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4 Entrevista em profundidade Jorge Duarte ntrevista é uma das mais comuns e poderosas maneiras que utilizamos ce para tentar compreender nossa condigo humana”, dizem Fontana & Frey (1994, p. 361). Ela tornouse técnica classica de obtencio de informacoes nas cigncias sociais, com larga adogZo em éreas como sociologia, comunicacao, antropologia, administracio, educagao e psicologia. Embora antes utilizada em jomalismo, etnografia,psicologa e pesqusas de mercado ede opinio, seu sur gimento como tema metodolégico pode set identificado na década de 1930 no mbito das publicagGes de assisténcia social americana, recebendo grande con- tribuigdo na década de 1940 nos estudos de Carl Rogers sobre psicoterapia orientada para o paciente (SCHEUCH, 1973, p. 171-172). A partir da Segunda {Guerra Mundial, as entrevistas passam a possuir orientages metodolégicas pré- prias. ; Este texto, imitado pelo espaco disponivel e objetivo, trata da entrevista in- dividual em profundidade, cénica qualtaiva que explora um assunto« puts di ‘busca de informacées, percepcoes ¢ experiéncias de informantes para analisé- las e apresentclas de forma estruurada. Entre as principals qualidades dessa abordagem esté a flexibilidade de permitir ao informante definir os termos da resposta e ao entrevistador ajustar livremente as perguntas. Este tipo de entre- vista procura intensidade nas respostas, ndo-quantificagao ou representaclo ¢s- tatistica ‘A entrevista em profundidade é um recurso metodolégico que busca, com base em teorias ¢ pressupostos definidos pelo investigador, recolher respostas a partir da experiéncia subjetiva de uma fonte, selecionada por deter informacGes que se deseja conhecer. Desta maneira, como na andlise de Demo (2001, p. 10) sobre pesquisa qualitativa, os dados no sdo apenas colhidos, mas também re- -—_ nneists em prfenddade 63 sultado de interpretacio e reconstrugdo pelo pesquisacor, em didlogo inteligente e critico com a realidade. Nesse percurso de descobertas, as perguntas permi- tem explorar um assunto ou aprofundé-lo, descrever processos ¢ fluxos, com- preender o pasado, analisar, discutir e fazer prospectivas, Possibilitam ainda identificar problemas, microinteragGes, pacirOes e detalhes, obter juizos de valor e interpretacées, caractetizar a riqueza de um tema e explicar fenémenos de abrangéncia limitada. O uso de entrevistas permite identifcar as diferertes manciras de perceber e descrever os fendmenos, A entrevista esté presente em pesquisas de comuni- cacdo interna (CURVELLO, 2000), comportamento organizacional (SCHIRATO, 2000), levantamentos histéricos e biogrficos (MARQUES DE MELO ¢ DUARTE, 2001), processos jomnalsticos (PEREIRA JR., 2000) e em vatios ou laos tipos de estudo, usada como base ou conjugada com diferentes técnicas, ‘como observacio, discussdo em grupo e andlise documental. O estudo de recep- ‘¢io de um telejornal entre trabalhadores, de Carlos Eduardo Lins da Silva (1985), 6 cléssico na articulagio de técnicas, além de ser didético na descri¢do dos proce- dimentos metodol6gicos empregados. Outro exemplo do potencial do uso de entrevista como suporte para vigorosas andlises é dado por Kovach e Rosenstiel (2003), publicacao recente, mas jé fundamental para ciscutir 0 jornalismo. A entrevista em profundidade nao permite testar hip6teses, dar tratamento estatistico as informacSes, definir a amplitude ou quantidade de um fendmeno. Nao se busca, por exemplo, saber quantas ou qual a proporgdo de pessoas que identifica determinado atributo na empresa “A”. Objetiva-se saber como cla é per- cebida pelo conjunto de entrevistados. Seu objetivo esté relacionado ao forneci- ‘mento de elementos para compreensio de uma situaco ou estrutura de um problema. Deste modo, como nos estudos qualitativos em geral, o objetivo mui- (as vezes esté mais relacionado a aprendizagem por meio da identificacéo da riqueza e diversidade, pela integra¢do das informacées = sintese das descobertas do que ao estabelecimento de conclusdes precisas ¢ defnnitivas. Por isso, a nogio dde hupotese, tipica da pesquisa experimental e tradicional, tende a ser substituida pelo uso de pressupostas, um conjunto de conjeturas antecipadas que orienta 0 trabalho de campo. Estabelecidas limitagSes e condigdes de realizacio, a entre- vista pode ser ferramenta bastante itil para lidar com sroblemas complexos 20 permitir uma construcéo baseada em relatos da interpretacio e experiéncias, assumindo-se que nao seré obtida uma visio objetiva do tema de pesquisa. Por meio da entrevista em profundidade, é possivel, por exemplo, entender como produtos de comunicacao esto sendo percebidos por funcionérios, expli- car a producdo da noticia em um veiculo de comunicacio, identificar motivacBes. para uso de determinado servico, conhecer as condicdes para uma assessoria de imprensa ser considerada eficiente, identificar as principais fontes de informa- fo de jornalistas que cobrem economia. Permitiria saber os motivos pelos quais (64. oon ened pesgus om comunicgio deverminadas fontes jomalisticas s40 as mais (ou menos) utilizadas, como so ‘acessadas, dificuldades, problemas, vantagens, desvantagens. Saber como e por ‘que as coisas acontecem é, muitas vezes, mais til do que obter preciso sobre o ‘que esta ocorrendo. ‘A entrevista em profundidade & uma técnica dinamica e flexivel, stil para apreensio de uma realidade tanto para tratar de questées relacionadas ao intimo do entrevistado, como para descricéo de processos complexos nos quais esté ou. esteve envolvido. E uma pseudoconversa realizada a partir de um quadro conceitual previamente caracterizado, que guarda similaridade, mas também di ferencas, com a entrevista jornalistica. Sao préximas no objetivo de buscar in- formagGes pessoais e diretas por meio de uma conversac&o orientada, no cuida- do, rigor e objetivo de compreensio (sobre entrevista jornalistica, ver Medina, 1995 e Talese, 2004) e na nocio de que ha, explicitamente, um participante inte- ressado em apreender o que o outro tem para oferecer sobre o assunto. A entre- vista como técnica de pesquisa, entretanto, exige elaboragdo e explicitagao de procedimentos metodolégicos especificos: 0 marco conceitual no qual se origi- na, 0s ctitérios de seleco das fontes, 0s aspectos de realizaglo e 0 uso adequado das informagdes so essenciais para dar validade e estabelecer as limitagSes que 6s resultados possuirao, 1 Tipos de entrevista {A partir da divisio proposta por Selltz et al. (1987), a entrevista em profun- didade é extremamente stil para estudos do tipo exploratério, que tratam de conceitos, percepgdes ou vis6es para ampliar conceitos sobre a situaco analisa- da. Pode ser empregada para o tipo descritivo, em que o pesquisador busca mapear ‘uma situago ou campo de anilise, descrever ¢ focar determinado contexto. NAO 6 adequada, entreranto, para us estudus do tipo causal, quc buscam catabelecer correlagées de causa e efeito. As entrevistas em profundidade séo geralmente individuais, embora seja possivel, por exemplo, entrevistar duas fontes em conjunto. As entrevistas so classificadas com grande variedade de tipologias, geralmente caracterizadas como abertas, semi-abertas e fechadas, origindrias, respectivamente, de questGes no estruturadas, semi-estruturadas ¢ estruturadas (veja proposta de tipologia no quadro). As abertas e semi-abertas s4o do tipo em profundidade, que se caracte- rizam pela flexibilidade e por explorar ao maximo determinado tema, exigindo da fonte subordinagio dinamica ao entrevistado. A diferenga entre abertas ¢ semi- abertas € que as primeiras so realizadas a partir de um tema central, uma entre- vista sem itinerfrio, enquanto as semi-abertas partem de um roteiro-base. Auto- ‘terns em profunddade 65 res como Ander-Egg (1978, p. 111) e Selltiz etal, (1987, p. 298) identificam um tipo especial de entrevista em profuundidade, a clinica, relacionada a motivacées, atitudes, crencas especificas do respondente com base em sua experiéncia de vida. Apesar dessa dstingfo, a entrevista clinica € do tipo aberts, apenas com abjetivo relacionado & personalidade e 20s sentimentos de uma inien pessoa, buscando beneficié-la individualmente, Jé a entrevista fechade é utilizada princt- palmenve em pesquisas quantitativas, quando, por exemplo, se deseja obter in- formagOes representativas de um conjunto de uma populacdo. Guber (2001) avalia que as entrevistas fechadas implicam a participardo do informante nos termos do pesquisador,enquanto as abertas pressupoer a partcipagao do pes. quisador nos termos do informante. Em muitas ocasi6es, € possivel reunis, em uuma mesma pesquisa ou até na mesma entrevista, questées de natureza qualita ae quantitaiva Modelo de tipologia em entrevista Pesquisa | Questées | Entrevista | Modelo | Abordagem | _Respostas Nao Questio cuattaoa | Seomraaas | Awe ‘entral =i =n a profurvidade | iéeterminadas cestruturadas | aberta dedi [Quantitativa] Estruturadas | Fechada | Questiondrio | Linear Previstas 1.1 Entrevista aberta E essencialmente exploratoria e flexivel, no havendo seqiiéncia predeter- minada de questdes ou pardmettos de respostas. Tem como ponto de partida um tema ou questao ampla € tlui livremente, sendo aprofurdada em determinado rumo de acordo com aspectos significativos identificados pelo entrevistador en- quanto o entrevistado define a resposta segundo seus préprios termos, utilizan- do como referéncia seu conhecimento, percepsdo, linguagem, realidade, experién- cia, Desta maneira, a resposta a uma questdo origina a pergunta seguinte e uma entrevista ajuda a direcionar a subseqiiente. A capacidade de aprofundar as ques- tes a partir das tespostas toma este tipo de entrevista muito rico em descober- tas, Uma das dificuldades € que o pesquisador deve ter afiada capacidade de ‘manter 0 foco e garantir a fluéncia ¢ a naturalidade. Flexivel e permissiva, exige habilidade para ndo perder-se no irrelevante ou tomé-la uma conversa agrada- vel, mas improdutiva. Muitas vezes, é realizada como sondagem para a elabora- so de roteitos semi-esiruturados ou questionérios estruturados. Lee 166. Niza kes pea cm omens 1.2 Entrevista semi-aberta Modelo de entrevista que tem origem em uma matriz, um roteiro de ques tdes-guia que dio cobertura ao interesse de pesquisa. Ela “parte de certos Guestionamentos bésicos, apoiados em teorias e ipoteses que interessam & pes. Guise que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de viovas hipdteses que vao surgindo & medida que se recebem as respostas do informante” (TRIVINOS, 1990, p. 146) ‘A lista de questées desse modelo tem origem no problema de pesquisa © busca tratar da amplitude do tema, apresentando cada pergunta da forma mais aberta possivel. Ela conjuga a flexibilidade da questdo nfo estruturada com umn Toteire de controle. As questdes, sua ordem, profundidade, forma de apresenta- ‘lo, dependem do entrevistador, mas a partir do conhecimento e disposicio de Snerevistado, da qualidade das respostas, das circunstancias da entrevista. Uma cnurevista semi-aberta geralmente tem algo entre quatro e sete questOes, trata das individualmente como perguntas abertas. © pesquisador faz a primeira per- sgunta e explora ao maximo cada resposta até esgotat a questo. Somente entso passa para a segunda pergunta. Cada questio € aprofundada a partir da resposta Be entrevistado, como um funil, no qual perguntas gerais vao dando origem a especificas. 0 rote exige poucas questSes, mas suficientemente amplas para serem discutidas em profundidade sem que haja interferéncias entre elas ou tedundancias. A entrevista € conduzida, em grande medida, pelo entrevistado, yalorizando seu conhecimento, mas ajustada ao roteiro do pesquisador. ‘A lista de questées-chaves pode ser adaptada e alterada no decorrer das en- trevistas. Uma questo pode ser dividida em duas e outras duas podem ser reu~ thidas em uma 66, por exemplo. Por isso, € natural o pesquisador comecar com lum roteiro e terminar com outro, um pouco diferente. ‘Vamos exemplificar. Supondo que um pesquisador entrevistard editores de Jornais online com uma lista de seis qnestbes centrais sobre as caracteristicas deste tipo de veiculo: (1) como € estruturada a divisio de trabalho?; (2) como So as rotinas produtivas?; (3) quais os crtérios de relevancia utilizados na sele- {fo dos acontecimentos?; (4) como & feita a avaliagdo do trabalho”; (6) quais as transformagées na producao da noticia on ine nos tiimos dois anos?; (6) que Imudangas s&o previstas? No primeiro item, o entrevistador faz a pergunta, ob- ‘tm uma resposta e ndo passa para a pergunta dois, mas a aprofunda, em busca de exemplos, detalhes, especificacSes, fazendo talvez mais de uma dezena de hhovas perguntas, antes de passar para a seguinte. Assim, a questo 2 pode in- cluir saber sobre as fontes de informacio, a confianga nessas fontes, a atuacdo dda equipe na busca de informacio, a facilidade de acesso; a velocidade exigida na apuracdo, Cada questo toma-se como que um tema de pesquisa gue exige um quadro de referéncia e conhecimento anterior que permita aprofundar 0 topico. it nevi em profeniade 67 Uma vantagem desse modelo & permitir Ua va criar uma estrutura para comparaga socpeipetinigs Peseta Se semen ae es fornecidas por diferentes informantes. O roteiro de questdes-chaves serve ons cone es ia descricdo e anilise em categorias, como se verd adiante. __Altemativa tii 6 fazer, durante a preparagdo do roteiro-guia, lagéo t6picos relevantes relacionados a cada questo. Depols-eaperar dpa a cada rar cada pergnta orignal o mximo jo a0 entrevista, perqusador contre a relacio para saber se todos os tépicos possiveis foram abordados. Tal estratégia mantém a naturalidade e as vantagens da entrevista semi-estruturada e agua questi relevant io sj abordat, Pe er aicuarmente tl pore diferentes pesquisadores retornem com 2 mesma estrutura de respostas. 1.3. Entrevista fechada E realizada a partir de questionérios estruturad tela rruturados, com perguntas iguais paras os enrevistados, de modo que sea poste etabelecer tnifermidade comparagao entre respostas. As pesquisas de opiniao séo exemplo tipico. Exi- fa darriemeto do eat soe cnpra saya aes eapatas Bara quests propo, vem dscns sobre ela, O quetiondtoestrutue fo pritico para grande nimero de respondentes e pode ser auto-aplicivel Com ele, € possivel fazer andlises rapidamente, replicar com facilidade, limitar as possibilidades de interpretacio e de erro do entrevistado e comparar com outras entrevistas similares. Embora sugira simplicidade, sua elaboracao exige profun- do conhecimento prévio do assunto. © questionério estruturado, muitas vezes, é utilizado para dar subsidio ini- cial ou para aprofundar resultados obtidos em entrevistzs em profundidade. Pode set empregado como item complementar de uma entrevista semi-estruturada, tor Capen: busemde iar opel do espana Yee mel ob 2 Validade e confiabilidade Nao se busca generalizar ou provar algo com entrevistas em profundidade mas seu cardter subjetivo exige adequada formularéo dos procedimentos tetodoigcos econfane ns resultados obios. A questo relevant ois ni ou . no baa ouvir Fontes fazer um lato para considera reazaa uma pesquisa As condigdes de valida dizem respeito& capacidde de os instrumentos ¢ sua utilizago adequada fornecerem os resultados que o pesquisador se propés 168. Méwotose encase pesquen comico obter. © julgamento da validade de uma investigacdo cienifica pode ser obtido pela construgdo metodol6gica do trabalho, 20 relacionar formulacio teérica questo de pesquisa, perguntas, crtérios de selegéo dos entrevistados ou sea ¢ identificada jA no exame do projeto. A triangulagio de dados com o acréscimo de fontes diversificadas de evidéncias, como documentos, observasao ¢ literatu tae wou encadeamento consistente na etapa de andlise, ajuda a garantir a valida- de dos resultados suportados por entrevistas em profundidade. ‘A confiabilidade diz respeito ao rigor metodolégico que garante que, repeti- dos os procedimentos, 08 resultados sero os mesmos. Isto exige tanto a confir- mario das informacoes obtidas na pesquisa de campo, quanto a articulagao ade (quad destas informagdes na descric, a coeréncia da anise com o quadro de llexio proposto e conclusdes consistentes com 0s passos anteriores. A obten- {ao de confiabilidade é baseada na descricio pormenorizada dos procedimentos Se operacionalizacio das entrevistas e uso fundamentado ¢ consistente das res- postas obtidas. Validade e confiabilidade no uso da técnica de entrevistas em profundidade dizem respeito, particularmente, a trés quest6es: 1. selecéo de informances capazes de responder & questio de pesquisa 2. uso de procedimentos que garantam a obtencio de respostas confi 3, descrigio dos resultados que articule consistentementé as informagSes ‘obtidas com 0 conhecimento teérico disponivel 3. Selesio dos informantes ‘Uma boa pesquisa exige fontes que sejam capazes de ajudar a responder sobre o problema proposto. Elas deverao ter envolvimento com o assunto, dis- ponibilidade e disposico em falar. Nos estudos qualitatives, sfo preferiveis poucas fontes, mas de qualidade, a muitas, sem relevo. Desse modo, ¢ no limite, uma tinica entrevista pode ser mais adequada para esclarecer determinada questo do que um censo nacional Por isso, ¢ importante considerar que uma pessoa somente deve ser entrevistada se realmente pode contribuir para ajudar a responder & questo de pesquisa. ‘A amostra, em entrevistas em profundidade, nao tem seu significado mais ‘usual, o de representatividade estatistica de determinado universo. Est mais lignda & significacdo e & capacidade que as fontes tém de dar informagGes confi vyeise relevantes sobre o tema de pesquisa. Boa parte da validade da pesquisa est {ssociadia A selocdo. E possivel, entrevistando pequeno mtimero de pessoas, ade- {quadamente selecionadas, fazer um relato bastante consistente sobre um tema Eee I visa cm profunade 69 bem definido. Relevante, neste caso, € que as fontes sejam consideradas nic pera lle, ag tamil uichertce pus pnd eso de essing gue torna normais, durante a pesquisa de campo, noasindcagoes de pessoas gue pssam conbulrcom o abl , portant, ser acescentats Ista de importante obter informagées que possam dar visses e relatos div dos sobre os mesos fats. Pesos em paps scins ferent rec che: das ou que tenham deixado a funcao recentemente, odem dar eae e informagées bastante Geis. A relevancia da fonte esté relacionada com a contri- buigéo que pode dar para atingir os objetivos de pesquisa. Por exemplo: nem sempre o cage detercaina a qualidade da fonte-Nis &#ncoesum um pesquieadax se entusiasmar com a possibilidade de entrevistar uma autoridade ou dirigente e abter como resultado lugares-comuns e afirmacGes rrelevantes. Dependendo do objetivo do trabalho, pode-se obter melhor resultado entrevistando um funcio- nro do que o gerente, o repérter do que o editor-chefe, as pessoas que conhe- cem um personagem do que o préprio personagem. Ao mesmo tempo, pessoas que tenham participacio menor podem contradizer, apresentar perspectiva inu- sitada, aumentar a confianga ou esclarecer mais detalhadamente aspectos rele- vantes, Deste modo, a correta selecio das fontes para entrevistas em profun dade ea interpretagio ponderada das respostas permit limitar a influéncia das fontes politicamente mais relevantes. Iso ocorre porque descrigdes e andlises mais consistentes e imparciais so freqiientemente o2tidas por téenicos ¢ pes- soas envolvidas no processo, sem interesses outros que niio 0 de colaborar com © entrevistador. A descricio dos achados é, assim, definida pelas informagées obtidas e ndo pelo poder politico da fonte. A selegdo dos entrevistados em estudos qualitativos tende a ser nio probabilistca ou sej, sua definigdo depend do julgamento do pesquisador e nfo de sorteio a partir do universo, que garante igual chance acodos (carateristca das amostras probabilsticas). Exist dois tipos bisicos de amostras no probebilisticas para uso em entrevistas qualtativas: por conveniéncia ou intenciona ‘Aselego por conveniéncia (também chamada acidental)é bascada na viabi lidade. Ocorre quando as fonts sio selecionadas por proximidade ou disponil lidade. Por exemplo: escolhemos alguns alunos de jornalismo disponiveis no intervalo entre as aulas para saber sobre a percep¢io daquele grupo (estudantes de jomalismo da insttuigio) a respeito da qualidade do jornal laboratério. A selegto & intencional quando 0 pesquisador faz a selego por juizo parti- cular como conheclmento do tema ou represetativdadeeubjetiva, Nest ca, ele pode selecionar conhecedores espectficos do assunto, como editor © repérte- fo joa abort, pr exemple para ata a prodcto,cw um lio uma aluna de cada semestze,letores er uma avalia : ual ,Ietores do jornal, para fazer uma avaliagio do pro- 70. Mido encase pergues mcomunicsso Quivy e Campenhoudt (1992, p. 69) propdem trés categorias bastante abrangentes de interlocutores em entrevistas: (a) docentes, investigadores especializatos e peritos; (b) testemunhas privilegiadas ¢ (c) 0 piblico a que 0 estudo diz respeito. Com base nessa classificagdo ¢ na experiéncia de campo, estabelecemos cinco tipos de informantes para entrevistas em profundidade. A classificagio, em cada caso, sera sempre dada pelo pesquisador a partir de crité- ros subjetivos relacionados 20 objetivo da pesquisa. a) especialista: geralmente pesquisador, académico ou pessoa de grande experiéncia/conhecimento no assunto, mas no diretamente envolvida com o problema de pesquisa; ) informante-chave: fontes de informacdo consideradas fundamentais por estarem profunda e diretamente envolvidas com os aspectos centrais da questo, o que faz. com que nao serem entrevistadas possa significar grande perda. Em uma pesquisa qualitativa sobre comunicacéo inter- 1a, o chefe do setor de recursos humanos, o presidente do sindicato, 0 gerente de comunica¢do poderiam ser incluidos nesta categoria; 6) informante-padrao: fonte envolvida com o tema de pesquisa, mas que pode ser substitufda por outra sem que se espere prejuizo na qualidade das informagées obtidas; 4) informante complementar: fontes de oportunidade surgidas no decor- rer da pesquisa. Muitas vezes, nao é citado como fonte no relatério por no se julgar que tenha havido entrevista na forma prevista nos proce- dimentos metodoligicos. Apesar da participacio secundéria, pode con- tribuir com informacées circunstanciais, dicas ou detalhes para confir- macio de aspectos especificos da questo de pesquisa; ©) informante-extremista: aquele cuja percepc4o contraria as principais fontes por motivos ideol6gicos, politicos, pessoais ou por possuir visa muito particular do tema. Mesmo que oferega interpretagio tendencio- sa, pode fornecer insights, informagoes ¢ visdo critica bastante impor- tante para composicio do quadro de pesquisa. 4 Atoda entrevista Scheuch (1973) cita trés modelos de entrevista: 0 fraco, estilo permissivo, em que o entrevistador & receptculo passivo das informacées oferecidas pela fonte. Ele setia compativel com as entrevistas inerentes & psiquiatria, por exem- plo. No outro extremo, o modelo de entrevista forte, em que existe posicao agres- siva ou autoritéria, mesmo subjacente, na perspectiva de que o entrevistado esta i «x evs em rfundiade 71 propenso a dar informagdes falsas ou questiondveis, Ele pode ser encontrado ‘em entrevistas do tipo interrogat6rio e em algumas jernalfsticas. © modelo neu- tro faz do entrevistador um transmissor de estimulos positives, buscando impessoalidade e equilibrio na relagdo. & o mais aproximado do desejavel nas entrevistas em comunicacao e 0 que buscamos tratar neste texto, Isto néo impe- de que haja transigao de um modelo para outro

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