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5.4 ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE: AÇÕES NA ESCOLA.

A Educação Popular (EP) se originou na década de 1960 a partir de experiências da


educação popular articulada aos movimentos sociais e pode ser entendida como parte do modo
de vida dos grupos sociais criadores e recriadores de uma cultura, a diferindo do treinamento ou
da simples transmissão de informações, de modo a construir um senso crítico capaz de auxiliar
no entendimento, comprometimento e capacidade de elaborar propostas, reivindicar e
transformar-se (BRASIL, 2014).
De acordo com Vasconcelos (2001), a EP pode ser um instrumental de desenvolvimento
de novas relações, com base no diálogo, na valorização do saber popular e busca pela inserção na
dinâmica do território e tendo a identidade cultural enquanto alicerce do processo de educação, a
partir da compreensão de que respeitar o saber popular, implica diretamente em respeitar o
contexto cultural dos indivíduos que ali vivem. A realização de ações de EP em saúde nos
territórios implica no planejamento de estratégias que valorizem as demandas do grupo com o
qual se vai trabalhar, bem como a articulação com dispositivos intra e intersetoriais capazes de
ampliar a capacidade de cuidado e atendimento às demandas de saúde da população atendida.
Pensar em ações de educação em saúde implica em traçar estratégias que valorizem as
demandas do grupo com o qual se vai trabalhar, assim como firmar parcerias com outros setores.
A principal parceria que os serviços de saúde que podemos firmar no trabalho com crianças é a
escola. Nesse sentido, a Escola Municipal de Bananeiras e a Creche foram os principais
dispositivos que pudemos nos articular, de modo a alcançar o maior quantitativo de crianças e
nas ações desenvolvidas.
Apesar da diversidade de técnicas e temáticas abordadas em nossos encontros, aspectos
fundamentais da educação popular em saúde foram seguidos, tais quais: metodologias
participativas que podem ser definidas como capazes de permitir uma atuação efetiva dos
participantes no processo educativo, valorizando seus conhecimentos, experiências e os
envolvendo na discussão, identificação e busca por soluções às problemáticas de suas vidas. No
quadro abaixo está sistematizado as ações com conteúdo, objetivo e público alvo a fim de
facilitar a visualização das atividades realizadas.

Quadro 2:Sistematização das ações de Educação em Saúde desenvolvidas


Atividade Conteudo Objetivo Publico
Alvo

Atividades do dia da Jogos e brincadeiras resgatar as brincadeiras da Estudantes/


criança populares cultura local que foram Creche
passando de geração em
geração

Saúde Bucal Importância de se ter Debater sobre higiene bucal e Estudantes/E


                    dentes saudáveis; seus benefícios; Aprender a scola
Escovação forma ideal de escovação
dental .

Verminoses O que são vermes, Debater sobre verminoses e Estudantes/E


como prevenir a sua contaminação; Aprender a scola
contaminação pela forma ideal de se lavar as
mesma mãos.

Determinação Social Modelo de Debater sobre quais fatores Mães


do processo Saúde determinantes de que influenciam a saúde dos
doença saude proposto por moradores da comunidade e
Dahlgren e quais alternativas de
whitehead; Direito à mudanças.
saúde

Identidade cultural e História da ilha; Resgate da identidade cultural Estudantes/E


Capoeira Tecnicas/historia da da ilha; vivencias de forma scola
Capoeira pratica a capoeira
Fonte: Autor
Realizamos nossa primeira atividade com as crianças na Creche, As professoras tinham
planejado uma comemoração em homenagem ao dia das crianças. Sendo assim nos convidaram
para realizar algumas práticas corporais com o objetivo de fazer as crianças se exercitarem.
Planejamos nossa atividade em cima do jogos e brincadeiras entendendo que a prática dos jogos
e brincadeiras não está relacionada somente com atividade física no aspecto motor, mas também
em aspectos positivos como respeito, cidadania, e inclusões sociais. Sendo essas práticas
ferramentas de auxílio no processo de desenvolvimento educacional, social e de saúde das
crianças.
Analisando as possibilidades de vivências planejamos nossa atividade em cima dos jogos
populares, com o objetivo de resgatar as brincadeiras da cultura local que foram passando de
geração em geração. Esse resgate é importante para ressignificar as brincadeiras, tendo em vista
o avanço da modernização e a troca de jogos que movimentam o corpo para jogos eletrônicos.
Sendo assim convidamos algumas crianças para pensarem com a gente nas possibilidades de
brincadeiras que poderiam ser realizadas.
A demanda das ações na escola surgiu a partir de conversas feitas com a Gestora da
escola, conversamos sobre a importância de se realizar atividades de educação em saúde e
demos exemplo de algumas experiências que já tínhamos realizado. A gestora falou sobre o que
ela observa como prioridade e que achava importante oficinas com o tema da saúde. Sendo assim
a partir da nossa análise junto com a gestão da escola foi feito um planejamento de oficinas com
os temas de Saúde Bucal e escovação, verminoses e lavagem de mão e de Identidade cultural e
capoeira. E começamos nossas atividades numa reunião de pais e mestres com um dos objetivos
de as mães dos estudantes nos conhecem primeiro.
A primeira atividade realizada na escola municipal de Bananeiras foi uma conversa com
as mães, seria para os pais também, mas a diretora relatou que dificilmente algum pai aparece, e
foi possível perceber isso na atividade realizada. O tema da conversa foi a Determinação social
do processo saúde doença que teve como objetivo debater sobre quais fatores que influenciam a
saúde dos moradores da comunidade e quais alternativas de mudanças. Usamos o modelo de
Dahlgren e whitehead para começar o debate e foi possível analisar como todas que estavam
presentes sabiam dos impactos do porto de aratu sobre a saúde dos moradores da ilha.
As seguintes atividades foram realizadas com os estudantes da escola em ambos os
turnos. A Oficina de Saúde Bucal, consistiu em uma conversa inicial sobre o porque se escovar
os dentes, conversamos também sobre a importância de se ter dentes saudáveis e para que serve
cada tipo de dente a partir de recursos de videos e por fim ensinamos na prática como seria uma
escovação ideal.
A oficina de verminose seguiu uma metodologia parecida, conversamos sobre como se é
infectado pelas vermes? perguntamos se eles sabia o que eram as vermes e se sabiam como
pegava a mesma? Depois passamos glitter na mão de 3 das crianças de cada sala, e pedimos pra
todo estudantes se cumprimentassem com apretos de mão e abraços, em seguida pedimos para
eles perceberem que todos estavam com glitter, então pedimos para eles lavarem as mãos da
forma que eles lavam e pedimos novamente para eles observarem as mãos, foi possível perceber
que ainda estavam cheia de glitter, daí ensinamos eles a forma ideal de se lavar as mãos e sempre
contextualizando da importância desse hábito.
Como novembro é o mês da consciência negra pensamos em uma oficina que tivesse o
objetivo de resgate da identidade cultural da ilha. Então conversarmos sobre a história da ilha.
Foi possível observar que as crianças, apesar de já ter se passado algumas gerações, ainda
trazem muito forte a ancestralidade e o conhecimento sobre a história do seu povo. Então depois
da conversa fizemos uma oficina de capoeira resgatando a contribuição dessa luta com a luta de
libertação do povo preto.
Essas práticas na escola foram importantes para perceber a importância do trabalho das
equipes multiprofissionais e de como cada profissional aprende com o núcleo do outro. Entendo
que dois profissionais de Educação Física ministrar oficinas de saúde bucal e verminose não é
comum de ver. e só é possível acontecer devido experiências com a troca de conhecimento na
atuação de equipes multiprofissionais.

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