Respondeu a ele...

Descartou os pensamentos de sua cabeça.

— Ainda merece algo melhor.

— Então, você não gosta dela? — Pressionou Eva.

Ele se atrapalhou. Inclinou-se com uma sacudida, o corpo de


Nika estendido entre eles e olhou diretamente nos olhos da filha de
Vasily.
— O que eu sinto por esta mulher é meu assunto pessoal e
continuará sendo assim, não importa o que você me perguntar. Está
claro?

Um lento e belo sorriso iluminou o rosto de Eva.

— Sim, Vincente. Deixou o que sente por minha amiga muito


claro.

Merda. Era tão filha do seu pai.

Gabriel finalmente apareceu, muito tarde na perspectiva de


Vincente, com Tegan logo atrás dele. O chefe se aproximou da cama
para se sentar atrás de sua esposa, envolvendo um braço
reconfortante em volta dela e puxando suas costas contra ele.

— Dê um pouco de espaço, Vin. — Ordenou Tegan e o espantou


com suas mãos.

Ele levantou-se, mas não se afastou. Olhou como se fizesse um


reconhecimento básico. Ela tirou um estetoscópio do bolso de seu
moletom com capuz da Universidade de Nova Iorque e o colocou em
seus ouvidos.

— Você leva isso aonde quer que vá? — Murmurou ele.

— É claro. Consigo boas fodas com ele. — Respondeu Tegan


maliciosamente. — Agora silêncio. — Colocou no peito de Nika e ouviu
durante tensos vinte segundos. Puxou os plugues de suas orelhas,
inclinou para trás com um suspiro. — O estresse é uma merda. Esta
pobre pequena coisa. Não saberei o que aconteceu até que veja suas
radiografias. — Negou com raiva, e sua mão descansou nas costelas de
Nika sob o cobertor.

Vincente girou sobre seus calcanhares e foi para a porta sem


dizer uma palavra. Caleb o seguiu para o corredor. Se Gabriel
estivesse lá embaixo no momento em que chegassem em sua
caminhonete, poderia ir com eles, se não, iriam mesmo assim.

Tinha que matar alguém.

Um formigamento no braço trouxe Nika de volta. Ao abrir os


olhos, piscou algumas vezes até que conseguiu se concentrar no
cabelo preto de Eva que caía como uma cortina brilhante e escondia
seu rosto.

— Eva? — Disse com voz rouca.

A cabeça de sua melhor amiga se levantou e ela sorriu.

— Bom. — O sorriso desapareceu enquanto gritava — Tegan! —


Antes de olhar para ela, o sorriso reapareceu. Um falso, agradável e
brilhante.
Nika sentou-se, mas foi contida pela mão de Eva em seu ombro.

— Apenas espere.

— Por quê? Eu estou bem. — Mentiu enquanto a médica loira


saía de uma porta à direita. — O que aconteceu?

— Bom dia. — Disse Tegan com voz melodiosa. Deu-lhe um


sorriso de comercial de pasta de dente e praticamente se sentou no
colo de Nika na enorme cama, que neste momento percebeu que
ocupava.

— Bom...? — Observou Eva ficar de pé a olhando nervosa, o que


a deixou nervosa também. Como podia ser de manhã, quando nem
sequer lembrava de ter ido para a cama?

— Você lembra de Tegan? — Disse Eva. — E só esteve desmaiada


por uns cinco minutos.

Desmaiada?

— Oh. Uh, sim. Olá, Tegan. — Nika olhou a familiar loira e tentou
sorrir. Conseguiu, apenas porque se lembrou de Vincente dizendo que
Tegan não era sua namorada. — Sinto muito...

— Você desmaiou. Precisamos saber, querida — Interrompeu a


médica. — Dói alguma coisa? A luz brilhante. — Acrescentou
enquanto um feixe cravou nos olhos de Nika, primeiro em um e depois
no outro.

— Não. Nada. — Exceto tudo.


— Hmm. — A médica colocou dois dedos sobre o pulso de Nika e
os manteve a tempo com o relógio. — Qual a última coisa que você
lembra?

Nika caminhou pelo pântano que era sua mente e tentou pensar
em tudo exceto no pulsar em suas têmporas. Pegou um táxi... ela e
Eva conversaram... todos terminaram na cozinha...

Sentou-se tão rápido que Tegan chiou pela surpresa. — Onde


estão, Eva? Saíram?

Eva voltou e se sentou no travesseiro como um macaco ágil, com


os joelhos encolhidos debaixo do queixo.

— Sim, é claro que saíram. Eles ficarão bem! — Nika a acalmou


com a voz tranquila, enquanto lhe acariciava o cabelo.

Mas e se não ficassem bem? E se Kevin estava esperando nas


sombras ou algo assim? E se tivesse uma arma? Nika colocou sua
cabeça entre as mãos. Odiava o quão impotente se sentia.

— Eva. Se algo acontecer a eles...

— Nada acontecerá. Está bem? Agora por favor, cale-se e relaxe.


Está me assustando. — Levantou da cama e começou a andar, sua
mão esfregava seu estômago como se estivesse doente.

A pequena mentirosa está se cagando na calça, percebeu Nika.


Maravilhoso.

— Vamos. As duas. Vamos descer. Quero algumas azeitonas. —


Eva saiu do quarto.
— Que pequena senhora mandona. — Murmurou Tegan,
estendendo sua mão para Nika. — Não é de estranhar que Gabriel seja
tão cuidadoso com ela. Pode imaginá-la na cama? Toque ali. Aí não.
Aí. Mais forte. Mais rápido. Blá, blá, blá, boom.

Nika não pôde evitar um sorriso enquanto segurava a mão da


médica.

— Acho que eu gosto de suas maneiras na cama.

— Eu sei, certo? — Tegan piscou um olho enquanto a levava para


fora do quarto.

Antes de chegar à porta, Nika olhou para um familiar casaco de


couro colocado no canto do sofá e hesitou.

— De quem é este quarto?

— De Vincente.

Seu pulso saltou e se virou novamente para a cama. Vincente


dormia ali todas as noites, pensou e seu corpo reagiu. Olhou ao redor
no restante do quarto. Lembrava um quarto independente de hotel por
alguma razão. Uma paisagem de inverno em escalas de cinza bastante
deprimente estava pendurada em uma das paredes. Merda—pensou
com a testa franzida— a atmosfera ali era fria. Móveis caros, mas sem
vida. Até que se inclinou para olhar dentro do armário. Agora ali
estava o calor que procurava. Em forma de jeans desgastados nos
cabides, macacões, uma série de camisetas estilo Vincente e botas de
trabalho como as que Caleb usava.
Talvez apenas gostasse mais dali porque refletia o que Vincente
era para ela. A temperatura caiu substancialmente quando se lembrou
de sua humilhante rejeição de manhã. Finalmente se virou e seguiu
Tegan. Por que foi levada para o seu quarto?

Ele a levou ali ou foi outra pessoa?

Chegaram à cozinha justamente quando Eva tirava a tampa de


um frasco grande. Pegou uma colher de sopa com azeitonas verdes em
um recipiente antes de colocá-lo novamente na geladeira de duas
portas. Enquanto colocava duas em sua boca, Tegan falou:

— Estou muito ansiosa. Mais alguém está interessada em alguma


distração?

Nika foi roubar algo forte e picante da tigela apertada contra o


peito de Eva e se voltaram para olhar para a Doc.

— Sim. — Disseram juntas.

Tegan cruzou a sala e tirou um pequeno estojo preto do balcão.


Fez-lhes gestos para que a seguissem enquanto saía.

— Diga outra vez qual é seu problema. — Disse para Eva por
cima de seu ombro enquanto caminhava pelo corredor.

Eva colocou rapidamente quatro azeitonas em sua boca e depois


colocou a tigela no balcão. Olhou para Nika, e franziu os lábios.

— Pelo menos poderia soar como se isso importasse. —


Murmurou.
— Eu ouvi isso. — Disse Tegan enquanto a seguiam. — Agora
comece a falar, Moretti.

O orgulho apareceu no rosto de Eva ao som do seu novo


sobrenome.

— Estou com dores de cabeça há algumas semanas. Apenas vêm


do nada e quando se vão, sinto náuseas e fico um pouco instável.

Nika a olhou enquanto caminhavam.

— Você nunca me disse isso.

Todas entraram no grande banheiro fora do lobby e se reuniram


ao redor enquanto Tegan tirava algumas coisas de sua bolsa.

— Você já comentou isso com Gabriel?

Eva riu.

— Uh, não. Ele é um pouco controlador, no caso de que tenha


esquecido sobre quem falamos. — Disse ironicamente. — Ele nunca
me deixaria sair da cama se pensasse que não me sinto bem.

— Ele te mantém no sofá para assistir um programa que ele


queria ver ultimamente? Fica sentado no terraço, aconchegando você
em seu colo? Deita na cama, todo envolto em você, até ao meio-dia?

As bochechas de Eva queimaram.

— Bem, sim, sim e sim. Como sab...


— Ele sabe. — A confiança no tom de Tegan era indiscutível. Nika
começou a ficar nervosa e deixou de lado seus próprios problemas por
agora. — Gabriel não é uma pessoa sedentária. — Acrescentou Tegan.
— Então isso deve significar algo. — Apontou para Eva como a uma
modelo do The Price Is Right. — Que você é a causa. O quê? Você
pensou que seu homem fosse preguiçoso?

— Não! — A negação foi instantânea, intensa e feroz. Nika teve


que sorrir com a forma que a defesa de seu marido puxava essa
pequena fera que Eva mantinha escondida. — Como você se atreve a
dizer algo assim, Tegan? Gabriel é o mais...

— Olha, apenas estou...

— Não terminei!

Tegan se inclinou pela autoridade que soou na voz de Eva e


fechou a boca imediatamente.

Nika sorriu.

— Gabriel não é preguiçoso. E eu nunca pensei nem por um


minuto que ele fosse. É carinhoso, protetor e amoroso, pensei que ele
quisesse passar mais tempo comigo, como eu quero passar mais
tempo com ele. Não percebi... que ignorava suas responsabilidades?
Descuidou de suas funções no TarMor? Não pode ser, porque trabalha
em coisas o tempo todo. Não resolve as coisas dentro da família que
precisam da sua atenção? Apenas porquê... — Um soluço lhe escapou
e Nika se aproximou para abraçá-la.

Tegan chegou na frente.


— Ei. — Balbuciou a médica, e pegou Eva em seus braços como
se fosse uma mãe durante cinquenta anos.

A ternura de suas ações e o sincero remorso em seu rosto,


fizeram Nika lutar com suas próprias lágrimas estúpidas.

— Eu nunca quis dar a entender que você o segurava ou que


fizesse algo que não queria fazer. Merda. Se ele pudesse jogar a toalha
com cada responsabilidade que tem para poder dedicar todo seu
tempo à você, sabe muito bem que o faria. Ele a ama como nada que já
vi, nunca, Moretti. Não me importo de admitir que às vezes é nojento
de ver. — Empurrou Eva a um braço de distância. — Estou perdoada?

Eva soluçou.

— Sinto muito. — Disse timidamente, com os olhos brilhantes. —


Estou tão estúpida ultimamente.

— Não, não está. Vamos terminar com isto. — Tegan ficou frente
a frente com Eva. — Estamos bem, você e eu? Nunca foi minha
intenção incomodá-la.

Eva riu e aceitou o lenço que Nika lhe entregou.

— Sim, estamos bem. Apenas... não sei. Não o insulte novamente.

— Não tem que se preocupar. — Disse ela e revirou os olhos para


Nika. — Ugh. Tudo o que eu preciso é esse homem irritado comigo por
chatear a abelha rainha. — Tegan colocou a mão em sua pequena
bolsa e tirou um copo de plástico. Depois de quebrar o lacre que
estava gravado sobre a tampa laranja, entregou-o para Eva. — Xixi.
Uns suspeitos olhos safira se estreitaram.

— Para quê?

Perto de tirar a calça de sua amiga ela mesma, Nika pegou o copo
de Tegan e o agitou sob o nariz de Eva.

— Por favor, Eva! Estou prestes a enlouquecer aqui!

— Acho que as duas já enlouqueceram. — Murmurou Eva, mas


desceu seu short, agachou sobre o vaso e fez xixi no copo.

Depois de abrir um pequeno recipiente que continha alguns


palitos, Tegan pegou o líquido e colocou a ponta de um dos palitos
dentro. Então, irritantemente colocou-o atrás de suas costas para
esperar. Nika começou a suar. Que porra era isso? Eva poderia ter
algum problema residual de quando o irmão de Gabriel a sequestrou?
Sangramento ou algo interno? Ou Gabriel ouviu seu aviso sobre o
diabetes e quis verificar a presença de açúcar na urina?

— Tegan? — Eva mordia o lábio inferior enquanto lavava as


mãos. — Está me assustando.

A médica pegou o palito de volta ... gritou e fez Eva e Nika


recuarem.

Após dois segundos, passos sonoros vieram da porta principal.

— Eva? — O pânico do profundo grito de Gabriel era de partir o


coração.
— Aqui. — Gritou sua esposa, o cenho franzido enquanto ia para
a porta. — O que está acontecendo, Doutora Malvada? — Perguntou.

A porta se abriu de repente e Gabriel quase atropelou sua mulher


à medida que invadia o grande banheiro, reduzindo-o a nada com seu
tamanho. Sua cabeça girou como se tivesse esperado encontrá-las
amarradas e sendo assaltadas. Nika não pôde evitar sorrir. Quan
chamou sua atenção um pouco além da porta e piscou para ela,
balançando a cabeça enquanto se afastava.

— Ouvi um grito. — Disse Gabriel, quieto agora que viu que


estavam todas bem. Seus olhos se arregalaram quando viu a maleta de
Tegan sobre o balcão. — O que acontece aqui, porra?

— Acabo de fazer um teste em sua esposa. — Disse Tegan e


engoliu a saliva, o que fez o coração de Nika bater com força. — É uma
pequena coisa que mede a gonadotropina coriônica humana ou HCG,
em... uh, Gabriel?

Nika estava tão absorta enquanto ouvia a médica que não


percebeu que Gabriel se moveu para o lado. Eva colocou seu ombro na
axila dele e tentou segurá-lo.

— Gabriel! — Gritou enquanto ele se sentava com força no


assento do vaso sanitário. — Você está...? Hugh!

Eva foi subitamente envolvida em um abraço que tinha que ter


sido enviado diretamente do céu. Os braços fortes de Gabriel a
abraçaram, suas grandes mãos a acariciaram, e seu rosto horrorizado
se enterrou na curva de seu pescoço.
— Salve minha vida neste momento, T. e me diga que não há
nada de errado com minha esposa.

A emoção no banheiro se intensificou imediatamente. Nika


colocou suas mãos sobre a boca. Nunca ouviu nada tão terno em toda
sua vida. Eva jogou os braços ao redor do pescoço de seu marido e
derreteu enquanto beijava sua queixo.

Tegan então sorriu com ternura para o casal e disse calmamente.


— Vocês terão um bebê.

Nika pegou uma toalha do balcão e colocou o tecido com aroma


fresco sobre seu rosto. Deixou-se cair no banco acolchoado encostado
na parede e tentou não chorar. Graças a Deus, não havia nada de
errado com Eva. Nada além de estar grávida.

Merda.

Tegan se aproximou e a ajudou a se levantar.

— Está tudo bem. Eu a tenho. — Disse enquanto tirava Nika do


banheiro, com o rosto ainda coberto. Deixaram o casal, ainda
silenciosos, entrelaçados no vaso sanitário.

— Homem, eu adoro, adoro, impressionar as pessoas assim. —


Tegan murmurou enquanto fechava a porta atrás dela.

Sua melhor amiga teria um bebê. Graças a Deus que Gabriel


voltou para casa para compartilhar este momento que mudava sua
vida com ela.

Mas, onde estavam Vincente e Caleb?


Maksim Kirov revisou a área ao seu redor, observou quase tudo
antes de estender seu olhar para o restante do clube. Originalmente
uma grande sala de cinema, o lugar era comprido e estreito, cada
centímetro das paredes estava coberto com espelhos que refletiam
imagens amorfas e distorcidas que pareciam exóticas em vez de
estranhas. O teto era de uns dez metros de altura, também com
espelhos para refletir as sombras azuis e verdes das luzes do chão em
brilhos sedutores. Os clientes, na maioria mal vestidos, notou sem
muito entusiasmo, estavam em um declive gradual. A menos que
estivessem girando na pista de dança cheia, que ocupava uma boa
parte do espaço.

Espalhadas pelo enorme espaço, haviam cinco grandes jaulas de


aço, cada uma com um dançarino ou dançarina exótica dentro. Uma
delas com ambos.

— Grande diferença do Rapture. — comentou Micha, o braço


direito de Maks, enquanto entregava um copo limpo. — Muito barulho.

Maks encolheu os ombros. O barulho não o incomodava. Era


melhor do que o que acontecia em sua própria cabeça.

— A mulher é inteligente. — Admitiu, em referência à proprietária


do clube, sobre a qual ouviu coisas boas. — Um bom design, bem
equipado. Fica claro, somente olhando ao redor, que ela conhece sua
clientela e a serve bem. — Mas Micha tinha razão, o clube Pant não
era nada como o clube de Maksim. Isto era tudo sobre alta energia. Os
clientes oscilavam em uma ampla gama, desde garotos com bolsa de
estudos em Columbia, até celebridade como Lindsay Lohan e Miley
Cyrus. Rapture era o oposto — discreto, com bom gosto — e Maks
atendia aos que desfrutavam de um certo anonimato.

— Já ouvi falar desta australiana. — Disse Micha, enquanto


brindavam com seus copos cheios de vodca Stoli antes de esvaziá-los

— Eu também. Vincente disse que tem um sistema de vigilância


que rivaliza com o do Rapture. Não posso acreditar nisso, mas V. não
mente. — Maksim ainda não acreditava. Não havia como estar em
nenhum lugar perto ou melhor do que o seu. Não é que lhe importasse
a competição. Era normal não ter nenhuma.

Micha fez sinal para o garçom.

— Mais dois e poderia dizer à senhorita Martin que alguém está


aqui para vê-la?

O garçom pareceu cético com seu movimento complacente de


cabeça e foi preparar o pedido de Micha. Maksim fez uma careta de
desgosto por ter que esperar e se perguntou quando chegariam os
outros.

Vincente ligou e pediu que fizesse uma visita e movimentasse as


coisas — já que ele estava mais próximo e Rapture ficava poucas
quadras a oeste. Tinha que assistir a fita de segurança. Por que o mais
provável, era que mostrasse Kevin Nollan colocando aquele bilhete
ameaçador na bolsa de Nika. Uma situação de merda a dessa garota,
pensou. Seu humor piorando ainda mais com a lembrança de que
estavam demorando muito para encurralar o inútil. Mas finalmente
acertou quando investigou a família de Nollan novamente. Ele
encontrou uma nova informação em Nova Iorque. Um Darren Nollan.
O primo pelo lado do pai. Maks colocaria um sorriso no rosto de V.
quando compartilhasse um pouco da informação.

Sabia que Gabriel e Quan voltaram para casa. O chefe disse algo
à respeito de não se sentir bem em deixar as mulheres sozinhas — o
que não estavam realmente, não com Tegan em casa, Alesio e Vito de
serviço. Mas independente disso, ninguém ignorava seus instintos
quando vinham à tona. Então Maks o entendia, mesmo que ele
zombasse em silêncio. O sistema de segurança que instalou na casa
também era impecável. Nada o atravessava e nada acontecia lá sem
que ele soubesse.

Um exemplo: no momento em que Tegan, sua melhor amiga de


muitos anos, gritou mais cedo, seu sistema ecoou o som agudo e
Maksim foi alertado. Ele entrou em seu programa, pulou de câmera
em câmera, mudou os microfones quando não conseguiu obter uma
visão das mulheres - mesmo que ele tivesse respeito o suficiente para
não colocar os olhos nos banheiros ou nos quartos. Limpou a garganta
com o que o aparelho de som recebeu vindo do banheiro.

— G. terá um bebê com a filha de Vasily. — Anunciou para


Micha, que se virou para ele com um olhar de espanto. O que
significava que sua sobrancelha se curvou sutilmente por cima de
seus olhos verdes pálidos.

— Caralho. Já?
Maks sorriu. Seu garoto trabalhava rápido.

— Já. Mas mantenha para você até que lhe diga. Ninguém deve
saber disso ainda.

— No entanto, você sabe. — Murmurou Micha. — Bom para ele.


Eu me pergunto como Vasily vai se sentir a respeito de ser avô.

— Primeiro sua filha e agora um neto? Um pequeno que ele terá


perto o suficiente para moldar? — Maks balançou a cabeça e pegou o
copo novamente para sua segunda bebida da noite e sentiu inveja. —
Ele ficará feliz.

— Cavalheiros? O que posso fazer por vocês? — Perguntou uma


mulher com sotaque australiano sexy pra caralho.

Lembrando a si mesmo de ser educado, já que Vasily disse que


Sydney Martin era amiga de Lucian Fane, Maksim se virou.

E nem sequer tentou conter seu gemido alto. Obrigado pelo aviso
V., pensou enquanto fechava a boca aberta e figurativamente limpava
a saliva do queixo. Porra!!!

Sydney Martin era muito bonita. Corpo pequeno e firme, cabelos


loiros prateados longos, pele luminosa que demonstrava que nunca
fumou um cigarro em sua vida. Sua estrutura óssea era ridiculamente
perfeita, o queixo feminino e maçãs do rosto altas, quase muito frágeis.
Delicadas sobrancelhas curvadas, alguns tons mais escuros do que
seu cabelo. Piscou, movendo seus longos cílios.
— Senhor Kirov? Posso lhe ajudar em alguma coisa? — Ela o
conhecia. Como? Verificaria isso mais tarde. Em suas conversas de
travesseiro.

— Olá, querida. — Saudou-a e incorporou seu novo personagem.

Sua expressão não mudou, mas Maks poderia jurar que ela
revirou os olhos sem na verdade, tê-lo feito. Ela olhou para Micha e
perdeu o sorriso de Maks.

— Posso ajudá-lo?

Micha, sendo o cara inteligente que era, obviamente notou o


interesse de Maks e levantou a mão sem dizer uma palavra.
Simplesmente inclinou a cabeça para Maksim. Sydney não teve mais
opção do que levar sua atenção novamente para onde pertencia.

Ela se moveu em seus sapatos de salto alto e olhou para ele,


irritada. Era uma mulher pequena. Provavelmente era alta apenas o
suficiente para pressionar esses lábios até a metade de seu peito se ele
não quisesse se abaixar para ela. Mas por esse olhar nivelado e a
ponta de seu queixo, claramente não tinha o hábito de tomar
nenhuma merda de ninguém. A altura que se fodesse.

Decidiu que poderia descobrir como ela pareceria — nua — em


um momento posterior. Cedeu e a olhou.

— Nosso amigo em comum, Vincente Romani, quer dar uma


olhada em suas gravações de segurança da noite de ontem.

Ela cruzou os braços em sua cintura e moveu a língua para a


parte de trás de seus dentes superiores. Novamente, sua expressão
não mudou, mas de repente pareceu como se o fulminasse com o
olhar.

— Isto tem algo a ver com a ruiva que ele acompanhou para fora?

— Sim. — Disse Maks simplesmente, sem oferecer nada mais.

— Eu tenho a opção de recusar este pedido?

Ele estendeu a mão e pegou uma mecha de seu cabelo para


esfrega-lo entre os dedos. Era tão suave quanto parecia.

— Não, amor, você não tem. Isto é muito importante.

Ela mexeu a cabeça e puxou seu cabelo. — Bem. Venham comigo.


— Virou-se.

Seguiram para uma escada de metal que ia ao longo da parede


para o segundo andar, com corredores expostos. Enquanto subiam,
Maks sentiu algo incomodando seu peito quando viu os saltos de dez
centímetros de seus Louboutin. Merda, sem esses saltos seria
realmente pequena. Poderia levantá-la na posição que quisesse sem
absolutamente nenhum problema.

Eles pararam na única porta e ele esperou que ela colocasse um


código em um teclado.

— Leva sua segurança à sério. — Comentou.

— É claro. — Respondeu ela ao abrir a porta e indicar o que


deveria ser seu escritório.
Maks endureceu quando se encontraram com um rosto um pouco
familiar. Gheorghe Fane —o notório primo de Lucian — e assentiu
enquanto se levantava de um longo sofá que estava contra a parede.

— Kirov. Micha. — Todos apertaram as mãos. — O que fazem


aqui, rapazes?

Micha se afastou sem dizer uma palavra, como era seu costume,
enquanto Maks amaldiçoava o fato de que Gheorghe obviamente o
ultrapassou no que se referia à australiana. Decepcionante. Estava
muito irritado.

— Sua mulher tem uma fita de segurança que estamos


interessados em ver. — Disse e se esforçou para manter seu tom
neutro. Essa deveria ser a maneira como ela descobriu seu nome.
Provavelmente viu ele e Micha nas câmeras, e Gheorghe deve ter lhe
contado quem eram antes que descesse a escada.

— Não sou sua mulher.

Maks cerrou os dentes e olhou para cima para ver seu pequeno
duende ocupar a posição atrás de uma mesa, que continha somente
um telefone e um notebook fechado. Na verdade, todo o escritório era
estéril, sem dar nenhuma pista quanto à personalidade de sua
proprietária. Não havia nem sequer uma planta ou um calendário na
parede. Apenas os móveis: mesa, uma cadeira, arquivos e um sofá.

E esclareceu seu estado de solteira pelo bem dele?

Maksim aproximou-se e sentou na beirada da mesa, perto o


suficiente para poder ser considerado uma invasão de seu espaço
pessoal. Ela pareceu ignorá-lo completamente, mas conhecia muito
bem as mulheres para saber que estava ciente de sua presença. Podia
dizer pela forma que seu olhar se desviou para o lado. Não olhou
exatamente, mas o suficiente para determinar sua proximidade.

— De quem você é Austrália? — Perguntou suavemente.

— De mim mesma. — Disse ela brevemente, ainda sem olhá-lo. —


Você tem um horário específico para as imagens que deseja? Ou você
quer a noite toda?

— Definitivamente a noite toda. — Disse imediatamente.

Seu olhar se voltou para ele quando captou seu significado e


Maks sentiu uma sacudida de energia pura em seu peito. Seus olhos
eram violetas!

— Jesus Cristo. — Ele pegou seu queixo de uma maneira suave


entre seu indicador e polegar para mover sua cabeça para cima para
ver melhor. — Como se chama essa cor? — Realmente estava curioso.
E lhe diziam que seus próprios olhos eram incomuns.

— Como?

— Seus olhos, querida. São magníficos. — Uma coisa que ela iria
aprender sobre ele, se pensasse em algo, simplesmente dizia.

Aqueles olhos magníficos se estreitaram e ela se afastou de seu


controle mais uma vez para atravessar a sala. Primeiro seu cabelo,
agora seu rosto. Maks sentiu seu bom humor desaparecer e se
chateou. Não gostava quando alguém o afastava de seus brinquedos.
— Tenho certeza que meus olhos não são mais magníficos. —
Disse ela e soou claramente sarcástica. — Não muito diferente do que
você vê quando se olha no espelho. — Significava que também pensava
que seus olhos eram magníficos?

O som de batida contra a porta fez Maks endireitar-se, seu bom


humor restaurado enquanto Gheorghe se aproximava para permitir a
entrada da equipe. Vincente, Caleb, Alek, Gabriel e Quan entraram na
sala espaçosa, que acabou de ser reduzida ao tamanho de uma caixa
de sapatos.

Com um olho em Sydney, que friamente inspecionou seus novos


convidados, Maks disse para Gabriel. — Pensei que iriam para sua
casa.

G. bateu-lhe no ombro em saudação e em seguida disse em voz


baixa. — Chamei os gêmeos para cuidar da casa depois da mensagem
de Alek que dizia que V. estava prestes a se romper. Acredite em mim,
não há muito mais que poderia ter me feito sair esta noite.

Vincente os fulminou, couro caro ondulava ao redor de seus


tornozelos enquanto se aproximava e parava junto a Gheorghe. Todos
odiavam segredos. Mas este, neste momento, era necessário. Maks
entendia isso. Se V. estava tão perto do limite como parecia, a notícia à
respeito de um pequeno bebê inocente e frágil no meio de seu mundo
às vezes violento, poderia fazê-lo cair e provocar um ataque. Quando
seu primo Mario compartilhou a notícia de sua paternidade, V. ficou
incrédulo. Você e Cindy trarão uma criança para este mundo?
Perguntou, em vez do “Felicidades, homem” que seu primo deveria ter
recebido.
O cara estava cheio de cicatrizes, pensou Maks e deu-lhe uma
piscadela antes de passar diante de Gabriel e oferecer suas costas ao
Ceifador. Estavam longe o suficiente para que sua conversa se
mantivesse privada.

— Eu ouvi. — Não tinha vergonha de admitir diante de Gabriel


que ouviu. Os rapazes sabiam que fazia para garantir que todo mundo
estivesse à salvo. Agarrou o chefe pela nuca e o beijou em ambas as
bochechas. — Parabéns, irmão. Eu gosto mais desta notícia do que
quando ficou noivo.

Gabriel não se incomodou em perguntar como ele soube. Limitou-


se a assentir.

— Obrigado, homem. Ainda vai passar um bom tempo para que


eu assimile isso. Minha pobre esposa, porra... Vou deixá-la louca.

— Como tem que ser, papai. Como deve ser. — Proteger aos que
consideravam seus era a única maneira que conheciam. Uma mulher
que ele amava carregando seu filho? Caralho. Maks não acreditava
que pudesse lidar com essa merda. Razão pela qual decidiu não voltar
a tentar. — Assumo que não disse a V.

Gabriel suspirou e passou uma mão pela frente de sua camisa


social azul escura, que estava aberta no pescoço. Deveria tê-la
combinado com uma gravata cinza, pensou Maks, ligado na moda
como era.

— Eu lhe direi amanhã. Não precisa da pressão adicional esta


noite. Porque você sabe, apesar de ser uma notícia muito boa, da
forma como está ultimamente, me dará uma reação negativa. Levará
como algo pessoal. A segurança do meu filho vai se tornar sua
responsabilidade, não importa o quanto tente convencê-lo de que é
minha.

Maks deu-lhe uma palmada no ombro. — Estamos na mesma


página. Guarde para você até que o sol brilhe e todo mundo esteja
feliz.

Virou e se concentrou novamente no seu pequeno duende, vendo


que acabava de terminar uma conversa com Vincente. À medida que
sua delicada mão ia para trás do encosto do sofá de cromo, começou a
sentir respeito por ela. Maks sentiu que isso se assentando dentro
dele, enquanto um suave zumbido soou perante um painel de quatro
por oito que se abriu para revelar uma dúzia de telas com imagens de
todos os cantos do clube, entradas dianteiras e traseiras incluídas,
todas registradas em um disco rígido eletrônico colocado em uma
prateleira inferior.

Olhou para a criadora da configuração e sentiu uma sacudida de


energia o atingindo novamente quando seu olhar se chocou com o
dela. Ametista. Os olhos de Sydney Martin eram de cor ametista. E
nesse momento, concentraram-se nele com um olhar tão indiferente,
com tão pouco interesse, que Maksim não pôde deixar de sorrir.

Desafio aceito, Austrália.


O arrepio na pele de Vincente piorava mais e mais ao ver uma das
muitas telas embutidas na parede.

Sydney separou a gravação da noite anterior sem nenhum


problema, o que permitiu que vissem Nollan seguir Nika para o clube,
nem a uma dúzia de passos atrás de Vito e Alesio. Nika foi ao bar, e os
homens se mantiveram a poucos metros de distância. Nollan foi para o
lado, para esconder-se atrás de uma jaula que tinha um dançarino. Os
dois que compraram a bebida para Nika chegaram dez minutos mais
tarde. Falaram brevemente com Nollan – filhos da puta! E depois
foram para o bar onde Nika estava para olhá-la por um tempo antes de
finalmente se aproximarem dela. Um deles colocou o bilhete na sua
bolsa quando Vincente entrou em cena. Não teve que ver para saber o
que aconteceu depois, mas prestou muita atenção em sua imagem nas
câmeras externas que o mostravam colocando Nika no Kombat. Uma
van branca estava atrás de um carro e saiu imediatamente depois que
ele o fez, seguindo-o pela rua.

— Então ele a seguiu. — Disse Caleb atrás dele. — Há quanto


tempo ele sabe onde ela está?

Vincente não respondeu, porque ainda não conseguia falar.


Enfrentava o conhecimento de que Nollan poderia ter chegado a Nika
na noite anterior. Se conseguisse passar por Alesio e Vito, Nika estaria
morta agora.
Olhou para frente e se permitiu assimilar isso. Se pensava que
seu mundo era escuro agora, como seria se Nika não estivesse mais
nele?

Vincente virou-se e se afastou do grupo de corpos masculinos que


conhecia, para que saíssem de seu caminho antes que explodisse.
Caminhou e parou junto à porta fechada se limitando a olhar a
pintura bege na parede. Uma discussão baixa começou atrás dele,
sobre Nollan ter pistas de Nika antes mesmo que ela deixasse a sede
do clube.

Não tinha certeza de quanto tempo se passou. Com os olhos


fechados, ouviu a voz de Gabriel em suas costas.

— Vincente?

— Eu estava distraído, G. — Disse imediatamente. Precisava tirar


o peso da responsabilidade de seu peito para poder respirar
novamente. — Ele estava bem na minha frente e eu estava muito
distraído por ela, até mesmo para vê-lo. — Passou uma mão áspera
por seu rosto e se virou para olhar para Gabriel com verdadeira
confusão. — Não consigo entender isso. Como permiti que isso
acontecesse, porra?

— Posso ser honesto com você? Sem ser atingido no queixo?

Ele estava desesperado o suficiente neste momento para dizer. —


Sim. Fale.

— Nika deseja você?


Ele ficou surpreso com a pergunta, não era o que esperava
ouvir... Vincente lembrou-se dela como estava pela manhã, se abrindo
para ele, pedindo que a deixasse dar o mesmo prazer.

— Não brinque comigo, mas sim, parece que sim.

— Não pareça tão surpreso, irmão. — Gabriel riu e deu-lhe um


tapa no ombro. — E aqui vem o louco controle, mas acho que você
deveria deixar que ela o tenha. Apreciar um ao outro. Quem sabe?
Talvez precise de você tanto quanto você dela. Deus sabe que nenhum
de vocês estão bem ultimamente. Pode ser que se aplacar esse desejo,
tenha mais controle sobre todo o resto.

Vincente se perguntou se parecia tão afetado como se sentia.


Que. Porra.

— Realmente está me aconselhando a fazer sexo com a amiga


vitimizada de sua esposa?

O rosto de Gabriel endureceu com isso. — Não, idiota. Sugeri que


tenha um bom momento com uma mulher que passou por um inferno.
Se ela está disposta a ceder à atração que ambos sentem, por que não
aproveitar isso?

— Desculpem, Vincente?

Ambos olharam para trás para ver Sydney tentando passar ao


redor de Maksim. O idiota não se movia.

— Pare com esta merda, Kirov. Agora não é o momento. —


Explodiu Vincente, mas Sydney limitou-se a balançar a cabeça, como
se lidar com meninos de cinco anos fosse uma ocorrência comum para
ela.

— Poderiam voltar? — Disse. — Conheço um de seus homens.

— Qual? — Ele e Gabriel se viraram para olhar para a tela.

Sydney apontou com uma unha longa de ponta branca para um


dos compradores de bebidas, com uma tatuagem de um elefante em
seu pulso.

— O nome desse cara é Darren Nollan. Chamam-no de Flash. É


um...

— Aspirante a produtor pornô. — Terminou Maks. — Sinto muito,


amor. — Disse quando Sydney olhou para ele. — Mas me encarregarei
daqui. Você roubou por tempo suficiente o meu trono. — Virou-se para
Vincente. — Esperei para te dizer. Eu descobri algo sobre a família
Nollan. Encontrei um primo.

A memória de Vincente saltou enquanto o nome se registrava.

— Darren e Paul. O outro inseto é Paul. — As apresentações da


noite anterior passaram por sua mente.

— Tenho outra coisa. — Disse Maks e sacudiu seu telefone no ar.


— Querem se mover agora?

Maldito irreverente.

— Na verdade, talvez pudéssemos dirigir até Atlantic City,


desfrutar de um show, jogar um pouco, algumas mãos de Black Jack.
— A voz de Vincente estava tensa enquanto trovejava. — É claro que
iremos agora! O que você acha, porra?

Maks aproximou-se e abriu a porta, acenando com um sorriso


que parecia fazer seu melhor para conter.

O tamborilar de passos que desciam a escada de metal atraíram


os olhares interessados de metade do clube. Mas pela primeira vez em
muito tempo, Vincente não dava uma merda para como poderia
parecer ver sete homens grandes, claramente armados até os dentes,
cruzar um lugar cheio e muito público.

Na verdade, ele contava que sua reputação e à de sua equipe


algumas vezes incivilizada, para que terminasse isto para sua ruiva.
Vinte e cinco minutos mais tarde, subiam quase sem fazer
barulho a escada de trás de um prédio medíocre em Crown Heights,
do mesmo tipo que encontrava por toda a cidade de Nova York.
Gabriel sombrio e silencioso, com sua pistola na coxa. Quan calmo e
preparado para o que viesse. Alek, também atento e preparado para
brincar de cão de guarda. Caleb, sólido e à espera de alguma ação,
mas que não iria conseguir nesta rodada porque o chefe o colocou com
Alek somente como guarda. Maksim sorria como um idiota, já que
tinha sido dada a permissão para participar. Micha não estava ali.
Eles o deixaram na frente do Pant. Caminhou para seu Aston Martin,
enquanto murmurava algo à respeito de que multidões tiravam a
diversão de uma matança.

E então havia Vincente, com a expectativa de que poderiam


chegar a algum lugar com isto. A expectativa queimando sob sua pele.
Não pensava nem por um minuto que teria a sorte de encontrar Nollan
sentado no sofá com uma tigela de pipocas. Mas se colocasse suas
mãos nos dois idiotas, não precisaria muito para que Maks e ele
conseguissem fazê-los cantar como canários.

Gabriel abriu a porta no final da escada e olhou para fora,


fazendo um gesto com dois dedos para que o seguissem. Moveram-se
para o apartamento 6A e rodearam a porta. Alek cobriu o olho mágico
com um dedo antes de chamar.
— Corpo de Bombeiros. Há um incêndio no segundo andar. Todos
para fora. Os alarmes estão desligados. — Sua voz se ouviu
claramente. Vincente esperava que os inquilinos dos outros
apartamentos não saíssem. Tudo o que não precisavam, era de uma
audiência.

Houve uma batida e em seguida, uma maldição.

— Que porra é essa? Não cheiro a fumaça. — Disse uma voz


masculina enquanto abria as fechaduras.

Vincente bateu a porta no idiota quando ele abriu, e o fez recuar


com tanta força que foi jogado contra a parede. Paul. Quan colocou-se
sobre ele como um gato selvagem e mortal e deu a Vincente a
cobertura para procurar Darren.

Filho da puta! O bastardo escapou pela escada de incêndio, como


Maks previu que faria.

Vincente não se incomodou em ir atrás dele. Ficou junto à janela


e ouviu a confusão e o pânico enquanto o idiota voava pelas escadas
de metal. Um segundo depois, um grito agudo seguido por uma
mensagem de Maks com nada além do nome do seu clube. Vincente
sorriu.

Virou e se aproximou do sofá onde Quan colocou o outro


prisioneiro.

— Você reconhece este cara, V.? — Perguntou Caleb com um


pequeno sorriso fantasmagórico desprovido de humor.
Vincente deu uma boa olhada no indivíduo sentado com um
moletom rasgado. O quê...? Este era o bastardo esnobe que quase
abriu um buraco na nuca de Caleb no beco, perto da sede do clube.
Como não o reconheceu naquela noite? Bem, as duas vezes em que o
viu, foram em situações de alto estresse. O beco escuro, depois o clube
escuro. Luzes que piscavam. E para ser honesto, na noite anterior mal
observou os que pareciam simples compradores de bebidas, já que
Nika manteve a maior parte de sua atenção. No entanto, era outra de
suas mais recentes falhas. Talvez G. tivesse razão e devesse jogar a
toalha. Era tomá-la de uma vez por todas ou conseguir ser morto por
ser descuidado.

— Vamos? — Disse para Caleb e levantou Paul.

— Para onde você vai?

— Ao porão do Rapture. — Colocou a boca perto do ouvido de


Paul e disse baixinho. — O porão do Rapture é à prova de som.

— Eu não sei de nada. — Gemeu Paul, com os olhos azuis


úmidos.

— Não? Onde está Kevin Nollan?

— Não sei onde ele vai quando sai daqui. Darren sabe. Ele sabe
tudo. Acho que vai para um hotel, mas não sei qual, nem onde fica. E
ultimamente falaram de um prédio em algum lugar do bairro, mas não
comigo. Eu somente os ouço. Isso é tudo o que eu sei. Por favor, me
deixe ir homem. Por favor! Estou nisto pelo dinheiro.

— Que dinheiro?
— Kevin disse que me daria cem dólares para levar a ruiva para o
beco atrás do clube ontem à noite. No entanto, não nos deu o dinheiro
porque você apareceu. Então estamos quites, certo?

Vincente colocou o polegar nas costelas do indivíduo e enganchou


quando puxou ao menos três. Uma mão tatuada, a de Caleb, a julgar
pelo ODMC nos nódulos, cobriu a boca do garoto quando ele gritou de
dor.

— Quites não existe mais para você. — Murmurou Vincente com


imagens do que poderiam ter feito com Nika enchendo sua mente. —
Você tem certeza que não sabe onde encontrar Kevin?

Os olhos arregalados e a sacudida violenta da cabeça loira de


Paul, junto com seu rosto de agonia pela dor em sua caixa torácica
disseram a Vincente que era tudo o que iria conseguir.

Não era bom para ele. Inclinou-se até que pôde cheirar o medo do
homem.

— Você se meteu em algo tão fora da sua liga que chega a ser
engraçado. É uma pena que não tenha a chance de rir.

Soltou-o e deu um passo para trás, surpreso quando o homem


permaneceu de pé.

— Vocês podem ir. — Disse para Gabriel, Quan e Alek, que


esperavam junto à porta. — Caleb e eu cuidaremos dele.

Vincente parou quando sentiu um toque contra seu tornozelo.


Olhou para baixo e franziu a testa quando viu um pequeno filhote de
cachorro.
— Veja, um cachorrinho. — Caleb se aproximou e abaixou para
acariciar a coisa de aspecto sarnento. Soltou um patético gemido e
deu-lhe uma pequena lambida na mão. — Calma, amigo. —
Murmurou, tentou novamente, apenas para obter o mesmo
tratamento.

Alek zombou. — Apenas o pegue. — Disse enquanto se


aproximava. O cachorrinho enfiou suas costelas quase expostas no
tornozelo de Vincente, como se pedisse proteção. Ele deu um passo
para trás, e o cachorrinho o seguiu. Cabeça grande em um corpo
fraco. E a julgar pelas cores, era Rottweiler ou algo parecido.

— Vem cá, pequeno. — Disse Alek suavemente em russo.


Estendeu a mão para que o cão a cheirasse. Apenas conseguiu um
grunhido, mas não o mordeu.

O pobrezinho parecia assustado com o rabo entre as pernas, a


cabeça inclinada e os olhos baixos. Vincente lembrou-se de Nika.
Intimidada. Aflita. Inclinou-se e passou a mão sob sua barriga côncava
para levantá-lo. Sem rosnar, morder, arranhar, apenas uma lambida
seca em seu queixo. Vincente sentiu que seu coração pulava. Que
porra havia com ele e os cães de rua?

— Ele gostou de você. — Murmurou Gabriel ao seu lado enquanto


levantava a mão para tocar a orelha do cachorrinho. — Que porra?
Queimadura de cigarro? — Virou-se para Paul com os traços
contraídos de raiva.

— Não fui eu! Eu não fumo! Foi Darren!


O punho de Gabriel foi para frente em um borrão repentino para
quebrar a cartilagem do nariz do rapaz. O sangue jorrou
imediatamente.

— Você deixou que acontecesse, idiota. — Disse Gabriel. —


Ninguém o ensinou a defender aqueles que não podem se defender
sozinhos?

Caleb agarrou Paul e lhe deu um golpe tão duro na coluna que
caminhou como se estivesse grávido de gêmeos.

Os restantes os seguiram. Vincente escondeu seu novo amigo no


bolso enorme do seu casaco. Sentiu algo se arrastar, um empurrão na
coxa e depois... nada. O pequeno nem sequer se contorceu, o que o
deixou doente porque provavelmente significava que o cachorrinho
estava acostumado a ficar preso no escuro, em espaços apertados sem
saída. Malditos filhos da puta cruéis.

Pois bem, a partir de agora, o pequeno desnutrido teria toda a


atenção que pudesse lhe dar. E Nika teria um pouco de companhia.
Sorriu para si mesmo. Ela mencionou que amava os animais. Sem
dúvida, isto a animaria.

— O que você fará com o cachorro? — Perguntou Caleb quando


ficaram sozinhos no beco atrás do prédio. O Escalade acabou de
arrancar e Paul estava em segurança no banco traseiro da Kombat.

— Pensei em dá-lo à sua irmã.

Vincente tinha a mão no bolso e coçava as orelhas do cão.


— Boa ideia. Ouça, V. — Caleb arrastou os pés e Vincente se
preparou. Sabia quando iam pedir-lhe um favor. — Você se importaria
de me deixar fazer isto com Kirov?

Merda. A hierarquia novamente?

Suspirou forte.

— Você pode lidar com isto? — Torturar alguém por informação


não era para os fracos de coração. Especialmente da maneira que
Maks o fazia.

— Porra, sim. Eu preciso fazer algo por ela. — Passou as mãos


pelo cabelo, quase arrancando o couro cabeludo. — Não sei o que
aconteceu entre vocês dois e não vou julgar. — Assegurou-lhe com as
mãos no alto. — Mas parece que você a conforta melhor do que
ninguém. Então, se eu não posso fazer isso, pelo menos me dê isto.

Nika se sentia confortável com ele? Saboreou isso por um


segundo. E depois tentou assimilar o fato de que Caleb amarrou suas
mãos.

— No momento em que um deles falar, você me liga. Não quero


você e Kirov por conta própria. Entendeu?

— Sim, homem. Ligarei para você e juntos iremos pegá-lo.

Vincente soltou um suspiro de alívio e assentiu antes de ir para o


lado do motorista. Não tinha o direito de impedir Caleb de ir atrás de
Nollan para vingar sua irmã. Quando Vincente encontrou os
responsáveis pela tortura de Sophia, não puxou o telefone para
chamar aos outros. Chegou na casa e fez a limpeza. Matou cada um
deles e libertou a dúzia de meninas que ainda estavam em cativeiro em
uma operação similar à que Tommy Shark dirigia. Então sim, seus
direitos quando se tratava de Nika vinham depois dos de seu irmão.
Estava muito contente por Caleb não ver desta forma.

Quarenta minutos depois que Caleb e Maks saíram com seu...


trabalho, Vincente estava de volta em casa. Parou no lobby procurou
vozes, mas não ouviu nenhuma. Jogou a cabeça para trás e inalou o
aroma no ar fazendo seu estômago rosnar como um leão.

Não há nada melhor do que comida caseira, pensou enquanto ia


para a cozinha. A sala de estar estava escura, os escritórios junto ao
corredor estavam escuros. Sentiu-se esmagado. Supunha que teria
que esperar até manhã para ver...

Parou antes de entrar na cozinha e ficou ali a olhando. Nika


estava de pé no balcão, cantava em voz baixa, com a cabeça inclinada
enquanto fazia algo. Esticou o pescoço para ver melhor. Ela fazia
lasanha. Engoliu o nó que subiu em sua garganta. Eram duas horas
da manhã e Nika preparava lasanha.

Como se tentasse se manter ocupada até que ele chegasse em


casa.

Afastou a estúpida ideia. Ou tentou fazer, mas não se moveu. Era


assim que poderia ser? Poderia uma relação entre os dois não ser a
coisa escura, violenta, que se convenceu que seria? Poderia ter esta
visão de boas-vindas incrivelmente doméstica toda noite quando
chegasse?
Viu que pegava uma tigela, uma colher e espalhava a mistura de
queijo sobre a massa para acabar de distribuí-la.

Ele poderia acreditar nisto? Acreditar que as coisas poderiam ser


tão boas? Poderia confiar neste sentimento de harmonia que tomava
conta dele?

Ou isso corrompia sua visão da realidade?

Nika moveu-se e quase deixou cair a lasanha da mão quando


uma forma escura encheu a entrada da cozinha. Vincente. Uma
labareda de calor se acendeu em seu baixo ventre quando seus olhos
se encontraram. Ele entrou e quase a fez gemer quando sorriu.

— Cheira fantásticamente. — Disse quando diminuiu o passo.

Atordoada por sua expressão alegre, pouco a pouco levantou a


massa e viu que seu escuro olhar observava cada detalhe do que fazia.
Entrou na cozinha com o longo casaco que flutuava e se inclinou sobre
a panela de molho. Levantou a tampa e cheirou profundamente.

O ar ficou preso no peito de Nika e quis muito acariciá-lo.

— Não há nada melhor do que este cheiro. Você usou orégano


fresco, certo? — Nika assentiu quando ele virou a cabeça para olhá-la.
Sentia-se como uma estúpida, como se estivesse em um programa de
televisão dos anos 50 onde o homem acabava de chegar em casa
depois de um duro dia de trabalho e agora farejava para ver o que sua
mulher preparou para jantar. — Eu não sabia que você gostava de
cozinhar.

Nika deixou de lado sua estupidez. Não era a mulher de Vincente.


Nunca mais seria essa mulherzinha, lembrou-se. E Vincente já
demonstrou que era instável no que se referia a ela.

Não, era melhor ser prudente.

— Eu não cozinhava ultimamente. — Admitiu ao encontrar sua


voz enquanto limpava as mãos com uma toalha e abaixava o volume
de seu iPhone. — Mas costumava fazer isso. Eu vim porque não
conseguia dormir e Samnang foi para cama. Perguntei-lhe se ele se
importaria de me emprestar sua cozinha e disse que não. Já que tinha
todos os ingredientes, pensei em fazer a lasanha favorita de Eva. —
Fez um gesto para a lasanha. — Samnang concordou...

Mordeu a língua.

Por que tinha que soar como se estivesse se defendendo?

— Eu tenho certeza que ele não se importou absolutamente. —


Deu a volta e se aproximou para abrir a geladeira.

— Está com fome? — Sua pergunta foi hesitante. Sentia-se


desconfortável lhe oferecendo comida em sua própria casa. Ele
inclinou-se para trás e a olhou. Ele tinha que ser tão sexy?
— Uh, tem uma nova fornada de pão. Lembro que Caleb gostava
de encharcar o pão em uma pequena tigela de molho cada vez que a
fazia. Tem muito... — Apontou para a panela e desceu o olhar
enquanto se aproximava de uma grande folha de papel da caixa no
balcão. Pegou e cobriu a metade da grande assadeira antes de repetir
a ação e cobrir a outra metade. Colocou a tampa no pote de molho
enquanto abria a porta do forno e depois levantava a pesada forma e a
colocava dentro.

— Eu adoraria, obrigado. Estou faminto. Vinho? — Colocou uma


garrafa sobre o balcão. — Você não pode ter molho vermelho sem
vinho encorpado.

Encorpado? Ela abriu o armário à direita da pia e tirou uma


tigela, fazendo um movimento travesso.

— Claro.

Ela endureceu quando ele apareceu ao seu lado.

— Desculpe. — Levantou a mão e encostou nela levemente, para


pegar duas taças de haste longa da prateleira superior. Seu aroma a
invadiu enquanto dava um passo para o lado e segurava a tigela
contra seu peito como um escudo. Por isso ficou em frente ao fogão de
seis bocas. Sua respiração acelerou, o desejo floresceu sob sua pele,
ao lado da dor pela rejeição. Suspeitava que sempre sentiria ambas as
coisas quando estivesse perto deste homem.

— Sente-se melhor? — Ele nem sequer tirou o casaco.


— Sim. Obrigada. — Levantou a tampa da panela, e em seguida
parou quando viu uma dúzia de taças na prateleira, colocadas debaixo
do armário, mais perto de onde Vincente estava. Por que não usou
duas dessas? Por que foi justamente onde ela estava de pé? Queria,
por alguma razão ficar perto dela? Olhou-o e ele afastou o olhar
enquanto habilmente removia a rolha e começava a servir. Sua mão
era tão grande que segurava a garrafa na parte inferior. Era a coisa
mais atraente do mundo.

Um sorriso puxou seus lábios enquanto se virava para o fogão.


Eva poderia estar certa? Vincente mentiu à respeito de não a desejar?
Fez uma pequena pausa e se sentiu relaxada, seus sentimentos
machucados se acalmando. Não parecia racional que relaxasse. Nunca
foi de guardar ressentimento, mas vamos lá. Deixaria que o episódio
desta manhã se fosse facilmente?

O som da garrafa sobre o balcão a fez olhar para cima. Ele parou
no meio do ato de servir.

— Abaixe a tigela.

Ela fez isso sem hesitar. Deixou a tigela e a tampa de vidro em


cima do fogão.

— Quase o pegamos. Pegamos o primo dele e seu amigo esta


noite. — Todo seu sistema vibrou com emoção e ficou grata que tivesse
colocado a tigela no fogão, porque teria deixado tudo cair. — Não vou
entrar em detalhes, mas estamos nos aproximamos dele.

A descarga de adrenalina que se derramou na corrente sanguínea


de Nika a fez sentir-se doente.
— O que aconteceu? — Perguntou com a voz sufocada. Seu
coração agora estava na garganta. O horror se arrastou por sua pele
com o que Kevin disse na última vez que o viu. — Os filmes pornô de
seu primo. Kevin ia...

Cobriu sua boca com os dedos e negou, incapaz de continuar. As


sobrancelhas escuras de Vincente se franziram, seu humor mudou e
tornou-se sombrio.

— Kevin faria... o quê?

Ela apertou os lábios e negou novamente. Não podia olhar para


ele.

— E todo mundo está bem?

— Todo mundo está bem, ruiva. — Assegurou depois de uma


breve pausa. — Nós sabemos o que fazemos. Nenhum de nós é novato.

— Eu sei. Mas até mesmo os profissionais cometem erros. —


Recolheu cuidadosamente a tigela novamente e pegou uma saudável
porção de molho da panela, assegurando-se de pescar grandes
bocados de carne moída da panela no fogão. — Espero que não tenha
nenhum problema para dormir com o estômago cheio. — Disse e
mudou de assunto enquanto cortava três fatias grossas do fumegante
pão italiano que fez antes. Se continuasse a pensar em Kevin, ele
estaria em sua cabeça durante a noite toda e nunca dormiria. — Caleb
pode comer um cavalo e dormir como um morto. Eu não. Tenho
pesadelos se comer antes de me deitar.
— Apenas um lanche leve então? Tem uvas na geladeira. —
Vincente se sentou pela metade em um dos banquinhos altos do outro
lado do balcão e acomodou o casaco que ainda não tirou. Nika colocou
a comida diante dele e aceitou uma taça de vinho em troca.

Não usava o casaco para esconder outra lesão, não é?

— Obrigada, mas comi enquanto preparava. — Ele assentiu e


comeu com gosto, lembrando a Nika de seu irmão. — Acho que esta
pode ser a coisa mais normal que fizemos juntos — Disse sem pensar.
— Quer dizer...

— Tudo bem, Ruiva. Sei o que quer dizer. — Limpou a boca e


levantou a taça, inclinando-a para ela em um brinde. — Pela
normalidade.

Ela levantou a sua e bebeu enquanto saboreava a acidez do vinho


em sua língua. Desfrutando de tudo isto. Do humor de Vincente. De
sua companhia. Dele. Sua companhia era fácil comparada com o que
costumava sentir no momento em que estava cercada de gente. No
entanto, a atração subjacente nunca esteve lá com mais ninguém.

Não percebeu o quanto sentiu falta disto no ano passado. Agora


que Kevin quase estava fora de suas vidas, se é que podia confiar no
que Vincente lhe contou, poderia ser esta leve e fácil interação o que a
esperava? Sua vida finalmente, voltaria a ser simples e chata?

Se sim, bem-vinda.
Vincente observou a luz que refletia nos olhos verdes de Nika e se
forçou a afastar o olhar de seus lábios enquanto bebia. Sua rotina
quente-fria devia criar uma confusão em sua cabeça. Um minuto eu
dizia a ela que não era suficiente para excitá-lo. No próximo a olhava
como se quisesse comê-la viva. Sentia isso. Mas não sabia como deixar
de fazer isso.

Viu que abria o forno e verificava a lasanha, cantarolando e


movendo o corpo com alguma canção. Nunca uma calça jeans ficou
tão bem nas outras mulheres.

Pegou o copo e bebeu outro gole de vinho.

— Posso lhe fazer uma pergunta pessoal, Vincente?

Sua voz era rouca em seus ouvidos e vibrava por sua coluna
tensa. — Dispare. — Não lutaria contra a sua necessidade por ela esta
noite. Não quando o conselho de Gabriel enchia sua cabeça. E não
quando as coisas pareciam tão complicadas como agora. O que havia
entre eles era muito fácil.

E isso não o deixava nervoso pra caralho?

— Em que você trabalha?

A questão fora de contexto o deixou perplexo. Merda. Como


responder...
— Tenho uma empresa de construção que comprei há alguns
anos. À parte disso, dou uma mão para Gabriel. — Isso era vago, mas
somente porque seu irmão estava em um clube de motoqueiros, não
queria dizer que Nika fosse consciente das perversas relações que
aconteciam no mundo do crime organizado.

Ela pegou seu vinho novamente, cruzou os braços e descansou a


taça contra sua bochecha.

— Com que coisas você lhe dá uma mão, exatamente?

Não estava disposto a lhe dar informações que pudessem fazê-la o


odiar. Decidiu que agora era o momento de acordar seu ainda
adormecido amigo do bolso.

— Eu uh, peguei algo esta noite. — Não queria que nada


arruinasse o que eles tinham e dizer algo sobre si mesmo poderia fazer
isso. Então não faria. Não agora. Não se sentiu assim em... bom, tinha
certeza que nunca se sentiu assim e gostava demais para foder tudo.
— Pensei que você poderia me ajudar com ele.

Nika endireitou-se e colocou o copo no balcão com um olhar que


dizia. — Quem? Eu?

Era linda, caralho.

— Oh uh, ok.

Seus lábios se moveram enquanto colocava a mão no bolso para


pegar a coisa que se contorcia. Era quase como se o cachorrinho
estivesse à espera de ser chamado.
— Estava no apartamento daquele idiota. — Tirou o cachorrinho.
— E eu não quis deixa-lo lá.

O olhar que apareceu nos olhos de Nika quando viu o pequeno


cão judiado quase o fez cair de joelhos e pedir que ela olhasse para ele
com a mesma expressão de amor cego e instantâneo.

Ela cobriu sua boca para abafar um pequeno som de surpresa.

— Oh, Vincente. Pobre bebê.

Ele limpou a garganta. — Eu tenho certeza que é um Rottweiler.


— Esticou o braço e esperou que ela o pegasse. — É um pouco difícil
dizer porque está em muito mau estado. — O pobre diabo tinha mais
costelas à mostra do que um cadáver no deserto. Suas patas e cabeça
pareciam enormes, quase como se estivessem unidos ao corpo errado.
E então, Vincente não olhava mais para o animal, mas para a maneira
cuidadosa com que Nika o pegava. Levou a coisa ao seu peito e
inclinou a cabeça para conversar com ele com doçura. Seria uma mãe
incrível. Não pôde evitar em pensar no pequeno bastardo sortudo que
moveu a grande cabeça e começou a arrastar sua língua por todo o
rosto de Nika.

Ela sorriu e acariciou seu pescoço, só para enrugar o nariz com


desgosto.

— Ugh, cheira a cigarros, não a cachorro como deveria.

Vincente tirou o casaco e o jogou sobre a cadeira antes de


caminhar mais perto. Não pôde evitar que sua mão se esticasse para
passar o polegar sobre sua bochecha e capturar a lágrima que caiu.
Deixou cair o braço no segundo em que ouviu a respiração sair
rapidamente de seus lábios.

— Sim, acho que isso é a marca em sua orelha. — Sua voz era
mais baixa do que há um segundo. — Queimadura de cigarro.

Sua cabeça se abaixou, seus dedos pegaram a orelha preta


aveludada. Ela fez uma careta quando o cachorrinho se queixou.

— Idiotas. — Sussurrou e segurou seu novo amor com mais força


e fez com que Vincente sentisse ciúmes. Da porra de um cão!

— Quer lhe dar um banho?

Ela olhou para cima e em seguida para longe.

— Sim. Eu gostaria.

— Vamos. — Disse bruscamente.

— Vincente?

Ele parou e se virou.

E Nika lhe deu um abraço caloroso.

— Obrigada por salvá-lo. — Os lábios de Nika tocaram o canto de


sua boca com o mais suave dos beijos. — Nós dois te agradecemos.

Limpou a garganta enquanto se inclinava para trás e sentiu seu


cheiro. — Bem. Um banho seria bom.

Movendo-se por instinto, Vincente chutou todos os pensamentos


para longe, passando sua mão ao redor da nuca de Nika e a atraindo
para si. Inclinou sua boca sobre a dela e pegou o que não podia negar-
se por mais tempo. Ela. Seu sabor, seu consolo, sua paixão... queria
tudo dela.

No entanto, se conformaria com seu beijo.

E homem, ela era boa. Fez um pequeno som e em seguida se


fundiu nele para que seu corpo estivesse preso ao dele, separados
apenas onde seu novo cachorrinho estava imóvel em seus braços. Nika
abriu os lábios e aceitou o convite sem hesitar. Vincente colocou a
língua em sua boca e gemeu pelo caloroso sabor úmido dela. Tão doce,
pensou... amou como seus dedos alisaram seu cabelo para mantê-lo
com ela. Sua língua girou ao redor da sua de uma maneira que era tão
atraente que teve o desejo de se apoderar de seu corpo até ter certeza
que não sobraria mais nada, além de um monte de cinzas.

Vincente forçou a si mesmo a parar. Separou sua boca e teve que


voltar para um último beijo antes de levantar lentamente a cabeça.

Sua respiração soava ofegante, como a dela.

— De nada, pelo cão.

A explosão suave da risada de Nika e o sorriso quente que


iluminou seus olhos, era algo que nunca esqueceria.

— Vamos. — Colocou a mão na parte inferior de suas costas. —


Vamos lavá-lo antes que nos afoguemos com seu cheiro.

Conduziu-a através da cozinha para o corredor que dava à


lavanderia, e depois em silêncio abriu a água na profunda pia, muito
consciente dela de pé atrás dele. Manteve seu escasso controle com
respirações rasas em um esforço para pegar pouco do cheiro dela. Tão
pouco como pudesse no pequeno espaço. Na verdade, a sala era
provavelmente de uns bons seis por seis metros, mas com ela ali,
parecia como um maldito armário de vassouras.

Observou o aumento do nível da água, esperou que enchesse o


suficiente para cobrir o cachorrinho e que pudesse tirar a cabeça.

— Vou pedir que Samnang consiga algumas coisas para ele


amanhã. — Murmurou e olhou-a. — E você terá que pensar em um
nome...

Ficou boqueaberto quando Nika levantou o cão e verificou entre


suas patas. — Charlie. — Anunciou.

Seus lábios sorriram com um bom humor que o surpreendeu.


Como ela ainda podia ser alegre depois de ter sido tão fortemente
machucada?

— Charlie? — Olhou-a nos olhos enquanto fechava as torneiras e


amaldiçoou sua própria estupidez ao vê-la sorrir, seus longos dedos
acariciando Charlie da mesma maneira que Vincente queria ser
acariciado por ela.

Agora queria ser um cão de colo? Estava fodido.

Ela assentiu e abaixou os olhos para o sujo cachorrinho.

— Por quê Charlie?


— Porque meu pai adorava Charlie Brown. Sempre me pareceu
chato, mas via o programa da Grande Abóbora do Halloween com ele
mesmo assim. Ele apreciaria isto.

— Sinto que lhe tiraram isso, Ruiva.

— Eu também. Você não fala nada sobre seus pais. — Disse ela.
Com exatidão.

— Não tenho o mesmo tipo de lembranças que você e Caleb. De


minha mãe, sim. Era um anjo. Cobriu-nos de amor como somente
uma mãe italiana poderia fazer. — Seus lábios se inclinaram
brevemente. — Ela foi morta por um carro bomba destinado ao meu
pai. Ele era um falastrão que não estava interessado nos filhos que
tinha. Sophia foi quem mais perdeu. Merecia algo melhor.

A mão dela cobriu a sua enquanto colocava o sabonete mais perto


da beira da pia.

— Assim como você.

Ele encolheu os ombros. — Sim, mas sou um homem. Não é a


mesma coisa.

— Claro que é, Vincente. — Surpreendeu-o dando-lhe um beijo


na boca novamente, suave e persistente. — Vê? Você sente o mesmo
que eu. Afeto é afeto, não importa o gênero.

Nika sorriu e o derrubou. Era tão linda. E não falava da


aparência. Sim, estava lá, mas era porque esta mulher demonstrava
ser irresistível. Era linda e o enfurecia saber que sua beleza foi
sufocada por quase um ano de sua vida.
Pensou e imaginou Nollan. Logo estaria à salvo do bastardo e as
coisas poderiam continuar da forma que deveriam ser.
A sensação do magro e pequeno cachorrinho em seus braços,
combinada com a terrível história de Vincente, tornou difícil para Nika
não chorar como uma idiota. Crueldade. Simplesmente não entendia.
E de seu próprio pai. Grr! De repente, sentiu o impulso de sufocar
ambos os machos na sala com tanto amor que implorariam para se
afastar dela.

Passou a mão sobre o pelo sujo de Charlie e sentiu os olhos de


Vincente sobre ela como uma quente carícia. Por que não parava de
olhá-la? Era desconcertante. Pensava à respeito de seu beijo? —Deus,
o beijo. Ou “os” beijos.

Moveu-se para esconder o estremecimento que a percorreu.


Queria mais. Estava atraída por ele e não sabia como parar isso.
Descobriu que não queria parar. Passou somente uma fração de uma
noite normal em sua companhia e agora desejava outra. Uma mais
longa. Que se transformasse em toda uma noite.

Uau. Sabia que era perigoso para sua paz mental, mas isto era
uma loucura.

— Charlie é meu? — Perguntou e finalmente expressou a


pergunta que continuava a aparecer em sua cabeça. Se não podia ter
um, ao menos queria garantir que pudesse de ter o outro. — Quer
dizer, sei que você está ocupado. Mas terá tempo suficiente para
passar com ele? Porque eu cuidaria muito bem de...

— Ruiva...

Tentou não parecer afetada quando levantou os olhos, aquela voz


suave derretia seu interior. Reprimiu o pânico que sentia com a ideia
de entregar seu pequeno saco de ossos a alguém.

— Sim?

— O cão é seu, baby. Todo seu.

Ok. Agora tinha vontade de beijá-lo novamente. Precisava parar


com isso. A emoção fechou sua garganta enquanto o calor fluía por
seu corpo. O homem não tinha nem ideia do que lhe deu na forma
deste pequeno animal maltratado. Engoliu e assentiu, porque não
podia fazer muito mais.

— Está pronto. — Ele deu um passo para o lado e ela se moveu


para mergulhar lentamente seu pequeno bebê sujo na água quente. A
língua de Charlie saiu imediatamente para começar a tomar goles e
Nika riu enquanto o olhava com os olhos borrados.

— Palma para cima.

Olhou de lado para ver Vincente segurar o pote de gel de banho e


esperava que se afastasse. Ela obediente, colocou a palma para cima e
ele colocou uma pequena quantidade de gel nela.

— Obrigada.
Pelos próximos minutos, Nika lavou todo o rastro de sujeira do
corpo de seu novo mascote. Limpou até mesmo entre os dedos das
espalmadas e peludas patas. O pequeno e doce animal brincou com
ela o tempo todo. Nika tagarelava com Vincente, contava sobre cada
um dos três cães que ela e Caleb tiveram.

— Que idade você acha que ele tem? — Perguntou preocupada,


observando Charlie. — Ainda tem rugas de filhote.

— Não sei. — Vincente colocou sua enorme mão sobre a cabeça


do cachorrinho e ele desapareceu por trás dela. Quando seu grosso
polegar tirou um pouco de sujeira de um áspero e pequeno olho preto,
Nika puxou rapidamente uma respiração... que estava, é claro, cheia
do aroma de couro e sândalo. Colocou as mãos debaixo das patas
dianteiras de Charlie e o levantou sobre o balcão junto à pia enquanto
Vincente drenava a água.

— Você acha que ele está com fome? O que devemos lhe dar para
comer? Não acredito que a lasanha seja saudável e ainda está no
forno. — Mordeu o lábio inferior. — Não pode ter mais sede. Não
depois que bebeu a maior parte da água. Oh. Espero que o sabonete
que ingeriu não vá fazer com que adoeça. Aposto que terá que...

— Nika.

Sua cabeça ficou encurvada. Não podia lidar com a situação


quando ele dizia seu nome.

— Humm?
— Por favor, relaxe, baby. — Charlie soltou um gemido triste
enquanto ficava quieto e a olhava, como se apoiasse a sugestão de
Vincente. — Viu? — Riu. — Acho que você o deixou louco.

Ela levantou o olhar. Tinha alguma ideia de quão sexy ficava


quando sorria? Permitia que os outros vissem esse lado dele? Não
acreditava. Todo mundo, inclusive seu irmão, falava de Vincente como
se fosse o homem do saco. Chamavam-no de “O Ceifador”. Não havia
como pensar assim se o vissem agora. Queria enterrar-se no quente e
sólido conforto que sabia que ele era. Não importava que a tivesse
rejeitado naquela mesma manhã. Estava começando a pensar que
poderia ter suas próprias razões para isso. Quais eram, não estava
muito certa ainda. Talvez fosse também sua tentativa de se proteger,
como ela. Afinal, perdeu duas mulheres que tinham um lugar em seu
coração. Sua mãe e sua irmã. Por que seria voluntário à perder outra
nas mãos de um marido louco matando sua mulher? Não que Nika
achasse que fosse querida para ele.

Ou talvez tudo fosse uma ilusão por parte dela. De qualquer


modo, queria abraçá-lo, ser abraçada por ele. Queria rir com ele, vê-lo
rir, chorar, estar em silêncio e séria com ele.

Pensou em como achava que Kevin a tinha destruido, mas a


verdade, era que seu marido não tinha, nem de longe, o poder sobre
ela que Vincente tinha. Seu pulso bateu em um ritmo irregular com a
compreensão. Não importavam suas advertências para si mesma.
Estava lentamente se apaixonando por este mafioso intimidante.
Como viveria a vida de liberdade que queria sem comprometer-se
com nenhum homem, física ou emocionalmente, quando desejava
Vincente dessa maneira?

— Ah merda, baby. Não se assuste. Cuidaremos disto por você. —


Suas palavras sussurradas fluíram sobre seus lábios enquanto
abaixava a cabeça. Ele achava que pensava em Kevin. Não era isso.
Tinha mais medo do que ele poderia fazer com ela do que de seu
marido. Seus lábios roçaram os dela e apesar de seus pensamentos,
respondeu. Simplesmente não podia evitar.

Mas com o primeiro contato de línguas, sua chance de prazer foi


roubada pelo roçar de pequenas unhas afiadas no balcão, seguido de
um golpe surdo e um guincho. Ela se inclinou para trás e ofegou
quando seu desnutrido cachorrinho caiu no chão.

— Oh, não! — Empurrou Vincente e foi para seu mascote,


apavorada que tivesse quebrado uma pata em seu salto para a
liberdade. Falhou em pegá-lo por meio metro enquanto ele se virava
para fugir. Nada quebrado. Correu atrás dele, mas ficou de pé na porta
presa por um segundo enquanto Vincente tentava persegui-lo ao
mesmo tempo que ela. — Vincente! Deus, você poderia ser menor. —
Apertou os dentes ante o sorriso dele. Finalmente, libertou-se e correu
para fora da porta como se saísse de um estilingue. — Ele molhou todo
o chão.

Uma risada baixa seguiu-a pelo corredor.

— E daí? É somente água. Me preocupo mais de que caia pela


escada até o porão de Maks.
— Oh Deus! — Ela acelerou o passo, seguindo o som das unhas
que raspavam sobre o ladrilho de mármore. — Charlie! — Sussurrou
alto, consciente de que era madrugada e a casa estava cheia de gente
dormindo.

Saiu para o corredor e lá estava Charlie sentado no meio do


enorme e bem iluminado lobby, com sua pequena cauda abanando de
um lado para o outro e olhando o mundo como se sorrisse. Ela parou,
apenas para que a pesada figura de Vincente se chocasse contra suas
costas quase a jogando de cara no chão. Suas mãos agarraram seus
quadris para estabilizá-la e quase provocou um ataque cardíaco
quando a apertou.

— Não escorregue na água. — Avisou.

Ela balançou a cabeça.

— Charlie, vem aqui, querido. — Chamou-o com voz suave. Deu


um passo para frente e se agachou para romper esta conexão elétrica
que ia dos longos dedos de Vincente diretamente ao seu núcleo. —
Vamos.

As minúsculas patas dianteiras do cachorrinho se espalharam no


ladrilho enquanto seu mascote travesso movia sua bunda para cima e
inclinava-se para brincar.

— Vou fechar a porta. — Ouviu Vincente dizer enquanto se movia


para a esquerda, onde podia ver o primeiro degrau da escada que
levava ao escuro porão, através de um dos painéis abertos para as
portas duplas.
Endireitou-se e caminhou lentamente, não querendo que o
cachorrinho corresse. Não podia evitar de sorrir enquanto fingia ir
para a direita e depois para a esquerda, enquanto sua cauda
balançava como um limpador de pára-brisas.

— Venha aqui, bobo. Antes que lamen...

De repente correu, na direção exata em que não queria que fosse.


Dirigiu-se diretamente para a porta do porão!

— Vincente! — Sussurrou e gritou ao mesmo tempo.

Mas ele viu e foi atrás dele. Ou teria ido se as coisas tivessem
acontecido como planejado. Em vez disso, Nika viu sua grande bota
preta escorregar em uma pequena poça. Seus grossos braços
tatuados se moveram, enquanto seus pés voavam e um golpe sólido
soou quando aterrissou de costas. Duro. Muito. Muito. Duro.

O ar dos pulmões de Nika saíram enquanto corria para ele.


Estendeu a mão, voltou-se para fechar a porta e viu Charlie pelo canto
do olho enquanto se encolhia atrás de um vaso enorme.

— Oh meu Deus. — Caiu de joelhos e levantou a cabeça de


Vincente, presa no pânico quando o viu piscar lentamente, como se
estivesse acabando de acordar. Não respirava. — Vincente! — Chamou
bruscamente, sem se importar quão alto fosse. — Pare com isso!
Respire! Por favor! Oh, meu Deus, oh, meu Deus. — Seus dedos se
fecharam ao redor de seu pulso e ele a apertou enquanto negava para
ela, a boca movia-se sem fazer ruído. — Por que você não respira? —
Gritou enquanto lhe dava um puxão para que se sentasse. Ele deve ter
ajudado porque não havia maneira de conseguir lidar com seu peso
sozinha.

— Por favor, Vincente. Respire por mim, ok? Vamos. — Esfregou


o que esperava fosse um círculo suave entre as omoplatas com uma
mão trêmula, com a esperança de afrouxar a pressão em seu peito. —
Vamos, querido, você pode fazer isso! — Animou-o e acariciou sua
bochecha.

Ouviu um silvo de ar passar por sua garganta, e apertou sua


camiseta preta em suas mãos, balançando a cabeça rapidamente.

— Bom menino. Muito bem. Mais uma vez, entretanto.

Ele respirou, tensa e superficialmente. E outra vez. E em seguida,


novamente. Satisfeita? Pareceu dizer com sua sobrancelha levantada.

Ela tentou não começar a chorar, mas não pôde evitar de jogar
seus braços ao redor de seu pescoço e enterrar seu rosto em seu
cabelo.

— Sinto muito. Foi minha culpa. Deveria ter um melhor controle


sobre ele. Não deveria brincar com ele novamente. Você podia ter
ficado gravemente ferido e teria sido por minha culpa. — Ele a
envolveu com um braço forte e ela sentiu que seu peito se enchia de
um grande fôlego enquanto seu sistema claramente reiniciava. — Sinto
muito, Vincente. — Sussurrou e passou a mão em sua nuca.
Principalmente para verificar se tinha alguma pancada, mas também
porque queria acalmá-lo.
— Chega. — Ele soou mal-humorado. — É minha culpa por não
olhar para onde ia quando acabei de avisá-la para não escorregar. —
Voltou a respirar antes de continuar. — Também poderia considerar
minha culpa porque eu trouxe o cão para casa em primeiro lugar.
Posso continuar e falar de quem foi a ideia de lhe dar um banho, mas
acredito que pegou o ponto.

Clique. Clique. Clique. Clique.

Ambos se viraram para ver o encrenqueiro cruzar o chão, com as


orelhas caídas e o rabo curvado para baixo.

— Venha aqui e se desculpe, menino mau! — Repreendeu-o com


pouca raiva.

Ela sabia que provavelmente deveria afastar-se e dar a Vincente


espaço. Mas não podia pela maneira como ele bateu a cabeça. E se
tivesse machucado as costas, a coluna?

Estremeceu contra ele e o segurou mais apertado.

Vincente segurou Nika em seus braços; sentia-se tão bem com o


corpo dela descansando em seu colo... Não tinha certeza do que
funcionou melhor para lhe roubar o fôlego, sua pancada nas costas ou
a preocupação dela com ele. Estendeu uma mão e esfregou entre as
orelhas de Charlie como agradecimento pela posição em que os
colocou. A porta da frente se abriu.

— Bem, bem... — Disse Maks e arrastou as palavras enquanto


cruzava o lobby. — Parece que cheguei em casa bem a... ei! Quem é
este? E o que cheira tão bem?

— Oh! A lasanha! — Infelizmente Nika separou-se dele e correu


para a cozinha.

Ele a observou se afastar e lentamente ficou de pé enquanto


Maks pegava Charlie para dar-lhe uma olhada. O terno Armani cinza
escuro de Maks estava impecável, os punhos da camisa branca
imaculados. Mas isso não significava nada. Obviamente trocou de
roupa antes de bater nos amigos de Nollan.

— O que aconteceu com ele? É um cão vira-lata? — Perguntou


Maks com desconfiança. O terno caro não o impediu de segurar o
cachorrinho molhado. — Parece que não teve uma refeição decente em
semanas. Onde você o encontrou?

— Estava no apartamento de Darren Nollan, por isso


provavelmente você está certo. O que descobriu deles? Onde está
Caleb?

Maks deu ao cão outro longo olhar e depois sorriu levemente.

— Encarreguei-me deles por você, amigo. — Colocou Charlie sob


o braço e acariciou sua cabeça, distraído. — O motoqueiro foi para
casa depois de terminar. Tem certeza que quer que eu estrague sua
noite?
Vincente suspirou.

— Tão ruim assim?

— Pior. Aquele desgraçado...

Ouviram os passos suaves dos pés descalços de Nika e Maks se


calou.

— Deixei-a no balcão para esfriar. — Disse enquanto pegava um


Charlie que se contorcia no colo de Maksim. — Eu deveria levá-lo para
fazer xixi. — Olhou entre os dois. — Tudo bem?

Ele assentiu e fez um gesto para a porta da frente.

— Fique aqui! — Ordenou a Maks.

Levaram o cachorrinho para fazer o xixi mais rápido que jamais


viu e estavam de volta ao pé da escada em menos de cinco minutos.

— Suba e descanse um pouco. — Disse ele, ansioso para ouvir o


que Maksim tinha a dizer.

Nika assentiu. Acabou de dar um passo quando ele gritou. — No


meu quarto!

Sua cabeça abaixou e ele pode ver o rubor cobrir suas bochechas
enquanto olhava para Maksim por baixo de seus cílios antes de levar
sua atenção a ele.

— Deve haver um de hóspedes...

— Não há! — Interrompeu-a. — Use o meu.


— Bem... boa noite.

— Boa noite, baby.

— Boa noite, Nika! — Disse Maksim.

E a tentação se foi, com um conjunto de ossos que se mexia em


seus braços.

Vincente seguiu Maks para baixo, para sua sala de computadores


e se acomodou em uma das poltronas de couro reclináveis.

— Não há quartos de hóspedes? — Perguntou com um sorriso,


enquanto caía em sua cadeira atrás do teclado.

— Eu a coloquei no meu quarto por causa das janelas à prova de


balas. — Não que tivesse que defender sua decisão.

— Certamente que sim. A única razão pela qual as suas são à


prova de balas é porque está na frente da casa. Poderia tê-la colocado
na parte de trás. O quarto ao lado de Alek está vazio.

— Você está realmente interessado em onde ela dormirá esta


noite, Kirov?

— Não tão interessado quanto você... — A piscadela de Maksim


era travessa e pela primeira vez, Vincente se viu reagir à brincadeira
de uma maneira positiva. Sorriu.

— Então, continue e estrague meu humor. O que você descobriu


de Darren e Paul?
Maks passou uma mão pelo seu queixo e o sorriso se
transformou em uma careta.

— Parece que Kevin contratou Darren para fazer um filme pornô


em que a ruiva atuaria. Eles iriam drogá-la e abusar dela antes do
sexo. Aparentemente há uma grande demanda para essa merda. —
Suas mãos pareciam mais garras do que aspas no ar como pretendia.

Vincente tinha certeza que nunca odiou outro ser humano, mais
do que odiava Kevin Nollan. Deixou-se cair na cadeira e soltou um
suspiro duro.

— Sabe onde ele está?

— Essa pergunta foi um fracasso... não importou o que Paynne,


que a propósito foi um bom parceiro, e eu fizéssemos com eles, então
não. Não tinham nem ideia de onde Nollan estava esta noite. Darren
disse que seu primo é paranoico ao extremo, o que se encaixa com o
que Nika me disse sobre ele. Mas sei onde é o armazém que Darren
usou para seus filmes. Vamos vigiar o lugar e estaremos lá quando o
filho da puta aparecer.

Vincente assentiu.

— Eu tenho dois no apartamento de Darren. Se ele decidir fazer


uma visita, iremos até ele. — Era o melhor que tinham, por isso teria
que ser suficiente. Olhou para o teto e imaginou se Nika se preparava
para ir para a cama e se estava entre seus lençóis. Dormiria
imediatamente? Ou ficaria acordada por um tempo? Pensaria nele? Ou
estaria preocupada com Nollan?
— Não é uma boa notícia para você?

Deu-lhe uma olhada.

— O quê?

— Você vai se dedicar completamente a isto, V.? Normalmente


não se atrasa assim em um trabalho. — Maks encolheu os ombros. —
Será que, mesmo inconscientemente, não tente muito porque quando
enterrar esse cara, não terá mais motivo para manter a ruiva por aqui?

Vincente pensou nisso por um segundo. Era por isso que tinha
um momento tão difícil? Era um esforço para manter Nika por perto?
Porque Maks tinha razão, uma vez que Nollan não fosse mais uma
ameaça, ela seria livre para ir. Para iniciar essa nova vida com outra
pessoa.

Seguiria adiante. Começaria a trabalhar no TarMor. Teria um fã-


clube em uma semana. Escolheria um sortudo. Sairia em alguns
encontros. Acabaria em sua cama. Conheceria a família do bastardo.
Sorriria e choraria quando lhe entregasse o anel...

Ficou de pé e deu uma forte sacudida em sua cabeça para parar o


filme de terror que reproduzia em sua mente.

Maksim riu.

— Vá logo para cima. Tire-a de seu sistema, homem. Isso é tudo o


que é. Quer o que acha que não pode ter. Mas pode tê-la. Isso é óbvio
cada vez que ela olha para você. Então vá.
Havia uma nota de confusão na voz de seu amigo. Como se o
homem não entendesse por que alguém se absteria. Vincente tentou
explicar-lhe e enumerar todas suas razões para ficar longe enquanto
caminhava ao longo do escritório.

Seu discurso foi recebido com um olhar vazio.

— Por que tanta complicação? Desejam-se mutuamente. É


simples assim. Então o faça. E aceite minha palavra nisso, uma vez
que acabar com essa tensão, poderá pensar mais claramente sobre
qualquer futuro possível. Ou não. Após o fato, poderiam felizmente
seguir por caminhos separados.

Poderia ser tão simples? Vincente fazia disto algo que não era?
Nika apenas queria sexo com ele? Ele poderia ter sexo com ela e deixá-
la ir? Não pensava assim.

Maks fez um som irritado e virou-se de frente para os monitores.

— Tanto faz, V. Abstenha-se se quiser. — Escreveu algo em seu


teclado. A página Web do Clube Pant apareceu. — São suas bolas... —
Acrescentou.

Inseguro sobre o que estava prestes a fazer, Vincente se preparou


com as pernas afastadas e os braços cruzados sobre o peito.

— Ei, antes de começar a trabalhar no que está envolvido... o


que está fazendo?

— Investigando a pequena australiana. Tenho que tirar algo disto.


— A boca de Maksim se torceu em um sorriso de lobo. A pobre Sydney
não sabia o que estava por vir. O cara era implacável quando se
tratava de suas conquistas sexuais.

— O rumor é que não sai com ninguém, então boa sorte com isso.
De qualquer forma, uh, se importaria se fizer uma pergunta pessoal?

— Sim, provavelmente a amarrarei em algum momento. — O tom


de Maksim era paciente. — Merda. Vocês rapazes precisam parar de
viver suas vidas através de mim.

Vincente revirou os olhos.

— Não era o que eu ia perguntar. Quis dizer algo muito pessoal.

O grande corpo se virou na cadeira de couro. O rosto do russo


endureceu como granito e olhou para Vincente com uma expressão
geralmente reservada para seus inimigos.

— Claro, amigo. Continue. É para o que eu vivo.

Seu tom era enormemente sarcástico. Merda.

— Desculpe, irmão. Esqueça. É somente minha curiosidade


falando.

— Não... agora faça a pergunta já que colocou essa curiosidade


feliz em minha cabeça. — Insistiu Maks. — Continue...

Ele fez uma careta. Não acreditava que nenhum dos rapazes, a
não ser Vasily, se atreveria a perguntar sobre seu passado. Tudo o que
sabiam era que aos quatorze anos Maksim foi sequestrado e mantido
como refém na Rússia. O único detalhe que Vasily deixou escapar era
que Maks passou quase três meses em uma cela, o que levou Vincente
a acreditar que o cara sabia uma coisa ou duas à respeito de como
lidar com traumas emocionais.

— Você é normal agora? Merda. Desculpe. — Esforçou-se para


colocar em palavras o que queria perguntar. — O tempo ajudou em
alguma coisa? E o trauma desaparece junto com as lembranças?

— O tempo deixou mais suportável ter perdido Sophia, V.? O


trauma é um trauma, ponto.

Vincente negou, certo de que suas expressões agora eram iguais.


Não era mais fácil agora do que foi no dia em que levantou aquele
lençol e viu o corpo de sua irmã.

— Então... talvez eu seja mais forte do que você, porque estou


muito bem. — Seu amigo se inclinou para trás em sua cadeira e
pareceu pensar realmente sobre a questão. — Se Nollan tivesse
molestado sua ruiva, diria que ficaria fodida por muito tempo. É uma
mulher. É diferente para elas o estupro. — Piscou e balançou a
cabeça, como se algo lhe doesse. — Por outro lado, talvez não seja uma
coisa de gênero, mas a força interior de um indivíduo. Quer dizer, me
estupraram e me bateram. Mas eu estava drogado e só me lembro do
depois, o que ajuda muito. — Encolheu os ombros e Vincente tentou
não mostrar que seu coração acabava de se partir totalmente com a
revelação do que seu amigo passou. — O poder da mente é
espetacular, Vincente. Todos temos a capacidade de triunfar sobre
qualquer maldita coisa mental que quisermos.
Endireitou-se e seu sorriso torcido foi um verdadeiro foda-se. — O
que falta na maioria das vezes é a capacidade. As pessoas são
preguiçosas e alguns gostam de ser a vítima. Nika não me parece ser
uma dessas, mas o que eu sei? Tomei uma decisão consciente de
deixar meu passado para trás quando tinha quinze anos e queria
dormir com Lidia Barlow, mas não pude fazer isso por causa de toda a
merda em minha cabeça. Essa foi a última vez que permiti que me
afetasse e desde então, estive tão perto do normal como qualquer
outro. — Maks ofereceu uma saudação e se afastou, o que indicava
que o tempo de conversa havia terminado.

Vincente bateu em seu ombro, desejou boa noite e o deixou com


sua investigação. Maksim realmente achava que era normal?
Perguntou-se enquanto subia a escada e bocejou do nada. Entrou no
lobby e esfregou os olhos cansados. Sua cabeça estava muito cheia de
conselhos para qualquer coisa fazer sentido neste momento da noite.
Então, fez o que qualquer homem normal faria... parou de pensar.

Bocejou novamente, subiu e foi para seu quarto fazendo o menor


ruído possível. Negava-se a usar um quarto de hóspedes em sua
própria casa, apesar de que seria isso que um cavalheiro faria. Seus
olhos se adaptaram a tênue luz do abajur e viu a figura de Nika
debaixo dos cobertores. Ela deixou seu lado da cama desta vez. Sorriu
um pouco e foi ao banheiro tomar banho e desarmar-se.

Vinte minutos depois, quase incapaz de manter os olhos abertos,


observou sua respiração constante e soube que ela dormia. Sua
confortável, quente e acolhedora cama era enorme, então encolheu os
ombros, fez o mesmo de todas as noites e subiu. —Homem, este
assunto da falta de sono o afetava, pensou, enquanto adormecia.

Devia ser por isso que estava ali...

O corpo de Nika balançou e seus olhos se arregalaram antes que


o punho de Kevin se conectasse com seu rosto. Tirou seu braço do
lençol e puxou o tecido macio do cobertor que apertava sua garganta.
Esta deve ter sido a razão pela qual Kevin a sufocou em seu sonho.

Acalmou sua respiração, e virou-se de lado. Congelou quando


percebeu duas coisas de uma vez. Um: algo peludo moveu-se por suas
pernas e se acomodou atrás de seus joelhos novamente.— Charlie,
pensou com um sorriso. E dois: Vincente dormia ao seu lado. Usava
apenas boxer e estava sobre os lençóis.

Ela nunca viu algo mais bonito em sua vida.

Apoiou-se no cotovelo, tentando acordar corretamente para ter


uma boa visão dele e comê-lo com os olhos, mas a lâmpada de
cabeceira não fornecia luz suficiente. Viu principalmente sombras e o
contorno de um grande corpo. Ele não roncava.

Aproximou-se mais um pouco e abaixou a cabeça novamente,


enquanto avidamente aproveitava a oportunidade de observar suas
feições severas. Como a maioria das pessoas, Vincente parecia
diferente em seu sono. Não inofensivo, de jeito nenhum, mas um
pouco menos como alguém que não sabia se colocava pesos nos
tornozelos de sua vítima e a jogava no rio Hudson ou se pegava uma
pá e ia a um bosque para enterrá-la profundamente.

Sem pensar no que fazia, porque não podia evitar de fazer,


mesmo que tentasse, estendeu um dedo até tocar levemente a
suavidade de sua boca. Parou quando seus lábios se abriram para ela
um pouco. Ele rosnou, estendeu a mão e inclinou sua boca para cima
no canto quando seus dedos entraram em contato com sua cintura. A
puxou com facilidade contra seu corpo duro e frio, e curvou-se ao
redor dela até que ficaram de conchinha.

Seu coração disparou, seu corpo ficou quente e sua garganta


secou. Nunca em sua vida ficou de conchinha com um homem. Nunca
quis. Nesse exato momento? Teria cortado um membro antes de
alterar esta posição.

Lentamente, ele passou o braço ao redor dela. Podia sentir seu...


pacote... contra seu traseiro. O calor encheu seu rosto. Queria se
mover para trás. Esfregar-se contra ele. Excitá-lo. Queria fazê-lo
perder o controle até que a tomasse. Mas essa era a parte assustadora.
Ela queria mais do que isso. Ela queria muito mais com ele do que
sexo. Muito mais.

Fechou os olhos enquanto seus dedos tocavam as faixas de couro


que usava em seus pulsos. Pegou o pingente de anjo e pensou em
Sophia e no que sua morte significou para ele.
Realmente eram muito parecidos. Ambos viveram um inferno por
causa de seus irmãos. Só que Vincente ainda o fazia. Talvez essa fosse
uma parte da conexão que sentia com ele. Entendia por que fez tudo
aquilo por Caleb. Porque ele teria feito o mesmo por Sophia. Nika sabia
que sem dúvida, se pudesse, Vincente teria trocado sua vida pela de
sua irmã e teria permitido que ela vivesse a vida que ele pensava que
ela merecia. Por que não pensava que merecia o mesmo?

Bocejou e afundou no travesseiro. De algum jeito, sabia que não


teria mais nenhum pesadelo com Kevin esta noite.

Moveu-se ao sentir Charlie subir e se aconchegar em seu umbigo.


Uma camada de seda sobre seu peito acordou Vincente de um
dos sonos mais reparadores do qual podia se lembrar. Passou os
dedos através da suavidade se perguntando se um de seus
travesseiros teria se rasgado e o enchimento saiu. Abriu um olho e
depois os dois.

Um cabelo de fogo se estendia por todo seu peito nu.

Seu olhar moveu-se pelo quarto e em seguida desceu para Nika,


com o coração parecendo voltar à vida. Os raios de luz do sol
encheram a área enquanto as lembranças da noite se assentavam em
sua mente.

Moveu-se um pouco para poder vê-la melhor e em seguida


congelou quando seu movimento a fez arquear suas costas em uma
inclinação bonita. O tecido frouxo de sua camiseta se esticou
marcando seus seios deliciosos e delineou perfeitamente seus mamilos
como pérolas. Seus braços passaram por cima de sua cabeça e
levantaram a barra da camiseta para mostrar uma calcinha sexy
dourada que deixava zero à imaginação. Sua cabeça caiu para trás de
modo que a vulnerável curva de sua garganta ficasse exposta ao seu
olhar ambicioso enquanto se acomodava no sono novamente.

O som que saiu de sua garganta fez pulsar sua ereção matinal,
em busca de um lugar quente e úmido onde se enfiar. Sua atenção se
concentrou no final da cama quando seus pés começaram a se mexer.
Que porra? Um segundo depois, um focinho e dois olhos piscando
surgiram por baixo do cobertor.

Charlie.

Vincente sorriu quando o cachorrinho subiu em seu peito e


começou a lamber seu rosto. Depois, sua cabeça se moveu para o lado,
mas pegou o pequeno antes que pudesse se jogar sobre sua amada.

A amada de Charlie, não dele.

Tão rápida e silenciosamente como pôde, Vincente levantou da


cama, colocou um jeans e pegou o cachorrinho que se contorcia sob
seu braço.

Basicamente, voou para a cozinha, onde um Samnang surpreso


deixou cair o garfo de servir que levava para a mesa que estava
rodeada pelos rapazes e uma Eva, que imediatamente gritou. Ele foi
até ela, uma vez que já estava de pé e jogou o cão em seus braços,
antes de sair novamente.

— Ele precisa sair e comer! — Disse por cima do ombro.

Correu de volta por onde veio, recusando-se absolutamente a


permitir que sua mente trabalhasse senão no caminho de volta para o
seu quarto.

Ela estava sob os lençóis, na mesma posição em que a deixou.


Não fazia nem um minuto, mas agora sua respiração era mais rápida,
seu coração bombeava... e esta mulher em sua cama continuava a ser
praticamente a coisa mais deliciosa que já viu.
Você precisa dela. - Disse o Admirador maravilhado.

Quase como se esperasse por ele, suas pernas se moveram


suavemente, e esticou-se com seus olhos se abrindo lentamente. Para
ver que ele estava a devorando com o que sabia ser um olhar
francamente faminto.

— Oh! — Ela se levantou, recuou e fugiu para a beirada da cama,


com os olhos arregalados enquanto perdia o equilíbrio e escorregava
para fora. Moveu-se muito rápido para que o braço esticado a pegasse
e caiu no tapete macio com um golpe duro.

— Merda! — Amaldiçoou quando a ouviu gemer. Apressou-se a


pegá-la e a levantar. — Está tudo bem?

Ela assentiu, com as bochechas coradas.

— Sim, estou bem. Esqueci que você estava aqui e me assustei.

Deus o ajudasse, mas essa voz rouca da manhã desceu por sua
coluna como uma língua molhada.

Ela deu um passo para trás em direção à cama e levantou as


cobertas, franzindo a testa quando viu que estava vazia.

— Onde está Charlie? — Perguntou e virou-se para ele com um


chicotear do cabelo brilhante.

— Está com Eva.

— Oh. Ei, acho que deveria ir lá e cuidar dele antes que a ataque
até matá-la.
Ela parou e olharam um para o outro por alguns minutos. Com
outro giro, um que lançou seu aroma diretamente no seu nariz, ela foi
para o banheiro e fechou a porta antes que ele pudesse abrir a boca e
agradecer por ter permitido que ele tivesse a melhor noite de sono em
semanas. Não fez nada específico, simplesmente ficou ali. Mas sabia
que era graças à ela.

A porta do banheiro se abriu e ela saiu novamente. Pegou sua


roupa em cima da cômoda.

— Esqueci delas! — Disse com um sorriso rápido e as segurou


antes de desaparecer novamente.

Estava nervosa. Ele a deixava nervosa. Por quê? Porque sentia


um feixe de energia sexual, como ele?

O pensamento fez com que os lábios trêmulos de Vincente se


abrissem em um sorriso pleno, que depois se transformou em uma
risadinha, e que surpreendentemente se transformou em uma
gargalhada que saiu do fundo de sua garganta. Que idiota delirante ele
era. O mais provável é que estivesse incomodada por estar ali sozinha
com ele que a observava como se quisesse devorá-la com uma
mordida. Ou talvez muitas pequenas mordidas.

O som da porta abrindo novamente o fez esfregar os olhos.

— Por que está rindo? — A pergunta de Nika chegou com uma


suspeita em sua testa franzida. — Você está rindo de mim?

Ele negou.
— Não, baby. Definitivamente não estou rindo de você. — Seus
olhos se estreitaram como se não soubesse se acreditava nele ou não.

Ficou ali na porta do banheiro, com sua camiseta tão grande que
chegava até a metade de sua coxa. Um lado da gola caiu, revelando a
pele macia de um ombro e a metade de seu braço.

E aquele cabelo. Ah, aquele cabelo. Era uma massa de


emaranhados lindos, vermelho brilhante e ouro polido em contraste
com a camiseta preta. Fazia suas mãos tremerem com a necessidade
de segurá-la enquanto a beijava e tirava sua respiração.

— Você é tão linda.

A surpresa engoliu a dúvida em seus olhos. Parecia tão surpresa


pela declaração quanto ele por fazê-la. Uma coisa era pensar essa
merda, outra era expressá-la. Olharam um para o outro durante um
longo minuto, nenhum deles dizendo nada. Ambos esperavam que o
outro fizesse um movimento.

Seguiria o conselho de seus amigos, decidiu nesse momento.


Faria uma oferta, veria o que pensava e então, se Deus assim o
quisesse, ele a teria. Porque não podia resistir a ela. Não podia mais
ficar longe. Não importam as razões pelas quais deveria.

Mas primeiro tinha que alimentá-la. Com certeza estava faminta.

— Não se mexa, ok? — Acrescentou a pergunta para suavizar a


ordem. Saiu do quarto depois que ela concordou lentamente e sorria
quando entrou na cozinha.
Pegou dois pratos do balcão e se aproximou da mesa, a
antecipação quase rasgando a pele de sua carne.

Alek entregou-lhe uma colher, que aceitou com um movimento de


cabeça, para poder colocar um pouco de ovos mexidos nos pratos. Ele
não encontrou os olhos de ninguém. Eles estavam olhando para ele.
Podia dizer porque já não falavam nada.

— Nika está bem, Vincente?

Eva. Posso falar com a Eva.

— Está ótima.

— Está com fome?

Maksim. Merda. Ele continuou a empilhar salsichas nos pratos,


bacon, algumas panquecas e um pouco de xarope de bordo. Precisava
de café. Nika gosta de café.

— V.?

Gabriel. Tenho que responder.

— O quê?

— Posso compartilhar uma notícia com você? É o único que ainda


não sabe.

— Dispare! — Em mim, na minha cabeça, se me mantiver aqui


um segundo a mais do que o necessário.
— Ei, preciso de você aqui para proteger algo mais do que Eva e a
mim agora.

Vincente ficou imóvel. Levantou a cabeça de sua tarefa, mudou os


pratos para segurar um em cada mão e olhou para seu melhor amigo.

— Explique-se.

O sorriso de Gabriel foi cuidadoso, quase incomodado.

— Eva está grávida.

Vincente piscou e encontrou os excitados olhos azuis de Eva.

— Parabéns, baixinha. G... — Disse e incluiu seu amigo. — Isso...


— Balançou a cabeça e tentou chegar a uma palavra forte o suficiente
para descrever o que era. — Realmente... é algo.

Deixou cair os pratos de comida carregados sobre a mesa e se foi.


Não foi para Nika, mas para a casa da piscina.

Que porra estava prestes a fazer? Seu interior murchou. Quase


fez amor com Nika. Muito perto de reclamá-la. E para quê? Para
desfrutar de seu corpo exuberante, magnífico e depois sair?
Provavelmente a fazendo sofrer? Porque era muito fraco para resistir?

Eva está grávida.

Essas palavras atingiram mais uma vez a sua mente e


provocaram ciúme e uma necessidade tão feroz que era quase triste.
Nunca poderia dar a Nika algo tão precioso. Um filho. Porque jurou
não fazer um com os nadadores que Deus o dotou. Nunca traria um
inocente a este mundo, onde seria atacado e destruído pelas pessoas
cruéis e vingativas que o rodeavam. Que poderia ser usado para
chegar à ele, abusado, como tantos que via a cada dia.

Olha o que aconteceu com Sophia. Sua imagem final veio até ele,
cinza e fria na morte. Com os braços e as pernas cheios de marcas de
agulhas. Com contusões na pele que não voltariam a se curar.

Depois, a imagem de Nika o inundou. Machucada e sangrando no


chão do quarto de hotel enquanto a escória que a machucou fugia.
Sua raposa de fogo, tão brilhante e vibrante, prisioneira durante um
ano.

Vincente balançou a cabeça para afastar as lembranças. Como


Gabriel e Eva podiam correr o risco, voluntariamente, de que
acontecesse algo assim com uma criança inocente e indefesa?

Ele não poderia. Não faria.

Olhou para as portas francesas durante um longo minuto antes


de cruzá-las. Como a deixaria ir, porra?

Não sabia. Mas enquanto subia pela escada, sabia que precisava
tentar.
Nika se afastou da janela para ver Vincente entrando, ainda a
provocando com o peito nu e suas belas tatuagens. Percebeu
imediatamente que algo mudou. Podia sentir a frieza de onde estava,
do outro lado do quarto. Moveu-se para frente, cruzou os braços sobre
sua cintura e esperou que ele falasse. Ele se aproximou da mesa de
cabeceira e pegou seu telefone. Tirou o curativo das suturas e pôde ver
que estavam bem presos. Tegan as tiraria? Ou ele pediria a Nika que o
fizesse por ele?

— Provavelmente você está com fome. — Seu tom era formal.


Distante. — Se estiver pronta, pode descer. Todo mundo já está na
mesa.

A confusão manteve seu silêncio. Queria lhe perguntar o que


aconteceu, mas não queria colocá-lo lá. Não queria ouvir que cuidasse
de seus próprios assuntos. Mas realmente queria saber o que mudou
nos dez minutos desde que lhe disse que era bonita. Abriu a boca, mas
depois fechou novamente. Talvez não devesse pressionar. Não quando
as coisas estavam ou estiveram, tão bem entre eles. Talvez ele apenas
precise de um pouco de espaço.

Ela poderia lhe dar isso.

— Estou com fome. — Tinha certeza que não poderia engolir nem
um grão de arroz, mas foi para a porta mesmo assim. — Verei...

Seu telefone tocou e foi um aviso de que o deixou na mesinha de


cabeceira.

Aproximou-se e atendeu.
— Olá?

Vincente deu a volta na cama. Ela ficou sem fôlego pela forma
como ele a observava, com uma intensidade quase predatória.

— Olá, Niki.

O estômago de Nika apertou com tanta força pela voz familiar,


que se surpreendeu que não começasse a sangrar.

— K-Kevin?

— Por que não voltou para o apartamento, Niki? Onde você está?
Com ele?

Seu coração parou de bater, sua respiração junto com ele. Caiu
sentada na beirada da cama e Vincente se ajoelhou diante dela.

— Descubra onde ele está! — Murmurou lentamente.

Ela balançou a cabeça violentamente e apertou o botão de viva-


voz enquanto Kevin continuava a falar. Sua voz ia de irritada à
necessitada com remorso, inquietante e doentia, como se alguém
mudasse as estações do rádio.

— Quem é ele, Niki? Ele fode você, puta? Você gosta? Sinto sua
falta. Eu a amo tanto, porra. Vou atrás de você, cadela. Espere.
Cuidarei de você novamente, como fiz antes. Mas serei agradável desta
vez. Eu juro. Pouco antes de abri-la e vê-la sangrar, boceta infiel!
Depois de ouvir a maior parte, ela apertou os dentes e arrastou-se
por suas costas. Estava prestes a apertar desligar quando Vincente
pegou o telefone dela.

Ele levou-o à sua boca, suas feições tranquilas e


perturbadoramente sinistras. Cada pedaço de humanidade parecia ter
saído dele, transformando-o em algo que, se não fosse pelo fato de
saber que nunca a machucaria, realmente a teria assustado.

— Você não tem ideia do quanto vou desfrutar de te matar,


Nollan. — Sua voz era um tranquilo rosnado. — Fique no seu buraco
escondido, tanto quanto for possível, profundamente, porque vou
encontrá-lo. E quando o fizer, nada o salvará.

— Maldito bastardo! — Gritou Kevin. — Ela é minha esp...

Vincente terminou a ligação e deixou cair o telefone na cama.


Seus olhos se encontraram e ela engoliu a náusea que se agitava em
seu ventre. Sentiu o momento em que suas mãos encontraram seus
quadris.

— Você disse ontem à noite que estavam perto, certo?

— Estamos perto. — Assegurou, seus dedos apertando onde a


seguravam.

— Bem. Por favor, irá me deixar vê-lo depois que fizerem o que é
preciso? Eu preciso saber que ele se foi.

Sua boca se apertou em uma linha firme que indicava que não
estava contente com seu pedido, mas disse. — Se insistir nisso, sim.
Deixarei que veja o que sobrar dele.
— Obrigada, Vincente. — Tocou-lhe a bochecha e se levantou. Ele
ficou com ela.

— Ruiva?

— Hmm? — Ele olhou para baixo para seu protetor de tela. Uma
foto dela e de Caleb que tiraram no outro dia na Union Square.

— Por que não fica perturbada com as coisas que ele lhe diz?
Como pode simplesmente aceitá-las assim?

Ela olhou para ele.

— Eu não as aceito, Vincente. — Disse a verdade. — Não as ouço


mais. Kevin pode me dizer o que quiser, eu realmente não registro.

Com um triste movimento de cabeça, ele segurou-a nos braços,


com uma mão em suas costas, a outra na parte de trás de sua cabeça.

— Eu gostaria de poder evitar que ouvisse essa merda, mesmo


assim... — Disse baixinho. — Não merece que falem com você assim.
Ninguém.

Nika envolveu seus braços ao redor de suas costas e aceitou o


consolo que tanto desejava. Ela estava grata que era Vincente quem
estava dando esse abraço, apesar de ainda pensando na sua atitude
“agora eu gosto de você” versus “ agora eu não gosto’. Mas ela não iria
pressioná-lo. Sabia tão bem como qualquer outro como era ter duvidas
sobre as suas decisões. Fazia o mesmo com ele, pelo amor de Deus. Há
poucos minutos queria estar com ele, em seguida sabia que não
deveria fazer isso. No entanto, ainda queria tanto o que não poderia
ter... Mas essa não era a maneira das coisas? Perguntem a qualquer
viciado.

Apoiou a cabeça em seu ombro e inalou seu aroma, seus olhos


sendo atraídos para a janela. Uma grande ave se levantava em um
círculo no céu sem nuvens. Mergulhou e desapareceu por um
momento atrás de um grupo de árvores. Provavelmente conseguiu o
sustento na forma de um rato do campo. Piscou para o calor que a
rodeava quando ela apareceu novamente, dando voltas, indo para
cima. Dando voltas e voltas, quase como estivesse em uma corrente de
ar e agora apenas planasse, desfrutando muito de si mesma para
parar e fazer o que sabia que deveria fazer. Sobreviver.

Com um pequeno suspiro, apertou seu agarre por um segundo


para saborear a sensação do corpo de Vincente contra o seu, e em
seguida, se inclinou para trás.

— Obrigada. Eu realmente precisava disso. — Disse com


sinceridade. Sabia, porém, que não deveria se acostumar a recebê-lo
dele. Afastou os braços enquanto seus dedos desciam pela pele macia
de suas costelas antes de virar-se e ir para a porta.

— Onde vai?

— Encontrar Eva.

Suas palavras mal se ouviram enquanto caminhava.

— Você precisa se vestir, Ruiva.

Ela continuou e caminhou até o final do corredor em nada mais


que sua grande camiseta.
Ele a deixou ir e ela se reuniu com Eva e Charlie no quarto dela.
Não falaram muito, apenas se sentaram juntas. Nika falou da ligação
telefônica de Kevin, mas mudou rapidamente de assunto enquanto
balbuciava sobre seu novo cachorrinho. A visita terminou quando
Gabriel entrou. Nika ouviu Vincente passar pelo corredor, então sabia
que era seguro voltar para seu quarto. Antes de deixar sua amiga, Eva
lhe disse que o melhor que poderia fazer era focar no momento e
tentar deixar que as coisas funcionassem por si mesmas, como sempre
pareciam fazer.

Este era um bom conselho, principalmente quando vinha de


alguém que vivia isso. A vida de Eva estava bem, pensou Nika ao
entrar na sala de estar um pouco mais tarde. Foi para o quarto de
Vincente para tomar banho e vestir um short preto, camiseta cinza
com decote V e sandálias. Ela brincou com a pena de metal pendurada
na longa corrente ao redor de seu pescoço. Sentiu-se nervosa quando
quatro cabeças se viraram para o lugar onde ficou parada na entrada.
Charlie, como se tornou uma regra, saltou ao redor de seus tornozelos
enquanto ela evitava olhar em qualquer lugar perto do grupo.

Uma rodada de saudações precedidas por Maksim a encontraram


com um sorriso dirigido ao mascote.

— Olá, garoto. — Ele agachou-se e estendeu a mão antes de olhar


para ela. — Que nome deu à ele?

— Charlie.

O cachorrinho deitou de barriga para cima e se moveu para frente


até que os dedos de Maksim passaram por suas costas. Seu toque era
suave, com um tom terno, enquanto falava com o cão no que Nika
presumia ser russo. Deus, queria olhar para cima e sair. Queria...

— Apenas ia levá-lo para fora. — Disse para Maksim. Precisava


sair dali antes que, mais uma vez, permitisse que seus sentimentos
por Vincente fossem visíveis a todo mundo. — Está ocupado? Talvez
possa vir comigo? Gostaria de uma foto dele enquanto brinca na
grama, como protetor de tela. — Moveu o telefone que segurava com
sua mão e esperava que não fosse tenso como de repente sentia.

Maksim estendeu a mão e pegou o iPhone de seus dedos com um


olhar desagradável.

— Estas coisas são perigosas. Têm muita informação. Eu vou


criptografá-lo para você. Para deixá-lo mais seguro. Não discuta
comigo, doçura. — Acrescentou com firmeza quando ela abriu a boca
para lhe dizer que não precisava fazer isso. O olhar fixo apontou para
ela com uma rapidez que selou seus lábios novamente e não estava
mesmo segura do porquê. Charlie colocou uma pata debaixo de sua
barriga. Levantou-se em sua imponente altura e o olhou nos olhos.
Assentiu como se estivesse satisfeito.

— Muito bem. — Murmurou com um olhar de lado para os


outros. — Você deveria tomar notas. Tudo está no tom e o contato
visual é muito importante.

Suas sobrancelhas se moveram para baixo. O que queria dizer


com isso? E quem lhe disse isso?

— Teria um efeito dominó se o matasse?


Com a boca aberta, seu olhar voou para o autor da pergunta
casual.

A pergunta casual saiu de Vincente.

Nika percebeu imediatamente que não deveria tê-lo olhado.

Ele usava as botas habituais de motoqueiro, jeans gastos e cinto


marrom. Mas sobre sua camiseta preta tinha uma camisa branca polo
casual. Os dois primeiros botões estavam desabotoados e o dente de
lobo que sempre tinha em seu pescoço aparecia. As mangas estavam
enroladas até o cotovelo para mostrar seus braços tatuados, seu
grosso relógio rodeava seu pulso esquerdo e seu cabelo, pela primeira
vez na história, estava em um rabo de cavalo, o que mostrava seu
rosto de tal maneira que não tinha certeza se poderia suportar. Parecia
como se tivesse tentado se arrumar e o efeito era devastador. Destruiu
completa e totalmente qualquer determinação que Nika pudesse ter
de ficar longe dele.

A voz profunda de Gabriel a fez piscar e aspirar um pouco de ar


quando percebeu que não respirava.

— Seu fã-clube de russas viriam com força sobre nossos


traseiros. Vasily ficaria chateado. Magoado, mesmo. Mas isso poderia
ser apenas porque não o incluímos nas festividades.

— Mas ele superaria, certo? — Perguntou Vincente, sua


concentração no Red Bull que estava tentando abrir.
— Acho que sim. — Gabriel pareceu pensativo por um momento.
— Mas então teríamos que conseguir um novo garoto de investigação.
Você pode imaginar essa merda?

— Os gêmeos são muito bons.

Gabriel bufou.

— Sim. Mas não com tanto talento.

A boca de Vincente se contraiu e em seguida fez um gesto de “Oh,


certo”, aparentemente convencido de que tirar a vida de seu amigo
traria mais problemas do que valia à pena.

Nika desviou seus olhos e olhou para Maksim para ver como
lidava com essa muito estranha discussão, não muito surpresa
quando encontrou um sorriso.

— Viu? — Deu-lhe uma piscadela. — Isto é o bom de ser


indispensável.

Ela riu e se perguntou se Vincente estaria desconfortável com ela


se aproximando dele diante de seus amigos. Podia vê-lo em sua visão
periférica. Olhava para qualquer lugar menos para ela. Talvez não
devesse se aproximar. Com certeza. Principalmente, porque ainda não
sabia por que sua atitude com ela esfriou.

Gabriel pegou a mão de Eva e a levou para o sofá, mas antes que
pudesse colocá-la lá, ela balançou a cabeça escura.
— Não, não. Temos trabalho a fazer. — Disse com firmeza. — Se
Vincente vai para Manhattan para o seu escritório, o mínimo que
podemos fazer é caminhar pelo corredor para o nosso.

Isso explicava a mudança em sua aparência, que Nika tinha


certeza ser a intenção de Eva. Querida.

— Eu criei um monstro. — Queixou-se Gabriel. — É muito pedir


para desfrutar de uma hora de inatividade com minha esposa?

— Podemos desfrutar de algumas horas depois. É quase hora do


cochilo forçado, de qualquer maneira... — Disse Eva ironicamente.

Ela disse a Nika antes, que Gabriel insistia que descansasse mais
durante as tardes. Ela concordou com ele para fazê-lo feliz, porque
dizia que estava um pouco mais cansada do que o normal e sentia a
necessidade real de dormir um pouco. Então corou como uma garota e
Nika estava convencida que não dormiam muito durante estes
cochilos.

Gabriel indicou o quarto para sua esposa, mas Eva se virou para
Nika.

— Por que você não vem comigo e podemos preparar sua


entrevista?

Nika fez de tudo para não murchar visivelmente, mas sabendo


que era o melhor, concordou.

— Bem. Deixarei Charlie fazer xixi e estarei lá.


— Eu farei companhia. — Disse Maksim e estendeu a mão livre.
— Vamos cuidar do garoto.

Desejou que fosse Vincente, mas sem olhá-lo, segurou a mão


tatuada e foi levada para as portas francesas e ao redor da piscina
para a grande extensão de grama verde esmeralda.

Longe, muito longe da tentação.

Mas não o suficiente.


Vincente estava tenso, porra. Como uma maldita pilha de nervos.

Ele atravessou a cozinha, mas mudou de ideia sobre a comida no


momento em que viu a bandeja de sanduíches que Samnang sempre
deixava para eles. A casa inteira tremeu quando ele passou pelas
portas francesas que se abriam para as águas calmas da piscina
iluminada. Moveu seu pescoço algumas vezes. Aspirou ar fresco. Nada
ajudou.

Ele passou algumas horas na Construções ROM depois de sair


mais cedo e viu que tudo funcionava melhor do que podia esperar,
graças a seu primo Mario e à sua mulher muito grávida, Cindy.
Vincente ficou tanto tempo quanto pôde. Até o Admirador
entusiasmado criar uma imagem de sua ruiva com um ventre muito
inchado, o deixando irritado. Murmurou um pedido de desculpas à
sua equipe e saiu. Tinha que lembrar de enviar-lhes uma cesta de
muffins ou alguma merda assim.

Então saiu com Caleb e os dois revistaram Crown Heights.


Conferiu o armazém e o apartamento de Darren, antes de acrescentar
Vex e meia dúzia de outros membros dos Obsidian Devils e da equipe
de Gabriel combinados, ao grupo de busca. Mesmo com o aumento do
número de pessoas procurando, terminaram sem nada. De novo.
Agora Vincente estava louco, com sua moral em lugar nenhum.
Sua pele parecia como se fosse dois tamanhos menores que seu corpo.
Sua cabeça como se estivesse a ponto de explodir em seus ombros. E
havia algo em seu peito que o deixava cada vez mais com dificuldade
de respirar.

— Um pouco tenso aí, irmão?

Apesar de ser a maldita voz de Maksim, ainda se virou preparado


para chutá-lo. Não fez isso. Embora estivesse tentado.

Estava irritado pela merda dele ter ido ajudar a cuidar do


cachorro, apesar de saber que Maks nunca o apunhalaria pelas costas
indo atrás de uma mulher na qual Vincente estava interessado.
Especialmente Nika.

Sentindo como se sua pele ardesse, Vincente soltou o ar. Relaxou


sua postura enquanto conversava com seu amigo.

— Que porra você faz aqui?

— Desfruto da tranquilidade. Foi uma noite muito movimentada.


Vasily finalmente se moveu sobre os colombianos e removeu sua
merda em Brighton.

Ele assentiu, curioso para ouvir isso. Mas não agora.

— O que está fazendo, V.? Continua a adiar o inevitável.

Estúpido.
— Porra, Maks. Não estou de bom humor. — Olhou para a
piscina e ouviu o homem se sentar na espreguiçadeira. — Fomos para
Crown Heights esta noite. Astoria também. Não encontramos merda
alguma.

— Talvez seja um sinal. Ela caminhou a noite toda. Para cada


lugar que olhava, lá estava ela. Ferida e tão tensa como você. Deveria
ir atrás dela.

Com essa nota infeliz, Maks o deixou sozinho com seus


pensamentos confusos.

Olhou para as estrelas, com o estômago revirado como se


estivesse em um navio que afundava. E soube o que estava prestes a
fazer. Como podia ser tão egoísta?

Ainda não tinha uma resposta para essa pergunta quando parou
em frente à porta de seu quarto, com os joelhos fracos, com o pulso
acelerado, com o estômago tenso e respirando em rajadas curtas.
Estendeu a mão e virou a maçaneta, entrando e fechando a porta
silenciosamente.

O que não era necessário, já que Nika não dormia.

Ela esticou seu corpo longo de sua posição no banco de frente à


grande janela e era toda graça felina apesar da hesitação clara em seu
rosto à caminho da cama. Deu-lhe as costas para puxar a corda do
abajur...

Porra.
O quarto ficou com uma aparência aconchegante quando a luz
mostrou que ela usava apenas uma camiseta branca com a palavra:
Abrace-me —e ele iria, em um minuto — estampada no peito e a
pequena calcinha preta. Seu cabelo estava despenteado e selvagem, e
seus olhos cansados.

Vincente entrou ainda mais no quarto, sua temperatura subindo


vertiginosamente até alguns milhares de graus quando seu cheiro
chegou até ele.

— O que você quer de mim? — Sua voz estava rouca e esperava


que não a assustasse.

Seus olhos se arregalaram levemente, mas com um calor que era


tão atraente que estava certo de que o imaginou.

— O que quer dizer?

— O. Que. Você. Quer.?

Seus polegares e indicadores se moveram de repente um contra o


outro como as asas de um colibri. Seus olhos passaram dele para a
porta.

— Uh, eu não tenho certeza do que deveria dizer. — Encolheu os


ombros e ele soube que teria que se abrir primeiro. Se ela o rejeitasse,
que assim fosse.

— Eu menti. — Houve um momento de atônito silêncio. — Sobre


não desejar você. — Especificou para que não houvesse mal-
entendidos.
Tudo nela congelou por um segundo. Até mesmo parou de
respirar. Em seguida, moveu-se agitada, segurando seu roupão de
seda azul e o vestindo. Ele havia pedido para Vito trazer suas coisas de
manhã. Virou-se bruscamente e endireitou o lado da cama que
bagunçou, passando a mão sobre o lençol e depois pelo edredom até
que não ficou uma só ruga. Ao mesmo tempo, balbuciou:

— Eu não acho que agora seja um bom momento para falar sobre
isto. Você está cansado de fazer o que fez durante toda a noite. Estou
cansada de me preocupar toda a noite com Eva e Quan. Ele foi uma
ótima companhia. Tão calado e estável. Jogamos cartas. Acho que nos
deixou ganhar.

— Eu menti. — Repetiu com suavidade. — Você vai deixar que eu


diga como a vejo, Ruiva? Como eu a vejo realmente?

Parecia que ela queria dizer não, seus olhos foram rapidamente
para a porta novamente, mas assentiu uma vez de maneira quase
imperceptível.

— Você é como a luz do sol mais brilhante em um dia de outono.


Como uma brisa quente em uma praia deserta no outono. Você é um
pequeno pedaço do céu... eu não deveria manchá-la com o sangue que
há em minhas mãos. Mas não posso mais lutar contra isto. —
Terminou com voz rouca, permitindo-lhe ler a verdade em seus olhos.

Ela levou o seu tempo e quando falou, sua voz era baixa e
cuidadosa. — Então, me machucou quando disse que eu não era
suficiente para você... por nada? Por quê?
Quanto eu poderia dizer? Tudo? Uma parte? Talvez devesse dizer
toda a história de merda e deixar que o chutasse.

Passou uma mão por sua nuca, em um esforço para relaxar os


músculos.

— Porra, eu sinto muito, Ruiva. Ontem à noite, você me


perguntou o que eu fazia exatamente e eu a cortei. Bem, quando
Gabriel abandonou a família há cinco anos, lutei contra meu papel
nela. Eu não sabia onde eu me encaixava e precisava de algo mais,
então comprei uma empresa de construção. Eu a fiz crescer enquanto
passava um tempo com Stefano. Agora dá um bom lucro, em parte
graças ao meu primo e sua esposa. Estava lá esta tarde. Mantém
Mario longe de problemas e fora deste outro mundo, com o qual eu sei,
ele não lida bem. Acesso muito fácil a todos os excessos. Dinheiro,
drogas, mulheres. — Inalou inadvertidamente. — A empresa
Construções ROM também me proporciona uma desculpa legítima
para minha... riqueza. — Sentia-se como um maldito farsante ao falar
essas coisas. — A maior parte da qual não adiciono a nenhuma linha
numerada em meu imposto de renda. Você entende o que estou
dizendo? Os rapazes e eu fazemos muito dinheiro, mas não são lucros
respeitáveis. São de jogos de azar, de lavagem de dinheiro, de
falsificações, temos uma próspera loja de armas. — Encolheu os
ombros. — Talvez por causa de seu irmão, isso não a perturbe, mas
deveria.

Ela ficou sentada ali, movendo-se de vez em quando em sua


absoluta aceitação pelo que ele lhe dizia. E isso o incomodou.
— Isso não a incomoda em nada? — Perguntou com
incredulidade, se afastando. — Em certos dias, eu ameaço, intimido,
chuto traseiros e às vezes, até que seja necessária uma ambulância.
Às vezes nem sequer um médico pode ajudar os caras. Entende o que
lhe digo, Ruiva? — Ele não conseguia olhar para ela. O medo devia
parecer brilhante nos olhos esmeralda dela. E se não estivesse? — Por
isso eu a afastei. Pensei que se eu a machucasse, você conseguiria
alguém melhor...

Calou-se quando ela apareceu ao lado dele, sem nenhuma


expressão de medo.

— Por que está me dizendo tudo isso, Vincente?

Porra, poderia existir algo mais incrível que o calor que o


percorria com a aceitação dela de quem ele era e o que era? Não
acreditava.

— Eu, uh, quero que você saiba exatamente o que eu sou. — De


repente precisava se ocupar com alguma coisa. Moveu os ombros,
deixou cair sua jaqueta e jogou-a sobre a cadeira ao lado da cômoda.
Então, tirou a pistola do coldre e a deixou cair, depois de se assegurar
de que a trava ainda estivesse colocada. Ele não tinha a usado por um
bom tempo. — Se isto acontecer como planejo, você, uh, precisa me
conhecer. Precisa saber o que receberá. — Inclinou-se para soltar as
armas de seu tornozelo, tirando e colocando sua outra arma e a faca
junto à pistola.

Ela jogou o cabelo atrás do ombro.

— Gostaria de compartilhar seu plano comigo?


Finalmente olhou para ela e praticamente ouviu o assobio da
pressão aliviando seus músculos, quando notou o tímido desejo que
iluminava seus traços. Merda. Ela iria aceitá-lo. Podia ver em sua
expressão.

Aproximou-se dela e suavemente a carregou e enterrou seu rosto


na curva de seu pescoço.

Seus braços rodearam seus ombros, seus longos dedos


afundaram em seu cabelo e afirmou seu aperto. Vincente fechou os
olhos e sentiu que o gelo que esteve ao redor de seu coração por tantos
anos começava a derreter.

— Eu quero fazer mais do que beijá-la, baby. — Avisou enquanto


fazia o mesmo com sua pele perfumada. — Quero tocá-la em todos os
lugares. Tão desesperadamente. Como se sente sobre isso? Está com
medo? Está excitada?

Ela inclinou-se para trás e olhou em seus olhos. — Nós faremos


sexo?

Ele quase gemeu. — Se você quiser.

— E será somente sexo? Entre dois adultos, consensualmente?


Nada mais?

Sua meta de dizer somente a verdade foi deixada de lado.

— Sim. Apenas sexo. Nada mais. Resolver tudo o que há entre


nós.
Algo cruzou em seu rosto rapidamente para que ele o
identificasse antes de que ela assentisse.

— Isso é bom, porque, uh, não estou assustada com o que disse e
eu realmente quero fazer sexo com você. — Seu corpo estremeceu
quando sua boca pousou, aberta e quente, seus dentes e língua
deixando uma úmida e suave linha entre sua orelha e o nervo de seu
pescoço. Gentilmente o mordeu bem no seu pulso. A sensação
explodiu seu corpo, o que lhe dizia como seria um suave toque
enquanto seu cérebro desligava e suas pernas enfraqueciam. Ela
inclinou-se para trás e passou um dedo por seus lábios e pareceu
como se houvesse outra coisa em sua mente.

Ele ficou curioso.

— Diga o que está pensando, baby.

Seus olhos se encontraram, e um lindo rubor subiu por seu


pescoço. Sexo. Ela pensava em sexo.

— Estou cansada de pensar. — Murmurou, seu nariz roçando a


bochecha dele muito suavemente. — Vamos fazer isto. Ok? Pelo menos
desta vez.

Antes que pudesse responder, ela levantou a cabeça e seus lábios


entreabertos cobriram os dele, seu sabor explodindo em sua boca.
Com a sensação de sua língua o acariciando, tão suave e hesitante,
Vincente sentiu que seus braços começavam a apertá-la e a
mantinham no lugar.
— Pelo menos desta vez, baby, sou todo seu. E você... — Passou
as mãos por suas coxas para segurar sua bunda — ... é minha.

Pelo menos desta vez.

Nika aceitaria. Tomaria isto e aproveitaria ao máximo. Aceitaria


este momento com Vincente e o guardaria como algo muito querido.

Ela se afastou do beijo.

— Você tem certeza disto? Não vai mudar de ideia no meio do


caminho? — Não esperou sua resposta antes de tirar o roupão e jogá-
lo atrás dela para que caísse no chão aos pés da cama.

Seus lábios se curvaram e levantaram um lado de seu sexy


cavanhaque.

— Nem mesmo se a casa pegar fogo. — Prometeu. — Estou


cansado de esperar. Desejei isto por muito tempo. Aquele dia no
apartamento. E na noite anterior, quando estava comigo. Ontem à
noite, quando lhe dei Charlie. Naquele primeiro dia, mesmo em
Seattle. Merda. Tentei ser bom, mas não adianta. Cada maldita vez,
toda a porra do tempo, desejei despir você, tocá-la, lambê-la, ter você
toda...
Todos aqueles músculos que a rodeavam ficaram ainda mais
duros quando Vincente se esticou e pareceu recuperar o sentido. Um
adorável rubor – quem teria pensado que usaria essa palavra com este
homem - apareceu em seu rosto.

— Oh merda, Ruiva, desculpe. Merda. Sou tão ignoran...

Nunca apreciando tanto uma língua desbocada, ela cortou sua


desnecessária desculpa e devorou sua boca que não guardava nada.
Ele sentia o que ela sentia. Exatamente. E nada a deixava mais feliz do
que saber que sua atração era correspondida.

— Cama, Vincente. — Ofegou quando ele apertou seu traseiro. —


Vamos para a cama. Por favor.

Antes que ela percebesse, ele a derrubou sobre a colcha grossa e


a cobriu com seu corpo pesado. Depois de esperar pelo que pareceu
uma eternidade, saber que finalmente iria acontecer, estava fazendo
seu corpo derreter. Já não importava estar danificada, que a ferissem,
que Kevin viesse atrás dela. Sua necessidade de estar com ele era
grande demais para permitir que se preocupasse com outra coisa que
não fosse o que acontecia nesse momento.

Seus dedos passaram sob a barra de sua camiseta ao longo da


sensível pele de seu estômago e fez sua respiração acelerar ainda mais.
Precisava sentir mais dele. Ela agarrou a barra de sua camiseta e a
passou sobre sua cabeça. Hesitou, já que precisava que ele se
levantasse um pouco. Como se lesse sua mente, ele afastou-se e se
encarregou do restante. Ela quase gemeu com a visão de um arnês de
couro preto na pele bronzeada de seu peito e costelas. Onde ele
guardava as armas antes. O calor rugiu através dela com a visão dos
músculos de seu abdômen. Ela segurou seus pulsos quando ele tentou
retirar o coldre.

— Deixe. — Sussurrou, com seu olhar o devorando sem


vergonha. — Deus, você é tão... sexy.

Seu rosto escureceu de prazer, uma imagem sombria de desejo


cru. Seus olhos eram como chamas negras, a pele agora tensa sobre
as maçãs do rosto, projetando sombras pelo abajur ao lado da cama.
Ele tocou a barra de sua camiseta.

— Eu preciso vê-la, baby. Mas se não estiver confortável com


isso...

Ele sorriu quando ela levantou os braços e não perdeu tempo


tirando a camiseta e a deixando no chão ao lado da cama. Um som
baixo saiu de sua garganta quando sua cabeça desceu — não
haveriam jogos com este homem — e sua boca se fechou sobre seu
mamilo. O outro seio foi suavemente tomado por uma mão
deliciosamente áspera e era incrível. Não havia nada mais além dela e
Vincente. Sem más lembranças. Somente isso.

Ele girou um mamilo entre os dedos, com sua língua e dentes


atormentando o outro e Nika gemeu, se contorcendo quando o prazer a
inundou, arqueando as costas lhe oferecendo tudo.

Seus dedos agarraram seus ombros, passando pelo que parecia


ser aço coberto de veludo.

— Diga se eu for muito rude.


Ela negou com força. — Não, você não é. Deus, é bom. Não é
nada rude. Juro.

Ela arranhou suas costas, encantada com o som baixo que ele fez
contra ela e moveu suas mãos entre seus corpos. Sentiu seu pau
quente e abriu o botão e desceu o zíper também.

— Posso...? — Não tinha experiência suficiente para ir tão longe


como queria. — Quero tocá-lo.

Ele levantou a cabeça e sorriu com malícia. — Eu lhe disse que


sou seu para fazer o que quiser. Falei sério.

Estranhamente afetada por isso, Nika colocou a mão na abertura


para agarrar...

— Finalmente. — Ofegou e fechou os dedos ansiosos ao redor do


eixo duro como mármore. Ou pelo menos tentou. Seus olhos se
arregalaram levemente enquanto o acariciava. — Oooh. — Exalou,
longe demais para se preocupar com a emoção evidente em seu tom.

Vincente respirou fundo e ela parou suas carícias. Será que o


machucou?

Ele levantou a cabeça de seu peito. — O quê? — Ofegou. —


Machuquei você?

— Não. — Ela riu sem respiração ante o absurdo. — Deus, não.


Estava apenas... você é muito grande.
Ela se encolheu com seu comentário bobo, mas depois não se
importou porque Vincente fez uma expressão que não achou que veria
em seu rosto. Parecia encantadoramente envergonhado.

— Obrigado. — Murmurou e ela tentou fazer com que se sentisse


melhor. Não queria que nenhum dos dois fosse tímido ou contido.

— Eu quero você. — Ela apertou seu punho no seu pau e se


sentiu um pouco poderosa quando seus olhos escureceram e depois se
fecharam, sua respiração saindo em uma explosão quente.

— E você me terá. Não neste momento. Acabamos de começar.

Seu polegar roçou seu mamilo e ela arqueou-se. Ele abaixou a


cabeça para beijar a pele sensível entre seus seios, e as pontas de seu
cabelo lhe faziam cócegas nos ombros. Sua mão desceu e cobriu a
metade de seu seio. Mas o que mais lhe chamou a atenção foi a fome
feroz em seu rosto, o flagrante desejo enquanto a olhava.

Desejava isto tanto quanto ela.

— O que aconteceu, baby? — Perguntou quando viu seu olhar.

Empurrou-o pelos ombros. O deslocou, sem dúvida porque ele


permitiu, e o colocou de costas. Sentiu-se muito corajosa. Ficou de
joelhos e se sentou escarranchada sobre ele, movendo-se para trás de
onde estava para que o suave couro de seu arnês roçasse o lado
interno de suas coxas.

Vincente impediu seu progresso, a segurou sobre seus joelhos e a


guiou novamente para cima. Gemeu baixinho.
— Merda, Ruiva.

Uma pressão explodiu entre suas pernas pela admiração em sua


voz, sua umidade escorregadia e quente. Sua garganta fez um
movimento enquanto ele engolia com força e olhava para seus belos
olhos, o muito escuro chocolate quase completamente escondido por
suas pupilas dilatadas. Nika sorriu e nunca esteve tão contente de
usar roupa íntima bonita.

Valeria a pena cada momento que a fez esperar.

— Isso é o que eu gosto de ver. — Disse Vincente com voz rouca e


subiu ainda mais o corpo de Nika. Ela estava molhada por seus beijos.
Seu toque. Vincente podia ver a mancha molhada em sua calcinha.
Com ela montada em seu peito e com as pernas abertas, o cheiro
sensual de sua excitação o abateu como um gancho. — Vou arruinar
sua bonita calcinha. — Avisou antes de fazer exatamente isso. Jogou
os restos destroçados para o lado sem poder evitar. Precisava saboreá-
la antes que seu coração acelerado parasse de funcionar. Agarrou seus
quadris, levantando-a facilmente e a colocou sobre seu rosto para que
seus joelhos segurassem sua cabeça.

Seus olhos quase rolaram para trás enquanto absorvia a visão


rosa e brilhante. — Em toda minha vida, nunca vi nada tão bonito,
porra. — Sussurrou enquanto acariciava a pele macia do interior de
sua coxa com o polegar.

Seu suspiro suave o fez puxá-la até sua boca.

— Oh Deus, Vincente!

Seu grito surpreso cheio de prazer viajou por sua espinha. A


sensação de sua suavidade aveludada, molhada e escorregadia ao
redor da sua boca e língua, enviou-o em um frenesi. Lambeu-a, e
depois incapaz de chegar a ela como queria, facilmente a deitou de
costas e se obrigou a se acomodar lentamente entre suas pernas. A
posição tornou mais fácil controlar o que queria fazer com ela. Ela
puxou seu cabelo enquanto a lambia, e gritou quando sua língua a
penetrava até o fundo, uma e outra vez.

Ele fez que com seu nome soasse como uma oração quando a
esticou com seus polegares e trabalhou no pequeno feixe de nervos na
parte superior de sua boceta. Era disso que precisava; o corpo de Nika
se apertando como uma corda de arco e ela gozando. Suas unhas
cravaram forte em seu couro cabeludo enquanto um grito apaixonado
saía dela se transformando em um interminável gemido pelo prazer
que lhe proporcionou. Lambeu sua doçura até que os espasmos finais
a deixaram.

Saboreou tudo. Vincente beijou seu quadril, depois seu estômago


plano e lambeu seu umbigo. Seus músculos estavam tensos pela força
que usou para conter-se e não reinvidicá-la.
— Agora, por favor, Vincente. Quero sentir você dentro de mim. —
Sua voz era crua com um desespero que coincidia com o dele. Mas ele
ainda assim a ignorou.

E passou a lamber, mordiscar e chupar cada centímetro da


sedosa pele que podia alcançar. Trabalhou nas zonas erógenas tanto
quanto pôde —pescoço, ventre, coxas, até mesmo a parte de trás de
seus joelhos e as dobras de seus cotovelos — e permaneceu lúcido.
Evitou os lugares óbvios desta vez, o núcleo apetitoso e os mamilos
fascinantes, muito preocupado em se perder e machucá-la pela força
de sua necessidade.

Seus olhos se fecharam com o pedido quando disse seu nome


novamente. Abriu-se quando afundou suas unhas em seus quadris e o
guiou enquanto abria as pernas.

— Existe algo que você quer, baby? — Manteve-se afastado do


paraíso por um mero centímetro.

— Sim, sim. Você. Por favor. Aqui. Eu vou... — E antes que


pudesse fazer mais do que sorrir, ela o colocou de costas novamente.
Sua força era como uma brisa quente, mas permitiu o movimento,
incapaz de conter seu entusiasmo.

Sem querer pará-la.

Ele se deitou e sabia que a fez esperar tempo suficiente. Inclinou-


se para o lado para puxar a gaveta de sua mesinha de cabeceira.
Pegou um preservativo, abriu o pacote, colocou e então Nika moveu-se
sobre Vincente como uma chama viva. Seu glorioso cabelo caia em
desordem sobre seus ombros e costas, uma grossa mecha se
enroscando ao redor do mamilo de um seio perfeito.

Seus quadris pairaram sobre ele enquanto seus dedos faziam


círculos ao redor de seu pau e puxou o ar de seus pulmões. Ela
esfregou a cabeça em sua entrada quente, depois retirou a mão e
lentamente empalou a si mesma. Precisou relaxar um pouco mais até
que entrou totalmente. Seus olhos o seguraram até que seu núcleo o
agarrou bem apertado - porra, muito apertado. Caralho. Apertou os
dentes em um esforço para ficar em silêncio, com tanta força que as
têmporas começaram a doer e simplesmente observou enquanto Nika
começava a se mexer. Seu corpo fluido, seus quadris girando, mas não
se levantou. Não havia nada que pudesse fazer para afastar-se nesse
momento.

Ela parecia tão viva, com uma expressão de felicidade total.


Deixou cair a cabeça para trás, de modo que as pontas de seu cabelo
lhe fizessem cócegas nas coxas.

Minha. Toda minha.

Ela se ergueu e parou por um segundo antes de descer


novamente, esfregando-se para frente e para trás. Vincente não pôde
conter o gemido que saiu de sua garganta.

— Tão gostosa, porra. Apertada... molhada... tão linda... toda


minha. — Deus, não era um romântico. Queria se desculpar, mas não
podia pronunciar as palavras. Mas então não tinha por que se
desculpar.
— Sim, tão bom. — Ela concordou. — Tão grande... sua... tudo de
mim.

Porra. Sim. Os dedos de Vincente agarraram suas coxas para que


parasse e mordeu o interior de sua bochecha para não gozar. Levantou
uma mão para segurar a parte de trás do seu pescoço e puxou-a para
devorar seu sorriso sedutor.

Reclame-a. Marque-a. A possua. - O Admirador gritou as


instruções em sua cabeça.

Queria obedecer, fazer todas essas coisas para que nenhum outro
homem se aproximasse dela. Não sem incitar sua raiva. Fazer um
círculo ao redor dela em público e protegê-la de tudo o que pudesse
prejudicá-la de alguma forma. Ele a faria feliz. Ajudaria a se recuperar.
Daria muitos presentes. E se houvesse algo que não pudesse
encontrar para agradá-la, construiria o filho de puta com suas
próprias mãos. E na privacidade de seu quarto, adoraria seu corpo.
Amaria uma e outra vez. Agradaria e a satisfaria tão completamente
que nunca desejaria outro homem.

Nunca.

Apenas ele.

Ele e ela.

Vincente e Nika.

— Vincente? Está aqui? — Suas unhas se afundaram em seu


peito, tirando sua atenção de seus pensamentos possessivos. Um
indício de ansiedade em sua voz lhe deu a dica de que ela percebeu
sua distração.

— Estou aqui, baby. — Disse e tomou sua boca novamente.


Soltou sua nuca e juntou suas coxas, a levantando de modo que seus
quadris pudessem coincidir. Era frustrante tirá-la para fora dele.
Aproximou seu corpo novamente com uma mão sob seu braço e
costas, e a moveu para trazer seu mamilo mais perto e poder lambê-lo
enquanto a penetrava.

— Sim. — Ofegou ela, hesitante. — Por favor. Sim, assim. Eu


preciso senti-lo. Em todos os lugares.

Sim, senhora. Ele os fez rolar para que ela ficasse embaixo dele,
quase sem alterar seu ritmo e ela gritou quando entrou mais fundo.
Deus, os sons que fazia tão vocais o excitavam, seus suspiros
delicados o inquietavam, seu corpo se contorcia e levava sua
necessidade de satisfazê-la à frente de sua mente.

— Vincente. — Seus dentes afundaram no músculo de seus


bíceps enquanto seus quadris empurravam contra ele. Ela usou seu
domínio sobre o arnês que insistiu que deixasse como alavanca.

Vincente mergulhou no abrigo úmido e seu coração quase saltou


com seu gritinho erótico. Seus olhos se encontraram e ele começou um
ritmo constante. E então suas mãos estavam por todos os lugares,
seus dedos puxaram seus ombros, suas unhas raspavam as costelas,
as mãos na parte inferior das costas. E o melhor? Aquelas longas
pernas ao redor dele, apertando enquanto se aproximava do seu
orgasmo, o que disparou o dele. Vincente gozou como se fosse sua
primeira vez. Seu clímax o derrubou enquanto estremecia, seus
músculos drenaram tudo o que tinha.

Quando finalmente terminou, seu corpo cedeu e desabou.


Sabendo que era muito pesado, rolou, mas levou-a com ele. Tirou a
camisinha em um movimento que esperava que ela não notasse ser
experiente.

Estranho. Neste momento, normalmente estaria de pé, vestindo-


se e tentando pensar em uma desculpa de por que não ligaria.

Não esta noite.

Abriu um olho e olhou para baixo, observando Nika se encaixar


ao seu lado como a peça do quebra-cabeças que faltava. Sua cabeça
foi para seu pescoço, seus seios se apertaram ao seu lado e dobrou
uma longa perna ao redor de seus quadris. E homem, a vida era quase
uma porra perfeita nesse momento.

Ele fechou os olhos novamente, seu ritmo cardíaco acalmando


enquanto ela tocava sua clavícula. Ela suspirou e se moveu para
passar o dedo indicador em seu dente de lobo. Levantou o presente de
Sophia e leu o que estava gravado antes de colocá-lo novamente em
seu peito.

Por que ela não perguntava o que queria dizer a passagem? Já


sabia? Por que não perguntava quem o deu? Se tinha algum
significado especial? Se alguma vez o tirava?

— Minha irmã me deu. — Surpreendeu-se ao confessar.


Ela apoiou-se sobre o cotovelo e lhe deu um olhar que não pôde
identificar enquanto segurava a pedra preta lisa novamente.

— Acho que não sei o que está em Mateus 6:14.

— Porque se perdoardes aos homens suas ofensas, vosso Pai


celestial vos perdoará também.

Ela baixou a cabeça.

— Deus e eu estamos em desacordo neste momento.

Ele entendia isso.

— Se considerar o que você passou ultimamente, tenho certeza


que sei por quê.

— Você acredita nele, certo?

Arrastou os dedos pela parte de trás de suas costelas e sorriu um


pouco quando arrepios surgiram. Acariciou sua pele.

— Sim. Acredito. Não entendo nada do que me permitiu passar,


mas sei que está lá. E deve me odiar.

Ela se aconchegou mais contra ele. — Não, de acordo com essa


passagem, ele não odeia. — Ficou em silêncio durante alguns
instantes, até que um arrepio a percorreu. — Eva acha que eu deveria
conversar com o amigo de Gabriel, o padre que os casou.

— Mikey é um grande cara. Eu a recomendarei se sentir essa


necessidade.
Ela assentiu.

— É bom saber. — Desenhou um padrão aleatório sobre seu peito


e abaixo de seu estômago. Pressionou a pequena trava para abrir seu
arnês e se moveu para permitir que pudesse tirá-lo antes de se virar
para deixar que caísse no chão. — Sabia que seria assim com você.

Seus olhos se fecharam e sentiu seus lábios pressionados contra


seu peito enquanto tentava recuperar o foco.

— E como seria assim?

Sentiu que ela encolheu os ombros. — Intenso. Incrível. Bonito.


Igual a você.

Vincente manteve os olhos fechados, em vez de revirá-los como


queria... mesmo que soubesse que ela olhava para ele. Que porra
deveria dizer depois disso? Era algo que não entendia.

O silencio continuou e quanto mais Nika permanecia calada,


mais o percorria uma calma confortável. Ela não o pressionava para
olhar para ela, não se queixava para que falasse com ela. Não.
Mantinha-se discreta, com a ponta dos dedos sobre cada uma de suas
tatuagens, lhe dando o tempo que instintivamente sabia que precisava
para se recuperar.

— Você parece tão feroz. Lembro-me de ter pensado isso na


primeira vez que o vi. Tão feroz e tão bonito. Me deixou sem fôlego.

Seus olhos se arregalaram. Realmente o via assim? Ela apenas


sorriu e continuou.
— Estava tão atordoada. Foi por isso que quase caí. E então,
quando você me beijou... — Seu suspiro percorreu sua pele. — Me fez
sentir algo. Excitada, sim, mas mais do que isso. Senti calor pela
primeira vez na minha vida. E eu soube...

Ele prendeu a respiração. — Soube o quê?

Ela deixou escapar um suspiro suave. — Que Kevin não me


destruiu completamente.

Sua cabeça voltou a descer e ele piscou com espanto, uma vez
que compartilhou isso sem esperar nada em troca. Esta mulher era a
razão de seus sonhos.

Seus lábios roçaram seu mamilo, seus dentes deram um aperto


suave, despertando seu corpo tranquilo.

— Esta coisa de uma vez é toda a noite, certo? — Com a boca


aberta agora, sua língua se moveu. — Ou já terminamos? — A luz em
seus olhos quando os levantou mostrou que estava brincando. Moveu-
se de repente e ficou sobre ele e tudo o que sentiu foi fogo e chamas
que queimaram sua pele em todos os lugares onde o tocava. Ela
continuou seus beijos, atravessando seu peito, o abdômen e
acariciando seu pau rapidamente. — Porque quero fazer mais uma
coisa antes de terminar. — Disse enquanto deixava um rastro molhado
por seu estômago.

Seu coração bateu contra suas costelas quando sua língua


mergulhou em seu umbigo e explodiu quando ela beijou suavemente a
ponta da cabeça do seu pau.
— Eu gostaria de fazer muitas coisas, mas especialmente esta.

— Ruiva.

Ela sorriu com uma expressão satisfeita. Seus lábios se abriram e


ele prendeu a respiração em sua garganta.

— Oh, ele fala! — Sussurrou ela enquanto segurava sua base com
uma mão e muito lentamente colocava sua ereção na boca. Seus
quadris se levantaram enquanto o levava profundamente e ele gemeu.
Foi mais do que um gemido, mas sendo o homem que era, chamaria
assim. Suas mãos encontraram o seu cabelo enquanto ela se inclinava
para trás e liberava a cabeça de seu eixo da tortura com um pop
suave. Quando ela falou, sua respiração passou sobre ele e fez com
que seu controle parecesse como um punho fechado ao redor dele. —
Eu nunca fiz isto. — Admitiu. — Mas quero fazer com você. Sonhei em
fazer isso duas vezes. — Fez uma coisa de redemoinho na cabeça de
seu pau e depois imitou o que fez com ela e arrastou a língua para
baixo da ponta até a base. — Tenho lido muitas novelas românticas
para saber o básico. Mas se não for bom, estou aberta a sugestões.

Sua fascinação com esta incrível criatura não tinha limites e tudo
o que podia fazer era ficar ali e se divertir. Quando ela sorriu
lentamente, com os olhos enrugados nos cantos, a garganta de
Vincente realmente engrossou de emoção.

— Perfeito. É perfeito para caralho, Ruiva.

Ela o recompensou imediatamente e abriu a boca o levando até o


fundo da garganta. Gemeu suavemente.
— Pooorra, Nika. — Que tipo de livros malditos eram esses que
leu?

Ela se inclinou para trás lentamente, abriu os lábios e soprou


novamente uma corrente de ar frio.

— Assim espero. — Disse com uma piscadela brincalhona.

Garota descarada. Agarrou-a pelos braços, puxou para cima e a


virou para que ficasse embaixo ele.

— Não há necessidade de esperar porque estou aqui, baby. —


Sua voz era tensa, rouca.

Deu-lhe um beijo com uma risadinha suave. Ele ouviu a gaveta se


abrir e ela levantou o pacote de preservativos. Tinha três.

— Posso fazer as honras desta vez? — Sussurrou contra sua boca


enquanto abria um. Incapaz de recusar rolou de costas. Ela levou o
seu tempo.

Quando não aguentou mais, a imobilizou. Empurrou suas coxas


com os joelhos lentamente e a penetrou, satisfeito quando o prazer
inundou seus traços, os olhos fechados, a cabeça inclinada para trás
quando ele começou a se mover. Concentrou-se em sua garganta nua
e a beijou, degustando até seu queixo para poder reclamar sua boca
novamente. Sua língua saiu para brincar imediatamente, tocando a
dele e Vincente soube então, que ter Nika assim o mudaria para
sempre.
— Baby?

O carinho tranquilo despertou Nika do torpor em que entrou.


Seus dedos acariciavam sua bochecha com o sentimento mais doce.
Ela levantou as pálpebras preguiçosas e sua boca esboçou um sorriso
de felicidade. Até que percebeu que Vincente estava sentado ao seu
lado na cama, completamente vestido. Sentou-se enquanto o medo
caía como um balde de água fria na boca de seu estômago.

— O que aconteceu? Está tudo bem?

— Shh. Está tudo bem. — Um sopro de fôlego de hortelã fluiu


sobre sua boca e foi seguido por seus lábios quentes. Ela soltou o
lençol que apertava contra seu peito e segurou as bochechas lisas de
Vincente. Ele tomou banho, se barbeou e tinha escovado os dentes?

Ela se inclinou para trás e olhou para fora. Ainda estava escuro.

— Onde você vai? — Mordeu o lábio no minuto em que as


palavras saíram. Será que estava autorizada a perguntar isso?

Se era assim ou não, não parecia importar. Porque ela tinha


certeza que ele não ouviu a pergunta. Estava muito ocupado olhando
avidamente para a parte superior de seu corpo nu.
Ela ofegou e um arrepio a percorreu quando passou a ponta dos
dedos pelo lado do seu seio esquerdo e o tocou tão levemente como
uma brisa.

— Linda. — Com um movimento de cabeça e um profundo


suspiro que parecia irritado, puxou o lençol até cobri-la. — Não posso
fazer com que minha boca funcione. — Explicou com um sorriso
irônico. — Você me perguntou onde eu ia.

Não havia censura em seu tom. Parecia mais querer lembrar a si


mesmo, que questionar o fato de que ela lhe pediu uma explicação do
porque iria sair.

— Gabriel chamou e preciso sair por um tempo. Faremos uma


limpeza. Alguns dos nossos rapazes acabam de pegar um distribuidor
que usava o nome da família para vender suas merdas. Não tenho
certeza se os Obsidian Devils o pegaram, mas as drogas não fazem
parte dos nossos negócios. Esta pode ser uma demolição brutal e G.
acha que temos que estar lá para cuidar disso pessoalmente. —
Dando-lhe um ardente olhar, fez com que sua pele sentisse um calor
como se a tivesse tocado. — Se não fosse uma situação incomum, nem
sequer permitiria que Gabriel me afastasse de você esta noite.

O coração de Nika inchou em seu peito com algo mais do que


apenas preocupação por ele. Levantando-se o beijou suavemente em
ambos os cantos da boca.

— Eu sei que sempre tem, mas por favor, tenha cuidado. Eu o


vejo quando voltar.
Uma luz estranha acendeu em seus olhos escuros. Apreciação,
talvez?

— Sim, irá. — Beijou-a mais uma vez e depois partiu, a deixando


engolindo o nó que subiu em sua garganta.

Ela se deixou cair nos travesseiros depois que a porta fechou e


abraçou o lençol em seu peito enquanto tentava identificar a sensação
que a invadia. Enquanto se acalmava e descia como uma pluma
flutuando, a absoluta certeza se tornava inegável. Estava apaixonada.

Pela primeira vez em sua vida, Nika estava loucamente


apaixonada por um homem. Não passou a noite com Vincente e deu-
lhe seu corpo e alma por causa de alguma atração cega que não tinha
nome.

Ela o amava.

Merda. Mordeu o interior da bochecha. Estava oficialmente no


meio de uma aventura com o vice-capo da família criminosa Moretti,
um homem que ameaçava as pessoas para ganhar a vida, quebrava e
até mesmo os matava quando era necessário.

Por que nada do que fazia em um dia comum a influenciava,


desligava...ou assustava? Como Vincente achou que deveria? Por que
ele pagava um preço quando fazia essas coisas. Podia ver em seus
olhos, a escuridão que ficava para trás.

Virou-se e se aconchegou em seu travesseiro. Supunha que isso


era o que o amor incondicional envolvia. Como Eva devia amar Gabriel
se considerasse quem ele era. Como uma mulher de sorte finalmente
se apaixonaria por Caleb. Não importava o que seus homens fizeram
no passado e não hesitariam em fazê-lo novamente no futuro. Eles
eram amados.

Nika não entrou em pânico por sua compreensão como pensava


que deveria. Na verdade, sentia alívio agora que sabia com o que
estava lidando. Como iria enfrentar, quando esta coisa entre ela e
Vincente terminasse na próxima semana, talvez no próximo mês? Não
pensaria nisso agora. Em vez disso, aceitaria o conselho de Eva e
viveria o momento. Desfrutaria deste momento, desfrutaria até o
último beijo que derretia os ossos.

E então faria o que qualquer mulher fazia quando um


relacionamento terminava. Seguiria adiante.

Fechou os olhos, repetiu a noite em sua mente. Quando


começava a adormecer, lembrou que prometeu a Eva a preparação de
uma nova rodada de entrevistas para amanhã de manhã.

Tristemente, sabia que muito em breve sua carreira seria tudo o


que teria.
Uma faixa luminosa de luz solar acordou Nika. Esticou-se
languidamente e congelou no meio do caminho quando notou sua
nudez. Seus olhos se arregalaram enquanto os acontecimentos da
noite passada voltavam à sua mente. Sorriu e se espreguiçou sentindo
uma rigidez pouco familiar... praticamente em quase todos os lugares.
Não era surpresa. Vincente a colocou em uma posição ou duas que
nunca soube que tinham um propósito além de fazer parte do jogo de
Twister.

Ela sentou e olhou ao redor. Já sabia pela uniformidade do


colchão que ele não voltou para a cama. Verificou seu telefone. Sete e
meia. Isso lhe dava um pouco de tempo. Levantou-se e tomou um
banho sem pressa. Talvez estivesse em casa e passou o tempo no
andar de baixo. Poderiam tomar o café da manhã juntos — pensou e
sentiu uma emoção infantil por compartilhar uma refeição de verdade
com ele.

Voltou para o quarto em apenas uma toalha, abriu a mala que


chegou ontem pela manhã e colocou uma calcinha branca de renda.
Depois, vestiu uma blusa de chiffon de alça, com largas faixas
brancas, um jeans capri e os novos saltos que não teve a chance de
usar ainda. Depois de pegar a escova, desfez os nós de seu cabelo
antes de secá-lo. Acrescentou um grande par de brincos e algumas
pulseiras, pegou seu telefone e em seguida, desceu a escada.
Não podia dizer que não ficou decepcionada quando encontrou
somente Eva na cozinha, mas era o segundo melhor encontro depois
de Vincente, então aceitaria. Sua melhor amiga estava sentada no
chão, com Charlie entre suas pernas, sussurrando e beijando a
pequena coisa.

— O que está fazendo com ele? Praticando sufocamento?

Eva levantou os olhos e deixou-se cair contra os armários de uma


maneira excessivamente dramática.

— Finalmente! Eu tenho certeza que você fez isto de propósito. —


Queixou-se.

— Fiz o quê? — Nika se abaixou para abraçar seu cachorrinho.

— Fez com que eu tivesse que esperar por mais detalhes! O que
aconteceu ontem à noite? Merda, quase morri quando Gabriel voltou
para o quarto cheio de sorrisos! Sorrindo, Nika! — Aprofundou sua
voz: — V. não me deixou entrar em seu quarto porque disse que Nika
não estava decente. — Voltou para sua voz normal e saltou para ficar
de pé e aplaudia como uma foca. — Por que não estava decente? Eu
tinha razão? Ele mentiu à respeito de não desejar você, não é?

— Você está louca... — Murmurou Nika e sorriu. — E sim, como


de costume, você tinha razão.

Recebeu um abraço emocionado de Eva, que depois pulava para


pegar dois pratos de uma pilha no fogão.

— Sente-se. — Abriu o forno e tirou alguns ovos mexidos de uma


frigideira funda. — Eu sabia. Não lhe disse? — Acrescentou tigelas de
fruta de uma bandeja ao seu lado e lhe passou um dos pratos com
garfo e faca.

Nika sentou em um dos bancos altos em frente à ilha de granito e


revirou os olhos quando viu que sua amiga com os hormônios
alterados, estava ficando sentimental. Colocou seu telefone ao seu
lado, com a tela virada para cima no caso de Vincente ligar.

— Oh, vamos, Eva. Não me olhe dessa maneira. É assustador.


Parece que está orgulhosa porque me fez estalar a cereja ou algo
assim.—Apontou o garfo em sua direção enquanto Eva comia.

— Viu? Isso demonstra como ele é bom para você. Não a ouvia
falar assim há mais de um ano. — Ficou de pé enquanto comia e
apunhalava um pedaço de melancia. — Estou tão feliz que as coisas
funcionem para...

Nika levantou uma mão e engoliu a fruta que mastigava. — Não


tão depressa, mulher. Isso foi somente sexo. — Mentirosa, sussurrou
sua mente. — Quer dizer, foi um bom sexo, mas ainda foi somente
sexo. Não significa nada. Vincente e eu deixamos bem claro antes de
começar.

Eva parou de mastigar e se limitou a olhar para ela.

— O quê? Mas por quê? Eu não consigo entender.

Na verdade, ela também não entendia.

— Eu realmente não quero falar sobre isso. Simplesmente eu não


sei, apenas quero aproveitar o sol. — Mas seu brilho se foi, percebeu
enquanto comia algumas uvas. Ela o queria de volta.
O que significava que precisava estar com Vincente novamente
para tê-lo de volta.

E assim nascia o círculo vicioso da dependência, pensou com


desânimo, enquanto aceitava uma xícara de café de sua amiga
abatida.

— Obrigada. Pensei que já teriam voltado a esta altura. Eles


fazem isso com frequência? Sair no meio da noite?

— Não quer falar sobre isso mesmo? — Eva soava triste.

— Não.

— Bom. Apenas quero que saiba que estou aqui.

— Eu sei.

— Bom, ok então, uh, não. — Os pés de Eva praticamente se


arrastaram enquanto se aproximava e tirava o leite da geladeira. —
Isto, de sair no meio da noite foi a primeira vez para mim também.
Gabriel ligou há algum tempo e disse que esperavam Maksim
identificar o líder de alguma gangue que traficava drogas sob o
sobrenome Moretti. Não me deu mais informação além dessa.

— Você sentiu medo quando acordou e ele lhe disse que tinha
que sair? — Segurou a xícara colocando leite nela, grata que tivessem
o tipo de amizade que não precisava de rodeios.

Eva encolheu os ombros quando entregou uma colher.


— Eu sentiria, se tivesse conseguido acordar. Lembro vagamente
que Gabriel saiu, mas estava feito um zumbi para captar o que
acontecia. Odeio dizer, mas estou feliz por isso. Sou um caso perdido e
não iria dormir o restante da noite. — Fez uma careta e bebeu seu
café. — Me senti extremamente culpada quando ligou e eu nem
sequer sabia onde ele estava.

Nika sorriu. Parece que todos tinham seus problemas.

— Vincente me disse que iriam fazer uma limpeza. Isso é bom.

Eva se aproximou e deixou o leite.

— Sim. Uma coisa muito boa. — Concordou quando se virou. —


Apenas espero que o processo seja rápido. — Suspirou e ambas
empurraram seus ovos ao redor de seus pratos. — Não importa o risco
ou em que lugar do mundo se encontre, todo mundo é igual, certo? O
poder e o dinheiro atraem os ambiciosos, e o desejo por ambos
geralmente os torna violentos, e às vezes mortais. — Partiu uma fatia
de pêssego e estendeu a mão livre para a prateleira de temperos de
Samnang alinhados com etiquetas. — É uma merda que tanto meu
marido, quanto meu pai, estejam no topo da cadeia alimentar em
nosso pequeno círculo. — Seu sorriso era tenso enquanto sua mão
tocava seu umbigo. — Tenho que admitir que Quan e Vincente dando
suporte à Gabriel ajuda. Alek e Maksim também. Vou me sentir ainda
melhor quando Jak chegar de Seattle. Ele era um SEAL da Marinha
dos Estados Unidos. Não é uma loucura?

Nika afastou o prato de lado e aproximou seu café da boca. Seu


apetite a abandonou. Sim, louco. Realmente estava contente que
Gabriel estivesse bem coberto, seguro, mas quem cuidaria das costas
de Vincente se precisasse?

Vincente estava fora da porta fechada, a ansiedade revirando


suas entranhas. Cansou de ouvir o homem lá dentro negar tudo, e
depois se desculpar. Isso o fez deixar a porra da sala. Estava andando
de um lado ao outro, porque o que realmente queria era ir para sua
casa!

O pensamento desesperado não o perturbou.

Bem, não deveria perturbar, já que o tinha a cada minuto e meio


durante as últimas cinco malditas horas. Nunca arrastou tanto seus
pés para sair do que quando acompanhou Gabriel e Quan para fora da
casa. Quan sorriu a maior parte do caminho para o Brooklyn. O
bastardo. G. sorriu um pouco, depois de lhe perguntar como ganhou o
hematoma em seu pescoço. Vincente carregava a marca de Nika com
muito orgulho.

Merda.

Arruinou a si mesmo ao tê-la. Realmente arruinou, porque agora


a desejava de novo.

E de novo e de novo, como ele sabia que aconteceria.


Merda. Merda.

Sua cabeça levantou, quando ouviu passos pesados vindos do


nível inferior do prédio comercial vazio em que se encontravam. Tocou
sua SIG, e a manteve pressionada em sua coxa, só relaxando quando
Gabriel, Quan e Maks apareceram. Finalmente.

— Porque você demorou tanto, Kirov? — Perguntou enquanto se


aproximavam. A escolha da camiseta do idiota nem sequer fez seus
lábios se contrairem: “Depilei minhas bolas para isto”?

Maks o olhou duramente.

— Deixe-me em paz, V. Não estou com humor para isso. Não tive
sexo em dias. Dias. Sim, você ouviu direito. A próxima coisa será não
dormir. E aquela pequena australiana se recusa a jogar pelas minhas
malditas regras. — Abriu a porta junto de Vincente e olhou para
dentro. — Sim. É esse.

—É bom ser o chefe da operação, não é, idiota? — Disse ao rapaz


quando levantou a Glock que Vincente nem sequer viu em sua mão e
disparou três vezes. Fechou a porta antes que o eco terminasse. — Por
que ela se faz de difícil? Quem mais faz isso? Acha que vai brincar
comigo? Acha que ela acredita que me afeta? Ou acha que é possível
que ela realmente não queira...?

Vincente o cortou.

— Não podia o ter identificado na maldita foto que te enviei por


mensagem e me poupar uma hora estando aqui com o dedo na minha
bunda?
— Estava desfocada. Não queríamos que um inocente morresse.
— Maks encolheu os ombros.

— De qualquer maneira, isso foi o que ela disse, com aquele


sotaque magnífico. “Passo.” Que caralho! — Negou com a cabeça e se
virou para o caminho por onde acabou de chegar. — Não entendi. Vou
para casa. — Disse por cima do ombro, parecendo claramente mal-
humorado antes de desaparecer na esquina novamente.

Quan respirou como se precisasse de oxigênio após o discurso.

— Eu poderia ter tirado outra! — Gritou Vincente.

Gabriel olhou para ele, a diversão à espreita em seus olhos verde


escuros.

— Ele tem razão. Tinha que ser uma identificação positiva. Não
conseguimos nenhuma informação dos traficantes do filho da puta.

Vincente não estava muito preocupado com os porquês.

— Sydney Martin bem que poderia ceder e se algemar em sua


cabeceira. Porque ele não vai desistir até que ela esteja lá.

— Não me diga.

O alívio o fez sentir-se bem quando finalmente se dirigiu para a


saída. Quase na caminhonete, parou Gabriel com um golpe em seu
braço.

— Dê-nos um minuto. — Disse a Quan, que assentiu e continuou


ficando ao volante do Escalade.
Gabriel o olhou curioso.

— O que há, V.?

— Eu queria me desculpar pela minha falta de entusiasmo ontem


de manhã. Estava asfixiado; não que seja uma desculpa. — Era o que
era e não tentava justificar suas ações. Chutou uma ponta de cigarro
suja. — Apenas quero que saiba que estou feliz por você e Eva. É
corajoso, homem. Mais corajoso do que eu.

O homem pegou sua mão estendida e o abraçou.

— Obrigado, V. Mas não se trata de ser corajoso. Trata-se de ser


determinado. Ninguém terá minha esposa e filho. Ninguém. Se eu tiver
que dar a minha vida para fazer disso uma realidade, estou mais do
que disposto a fazer isso.

Vincente assentiu, o amor e o respeito por Gabriel faziam seu


peito inchar.

— Nada acontecerá com você, meu irmão. Estará aqui para criar
seu filho ou filha, porque se alguém se atrever a tentar derrubá-lo,
terão que responder à mim muito antes de chegar perto de você.

Enquanto subiam na caminhonete e se dirigiam para a estrada,


as palavras de Gabriel ecoaram na mente de Vincente. Determinação.
Era tudo o que precisava para manter seus entes queridos à salvo? E
sobre a sua liberdade de escolha? Eva poderia ir ao escritório amanhã
e ser esfaqueada no ventre, na calçada ou em frente ao TarMor pelo
sócio do distribuidor que acabavam de matar. E então não haveria
esposa, nem criança. Como a determinação de Gabriel poderia ajudá-
la então? A menos que G. a prendesse e tirasse sua liberdade, a
chance de que alguém pudesse chegar até ela continuaria existindo.

Sim. E também poderiam ter um acidente no meio do caminho,


ao longo da estrada, na volta para casa e nunca chegarem lá.
Poderiam ser atingidos por um raio enquanto caminhavam pela
calçada para chegar à porta principal de casa. Poderia cair do degrau
mais alto e quebrar o pescoço, antes mesmo de chegar à Nika em seu
quarto.

Merda. A chance de que acontecesse algo estava lá. Toda a porra


do tempo. E Vincente tinha que achar uma maneira de viver com isso.

Antes de deixar a si mesmo e a todos ao seu redor,


completamente loucos.

Chegaram ao Old Westbury em tempo recorde. Vincente


despediu-se de Gabriel e Quan que ficou na garagem. Precisava esfriar
a cabeça antes de ver Nika. Não queria assustá-la com seu humor.

Puxou uma respiração profunda, relaxante e se apoiou em uma


impecável mesa de trabalho, puxando seu telefone. Enviou uma
mensagem para Caleb, perguntando se tinha alguma coisa nova sobre
Nollan. Os motoqueiros voltaram para Crown Heights ontem à noite.
Provavelmente assustaram os pesos pesados do bairro e deram a
impressão de que os Obsidian Devils estavam se movendo por lá.

Vincente sorriu, à espera de uma resposta e deu uma olhada


quando a porta que levava à casa se abriu. A respiração deixou seus
pulmões.

Nika estava lá com um top branco, que parecia mais um pijama


para caminhar por aí na frente dos outros, jeans capri, que deixavam
seus tornozelos descobertos e sandálias que levariam sua linda boca
para perto dele, como precisava nesse momento.

— Interrompo?

A voz musical quase fez com que seus olhos se fechassem. Negou
uma vez, enquanto se movia em direção à ela. Esticou a mão e a
puxou quando ela colocou a mão dela na sua.

Sem dizer uma palavra, a puxou para mais perto, assim estariam
escondidos atrás do Kombat se alguém a procurasse, e então a beijou.
Fez com que recuasse, a levantando contra a parede da garagem ao
mesmo tempo. Ela bateu na parede e fez com que uma linha de cabos
que estava pendurada ao lado deles, atingisse a placa. Ele rosnou
quando seus dedos fizeram um túnel através de seu cabelo, as pontas
se afundando em seu couro cabeludo.

— Bom dia. — Cumprimentou contra seus lábios, seu corpo


cantando quando se esfregou contra sua ereção.

— Bom dia. — Sussurrou ela. — Estou feliz que esteja em casa.


Um brilho iluminou algum lugar ao redor do seu coração, mas ele
o reprimiu.

— Eu também. — A levantou, colocando suas coxas ao redor dele


enquanto caminhava para a porta com as pernas fracas. Para o
inferno com a modéstia. Gabriel e Eva já tinham introduzido todo
mundo no que era viver com novos amantes.

Empurrou o aço pesado e depois apertou o botão para abaixar a


porta da garagem. Andou em linha reta para a escada, aumentando o
agarre em sua bunda quando sentiu seus lábios e depois seu hálito
quente ao redor da sua orelha.

— Temos que parar com isso. — Ele avisou asperamente e tentou


manter-se de pé depois que seu corpo oscilou com o prazer. — Caso
contrário, poderia foder...

— V.?

Ele endureceu e congelou como se ouvisse uma arma disparando.


Merda. Dupla merda quando Nika levantou a cabeça.

— Mais tarde, G. — Seguiu seu caminho e se assustou por dentro


por Gabriel insistir em falar com ele justamente nesse momento.

— Dê-me uma hora. — Disse ameaçadoramente.

A risada que ouviu fez com que seus músculos se aliviassem.

— Por certo, você está em merda séria Nika. — Gritou Gabriel ao


dobrar a esquina.
— Oh, porra. — A culpa de repente irradiou dela. — Eva enviou
uma mensagem para Gabriel para dizer que íamos dar uma volta na
sede do clube para ver Caleb. Eu deveria explicar...

— Eu explicarei por você. — Vincente rosnou. — Depois. Agora


somos você e eu.

Um sorriso lento apagou a tensão de suas feições.

— Mas Eva não deveria ter que lidar...

— Mais tarde. — Repetiu com rispidez.

— Está bem, está bem. Depois.

— Obrigado.

— Não. Obrigada você. — Sussurrou Nika.

Suas coxas se apertaram ao redor de sua cintura e ele tropeçou e


teve que se apoiar na maçaneta da porta.

— Não me agradeça ainda. — Fechou e trancou a porta do quarto


atrás deles.

Ela riu e ele foi direto para a cama. Abaixou com sua boca já
devorando a dela, à medida que tiravam a roupa um do outro. Sentiu
que ela tirou seus sapatos enquanto Vincente fazia o mesmo com suas
botas. Multitarefa em seu melhor momento. Sua camisa se foi e suas
mãos encontraram seus seios.

— Onde está seu sutiã? — Exigiu mesmo enquanto os apertava


com suas mãos e gemia quando seus mamilos ficaram duros.
— Minha blusa tem um bojo especial para sustentá-los. — Ela
puxou a barra de sua blusa e foi ao botão do zíper em sua calça.

Não queria liberar os preciosos seios, mas fez de qualquer


maneira, obrigando suas mãos a puxarem seu jeans e roupa íntima
através de suas longas pernas. Uma vez que estava nua, ele tirou a
camiseta sobre sua cabeça, e a jogou para trás antes de ir para a cama
novamente. Tinha as mãos em todos os lugares ao mesmo tempo,
deixando um rastro quente sobre sua pele enquanto a beijava. Desde
seu queixo até seu pescoço e sobre seus seios, parando para chupar
um desses pequenos picos. Pegou o outro, apalpou e os moldou em
sua mão. Seu corpo vibrou quando sentiu seus dedos se fecharem ao
redor do seu pau, a sensação o fazendo se esfregar contra ela,
querendo se tornar parte dela.

— Sua calça, Vincente.

Ele afastou a boca do seu seio, se levantou e tirou o jeans em


tempo recorde. Ainda de pé, segurou as panturrilhas de Nika e a
arrastou até a beirada da cama. Depois de pegar um travesseiro, o
coloco debaixo de seus quadris para levantá-la na sua frente. Isso fez
com que seus joelhos quase cedessem diante da visão que teve. Nika
tinha o cabelo espalhado ao redor de sua cabeça em uma massa
colorida, sua pele sedosa já molhada com uma leve camada de suor,
os olhos agora de uma sensual cor verde escura, cheios de desejo.
Estava pronta e esperava sua posse.

Ela assentiu com entusiasmo.


— Dê-me algo para agradecer. — Seus quadris se moveram em
um convite.

Um que gostou e aceitou.

Colocou um preservativo e segurou suas coxas, entrando nela


com uma profunda estocada, enterrando seu pau todo em sua boceta.
Ambos gemeram com a sensação de suas paredes internas se
agarrando em todo o seu comprimento. O segurando. Espremendo.

Ficar de pé era uma má ideia, percebendo que seu corpo tremia e


se dobrava. Tentou se distrair concentrando-se somente em Nika,
pensando no quão incrivelmente certo era estar enterrado dentro do
seu corpo. Passou uma mão pelo interior de sua coxa e moveu o
polegar sobre o clitóris. Viu como os tendões se esticavam em seu
pescoço com sua reação. Com a outra mão, empurrou sua outra
perna, a abrindo mais. Ela era muito flexível. Maravilhosa.

Os músculos de suas coxas tremeram como se ele tivesse


acabado de correr uma maratona, mas não pelo esforço físico. Não. A
fraqueza que experimentava era toda emocional. Sentimentos de culpa
o bombardeavam, de raiva, de vingança e de ansiedade por um lado e
pelo outro, desejo, proteção, possessividade, adoração e ternura.

— Você não vai a lugar nenhum desta vez, Vincente. Não... vá.
Fique comigo.

Ele olhou para cima de onde se uniam enquanto abaixava os


braços. Ela segurava os lençóis sobre sua cabeça. Agora passava suas
unhas em seu abdômen em direção à sua virilha enquanto entrava e
saía dela. Já o conhecia tão bem. Mas não iria a nenhum lugar.
Especialmente em sua cabeça. Estava tão longe neste momento que
era assustador.

— Apenas quero que dure para você, baby. Nada mais. — Disse
com os dentes apertados. Como poderia haver qualquer outra coisa?

— Não faça isso. Apenas dê-me o que você tem. — Os longos


dedos fizeram círculos ao redor de seus pulsos para firmá-los. Isso,
junto com os sons que ela fazia cada vez que seus quadris
empurravam para frente e a conexão que sentia ao certificar-se de
manter seu olhar, o fez se sentir humilde com o que recebia dela.

O que não poderia manter.

Seus olhos se fecharam, arqueando as costas de repente. O


movimento levantou seus seios e ela ficou rígida enquanto gozava. Os
músculos de seu núcleo se apertaram e afrouxaram ao redor de seu
pau e tirou todos os pensamentos de sua mente. Ele acelerou o ritmo,
incapaz de fazer qualquer outra coisa. Isso o fez unir-se à sua
liberação. Seu rugido de satisfação afogou seus gemidos de aprovação.

Gabriel estava apoiado na ilha de granito na cozinha e tomou um


gole de café enquanto observava sua esposa olhar os ovos pochê que
insistiu em fazer para ele. Ela se moveu e abaixou a alavanca da
torradeira antes de se virar para pegar um prato do armário.

— Markus ligou. — Disse ela bocejando. Isso o fez franzir a testa.


Ela dormiu como morta ontem à noite, mal se agitou quando saiu por
volta das três. Ou foi um ato de sua parte? Ficou acordada a noite
toda e se preocupou com ele, como acontecia ultimamente? Ou talvez
fosse normal ela estar tão cansada?

Observou enquanto pegava uma escumadeira da gaveta dos


talheres, seus olhos se movendo para a entrada, como se esperasse
que Samnang chegasse e gritasse com ela por se atrever a colocar um
dedo em sua cozinha. O cara provavelmente faria isso, mas da melhor
maneira possível.

Como pareceria quando sua gravidez começasse a se mostrar?


Iria se suavizar muito? Teria mais curvas? Manteria-se em forma?

Olhou para o teto e para fora através da claraboia e enviou outro


agradecimento. Como é que tinha tanta sorte?

— Sente-se.

Abaixou a cabeça para ver Eva de pé diante dele com seus ovos e
torradas em um prato. Olhou seus seios perfeitos, que estavam
cobertos por um bonito vestido preto que tinha margaridas.

Quanto peso ela ganharia?

— Você vê? — Disse ela, com os ombros cansados. — Eu


realmente acho que precisa tirar um cochilo. Quan fez isso.
Gabriel recusou e se virou para ir a um banquinho, a levando
junto e pegando seu vestido em um punho. Ele colocou o café da
manhã em sua frente, quando passou um braço ao redor da cintura de
Eva para atrai-la. Abaixou a mão até seu umbigo, deu um bom dia
silencioso ao seu pequeno menino ou menina.

— Não estou cansado, amor. Na verdade, me perguntava como


você vai parecer quando a barriga começar a aparecer.

Ela aproximou seu garfo e o fez sorrir.

— Pelo que li, ficarei redonda, inchada e rabugenta.

Ele riu enquanto o som de uma Harley retumbou ao lado dele.


Definitivamente não era seu toque, mas alcançou o telefone mesmo
assim.

— É o de Nika. — Eva riu. — Influência de Caleb, obviamente.


Deve tê-lo esquecido depois que nos separ...

Gabriel ficou de pé e empurrou seu banco para trás com tanta


força que este caiu ao seu lado. A imagem e mensagem que surgiram
na tela do telefone foi como um chute no estômago.

Estou cansado deste jogo. Eu quero você de volta agora


porra!

Era Kevin e a foto era de Caleb preso a uma cadeira espancado


quase até a morte.
— O que aconteceu? — Perguntou Eva enquanto ele a puxava
pelo pulso para fora da cozinha e a levava pelo corredor, a empurrando
suavemente para a escada.

— Suba e chame Vincente. Ele está em seu quarto com a Nika.


Agora! — Gritou quando ela abriu a boca. Encolheu-se quando sua
esposa grávida correu pela escada e em seguida correu para a porta do
porão e a abriu com força. — Maks! Venha aqui! — Voltou a olhar para
a foto de Caleb. Um olho estava tão inchado que já estava fechado, a
boca torcida, sangue seco debaixo do nariz e dos lábios. Porra! Como
diabos Nollan o pegou?

Em um momento, os sons de passos pesados vieram de cima e


anunciavam a chegada de V. O cara desceu pela escada de dois em
dois, colocando a camiseta sobre a cabeça enquanto chegava, o
primeiro botão de seu jeans ainda aberto.

— Que porr...

Gabriel levantou uma mão e balançou a cabeça. Vincente


claramente sabia que algo grande aconteceu para que ele tivesse esse
olhar. Do tipo que fazia arrepios na nuca de um homem quando o via.

Passos mais leves, mas não menos urgentes, chegaram segundos


mais tarde. Uma vez que Eva e Nika se uniram a eles, entregou o
telefone ao Ceifador. E recebeu a resposta exata que esperava.

Vincente olhou a mensagem e ficou imóvel como uma estátua.


Então olhou através do telefone, como se sua mente tivesse ido para
outro lugar, seu grande peito imóvel durante algumas batidas e em
seguida começou a bombear.
— Onde está Maks? Kirov! — Seu grito encheu o lobby e fez com
que Gabriel quisesse cobrir seus ouvidos.

— Vincente? Esse é o meu telefone. O que aconteceu?

Pelo tremor na voz de Nika, ela já sabia que era algo que não
queria ouvir.

Maks chegou ao lobby vindo do porão, arma na mão, dedo no


gatilho. As mulheres gritaram de medo e recuaram. Nika até mesmo
tropeçou na escada por trás deles e caiu de costas no terceiro degrau.

Ele abaixou a arma, o som da trava de segurança deslizando


soando alto no repentino silêncio. Maks olhou para Vincente.

— Não use a porra desse tom se ninguém estiver morrendo,


Romani.

— Esses acessórios, ao fundo, não parecem com os que estão no


edifício em Crown Heights? — Vincente empurrou o celular debaixo do
nariz de Maks.

Maks olhou para a foto e amaldiçoou, virando-se para Nika com


um olhar de simpatia.

— Ah merda, doçura. Sinto muito.

Nika se levantou de um salto.

— Por quê? O que aconteceu? O que está acontecendo aqui?

Vincente aproximou-se e pegou seu rosto em as mãos.


— Você precisa manter a calma e saber que isto acabará bem,
ok? — Passou um momento antes de que ela assentisse, com os olhos
arregalados. — Kevin pegou Caleb.

Ela agarrou os pulsos tatuados de V. como se precisasse de ajuda


para ficar de pé. Balançou a cabeça lentamente, piscou de repente,
parecendo como uma vítima de um acidente que tentava entender o
que acontecia ao seu redor.

— Não. Eva e eu ligamos, mas ele não nos retornou ainda... não.
Deve estar com alguma mulher em seu quarto, Vincente. Caleb vai
ligar... não. Não, é meu irmão... — Seu rosto se enrugou e os braços de
V. a envolveram para segurá-la enquanto assimilava o que estava
acontecendo.

Gabriel colocou seu braço ao redor dos ombros de Eva, odiando a


palidez dela. Segurou seu queixo e levantou sua cabeça quando não
sentiu sua respiração.

— Eva?! Ei. Vamos!

— Caleb está com esse... oh, Deus. — Sua boca formou as


palavras, mas não saiu nenhum som. Ela agarrou o tecido da sua
camisa e ele podia sentir seu corpo tremendo.

— Relaxe, amor. — Obrigou-se a soar confiante e mentiu com os


dentes apertados. — Vamos trazê-lo de volta. Ele ficará bem. Caleb
sabe como cuidar de si mesmo. Você precisa relaxar. Não está mais
sozinha. — Ela não relaxou e Vincente falou diretamente em seu rosto:
— Não há ninguém mais importante do que o pequeno dentro de
você, por isso vamos respirar, calma e lentamente... isso. Boa menina.
— Esfregou-lhe as costas enquanto a atraía e murmurou em seu
ouvido, sua voz tão calma quanto podia soar. — É isso. Estamos bem.

—Não, não estavam, — pensou com uma erupção vulcânica em


suas entranhas. Se Caleb não saísse com vida dessa, esta casa estaria
envolvida pela dor. Tinham que resolver isto.

— Você sabe onde eles estão? — Perguntou a Vincente enquanto


Charlie chegava correndo pelo corredor. Aproximou-se e pulou, como
se tentasse subir sobre Nika.

Maks respondeu enquanto V. se inclinava e pegava o cachorro.

— Do pouco que eu posso ver, parece que é o lugar que


estávamos vigiando. — Pegou seu telefone, mas antes que pudesse
ligar, Gabriel amaldiçoou.

— Abel disse que você havia deixado ele e Jerod ocupados com
um site de pornografia em um prédio desocupado. Era sobre isto que
falavam?

Maks o olhou como se dissesse: que merda você fez?

— Havia deixado?

— Peguei os dois ontem à noite para que viessem comigo e


Vincente. Disseram que chamariam outra pessoa para que os
cobrissem. — Enviou uma mensagem para Jerod enquanto falava,
pedindo que lhe dissesse quem foi substituí-los. — Porra Kirov, por
que não me deixou saber disso? — Olhou para o telefone quando
recebeu uma resposta. — Ok. Tricky e Danny O. Enviei uma
mensagem e não obtive resposta. Merda.

— Ouça, é minha culpa. Sério. Eu deveria ter avisado. Estava


distraído. — Pela primeira vez, Maksim parecia ser sincero. — Verei se
consigo uma visão do lugar de uma fonte externa. — Moveu-se
rapidamente.

Vincente falava calmamente com Nika. Ela assentia e acariciava


Charlie muito rápido, no mesmo lugar de suas costas. O cão não
parecia se importar.

— Mas o que podemos fazer agora? — Disse ela. — Quanto mais


tempo ele ficar com Kevin... não podemos deixá-lo lá, Vincente.

— Não faremos isso. Veremos o que Maks encontra na área e


depois nós mesmos iremos buscá-lo.

— Por que eu não ligo para Kevin? — Nika saiu dos braços de V. e
começou a caminhar. — Vou ligar e dizer que me encontrarei com ele.

— Não. — A resposta de Vincente foi imediata e firme, mas Nika


continuou falando:

— Nollan vai se encontrar comigo e vocês poderão tirar Caleb de


lá. — Parou de caminhar e olhou de V. para Gabriel. — Gabriel? Não é
uma boa ideia? É fácil, certo?

Ela parecia tão desesperada que ele quis concordar, mas não
pôde.
— Nunca é fácil, Nika — disse Gabriel. — Não quando se trata de
um cara como Nollan. E se o lugar estiver cheio de armas ou fizer
alguma coisa com Caleb antes de sair?

— Mas sou eu quem ele quer! — Sua voz era estridente com sua
insistência. — Eu o conheço. Não pensará em Caleb depois que eu
concordar em ir com ele.

— Não, você não irá, Ruiva. Então tire essa porra de pensamento
da sua cabeça. — O tom de Vincente não admitia discussão.

Ela levantou os olhos para ele quando apareceu diante dela.


Depois se virou para Gabriel e Eva e murchou.

— Tudo bem. — Disse, seu tom duro ao invés de derrotado. —


Então por favor, desçam e vejam o que está levando tanto tempo de
Maksim para poder chegarmos lá.

Gabriel observou a ruiva de perto antes de passar para sua


esposa.

— Vocês ficarão bem por um minuto?

Eva assentiu e endireitou-se, lhe dando uma visão clara da força


interior que ele tanto amava.

— Sim. Vá. Eu me encarrego ela. Vincente. Vá. — Foi segurar a


mão de Nika, mas sua amiga hesitou.

Os dois se olharam por um momento e em seguida Nika ficou na


ponta dos pés e o beijou.
— Obrigada.

V. abriu a boca para responder, mas Nika já lhe dava as costas e


era guiada por Eva para a sala de estar. Instalaram-se juntas no sofá,
com Charlie entre elas. Vincente parecia dividido entre ficar e ir.

— Voltarei e diremos o que encontramos. — Ofereceu Gabriel.

Vincente negou.

— Não. Eu vou. Precisamos parar esse bastardo de uma vez por


todas.

Desceram para o comando central com Gabriel que rezava para


que isso ainda fosse possível. Na verdade, quem sabia quando essa
foto foi tirada?

Por tudo o que sabiam, o irmão de Nika já estava morto.


Gabriel e Vincente se dirigiram para a escada do porão enquanto
uma ideia passava pela mente de Nika. Kevin tinha seu irmão. Mataria
Caleb se não conseguisse o que queria: ela. Resposta simples?
Entregar-se. Mas ninguém a ajudaria a fazer isso. Como de costume,
teria que fazer isso sozinha. Sacrificou quase todo um ano de sua vida
por seu irmão e agora parecia que teria que fazê-lo mais uma vez. Iria
se encontrar com Kevin e afastar Caleb dele, antes que esse bastardo
pudesse machucá-lo ainda mais do que provavelmente já fez.

Ela sabia do que Vincente, Gabriel e o restante da equipe eram


capazes. Mas não confiava que fariam todo o possível para salvar
Caleb da maneira que ela faria. Se eles tivessem a opção de matar
Kevin ou de salvar a vida de Caleb, mesmo se isso significasse deixar
Kevin ir, não acreditava que Caleb ganhasse essa competição.

Ela viu a reação de Vincente às suas lesões pelas mãos de Kevin.

Sua mente continuava refletindo, saltando através de ideias e


cenários, a maioria das quais não funcionavam. Parou e examinou
uma. Podia pegar o carro de Eva. Tinha um sensor instalado que
permitia que as portas da frente se abrissem. Podia ligar para Kevin da
estrada e dizer que a encontrasse fora de onde quer que tivesse seu
irmão. Depois, poderia esgueirar-se e entrar por uma porta traseira,
libertar Caleb e sair à tempo de que Vincente e Gabriel chegassem para
fazer seu trabalho... matar seu marido. Eva murmurava à respeito de
um acessório que Gabriel deu junto com seu carro novo no outro dia.
Tinha perguntado quão estranho era que um marido desse de presente
para sua esposa uma pistola e que depois lhe dissesse que a colocasse
em seu porta-luvas. Ela rezava para que nunca tivesse que usá-la. Nika
poderia usar. Se Kevin se aproximasse dela, poderia usar essa arma.
Ela impressionou Caleb durante anos com sua excelente pontaria. Bom.
Isso poderia funcionar.

Tinha que funcionar. Esta poderia ser sua única chance de acabar
com isto. Dar fim à Kevin. Porque se não estivesse morto, não iria
libertar-se dele nunca. Algo profundo dentro dela escureceu. Depois que
seu irmão estivesse livre, poderia ir para frente desse prédio e
encontrar-se com seu marido como estava previsto. Usaria essa pistola e
faria com que Kevin nunca mais pudesse machucar ninguém.

Ela merecia ser quem faria isso.

Apenas alguns segundos se passaram desde que ela e Eva os


deixaram. Sentia-se estranhamente calma e resolvida com seu papel.
Observou Vincente e Gabriel desaparecerem pela escada. Colocou
Charlie no chão e pegou seu telefone da cintura de seu jeans, onde
escondeu depois de roubá-lo do bolso traseiro da calça de Vincente.
Quando o ligou, um som estrangulado escapou de sua garganta pelo
que viu. A mensagem de Kevin exigia sua volta e havia uma foto de
Caleb...

Sua resolução se consolidou. Se Kevin matasse seu irmão, tudo


pelo que passou no ano anterior teria sido por nada. Não podia
permitir isso. Não o faria. Cada minuto contava e Vincente e Gabriel
desperdiçavam este tempo. Quando era deixado sem resposta, Kevin
se tornava ainda mais perigoso. Ela sabia melhor do que ninguém!
Também sabia que podia se distrair machucando Caleb... por sua
fixação com ela.

O suspiro de Eva mostrou que ela também viu a foto de Caleb.

— Oh, meu Deus. — Sua pele adquiriu uma tonalidade verde e


deu uma ideia à Nika.

— Eu me sinto mal. — Sussurrou e forçou a voz para soar fraca


enquanto olhava para o bar do outro lado da sala. — Você poderia me
trazer um pouco de leite? — Qualquer outra coisa que pedisse
provavelmente estaria atrás dessa coisa de mogno. — Por favor? O
ácido em meu estômago está subindo pela minha garganta.

— Sim, é claro. Você ficará bem se eu deixá-la por um segundo?


Quer vir para a cozinha? Ou é melhor eu lhe trazer aqui?

— Aqui por favor. Estou bem aqui. Ficarei bem.

— Tudo bem, querida. Eu já volto. — Levantou-se e quase


tropeçou em Charlie enquanto ele a seguia para fora.

Nika contou até cinco, então se levantou e foi para a porta que
levava à garagem. Estava descalça percebeu, mas não se importou
enquanto puxava a coisa pesada para abrir e agarrava a chave debaixo
do painel ao lado do interruptor de luz. Sabia que havia câmeras por
todos os lugares da casa e nos jardins. O mais provável é que os
homens a vissem, então subiu a porta da garagem e tirou o Mercedes
imediatamente. Esperava que os homens estivessem tentando localizar
o armazém onde Kevin estava e que não olhassem para as câmeras de
segurança muito de perto. Relutando correr esse risco, abriu a porta
do carro e se acomodou o mais rápido que pôde. Colocou a chave no
contato e a girou.

Não tinha passado mês após mês sendo tratada como um


cachorro, sangrando, sofrendo com os golpes, chutes e ossos
quebrados, só para perder seu irmão de qualquer maneira. Poderia
muito bem ter deixado Kevin mandá-lo para a cadeia. Pelo menos
estaria vivo.

Quando a porta da garagem finalmente se abriu, Nika apertou o


acelerador e voou para fora, rezando para que Maksim não tivesse a
opção de bloquear o sensor que abriria o portão da frente. Ou que se
tivesse, que não houvesse tempo suficiente para ativá-lo antes que ela
passasse por ele.

Menos de um minuto depois, freou a poderosa máquina e a


enorme porta se abriu suave e facilmente.

Nika cruzou-a e saiu para a estrada. Inclinou-se e abriu o porta-


luvas para tirar uma arma muito compacta que colocou em seu colo.
Caleb elogiaria o gosto de Gabriel, — pensou com a garganta dolorida
pelas lágrimas contidas. Pegou seu telefone do banco do passageiro
onde o jogou e moveu por seus contatos com mão trêmula.

Isto teria que funcionar.


— Que porra?

Vincente parou de observar o que sabia que eram dois corpos


separados a cerca de dez metros em frente ao prédio onde Caleb estava
sendo mantido. Maks, que olhava uma tela diferente, começou a
digitar furiosamente em um teclado que estava no final da mesa.
Vincente olhou para a imagem que causou seu pânico e viu um dos
espaços vazio na garagem.

— Sua ruiva acaba de levar o carro de Eva!

Merda! Os olhos de Gabriel e os dele foram para a porta da frente.

— O que você está fazendo? — Vincente vociferou.

— Tentando anular o sistema para que ela não possa sair.

Jesus Cristo.

Observaram o poderoso E63 AMG na estrada, quase ouvindo o


rugido do motor do Mercedes junto com o tamborilar de Maks.

— Vamos, Maks. — Murmurou com força.

As portas começaram a abrir e um teclado voou justamente


quando Eva entrou na sala.

— Ela se foi! — Exclamou.


O que ela disse depois se perdeu, enquanto Vincente subia a
escada velozmente. Correu até seu quarto, terminou de se vestir e se
armou até a porra dos dentes em tempo recorde. Entrou na garagem
enquanto Maks aparecia. Estava prestes a saltar no volante de sua
caminhonete, mas foi empurrado para o lado.

— Lado do passageiro. — Ordenou-lhe o russo e colocou seu rifle


de franco-atirador Chey Tac atrás do assento.

Vincente sabia que era inútil discutir, então virou-se e subiu


enquanto Gabriel e Quan subiam na parte de trás.

— Eva entrará em contato com seu pai. Nós vamos encontrá-lo lá


para a limpeza. — Merda. Pelos silvos que soavam atrás dele, Vincente
percebeu que Gabriel estava ao telefone. — Ouça. Esqueci de
perguntar, Yuri está na cidade? Bom. Eva verá se Tegan pode chegar
lá também, já que está no trabalho e perto.

A ideia de que Nika pudesse precisar dos médicos novamente, fez


com que o lábio de Vincente se levantasse. Fazia um tremendo esforço
para manter suas emoções sob controle. Se deixasse que tomassem
conta, estaria aniquilado. Embora, faria uma exceção com sua raiva.
Deu boas-vindas à essa cadela, dando permissão para que o
atravessasse como um F-5 e queimasse qualquer suavidade que
alguma vez houve dentro dele.

Como Sophia, Nika desapareceu. Só que esta o deixou por opção.


E sabia o que a esperava. Notou quando colocava as botas que seu
telefone desapareceu de seu bolso de trás. Foi por isso que o beijou e
agradeceu antes de ir com Eva. Entendeu agora. Ela dizia adeus.
Por que estava fazendo isto? Ele sabia lidar com homens como
Kevin Nollan. Fazia isso todos os dias. No entanto, ela os enganou e foi
enfrentar esse monstro por conta própria.

A única coisa que a salvava de sua raiva, era que Vincente a


entendia. Ele teria feito o mesmo.

Ouviu Gabriel dar à Vasily o endereço de seu destino antes de


desligar.

— Levarão a ambulância privada de Vasily para o caso de Paynne


precisar dela.

Ele não respondeu. Sabia que todos pensavam que provavelmente


era que Nika quem precisaria mais. Sua visão parecia um túnel.
Concentrava-se em nada mais do que o vazio trecho de estrada diante
deles enquanto o Kombat ultrapassava os quilômetros.

— Mova-se mais rápido. — Suas palavras saíram frias como o


gelo, com zero emoção. Já estavam mortas. Como ele.

— Não queremos os policiais na nossa bunda, V. E não queremos


nos matar. Não ajudará nada se batermos. — Maksim estava calmo e
controlado, mas por diferentes razões. Ele estava concentrado.

Já Vincente acabava de morrer.

— Talvez seja muito tarde. — Murmurou, uma imagem de Nika


quebrada e morta passando por sua mente. E ficou lá. A luz de seus
olhos apagadas pelo homem que Vincente não conseguiu encontrar.
Gabriel inclinou-se de seu banco na parte de trás e o som do
clique de uma arma disse a todo mundo que Quan estava preparado.

— Estamos apenas a alguns minutos atrás dela irmão. E


sabemos para onde vamos. Poderíamos até chegar antes dela. Ficará
bem.

Palavras vazias.

Peito vazio.

Cabeça vazia.

— Leva apenas um segundo. — Sussurrou baixo demais para que


alguém pudesse ouvir.

Lore abandonou a estação sem se preocupar em chamar reforços.


Sua ideia era ir diretamente para casa e concluir o relatório sobre o
grande nada que foi obrigado a encontrar de manhã. Se arrastasse
uma equipe com ele agora, teria que voltar para a delegacia de polícia.
E prometeu a seus irmãos que se reuniria com eles no restaurante de
sua família para o almoço. Cancelou com muita frequência
ultimamente. Ashlyn, que acabou de fazer vinte e cinco anos na
semana passada, estaria decepcionada se fizesse isso novamente.
Michael, que tinha vinte e oito, iria entendê-lo. Lore faria trinta e três
no final do mês e ainda não era um grande fã em decepcionar seus
pais, que também estavam o esperando.

Além disso, era muito fácil chamar reforços no caso de precisar


deles, o que não achava que aconteceria. Não do jeito que ia este caso.
Que não melhorou mesmo agora que os federais estavam envolvidos.
Seu assassino de ruivas ainda estava solto. Como o rapaz que drogava
jovens mulheres para poder filmá-las sendo estupradas e vendiam
essa merda como pornô.

Lore tomou um antiácido enquanto saía da área de


estacionamento e se dirigia para Crown Heights. O caso das ruivas era
um dos que continuava em sua mente. Apesar de ter sido retirado
oficialmente dele, tinha um companheiro infiltrado que lhe dizia para
onde iam. E cada pista que conseguiram deu em nada. A última delas,
ao que parece, de um cara que dizia ter visto inumeras mulheres
sendo levadas para tirar fotografias contra sua vontade. O choro agudo
e os gritos o acordaram várias vezes de um sono profundo. Uma
equipe cercou a suposta casa em Bushwick em questão de horas e
entraram em silêncio, mas de maneira agressiva... e encontraram um
estúdio para fotos de bebês. O maldito vizinho não gostava de ouvir as
crianças chorarem quando estavam cansadas de posar, e queria fechar
o lugar. Estúpido.

Estendeu a mão e ligou o rádio. Tinha que colocar sua cabeça


em seu próprio caso. Recebeu uma ligação de um cidadão que disse
ter visto luzes brilhantes em um prédio que não era mais usado. O
prédio estava em uma área adequada para uma operação ilegal.
Esperava que este fosse o golpe de sorte que estava precisando.
Lore pisou no acelerador e desejou ter mais homens. Faria seu
trabalho muito mais fácil se houvessem lá fora alguns parecidos com
ele, que decidiam viver com intensidade e determinação em eliminar
esses bastardos doentes.

Nika checou seus espelhos pela enésima vez enquanto


atravessava a estrada no Mercedes de Eva. A culpa perfurava um
buraco no seu coração. Como podia estar com Vincente quando Caleb
estava lá com Kevin? Deveria saber que algo estava errado quando não
respondeu sua mensagem e depois novamente, quando não atendeu a
ligação de Eva. Mas apenas encolheu os ombros e pensou que ele
estava ocupado com sexo.

Suas mãos tremeram quando apertou o número de Kevin


novamente. Ele estava fazia isso de propósito. Sabia disso. Não
responder suas ligações. Deixar que ela se inquietasse.

— Você não desiste, hein, escrava? Imaginei que algo assim a


tiraria da cama daquele bastardo.

A voz de Kevin no Bluetooth que sincronizou a fim de não se


matar, fez Nika engolir a bílis que subiu por sua garganta. O som era
muito pior do que o filme de terror mais assustador.
Ela ignorou suas palavras.

— Por favor, não o machuque Kevin. — Pedir nunca funcionou


antes, mas tentou mesmo assim. — Por favor, não faça isso. Ele nunca
lhe fez nada. Isto é minha culpa, não dele.

— Não é verdade. Mas isso está no passado. Agora é tudo sobre


você. — Uma calma assustadora com a qual não estava familiarizada
encheu sua voz. — E você consertará isto. Não é verdade, Niki?

Por que ele não estava furioso? Ou a amaldiçoava? Insultava?

— Sim. Vou corrigir. Por favor, me diga onde está. Podemos nos
ver e esquecer de Caleb. Ok?

Houve uma pausa, e ela sentiu um arrepio.

— Você fala sério sobre essa oferta? — Ele parecia um menino


que acabou de ver um caminhão de brinquedo brilhante pendurado
diante dele.

— Sim...

— Não se atreva, Nika!

Ela abafou um soluço ao som do furioso grito de seu irmão ao


fundo.

— Sim! Sim, Kevin, estou! Falo sério. Onde você está? — Estou a
caminho neste momento. Já estou no carro. Dê-me o endereço, para
poder colocar no meu telefone. Estarei aí o mais rápido que puder.
Apenas prometa que me encontrará do lado de fora e se esquecerá
dele.

— Nik! Fique bem longe... — O aviso de Caleb foi cortado,


substituído por um uivo de dor que Nika sentiu diretamente através do
seu coração.

— Kevin! — Gritou e desviou o carro enquanto se aproximava da


histeria. — Não! O que você está fazendo? Páre! Vou para lá agora
mesmo! Como encontro você? Por favor, deixe-o em paz!

— Como saberei se você não trará esse cão de guarda com você,
cadela suja? Como pôde, porra...?

Interrompeu-o, com medo de que levasse toda sua raiva para


Caleb.

— Estou sozinha. Juro por Deus, estou sozinha. Sou mais


esperta que isso.

— Melhor assim. Porque se alguém vier que não seja você, a


próxima vez que afundar esta faca em seu irmão, será em seu peito.
Entendeu?

— E-e-eu juro. Eu juro, s-sou apenas e-e-eu.

Ele deu o endereço e ela entrou no Google Maps sem perder a


ligação. Demorou um minuto para fazer isso e desviar dos carros de
ambos os lados dela. Mas finalmente viu a haste da bandeira vermelha
que a levaria para Caleb.
Ao mesmo tempo, Kevin murmurava: — Você foi uma pequena
escrava má, não é assim, Niki? Mas cuidarei de você. Verá. Tentarei
ser bom. Eu prometo. Está bem? Prometo. Tenho grandes planos para
nós. Basta esperar para colocar suas mãos sobre...

— Tudo bem. — Interrompeu sem se permitir assimilar qualquer


coisa do que ele dizia. — Devo chegar aí em dezesseis minutos. Me
encontre do lado de fora, assim saberei que estou no lugar certo, ok?
Está bem, Kevin?

— Nos vemos em dezesseis minutos, escrava.

Houve um clique e depois o silêncio. Nika ficou sozinha com seus


pensamentos novamente. Mordeu seus lábios e tentou não chorar.
Queria que ele entregasse o telefone para Caleb, para poder dizer a seu
irmão que o amava e o quanto lamentava que isto estivesse
acontecendo.

Mas diria em breve. E então destruiria esse monstro que fez isto
com eles. Ela e seu irmão não seriam mais uma estatística.

— Por favor, Deus. — Implorou em um último esforço para ser


ouvida. — Deixe-me libertar o Caleb. Sei que não somos suas pessoas
favoritas, mas por favor, nos ajude a passar por isso.

—Deus? Continuou silenciosamente. Se por alguma razão isto se


voltar contra mim, por favor, ajude o Vincente.

— Por favor, o ajude. — Expressou em voz alta seu pedido em


nome de Vincente para garantir que a ouvisse. — Não sei por que não
me ajudou, mas por favor, o ajude. Já sofreu o suficiente. Eu o amo
tanto, Deus. Estou tão apaixonada por ele e nunca lhe disse isso. Por
que não disse? Sophia? Se puder me ouvir, por favor, ajude seu irmão.
Diga de algum jeito, que isto e a sua morte, não foram culpa dele.

Calou-se e tossiu para liberar o aperto em sua garganta. Caralho.


O estresse estava a afetando claramente. Estava falando consigo
mesma, com esperança de que os mortos pudessem ouvi-la.

Ouviria Vincente na próxima hora? Se tudo isto desse errado, veria


como reagia quando chegasse muito tarde para salvá-la? Pensar nisso
apenas a deixou ainda mais determinada. Tinha que ser inteligente e
cuidadosa. — Merda, desejou poder lhe pedir desculpas por ter
escolhido salvar Caleb ao invés de ouvi-lo. Por querer mais que seu
irmão vivesse do que queria Vincente livre da culpa.

Mas todo o ano passado foi por seu irmão. Tudo o que passou, foi
por ele. Como poderia não seguir em frente agora, quando mais
importava?

Vincente choraria se falhassem? Sabia que faria, mas seria como


um amigo chorando por outro? Ou como um amante que chorava a
perda de sua outra metade?

Como ela choraria se as coisas fossem ao contrário. Se Deus


quiser, isso terminaria antes que os homens chegassem. Não poderia
seguir adiante, se Kevin machucasse Vincente. Ou Gabriel. Como
poderia viver sabendo que era a responsável por levar o marido de Eva,
o pai de seu bebê para longe dela?

Engoliu um soluço. Eva. Sua irmã. Futura mãe.


— Por favor, me deixe conhecer esse bebê, Deus. Conversarei com
seu homem... com o padre Michael, como Eva queria que eu fizesse.
Prometo que o verei a cada semana e o deixarei me convencer de que
não terminou para mim. Apenas me ajude a fazer isto direito.

E assim continuou durante os próximos dezesseis minutos. Nika


pedia a uma divindade que não tinha certeza de que se importava, que
a ajudasse em tudo o que pudesse. Quando estava a meia quadra da
pequena bandeira vermelha em seu GPS, parou o carro de Eva junto à
calçada na frente de um armazém de tijolos vermelhos, que parecia
que ia desmoronar com qualquer rajada de vento. Desligou o motor e
guardou a chave. Depois de revisar a arma para garantir que estivesse
carregada como Caleb lhe ensinou tantas vezes, a colocou na parte de
trás da calça, com a blusa sobre ela e desceu do carro. Olhou para a
rua deserta. Como podia qualquer rua de Nova York estar tão vazia ao
meio-dia? Normalmente haveriam muitas pessoas, mesmo as sem-teto,
espalhadas por todos os lados. Hoje não.

Ela sentiu isso como um presságio. Não haveria testemunhas


para vê-la atirando contra seu marido.

Caminhando através de um beco, sentiu a sujeira e quem sabe


mais o quê sob seus pés descalços. Levantou a cabeça e quase gritou
ao ver Kevin a menos de vinte metros de distância. Estava dando
voltas na frente de um grande prédio antigo que tinha uma porta
grande o suficiente para que coubesse um avião. Vigiava de perto uma
entrada menor que estava aberta com algo que não podia ver.

Correndo rápido, voltou por onde veio, e atravessou a pista


rapidamente. Continuou andando a meia quadra até chegar à rua
novamente, passando junto de três pessoas que mal a olharam.
Retrocedeu, chegou em uma cerca de arame e teve que correr ao longo
dela outros vinte metros antes de encontrar uma abertura para entrar.
Muitas coisas cortaram as solas de seus pés. Tampas de garrafas,
pedras, pedaços de tijolo quebrado, mas mal sentiu a dor, a
adrenalina correndo por suas veias. Chegou ao lado do prédio de
frente ao que Kevin estava sem fôlego. Tentou abrir a primeira porta, e
esperou vê-lo virar a esquina. Fechada. Amaldiçoou, movendo-se ao
longo da parede de tijolos e quase tropeçou quando viu uma porta que
estava aberta. Parecia mais uma rachadura na parede. Abriu o
suficiente para entrar, e seus pés sentiram o frio enquanto pisava em
um vasto espaço cheio do que pareciam ser caixas de transporte.
Piscou para ajustar sua visão à repentina escuridão e tentou fazer com
que sua respiração ficasse sob controle. O cheiro ruim de tabaco
rançoso lhe revirou o estômago enquanto puxava a arma de Eva.

Segurou-a na frente dela e avançou lentamente ao longo do


corredor das enormes caixas. Queria poder dizer em voz alta o nome
de Caleb para poder ter uma noção de qual direção tomar, mas não se
atreveu com medo de que Kevin a ouvisse.

Chegou a uma área aberta, parou e olhou com cuidado ao redor


da caixa...

Nika mal conseguiu evitar cair de joelhos em negação com o que


viu. Caleb estava do outro lado, com os braços e as pernas amarrados
em uma cadeira de metal, com um pano sujo na boca, e com o rosto
ferido. Mas foi o sangue fresco que pingava de seus olhos que fez com
que a fúria percorresse seu sangue. Kevin passou a navalha em uma
linha reta da linha do cabelo de Caleb à parte superior de sua
sobrancelha direita.

Nika cambaleou para frente, se enroscando nos cabos e


acessórios de iluminação, e caiu diante de seu irmão.

— Oh meu Deus, Caleb. Sinto muito. — Sussurrou. Colocou a


pistola na cintura e foi diretamente para as amarras em suas mãos,
percebendo muito tarde que deveria ter trazido uma faca. Caleb negou
violentamente, os olhos selvagens enquanto tentava falar ao redor da
mordaça. — Lamento ele ter feito isso com você. Eu te amo, ok? Vou
tirar você da...

Nika mal percebeu a familiar sensação de ser pega por um dos


lados de sua cabeça antes que voasse pelo chão sujo, batendo contra
os cabos de couro e aterrisando contra a lateral de um dos enormes
contêineres.

Kevin estava ali.

— Maldita mentirosa, prostituta suja. Como se eu não soubesse o


que planejava. Não sabe o quanto a conheço? Não aprendeu nada
comigo?

Ela ficou de pé e puxou a arma de Eva. Mas antes que pudesse


apontar, Kevin bateu com o dorso de sua mão e a tirou de seu
controle. Tentou ir atrás dela, sabendo que era sua única chance, mas
novamente Kevin chegou primeiro. Envolveu seu braço ao redor de sua
cintura e a levantou sobre seus pés a jogando, ao estilo luta livre,
contra o chão de concreto. Nika bateu tão forte as costas que seus
pulmões se esvaziaram pelo impacto. Sua cabeça bateu e
imediatamente um calor se estendeu por todo seu crânio lhe dizendo
que seu couro cabeludo recém curado não acabou bem.

Ouviu o grito abafado de Caleb pela crueldade, e conseguiu


passar pelo insistente assobio em seus ouvidos limpando sua visão o
suficiente para ver o malvado rosto de seu marido a olhando. Tentou
se obrigar a relaxar para que o ar pudesse encher seus pulmões.

— Farei com que me veja matá-lo agora, Niki. — Kevin debochou,


o golpe de seu anel na noite em que lutaram no hotel, era agora uma
nova cicatriz em sua bochecha. — Ele vai desejar ter sido mais gentil
comigo em Seattle. Deveria ter me deixado entrar no clube.
Poderíamos ter sido irmãos e eu não teria feito isto. Mas não somos e
será você quem pagará. — Ele caiu de repente sobre seu estômago, a
fazendo lutar com mais força para inalar um pouco de oxigênio. Um
golpe duro partiu seu lábio. — Cadela má. — Zombou ele, quando ela
sentiu o gosto de sangue.

A raiva que sentiu era tão grande, que de repente, fez com que
um fluxo constante de ar inflasse os pulmões de Nika e ela tossiu. Pelo
olhar que viu em seus olhos, não tinha certeza se Kevin tinha controle
suficiente para deixá-la viver. Para seguir adiante com sua ameaça de
matar seu irmão diante dela. O mais provável é que fosse o contrário.
Mas não deixaria que Caleb a visse morrer dessa maneira. E se negava
categoricamente a deixá-lo à mercê de Kevin quando tivesse ido.

Levantou o braço e deu o que pareceu com um fraco gancho de


direita no queixo de Kevin. Deve ter sido mais forte do que pensou
porque sua cabeça virou para o lado. Mas ele voltou a cabeça para ela
com um movimento aterrorizante, parecendo não ter sido afetado. Isso
a fez gritar. O estridente som parou, no entanto, quando ele bateu seu
punho em um lado de sua cabeça, e depois do outro, e assim
sucessivamente. Por causa disso ela virava a cabeça de lado a lado e
esticava o pescoço pela força de seus golpes.

— Não! Pare! Porra, matarei você, filho da puta! Pare! — Caleb


deve ter tirado a mordaça, pensou enquanto a escuridão a engolia,
suas palavras soando compreensíveis. — Jesus Cristo... pare!

Kevin parou e deu uma olhada. Nika tentou fazer o mesmo, mas
não pôde. Estava muito machucada. Sua cabeça era uma massa de
dor difusa. Seus ouvidos trovejavam. Seu pescoço doía.

— Por favor, Kevin, simplesmente...pegue-me. Deixe-o... em paz.


Por favor. — Arrastou as palavras como uma bêbada, mas deve ter
conseguido transmitir a ideia porque Caleb gritou.

— Nik! Fecha a porra da boca!

Kevin virou-se para ela, os olhos mais selvagens do que jamais


tinha visto.

— Por que quer que eu o deixe em paz? Está ansiosa pelo que
vem para você, puta da máfia? Eu senti falta disto. — Aproximou-se.
— Eu matei você, sabe. Uma e outra vez. Cinco vezes desde que me
deixou, eu a matei.

Ignorando-o, Nika finalmente virou a cabeça e viu que a cadeira


de Caleb caiu de lado com sua luta. Estavam frente a frente a uns
cinco metros de distância.
— Você veio aqui... então lute, Nik. — Seu irmão disse com voz
rouca. — Lute mais duro, porra!

A ordem perfurou seu cérebro e impulsionou uma reserva final de


energia através dela. Ela veio aqui e sabia o que enfrentaria. Podia
fazer melhor do que isto.

Com um movimento que Caleb lhe ensinou anos atrás, que


deveria ter sido mais rápido, mas que funcionou de qualquer maneira,
subiu sua perna e a envolveu ao redor do pescoço de Kevin. Puxou
com força de modo que ele caiu para trás, de cabeça e bateu em um
tripé de metal que caiu quando foi derrubado. Ele gemeu e ficou
atordoado, mas não inconsciente.

Sem hesitar, sabendo que não tinha muito tempo, ela se


arrastou,e moveu-se para a arma de Eva. Olhou para seu irmão, mas
teve que afastar os olhos da devastação em seu rosto enquanto pegava
o metal frio. Limpou o sangue que pingava pelo queixo e escorria do
seu nariz e se virou, com a arma na frente dela. Agitou-se pelo tremor
de seus braços. Sua respiração era tão rápida que estava vendo fogos
de artifício ou talvez foram pelos golpes de Kevin. Já não sabia. Mal
podia manter-se em pé.

— Ruiva!

Ela congelou, um gemido escapou com o som do grito de


Vincente. Sua voz profunda e áspera ricocheteou ao redor do enorme
espaço. Obviamente Kevin a ouviu ao mesmo tempo, porque saiu de
seu estupor e no segundo seguinte estava de pé, com seu braço
estendido, uma grande pistola firme em sua mão. Direcionada para
Caleb.

— Não. — Sua voz não foi mais do que um sussurro horrorizado.

— Nik. Não pense em mim. Mate-o. — Falou Caleb em voz baixa e


com calma, mas fez pouca diferença porque mal o ouviu. Sua visão era
imprecisa, seus braços pareciam como se tentassem segurar um
tanque, e seus pensamentos estavam muito lentos para que até
mesmo soubesse para onde deveria apontar. Tudo no que podia
pensar era que este homem diante dela arruinou toda a sua vida.
Arruinou sua carreira, seu espírito, quase um ano de sua vida.
Arruinou a festa de casamento de sua melhor amiga com tudo isto e
arruinou o anúncio da gravidez de Eva ao lançar a sombra do medo
sobre eles. Ele garantiu que Caleb vivesse sua vida do mesmo modo
que Vincente fazia, morrendo por dentro com uma culpa que não
deveria sentir. Seu marido inclusive conseguiu ofuscar o fato de que
pela primeira vez, se apaixonou. Essa porra de homem arruinou...
tudo.

Nika piscou através da dor que emanava de seu corpo e apertou o


gatilho.

O som do tiro foi um estalo alto em seus ouvidos que já zumbiam,


e o uivo agudo de Kevin era algo que saborearia pelos próximos anos.
Ela caiu para frente, a arma voou e quase não pôde evitar de bater
com o rosto no chão.

— Você fodeu tudo outra vez, estúpida.


A surpresa a inundou com as tensas palavras de Kevin. Seu
braço foi ao redor de seu pescoço e a levantou para enfrentar Caleb,
enquanto pressionava o aço frio contra sua têmpora.

— V.! — Gritou Caleb enquanto fortes passos se aproximavam. —


Fique onde está! Não se aproxime! Ele tem uma arma na cabeça dela!

— Este é o homem com quem você fodeu, puta? — Kevin grunhiu


em seu ouvido, soando como se falasse com os dentes apertados.
Sentiu algo molhado e quente em seu ombro direito. Era seu sangue?
Então ela o atingiu. Mas não com um tiro mortal. Seu corpo reagiu
instintivamente com um violento estremecimento quando sua língua
se arrastou pelo lado de seu rosto da maneira que ele sabia que a
deixava doente. — Pena que morrerá hoje também. A menos que diga a
ele para recuar. Diga! — Terminou com um grito abafado que entrou
em sua orelha como um trem desgovernado.

— Vincente! Não! — Já era ruim o suficiente que Caleb estivesse


neste pesadelo. Vincente também não. — Deus, não o seu Vincente. E
Gabriel também devia estar ali. As lágrimas encheram seus olhos
novamente. — Por favor, vá, — Disse mais forte. — Não venha aqui.
Por favor... vá.

Não! Não me deixe aqui com este monstro!


O som rouco da voz de Nika passou por Vincente como uma faca
mergulhada em ácido. Sua voz normalmente doce estava quebrada,
parecia ter gritado durante horas. O som quebrou o que restava de
sua sanidade. Tirou do seu caminho o resto das caixas, ignorou as
palavras que ouviu e foi para a área aberta como a morte em
movimento. Suas botas se prenderam no chão empoeirado quando
parou.

Um ódio como nenhum outro o inundou, estendeu-se por seus


músculos e ossos até ter certeza que seus olhos brilhavam vermelhos.
Ela estava ferida. De novo. Machucada. Severamente. Os olhos de Nika
estavam frágeis pela dor, fora de foco e o sangue em seu rosto parecia
como se tivesse acabado de cortar a jugular de alguém.

E esse assassino estava tocando nela. Deixou Vincente impotente


com a arma que segurava contra sua cabeça.

O rugido que saiu de sua boca foi selvagem, soava mais animal
do que humano.

— Saia daqui! — Tentou gritar Caleb, sua voz quase inaudível.

— V. Recue. Ao menos um passo.

A voz calma de Maksim saiu do pequeno fone em sua orelha.

Ele recuou.

Nollan se agachou e moveu-se com Nika na frente dele, quando


viu que Vincente tocava em sua SIG.
— Sabe o quê? Isto é bom. — Disse falando os com dentes
apertados, como se sentisse dor. — Isto é muito bom. Agora
poderemos ter um pouco de diversão. Uma escolha. Ver quem é mais
importante para quem.

As palavras do covarde eram desnecessárias. Completamente sem


sentido. Então Vincente tratou-as como tal e as ignorou.

— Deixe que ela se vá. A liberte e dê um passo para trás. Agora


mesmo.

Aquela boca pressionou com mais força contra a têmpora de Nika


a fazendo estremecer com uma careta de dor.

— Não acredito que farei isso. Minha mulher está onde pertence.
Mesmo que seja uma puta infiel. Agora, fique de joelhos Ceifador,
antes que eu mude de ideia à respeito dos meus planos e faça um
buraco em sua cabeça.

— Eu o tenho.

Vincente viu o ponto vermelho descer do teto mesmo antes que as


palavras de Maks ecoassem através do fone de ouvido. A fim de não
alertá-lo do alvo que brilhava em seus olhos e que acertaria o centro
da testa de Nollan, V. desviou seu olhar.

Mas então seus olhos se estreitaram. Espere. Se Nollan se


movesse sequer um passo... Nika era mais alta e Nollan estava
abaixado, o que significava que o tiro daria...

— Maks! Não! — Gritou quando viu Nollan se mover como se


fosse dar esse passo letal.
— Atire nele.

As palavras de Gabriel fizeram a bílis subir à sua boca.

— Não! — Gritou Vincente. E continuou a rugir porque foi então


que Nollan se moveu.

Vincente lançou-se para frente muito lentamente, tentando ficar


na frente daquele ponto vermelho que agora se concentrava direto
sobre o que neste momento sabia que era seu coração. Em um canto
distante de sua mente, acreditou ouvir o tiro, mas não poderia dizer
com certeza porque continuava gritando. A descrença o invadiu
quando Nika foi alvejada, seu sangue vermelho brilhante se
espalhando lentamente em sua camisa branca. Viu que se sacudiu
com o impacto, ouviu seu grito de dor e surpresa, misturado com o
grito de angústia de seu irmão. Nollan olhou ao seu redor com
confusão quando seu braço foi para o lado, a arma se afastando da
cabeça de Nika, bem antes que seus olhos se apagassem e ele
morresse. Ele caiu no chão ao lado dela, a ferida de entrada em sua
cabeça quase raspada era de uma bala que veio da direção oposta de
onde Maks estava.

— Nik! — Caleb gritou, arrastando sua cadeira pelo chão. —


Jesus Cristo, Nika... não! Não vá... Vincente! Solte-me, maldição!

— Não, baby não. Por favor... — As palavras de Vincente estavam


cheias de dor sussurrada, de orações, de súplicas, de rogos. — Por
favor, esteja bem. Eu não posso viver sem você, Ruiva. Eu não posso.
Por favor, esteja bem. Você também não.
Foi somente quando caiu de joelhos junto dela que percebeu que
não pensou nas palavras, e que as disse em voz alta. Segurou-a, e viu
essa confusão de cabelo vermelho varrendo o chão. Ele tinha que
verificar sua ferida. Precisava parar o sangramento. Tinha que ver
onde a acertaram.

Mas não podia, não quando seus olhos, aqueles olhos esmeraldas
agora apagados, muito, conectaram-se com os seus.

— Eu amo você, Vincente. Não posso... viver sem você... também.


— Sussurrou ela antes que sua cabeça caísse para o lado.

— Niiikaaa! — Rugiu seu irmão quando Vincente a aproximou de


seu peito e a pegou em seus braços enquanto toda a dor em seu
coração subia para sua garganta num uivo. A agonia de uma perda.

E a miséria do que ficou.


Gabriel olhou para Maksim, sua expressão de horror sem dúvida
refletiu a de cada um dos outros enquanto o insuportável som da dor
de Caleb e de Vincente chegavam a seus ouvidos.

— Maks... — Começou.

— Não. E-eu não poderia ter feito isso. — Maksim negou como se
não pudesse entender o que aconteceu, recuando e caindo sobre seu
traseiro. Seu rifle foi jogado de lado, seu fone de ouvido caiu de sua
orelha no chão empoeirado junto dele. Em nenhum momento, nos
quase vinte anos que Gabriel o conhecia, viu o homem tão desfeito. —
Eu não fiz isso. — Falou, em russo agora. — Eu não atirei nela. Ele se
moveu... inferno do caralho. Eu não poderia atirar na mulher de
Vincente, Gabriel. Não faria isso.

Depois de se aproximar, Gabriel o agarrou pelo queixo e moveu


sua cabeça para ele.

— Hei! Vamos. Agora mesmo. Você e eu. Nunca é tão ruim como
você pensa. Sabe disso. — Segurou o olhar selvagem prateado, com
medo de que se o deixasse cair, perderia seu já tão prejudicado amigo
para sempre. — Não foi sua culpa!

— Merda. O que acabei de fazer? À Vincente, à sua mulher... Ao


motoqueiro. Acabei de matar uma mulher inocente.
— Nós não sabemos isso, porra! — Insistiu Gabriel. — Vamos
descobrir. Estarei com você, irmão. Vamos.

Os olhos de Maksim se arregalaram e lembraram a Gabriel um


cavalo assustado.

— Não. Eu não posso fazer isto... — Suas mãos se aproximaram


de sua cabeça enquanto se movia para trás e para frente.

— Maksim!

A voz de Tegan os alcançou e Gabriel gritou em resposta do seu


lugar atrás de umas caixas:

— No final das caixas, T. Depressa!

Mais do que um conjunto de passos soaram.

Colocou a mão no braço de seu amigo.

— Maks.

— Vá.

— Kirov.

— Vá! Eu estarei lá... basta ir.


A prece sussurrada de Gabriel o fez sair. Dirigiu-se para o lado do
contêiner e deixou-se cair no chão sujo, rezando para que as coisas
não fossem o que pareciam do seu ponto de vista.

A Doutora Tegan Mancuso correu pelo corredor improvisado, com


Vasily e Alek ao seu lado. Viu primeiro o motoqueiro que enfrentava
um desastre horrível. Sangrava e lutava duramente com suas
amarras, deixando um rastro de sangue de seus pulsos enquanto
avançava para sua irmã e Vincente. A simpatia a invadiu enquanto
fazia gestos para que Alek soltasse o angustiado homem antes que
causasse um dano permanente.

Seguiu o olhar de Caleb para onde Vincente estava inclinado


sobre Nika. A segurava e murmurava como se pedisse ao Senhor que
não a levasse. As lágrimas ardiam em sua garganta enquanto se
juntava a ele, derrapando até parar contra a coxa grossa de seu amigo.

— Deixe-me vê-la, Vinnie. — Ordenou-lhe.

Ele a ignorou.

— Vincente! Deixe-me examiná-la. Posso ajudá-la.


Os olhos que a olharam congelaram seu sangue. Selvagens,
prontos para matar. Um predador mortal que protegia ferozmente sua
parceira. Mas havia mais. Sob a selvagem escuridão havia um
compreensível sentimento de perda.

Alarmada, Tegan estendeu a mão lentamente e passou com


ternura pela bochecha de Vincente.

— Deixe-me ver se eu posso ajudá-la, Vin. Por favor.

Seus olhos piscaram atormentados, o que fez com que caíssem


lágrimas.

— Por favor, T. Não deixe que tirem ela de mim.

Enquanto a mão de Vasily aterrissava no ombro de Vincente, ela


prometeu.

— Farei o meu melhor, querido. Agora me deixe vê-la.

Finalmente ele relaxou seu apertado agarre, e colocou sua mulher


deitada de costas. Ao ver o sangue, Tegan imediatamente rasgou a fina
camisa de Nika na frente e suspirou de alívio. Um: o sangue
bombearia para fora dela como uma peneira se tivesse atingido uma
artéria. Dois: a ferida estava a mais de três centímetros acima de onde
a bala poderia ter ficado ou passado pelo seu coração.

— Ela ficará bem, Vin. — Deveria ficar, porque nunca sabia.


Começou a trabalhar, abrindo sua maleta para tirar um pacote de
compressas estéreis de gaze. Abriu e pressionou uma na frente,
movendo Nika até ver a muito desagradável ferida de saída e a cobriu
com outra. — Segure-as para mim. Pressione ao redor, não sobre a
ferida. E mantenha uma pequena abertura do lado de cada uma. — As
grandes mãos de Vincente estavam lá antes que terminasse de falar.

— Ela vai sangrar por essa abertura.

— Tudo bem.

— Está perdendo sangue por estas aberturas, T. — Repetiu ele.

— Tudo bem, Vin. Essa é a menor das minhas preocupações. —


Enquanto falava, tirou seu estetoscópio, o colocou em volta de seu
pescoço e em seus ouvidos. No segundo que ouviu o coração
acelerado, tirou uma agulha e injetou um sedativo na veia de Nika.
Depois verificou os pulmões da mulher, que pareciam funcionar bem,
a julgar pelo constante movimento do peito de Nika. Explicou para
Vincente porque era um dos que queriam a informação. — Supõe-se
que deve tampar somente três lados da ferida e deixar uma aberta
para que o ar possa sair. Porque se uma bolha de oxigênio entrar na
cavidade pleural, os pulmões podem paralisar. Básico, mas é isso.

— Ok.

Viu? Ele precisava saber.

Uma rajada de ar por trás dela antecipou a chegada de Caleb,


Alek estava um pouco atrás, com expressão inquisitiva, como todos os
outros.

— Jesus Cristo, Nik. — Disse Caleb com voz rouca, enquanto


segurava sua mão, seus pulsos pareciam ter sido roídos por um
animal selvagem. — Por que você veio aqui, porra? Não deveria vir...
— Ele pareceu engasgar-se com suas próprias palavras. — Ela...?
— Ficará bem. — Assegurou Tegan, antes de virar a cabeça para
Vasily, enquanto mantinha os olhos na tarefa em suas mãos. — Yuri
não deveria estar aqui agora? Você enviou alguém para ver? Eu
preciso da maca...

— Eu vou carregá-la.

Ela olhou para Vincente.

— Será melhor que fique deitada. Desculpe. — Sua atenção


voltou para Vasily e disse a ele que Yuri deveria trazer a maca. Ele
balançou a cabeça e saiu. Viu? Isso é o que gosto. Sem perguntas.
Apenas ação. Agora, se apenas conseguisse que as enfermeiras no
hospital reagissem da mesma maneira, sua vida seria muito mais fácil.

— Quem tinha a arma? — A tensão ainda evidente na voz de


Caleb fez com que Tegan o olhasse. Talvez deveria sedá-lo também.

Vincente afastou o cabelo do rosto de Nika, o que lhe permitiu


uma melhor visão dos verdadeiros danos que seu marido causou.

O pobre motoqueiro pareceu engolir seu vômito quando se


levantou e se aproximou de quem era o agressor de Nika, começando a
chutar o cadáver com sua bota. Uma e outra vez. Até que Gabriel
apareceu e o afastou.

— Acabou. — Disse para Caleb antes de olhar em seus olhos. —


Como ela está?

— Ela ficará bem. — Assegurou-lhe Tegan, com esperança de que


o motoqueiro encontrasse um fechamento muito necessário com essa
mórbida exibição. Não que o culpasse por querer destruir essa escória.
Gabriel relaxou.

— Obrigado, porra. Maks está louco.

Vincente fez um som áspero e Gabriel olhou para ele.

— Não se pode controlar tudo, certo? — Repetiu a expressão


favorita de Vincente. Deixou que a assimilasse e se virou para Caleb
olhando para seu rosto arruinado. — Você está bem, irmão?

Caleb o ignorou e se aproximou de Nika novamente para colocar


suas mãos suavemente nos lados da cabeça de sua irmã, quase como
se estivesse absorvendo sua dor.

— Quem tinha a arma? — Ele perguntou novamente.

Houve uma pausa e então Gabriel respondeu. — Kirov.

Caleb assentiu uma vez.

— E a outra?

— Que outra? — Gabriel fez uma careta.

Vincente levantou os olhos em confusão.

— Quem disparou a bala que matou Nollan? — Caleb perguntou


impaciente.

— Eu.

Todos se viraram com a afirmação e Tegan sentiu sua boca se


abrir em um muito pouco profissional —Oh! — Mas foi um assombro
mais como: Oh, merda! e não como um Oh, querido!— garantiu a si
mesma.

O detetive Lorenzo Russo do departamento de Polícia de Nova


York estava ali, observando a cena com um olhar que fez com que a
voz de Humphrey Bogart soasse em sua cabeça.

De todos os bares de todas as cidades de todo o mundo...

Lore não precisou fazer nenhuma pergunta. Conseguiu entender


tudo o que precisava ao ver a cena macabra por trás de uma das
caixas perto da porta do prédio abandonado.

A vítima ruiva que era tratada por Tegan Mancuso — a colega de


química de Lore no ensino médio, — era claramente a musa do
assassino que ele e o FBI investigavam. O homem em quem atirou
deixou esse fato mais do que evidente quando confessou de uma
maneira que fez Lore querer bater nele.

Eu a matei, sabe. Uma e outra vez. Cinco vezes desde que você me
deixou, eu matei você.

Obviamente, os médicos legistas teriam que confirmar, mas sem


dúvida, parecia ter pego seu homem.
Agora, queria os detalhes? Queria saber por que o falecido matou
prostitutas e imaginou que era esta mulher espancada?

Olhou ao seu redor, virou-se para observar os jogos de luzes, o


equipamento de câmera, duas camas amarrotadas e uma mesa cheia
de papéis. E vários frascos de um líquido não identificado que poderia
muito bem ser alguma droga. Estava muito, muito certo de que fechou
seu caso e o de pornografia também. Ou o de alguém mais.

— Lore?

Olhou para o outro lado e encontrou os olhos de Gabriel. A


cadeira virada onde o motoqueiro esteve amarrado estava no chão
entre eles. O novo chefe da família criminosa Moretti, cujo vice-capo
estava obviamente muito, profundamente envolvido, com a vítima.

— Lore?

Ele continuou processando os acontecimentos, ignorando


Gabriel, um rapaz que ele conhecia desde que tinha onze anos. Eles
não estudaram juntos até a escola preparatória, mas até então, Lore
sabia que Gabriel Moretti era um bom homem. Tão bom quanto um
mafioso poderia ser, de qualquer maneira. Como a maioria das
pessoas reunidas ao redor da cena neste momento, apesar do que
faziam para ganhar a vida. Vincente Romani, que lutou com perda
após perda, sua mãe, pai, irmã e agora provavelmente, sua mulher.
Pelo amor de Deus, com quanta tragédia um homem poderia lidar
antes de perder a si mesmo?
Quan Mao, um dos dois homens que se afastaram da organização
Tríade há alguns anos porque não quis ir pelo caminho que os líderes
tomaram. Lore respeitava isso. Mas apenas isso.

Alekzander Tarasov, sobrinho de Vasily Tarasov, o líder russo


com cuja filha Gabriel se casou. Alek e Vasily agora estavam de pé um
ao lado do outro atrás de Vincente. Um forte apoio.

O motoqueiro, que estava sobre a vítima, usava um colete que o


nomeava como um Obsidian Devil, com seu patch de vice-presidente
claramente visível. A força e a influência do clube de motoqueiros
rivalizavam com as famílias do crime organizado nos dias de hoje. Era
o clube que Smythe tentava desesperadamente destruir.

O cara era claramente outra vítima involuntária neste incidente.

E finalmente, a doutora Tegan Mancuso. Mulher bonita. Lore foi


louco por ela durante todo o colegial, mas ela estava apaixonada por
outro homem — Jakson Trisko, se Lore se lembrava corretamente. O
que com certeza fazia, já que ele nunca esquecia um nome ou um
rosto. Era seu talento. Provavelmente era algo bom que Lore e ela
nunca tivessem dormido juntos. Tegan estava muito envolvida com os
homens ao seu redor. Isso não impediu que o lado sujo de sua cabeça
pensasse em colocá-la com seu jaleco em sua área de fantasias para
mais tarde.

Observou os rostos de todos, que o olhavam fixamente. Rostos


que pertenciam a homens que continuamente conseguiram manter a
linha entre o bem e o mal durante muitos anos. Sim, Lore sabia de
algumas coisas que eles faziam nos círculos subterrâneos em que se
moviam. Viu algo do que deixaram para trás, mas apenas quando
convinha a seus propósitos. Na maioria das vezes, limpavam sua
própria merda.

E às vezes, como hoje, também limpavam um pouco da merda da


polícia de Nova York.

— Lorenzo.

Gabriel se aproximou e agora estava na frente dele. Lore olhou


para cima porque, apesar de medir respeitáveis um metro e oitenta e
cinco, Moretti era um pouco mais alto. Suspirou profunda e
longamente, para se certificar que o chefe captasse que esta não era
uma decisão fácil para ele.

— Você e sua equipe precisam ir. Vá limpar a arma que disparou


a bala que o acertou e a entregue ao motoqueiro. Você, — apontou
para Caleb. — Mova-se para a área por onde caminharam. E ela
trouxe a arma. — Apontou para Nika. — Mas você a usou. Tenho
certeza que não está registrada de qualquer maneira. — Olhou para
Gabriel novamente. — Eles são claramente vítimas, mas seus homens
não. Já deveriam ter desaparecido. Você. — Disse a Tegan, e sentiu
uma pequena descarga elétrica quando encontrou com seus olhos. —
Terá que ficar com ela para acrescentar um pouco de respeitabilidade
a esta situação. E leve-a para o seu hospital. Está mais perto. — Ele
acabava de dar a entender que sabia onde trabalhava? — Vincente,
que eu duvido que consiga se afastar, pode dizer que se encontrou
com vocês no hospital. — Aproximou-se e olhou para o cadáver,
sentindo uma pequena faísca de satisfação já que, finalmente, teria as
respostas para suas muitas perguntas.
— Seu nome é Kevin Nollan. Endereço em Seattle. E sua esposa.
— Gabriel fez um gesto para a ruiva atrás do cara morto. Suas
sobrancelhas desceram quando percebeu que Vincente a embalava
contra seu peito largo enquanto se dirigia às portas. Uma maca vazia
foi empurrada atrás dele por um homem que Lore não reconheceu.
Uma ambulância particular esperava nos subúrbios. — Homem, ter
dinheiro sujo ou limpo, tinha algumas vantagens, não? Tinha que ser de
Vasily.

Inclinou a cabeça para Gabriel em agradecimento pela


informação. — Isso fará com que as coisas avancem. — Esticou a mão,
esperou que Moretti a apertasse e depois afastou-se e disse por cima
do seu ombro. — Vão embora você e seus homens, Gabe. Agora! —
Advertiu, fez uma pausa para se virar e encontrar com o olhar sério do
chefe. — Porque se eu envergonhar a minha mãe e receber perguntas
sobre o porquê de você e os seus terem aparecido no meu caso, todos
vão afundar.

Os becos de Nova York podiam ser lugares especiais, onde um


homem podia crescer com um grande grupo de amigos, conhecer a
garota dos seus sonhos, apaixonar-se e viver feliz para sempre. Mas
também podiam ser um poço negro de drogas, prostituição e
assassinatos. Se estes homens eram tudo o que Lore e a polícia de
Nova York tinham à mão, ele pegaria a ajuda. Afastou-se com seus
óculos firmemente em seu lugar.

Abandonou o armazém pela mesma porta pela qual entrou e


atravessou o estacionamento até onde havia escondido seu carro civil,
atrás de um grande caminhão.
Puxou seu telefone e enviou uma mensagem para seu irmão e
irmã, pedindo novamente para deixar para outra ocasião. Ele tinha
que trabalhar em sua história oficial e arrumar uma equipe a tempo,
para acabar com o cinegrafista quando ele finalmente aparecesse.

Quando e se aparecesse.
Duas semanas depois.

Quatorze dias de escuridão sem fim.

Trezentas e trinta e seis horas de solidão.

Todas dedicadas a lutar para manter-se afastado.

E continuava lutando.

Vincente tirou o tempo de sua mente, junto com o penhasco em


cuja beira estava e saiu da caminhonete sem se preocupar em fechar a
porta. — Um: não valia uma merda, dois: não dava a mínima e três: de
qualquer maneira; estaria de volta em questão de segundos.

Arrastou os pés calçados com botas até a porta de trás do


Rapture, o clube de Maksim e mostrou seu rosto para a câmera na
porta. E esperou.

O pesado metal abriu-se lentamente e os olhos verdes pálidos de


Micha arderam diante do aspecto que ele deveria estar mostrando.
Mas o homem se limitou a olhar para ele. Vincente quis amaldiçoar. O
bastardo não estava. De novo.

— Está aqui? — Perguntou mesmo assim. A veemente negação do


loiro o incomodou. — Onde ele está, Zaretsky? Eu sei que você sabe.
— Sinto muito, irmão.

Merda. Não queria respeitar o cara por seu silêncio.

— Dirá a ele que o procuro?

— Ele sabe.

Vincente assentiu. Virou-se e entrou na caminhonete. Maldição.


Onde Maks teria se metido, porra?

Ele achava que sabia de todos seus esconderijos, mas ao que


parecia, não era assim, já que sempre terminava com nada mais do
que um monte de merda. Ele até já ligou para Vasily, mas se
arrependeu imediatamente com a preocupação evidente na voz do líder
russo, quando disse que há muito tempo procurava por ele também.

Vincente ligou o motor e dirigiu algumas quadras.

— Você tem visto Maksim? — Perguntou, dez minutos mais tarde,


enquanto olhava os olhos púrpura de Sydney Martin. Aqueles olhos
curiosos piscaram algumas vezes com surpresa genuína.

— Ele não tem vindo aqui. Está bem? — Acrescentou hesitante.

— Você está brincando comigo, Martin? — Ele perguntou


suavemente, com uma pontada afiada

A sobrancelha dela subiu.

— Não, não estou, Romani. Na verdade, eu não me importo onde


seu amigo está. Tenho coisas mais importantes em mente. E se você o
conhecesse um pouco, deveria saber que deve estar trancado com sua
última mulher em algum lugar, provavelmente tendo muito sexo.
Parece como ele, certo? Sim. Eu tenho certeza de que ele vai aparecer
em um ou dois dias com dor nas costas e caminhando de forma
estranha.

Vincente ficou ali por um segundo, surpreso ao sentir uma


pontada de humor. Que não durou. Ele queria saber onde seu amigo
estava.

— Maksim atirou no peito da minha Ruiva quatorze dias atrás e


não foi mais visto depois disso. Preciso lhe dizer que não o odeio por
isso. Então, se o vir, diga que o estou procurando. Obrigado.

Saiu do Pant, deixando Sydney atônita.

Quarenta minutos depois, ele estava deitado de costas em sua


boxer, olhando para o teto escuro do seu quarto em Forest Hills.
Sozinho. De luto por causa dela. Mas incapaz de evitar.

Ele morava ali desde que se afastou de Nika enquanto ela se


recuperava. Levou um tempo até que Tegan e sua equipe no Hospital
de Coney Island terminassem de atendê-la: contusões, ferida de bala,
pontos sobre pontos, hematomas e escoriações.

Ignorou as ligações de Gabriel e enquanto lutava para atravessar


a agonia, obrigou-se a sair do quarto do hospital e ir para o corredor.
Lore parou a conversa com dois engravatados e ficou diante dele.

— Vai sair para caminhar, V.? — Moveu a cabeça para a


esquerda e para a direita seguindo o deslocamento de Vincente. —
Quer companhia?
Vincente o agarrou com força pelo pescoço, fazendo com que os
engravatados pulassem para frente, Mas Lore rapidamente levantou
uma mão e lhes disse que se retirassem.

— Nunca poderei pagar pelo que fez por mim hoje. Se algum dia
você precisar de alguma coisa, venha e fale comigo, sou seu homem. —
Beijou-o com força em ambas as bochechas e continuou com sua
morte em vida, deixando o hospital no meio de uma rajada de
mensagens e ligações que não respondeu até o dia seguinte.

Quando pôde abrir a garganta o suficiente para falar, ligou para


Gabriel e disse que precisava de algum tempo. Deixou claro que não
queria ouvir absolutamente nada além das atualizações sobre a
condição de Nika.

Há cinco dias atrás, eles pararam de ligar. Mas ele ouviu muitas
vezes: — Ela está muito bem, fisicamente.

Isso sempre o estressava. Fisicamente. Porra! Ela estava melhor


sem ele. Como sabia desde o início, ele não podia tê-la. Não podia lidar
com isso e teria que aceitar. Não podia arriscar que passasse pelo que
passou com Nollan novamente. Sua Ruiva deslumbrante quase
morreu. Atingida por uma bala que, se tivesse entrado dois curtos
centímetros mais abaixo, teria perfurado seu coração. E ele estaria na
primeira fila, assistindo tudo. E teria culpa nisso.

Por causa da forma como ele e seus amigos resolviam as coisas.


Ao aceitar que Maks preparasse e desse aquele tiro, o próprio Vincente
bem que poderia ter segurado a arma.
Como ela está? Pensou pela enésima vez. Estava cada vez melhor,
segundo Gabriel. Sentia dor? Estaria ferida emocional e fisicamente?
Teria pesadelos? É claro que sim. Sim, a todas essas coisas. Estava
danificada e ele não estava lá para consolá-la. Para acalmar e mimá-la.
Para levar revistas e café com leite. Para lhe dar uma massagem nos
pés e abraçá-la quando acordasse à noite.

Ele estremeceu. Sentou-se e tirou as pernas da cama. Santo


Deus, ficaria louco ali, porra. Esfregou o peito nu para diminuir a
pressão. Nunca teria este momento de volta. Ela teria que se recuperar
sem ele e ele nunca poderia voltar o relógio para trás e mudar isso.

Porque acha que Nika tem que se acostumar com a vida sem você.
E você sem ela. Mas isso é besteira!

Afastou o cabelo do seu rosto e ignorou sua consciência.

— Como farei essa merda? — Sussurrou ao silêncio.

Não sabia, mas acharia uma maneira. Tinha que fazer. Fechou os
olhos sabendo que falhou novamente.

Primeiro com Sophia.

Depois com Nika. A quem não amava como a uma irmã.

Não. Em absoluto.

Nika, ele amava com todo seu coração e sua alma. Com todo o seu
corpo e seu ser. Tudo o que ele tinha pertencia a ela.
E merecia ficar sentado ali, sangrando até a morte, por suas
feridas invisíveis. — Ao contrário das muitas visíveis de Nika.

Ele negou com a cabeça, inclinando-se enquanto a vergonha


passava sobre ele como azeite quente, queimando, comendo sua carne
até dourar seus ossos. Lentamente levantou-se, foi para o armário e
colocou uma camiseta e tênis. Em seguida, foi para o canto mais
afastado da sala onde instalou um ginásio improvisado. Colocou as
luvas e começou a bater no saco pesado suspenso no teto. O tilintar
da corrente enquanto era movida era familiar, mas não tão suave
como a maioria das vezes.

Ele teria que enfrentar isso. Não encontrou Nollan à tempo.


Encontrou-o porque o bastardo se delatou. Uma escuridão malévola
percorreu Vincente enquanto uma imagem de sua Ruiva nos braços de
Nollan passava pelo seu cérebro novamente. O dano que ele causou a
ela foi enorme. Tudo porque os deixou para trás, para enfrentar essa
estupidez por conta própria, da maneira que estava acostumada a
fazer.

Ela se sacrificou por Caleb, uma e outra vez, porque adorava seu
irmão. E o ama, Vincente.

Bateu mais duro no saco, o suor aparecendo em sua testa.

Ouvir essas palavras foi tão surpreendente quanto trágico. Ele


não as merecia. Mereceria, se fosse o homem que ela precisava. Mas
ele não era. Como seria adequado para ela? Nika ficaria em outra
jaula. Como Eva. Claro, Gabriel fazia o possível para encobrir as
limitações de sua esposa com frases do tipo: —Irei porque quero que
estejamos juntos. Mas a verdade era que o chefe simplesmente não
podia lidar com sua esposa sozinha em algum lugar, se alguém
chegasse até ela. A liberdade de Eva estava restrita e isso não
mudaria. Apenas pioraria quando tivesse seu filho. Não poderia pegar
o bebê e ir ao centro para um dia de compras. Não, a menos que
tivesse dois ou mais homens em suas costas, armados e prontos para
matar qualquer um que se atrevesse a se aproximar deles.

Era disso o que Nika precisava? Poderia prosperar nesse ambiente


sufocante?

Porra, não.

E se ele não estivesse tão distraído por causa de sua relação


pessoal? Evitaria o que aconteceu com ela? E se tivesse procurado mais
por Nollan? Feito mais? E se...?

Ele piscou. Os “e se” já começaram? Se os adicionasse à lista de


Sophia, estaria mais que ocupado enquanto imaginava toda a merda
que poderia ter feito diferente.

Porra, precisava relaxar, limpar a cabeça o suficiente para


funcionar dentro de seu círculo social novamente. Gabriel estava sendo
tão generoso quanto podia dando este tempo, mas havia muita merda
que acontecia dentro da organização, e que precisavam da atenção de
Vincente. Além de tantas outras coisas, G. queria encontrar seu irmão
Maksim que estava desaparecido, e ele encarregou essa tarefa à
Vincente. Pensou em Gabriel por um segundo. O cara era incrível.
Estavam na mesma onda, como sempre. Seu amigo sabia o que o
amor significava no mundo de Vincente.
Estava agradecido por ter seus rapazes. Não era a primeira vez
que passava este longo calvário. Alek também foi útil, mesmo que
simplesmente viesse e se sentasse com ele em silêncio, enquanto
ambos se enrolavam em sua miséria através de uma boa garrafa de
vinho tinto. Homem forte. Vincente não sabia como ele fazia para
passar os dias sem sua mulher.

Alek se afastou de Sacha para protegê-la da vida na máfia e mal


sobreviveu durante esse último ano. Doze meses contra quatorze dias
de Vincente. Como o homem fazia isso?

Parou de bater no saco por um segundo, olhando e girando para


longe dele, enquanto se inclinava ofegante. Onde Maks estava, porra?
Nada estava certo com apenas os três em casa. Desde o momento em
que Vasily trouxe o grande homem consigo da Rússia, eram uma
equipe de quatro.

Ele se lançou novamente para o saco, conectando uma série de


golpes rápidos e esquerdas furtivas. Antes de qualquer coisa, tinha
que trazer Maksim de volta. Dizer para o cara que as coisas estavam
bem entre eles.

Vincente continuou seu treino, enterrando os dedos no saco de


areia, imaginando o rosto de Nollan. Tentava não se sentir tão traído
pelo fato da morte do bastardo ter sido roubada de suas mãos pelas
circunstâncias.

Como sua chance de ser feliz.


Nika sentou-se na beirada da cama de Vincente, o lado esquerdo
do seu peito levemente dolorido graças a quantidade de analgésicos
que Tegan lhe deu. Mas sua mente não estava em sua lesão... estava
no idiota teimoso pelo qual se apaixonou.

Onde ele estaria? Perguntou-se, como fazia durante semanas. Ele


estaria sozinho? Estaria com outra mulher? Será que decidiu que
estar com ela era mais problema do que valia à pena? Afinal, o
relacionamento deles, se é que podia chamá-lo assim, foi uma situação
de risco de vida uma atrás da outra.

E depois de perder Sophia...

Afastou o pensamento e passou a mão pelo cabelo. É claro que


não estaria com outra mulher. Ele a amava. Disse que não podia viver
sem ela. Vincente era seu homem, como ela era sua mulher. Ele
apenas precisava entender e aceitar. Em breve. Porque sua paciência
já estava se esgotando.

Ela suspirou quando a porta do quarto se abriu. A distração era


bem-vinda. Especialmente quando o primeiro a entrar foi Charlie, que
irrompeu no centro do quarto abanando o rabo com as orelhas
levantadas. A viu e pulou como um louco em seu jeans, enquanto
implorava por um carinho. Ela o saudou.
— Eu juro que esse filhote come como se nunca tivesse sido
alimentado. — Murmurou Eva ao entrar. — Nunca vi algo assim. —
Tinha um prato com dois sanduíches em uma mão e uma grande
sacola de compras na outra. Ofereceu um sanduíche para Nika e
colocou a sacola suavemente na cama. — Nada ainda? — Perguntou
como fazia todos os dias.

Nika negou.

— Eu juro por Deus que, quando eu colocar minhas mãos nele,


depois que eu me comportar indecentemente por um minuto ou dois,
eu vou matá-lo.

— Eu gostaria de estar lá para ver.

Ambas viram Gabriel entrar com Jakson Trisko atrás dele.


Conheceu o guarda-costas brevemente em Seattle no dia em que
Vincente e ela compartilharam seu primeiro beijo. Ele chegou no dia
anterior. Continuava sendo o homem de corpo duro e aspecto
zangado, com o rosto cheio de cicatrizes que ela se lembrava. Colocou
os dois grandes vasos de plantas que carregava contra a parede e saiu
com um movimento de cabeça em sua direção.

— A parte de matar. — G. especificou com uma mão levantada e o


rosto sério. — Parece que o idiota teimoso precisa de um empurrão e
eu sei exatamente quem pode dá-lo. — Outra sacola se uniu à que já
estava na cama e tilintou levemente. — Mostre-me onde os deseja.

Nika foi para o canto do quarto. — Qual é o plano? — Perguntou


com curiosidade.
Gabriel a ignorou e deu à sua esposa um beijo no canto da boca.

— Você tinha curiosidade sobre o clube de Maksim? Parece que


vai conhecê-lo esta noite. — Disse à Nika. — Está pronta para
socializar em um lugar público?

Ela assentiu inquieta. Não saiu de casa desde que saiu do


hospital há doze dias.

— É claro.

— Estaria desconfortável com dançarinos que talvez usem pouca


roupa? Muito elegante, mas, mesmo assim...

— Uh, você esqueceu quem é meu irmão, Gabriel? Dê um passeio


pelo clube. Não é raro ver uma garota de top e calcinha, isso quando
sequer usam alguma coisa, pegando para seu homem uma bebida ou
comida da cozinha.

— Eu não sei como podem viver assim. — Murmurou Eva. —


Maksim voltou? — Perguntou para Gabriel com uma nota de
esperança em sua voz.

Ele negou.

— Ainda não. Mas vai aparecer. — Levantou o objeto que Nika


comprou com Eva, durante um passeio na Praça Westbury
acompanhadas de Quan e Jak. Quem poderia imaginar que Quan e
Jak seriam uma companhia tão divertida? Os dois sem dúvida atraíam
seu quinhão de atenção feminina.

— Aqui?
— Está perfeito. Então, uh, Vincente estará no Rapture esta
noite?

O marido de Eva virou-se para ela com um olhar significativo.

— Eu vou me certificar disso.

Os nervos explodiam em seu estômago, junto com uma


antecipação que era francamente desconhecida.

Vincente tenso e não com muita esperança, quando estacionou o


Kombat, mais uma vez no beco atrás do Rapture. Mais uma vez bateu
na porta de trás. E foi recebido de novo por Micha.

— Entre, porra. — Gemeu o russo ficando de lado.

Parecia que sua tenacidade deu frutos. Caminhou


apressadamente para o escritório de Maks e parou de repente, quando
viu seu alvo. Maksim de fato estava de pé, atrás de sua monstruosa
mesa de estanho, com sua estranha escolha de arte exibida atrás dele.

Bem, balançava-se como se estivesse no convés de um navio


durante uma tempestade infernal.
— Ahhhh aííí essstá o hommemmmm. — Disse o enorme russo.
Ou foi o que Vincente pensou que ele disse. Ele mal podia
compreender o que dizia. Porque o cara estava totalmente bêbado.

Vincente o olhou. Maksim não bebia mais do que um dedo de


bebida. Nunca. Jamais. Odiava não ter o controle completo de si
mesmo em todos os momentos.

— Olá.

Ele entrou totalmente na sala protegida. Micha fechou a porta


bloqueando todos lá dentro. Vincente continuou se movendo
lentamente, querendo parecer relaxado, enquanto discretamente
puxava seu telefone. Enviou uma mensagem rápida para dizer aos
caras o que acontecia.

— Como você está, irmão? — Perguntou e abaixou seu telefone.

Um dedo longo apontou para todo o lugar.

— Não, não. Eu não mereç o títul máisss. — Balbuciou as


palavras em uma mistura confusa. Mas Vincente as captou. E bufou.

Este homem sempre mereceria esse título. Ele salvou o traseiro


de Vincente em mais de uma ocasião e agora salvou Nika. Embora
tenha atravessado Nika primeiro com a bala, Maks roubou de Nollan a
chance de apertar o gatilho da arma que estava pressionada em sua
têmpora, e que certamente a teria matado.

— Bem. Você é meu irmão, goste ou não. — Aproximou-se da


mesa, colocando as mãos sobre a superfície e se inclinando para olhá-
lo diretamente nos olhos. — Nada mudará isso.
Maks copiou seu movimento, colocando-se cara a cara com V. E
puta que pariu, o tipo cheirava igual a uma destilaria.

— Nããooo s´atreeeva a me abbbsolverrr d´ minh fodiid


respooonsbilida ni sto. Eu sei o que eu fizzz. Mesmmm que ela ten ha
sobbree...vividuu.

— Eu não estou tentando absolver merda nenhuma. Você salvou


minha mulh... salvou a vida de Nika. Isso está em você, não importa o
que disser.

— Fodaaaa-se, fod-se, fil da puttt. — A voz de Maks quebrou no


final e Vincente não pôde deixar de se sentir mal pelo que estava
prestes a fazer. Mas fez assim mesmo.

— Você acha que me deve alguma coisa pelo que aconteceu?


Bem. Pode me pagar ao aceitar meu agradecimento por intervir
quando eu não pude fazer o que precisava ser feito. Tanto você quanto
Lore podem aceitar meu agradecimento. Entendeu? Estamos quites.
Sente-se melhor?

A cabeça de Vincente se inclinou bruscamente no segundo


seguinte e um sabor metálico cobriu sua língua, por causa do gancho
de direita que acabava de receber. O bom um metro e noventa por trás
desse punho, tropeçou e balançou, caindo no chão duro sobre sua
bunda teimosa.

— Você é um maldt mentiroooso! Você me odeeeia e me querrr


mort pr machucáaa-la. Eu sseiii. Eu sseeii prqu o teri matado se
você... se... alguém fizess à... strrralia. Sim... a astrrraliana. Não´oo
que sint por ela o´ que você obbbviamm sent pela Nika. — Maks
continuou quase ininteligível. — Poreemm tãoo perto cmmmo
podeee´serrr. Poderría usar Tegan, supoonn, mas nunncaa quis terrr
sexx com ela.

Vincente esfregou o queixo e teve que sufocar um sorriso pela


mudança de assunto. O homem e seu pau. Era a única coisa em sua
mente neste momento. Agachou-se ao lado de seu amigo de tantos
anos, um homem que sofreu merda o suficiente para duas vidas e lhe
deu um tapinha de um lado do rosto. Virou a cabeça de Maks e
encontrou seus olhos prateados.

— Eu amo você, homem. — Disse simplesmente, sem se permitir


sentir vergonha por demonstrar seus sentimentos. — Você é meu
irmão. Ajudou a salvar a vida de Nika ao matar aquele bastardo. O
fato de que tenha ficado presa no fogo cruzado, foi um erro que sei que
lamentará para sempre. Mas isso não muda os fatos. — Apertou-o com
mais força. — Vai passar e se livrará dessa merda de uma vez porque
precisamos de você. Entendeu?

A testa de Maksim se enrugou com a incerteza causada por sua


embriaguez.

— Vooocê connnsgue me perdoarrr, Vinncccen. — Sussurrou o


russo com o rosto devastado com uma culpa que Vincente odiava ver
com toda sua alma. — enquaunnto eu nãaa me perrdr. Digg a garota
qu eu lament...to tão profundmt.

Vincente assentiu e aceitou.

— Ela ficará bem.


Agarrando-o por baixo da axila, Vincente o arrastou até colocá-lo
de pé. Merda, o homem precisava perder alguns quilos. Micha chegou
e o ajudou com o outro braço. Ambos, com Maks nas costas,
atravessaram uma porta no lado contrário da sala para a enorme
cama contra a parede do fundo. O deitaram no sedoso edredom negro.
Micha olhou inquisitivamente para Vincente.

— Vamos trocar turnos. — Disse Vincente.

O russo negou.

— Não há necessidade. Eu não tenho outro lugar para ir.

— Nem eu, por isso parece que vamos nos fazer companhia,
enquanto cuidamos do bêbado.

— Combinado. Vou buscar as cartas.

Ele não viu Micha sair porque se virou para Maks, que o olhava
fixamente com uma expressão tão torturada, que fez com que suas
pálpebras picassem.

— Você está fazendo eu me sentir como uma menina e sabe


disso, certo? — Murmurou irritado.

— Seu perrrdããoo ééé um presnt. Poorrqu est´q muuuito perto do


fnnndo do poççço para aprrrecia-loo. Vasss...ily stá enojado conmgo
por suumir. Disse qu os assustei. Gabrril ssstá enojado, tmbbbén.
Alek não, porrrquee entende. — A prata desapareceu quando suas
pálpebras finalmente se fecharam. — Tee doou m'palavra que plannnej
serrr o lacaiiio da t´mulher aaao mennnos uuma décaddda, e... e...
starrrei com ela até que dig "déééxeme".
Vincente riu com o peito dolorido, porque nunca seria
testemunha disso.

Caleb percorreu o corredor traseiro do Rapture e não hesitou em


entrar na esfera privada de Kirov, chegando à porta fechada para onde
Moretti o enviou. Doces profundidades, pensou, impressionado pela
pintura da frente. O escritório era enorme, com muitos computadores,
móveis de couro e a mesa do grande senhor. Muito escura, no entanto.
Com uma grande quantidade de preto.

Esqueceu o mobiliário, concentrando-se no homem sentado de


costas para ele, na frente de um monte de monitores que mostravam o
luxuoso clube. E nada acontecia sem seu conhecimento dentro de um
raio de cinco quadras ou ao menos assim parecia.

— Você se importa se eu falar com ele a sós? — Caleb perguntou


para Micha, o cão de guarda de Kirov que estava sentado atrás da
mesa. Havia um baralho de cartas na frente dele, mas o cara não
estava jogando. Não. Estava inclinado para trás, com as botas para
cima e girava uma faca borboleta com precisão suficiente para que as
bolas de Caleb encolhessem só por estar tão perto.

Salve-nos, - choravam baixinho.


Micha o olhou incisivamente e inclinou a cabeça, como só um
cara como ele poderia fazer, sem que parecesse que se masturbava.

— Acenda a luz, irmão. — Murmurou o russo enquanto passava e


deixava Caleb a sós com seu salvador e o de sua irmã.

Mesmo assim, era V. quem agia como a porra de uma maricas.

Esta era a bagunça de Caleb, não de Vincente. Se não fosse por


ele, sua irmã nunca teria sido arrastada para este pesadelo com
Nollan em primeiro lugar. Ela era inocente. Ele foi o responsável.
Nollan se assegurou de deixar isso bem claro, depois que Caleb chegou
naquele prédio.

Em um minuto deixava o clube com uma mulher que chegou até


ele muito sexy para que a ignorasse, e no momento seguinte estava
amarrado a uma cadeira recebendo um monte de socos. Mas chega
desta merda. Caleb tinha direito a isso. Estava impaciente para brigar
agora que tinha o idiota diante dele.

— Por que você a rejeitou?

Vincente girou a cadeira em que descansava e moveu os olhos


sem levantar a cabeça. Porra. Caleb tinha certeza que suas bolas
estavam agora compartilhando histórias de terror com suas amídalas. O
Ceifador estava presente nesse momento.

— Você está bem? — Vincente perguntou e indicou o queixo


ferido de Caleb que estava se curando, graças a Tegan, que o
remendou com adesivo em vez de pontos. Menos cicatrizes, disse ela,
como se estivesse preocupado por mais uma marca acrescentada às
muitas que já tinha.

— Excelente. Por que você a rejeitou? — Repetiu.

— Não é seu assunto, irmão.

— Para o inferno com isso, V. — Explodiu enquanto começava a


caminhar em círculos. — É por que não sente nada por ela? Talvez o
que aconteceu o tenha assustado. Acha que está danificada...?

Caleb bateu na parede com tanta força que seus dentes bateram.
Ponto feito, pensou presunçosamente, apesar do que sentia agora em
seu coração. Sabia que V. estava mal por causa de sua irmã. O cara
estava apaixonado por ela. Qualquer pessoa com dois olhos podia ver
isso. E os de Caleb funcionavam muito bem. Apenas não sabia por que
o cara não agia. Pela culpa, provavelmente. A mesma merda que
nadava como uma enguia através de suas veias, lembrando-o a cada
vez que tentava esquecer, do horror do mês passado.

— Essa mulher está tão acima de nós que nem os anjos têm
direito de olhar para baixo para vê-la... — Disse Vincente com os
dentes apertados. — Recue, Paynne. Não estou com humor para estes
jogos.

Com um empurrão brusco, moveu-se de novo para os monitores.


Perfeito. Justamente onde Caleb queria que ele estivesse.

Tentou sentir alguma satisfação ao ver a palidez no rosto de


Vincente enquanto seu olhar se concentrava na mesa em que Nika
agora estava sentada. Seu braço na tipoia e a cabeça brilhante
inclinada, olhando para sua bebida sem tocar.

— Por que nã...? Por que ela está aqui? — A dor que irradiou de
sua voz era forte o suficiente para que Caleb se sentisse ainda mais
como um lixo. Afastou-se da parede e encolheu os ombros, embora ele
não pudesse vê-lo.

— Ela precisava de uma noite fora. Merece algo melhor do que


vagar pelas salas da sua casa sozinha.

— Então você a trouxe para uma discoteca cheia de homens.


Você enlouqueceu?

—Ela não veio sozinha. Eva está sempre com ela. — Como para
provar que estava certo, Eva entrou em cena. Moretti a cobria como se
ela fosse a chefe da família. Bom homem. Sabia que só poderia levar
Nika para algum lugar que estivesse tão protegido como o clube de
Kirov para este pequeno passeio.

Observou os ombros tensos de Vincente enquanto Nika ficava de


pé para receber um abraço de sua amiga, inclinando o rosto para a
câmera embutida no teto. Com uma reverência que era simplesmente
de partir o coração, a grande mão de Vincente aproximou-se e com o
toque mais suave acariciou o rosto de Nika na tela. Sua voz soou
torturada.

— Ela merece um homem que não traga a morte e a violência a


cada vez que entre pela porta. Você sabe o que Nollan fez... a manteve
trancada. Tirou sua liberdade. Você acha que a vida comigo seria
diferente? Sabe o que eu faço para viver. Os círculos em que me movo.
E sabe tão bem quanto eu que cada maldito trabalho seria uma
ameaça para ela. Tentariam usá-la apenas para chegarem até mim.
Não teria outra opção, senão guardá-la dentro de uma jaula durante
todo o tempo, apenas para mantê-la segura. Eu odiaria isso. E ela um
dia me odiaria também. Merece alguém que esteja inteiro e estável.
Não... a mim. Se alguém tem direito a isso, esse alguém é ela. É um
grau de felicidade que eu simplesmente não posso lhe dar, Caleb.

Caleb passou uma mão pelo cabelo com força e teve que limpar a
garganta para poder soltar a respiração e falar.

— Ela é... — Limpou a garganta mais uma vez. — Nika está


apaixonada até a medula por você, irmão.

O homem negou estupidamente, a cabeça inflexível como um


tijolo.

— Ela vai superar.

— Não. Não o fará. — Idiota, acrescentou em silêncio. Nunca em


voz alta. Ele seria um idiota se procurasse uma briga com o Ceifador.
— Ela não vai superar isto mais do que você. Não a viu nas últimas
semanas.

V. não disse nada durante um longo tempo. Ficou ali e olhou a


imagem de Nika na pequena tela. Via sua conversa com Eva e Tegan,
que acabava de chegar, enquanto Gabriel ficava parado junto à mesa e
conversava com Quan e Jak.

— Ela ficará bem.


Bem. Certo. Caleb sentiu a mesma raiva ardente em sua garganta
que sentiu quando segurou sua irmã enquanto chorava na manhã
seguinte depois daquela cena horrível com Kevin.

— Sim. Foda-se V. se você acha que ela ficará bem. Sabe, acho
que estava certo antes. Você não sente nada por ela. — Nem sequer se
alterou quando lhe deu outro olhar mortal. — Porque um homem
apaixonado por uma mulher faria qualquer coisa para não machucá-
la, como Moretti faz com Eva. Mas você? Não, nem tanto. — Fez um
impaciente movimento cortante com a mão e se afastou indo para a
porta. — Continue olhando para esse monitor e veremos o quanto você
não se importa. — Disse enquanto saía com o telefone já em seu
ouvido. Deixe que os bons tempos passem, filho da puta.
Vincente olhava a imagem de Nika na frente dele e se sentia
como...Merda. Já não podia sentir absolutamente nada. Era quase
como se a dor que viveu nas semanas anteriores, se manifestassem em
um entorpecimento frio que o preenchia da cabeça aos pés.

Moveu a cadeira e sentou-se, virando a cabeça para trás, com os


olhos no teto. Ele realmente acreditava no que disse a Caleb. Nika
podia superar isto e seguir adiante. Com o tempo, encontraria alguém
que se adaptasse melhor às suas necessidades. Era o que merecia da
vida.

Ahhhhh! Essa sensação dolorosa e insuportável atrás do seu


coração não parecia nada dormente. Merda. Sua mão subiu para
esfregar seu peito.

Não sabia quanto tempo ficou sentado ali com a cabeça para trás
enquanto olhava o teto cinza acima dele. Mas quando finalmente
levantou a cabeça, se sentiu tentado a bater na mesa na frente dele
até que seu coração bastardo parasse de gritar a palavra não!

A porra do Vex estava no clube e vestia orgulhosamente suas


cores. Duas câmeras seguiam seu rastro enquanto se movia pela
mesma área que Nika estava. Se Caleb, que também estava na mesa
agora, chamou esse bastardo para tentar demonstrar alguma coisa...
O bastardo perturbado irmão de Nika, aproveitou esse momento
para olhar para a câmera, movendo a cabeça de uma maneira que fez
Vincente fechar os punhos, bater na madeira e desejar que fosse a
porra do rosto do motoqueiro metido.

Vex inclinou-se para falar com Nika, movendo a mão sobre seu
ombro e a acariciando com o polegar. O ritmo cardíaco de Vincente foi
a um nivel perigoso; seus músculos ficaram tensos com uma dor um
milhão de vezes pior do que qualquer ferimento a bala que já
recebeu.Lutava para não reagir. Não iria pegar sua arma e abrir fogo
na frente de qualquer pessoa que pudesse testemunhar o que seria
uma matança.

Ele olhou para baixo e se concentrou no chão. Um... dois... três...


quatro...

Sim. É claro. Como se ele não fosse olhar.

Olhou para cima e eles já não estavam lá! Começou a procurar


sua localização, passando de uma tela para outra. Eles estavam indo
para a porta. Nika e Vex. Sozinhos.

Não importa. Não importa. Você a está deixando ir, lembra? Não
importa. Ela tem que encontrar alguém melhor. Lembra-se? Para seu
próprio bem.

Na próxima batida do seu coração raivoso, Vincente saiu do


escritório de Maksim como um furacão, com as mãos em sua SIG e
com o dedo no gatilho. Enquanto saía pelo clube suavemente
iluminado, Alesio colocou-se na frente dele. Sem um só sentimento de
pesar, Vincente enviou o homem para o chão com um gancho de
direita que dizia “ boa noite, Sally” e seguiu seu caminho. Gabriel e
Micha foram os próximos, quando tentaram evitar que ele chegasse à
porta, onde agora podia ver o casal desaparecendo.

— Espere.

— Mais devagar, V.

Ele pegou os dois. G. recebeu um golpe esmagador no estômago,


seus dedos chegando a tocar um rim. E Micha recebeu um gancho no
queixo, que fez o bastardo girar como um carro fora de controle em
uma tempestade.

Não era muito para contê-los, mas pelo menos conseguiu passar
por eles.

Abriu a porta de metal com tanta força, que ela se chocou contra
a parede. Saiu disparado do clube... bem a tempo de ver o carro de
Vex afastando-se da calçada.

Caralho!

A raiva foi tudo o que o impeliu quando refez seus passos,


ignorando os olhares de medo dirigidos a ele pelos dançarinos e dos
sócios a quem tinha perturbado. Ele se aproximou de Gabriel, moveu
Eva suavemente para o lado, colocando fim em seus cuidados com o
abdomen claramente dolorido de seu homem.

— Como você pôde deixar que fosse com ele? — Rugiu. O volume
de sua voz fez um trabalho de primeira classe e chocou a todos no
lugar. Como se ele desse a mínima.
— Eu pensei que você não quisesse ter mais nada a ver com ela,
V. Nika queria um pouco de companhia. Ele perguntou se estava tudo
bem a levar para casa. — Gabriel encolheu os ombros. — Quem era eu
para dizer que não? — Estendeu a mão e pegou a de Eva de maneira
protetora, colocando-a atrás dele, como se Vincente pudesse machucá-
la. O que o incomodou mais ainda. — Eu dei os códigos e eles saíram.

A cabeça de Vincente balançou, a surpresa e a traição era algo


vivo dentro dele. Em um movimento muito rápido para qualquer um
antecipar, agarrou seu melhor amigo pelo pescoço, arrastou-o para
longe de sua mulher grávida e acertou a cara do bastardo com um
gancho de esquerda que ele sentiria durante semanas.

— Obrigado por cuidar das minhas costas. E você... — Rosnou


para Caleb quando o motoqueiro deu um passo à frente e o distraiu da
culpa que encheu os olhos de Gabriel. — Fique bem aí onde está ou
sua irmã colocará flores em seu túmulo no fim de semana.

Saiu como uma tempestade do lugar e chegou à entrada da casa


dezoito minutos depois. Ao ver o carro de Vex na frente da escada,
nem sequer teve que pensar sobre isso. Sua caminhonete era robusta,
grande, pesada. O carro chamativo de Vex não.

Vincente acelerou e colidiu tão forte contra o bastardo, que estava


na metade dos degraus antes que os dois carros estivessem em ponto
morto.

Empurrou com força a porta, porque o carro esportivo estava


como um pão de cachorro quente, no canto dianteiro do Kombat. Alek
abriu a porta amplamente antes mesmo que chegasse até ela, com os
olhos que praticamente saltando de suas órbitas, quando viu o
desastre que Vincente causou.

— Onde eles estão? — Rosnou enquanto passava por ele com um


empurrão.

— Uh, Nika disse que iria para o seu quarto. Mas poderi...

Vincente quase tropeçou e caiu de joelhos nos ladrilhos do lobby,


os músculos de suas pernas querendo ceder. Ela levou Vex para o seu
quarto? Olhou para baixo para ver sua arma ainda em sua mão. Bem.
O motoqueiro comeria uma de suas balas no próximo minuto. Apenas
mais uma coisa que Nika teria que superar. E ele ajudaria desta vez.

Você pensou que iria desistir dela?

Vá à merda, rosnou para o admirador, que já levemente


desaparecia.

Ele não era forte o suficiente. Não tinha o gene necessário da


generosidade com o qual Vasily e Alek pareceram nascer, para se
afastar das mulheres que amavam. Ele era egoísta, como Gabriel.
Egoísta até a medula quando se tratava de sua Ruiva. Ela era sua,
porra! De corpo, coração e alma. Sua!

E agora que ele finalmente aceitou isso, tinha que dizer a ela e a
todos os outros.

Avançou de novo, vagamente ouvindo Alek dizer alguma merda


sobre afastar a arma, mas o ignorou e subiu os degraus de três em
três. As paredes não eram nada mais do que um borrão enquanto ia
pelo corredor. O desabamento da porta do seu quarto foi espetacular.
A madeira se estilhaçou, um suporte de metal voou parando na
almofada da cadeira antes de cair no chão.

A primeira coisa que captou foi o aroma que impregnava o ar.


Laranjas e jasmim. Seu corpo ficou tenso em reação e o machucou. A
segunda coisa, pequenas lanternas de metal iluminadas com velas
estavam penduradas em cada canto, como suaves campainhas
musicais que tilintavam ao redor da base de cada uma, com a brisa
que criou ao entrar no quarto. As luzes se apagaram e enquanto os
olhos de Vincente se acostumavam, moveu-se ao redor para encontrar
seu destino notando outras mudanças.

O quarto frio e estéril, em que viveu tantos anos desapareceu. Em


seu lugar, viu calor e cor. Nas paredes, suas gravuras monocromáticas
foram substituídas por pinturas de telas e brilhantes paisagens
marinhas do verão, as verdes colinas da Irlanda brilhantes com vida.
Plantas vibrantes cobriam o chão e algumas mesas. Espalhados ao
redor havia brinquedos de cão para mastigar, uma de suas luvas
estava roída e com baba seca no couro cru. A visão lembrou a
Vincente uma casa cheia de brinquedos que as crianças não se
incomodavam em arrumar depois de brincar o dia todo. O tapete
cinza, insípido e retangular, que estava ao lado da cama, foi
substituído por um grande e circular, os tons mais brilhantes de roxo,
amarelo, verde e vermelho se entrelaçavam para formar uma sinfonia
policromática, vibrante. Almofadas das mesmas cores cobriam a cama
sobre seu edredom azul rei...

O que? Caralho!

— Parece que teremos que chamar o homem da manutenção.


A observação tranquila veio da direita e seu olhar se concentrou
na fonte dessa voz. Musical, calmante...

Vincente teve que endurecer os joelhos para não cair no chão.


Onde pertencia. Aos pés desta mulher.

Nika moveu-se alguns passos até ficar mais perto da cama, o


braço ainda levantado, seus cachos vermelhos caindo sobre seus
ombros e costas em gloriosa desordem. Seus olhos brilhavam à luz das
velas. Ele se obrigou a avaliar a situação e implorou para não
desmaiar pela rapidez com que sua respiração entrava e saía de seus
pulmões.

Ainda vestia o que usava no clube: um vestido curto preto e


folgado de chiffon que tinha decote em V e mangas longas. Usava
saltos de oito centímetros.

Ela escolheu vestir isso para Vex? Pensava em fodê-lo no meu


quarto, que claramente redecorou enquanto eu me escondia dela?

Por que fez isso? Perguntou em algum lugar através de sua raiva,
quando viu um vidro de perfume e uma coisa em forma de árvore
pendurada com várias jóias na cômoda ao lado da tigela que usava
para jogar suas chaves e carteira no final de cada dia.

Uh, ele poderia querer dar uma maldita atenção, antes de ter um
vislumbre de Vex saindo do seu banheiro mostrando a enorme ereção
que o motoqueiro usaria para reclamar Nika em sua cama.

Tanta. Fúria.
— Onde ele está? — Sua pergunta saiu tão fria e dura que Nika
piscou.

— Foi embora.

Ele piscou pelo tom cômico que usou.

— Mas seu carro... — Disse estupidamente.

— Deixou ali para garantir que você realmente entrasse em casa.

Sua boca se curvou.

— Então, finalmente saiu do seu esconderijo.

— E-eu e-estou...

— Apaixonado por mim. Eu sei. — Seu olhar brilhou com um


amor que destruiu cada defesa que ele possuía. — Você deve um
pedido de desculpas aos seus amigos, na verdade. — Sussurrou
enquanto caminhava o resto da distância entre eles. Levantou a mão e
passou os dedos pela parte de trás do seu pescoço. Ele tremia como
um adolescente. — Eva está zangada com você por machucar Gabriel.

Ele negou e continuou a devorar suas feições, inalando com


avidez o cheiro de laranja e jasmim como se fosse o oxigênio que
precisava para viver. Seus músculos relaxaram e seu cérebro desligou.
Sua raiva foi drenada, quando suas emoções transbordaram e seu
coração inchou a ponto de explodir em seu peito. Terminou. Acabado.
De uma vez, caralho.

— Você está bem? — Ele disse com voz rouca.


Nika respirou suavemente, seus lábios se juntando enquanto
assentia e seu amor por ela o dominou. Um amor que não recusaria.
Que não podia mais negar.

Mas ela deixou o clube com Vex!

— Que merda você achava que estava fazendo? — Perguntou com


raiva. — Deixar o Rapture com o Vex?

— Chamando sua atenção. — Encolheu os ombros, o movimento


descuidado, enquanto soltava seu cabelo e passava os dedos sobre seu
rosto com barba e por seu braço. Arrepios fluíram pelo seu lado
esquerdo. — Você não precisará disso. — Tentou tirar a SIG de seu
punho de ferro. Seu olhar estava fixo no dela quando não soltou.

— Eu vou usá-la em qualquer homem que esteja em algum lugar


perto de você. Juro por Deus.

Ela sorriu.

— Vamos descobrir suas intenções primeiro, ok? Porque eu acho


que o meu supervisor no TarMor é homem.

Incapaz de lutar contra isso, no entanto, ele ignorou. Queria


tanto tocá-la. Não queria esperar nem mais um segundo. Portanto,
como o bastardo egoísta que aceitou ser, colocou a trava de segurança
novamente no lugar e deixou a SIG cair no chão, antes de colocar as
duas mãos em sua cintura. A levantou contra ele, forçando-a a
envolver as longas pernas ao redor dele. Ela fez isso facilmente e
rodeou seu pescoço com seu braço bom, o apertando até que seus
rostos estavam a centímetros de distância. Seus sapatos bateram no
chão ao cair atrás dele.

— Ruiva? — O medo era como um punho cerrado em volta da sua


garganta. — Você não está...com raiva de mim?

— Furiosa, na verdade. — Respondeu enquanto roçava seus


lábios. — Você me abandonou. Se manteve longe. Me fez sentir sua
falta. Chorar por você. Não pude ajudà-lo a passar por isso. Então,
você tem muito para compensar.

E ele o faria. Durante o tempo que levasse.

— Nika, eu... por favor, baby. Inferno, sint... — Apertou os olhos.


Porra. Seu cérebro não funcionava no momento. Mas estava bem,
porque a sensação dela contra ele, abraçando-o com tal reverência,
combinado com o olhar em seus olhos, sem dúvida lhe assegurava
com mais do que palavras que ela era sua mulher. Era seu calmante,
um bálsamo que finalmente começou a reparar sua alma danificada.
Nika fechou os olhos, enquanto segurava seu homem em seus
braços e dava graças a Deus por trazê-lo a este lugar, em sua vida. Por
deixar que sobrevivesse a Kevin e encontrasse algo melhor do que
poderia ter imaginado para si mesma.

— Eu não podia arriscar você. — A voz de Vincente era tão áspera


que parecia doer ao falar. Aumentou seu aperto sobre ela e a levou até
a cama enquanto continuava. — Depois do que aconteceu, eu não
podia, não estava... merda. Sinto tanto, baby. Você quase morreu por
minha causa. Eu falhei a primeira vez do lado de fora da porta. Porra.
Como poderia reivindicar você como minha quando havia uma
possibilidade de que algo assim pudesse acontecer novamente? — Os
deitou no colchão, se apoiando na cabeceira para colocá-la montada
sobre seus quadris. — Eu falhei novamente. Não fiz meu trabalho e...

— Vincente. — Ela segurou seu rosto com ternura e passou os


polegares sobre as maçãs do rosto.

— Eu quase perdi você por causa disso. — Terminou ele em uma


respiração ofegante. Levantou a mão e usou a ponta dos dedos para
passá-los por cima de sua ferida, quase sem tocá-la. Passou um
polegar através de seus quase curados lábios e depois sobre a
contusão descolorida perto da têmpora.

— Vincente.
— O quê, baby?

— Você não pode se culpar pelo que Kevin me fez. Do mesmo


modo que não pode se culpar por Sophia. O que aconteceu com sua
irmã foi trágico e horrível, mas não foi sua culpa. Foi somente uma
dessas coisas terríveis que acontecem e ela odiaria se soubesse que se
sente responsável durante todos estes anos. Não é? — Nika odiava que
Caleb sofresse por sua culpa. O que sabia que ele fazia.

Vincente encolheu os ombros, seu cavanhaque se movendo como


se quisesse franzir a testa.

— Ela teria amado você.

— Eu tenho certeza de que a teria amado também. E se era como


você, não gostaria que se sentisse dessa maneira. Realmente não teve
nenhum controle sobre nada do que aconteceu com nenhuma das
duas. Deve ver isso. Pode lamentar não estar no lugar certo no
momento certo, como eu me arrependerei... de tantas coisas. Mas
nada disso vai mudar o que aconteceu. Nenhuma influência externa
poderia ter mudado os pensamentos e ações de Kevin ou dos
sequestradores de Sophia. — Inclinou-se e beijou-o suavemente. —
Isto. — Indicou-lhe sua ferida. — Foi minha culpa. Fui eu quem
escolheu ir para o Kevin porque ele tinha Caleb. Eu senti que tinha
que fazer isso. Mas eu poderia ter lhe dito. Poderia ter chamado a
polícia. Poderia ter encolhido os ombros e me afastado. Mas como
disse ao meu irmão, vocês não podem se culpar de nenhuma ação que
eu escolha tomar. Simplesmente não podem.
— Eu deveria ter feito mais. Deveria ter mandado alguém com
Caleb. Deveria ter colocado de lado o que eu sentia por você desde o
começo e encontrar esse bastardo antes que ele chegasse a Caleb. Eu
deveria ter trancado você aqui como eu queria, até que tudo
terminasse.

Ela riu do absurdo de seus pensamentos.

— Acho que você está ciente sobre como me sinto ficando presa.

Deixou cair sua cabeça, e descansou sua testa lentamente sobre


a dela.

— Estou bem ciente disso. Por que acha que lutei tanto? Sei o
que Nollan lhe fez quando tirou sua liberdade. E tinha medo de que a
vida comigo fosse igual. Ainda tenho. Sim, estará envolvida em doces e
corações, mas continuará igual. Você sabe o que eu faço, a merda de
sociedade com a qual às vezes tenho que lidar. Esses bastardos a
ameaçarão agora, da mesma maneira que ameaçam Eva. Mas eu farei
o melhor que puder, como Gabriel e prometo agora protegê-la com
tudo o que tenho, sem tirar sua liberdade.

Este homem realmente era sua salvação.

— Você sempre me entende tão bem... — Sussurrou.

Ele assentiu.

— Juro pela memória da minha irmã, baby, que não vou fugir de
você, nunca falharei novamente. Quero deixar isso claro. Me dar uma
chance depende de você. — Seu toque em suas costas, sua grande
mão acariciando suavemente, fez seus olhos se fecharem. Graças a
Deus que ele estava ali. Todo seu.

— Você não tem que me compensar por nada mais que... — Seus
olhos se arregalaram enquanto uma onda primitiva e instintiva de
posse se apoderavam dela. — Onde você estava, afinal? Estava com
outra mulher?

— Porra! — Exclamou ele, o desejo enchendo seus olhos quando


a olhou. — Esse som. Em sua voz. É incrível.

— E então? — Insistiu e tentou não se encantar. — Você perdeu


interesse em mim e foi consolar sua consciência nos braços de alguma
bruxa loira?

— Você está louca? — Seus dedos se afundaram suavemente em


seus quadris. — Você não perde o interesse por alguém que ama. Na
verdade, a palavra amor é algo assim como um insulto, porque o que
eu sinto por você nem sequer se registra nessa escala. Você é quem me
dá vida, Ruiva. E se pensar por um segundo que eu até mesmo
poderia olhar para outra pessoa, será melhor encontrar alguns
medicamentos novos, baby, porque os que você usa não funcionam. —
Afastou o cabelo da testa e seguiu os fios abaixo para envolvê-los em
seu dedo.

Ela sabia que ele a amava, mas mesmo assim era uma coisa
bonita de ouvir. Esta era a razão pela qual não desistiu dele. Por que
sucumbiu a ele. Não é que realmente tivesse escolha no final. Não
podia afastar-se do que sentia. Do que ambos sentiam.
— Amo você também. — Sussurrou. — Posso lhe mostrar o
quanto?

Ele freou seu avanço e apertou seus braços.

— Diga-me outra vez e depois me mostre. — Disse contra seus


lábios.

Ela o fez e seu sorriso desapareceu de sua boca, enquanto


reclamava seus lábios com um beijo que sentiu ao longo de todo seu
corpo. Suas grandes mãos se moveram para baixo, muito
cuidadosamente e com os polegares percorria suas costelas. Nika
saboreou a sensação de sua língua e brincou com ela.

Afastou-se após um minuto e perguntou. — Você está bem com


as mudanças que fiz aqui? — Ele ainda não mencionou nada.

— Adorei. Tudo. Especialmente as plantas. Minha mãe adorava


plantas.

Ela sorriu com a facilidade que lhe oferecia detalhes pessoais.

— Bem. Tenho mais uma para lhe mostrar. Está pronto?

Seus olhos queimavam de amor enquanto olhava os dela. Ele


balançou a cabeça.

Ela deu um sorriso tranquilo e agarrou o vaporoso tecido de seu


vestido, que tinha se enrolado ao redor de suas coxas. Moveu-o de
maneira que seu umbigo se revelasse. Ela segurou o fôlego quando o
olhar de Vincente caiu nela com surpresa.
Seus lábios se separaram exalando, quando viu as chamas de
posse que encheram seus olhos.

— Nika...

— Ainda está cicatrizando. — Disse ela rapidamente, engolindo


todo o nó que se alojou em sua garganta. — Mas ficará lindo quando
estiver...

— É lindo. Porra. Acho que é a coisa mais sexy que já vi, baby.

Ela se moveu e de repente se encontrou de barriga para cima,


mais acima da cama, com Vincente sobre seu ventre. Ele enganchou
um dedo em sua calcinha e a abaixou um pouco e em seguida seus
dedos traçaram a tatuagem que agora havia abaixo do seu umbigo. As
palavras Propriedade de VR se encontravam entre os lírios, as folhas
e as videiras retorcidas. Toda a obra de arte foi feita em diferentes tons
de cinza.

— Fico feliz que você goste. — Feliz porque, claro, é permanente.


Mas mesmo se ele tivesse odiado ou nunca chegasse a vê-la, estaria
orgulhosa de usá-la, porque sempre pertenceria a este homem.

— Eu não gosto. Adoro. Quem fez?

Mesmo com a distração de seu hálito quente a acariciando, Nika


notou o estranho vislumbre de tensão em sua voz.

— Um cara chamado Ghost. Gabriel o indicou quando eu lhe


disse o que queria.
— Porra, devo-lhe muito mais do que uma desculpa. — Vincente
levantou os olhos para ela. — Tenho um presente para você também.

Nika deixou cair seu vestido novamente.

— Sério? O que é?

— São dois, na verdade. Primeiro: — Eu quero lhe oferecer um


cargo na Construções ROM. Gostaria que agradecesse ao Gabriel, mas
recusasse o posto e trabalhasse comigo. E antes que mesmo diga
alguma coisa, a esposa de Mario terá seu primeiro filho a qualquer
momento, por isso você não irá tirar o trabalho de outra pessoa. —
Não percebeu sua surpresa quando se sentou, a ajudando a fazer o
mesmo. Procurou algo no bolso da frente do jeans desgastado, e
estendeu sua mão na frente dela, abrindo-a quando ela olhou para
baixo.

Na ponta de seu dedo mindinho, virado para ela, havia um


bonito, mas incomum anel brilhante. A respiração de Nika parou,
quando viu o tamanho da esmeralda de corte princesa que se
encaixava orgulhosamente e com segurança em uma faixa negra e
dourada com um intrincado desenho.

Era negro.

Não de platina nem de ouro brilhante, mas negro.

Colocou sua mão na boca e o anel se tornou um borrão.


Rapidamente limpou os olhos, provavelmente com o rímel borrado.

Hesitou.
— Para... mim? — Sussurrou, sua garganta dolorida. Apesar de
estar casada, nunca recebeu o anel de um homem antes. — Eu não...

— Ouça. Eu o comprei há algumas semanas atrás, quando Caleb


e eu percorremos Crown Heights. Vi na vitrine de uma joalheria e
pensei que você gostaria. Não é para ser uma coleira, no entanto. Pode
usar ou não. — Pegou o lado de seu rosto com a palma de sua mão. —
Não vou prendê-la, baby. Eu lhe prometo isso. Como disse, farei o
maior esforço para permitir que tenha a liberdade que precisa. A
liberdade que merece. — Limpou a garganta e fez uma careta. — Eu
farei o melhor que puder.

Ela estendeu a mão da melhor maneira possível com o braço na


tipoia.

— Tem certeza?

Nika assentiu e esperou até que colocasse o anel em seu dedo


antes de chegar até ele lentamente esmagando o lindo presente entre
eles. Nem sequer a dor em seu peito poderia evitar que o segurasse.
Beijou-o com força. Amava sua distração.

— Amei. — Disse, sobre seus lábios. — Isto se parece muito com


os sonhos que eu costumava ter. Agora apenas preciso de um Volvo. —
Riu de sua testa franzida e negou. — Sinto muito. É que Eva tinha
um. Apenas me ignore.

— Acho que lhe disse isso uma vez ... isso não é possível.

No banheiro do apartamento em Astoria. Ela se lembrava.


— Por mim tudo bem. — Levantou a mão o melhor que pôde e
olhou seu anel. — Obrigada, Vincente. É perfeito.

— Uh, outra coisa, já que estamos no momento de compartilhar.


Nunca falamos sobre isto, mas recentemente eu decidi que quero um
filho. Você me daria um?

Ela o olhou e balançou a cabeça quase freneticamente, mais uma


vez, tentando não chorar enquanto a imagem de uma criança de
cabelos pretos e olhos escuros, cruzava sua mente.

— Adoraria isso. Mas, podemos ter um pouco de tempo para nós


primeiro?

— Absolutamente. Avise quando estiver pronta e estarei ao seu


serviço.

Seu corpo reagiu a isso e se aqueceu de dentro para fora.

— Isso me soa muito bem.

Seus lábios se moveram para cima e piscou. Ela se aconchegou


contra ele e escondeu o rosto em seu pescoço, insegura se ele iria
gostar do que diria.

— Vincente?

— Sim, baby? — Sua mão acariciou a parte de trás de sua


cabeça, suavemente como uma pluma, por causa de sua lesão recém
curada. Moveu-se como se não conseguisse ficar confortável.
— Embora eu saiba que você não quer ouvir isto, obrigada por
salvar minha vida. — Continuou dizendo quando ele inalou como se
fosse falar. — Eu não quero dizer com Kevin. Quero dizer de uma
maneira maior. Amo você com cada respiração que tenho. Por favor,
não me deixe novamente. Porque quando faz isso, leva cada uma das
minhas razões para viver.

Seus braços se apertaram ao redor dela.

— Eu não vou a lugar nenhum, baby. — Sussurrou em seu


cabelo. — Juro pela minha vida, estou aqui para ficar. Agora, por
favor, pare de se esfregar em mim. Não posso fazer absolutamente
nada, já que destruí a nossa porta.

Ela se endireitou com uma risada. Olhou para trás, e estalou a


língua para a bagunça que ele fez.

— Que gênio ruim.

Ele olhou ao seu redor, como se precisasse de uma distração.

— Ei. Onde está Charlie?

— Samnang se comprometeu a mantê-lo em seu quarto durante a


noite. — Ele deitou em seus travesseiros e a puxou até que ficasse
deitada em cima dele. Esfregou a bochecha contra seu peito e
respirou. — Você cheira muito bem.

Eles ficaram em silêncio durante alguns minutos antes que ele


dissesse. — Ruiva?

— Humm?
— Eu tenho que agradecer a você também. Estou... grato que
tenha visto além do que eu mostrava ao mundo naquele dia em
Seattle.

Nika levantou a cabeça e desejou que soubesse o quanto ela o


amava.

— Sua aparência foi o que me atraiu, Vincente. Não se engane. —


Acariciou seu peito, com sua mão enfeitada com o anel sobre seu
coração. — Porém, é o que você é que me faz querer ficar.

Ouviu-se um sussurro.

— Venha aqui!

Eles olharam um para o outro e se sentaram. Viraram para o


som. Um tranquilo galope precedeu uma pequena coisa preta que
passava pela porta e em seguida, tudo o que se pôde ver foi um
focinho e dois alegres olhos castanhos que apareciam e desapareciam
enquanto Charlie tentava pular na cama.

— Sinto muito, senhor Vincente. Ele fugiu de mim quando... —


Os olhos de Samnang se abriram quando viu a porta quebrada.

— Não se preocupe, Sammy. Está tudo bem. Nós nos


encarregamos dele.

À medida que o mordomo assentia e lentamente saia,


balançando a cabeça, Vincente inclinou-se para pegar o cachorrinho e
colocá-lo na cama, para que pudessem fazer carinho nele. Nika riu das
palhaçadas do cachorro e depois entrelaçou seus dedos com seu
homem e levou seu braço ao redor de sua cintura. Apoiou-se nele
enquanto deitava de costas, com a cabeça apoiada em seu ombro.
Suas pernas rodearam as dela.

Ela suspirou e esfregou as orelhas de Charlie, que estava sobre


suas coxas.

— Mmm... esta é uma jaula na qual não me importo de estar. —


Murmurou. A alegria era algo vivo dentro dela.

— E uma que eu não me importaria de te proporcionar. —


Assegurou Vincente.
Maksim Kirov é um mafioso que consegue o que quer, tanto em
seu luxuoso clube de cavalheiros, em Hell's Kitchen, como em seu
quarto. Sexy, perigoso e obcecado com controle, distinguiu-se das
fileiras de soldados para tornar-se um líder muito respeitado no
sindicato do crime dos Tarasov. Governa com punho de ferro... até que
conhece Sydney Martin.

Sydney, de origem australiana, está decidida a rejeitar os avanços


de Maks, apesar de sua química eletrizante. Proprietária de um clube
vizinho, Sydney governa seu próprio mundo. Mas quando o acordo
com um cartel de drogas mexicano acaba dando terrivelmente errado,
ela não tem outra escolha a não ser recorrer a Maksim e à organização
Tarasov para sua proteção. Ceder à essa intensa atração, seria o que
salvaria tanto Maks quanto Sydney? A paixão que tudo consome ou
seu chocante segredo poderia destruir suas vidas?

Na quente e escandalosa terceira parte da série Wanted Men, a


luxúria e a lealdade se chocam no submundo da máfia de Nova York.
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