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Ministério de Minas e Energia - MME Programa das Nações Unidas para o

Secretaria Executiva - SE Desenvolvimento - PNUD

Projeto BRA/01/039 - Apoio à Reestruturação do Setor Energético

PROPOSTA DE METODOLOGIA
PARA ANÁLISE DE PASSIVOS AMBIENTAIS DA
ATIVIDADE MINERÁRIA

Consultor: CIBELE TEIXEIRA PAIVA

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Brasília, setembro de 2006

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Contrato nº 2006/001332
Ministério de Minas e Energia - MME
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SUMÁRIO

LISTA DE QUADROS

LISTA DE FIGURAS

SIGLAS E ABREVIAÇÕES USADAS NESTE TRABALHO

1. INTRODUÇÃO 1
2. OBJETIVOS 5
3. LEGISLAÇÃO MINERAL E AMBIENTAL BRASILEIRA 6
3.1. Legislação mineral brasileira 6
3.1.1. Constituição da República Federativa do Brasil 6
3.1.2. O Código de Mineração 7
3.1.3. Legislação relevante 8
3.2. Legislação ambiental brasileira 10
3.2.1. Legislação ambiental relevante 11
3.2.1.1. Resoluções do CONAMA 12
3.3. Normas técnicas 13
4. CONCEITOS BÁSICOS 15
4.1. Atividade minerária 15
4.1.1. Etapas da atividade minerária 16
4.1.1.1. Prospecção e pesquisa 16
4.1.1.2. Desenvolvimento 18
4.1.1.3. Lavra 18
4.1.1.4. Beneficiamento 19
4.1.1.5. Desativação 19
4.2. Empreendimentos minerários 22
5. RISCO, IMPACTO E PASSIVO AMBIENTAL 24
5.1. Risco 24
5.1.1. Risco e perigo 26
5.1.2. Risco ambiental 27
5.1.3. Avaliação de risco ambiental 28

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5.1.3.1. Avaliação de riscos ambientais 31


5.1.4. Riscos ambientais associados à atividade minerária 32
5.2. Impacto ambiental 35
5.2.1. Estudo de impacto ambiental 37
5.2.1.1. Avaliação de impactos ambientais 37
5.2.1.2. Metodologia de avaliação de impactos ambientais 38
5.2.2. Indicadores de impacto ambiental 39
5.2.3. Principais impactos decorrentes da atividade minerária 40
5.2.3.1. Impactos sobre o meio físico 41
5.2.3.2. impactos sobre o meio biótico 47
5.2.3.3. Impactos sobre o meio antrópico 51
5.3. Passivo ambiental 55
5.3.1. Passivo ambiental para o setor minerário 57
5.3.2. Analogia entre risco, impacto e passivo ambiental 59
6. METODOLOGIA PARA ANÁLISE DE PASSIVOS AMBIENTAIS DECORRENTES DA
ATIVIDADE MINERÁRIA 64
6.1. Indicadores de ambientais 64
6.2. Indicadores selecionados para a determinação de passivos ambientais 66
6.2.1. Meio físico 67
6.2.1.1. Cava final da mina 67
6.2.1.2. Áreas de subsidências 70
6.2.1.3. Disposição de material estéril 71
6.2.1.4. Disposição de rejeitos e resíduos 74
6.2.1.5. Propriedades do solo e processos erosionais 77
6.2.1.6. Qualidade das águas superficiais e subterrâneas 80
6.2.1.7. Dinâmica fluvial 83
6.2.1.8. Rebaixamento do nível do lençol freático 84
6.2.2. Meio biótico 86
6.2.2.1. Supressão de espécies endêmicas da fauna e da flora 86
6.2.3. Meio antrópico 86
6.2.3.1. Patrimônio cultural 87
6.2.3.2. Alterações na forma de uso do solo 88
6.2.3.3. Desmontagem de equipamentos e demolição de
obras civis 89

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6.2.3.4. Impacto visual 90


6.2.4. Indicadores de passivo ambiental para atividades minerárias
- síntese. 92
7. CONTABILIDADE FINANCEIRA DE PASIVOS AMBIENTAIS 94
7.1. Custos ambientais 95
7.2. Custos de recuperação ambiental das atividades minerárias 97
7.3. Aspectos legais da análise de passivos ambientais 99
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 101

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LISTA DE QUADROS

Quadro 5.1: Definições associadas ao termo Risco, segundo Augusto Filho (2001).

Quadro 5.2: Categorias de severidade (modificado a partir de Brandt 2000).

Quadro 5.3: Atividades passíveis de geração de impactos nas atividades minerárias.

Quadro 5.4: Poluentes mais comuns nas águas residuárias de mineração. Modificado a partir
de Sanchéz (1995).

Quadro 6.1: Condições de ocorrência de passivo ambiental decorrente da situação da cava


final.

Quadro 6.2: Condições de ocorrência de passivo ambiental relacionado à subsidência de


terrenos.

Quadro 6.3: Condições de ocorrência de passivo ambiental relacionado à disposição de


material estéril.

Quadro 6.4: Condições de ocorrência de passivo ambiental relacionado à disposição de


rejeitos e resíduos sólidos.

Quadro 6.5: Condições de ocorrência de passivo ambiental relacionado à alterações nas


propriedades do solo e processos erosionais.

Quadro 6.6: Condições de ocorrência de passivo ambiental relacionado à alterações na


qualidade das águas superficiais e subterrâneas.

Quadro 6.7: Condições de ocorrência de passivo ambiental relacionado à alterações na


dinâmica fluvial.

Quadro 6.8: Condições de ocorrência de passivo ambiental relacionado ao rebaixamento do


nível do lençol freático.

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Quadro 6.9: Condições de ocorrência de passivo ambiental relacionado à supressão de


vegetação.

Quadro 6.10: Indicadores de passivo ambiental na atividade minerária.

LISTA DE FIGURAS

Figura 5.1: Etapas de uma Análise de Riscos, modificado a partir de Brandt (2000).

Figura 5.2: Fluxograma - síntese das interrelações entre Risco, Impacto e Passivo ambiental.

Figura 5.3: Fluxograma – analogias entre Risco, Impacto e Passivo ambiental.

Figura 6.1: Foto da antiga cava da mina de manganês da Serra do Navio/AP.

Figura 6.2: Foto de uma pilha de estéril proveniente da lavra de carvão mineral.

Figura 6.3: Foto de uma barragem construída atender a lavra de ouro em garimpo.

Figura 6.4: Foto de uma barragem de decantação de rejeitos provenientes da planta de


tratamento de bauxita.

Figura 6.5: Foto mostrando processo erosivo instalado em solo do tipo distrófico.

Figura 6.6: Foto mostrando galeria de mina de carvão subterrânea.

Figura 6.7: Foto do rio Gualaxo / MG - área de garimpo de ouro.

Figura 6.8: Foto mostrando antigas instalações minerárias abandonadas.

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SIGLAS E ABREVIAÇÕES

C.M. : Código de Mineração

FNDCT : Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

NRM : Normas Regulamentares de Mineração

ONU : Organização das Nações Unidas

CONAMA : Conselho Nacional do Meio Ambiente

CANIE : Cadastro Nacional de Informações Espelelológicas

SNUC : Sistema Nacional de Unidades de Conservação

APP : Área de Preservação Permanente

ABNT : Associação Brasileira de Normas Técnicas

COPAM : Conselho de Política Ambiental

D.N. : Deliberação Normativa

ARA : Avaliação de Risco Ambiental

AIA : Avaliação de Impacto Ambiental

EIA : Estudo de Impacto Ambiental

RIMA : Relatório de Impacto Ambiental

PGR : Plano de Gerenciamento de Riscos

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1. INTRODUÇÃO

A questão ambiental, embora tenha sido motivo de preocupação do homem desde longínquas
eras, só recentemente ganhou dimensão planetária. A ação predatória do homem sobre a
natureza foi conseqüência das duas grandes revoluções por que passou a humanidade: a idade
do ferro e a industrial. A primeira transformou o homem, de mero coletor de alimentos em seu
produtor, ainda que o fizesse precariamente, pois sua ação dependia exclusivamente da energia
resultante da sua pequena força física ou dos animais que domesticou. A segunda, muito mais
preocupante, pois ao substituir a energia animal pela mecânica, aumentou exponencialmente os
efeitos deletérios da ação humana sobre o meio ambiente. A partir desta concepção pode-se
inferir que o homem talvez seja a espécie animal de vida mais breve e efêmera do planeta, pois
é o único a incorporar em seus avanços científicos e tecnológicos um grande potencial auto
destruidor.

Segundo Braga et al (2005) o primeiro instrumento desenvolvido para tentar harmonizar as


relações entre o Homem e o meio ambiente foi o denominado de “comando e controle”. Ainda
segundo os autores, este sistema constituía em uma série de normas e padrões ambientais que
visavam a proteção do meio ambiente e dos efeitos decorrentes da exploração irracional dos
recursos naturais.

Em diversos países, incluindo o Brasil, por algum tempo, a poluição foi vista como um indicativo
de progresso. Esta “cultura” prevaleceu até o surgimento de problemas que se agravaram e se
fizeram notar através de problemas de saúde provocados pela poluição. Segundo Braga et al
(2005) as primeiras iniciativas relacionadas ao controle da poluição tiveram então como foco a
saúde do trabalhador no ambiente de trabalho. Foram desenvolvidas normas de saúde e
segurança ocupacional, cujas primeiras sementes, nos Estados Unidos da América, foram
plantadas no início do século XX. Posteriormente a preocupação passou a ser a população
situada nos arredores de empreendimentos emissores de poluentes.

A poluição atmosférica foi a primeira a se manifestar de maneira mais evidente e mais intensa,
afetando a saúde da população, e levando à necessidade de se estabelecer uma legislação
para o seu controle. Em meados de 1970, nos Estados Unidos, foi criada a primeira norma para
controle da poluição atmosférica, a Clean Air Act, que foi o resultado de um esforço iniciado em
1955, com a publicação da Lei Pública 84-159, conhecida como Air Pollution Control Act of 1955

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(AMS, 2004). A publicação desta lei constituiu em um marco para o surgimento de uma
legislação ambiental.

A partir desta época verificou-se uma evolução nos modelos de regulamentação com a
introdução dos conceitos de gerenciamento, ou gestão do meio ambiente e a incorporação de
mecanismos de coerção através da imposição de penalidades e multas.

Com uma melhor compreensão dos efeitos resultantes das atividades humanas sobre o meio
ambiente, houve uma evolução no modelo de regulamentação ambiental, que passou a
incorporar os conceitos de planejamento e gerenciamento dos recursos naturais, além dos
mecanismos de coerção.

Atualmente, existe uma farta legislação de proteção ambiental e de gestão dos recursos
ambientais, o que, em tese, poderia parecer suficiente para assegurar a sua preservação ou
manejo sustentado. Há, no entanto necessidade de uma análise profunda dos instrumentos
existentes e de sua reformulação para que possam realmente conduzir ao desenvolvimento
sustentável (Braga et al, 2005).

Segundo MMSD (2002, in SINGEO & ABGE 2006), no ramo da atividade minerária, para o
sucesso de uma política de desenvolvimento sustentável, será necessária uma melhoria na
capacidade e desempenho de todos no setor mineral, a indústria, em todos os estágios, desde a
exploração até o beneficiamento. Segundo o mesmo relatório as atividades de mineração
causam um impacto ambiental significativo. É necessário um manejo mais efetivo desses
impactos, relacionados com imensas quantidades de resíduos, com a melhoria dos sistemas de
avaliação dos impactos e da gestão ambiental e com a tarefa de planejar eficazmente o
fechamento da mina.

O relatório da MMSD foi realizado em países onde a atividade minerária apresenta valores
consideráveis para a economia local, mas o quadro verificado pode se estender ao Brasil, onde
o cenário mineral engloba desde a chamada mineração artesanal até grandes corporações do
setor mineral.

No Brasil, as melhores e mais modernas operações de mineração apresentam hoje uma grande
melhoria em relação às práticas passadas e, a maioria das principais companhias está
comprometida em dar continuidade ao processo de desempenho ambiental. Mas, em muitos

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casos, as práticas antigas eram bastante agressivas, gerando grandes passivos ambientais,
como acontece em alguns casos isolados.

Taveira (2003) já cita em seu trabalho que o setor mineral em países desenvolvidos é visto
como o responsável por danos ambientais passados e não é bem quisto, apesar de ser
desenvolvido com rígidos regulamentos. Em países em desenvolvimento a opinião é a mesma,
porém o setor é visto como fonte de geração de renda e emprego pela comunidade que será
atingida, sendo as questões econômicas postas à frente das ambientais, ou seja, enquanto a
mineração está em operação, independentemente de estar sanando ou não os seus danos
ambientais, o fato de haver geração de riquezas para a população ameniza sua
responsabilidade ambiental. Ao cessar deixa o passivo ambiental para a sociedade,
perpetuando a imagem negativa da atividade.

Segundo Scliar (2006, in SINGEO & ABGE 2006) algumas características realimentam a visão
negativa da mineração brasileira como, por exemplo:
‘’- os passivos ambientais, sociais e econômicos que fazem parte da paisagem e história
das comunidades mineiras mesmo nos casos em que a lavra se encerrou há dezenas de anos;
- grandes minas a céu aberto do país são visíveis por todos que transitam nas principais
estradas de, por exemplo, Minas Gerais, Bahia e Goiás, pois foram historicamente construídas
para servir a esses depósitos minerais;
- a disseminação desorganizada da mineração informal de areia, brita e argila nos
arredores de grandes centros urbanos e dos garimpos de gemas, ouro e cassiterita e outras
substâncias minerais acarretando em sérios problemas sociais, econômicos e ambientais
amplamente divulgados na imprensa;
- o alto nível de acidentes de trabalho nas minas legalizadas e, principalmente nas
extrações informais’’.

O controle dos impactos ambientais nas etapas de implantação e operação de um


empreendimento minerário e o controle dos efeitos dos impactos na desativação deste
empreendimento são fatores fundamentais para a inserção da atividade no contexto do
desenvolvimento sustentável.

O abandono de um empreendimento, uma vez encerrada a sua vida útil, deixando o meio
contaminado e degradado, foi prática comum não somente na mineração mas, na atividade
industrial de um modo geral, durante os dois séculos de industrialização. Atualmente a

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preocupação se foca não somente na etapa de operação, mas considera-se a desativação de


um empreendimento como parte integrante do seu ciclo de vida, tomando como base os
princípios do desenvolvimento sustentável.

É durante a fase de desativação do empreendimento minerário que se deve gerir os efeitos dos
impactos, no sentido de mitigá-los, para que não haja a geração de passivos ambientais que,
além do problema já acarretado, fatalmente, serão o veículo propagador da imagem negativa da
mineração.

No entanto, ao se recorrer aos recursos legais e à conceituação técnica atuais, não é possível
se obter o embasamento técnico e legal necessários para a definição e enquadramento destes
impactos gerados em situações de desativação ou paralisação das atividades dos
empreendimentos minerários.

Diante deste cenário, que ocorre hoje em nível nacional, surge a necessidade de se definir ou
redefinir conceitos relacionados ao meio ambiente e à atividade minerária no país. O principal
deles diz respeito ao que realmente é passivo ambiental gerado pela atividade minerária no
Brasil.

Primeiramente é feita a descrição de alguns conceitos já consagrados pela literatura técnica e


alguns definidos também pela própria legislação, que são fundamentais no entendimento deste
trabalho. Baseada nesta conceituação e na legislação vigente, é definida então uma
metodologia que permita se verificar o enquadramento das situações de impacto ambiental,
como passivos ambientais decorrentes da atividade minerária.

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2. OBJETIVOS

O fato ou problema que levou à proposição deste estudo foi a dificuldade de se definir alguns
conceitos relacionados à atividade minerária e ao meio ambiente. O primeiro obstáculo é a
inexistência ou deficiência, em termos de abrangência, do que realmente seja passivo ambiental
decorrente de atividades minerárias.

Na tentativa de se definir passivos como decorrentes de impactos ambientais, irreversíveis ou


não mitigados, o primeiro problema enfrentado é a inexistência de leis de âmbito federal que
definam, quantifiquem ou criem diretrizes para o tratamento de impactos irreversíveis ou que
não tenham sido mitigados.

Considerando-se então a inexistência de procedimentos legais específicos no tratamento de


passivos ambientais, o objetivo principal deste trabalho é:

- criação de uma metodologia para análise e verificação da existência de passivos


ambientais; permitindo aos órgãos ambientais competentes e, estendendo um pouco, à
sociedade, se dimensionar, equacionar e só então decidir quanto à complexidade do quadro
apresentado pelo empreendimento gerador do passivo.

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3. LEGISLAÇÃO MINERAL E AMBIENTAL BRASILEIRA

Neste capítulo é feito um levantamento dos instrumentos que regulamentam a atividade


minerária no país, ou seja, são levantados os principais aspectos do Código de Mineração –
C.M. e legislação correlata, e da legislação ambiental no âmbito federal. É feito um sumário da
legislação, sendo citados os aspectos mais importantes e aqueles relevantes para o trabalho
.Além disto são apresentadas as normas técnicas que servirão como ferramenta quantificadora
de diversos indicadores.

Não é feita nenhuma referência acerca da legislação em vigor em outros países, o que não
significa que estas não foram levadas em conta na definição de certos conceitos e na adoção da
metodologia de trabalho. No entanto, como este trabalho está focado no setor mineral brasileiro,
considerou-se desnecessárias certas analogias ou comparações entre legislações diferentes. A
legislação ambiental vigorante nos estados possui caráter mais restritivo, portanto foram
considerados alguns instrumentos que se referem à quantificação de parâmetros e indicadores
ambientais.

3.1. LEGISLAÇÃO MINERAL BRASILEIRA

3.1.1. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL 05/10/88

Ressaltam-se como dispositivos da Constituição Federal de interesse ao escopo deste trabalho,


os seguintes: artigo 20, inciso IX; artigo 22, inciso XII; artigo 23, inciso VI; artigo 24, incisos VI e
VIII e parágrafos 1º, 2º e 4º; artigo 30, incisos I, II e VIII; artigo 176, parágrafo 1º; artigo 182,
parágrafo 1º; artigo 225.

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Ressalta-se ainda o que estabelece o artigo 20, inciso IX: “os recursos minerais, inclusive os do
subsolo são bens da União”. Portanto, as jazidas, em lavra ou não, demais recursos minerais e
os potenciais de energia hidráulica constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de
exploração ou aproveitamento, e pertencem à União, garantida ao concessionário a propriedade
do produto da lavra, que deverá ser devidamente autorizado pela União.

A Constituição Federal, diz que compete aos Municípios “suplementar a legislação federal e a
estadual no que couber”, cabendo a estes legislar sobre assuntos de interesse local promover
“adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e
da ocupação do solo urbano”.

3.1.2. O CÓDIGO DE MINERAÇÃO

O Código de Mineração atual foi promulgado por Decreto-Lei n° 227 de 28 de fevereiro de 1967,
que atualizou o antigo código de 1940. O código estipula que a União é responsável pela
administração dos recursos naturais do país e pela indústria que trata a produção,
comercialização e distribuição dos produtos minerais.

O Decreto n° 62.934, de 2 de julho de 1968 aprova o Regulamento do Código de Mineração.


Principais definições de que trata este Regulamento, de relevância para este trabalho:

a) Capítulo II, art. 6º “Considera-se jazida toda massa individualizada de substância mineral
ou fóssil, de valor econômico (1), aflorando à superfície ou existente no interior da terra”.
b) Capítulo II, art. 6º “Considera-se mina a jazida em lavra, ainda que suspensa”.
c) Capítulo II, art. 9º: Classificam-se as jazidas, segundo a forma representativa do direito
de lavra, em duas categorias:
I – Mina Manifestada, a em lavra ou não, ainda que transitoriamente suspensa a
16 de julho de 1934 e que tenha sido manifestada na conformidade do art. 10 do
Decreto n° 24.624, de 19 de julho de 1934, e da Lei n° 94, de 10 de setembro de
1935.
II – Mina Concedida, a objeto de concessão de lavra.
d) Capítulo II, art. 10: “Consideram-se partes integrantes da mina:
a) os edifícios, construções, máquinas aparelhos e instrumentos destinados à

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mineração e ao beneficiamento do produto da lavra, desde que este seja


realizado nas áreas de concessão ou de servidão da mina;
b) as servidões indispensáveis ao serviço da lavra;
c) os animais e veículos empregados no serviço;
d) os materiais necessários aos trabalhos de lavra, para um período de 120 dias”.
(1) Valor econômico efetivo ou potencial, em face da nova redação do art. 23 C.M., dada pela
Lei n° 9.314/96.

e) Capítulo III, art. 12, parágrafo único: “Independe de concessão o aproveitamento das
minas manifestadas e registradas, as quais, no entanto, ficam sujeitas às condições
estabelecidas neste Regulamento, relativamente à lavra, tributação e à fiscalização das
minas concedidas”.
f) Capítulo III, art 15: “Reger-se-ão por leis especiais:
I – as jazidas de substâncias minerais objeto de monopólio estatal;
II – as substâncias minerais ou fósseis de interesse arqueológico;
III – os espécimes minerais ou fósseis, destinados a museus, estabelecimentos
de ensino e outros fins científicos;
IV – as jazidas de águas subterrâneas.”

3.1.3. LEGISLAÇÃO RELEVANTE

LEI N° 8.901 de 30 de junho de 1994.


Art. 2° “O art.79 do Decreto-Lei n° 227, de 28 de fevereiro de 1967, passa a vigorar da
seguinte forma:
Art. 79. Entende-se por Empresa de Mineração, para fins deste Código, a firma ou
sociedade constituída sob as leis brasileiras que tenham sua sede e administração no país,
qualquer que seja sua forma jurídica, com o objetivo principal de realizar exploração e
aproveitamento de jazidas minerais no território nacional.”

LEI N° 9.314 de 14 de novembro de 1996.


Altera dispositivos do Decreto-Lei n° 227 de 28 de fevereiro de 1967, e dá outras
providências.
Art. 2º Os regimes de aproveitamento das substâncias minerais, para efeito deste Código

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são:
I – regime de concessão, quando depender de portaria de concessão do Ministro
de Estado de Minas e Energia;
II – regime de autorização, quando depender de expedição de alvará de
autorização do Diretor-Geral do DNPM;
III - regime de licenciamento, quando depender de licença expedida em
obediência a regulamentos administrativos locais e de registro da licença no DNPM;
IV – regime de permissão de lavra garimpeira, quando depender de portaria de
permissão do Diretor-Geral do DNPM;
V – regime de monopolização, quando, em virtude de lei especial, depender de
execução direta ou indireta do Governo Federal.
Art. 6°: Classificam-se as minas, segundo a forma representativa do Direito de Lavra, em
duas categorias:
I – mina manifestada, a em lavra, ainda que transitoriamente suspensa a 16 de
julho de 1934, e que tenha sido manifestada na conformidade do art. 10 do Decreto n° 24.642,
de 10 de julho de 1934, e da Lei n° 94, de 10 de dezembro de 1935;
II – mina concedida, quando o direito de lavra é outorgado pelo Ministério de
Minas e Energia.

LEI N° 7.805, de 18 de julho de 1989.


Altera o Decreto-Lei n° 227, cria o regime de permissão de lavra garimpeira, extingue o
regime de matrícula, e dá outras providências.

LEI N° 9.993, de 24 de julho de 2000.


Destina os recursos da compensação financeira pela utilização de recursos hídricos para
fins de geração de energia elétrica e pela exploração de recursos minerais, da seguinte forma:
I – 45% aos Estados;
II – 45% aos Municípios;
III – 3% ao Ministério do Meio Ambiente;
IV – 3% ao Ministério de Minas e Energia;
V – 4% ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico –
FNDCT.

DECRETO N° 1, de 11 de janeiro de 1991.


Regulamenta o pagamento de compensação financeira instituída pela Lei n° 7.990, de 28

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de dezembro de 1989, e dá outras providências.


Capítulo III, art.13, §2° A distribuição da compensação financeira de que trata este artigo
será feita da seguinte forma:
I – 23% para os Estados e o Distrito Federal;
II – 65% para os Municípios;
III – 12% para o DNPM, que destinará 2% à proteção ambiental nas regiões
mineradoras, por intermédio do IBAMA, ou de outro órgão federal competente que o substituir.

PORTARIA N° 143, de 26 de maio de 2000.


Dispõe sobre as Normas Regulamentares de Mineração – NRM. As NRM têm por
objetivo disciplinar o aproveitamento racional das jazidas, considerando-se as condições
técnicas e tecnológicas de operação, de segurança e de proteção ao meio ambiente. São
contempladas todas as etapas da atividade minerária, em todas as suas formas de lavra e
beneficiamento, com estabelecimento de normas e padrões técnicos e de segurança do
trabalho, e proteção ao meio ambiente; incluindo nisso as responsabilidades e direitos do
empreendedor e trabalhador.

3.2. LEGISLAÇÃO AMBIENTAL BRASILEIRA

Em 1981, já decorrida uma década desde a Primeira Conferência Mundial sobre o Meio
Ambiente, realizada em Estocolmo, pela Organização das Nações Unidas - ONU, o Brasil
definiu a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei Federal n° 6.938, de 31/08/81). Nessa lei, a
avaliação de Impactos Ambientais e o “Licenciamento de Atividades Efetiva ou Potencialmente
Poluidoras” foram dois dos instrumentos criados para que fossem atingidos os objetivos dessa
política, ou seja: “...preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida,
visando assegurar no país condições propícias ao desenvolvimento socioeconômico, aos
interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana...” (Braga et al,
2005).

Após cinco anos, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), por meio da Resolução n°
001/86, definiu o conceito de Impacto Ambiental no que se refere ao exercício de atividades
consideradas potencialmente poluidoras.

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Portanto, no Brasil, a evolução da legislação ambiental, sob certos aspectos foi semelhante ao
que ocorreu em outros países, tendo sido criada uma estrutura bastante complexa para o seu
desenvolvimento e implantação. Por se tratar de uma República Federativa, no Brasil o
estabelecimento das normas de controle ambiental considera três níveis hierárquicos, como
ocorre no caso de normas relacionadas a outros temas, ou seja, à União cabe o
estabelecimento de normas gerais que são válidas em todo o território nacional; aos Estados
cabe o estabelecimento de normas peculiares; enquanto aos Municípios cabe o estabelecimento
de normas que visem atender aos interesses locais (Machado 1992).

3.2.1. LEGISLAÇÃO AMBIENTAL RELEVANTE

LEI FEDERAL N° 6.938, DE 31 DE AGOSTO DE 1981.


Dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de
formulação e aplicação.

LEI FEDERAL N° 7.804, DE 18 DE JULHO DE 1989.


Responsabiliza o minerador legalmente autorizado pela reparação de danos causados
ao meio ambiente.
Art. 19 – O titular da autorização de pesquisa, de permissão de lavra garimpeira, de
concessão de lavra, de licenciamento ou de manifesto de mina responde pelos danos causados
ao meio ambiente.

LEI N° 9.605, DE FEVEREIRO DE 2000.


Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades
lesivas ao meio ambiente e dá outras providências.

LEI N° FEDERAL N° 9.985, DE 18 DE JULHO DE 2000.


Institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação.

DECRETO N° 99.556, DE 1° DE OUTUBRO DE 1990.


Dispõe sobre a proteção das cavidades naturais subterrâneas existentes no Território
Nacional.

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3.2.1.1. Resoluções do CONAMA

RESOLUÇÃO CONAMA N° 1, DE 23 DE JANEIRO.


Estabelece as definições, responsabilidades, critérios básicos e as diretrizes gerais para
uso e implementação da Avaliação de Impacto Ambiental como um dos instrumentos da Política
Nacional de Meio Ambiente e o Relatório de Impacto Ambiental EIA/RIMA.

RESOLUÇÃO CONAMA N° 5, DE 15 DE JUNHO DE 1989.


Institui o Programa Nacional de Controle da Qualidade do Ar – PRONAR.

RESOLUÇÃO CONAMA N° 9, DE 6 DE DEZEMBRO DE 1990.


Dispõe sobre o licenciamento ambiental da extração mineral das classes I, II, III, IV, VII,
VIII e IX (Decreto-Lei n° 227, de 28/02/67). Dispõe também sobre licenciamento ambiental de
pesquisa mineral que envolva emprego de Guia de Utilização.

RESOLUÇÃO CONAMA N° 10, DE 6 DE DEZEMBRO DE 1990.


Dispõe sobre licenciamento ambiental da extração mineral da classe II. Cria o Relatório
de Controle Ambiental - RCA e Plano de Controle Ambiental – PCA, apresentados na hipótese
de não exigência do EIA/RIMA, para análise e concessão da licença ambiental.

RESOLUÇÃO CONAMA N° 2, DE 18 DE ABRIL DE 1996.


Dispõe sobre a compensação de danos ambientais causados por empreendimentos de
relevante impacto ambiental.

RESOLUÇÃO CONAMA N° 237, DE 19 DE DEZEMBRO DE 1997.


Dispõe sobre os procedimentos e critérios utilizados no licenciamento ambiental.

RESOLUÇÃO CONAMA N° 347, DE 10 DE SETEMBRO DE 2004.


Dispõe sobre a proteção do patrimônio espeleológico, institui o Cadastro Nacional de
Informações Espeleológicas – CANIE. Revoga a Resolução CONAMA n° 5, de 06 de agosto de
1987.

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RESOLUÇÃO CONAMA N° 371, DE 5 DE ABRIL DE 2006.


Estabelece diretrizes aos órgãos ambientais para o cálculo, cobrança, aplicação,
aprovação e controle de gastos de recursos advindos de compensação ambiental, conforme Lei
n° 9.985, de 18 de julho de 2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação
– SNUC.

RESOLUÇÃO CONAMA N° 369, DE 28 DE MARÇO DE 2006.


Define os casos excepcionais em o órgão ambiental competente pode autorizar a
intervenção ou supressão de vegetação em Área de Preservação Permanente - APP para a
implantação de obras, planos, atividades ou projetos de utilidade pública ou interesse social, ou
para a realização de ações consideradas eventuais e de baixo impacto ambiental.
O órgão ambiental competente poderá autorizar as atividades pesquisa e extração de
areia, argila, saibro e cascalho, nos casos de utilidade pública, interesse social e mediante a
justificação da necessidade de extração e a inexistência de alternativas técnicas e locacionais.

RESOLUÇÃO CONAMA 357, DE 17 DE MARÇO DE 2005.


Dispõe sobre a classificação e diretrizes ambientais para o enquadramento dos corpos
de água superficiais, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes.
Revoga a Resolução CONAMA n° 20, de 18 de junho de 1986.

3.3. NORMAS TÉCNICAS

NBR ISO 14001 – Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT


Publicação: 31/12/2004.
Sistemas da gestão ambiental - Requisitos com orientações para uso
Especifica os requisitos relativos a um sistema da gestão ambiental, permitindo a uma
organização desenvolver e implementar uma política e objetivos que levem em conta os
requisitos legais e outros requisitos por ela subscritos e informações referentes aos aspectos
ambientais significativos. Aplica-se aos aspectos ambientais que a organização identifica como
aqueles que possa controlar e aqueles que possa influenciar. Em si, não estabelece critérios
específicos de desempenho ambiental (ABNT, acesso on line).

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NBR ISO 14031 – Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.


Publicação: 27/02/2004.
Gestão Ambiental – Avaliação de desempenho ambiental – Diretrizes.
Fornece orientação para o projeto e uso da avaliação do desempenho ambiental em uma
organização. Ela é aplicável a todas as organizações, independentemente do tipo, tamanho,
localização e complexidade. Não estabelece níveis de desempenho ambiental.

Segundo ABNT (acesso on line), não se pretende que esta norma seja usada como uma norma
de especificação para propósitos de certificação ou registro, ou para estabelecimento de
quaisquer outros requisitos de conformidade de sistema de gestão ambiental.

NBR 10.004 – Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.


Publicação: 31/05/2004
Resíduos sólidos - Classificação
Classifica os resíduos sólidos quanto aos seus riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde
pública, para que possam ser gerenciados adequadamente.

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4. CONCEITOS BÁSICOS

Este tópico foi desenvolvido em acordo com as legislações mineral e ambiental brasileira, em
especial aos documentos referidos no capítulo anterior. Foram resgatados os conceitos já
definidos no Código de Mineração e legislação correlata (Decreto-Lei n° 227, de 28 de fevereiro
de 1976, regulamentado pelo Decreto-Lei n° 62.934, de 2 de julho de 1968), conceitos técnicos
atualizados pela literatura, através de consulta a trabalhos científicos, entrevistas com pessoal
técnico especializado, além de consultas on line.

Foram selecionados os conceitos necessários ao entendimento do trabalho, sendo descritos de


forma sucinta e de maneira a estabelecer a base para o desenvolvimento dos novos conceitos e
da metodologia de trabalho propostos nos próximos itens.

4.1. ATIVIDADE MINERÁRIA

Inicialmente se faz necessária a definição dos conceitos de jazida e mina. Segundo o C.M.
considera-se como jazida “toda massa individualizada de substância mineral ou fóssil, de valor
econômico (1), aflorando à superfície ou existente no interior da terra”; ou seja, uma vez
encerrada a pesquisa o depósito pode apresentar características econômicas que compensem
sua exploração e passa a ser considerado uma jazida mineral. Se apresentar apenas uma
concentração anormal de um ou mais minerais, porém sem valor econômico imediato, tem-se
uma ocorrência mineral.

O C.M. define mina como a jazida em lavra, ainda que suspensa. A NRM n° 1 estabelece que o
termo mina abrange: a) as áreas de superfície ou subterrâneas nas quais se desenvolvem as
operações mencionadas no item anterior e, b) toda máquina, equipamento, acessório,
instalação, edifício, estrutura de engenharia civil utilizados.

Taveira (1997) define mineração como o conjunto de atividades que têm por objetivo assegurar
economicamente, com o mínimo possível de perturbação ambiental, a justa remuneração e
segurança, a máxima utilização dos bens minerais naturais descobertos (jazidas), criando
procedimentos adequados para a sua exploração e comercialização.

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A NRM n° 1 define atividade de mineração como sendo aquela que abrange desde a pesquisa,
lavra, beneficiamento, distribuição, até o consumo ou industrialização de bens minerais. Este
conceito será aplicado em todo o trabalho pela denominação “Atividade Minerária” , também
definida em etapas, descritas a seguir.

4.1.1. ETAPAS DA ATIVIDADE MINERÁRIA

Uma descrição sucinta das atividades minerárias, no que tange aos aspectos ambientais,
estabelece as seguintes etapas:
- Prospecção
- Pesquisa;
- Desenvolvimento;
- Lavra;
- Beneficiamento;
- Desativação do empreendimento.

4.1.1.1. Prospecção e pesquisa

Segundo Maranhão (1989) prospecção compreende no planejamento dos trabalhos para a


descoberta dos depósitos minerais e, também, pela programação e execução dos serviços de
quantificação e qualificação das reservas, nos depósitos encontrados. O mesmo autor define as
etapas do trabalho de prospecção:
I – seleção de áreas-alvo para detalhamento;
II – elaboração, acompanhamento e execução do plano de pesquisa, bem como a definição do
pessoal e dos equipamentos necessários à pesquisa;
III – detalhamento do cronograma físico-financeiro do projeto;
IV – realização dos serviços geológicos/geofísicos/geoquímicos exploratórios e de
detalhamento;
V – abertura de poços-teste e de trincheiras;
VI – cálculo das reservas e dos valores médios estudados;
VII – coleta de amostras representativas em todas as fases da prospecção;
VIII – verificação da viabilidade da lavra do depósito encontrado, com base nas reservas,

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propriedades qualitativas/quantitativas/tecnológicas do minério, determinações dos custos de


explotação e dados de mercado;
IX – comparação dos resultados da pesquisa com os valores verificados na lavra dos setores
em explotação.

Pereira (2003) cita que a Prospecção Mineral é precedida de estudos de Economia Mineral, que
em primeira instância objetiva responder a uma questão fundamental: “ O que pesquisar?”;
obviamente do ponto de vista do mercado econômico. Respondida esta questão passa-se então
à Prospecção Mineral propriamente dita.

Segundo o mesmo autor a prospecção corresponde à disciplina que planeja, programa e


executa os trabalhos necessários para a descoberta dos depósitos minerais. A prospecção deve
ter três etapas distintas e executadas seqüencialmente: Exploração Geológica, Prospecção em
Superfície e Avaliação dos Depósitos.

Como visto nas citações acima, os termos pesquisa e prospecção muitas vezes são
amplamente confundidos. A prospecção deve ser entendida somente como a fase inicial do
empreendimento minerário, que reúne todos os trabalhos necessários à descoberta e definição
de um depósito mineral, ou seja, a prospecção define uma ocorrência mineral. A pesquisa
mineral compreende todos os trabalhos necessários à quantificação do depósito mineral;
portanto a pesquisa define se a ocorrência mineral vai se tornar uma jazida ou não.

Conforme o artigo 18 do Regulamento do C.M. que dá a seguinte definição para pesquisa


mineral: “Entende-se por pesquisa mineral a execução dos trabalhos necessários à definição da
jazida, sua avaliação e determinação da exeqüibilidade de seu aproveitamento econômico”.

Cálculo de Reserva

O Regulamento do C.M., art. 26 estabelece três formas de cálculo de reservas:

“I - Reserva Medida: corresponde à tonelagem de minério computado pelas dimensões


reveladas em afloramentos, trincheiras, galerias, trabalhos subterrâneos e sondagens, e na qual
o teor é determinado pelos resultados de amostragem pormenorizada, devendo os pontos de
inspeção, amostragem e medida estar tão proximamente espacejados e o caráter geológico tão
bem definido que as dimensões, a forma e o teor da substância mineral possam ser

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perfeitamente estabelecidos. A tonelagem e o teor computados devem ser rigorosamente


determinados dentro dos limites estabelecidos, os quais não devem apresentar variação
superior, ou inferior a 20% (vinte por cento) da quantidade verdadeira;

II - Reserva Indicada: a tonelagem e o teor do minério computados parcialmente de medidas e


amostras específicas, ou de dados da produção, e parcialmente por extrapolação até distância
razoável com base em evidências geológicas;

III - Reserva Inferida: estimativa feita com base no conhecimento dos caracteres geológicos do
depósito mineral, havendo pouco ou nenhum trabalho de pesquisa”.

4.1.1.2. Desenvolvimento

Compreende todos os trabalhos necessários para preparar a jazida para a lavra, ou seja,
decapeamento, abertura de acessos tais como estradas, rampas subterrâneas, poços, etc.,
obras civis, instalação de equipamentos, dentre outros.

4.1.1.3. Lavra

As NRM definem lavra como o de operações coordenadas objetivando o aproveitamento


industrial da jazida, desde a extração de substâncias minerais úteis que contiver, até o
beneficiamento das mesmas.

Os métodos de lavra são basicamente subterrâneos e a céu aberto, com possibilidades variadas
de lavra, descritos a seguir.

a) A céu aberto: as dimensões da cava variam em função de diversos fatores: características


físicas do minério, valor econômico, tipo de equipamento envolvido, quantidade de material a
ser removido.

b) A céu aberto com posterior transição à lavra subterrânea: o fator condicionante é o custo de
lavra.

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c) Subterrânea.

d) Subterrânea com transição para céu aberto: esta possibilidade é a menos comum, sendo
inúmeros os fatores a serem considerados.

e) Lavra simultânea: ocorre por uma combinação simultânea dos dois métodos de lavra a céu
aberto e subterrânea.

4.1.1.4. Beneficiamento

Beneficiamento consiste no conjunto de transformações das características originais do minério


que permitirão o seu maior aproveitamento. Estas transformações, de caráter físico e/ou
químico possibilitam a remoção dos constituintes indesejáveis ao processo e conseqüente
aumento da concentração do minério. O produto final do beneficiamento se dirige para a
comercialização direta ou para processos industriais metalúrgicos.

As fases de beneficiamento normalmente são três: a) cominuição: o mineral é reduzido a uma


granulometria menor por meio de britagem, moagem e classificação granulométrica; b)
concentração: separação do minério do rejeito e, c) deslamagem, quando o processo é por via
úmida.

4.1.1.5. Desativação

Esta etapa é considerada a mais importante dentro do escopo deste trabalho. As condições em
que uma mina se encontra por ocasião do encerramento de suas atividades é um fator
primordial na ocorrência de futuros passivos ambientais.

Serão consideradas as mesmas possibilidades previstas nas NRM n° 20, que prevêem a
paralisação ou suspensão temporária, ou a renúncia em qualquer fase da operação da mina,
desde que obedecidas exigências mínimas estabelecidas, e em função de três importantes
fatores:
a) preservação do patrimônio mineral;
b) preservação do meio ambiente;

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c) aspectos relacionados à segurança dos trabalhos na retomada das operações.

Decisões sobre os diversos aspectos das operações são tão difíceis e dispendiosas para serem
revertidas, que precisam ser tomadas de forma correta desde o início. A melhor forma de fazer
isto é através do desenvolvimento de um plano de fechamento logo no início das operações.
Isso pode guiar decisões individuais tomadas durante o período de exploração da mina de modo
que garanta que elas caminhem em direção a esse objetivo. A maioria dos planos de
fechamento de minas, atualmente, enfoca apenas os aspectos ambientais da desativação. A
integração de fatores sociais e econômicos é um passo necessário na transformação do
investimento mineral em desenvolvimento sustentável (SINGEO 2006).

Segundo Oliveira Jr. (2001), quanto mais cedo for preparado o plano de desativação de uma
mina, mais tempo se tem para conhecer todos os parâmetros necessários ao emprego de um
programa de desativação de qualidade. Na verdade, quanto mais cedo tiverem início os
trabalhos que visam a reintegrar o meio o mais próximo possível das suas condições originais,
mais chances existirão de tornar isto possível.

Plano de Fechamento de uma mina

Qualquer planejamento será de tão melhor qualidade quanto melhor a qualidade das
informações e do conhecimento que se tenha acerca dos parâmetros necessários ao
estabelecimento de qualquer programa (Silva 2000).

Oliveira Jr. (2001) define plano de desativação de uma mina como o conjunto de ações
preparadas na fase anterior às operações mineiras (fase de desenvolvimento), reavaliado
periodicamente durante a vida útil da mina, visando encontrar o desenvolvimento sustentável
após sua desativação, com a participação de todos os interessados (empresa, comunidade e
demais cidadãos).

Segundo Lima & Wathern (1999) e Mchaina (2000) o objetivo mais amplo de um plano de
desativação é assegurar que a desativação e recuperação de um sítio satisfaçam os seguintes
requisitos:
- permitir um uso produtivo e sustentável do local degradado após a mineração e que
seja aceitável por todos os envolvidos (comunidade, empresa e órgão ambiental);

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- proteger a saúde e a segurança públicas;


- diminuir ou eliminar danos ambientais e, como resultado encorajar a sustentabilidade
do ambiente;
- minimizar os impactos sócio-econômicos adversos (desemprego, etc.);
- maximizar os benefícios sócio-econômicos.

Brandt (1998) acrescenta a estes objetivos, alguns aspectos a serem considerados:


- identificar os possíveis usos futuros para a área ocupada pelo empreendimento;
- garantir a conveniente descontaminação da área e a estabilização física e química a fim
de evitar efeitos negativos de longa duração;
- garantir a inserção da área depois de ecologicamente estabilizada no contexto regional
após a desativação;
- desenvolver alternativas tecnológicas e de procedimentos para a desativação da mina a
partir de usos futuros determinados;
- avaliar os impactos, riscos e problemas de cada alternativa;
- avaliar financeiramente cada alternativa proposta através de um balanço de despesa e
receita;
- permitir o provisionamento de recursos que serão necessários quando do
descomissionamento da mina;
- estabelecer programas para o fechamento.

Noronha & Warthurst (1999) tratam dos aspectos do planejamento da desativação e citam que o
objetivo principal deste planejamento é a redução da extensão dos danos ambientais e do lapso
de tempo entre a ocorrência do dano e a recuperação. Portanto um plano de desativação deve
contemplar toda vida útil da vida da mina e o seu gerenciamento ambiental, incluindo:
- reduzir a geração de estéril e encorajar a reciclagem;
- utilizar a energia de forma eficiente, sem desperdícios;
- usar produtos químicos de forma eficiente e minimizar qualquer dano decorrente do seu
manuseio, estocagem, uso e disposição;
- estabilizar os resíduos para reduzir o potencial de drenagem ácida ou contaminação da
água desde o início das operações;
- dispor e conter estéreis para alcançar descarga zero ao longo do tempo;
- recuperar e revegetar progressivamente;
- assegurar o uso da terra viável para a região após a mineração;
- assegurar que não haja impactos ambientais prejudiciais à saúde das comunidades

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locais;
- assegurar que as comunidades locais não se tornem empobrecidas como resultado
desta atividade ou no fim da vida da mina;
- distribuir os custos de recuperação durante a vida da mina.

4.2. EMPREENDIMENTOS MINERÁRIOS

Segundo o C.M. –art.79, alterado pela Lei n° 8901, de 30 de junho de 1994, art. 2º “Empresa de
Mineração é a firma ou sociedade constituída sob as leis brasileiras que tenha sua sede e
administração no País, qualquer que seja sua forma jurídica, com o objetivo principal de realizar
exploração e aproveitamento de jazidas minerais no território nacional”. Portanto o controle
efetivo da empresa de mineração deve estar em caráter permanente sob a titularidade direta ou
indireta de pessoas físicas residentes e domiciliadas no País, ou de entidade de direito público
interno.

A classificação de empreendimentos minerários segundo o porte não é prevista na legislação


federal em vigor. No âmbito das leis estaduais, cita-se a SEMAD/MG, através da Deliberação
Normativa COPAM n° 74, de 9 de setembro de 2004, que estabelece critérios para
classificação, segundo o porte e potencial poluidor, de empreendimentos e atividades
modificadoras do meio ambiente passíveis de autorização ambiental ou de licenciamento
ambiental no nível estadual.

A referida DN classifica os empreendimentos em Pequeno, Médio ou Grande Porte, de acordo


com a sua produção bruta, ou seja, a quantidade matéria prima mineral que é retirada das
frentes de lavra, antes de ser submetida à operação de beneficiamento ou tratamento,
correspondendo à produção de minério bruto ou de “run of mine”. Neste caso ressalta-se um
fator importante – a quantidade de material movimentado não é considerada, ou seja, mesmo
nos casos de movimentação de grandes volumes de material estéril, o empreendimento pode
ser classificado como de Pequeno Porte. São classificadas também as instalações do
empreendimento, incluindo unidades de tratamento de minérios, e as obras civis de infra-
estrutura, segundo a área útil instalada.

Denomina-se como minerador (pessoa natural ou jurídica) (NRM n° 1):

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a) detentor de registro de licenciamento;


b) detentor de permissão de lavra garimpeira;
c) detentor de alvará de pesquisa;
d) detentor de concessão de alvará;
e) permissionário de extração (Prefeitura e Órgãos Públicos);
f) distribuidor de bens minerais;
g) industrial que utiliza bens minerais como insumos.

Os estudos e pesquisas inseridos no contexto deste trabalho incluíram todas as formas de lavra
e foram considerados os diversos tipos de empreendimentos mineiros, sem discriminação de
porte, ou situação legal da atividade. Partiu-se do princípio de que uma vez que esteja sendo
exercida uma atividade de extração de um bem mineral, quaisquer que sejam as condições, ela
se inclui na definição do termo Atividade Minerária, aqui considerado.

Portanto, é levado em conta, dentre as modalidades de mineração, aquelas denominadas como


de pequena escala – MPE, mineração artesanal ou garimpo, incluindo nisso a sua peculiaridade
mais conflitante – pessoal que trabalha no setor informal e fora do marco legal, que quase
sempre ocorre. Mais uma vez então, para efeito destes estudos, considera-se como atividade
minerária toda a atividade desenvolvida em função de um bem mineral, ainda que à margem da
legislação vigente. E o termo minerador engloba “a pessoa natural ou jurídica envolvida neste
tipo de atividade”.

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5. RISCO, IMPACTO E PASSIVO AMBIENTAL

5.1. RISCO

É difícil ou quase impossível se precisar quando tiveram início os primeiros estudos sobre riscos
e incertezas. Adams (1995) cita que os termos Risco e Incerteza assumiram um papel de
termos técnicos na literatura desde 1921, quando no trabalho de Frank Knight intitulado “Risk,
uncertainty and profit”, este pronunciou: “if you don´t know for sure what will happen, but you
know the odds, that´s risk, and if you don´t even know the odds, that´s uncertainty”.

Godard et al (2002) atribuem a introdução da distinção entre Risco (risques) e Incerteza


(incertitude) não somente a Frank Knight, mas também a John Maynard Keynes, também no
ano de 1921; mas totalmente independentes um do outro. As duas concepções, segundo
Godard et al , remetem a uma situação onde o resultado depende da realização (incerta) dos
acontecimentos possíveis.

Beck (2000) em seu livro tido como clássico, “A Sociedade do Risco”, afirma que vivemos em
uma verdadeira sociedade do risco, propondo uma distinção entre uma primeira modernidade
(caracterizada pela industrialização, sociedade estatal e nacional, pleno emprego, etc.) e uma
segunda modernidade, ou “modernidade reflexiva”, em que as insuficiências e as antinomias da
primeira modernidade tornam-se objeto de reflexão. A ciência e a tecnologia, assim como as
instituições da sociedade industrial engendrada na primeira modernidade, não foram pensadas
para o tratamento da produção e distribuição dos “males”, ou seja, dos riscos associados à
produção industrial (Castro et al, 2005).

Finalizando, Castro et al (2005) definem o termo Risco de maneira mais abrangente e


conclusiva e adequada aos propósitos deste trabalho. Segundo estes autores Risco pode ser
tomado como “uma categoria de análise associada às noções de incerteza, exposição ao
perigo, perda e prejuízos materiais, econômicos e humanos em função de processos de ordem
“natural” (tais como processos exógenos e endógenos da Terra) e/ou daqueles associados ao
trabalho e às relações humanas”.

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Já o termo Risco (latu sensu) refere-se, portanto à probabilidade de ocorrência de processos no


tempo e no espaço, não-constantes e não-determinados, e à maneira como estes processos
afetam (direta ou indiretamente) a vida humana.

Os Riscos podem ser classificados como: (Semabrasil, 2006)

Riscos físicos
São as diversas formas de energia a que possam estar expostos os trabalhadores, podendo, a
depender da intensidade, provocar danos físicos nestes.
São considerados agentes físicos: ruídos, vibrações, pressões anormais, temperaturas,
umidade, radiações extremas, radiações ionizantes, radiações não-ionizantes, iluminação
deficiente, infra-som, ultra-som.

Riscos químicos
São as diversas substâncias, compostos ou produtos que possam penetrar no organismo pela
via respiratória, nas formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores, ou que, pela
natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou ser absorvido pelo organismo
através da pele ou por ingestão.

À exemplo dos agentes físicos, estes agentes também necessitam de instrumentos específicos
para que sejam avaliados, embora, em alguns casos, a atividade de campo restringe-se a
"coletar" o agente para que seja enviado a um laboratório especializado que determinará a
concentração do mesmo.

Riscos biológicos
São microorganismos que podem contaminar o trabalhador e são, basicamente, as bactérias, os
fungos, os bacilos, os parasitas, os protozoários, os vírus, entre outros mais. Geralmente são
avaliados biologicamente e em laboratórios apropriados através da coleta de sangue, fezes,
urina ou outro meio de pesquisa nos empregados.

Muitas atividades profissionais favorecem o contato com tais riscos. É o caso das indústrias de
alimentação, hospitais, limpeza pública (coleta de lixo), laboratórios, etc.

Para avaliar estes agentes são necessários instrumentos específicos, todos obedecendo a
critérios mínimos de normas internacionais.

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5.1.1. RISCO E PERIGO

Os termos Risco e Perigo são frequentemente considerados sinônimos tanto na literatura


científica, como no vocabulário em geral (Augusto Filho, 2001). No idioma inglês, com seus
respectivos termos: risk, hazard e danger, assim como os equivalentes em francês: risques e
danger, parece acontecer o mesmo fenômeno semântico (Castro et al 2005).

Isto leva ao uso destes termos de forma indiscriminada e muitas vezes confusa, mesmo em
literatura científica; fato que dificultou a definição destes termos. Quando se trata das definições
de Risco, diversas são as fontes de consulta, mas a maioria voltadas para as áreas de
Segurança do Trabalho.

No que se refere ao foco deste trabalho, ou seja, no campo da mineração, pode-se dizer que, no
Brasil, em especial na área de Geologia de Engenharia, o termo Perigo não é tão empregado
nos textos acadêmicos e trabalhos técnicos. Risco é o termo usado frequentemente, sendo
definido como “a possibilidade de ocorrência de um acidente”. Acidente este definido como um
fato já ocorrido, onde foram registradas conseqüências sociais e econômicas (perdas e danos)
(Cerri & Amaral 1998). A definição de Risco é associada, neste campo científico, a uma
“situação de perigo ou dano ao homem e à suas propriedades, em razão da possibilidade de
ocorrência de um processo geológico, induzido ou não” (Zuquette & Nakazawa 1998).

O quadro 5.1 apresenta definições de Augusto Filho (2001) para os termos em questão
baseadas na IUGS (International Union of Geological Sciences).

Finalizando, Risco é: a probabilidade ou freqüência esperada de ocorrência de danos


decorrentes da exposição a condições adversas ou a um evento indesejado.

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Quadro 5.1: Definições associadas ao termo Risco, segundo Augusto Filho (2001).

TERMO DEFINIÇÃO

Uma medida da probabilidade e severidade de um efeito adverso para a saúde,


Risco (risk)
propriedade ou ambiente. Risco é geralmente estimado pelo produto entre a
probabilidade e as conseqüências. Entretanto, a interpretação mais genérica de
risco envolve a comparação da probabilidade e conseqüências, não utilizando o
produto matemático entre estes dois termos para expressar os níveis de risco.

Uma condição com o potencial de causar uma conseqüência desagradável.


Perigo (hazard)
Alternativamente, o perigo é a probabilidade de um fenômeno particular ocorrer num
dado período de tempo.

Significando a população, as edificações e as obras de engenharia, as atividades


Elementos sob Risco
econômicas, o serviço público e a infra-estrutura na área potencialmente afetada
(elements at risk)
pelos processos considerados.

O grau de perda para um dado elemento ou grupo de elementos dentro de uma


Vulnerabilidade
área afetada pelo processo considerado. Ela é expressa em uma escala de 0 (sem
(vulnerability)
perda) a 1 (perda total). Para propriedades, a perda será o valor da edificação; para
pessoas, ela será a probabilidade de que uma vida seja perdida, em um
determinado grupo humano, que pode ser afetado pelo processo considerado.

O uso da informação disponível para estimar o risco para indivíduos ou populações,


Análise de Risco
propriedades ou o ambiente. A análise de risco, geralmente, contém as seguintes
(risk analysis)
etapas: definição do escopo, identificação do perigo e determinação do risco.

5.1.2. RISCO AMBIENTAL

Apesar de existirem muitos trabalhos e perspectivas acerca do termo Risco, pouco existe sobre
Risco Ambiental. Os estudos e considerações acerca dos riscos ambientais só atualmente vêm
sendo desenvolvidos em diversas atividades, incluindo a indústria, mineração, e até o setor
financeiro que tem levado em conta o risco ambiental como fator decisivo em análises de
viabilidade econômico/financeira de diversos empreendimentos.

Segundo Castro et al (2005) o termo risco normalmente acompanha um adjetivo que o qualifica:
risco ambiental, risco social, risco tecnológico, risco natural, risco biológico, dentre outros

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associados à segurança pessoal, saúde, condições de habitação, trabalho, transporte, ou seja,


ao cotidiano da sociedade moderna.

Os respectivos autores adotam diversas abordagens para o Risco Ambiental, podendo ser
distinguidas três principais: 1 – abordagem relacionada às geociências ou, com enfoque em
processos catastróficos e rápidos; 2 – abordagem que trata dos riscos tecnológicos e sociais; 3
– abordagem empresarial e financeira.

A noção de Risco Ambiental, segundo Egler (1996), foi sistematizada originalmente por Talbot
Page em 1978, quando este distinguiu a visão tradicional da noção de poluição da noção de
risco, tendo origem no setor de energia nuclear. Egler (1996) define três categorias para análise
de risco: risco natural, risco tecnológico e risco social.

Para Kolluru (1994) o conceito de Risco Ambiental tem importância fundamental na avaliação e
determinação de alvos de uma política nacional de meio ambiente. Cada problema ambiental
impõe a possibilidade de dano à saúde humana, à natureza, ao sistema econômico ou à
qualidade da vida humana. A Avaliação de Risco é o processo que estima a forma, dimensão e
categoria do risco.

5.1.3. AVALIAÇÃO DE RISCO AMBIENTAL

A Avaliação de Risco Ambiental – ARA, é feita por meio da Análise de Risco, descrita nos
próximos itens.

São vários os métodos de Análise de Risco. Como ficou claro anteriormente, dentro deste
termo, enquadra-se uma enorme gama de estudos e avaliações com escopo e finalidades
diferentes, aplicados nos mais variados campos, como medicina, economia, administração de
empresas, área militar, engenharia de segurança, etc (Brandt 2000).

No que se refere à engenharia de segurança e meio ambiente, são também diversos os tipos de
análise de risco aplicáveis, sendo algumas qualitativas (SR - Série de Riscos, APP - Análise
Preliminar de Perigos, WIC - What-If / Checklist, TIC - Técnica de Incidentes Críticos, HAZOP -
Estudo de Operabilidade e Riscos, etc.) e outras quantitativas (AMFE - Análise de Modos de

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Falhas e Efeitos, AAF - Análise de Árvore de Falhas, AAE - Análise de Árvore de Eventos, etc.).

A Análise de Risco trata de diversos conceitos definidos a seguir, que foram modificados a partir
de Brandt (2000), que por sua vez extraiu alguns conceitos a partir de CETESB/1994; Norma BS
8800, Fantazzini & Cicco (1993), Peter Calow (1999).

Análise de Risco
É todo e qualquer processo de identificação que visa estimar todas as possibilidades de
ocorrência de um acidente, na tentativa de se evitar que ele aconteça.

Emergência
Situação gerada pela ocorrência de um acidente e que exige a adoção imediata de medidas de
controle.

Efeitos
São as conseqüências danosas advindas da consumação dos perigos identificados.

Perigo
Fonte ou situação com o potencial de provocar danos em termos de ferimentos humanos ou
problemas de saúde, danos à propriedade, ao ambiente, ou a uma combinação destes fatores.

Risco
É a combinação da probabilidade e a conseqüência de ocorrer um evento perigoso
especificado.

Medidas de prevenção e minimização de riscos de acidentes


São ações adotadas para reduzir a freqüência de ocorrência de acidentes tais como treinar
operadores, mudar as condições ambientais do ambiente de trabalho capacitação dos
operadores e/ou reduzir as conseqüências na ocorrência de um acidente tais como utilização de
EPI’s (Equipamentos de Proteção Individual) ou EPC’s (Equipamentos de Proteção Coletiva),
instalação de sistemas fixos de combate à incêndios, estabelecimento de Planos de Ação de
Emergências.

Medidas de controle de emergências

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São medidas adotadas para eliminar ou debelar os efeitos gerados pelos acidentes, no
momento em que estes ocorrem.

Medidas de correção de emergências


São medidas adotadas para recuperar os sistemas ou as áreas atingidas pelos efeitos de um
acidente.

Classificação dos riscos ambientais


A classificação dos riscos ambientais é feita com base no relacionamento entre a severidade
das conseqüências do acidente sobre o meio ambiente, e a freqüência de ocorrência do evento.

Severidade das Conseqüências x Freqüência de Ocorrência do Evento = Risco


De acordo com a metodologia adotada, a severidade das conseqüências são definidas no
quadro 5.2.

Quadro 5.2: Categorias de Severidade (modificado a partir de Brandt 2000).


Nível I
Nenhum dano ou dano não mensurável.
Desprezível
Nível II
Danos irrelevantes ao meio ambiente e à comunidade externa.
Marginal

Possíveis danos ao meio ambiente devido a liberações de substâncias químicas, tóxicas ou


Nível III inflamáveis, alcançando áreas externas ao empreendimento ou instalação. Pode provocar

Crítica lesões de gravidade moderada na população externa ou impactos ambientais com reduzido
tempo de recuperação.

Impactos ambientais devido a liberações de substâncias químicas, tóxicas ou inflamáveis,


Nível IV
atingindo áreas externas ao empreendimento ou instalação. Provoca mortes ou lesões graves
Catastrófica
na população externos ou impactos ao meio ambiente com tempo de recuperação elevado.

A partir dos conceitos definidos acima são criadas as chamadas Análises de Risco Ambiental
(também abreviadas na forma de – ARA, comumente empregadas como Análise Preliminar de
Risco Ambiental - APRA) em suas diversas categorias ou modalidades; moldadas segundo os
padrões e atividades de cada empreendimento. A APRA em muitos casos é complementar à

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Avaliação de Impactos Ambientais (AIA, descrita a seguir) do empreendimento. Diferentemente


da AIA, a APRA visa à identificação dos impactos potenciais, decorrentes de condições
acidentais (Brandt 2000). Portanto pode-se dizer que uma vez concretizado um acidente, o meio
sofre o impacto. O esquema da figura 5.1 mostra as etapas de estudo de uma Análise de
Riscos.

INÍCIO

IDENTIFICAÇÃO
DOS PERIGOS

DEFINIÇÃO DOS
CENÁRIOS DE ACIDENTES

ESTIMATIVA DE ESTIMATIVA DE ESTIMATIVA DE


VULNERABILIDADE FREQÜÊNCIA CONSEQÜÊNCIAS

AVALIAÇÃO DOS
RISCOS

MEDIDAS DE REDUÇÃO

RISCO
TOLERÁVEL

PGR

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Figura 5.1: Etapas de uma Análise de Riscos, modificado a partir de Brandt (2000).
5.1.3.1. Avaliação de Riscos Ambientais

Carpenter (1995) cita que a ARA tenta quantificar os riscos à saúde humana, aos bens
econômicos e aos ecossistemas, gerados a partir de atividades humanas e fenômenos naturais
que causam perturbações ao meio ambiente.

Carpenter (1995) cita que a Avaliação de Risco Ambiental apresenta a freqüência e o grau de
severidade de conseqüências adversas ao meio ambiente, proveniente de atividades ou
intervenções planejadas.

Portanto o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) deve incluir a ARA quando o risco é alto, a fim de
complementar a análise da viabilidade ambiental de determinados empreendimentos e,
complementando, se prevenir os impactos advindos dos riscos.

Complementando e, a partir do exposto, conclui-se que a Avaliação de Risco Ambiental nada


mais é que um processo orientado para a quantificação da perda máxima provável que dele
possa decorrer, ou seja, da quantificação da probabilidade de ocorrência do risco e de suas
conseqüências/severidades.

Alguns autores dividem a Avaliação de Risco Ambiental em áreas (riscos à saúde, ao meio
ambiente e segurança). Ressalta-se, no entanto, que qualquer avaliação de risco tem início
como a identificação do perigo ou definição do problema. Uma vez definidos os perigos, parte-
se para a identificação das populações receptoras potenciais e os locais de exposição.
Finalmente segue-se à etapa de caracterização do risco, onde são caracterizadas a natureza
e magnitude das conseqüências de tal exposição.

5.1.4. RISCOS AMBIENTAIS ASSOCIADOS À ATIVIDADE MINERÁRIA

A Resolução CONAMA 237/97 prevê: “A licença ambiental para empreendimentos e atividades


consideradas efetiva ou potencialmente causadoras de significativa degradação do meio
dependerá de prévio Estudo de Impacto Ambiental e respectivo Relatório de Impacto sobre o
meio ambiente (EIA/RIMA)”.

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Kirchoff (2004) cita que o EIA pode não ser completamente informativo quando as incertezas
são grandes e importantes na análise do problema. Isso em decorrência do uso de um número
para representar o intervalo de valores que um parâmetro medido pode ter, e poder levar o
analista – segundo seu juízo de valores – as escolhas mais otimistas ou conservadoras. Dessa
maneira, pode não ser suficiente a elaboração do EIA, a fim de se verificar a conciliação entre
empreendimento e qualidade ambiental.

O mesmo autor sugere ainda que para algumas questões específicas, a avaliação de viabilidade
ambiental pode requerer mais que um EIA, sendo que a Avaliação de Risco (AR) é uma
ferramenta que pode interagir com o EIA de forma a complementar esta avaliação. Enquanto o
EIA dá resposta sobre a viabilidade ambiental do empreendimento através da análise dos
impactos previsíveis associados ao mesmo, a AR, para complementar a avaliação sobre a
viabilidade ambiental do empreendimento, tenta quantificar riscos associados à determinada
ação antrópica.

No Brasil a AR é um instrumento muito pouco utilizado, mas com uso crescente, pois tem sido
uma ferramenta bastante útil em atividades como gasodutos, que normalmente estão sempre
associados a grandes riscos.

Como ficou definido, o termo Risco Ambiental e suas conceituações são bastante genéricos,
não sendo conhecida na literatura nenhuma referência específica a este termo em relação à
atividade minerária, a não ser em relatórios e documentos de circulação interna de algumas
empresas. O termo é empregado em diversas atividades que envolvam qualquer tipo de risco e
de qualquer natureza.

As NRM, definidas pela Portaria n° 143 de 26/05/2000, prevêem, na NRM n° 1 – Normas


Gerais, a implantação de uma ferramenta de avaliação e planejamento de Riscos em atividades
mineraria; o Plano de Gerenciamento de Riscos – PGR, descrito a seguir.

C.M. / NRM n°1, parágrafo 1.4, das Responsabilidades e Direitos, prevê:


1.4.1.11 – Cabe à pessoa, natural ou jurídica elaborar e implementar o Programa de
Gerenciamento de Riscos – PGR, contemplando os aspectos destas NRM, incluindo, no
mínimo, os relacionados a:
a) riscos químicos, físicos e biológicos;

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b) atmosferas explosivas;
c) deficiências de oxigênio;
d) ventilação;
e) proteção respiratória, de acordo com a Instrução Normativa n° 1, de 11/04/94, da
Secretária de Segurança e Saúde no Trabalho;
f) investigação e análise de acidentes no trabalho;
g) ergonomia e organização do trabalho;
h) riscos decorrentes do trabalho em altura, em profundidade e em espaços confinados;
i) riscos decorrentes da utilização de energia elétrica, máquinas, equipamentos, veículos
e trabalhos manuais;
j) equipamentos de proteção individual de uso obrigatório, observando-se no mínimo o
constante na NRM n° 6, de que trata a Portaria n° 3.214, de 8 de junho de 1978, do
MTE;
l) estabilidade do maciço;
m) plano de emergência e;
n) outros resultantes de modificações e introduções de novas tecnologias.

1.4.1.12 - O Programa de Gerenciamento de Riscos – PGR deve incluir as seguintes etapas:


a) antecipação e identificação de fatores de risco, levando-se em conta, inclusive, as
informações do Mapa de Risco elaborado pela CIPAMIN, quando houver;
b) avaliação dos fatores de risco e da exposição dos trabalhadores;
c) estabelecimento de prioridades, metas e cronogramas;
d) acompanhamento das medidas de controle implementadas;
e) monitorização da exposição aos fatores de riscos;
f) registros e manutenção dos dados por, no mínimo, vinte anos; e
g) avaliação periódica do programa.

A NRM n° 1 prevê ainda a adoção de medidas preventivas no escopo do PGR.

Todas as considerações feitas sobre os termos Risco e Risco Ambiental permitem concluir:

- diversos são os riscos decorrentes da atividade minerária em todas as suas etapas,


incluindo nisto primordialmente os fatores Segurança e Saúde;
- o Risco Ambiental decorrente da atividade minerária está associado quantitativamente
aos impactos por ela provocados, ou seja, uma vez que o Risco se torna real passa então

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a ocorrer um Impacto de dimensões e formas variáveis, em função do tipo de Risco que


se concretizou.
5.2. IMPACTO AMBIENTAL

Entre fins da década de 1950 e início da de 1960, a crescente sensibilidade de estudiosos,


acadêmicos e gestores públicos apontava a necessidade urgente da criação de novos
instrumentos capazes de complementar e ampliar a eficiência dos tradicionalmente utilizados no
licenciamento ambiental de atividades e empreendimentos. Vários grupos de estudos foram se
formando nos Estados Unidos e Europa, primeiramente nacionais e a seguir multinacionais,
para dar resposta a esse desafio. Já na década de 1960 passou a consolidar-se o conceito, hoje
corrente, de impactos sobre o meio ambiente (Braga et al 2005).

Na década de 1960 passou a consolidar-se o conceito, hoje corrente, de impactos sobre o meio
ambiente (Braga et al 2005). Em 1981, decorridas já quase duas décadas , o Brasil definiu a
Política Nacional do Meio Ambiente (Lei Federal n° 6.938, de 31/08/81). Nessa lei, a avaliação
de Impactos Ambientais e o “Licenciamento de Atividades Efetiva ou Potencialmente Poluidoras”
foram dois dos instrumentos criados.

Após cinco anos, o CONAMA, por meio da Resolução n° 001/86, definiu Impacto Ambiental
como “qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente,
causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que,
direta ou indiretamente, afetam:
I – a saúde, segurança e o bem-estar da população;
II – as atividades sociais e econômicas;
III – a biota;
IV – as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
V – a qualidade dos recursos ambientais.”

Em suma, Impacto Ambiental é uma alteração no meio ou em qualquer de seus componentes


por determinada ação ou atividade. Estas alterações precisam ser quantificadas, pois
apresentam variações relativas, podendo ser, por exemplo, positivas ou negativas, grandes ou
pequenas. Diversas são as classificações de impactos ambientais, variando de acordo com a
interpretação ou metodologia adotada. A seguir citam-se as formas mais usuais de
classificações.

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Impactos diretos e indiretos


Define a incidência do impacto sobre o meio, que pode ser direta ou indireta.

Impactos benéficos e adversos


Impacto benéfico é aquele que atua favoravelmente sobre o meio; enquanto que o
adverso é o que incide de forma desfavorável sobre o meio.

Impactos temporários, permanentes e cíclicos


Refere-se ao período de incidência do impacto. Também pode ser relacionado à
tendência do impacto no tempo, podendo progredir, se manter ou regredir.

Impactos imediatos e em médio e longo prazos


Se refere ao tempo de efeito do impacto sobre o meio. Impacto imediato ocorre quando a
incidência é imediata sobre a área afetada. Impactos a médio e longo prazos afetarão o meio
após um período maior de tempo.

Impactos locais, regionais e estratégicos


Indica a extensão sobre a qual o impacto influenciará. Impacto local ocorre em um ponto
determinado, não se estendendo aos entornos. Impactos regionais ocorrem quando a extensão
da área de abrangência é maior, atingindo proporções regionais. Impactos estratégicos incidem
sobre pontos críticos na área com conseqüências mais graves ou até mesmo catastróficas.

Impactos reversíveis e irreversíveis


Impacto reversível ocorre quando é cessada a origem do impacto ou quando o impacto
pode ser mitigado, fazendo com que o meio retorne à sua condição original.
Impacto Irreversível ocorre quando cessada a origem ou mitigado o impacto, o meio de
incidência não mais retorna à sua condição original.

5.2.1. ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL

A já citada Resolução CONAMA n° 001/86 definiu ainda como deve ser feita a avaliação de

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impactos ambientais, criando duas figuras novas, respectivamente: o Estudo de Impacto


Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). Definiu em que consiste cada um
deles e estabeleceu a relação das atividades para as quais a sua exigência é obrigatória. O
licenciamento para fins de exercício dessas atividades e de outras que podem ser estabelecidas
pela autoridade ambiental local passou, desde então, a depender da prévia aprovação do
EIA/RIMA, mediante processos regulamentados (Braga et al 2005).

O EIA consiste em um instrumento criado para a realização de estudos preditivos sobre um


empreendimento, analisando e avaliando os resultados. Os estudos de impactos são realizados
em duas fases principais:
- 1ª fase: é onde se procura prever e avaliar os impactos decorrentes da implantação do
empreendimento;
- 2ª fase: nesta fase é proposta a realização de medidas mitigadoras com o objetivo de
sanar ou reduzir ao máximo o efeito dos impactos.

5.2.1.1. Avaliação de Impactos Ambientais

O detalhamento do conceito hoje corrente de impactos sobre o meio ambiente, demonstrou que
sua avaliação podia ser feita com razoável margem de objetividade, de modo que ela pudesse
ter aceitação e representatividade social e transformar-se em instrumento do processo de
tomada de decisões no licenciamento ambiental. Para tanto, essa avaliação deveria ter
características técnicas mínimas regulamentadas pelo poder público e ser traduzida em um
documento público acessível aos vários segmentos da sociedade interessados no processo de
licenciamento (Braga et al 2005).

Munn (1975) dá uma versão das características básicas de uma AIA:


a) descrever a ação proposta e as alternativas também;
b) prever a natureza e a magnitude dos efeitos ambientais;
c) identificar as preocupações humanas relevantes;
d) listar os indicadores de impacto a serem utilizados e para cada um definir sua
magnitude. Para o conjunto de impactos, os pesos de cada indicador obtidos do decisor
ou das metas nacionais; e
e) a partir dos valores previstos em b) acima, determinar os valores de cada indicador de
impacto e o impacto ambiental total.

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A AIA em empreendimentos minerários normalmente é elaborada vislumbrando as etapas:


I - Implantação
II - Operação
III - Fechamento

Sendo que a AIA é baseada numa conjunção de fatores descritos no diagnóstico ambiental da
área a ser implantado o empreendimento; incluindo obviamente os meios físico, biótico e
antrópico. Todos estes fatores associados ao prognóstico da hipótese de não-implantação do
empreendimento.

5.2.1.2. Metodologias de avaliação de impactos ambientais

Diversos são os métodos de avaliação de impactos ambientais, adaptados às condições do


meio incidente e principalmente à natureza ou tipo de empreendimento a ser implantado. Os
métodos hoje disponíveis, em sua maioria, resultaram da evolução de outros já existentes.
Segundo Braga et al (2005) alguns métodos são adaptações de técnicas do planejamento
regional, de estudos de economia, ou ecologia, como por exemplo, a análise de potencialidade
de utilização do solo e de usos múltiplos de recursos naturais, análises de custo e benefício,
modelos matemáticos etc. Outros foram concebidos no sentido de considerar os requisitos
legais envolvidos, como é o caso dos Métodos das Matrizes e das Redes de Interação. Esses
métodos têm em comum a característica de disciplinarem os raciocínios e os procedimentos
destinados a identificar os agentes causadores e as respectivas modificações decorrentes de
uma determinada ação ou conjunto de ações (Braga et al 2005).

Os métodos, no entanto, passaram a ser cada vez mais específicos à medida em que o
aprofundamento do conhecimento permitiu tipificar causas e correspondentes efeitos em
diferentes segmentos do ambiente, em face de intervenções também específicas. Atualmente,
estão disponíveis métodos bastante elaborados e detalhados, visando apoiar a avaliação de
impactos de empreendimentos das mais diferentes naturezas.
Na medida em que a avaliação de impactos ambientais passou a ser uma atividade
institucionalizada e regulamentada pelo poder público nacional, estadual e inclusive local, um
dos critérios essenciais para a formulação ou a utilização de um método é o da verificação das
peculiaridades dessa ação pública, a começar pela definição do que é legalmente considerado

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impacto ambiental. No caso brasileiro, por exemplo, considera-se que um método é tanto mais
adequado quanto maior sua utilidade para dar suporte ao conjunto mínimo de atividades e
produtos legalmente exigidos na execução dos EIA/RIMA (arts. 6º e 9º da Resolução CONAMA
n° 001/86) (Braga et al 2005).

Braga et al (2005) apresentam um resumo destas atividades:


I. diagnósticos ambientais da área de influência do empreendimento;
II. identificação dos impactos;
III. previsão e medição dos impactos;
IV. definição das medidas mitigadoras;
V. elaboração do programa de monitoramento;
VI. comunicação dos resultados.

Segundo os mesmos autores, embora existam muitos métodos para a avaliação de impactos
ambientais, nenhum deles abrange todas essas atividades ou possibilita a análise de quaisquer
tipos de projetos ou sistemas ambientais.

Munn (1975) cita como atributo desejável em um método a sua capacidade de atender às
seguintes funções na avaliação de impactos: - identificação, - predição, - interpretação, -
comunicação, e monitoramento.

Além destes, destaca-se ainda que um método deve ser claro o bastante para se fazer
entendido pelo público em geral, não somente pelo corpo técnico; fator primordial na análise do
documento do EIA/RIMA e portanto na escolha do método.

5.2.2. INDICADORES DE IMPACTO AMBIENTAL

Em termos de glossário ambiental, indicador de impacto ambiental diz respeito aos elementos
ou parâmetros que fornecem a medida da magnitude de um impacto ambiental. Dividem-se em
quantitativos (representado em escala numérica) ou qualitativos (classificado em categorias ou
níveis), podendo ser biológicos, físicos e químicos.

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5.2.3. PRINCIPAIS IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DA ATIVIDADE MINERÁRIA

O item 4.1.1 deste trabalho descreve as etapas da atividade minerária; a partir deste é
apresentado o quadro 5.3 a seguir, modificado do trabalho de Sanchéz (2004), que enfoca os
impactos gerados por estas atividades. É apresentada então uma descrição das atividades de
relevância ambiental em empreendimentos mineiros.

A seguir são descritos em detalhes os principais impactos ambientais incidentes sobre os meios
físico, biótico e antrópico. A análise é feita considerando as três etapas inerentes à atividade
mineradora, que são: implantação, operação e com enfoque especial na etapa de desativação
do empreendimento.

Quadro 5.3: Atividades passíveis de geração de impactos nas atividades minerárias,


modificado a partir de Sanchéz (2004).

- Levantamentos topográficos.
Pesquisa e Prospecção
- Abertura de acessos.
- Prospecção geofísica e geoquímica.
- Coleta de amostras.
- Sondagens.
- Ensaios de beneficiamento.

- Decapeamento/terraplanagem.
Desenvolvimento
- Supressão de vegetação.
- Abertura de acessos.
- Remoção de camadas do solo.
- Implantação de rede elétrica.
- Construção de obras civis de apoio.
- Construção de instalações industriais.
- Montagem de equipamentos.
- Contratação de mão-de-obra.
- Disposição do estéril removido.
- Sondagens.

Cont.

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Cont.

- Escavação mecânica.
Lavra
- Desmonte por detonação.
- Desmonte hidráulico.
- Carregamento e transporte.
- Drenagem.
- Disposição do estéril.

- Manutenção de máquinas e equipamentos.


Beneficiamento
- Operações de britagem e moagem e classificação.
- Tratamento minero-metalúrgico.
- Disposição de rejeitos.
- Armazenamento de insumos.
- Tratamento de efluentes.

- Geração e tratamento de efluentes líquidos e sólidos de origem


Atividades secundárias
industrial e doméstica.
- Carregamento e transporte do minério.
- Manutenção de máquinas e equipamentos de apoio.
- Armazenamento e abastecimento de combustíveis.

5.2.3.1. Impactos sobre o meio físico

Os impactos incidentes sobre o meio físico recaem sobre três ambientes: solos, águas
superficiais e subterrâneas e sobre a atmosfera. Segue-se uma descrição detalhada da forma
como ocorrem os impactos.

A. Impactos sobre o solo

A.1. Alterações das propriedades do solo.

O principal fator causador de alterações nas propriedades do solo é a deposição indevida de


resíduos provenientes das operações de lavra e beneficiamento. Os resíduos classificados
como Classe II B, se depositados indevidamente, podem causar a alteração pontual da
qualidade e de propriedades do solo, tais como porosidade e compactação, sem, no entanto,

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implicarem no desrespeito às normas e requisitos legais. No entanto, a geração de resíduos


Classe I e II A, se manuseados e dispostos incorretamente, poderão gerar impacto de
intensidade alta, pois caso ocorra a contaminação do solo, este estaria fora das normas e
requisitos legais. Neste caso, poderia ser gerado passivo ambiental com área contaminada.

Além da deposição inadequada de resíduos, outro fator bastante comum no início das
operações de lavra, é a remoção da camada superficial do solo, expondo as camadas
subjacentes, e fazendo com que haja a perda de compactação, por aumento da taxa de
infiltração, o que acarreta em uma perda dos nutrientes naturais do solo.

A.2. Alterações na topografia e morfologia locais.

Diversas são as atividades minerarias geradoras de alterações na morfologia local ou até


mesmo regional, começando pela pesquisa mineral, que envolve a abertura de trincheiras,
abertura de acessos, dentre outros; até as operações de lavra e deposição de minério e estéril.

Durante a vida útil de uma mina, a céu aberto, as atividades de decapeamento, remoção de
estéril, abertura de acessos, a própria retirada da camada mineralizada, produzem um impacto
na maioria das vezes irreversível, pois dificilmente o perfil topográfico original será mantido.
Sem a implantação de um programa de recuperação adequado, poderá gerar um impacto visual
de grandes proporções.
Este tipo de impacto muitas vezes está associado a outros (muitas vezes considerados como
Impactos de segunda ordem), como alteração do nível do lençol freático local ou regional.

Outro fator que deve ser considerado é deposição de estéril e minério, o que ocorre tanto em
minas a céu aberto quanto nas subterrâneas. Em empreendimentos de grande porte, como é o
caso das minerações de ferro e manganês do Quadrilátero Ferrífero, este é um fator
preponderante na topografia, gerando grandes pilhas bastante elevadas, que alteram
brutalmente a topografia original, criando um relevo que não condiz com o original.

A.3. Aumento da erosão e assoreamento.

A exposição ou remoção das camadas superficiais do solo durante as operações de mineração,


através da remoção da vegetação, geram uma desestabilização quanto à ação das águas
pluviais, fazendo com que os processos erosivos se acelerem.

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As atividades causadoras deste efeito são as operações de remoção da camada superficial de


estéril, disposição inadequada de taludes, construção de pilhas de estéril/rejeito, a abertura de
vias de acesso e o decapeamento associado a todas estas.

Os principais impactos associados ao aumento da erosão são a em primeiro lugar a degradação


da qualidade do solo, com perda de propriedades essenciais, depois vem o aumento do
assoreamento. Isto faz com que haja uma alteração da qualidade da água e alteração nos
ecossistemas aquáticos, em decorrência do carreamento de partículas sólidas pela erosão. A
taxa de assoreamento quando muito elevada, pode afetar a drenagem superficial, gerando
obstrução do fluxo natural.

B. Impactos sobre as águas

As atividades minerárias envolvem a utilização da água em diversas etapas, que vão desde a
fase de pesquisa até as operações de rebaixamento de lençol freático para remoção da camada
mineralizada. A água pode ser utilizada como o próprio meio onde se dá a extração mineral,
caso da lavra por dragagem em leito de rios, lagos ou reservatórios; na desagregação do
minério, caso do método de desmonte hidráulico; nas operações de beneficiamento de minério
via úmida, tais como moagem, ciclonagem, flotação, cianetação; na expedição do minério,
agregada a este, no caso do transporte na forma de polpa; na mitigação de outros impactos,
como a emissão de particulados, controlada por aspersão de água; nas águas de chuvas, que
circulam por toda a área da mina; na geração de efluentes oriundos de refeitórios, sanitários, e
abastecimento de combustíveis. Ainda podem estar associadas aquelas águas de superficiais
ou subterrâneas que funcionam como corpos receptores de efluentes provenientes da área da
mina.

Todas estas formas de utilização culminam com a geração de grandes volumes de efluentes,
alterados ou poluídos, que poderão contaminar os corpos d’água locais ou até mesmo regionais
e o lençol subterrâneo; gerando impactos de segunda ordem que irão afetar a fauna, flora e as
condições de abastecimento de água potável.

Os poluentes introduzidos na água pela mineração podem originar-se do próprio minério, como
é o caso das minas de carvão em que ocorre a geração de ácido sulfúrico. Pode haver geração
de contaminantes oriundos do tratamento do minério, ou partículas sólidas provenientes do

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carreamento em superfícies expostas sob a ação de águas pluviais. Ressaltam-se ainda os


efluentes gerados nas operações auxiliares , que envolvem os refeitórios, sanitários, oficinas e
abastecimento de combustíveis.

Sanchez (1995) propõe uma série de poluentes mais comuns nas águas residuárias de
mineração, que foi modificado e apresentado no quadro 5.4, respectivamente com as medidas
de controle.

Portanto as condições de lançamento de águas residuárias é fator preponderante a se


considerar no caso de impactos sobre as águas em atividades de mineração. A Resolução
CONAMA 357, de 17 de março de 2005 estabelece padrões de qualidade das águas e de
lançamento de efluentes em corpos hídricos receptores. Os padrões e seus respectivos limites
estabelecem condições necessárias para que não haja nenhum tipo de alteração ou dano ao
bioma.

Qualquer sistema de gestão de recursos hídricos implantado em uma atividade minerária deverá
prever a adoção de medidas de controle para os efluentes sanitários, pluviais e oleosos da mina
e instalações que, em conjunto com a gestão de resíduos sólidos, irão contribuir para
minimização dos impactos ambientais sobre a qualidade das águas, fazendo com que não
hajam passivos.

Quadro 5.4: Poluentes mais comuns nas águas residuárias de mineração. Modificado a
partir de Sanchez (1995).
PRINCIPAIS MEDIDAS DE
POLUENTE ORIGEM EFEITOS/IMPACTOS
CONTROLE

- Instalações sanitárias. - São nutrientes de microorganismos - Fossas sépticas


Poluentes
- Refeitórios. que degradam e consomem oxigênio - Implantação de Estação de
orgânicos
- Vilas residenciais. neste processo. tratamento de esgotos.
- Detergentes utilizados - Diminuição da capacidade de - Implantação de Estação de
nas instalações de apoio. autodepuração dos corpos d’água. tratamento de água - ETA
- Reservatórios inundados - Possibilidade de eutrofização.
sem prévia remoção da
vegetação.
Cont.

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PRINCIPAIS MEDIDAS DE
POLUENTE ORIGEM EFEITOS/IMPACTOS
CONTROLE

- Minério - Nitratos e fosfatos são nutrientes - Correção de pH e


Sais (sólidos
- Estéril que, em altas concentrações, podem precipitação seletiva (com
dissolvidos)
- Rejeitos causar eutrofização (e implantação de ETA).
- Reagentes conseqüentemente desoxigenação).

- Outros sais em altas concentrações


podem afetar a biota.

- Tratamento por lixiviação - Alta toxidade - Oxidação


Cianetos
de minério de ouro - Degradação natural

- Minério - Aumento da toxidade que afeta as - Precipitação e filtragem


Metais
- Estéril espécies da biota. - Precipitação e flotação
Pesados
- Seqüestro em leitos

- Drenagem - Aumento da carga de sedimento nos - Implantação de sistema de


- Partículas
- Focos de erosão cursos d’água, causando aumento da drenagem para minimizar a
sólidas
- Efluentes do turbidez e assoreamento, podendo quantidade de água que
beneficiamento levar à inundações e mudanças no circula na área de operação.
curso d’água. - Implantação de bacias de
- Diminuição da luminosidade, decantação.
prejudicando a biota aquática. - Implantação de ETA com
- Soterramento de comunidades tratamento por adição de
bentônicas. coagulantes/floculantes, para
- Diminuição da produtividade primária Clarificação.
(devido à redução da fotossíntese).

- Vazamentos de - Pode interferir na oxigenação de - Caixas separadoras de


Óleos e
combustíveis e águas paradas. óleos e graxas e venda para
graxas
lubrificantes - Pode cobrir as guelras dos peixes e empresa especializada em
- Oficinas mecânicas afetar outros organismos. reciclagem de óleos.
- Áreas de lavagem de - Esteticamente inconveniente.
equipamentos

Cont.

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Cont.
PRINCIPAIS MEDIDAS DE
POLUENTE ORIGEM EFEITOS/IMPACTOS
CONTROLE

- Minérios sulfetados - Acidificação das águas - Neutralização


Ácidos
- Solubilização de metais. - Pântanos artificiais

- Rochas carbonáticas - Confere dureza às águas, limitando - Correção de pH


Álcalis
- Reagentes basálticos usos industriais e domésticos.

- Flotação de minerais - Toxidade para várias espécies - Controle fino da usina de


Reagentes
- Substâncias biodegradáveis tratamento.
orgânicos
consomem oxigênio. Degradação antes do
lançamento.
Fonte: Sanchez (1995).

C. Impactos na atmosfera

Em todas as etapas da atividade mineradora ocorre circulação de máquinas e equipamentos.


Essa circulação normalmente se dá sobre áreas não pavimentadas, o que ocasiona a geração
de material particulado, principalmente nas épocas de estiagem. O aumento da circulação de
veículos e máquinas, movidos por motores a diesel ou gasolina, assim como detonações e
alguns processos de tratamento do minério, podem provocar o aumento das emissões de
gases, podendo refletir em alterações da qualidade do ar.

Os cortes de taludes, pilhas de estéril e outras superfícies desnudas também são fontes de
geração de poeira. A supressão da vegetação também emissões locais de poeiras.

O aumento de particulados em suspensão, em valores fora dos parâmetros legais, pode


ocasionar uma alteração da qualidade do ar, desconforto ambiental e comprometimento da
saúde dos trabalhadores, com a retenção de partículas inaladas nos pulmões, gerando diversas
doenças respiratórias. Darley (1995) cita que processos envolvendo a deposição de poeira em
grandes quantidades podem levar a redução do crescimento das árvores, estando relacionados
ao encrostamento foliar. Os fenômenos associados ao encrostamento incluem redução na
fotossíntese líquida, queda foliar prematura, destruição dos tecidos foliares e inibição do
crescimento de novos tecidos fotossintetizantes.

Para as emissões gasosas dos veículos e máquinas, o controle de manutenção dos mesmos

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atuará para minimizar as alterações de qualidade do ar, mantendo-as conforme determinação


do PROCONVE.

C.1. Alteração do nível de ruído ambiental.

Os ruídos estão presentes em praticamente todas as etapas da atividade de mineração,


incluindo nisto toda a área útil ocupada pela mina e muitas atingindo os seus entornos. Os
principais causadores de ruídos são as máquinas utilizadas desde as operações de lavra até as
etapas de beneficiamento do minério, incluindo as detonações com explosivos.

Este tipo de impacto tem incidência direta sobre o meio, ocasionando uma situação de
desconforto ambiental, mas podendo ter abrangência regional. Pode atingir as populações do
entorno, e ocasionar o afugentamento da fauna local.

Os efeitos vibratórios são causados pela energia liberada na detonação de explosivos, cuja
intensidade varia em função da eficiência da operação de detonação.

5.2.3.2. Impactos sobre o meio biótico

O gerenciamento de estudos sobre o meio biótico e suas interações com o meio físico deve ter
início na fase de implantação do empreendimento, onde já devem estar previstas as etapas de
desmate para locação da mina e respectivas instalações.

Em alguns empreendimentos com largos anos em atividade o que se tem hoje é uma gama de
pesquisadores, órgãos do governo e os próprios empreendedores empenhados em se conhecer
e estabelecer critérios numa tentativa de retorne às condições originais ou pelo menos uma
recuperação das áreas degradadas. Isto ocorre em áreas clássicas de passivo ambiental da
atividade minerária ou empreendimentos de grande porte, com elevada produção e, portanto,
condições suficientes para a implantação de um sistema de gestão ambiental que vise a
recuperação de áreas degradadas.

Um ecossistema “consiste num conjunto integrado de fatores físicos, ecológicos e bióticos que
caracterizam um determinado lugar, estendendo-se por um determinado espaço de dimensões
variáveis. É uma totalidade integrada e sistêmica, que envolve fatores abióticos e bióticos, em
sua funcionalidade e processos metabólicos. O ecossistema forma uma unidade fundamental do

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meio físico e biótico, em que coexistem e interagem uma base inorgânica e uma base orgânica
constituída pro organismos vivos, gerando produtos específicos (turfeira, brejo, floresta de terra
firme, cerradões e pradarias, entre muitas outras)” (ACIESP 1997). Estas definições permitem
que se tenha uma noção da fragilidade de um ecossistema, dada a intrincada rede de
interrelações e interdependência, com cada elemento desempenhando um papel específico e
essencial na manutenção do equilíbrio.

A atividade minerária atua de forma a “quebrar” este equilíbrio; primeiramente com a remoção
da vegetação, ocasionando o afugentamento da flora local. Posteriormente o que ocorre é um
novo afugentamento, por ocasião dos ruídos gerados e, alguns casos, alterações nos
ecossistemas aquáticos.

Existe uma relação entre as alterações no meio físico e no meio biótico, pois uma é
conseqüência da outra ou, como já citado, são interdependentes. Como pode ser visto no item
anterior, onde se tem o efeito das alterações no meio físico, em que quase todos incidem sobre
a biota. A seguir é feita uma descrição sucinta dos impactos mais evidenciados sobre o meio
biótico, em decorrência da implantação da atividade minerária.

A. Alterações e supressão de vegetação

O desmatamento configura-se como um impacto inerente à explotação mineral, principalmente


aquela desenvolvida a céu aberto, pois a retirada da vegetação antecede a remoção de solo e
estéril, atividades inevitáveis para a lavra do minério.

O desmate acarreta perda de diversidade florística e exposição do solo, além da supressão de


nichos de alimentação e reprodução faunística, consequentemente afugentando a fauna e;
alterando o equilíbrio do ecossistema às vezes de maneira drástica.
Fato comum atualmente, é a incidência das jazidas sob áreas de pastagens ou agricultura, isto
é, já alteradas. Nestes casos haverá um impacto incidente sobre o meio sócio-econômico, mas
reversível através de ações indenizatórias.

Outro fator relevante é que a retirada da cobertura vegetal, com a exposição do solo, pode
afetar as nascentes, alterando não só a qualidade das águas subterrâneas mas, o equilíbrio
hidrodinâmico regional.

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A principal medida mitigadora deste tipo de impacto é o desmate feito de maneira controlada,
sendo feito somente em áreas estritamente necessárias à implantação do empreendimento,
promovendo o aproveitamento da madeira resultante do corte e a proteção das nascentes
através da manutenção das faixas de vegetação ciliar.

B. Redução da disponibilidade de habitats e migração faunística

Este tipo de impacto é uma conseqüência direta da supressão de vegetação, ocasionando


redução da área disponível para a fauna em geral. O que normalmente ocorre é o êxodo da
fauna em direção aos remanescentes florestais mais próximos, ocasionando perdas numéricas,
desaparecimento local de algumas espécies e até no estabelecimento de comportamentos
predatórios motivados pela disputa por nichos de alimentação, abrigo e reprodução.

As ações de desmate controlado, alem do translocamento da fauna podem mitigar este tipo de
impacto.

B.1. Alteração das comunidades faunísticas aquáticas e/ou dependentes da água em


decorrência da possibilidade de assoreamento de cursos d’água e contaminação por poluentes

Conforme já discutido, a atividade minerária pode acarretar o assoreamento das nascentes e


cursos d’água, alteração da qualidade das águas, influenciando diretamente comunidades
aquáticas e populações faunísticas associadas e/ou dependentes da água para sua
sobrevivência.

A água é um fator presente em quase todas as etapas da atividade minerária, e conforme


relacionado no quadro 5.5, as alterações em diversas substâncias acarretam em conseqüências
diretas sobre a aquifauna.

Medidas mitigatórias como a manutenção das matas ciliares para proteção dos cursos d’água e
nascentes, além mais uma vez de ações de desmate controlado, e controle de lançamentos de
efluentes, podem diminuir sensivelmente a intensidade deste tipo de impacto.

Sanchez (1996) propõe um programa de estudos para o gerenciamento dos impactos da


mineração sobre o meio biótico, que foi adaptado e descrito a seguir.

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1. Estudos de base. Nesta fase são feitos levantamentos iniciais (mapeamento de biótipos,
levantamentos de vegetação, levantamentos faunísticos terrestres e aquáticos), devidamente
registrados, para que se tenha um banco de dados acerca da fauna e flora regionais,
possibilitando as futuras ações como, por exemplo, implantação de viveiros. Nesta fase devem
ser escolhidos os indicadores para posterior monitoramento. Esta fase deveria preceder à
implantação do empreendimento.

2. Minimização das áreas de desmatamento. A minimização de áreas de desmate deve ser


princípio básico na implantação de um empreendimento mineiro, se restringindo aos locais
estritamente necessários e de forma a manter áreas de preservação permanente, evitando a
formação de ilhas de vegetação para assegurar a viabilidade das populações faunísticas locais.
Portanto a ferramenta fundamental é a implantação de um programa de desmate controlado.

3. Recuperação de áreas degradadas. A recuperação de áreas degradadas é um fator previsto


no C.M., portanto deve ser inerente à atividade se seguir os preceitos de utilizar
preferencialmente espécies nativas para revegetação, criar e manter viveiro de mudas e utilizar
critérios ecológicos na recuperação.

4. Compensação. Compensar a remoção de vegetação pela preservação de áreas nas


imediações da mina e recuperar e revegetar áreas degradadas externas à mina, também
previstos na legislação ambiental.

5. Monitoramento. A implantação de um programa de monitoramento deve-se iniciar na fase de


implantação do empreendimento e se manter após a desativação do mesmo, visando
acompanhar e registrar sistematicamente os impactos e os resultados das ações e recuperação
ambiental.

6. Conscientização e educação. Promover o desenvolvimento ativo de empregados e


comunidade.

5.2.3.3. Impactos sobre o meio antrópico

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Qualquer empreendimento, seja de mineração ou outra modalidade, demanda espaços que


poderão concorrer com os espaços ocupados e utilizados por uma população pré-existente.
Este configura o primeiro e talvez o principal impacto decorrente da implantação de um
empreendimento em uma área que já tenha um modelo de ocupação antrópica pré-definido.
Esta intervenção inicial demanda em uma série de outros impactos que incidirão diretamente
sobre as populações e o meio.

A maioria dos empreendimentos minerários de grande porte estão localizados na zona rural,
sendo raras são as exceções, citando-se também os casos em que os núcleos populacionais
crescem no entorno da mineração e em função dela. Nos casos mais próximos da zona rural, os
impactos incidentes sobre o meio antrópico são pouco intensos. Já quando se trata daqueles
próximos a grandes núcleos populacionais, como é o caso comum de algumas pedreiras, os
impactos são mais intensos, consequentemente atingindo uma camada maior da população.

As condições sócio-econômicas da sociedade incidente constituem no fator preponderante na


assimilação dos impactos, fazendo com que os mesmos incidam de forma positiva ou negativa.

Sanchez (1995) relaciona os principais impactos da atividade minerária sobre o meio antrópico:

Impactos Sociais
- Impacto visual.
- Impactos sobre a saúde e desconforto ambiental.
- Alteração na dinâmica demográfica.
- Qualificação da mão de obra.
- Alterações na forma de uso do solo.
- Interferências em comunidades indígenas.

Impactos Econômicos
- Substituição ou incremento das atividades econômicas.
- Aumento da demanda por serviços sociais e de infra-estrutura.
- Aumento local de preços.
- Alteração das opções de uso do solo.
- Aumento da oferta de empregos.
- Aumento da arrecadação tributária.

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- Indução ao desenvolvimento regional.


- Incremento no tráfego rodoviário.

Impactos Culturais
- Perda do patrimônio histórico-cultural
- Alteração das relações sócio-culturais

A seguir é feita uma breve discussão acerca dos principais impactos, onde foram destacados
aqueles geradores de passivos em decorrência de paralisação ou encerramento das atividades
minerárias. Ressalta-se que a maioria dos impactos estão interligados sendo que muitos são
decorrentes de alterações do meio físico e biótico.

A. Impacto visual

Sanchez (1995) cita que a avaliação deste tipo de impacto depende dos volumes de material
movimentado, dimensões da cava ou frente de lavra, e do número de pessoas que as vêem.
Depende, sobretudo, do que será afetado com a implantação do empreendimento, ou seja,
locais considerados como de beleza cênica.

Para atenuar estes impactos, a medida mais comum é a implantação de cortinas arbóreas, e
disposição de pilhas de rejeito e estéril em locais adequados, afastados.

Este tipo de impacto não é mensurável ou quantificado, em função da percepção das pessoas e
do simples fato de que não se medem padrões estéticos.

B. Impactos sobre a saúde e desconforto ambiental

Estes impactos são decorrências de alterações no meio físico (alterações na qualidade das
águas, poluição atmosférica e poluição sonora) e no meio biótico (introdução de patologias por
insetos vetores, decorrentes intervenções antrópicas em áreas de doenças endêmicas, como
ocorre na região norte do país, nas áreas de malária).

Um outro fato comum ocorre em áreas de garimpo, e na implantação de grandes


empreendimentos mineiros, quando pessoas advindas de diversas partes do país e do mundo
migram para estes locais, introduzindo patologias que são transmitidas para a população local

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através de diversos meios de contato.


Ressalta-se, no entanto, que este tipo de impacto pode ser facilmente atenuado desde que as
alterações que ocasionam a ocorrência destes, sejam mantidas dentro dos padrões e limites
legais.

C. Alteração na dinâmica demográfica, ocasionada pela remoção e migração de pessoas

Este impacto é uma decorrência da expectativa de empregabilidade das populações que


migram para áreas onde se localizam grandes empreendimentos minerários principalmente na
etapa de implantação e para áreas de surto garimpeiro.

Alguns empreendimentos, no entanto requerem o contrário, ou seja, a remoção de populações


inteiras em decorrência da implantação da mineração no local. Isto faz com que haja também
uma perda de patrimônio histórico cultural.

D. Alterações na forma de uso do solo

Este é o impacto mais comumente verificado, pois está presente em toda e qualquer atividade
minerária. A alteração na forma de uso do solo e conseqüente alteração das opções de uso,
nem sempre são negativas do ponto de vista econômico. O que deve ser previsto na etapa de
fechamento é que a população tenha outras opções de uso garantindo a subsistência. Na
verdade devem ser mantidas algumas características físicas e químicas do solo, o mais próximo
das originais ou dentro de parâmetros aceitáveis, de forma que se permita o reuso. Exemplo
mais típico é o caso de alguns pólos de produção de areia para construção civil que
transformaram grandes várzeas de rios em uma sucessão de lagoas e crateras, impossibilitando
o retorno da antiga atividade agrícola.

E. Diminuição da produtividade de ecossistemas

Este tipo de impacto é uma decorrência de alterações nos meios físico e biótico, que se refletem
nas atividades de subsistência das populações como é o caso da pesca, agricultura, criação de
animais.
F. Impactos culturais

A Constituição Federal define o que seja patrimônio cultural em seu artigo 216:

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“Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados


individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos
diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I. as formas de expressão;
II. o modos de criar, fazer e viver;
III. as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV. as obras objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações
artístico-culturais;
V. os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,
paleontológico, ecológico e científico.”

O Decreto Federal n° 99.556, de 01 de outubro de 1990, torna obrigatória a realização de


estudo de impacto ambiental para ações ou empreendimentos em áreas de ocorrência de
cavidades naturais subterrâneas ou de potencial espeleológico, que possam ser lesivos a essas
cavidades. A Resolução CONAMA no 347/05, estabeleceu que na outorga da concessão mineral
deve ser considerada a presença de bens de valor natural, científico e cultural, a fim de estender
às atividades de mineração a tarefa de proteção ao patrimônio natural e cultural informando,
sempre que for o caso, aos órgãos competentes.

Este cenário legal deve ser o ponto de partida no tratamento de qualquer impacto decorrente da
atividade minerária e que venha a incidir sobre o aspecto cultural.

Os bens culturais são classificados em tangíveis e não tangíveis. Goodland & Webb (1987)
apresentam duas classificações para o patrimônio cultural:

1 – nesta classificação são adotadas as dimensões culturais tangíveis e não tangíveis,


dividindo-as em:
- bens tangíveis - podem ser tangíveis imóveis: cidades, vulcões, quedas d’água e
cavernas, entre outros; e tangíveis móveis: fósseis, artefatos, antiguidades etc.
- bens intangíveis: linguagens, costumes, religiões.

2 – esta classificação se relaciona aos sítios de interesse cultural, dividindo-os em:


arqueológicos, históricos, religiosos e naturais.

A atividade minerária pode gerar alterações ou agressões ao patrimônio cultural, tangível e

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intangível.

A implantação de um empreendimento minerário em uma área remota ou que se mantenha


isolada e não atingida por costumes exteriores, afetará sobremaneira o cotidiano da população,
intervindo em seus hábitos, costumes, aspectos religiosos e até mesmo lingüísticos.

Os bens tangíveis são afetados de diversas formas. Além do seu deslocamento ou até mesmo
extinção de alguns, eles podem ser danificados por meio de emissão de poluentes, ou vibrações
provocadas por equipamentos ou explosivos.

A maioria destes impactos pode ser mitigada através de monitoramento e implantação de


programas de proteção e gestão do patrimônio cultural. Por se tratar de parâmetros com
indicadores muitas vezes não quantificáveis, a implantação de medidas mitigatórias é bastante
dificultada pela falta de uma correta compreensão e avaliação dos impactos incidentes sobre o
meio antrópico. Em muitos casos as medidas mitigatórias podem ser através da atenuação de
impactos sobre os meios físico e biótico, que incidem sobre o meio antrópico.

5.3. PASSIVO AMBIENTAL

O passivo ambiental é um dos temas mais discutidos da atualidade em vários segmentos da


sociedade; apesar disto é ainda muito pouco conhecido ou pesquisado. Possui características
muito abrangentes, podendo ser classificado, de forma mais generalizada, de acordo com os
aspectos físicos ou aspectos administrativos dos empreendimentos.

Nos aspectos administrativos, enquadram-se a observância às normas ambientais e os


procedimentos e estudos técnicos efetuados pelo empreendimento, relacionando-se a registros,
cadastros junto às instituições governamentais, cumprimento de legislações, efetivação de
Estudo e Relatório de Impacto Ambiental das atividades, conformidade das licenças ambientais,
pendências de infrações, multas e penalidades, acordos tácitos ou escritos com vizinhanças ou
comunidades, resultados de auditorias ambientais, medidas de compensação, indenização ou
minimização pendentes, dentre outros (Malafaia 2004). Enquanto os aspectos físicos abrangem,
dentre outros, áreas contaminadas por resíduos nocivos, tanto o solo quanto as águas
superficiais e subterrâneas, recuperação de áreas degradadas não efetuadas, recomposição

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florestal não atendida, falta de recuperação de bota-foras, reassentamentos humanos não


realizados.

O passivo ambiental é um produto dos impactos das atividades econômicas sobre o meio
natural, sendo que os danos ambientais podem afetar os recursos hídricos, a atmosfera, o solo
e subsolo, a biodiversidade, a saúde e qualidade de vida humana, as atividades econômicas e o
patrimônio histórico e cultural.

A ONU define pelo menos três tipos de passivos:


1. Legais: provenientes da força legal. Por exemplo: promover a descontaminação de um
local por força da lei.
2. Construtivos: são aqueles que a empresa se propõe espontaneamente a cumprir e
que extrapolam as exigências legais. Por exemplo: a empresa se compromete em virtude de
sua política empresarial a promover a descontaminação de uma área.
3. Justos: estes refletem as obrigações que a empresa se vê obrigada a cumprir por
fatores éticos e morais. Diferentemente das “construtivas”, a empresa sente-se moralmente
obrigada a cumprir. Por exemplo: limpar a água utilizada no processo de fabricação antes de
jogá-la no meio ambiente novamente.

O termo passivo foi considerado inicialmente em trabalhos de Contabilidade. Segundo a ONU


(1997), o passivo ambiental passa a existir quando houver uma obrigação de a entidade
prevenir, reduzir ou retificar um dano ambiental, sob a premissa de que a entidade não possui
condições para evitar tal obrigação ou quando o valor da exigibilidade pode ser razoavelmente
estimado.

Portanto a conotação exclusivamente negativa de passivo ambiental somente ocorre na área


técnica ou operacional. No aspecto financeiro/contábil o passivo pode ser visto como um custo
normal ou inerente ao processo operacional de qualquer empreendimento. Sendo assim, é
impossível que qualquer empreendimento não tenha um passivo, muitas vezes sem sequer ter
iniciado suas atividades.

Em lugar de esclarecer, a definição de passivo ambiental muitas vezes deixa dúvidas e leva a
raciocínios controvertidos. Isto talvez se deva ao fato de que é um problema somente
considerado recentemente, e com um vasto caminho de discussões e considerações a serem
feitas.

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5.3.1. PASSIVO AMBIENTAL PARA O SETOR MINERÁRIO

Considerando-se primeiramente as formas legais como se desenvolve a atividade minerária no


país, como sendo:
- Pesquisa Mineral – Alvará de Pesquisa;
- Manifesto de Mina;
- Portaria de Lavra;
- Cooperativa Garimpeira;
- Atividades de garimpo;
- Licenciamento;
- Lavra com Guia de Utilização.

As causas de desativação de empreendimentos minerários estabelecidos em qualquer uma


destas formas são: exaustão da jazida, obsolescência, ou alterações no mercado; sendo a
desativação definitiva ou apenas uma paralisação temporária. Quaisquer que sejam as causas,
estas devem obedecer ao disposto no Regulamento do C.M. que prevê o Plano de Fechamento
de Minas.

Durante as etapas de implantação e operação de um empreendimento, não é verificada a


ocorrência de passivos ambientais. Nestas fases são previstos impactos sobre o meio ambiente.

Portanto, a etapa de desativação e suas implicações, tanto do ponto de vista técnico como do
não cumprimento da legislação vigente, interessam como sendo a fase em que realmente passa
a se verificar a ocorrência de passivos ambientais incidentes tanto sobre o meio natural como o
antrópico.

A partir do exposto tem - se então duas situações de empreendimentos mineiros sujeitos à


ocorrência de passivos ambientais:

1 - passivos ambientais gerados por empreendimentos desativados anteriormente


à criação da legislação ambiental no país, e que se viram desobrigados, na forma
da lei, de estabelecer a recuperação dos danos causados;

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2 – passivos gerados por empreendimentos que não obedeceram ao disposto no


C.M. para o encerramento de suas atividades, gerando passivos decorrentes da
não recuperação de danos ambientais que possam ter ocorrido.

Uma terceira situação que poderia ser considerada é a geração de passivos decorrentes das
atividades de pesquisa mineral. Uma vez que a maioria destas implica em impactos de baixo
potencial, de curto prazo, e na maioria das vezes são absorvidos naturalmente pelo meio
impactado e ainda, considerando-se o fato de que não existem recursos legais que definam ou
estabeleçam critérios para definição de impactos provenientes da pesquisa mineral, esta etapa
não é considerada neste trabalho.

Finalizando o passivo ambiental é gerado quando um empreendimento minerário causa algum


tipo de impacto ou interferência, de algum modo e/ou ação, sobre o meio ambiente e não dispõe
de nenhuma ação ou mesmo algum projeto para sua recuperação, implantado, ou em fase de
implantação.

O conceito de passivo ambiental decorrente da atividade minerária pode ser definido como:
- “Aquele que é gerado quando, no encerramento das atividades minerárias, não
foi executada nenhuma ação ou projeto, no sentido de recuperação do meio ambiente,
que possibilite o seu retorno às condições originais ou o restabelecimento das
condições de equilíbrio”.

A partir desta visão, que à primeira impressão parece bastante simplista, é inquestionável que
algum método ou parâmetro deverá servir como indicador para que, numa análise inicial, se
possam detectar quais são realmente os passivos gerados por um determinado
empreendimento. Estes indicadores constituem a proposta metodológica deste trabalho.

Primeiramente deve-se ter noção das causas geradoras de passivos, ou seja, quais os riscos
iniciais a que o empreendimento esteve sujeito, os impactos ocasionados pela concretização
destes riscos e que culminaram com a geração de passivos. Portanto é fundamental que se
tenha em mente a analogia entre risco, impacto e passivo ambiental.

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5.3.2. ANALOGIA ENTRE RISCO, IMPACTO E PASSIVO AMBIENTAL

Conforme visto nas explanações anteriores, as definições de Risco, Impacto e de Passivo


Ambiental possuem enorme abrangência, sendo termos utilizados nos mais diversos setores da
economia e da sociedade, devendo ser considerados sob vários aspectos e diferentes pontos
de vista. Isto mostra a dificuldade de se fazer uma analogia entre os termos, que possa associá-
los ou interligá-los, não somente de forma conceitual como prática, através de sua aplicação em
diferentes atividades.

Em se tratando exclusivamente da atividade minerária, a análise isolada do termo Passivo


Ambiental não é possível sem se associá-lo a um impacto anteriormente ocorrido. O passivo
ambiental é uma decorrência de um impacto ambiental não mitigado.

É fundamental então a análise das duas diversas situações em que pode ocorrer um impacto
ambiental:
- situações previsíveis, inerentes ao processo, como atividades de decapeamento,
rebaixamento do lençol freático, disposição de resíduos sólidos, etc.
- situações acidentais ou de risco: quando os impactos são decorrentes de acidentes
ou situações de risco concretizado, como por exemplo: vazamentos de substâncias nocivas,
deslizamentos ou desmoronamentos, rompimentos de barragens, etc.

Portanto o impacto se configura como decorrência de atividades inerentes à mineração ou como


decorrência de uma situação de risco que se concretizou em um impacto de dimensões e
magnitude variáveis, em função do tipo de risco.

Para melhor compreensão, a analogia entre os termos é apresentada sob a forma de


fluxogramas, nas figuras 5.2 e 5.3.

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RISCO AMBIENTAL

PGR Acidente

IMPACTO AMBIENTAL

Reversível Irreversível

Mitigado Não
mitigado
PASSIVO AMBIENTAL

Figura 5.2: Fluxograma - síntese das interrelações entre Risco, Impacto e Passivo
ambiental.

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RISCOS ANALOGIAS ENTRE


IMPACTOS RISCO, IMPACTO E PASSIVO AMBIENTAL

Reversível

AGENTES MEIO
QUÍMICOS FÍSICO Irrevers./
Não mitigado

AGENTES
Reversível
FÍSICOS
MEIO
PASSIVO
BIÓTICO
Irrevers./
Não mitigado

AGENTES
BIOLÓGICOS
Reversível
Medidas de
MEIO
recuperação
ANTRÓPICO
Irevers./
Não mitigado

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Figura 5.3: Fluxograma – analogias entre Risco, Impacto e Passivo ambiental.

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6. METODOLOGIA PARA ANÁLISE DE PASSIVOS AMBIENTAIS


DECORRENTES DA ATIVIDADE MINERÁRIA

Atendendo ao objetivo principal deste trabalho, que é a criação de uma metodologia de análise
de passivos ambientais que permita aos órgãos ambientais e à sociedade decidirem quanto à
complexidade de um quadro de degradação apresentado por um empreendimento do setor
mineral, foi criada então uma metodologia baseada em critérios objetivos e tecnicamente viáveis
através da adoção de indicadores ambientais.

6.1. INDICADORES AMBIENTAIS

Indicadores, de um modo geral, são definidos como expressões quantitativas ou qualitativas


capazes de fornecerem informações sobre determinadas variáveis e suas interrelações.

A NBR ISO 14031 trata do tema Gestão Ambiental e estabelece diretrizes para a avaliação de
desempenho ambiental de empresas, através do estabelecimento de indicadores de
desempenho ambiental, classificados em duas categorias: Indicador de Condição Ambiental
(ICA) e Indicador de Desempenho Ambiental (IDA).

Os Indicadores de Condição Ambiental fornecem informações sobre a qualidade do meio


ambiente onde se localiza a empresa industrial, sob a forma de resultados de medições
efetuadas de acordo com os padrões e regras ambientais estabelecidos pelas normas e
dispositivos legais.

Os Indicadores de Desempenho Ambiental são classificados em dois tipos:


Indicadores de Desempenho de Gestão: fornecem informações relativas a todos os
esforços de gestão da empresa que influenciam positivamente no seu desempenho ambiental,
por exemplo, reduzindo o consumo de materiais.
Indicadores de Desempenho Ambiental: fornecem informações relacionadas às
operações do processo produtivo da empresa com reflexos no seu desempenho ambiental, tais
como consumo de água ou matéria prima.

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Segundo FIESP (2006) diferentes indicadores têm sido criados para qualificar e/ou quantificar
situações nas mais diversas áreas, tais como: saúde (índice de natalidade, índice de
mortalidade, etc.), educação (índice de repetência, índice de analfabetismo, etc.), economia
(renda per capta, por exemplo), sociologia (índice de desenvolvimento humano) e meio
ambiente (qualidade do ar, das águas, etc.). Ainda segundo os mesmos autores, a maioria dos
indicadores não espelha a qualidade dos temas abordados em sua totalidade, mas
indiretamente servem de referência para abordá-los e trata-los em seus aspectos mais
sensíveis.

Da mesma forma os indicadores de passivos ambientais também não podem ser quantificados
de forma absoluta, tendo em vista a complexidade da relação entre as atividades antrópicas e o
meio ambiente.

Uma ferramenta de grande auxílio no estabelecimento de indicadores de passivos para a


atividade minerária foi o conhecimento, através de estudos de casos, de empreendimentos
minerários geradores de relevantes passivos, tanto em sua intensidade como no que diz
respeito aos parâmetros legais vigentes. Mesmo em se levando em conta que muitos destes
tiveram o início e fim das suas atividades em período anterior ao estabelecimento de leis de
recuperação ambiental.

Os grandes passivos da atividade minerária conhecidos tanto no meio científico, como do


público em geral, foram então de certa forma, os norteadores na seleção e no desenvolvimento
de indicadores ambientais, pois nestes casos é possível se conhecer os efeitos em longo prazo,
de impactos que incidiram de forma direta e muitas vezes bastante intensas sobre o meio.

Uma outra ferramenta, mas não menos importante, foi o conhecimento do que são os principais
impactos decorrentes desta atividade e das leis que determinam parâmetros e limites
quantitativos e qualitativos. Somente a partir de então foi possível o estabelecimento dos
indicadores baseados em índices quantitativos estabelecidos pela legislação e normatização
técnica vigentes.

Portanto são premissas básicas da metodologia adotada:

I – A determinação do conceito de passivo ambiental para a atividade minerária como


sendo uma decorrência de impactos não mitigados ou irreversíveis, permitiu o

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estabelecimento dos impactos como indicadores. Os estudos mais detalhados focaram-


se nos impactos incidentes na etapa de desativação dos empreendimentos, uma vez que
a geração de passivos depende fundamentalmente da adoção de um Plano de
Fechamento adequado.

II - Mesmo sabendo-se que, nem a intensidade dos impactos nem a reação do ambiente
são previsíveis de forma absoluta, e muitas vezes não são quantitativamente valoráveis,
os indicadores de passivos ambientais atuarão no sentido de se mensurar o efeito de um
fato já ocorrido.

III – São adotados parâmetros e critérios estabelecidos para avaliação de impactos, ou


seja, limites estabelecidos numa tentativa de “previsão e dimensionamento de fatos que
possam vir a acontecer”. Portanto, ressalta-se mais uma vez que a metodologia foi criada
através de uma adaptação, ou poderia se dizer, uma extrapolação para o tratamento de
um fato já ocorrido.

IV – Os indicadores não foram selecionados considerando o porte do empreendimento


minerário e também o porte não foi reconhecido como um indicador de passivo
ambiental, pois obviamente este não é um fator determinante na ocorrência de impactos
ambientais de qualquer natureza.

Os indicadores selecionados permitem a definição de um passivo ambiental através da


verificação de valores ou atribuições fora dos limites estabelecidos. Ou seja, através do que se
poderia chamar de “corte direto”.

6.2. INDICADORES SELECIONADOS PARA A DETERMINAÇÃO DE PASSIVOS


AMBIENTAIS

Neste tópico é feita uma descrição dos indicadores selecionados e estabelecimento dos limites
e critérios adotados. Inicialmente, no entanto algumas considerações devem ser feitas.

Na seleção de indicadores de passivos não são considerados aqueles decorrentes de impactos

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ocasionados por ações inerentes à qualquer atividade minerária. Ressalta-se aqui o termo
inerente no sentido de enfatizar que é impraticável o desenvolvimento de operações mineiras
sem que hajam intervenções ou alterações nas condições originais do meio. Partindo deste
princípio, são relacionadas quatro atividades que são as que normalmente ocorrem em
empreendimentos mineiros:
- Supressão de vegetação;
- Alterações na topografia original;
- Rebaixamento do lençol freático;
- Alterações sócio-econômicas locais.

Os indicadores descritos nos próximos itens não consideram as atividades acima mas, em
alguns casos, são uma decorrência destas ações que, quando não controladas levam à geração
de passivos ambientais.

6.2.1. MEIO FÍSICO

6.2.1.1. Cava final da mina

A dimensão final da cava (ou pit final) de uma mina varia inicialmente em função da reserva de
minério, e em segundo plano do método de lavra adotado, que proporcionará um maior ou
menor aproveitamento da jazida. No fechamento ou suspensão temporária de uma mina a céu
aberto, deverão ser previstos pelo menos os dois parâmetros condicionantes:
1- Condições geotécnicas do maciço;
2- Área, altura e inclinação dos taludes gerados.

Os dois parâmetros estão interrelacionados, pois tanto a altura quanto a largura e inclinação dos
taludes gerados são uma função das condições geotécnicas do local, além, obviamente dos
serviços executados e equipamentos utilizados na lavra.

O exposto acima já é suficiente para se concluir pela dificuldade de estabelecimento de valores


numéricos para as diversas formas de lavra a céu aberto, de diferentes minérios e
consequentemente diferentes comportamentos geotécnicos. Não se pode determinar a
ocorrência de um passivo ambiental condicionado pelas dimensões da cava final, e sim, pela

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sua situação. Devem ser avaliadas as seguintes situações:

1. Lavra a céu aberto com exposição de rocha fresca – nestes casos, onde os
taludes apresentam rocha fresca aflorante, deve ser constatado se os
parâmetros de comportamento geotécnico e geomecânico do maciço estão
adequados, verificando a ocorrência de situações de instabilidade. As NRM
item 2.4.2.1 prevêem como situações indicativas de potencial instabilidade nos
taludes, as seguintes ocorrências: fraturas ou blocos desgarrados do corpo
principal, nas faces dos bancos das cavas e abertura de trincas no topo do
banco, abertura de fraturas em rochas com eventual surgimento de água,
feições de subsidências superficiais, estruturas em taludes negativos,
percolação de água através de planos de fraturas ou quebras mecânicas,
surgimento de ruídos anormais.
2. Lavra a céu aberto com exposição de rocha intemperisada - nos casos de
lavra de rochas intemperisadas, cujo comportamento geotécnico não permite o
estabelecimento de grandes taludes e, portanto é maior a ocorrência de
situações de instabilidade, deve ser verificada a implantação de medidas de
reabilitação do talude. A medida mais usual é a cobertura vegetacional, que
impede a instalação de processos de erosionais, carreamento de partículas
sólidas e conseqüentes deslizamentos ou desmoronamentos de massa; além
de atenuar o impacto visual, contribuindo para a inserção do talude no cenário
topográfico local. A figura 6.1 mostra uma cava em estágio avançado de
regeneração com o avanço da vegetação e incorporação do talude à
paisagem.

Reafirmando, para que ocorram passivos ambientais determinados pela situação da cava final
de uma mina, sugerem-se as seguintes verificações:
1 - execução de laudo geotécnico específico para a determinação das condições de estabilidade
do talude ou taludes finais, ou;
2 – execução de laudo especializado para verificação da existência de processos erosivos em
estágio avançado, ocasionando desmoronamentos ou movimentos de massa.

Estes critérios estão apresentados no quadro 6.1

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Figura 6.1: Foto da antiga cava da mina de manganês da Serra do Navio/AP. Detalhe para o
estágio avançado de recomposição da vegetação com o avanço da floresta equatorial.

Quadro 6.1: Condições de ocorrência de passivo ambiental decorrente da situação da


cava final de uma mina.

Indicador Condições de Parâmetro


aplicabilidade

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Cava final da - Lavra a céu aberto com - Verificação através de laudo geotécnico
mina exposição de rocha fresca das condições de estabilidade dos
taludes finais.

- Lavra a céu aberto com - Verificação através de laudos técnicos,


exposição de rocha da ocorrência de processos erosivos em
intemperisada. estágio avançado, ocasionando
desmoronamentos ou movimentos de
massa.

6.2.1.2. Áreas de subsidências

Segundo Ferreira (1995) subsidência seria o afundamento gradual ou repentino da superfície da


Terra, com ou sem movimento horizontal, podendo ser tectônica ou térmica.

A subsidência pode ser provocada por fenômenos naturais (geológicos/geomorfológicos) ou ser


proveniente de atividades antrópicas, sendo a mineração a principal delas.

Em lavras a céu aberto a subsidência de terrenos normalmente é decorrente do rebaixamento


de nível de água subterrânea. Principalmente em terrenos cársticos este é um fenômeno
relativamente comum.

Nas atividades de lavra subterrânea o fenômeno costuma ser associado à abertura de vias
subterrâneas. Nos dois tipos de lavra a subsidência é um fenômeno previsível e até mesmo
inerente ao processo, mas podem ocorrer acidentes decorrentes de falhas de projeto; nestes
casos as proporções podem ser bastante grandes.

Alguns tipos de lavra subterrânea trabalham com desabamentos previsíveis e controlados. A


inobservância a parâmetros geotécnicos e as próprias deficiências técnicas de projetos
provocam acidentes e subsidências internas ou externas aos domínios da mina.

Para este indicador serão consideradas as seguintes condições de aplicabilidade: lavra a céu
aberto com rebaixamento de lençol freático e lavra subterrânea. Não será feita discriminação

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quanto ao método de lavra subterrânea uma vez que a verificação do indicador se faz em
campo com a constatação da existência de terrenos subsidentes.

Também não será considerada a localização do empreendimento, uma vez que os efeitos
poderão ser sentidos em longo prazo, afetando tanto o meio biótico quanto o antrópico.

Quadro 6.2: Condições de ocorrência de passivo ambiental ocasionado por subsidências


de terrenos.

Indicador Condições de Parâmetro


aplicabilidade

Áreas de - Lavra a céu aberto com - Verificação da existência de áreas de


Subsidência rebaixamento de lençol subsidência.
freático

- Lavra subterrânea - Verificação da existência de áreas de


subsidência.

6.2.1.3. Disposição de material estéril

A disposição de estéril é um fator a ser considerado tanto em lavras a céu aberto como
subterrânea, sendo preponderante nas operações de lavra em que há geração de grandes
volumes de massa estéril. Normalmente este material é depositado em pilhas, algumas vezes
bastante elevadas, e nem sempre obedecendo à critérios geotécnicos, e que alteram a
topografia local interferindo na paisagem natural.

O estéril pode ser aproveitado para a recuperação de cavas (por enchimento das mesmas), mas
na maioria dos casos a disposição em áreas de bota-fora e aterros é inevitável. O problema da
disposição do estéril pode ser verificado não somente nos grandes empreendimentos mineiros,

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mas tem ocorrido também em pequenas minerações, como é o caso das lavras de rochas
ornamentais, onde a atividade algumas vezes é desenvolvida artesanalmente, sem a existência
de um plano de lavra que contemple um maior aproveitamento do material, gerando grandes
volumes de massa estéril proveniente de operações de decapeamento e remoção da camada
de material superficial geralmente fraturada. Em algumas lavras o problema pode ser agravado,
pois o fraturamento se estende em profundidade, o que obriga o não aproveitamento de grandes
parcelas da jazida.

O estéril, normalmente é inerte quimicamente, não gerando grandes passivos ambientais. Pode
ocorrer o contrário, contaminando águas e o solo, como é o caso da lavra de carvão mineral em
Criciúma/SC. A lixiviação das pilhas de estéril por infiltração de águas pluviais gera
contaminação regional de águas superficiais e subterrâneas. Localmente, o pH das águas é
extremamente ácido, atingindo valores de até 2,5, além da contaminação por outras
substâncias. Nestes casos sugere-se a obediência ao disposto na Norma ABNT 10.004 de
31/05/2004, Resíduos sólidos – Classificação. Esta norma classifica os resíduos sólidos quanto
aos seus riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública, e seu gerenciamento adequado.
São classificados em dois grupos: perigosos (Classe I) e não perigosos, que são subdivididos
em não inertes (Classe IIA) e inertes (Classe IIB). Os maiores passivos ocorrem quando da
contaminação por disposição de estéril Classe I ou IIA.

As situações a serem verificadas no que diz respeito à disposição de estéril são:


1. Interferência na topografia local. Nestes casos haverá um passivo ambiental
quando não forem implantadas medidas de reabilitação por revegetação. Ver
foto da figura 6.2 que mostra uma pilha de estéril proveniente da lavra de
carvão mineral em Criciúma/SC.
2. Local de disposição do estéril. Haverá geração de passivo ambiental no caso
da disposição do estéril em APP´s, com ressalvas para os casos que não
atendam ao disposto no inciso VI, § 6º do art. 7º da Resolução CONAMA 369
de 28/03/2006.
3. Instalação de processos erosionais. Será gerado um passivo ambiental caso
também não sejam implantadas medidas de reabilitação.
4. Alteração da qualidade da água. Este tipo de passivo ocorre quando há
infiltração pela pilha ou lixiviação de material estéril classificado como
perigoso, ou quando existem processos de erosão que podem causar
assoreamentos dos cursos d’água.

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A abordagem deste indicador, como pode ser visto, não é feita do ponto de vista quantitativo.
Neste caso é difícil se mensurar, uma vez que mesmos volumes de estéril podem ocupar áreas
de diferentes tamanhos, devido às condições de compactação. A DN 74/COPAM classifica o
porte do empreendimento segundo a área útil da pilha de estéril, mas no tratamento de
passivos, estes dois fatores não são relevantes, dada a dificuldade de mensuração dos efeitos
de ambos.

Figura 6.2: Foto de uma pilha de estéril proveniente da lavra de carvão mineral, onde se vê o
estágio de regeneração com aplicação de cobertura de solo e replantio. Criciúma/SC.

Quadro 6.3: Condições de ocorrência de passivo ambiental relacionado às condições de

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disposição de material estéril.

Indicador Condições de Parâmetros Critério de avaliação


aplicabilidade
- Verificação da localização em APP
Disposição de Lavra a céu aberto ou - Local de disposição ´s que não atenda ao disposto no
material estéril subterrânea, com disposição inciso VI, § 6º do art. 7º da
de estéril sob a forma de Resolução CONAMA 369 de
pilhas. 28/03/2006
- Verificação da instalação de
- Reabilitação medidas de reabilitação.

- Condições de - Verificação de infiltrações que


permeabilidade do contaminam o lençol freático.
terreno
- Verificação através de análises do
- Composição química do enquadramento como Classe IIB na
estéril Norma ABNT 10.004 de 31/05/2004.

6.2.1.4. Disposição de rejeitos e resíduos

O rejeito é gerado nas operações de tratamento de minério. Quando o tratamento é feito através
de processos pouco complexos como moagem e classificação granulométrica, ou seja, sem a
presença de água, a disposição mais comum é através de pilhas ou bota-foras. Quando o
tratamento é feito em via úmida, o rejeito gerado é constituído pela mistura de partículas sólidas
e água, denominada de polpa ou lama, usualmente disposta em barragens de sedimentação ou
de decantação, quando é necessária a injeção de reagentes floculantes.

A abordagem deste indicador também é apenas qualitativa, sendo os motivos os mesmos que
se aplicam à disposição de estéril. A abordagem qualitativa é feita considerando-se duas formas
de disposição – em pilhas em bota-foras ou disposição em barragens de contenção.

1. Disposição em pilhas. Neste caso os critérios a serem avaliados na verificação da


existência de passivos ambientais são os mesmos considerados para a disposição de
estéreis: local de disposição da pilha, medidas de reabilitação, permeabilidade da pilha.
2. Disposição em barragens de contenção de rejeitos/resíduos. Os critérios a serem
avaliados são o local de disposição da barragem e a composição química do rejeito;
além, das condições geotécnicas da barragem para verificação da existência de rupturas
ou infiltrações que poderão ser agravados no caso de disposição de rejeitos perigosos.

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Neste trabalho é adotada a mesma definição de barragem dada pela DN COPAM n° 87 de


17/06/2005: “Barragem: qualquer estrutura – barragem, barramento, dique ou similar – que
forme uma parede de contenção de rejeitos, de resíduos e de formação do reservatório de
água.” Esta D.N. dispõe sobre parâmetros para classificação de barragens de contenção e
reservatórios e as classifica em três categorias segundo o potencial de dano ambiental. Os
parâmetros considerados são:
Altura da barragem (H)
Ocupação humana a jusante
Interesse ambiental a jusante
Instalações na área a jusante
A conjugação destes quatro fatores permite a classificação da barragem em: Baixo, Médio ou
Alto potencial de dano ambiental.

A complexidade dos aspectos que tratam de barragens de rejeitos é muita alta, envolvendo
inúmeros fatores geotécnicos que devem ser considerados mesmo após a implantação da
barragem, no sentido de não ocorrerem danos ambientais. As fotos das figuras 6.3. e 6.4
mostram duas formas de construção de barragens baseadas em diferentes critérios
geotécnicos. No primeiro caso (foto 6.3) a barragem foi construída em um garimpo para
disposição de rejeitos sob a forma de lama, proveniente da lavra de ouro. Neste local a lavra é
feita por desmonte hidráulico, e o rejeito, sob a forma de polpa (mistura de água e material
argiloso) é depositado em uma bacia de contenção. Na foto percebe-se a falta de preparo do
terreno para a construção, sem desmate controlado dos entornos, o eixo construído em terreno
argiloso, com grande potencial de rompimento e transposição eminente que se pode ver pela
altura do nível d’água. Ressalta-se ainda como agravante a existência de uma drenagem a
jusante.

A foto 6.4 mostra uma barragem de contenção de rejeitos provenientes de uma planta de
tratamento de bauxita situada em Barcarena/PA. Na foto notam-se os aspectos positivos em sua
construção: primeiramente com revestimento por manta impermeabilizante, obediência a
critérios geotécnicos, implantação de cortina arbórea ao fundo, instalação de vertedouros,
dentre outros. A conjunção destes fatores atua no sentido de atenuar a possibilidade de
ocorrência de danos ambientais e, consequentemente a geração de passivos por ocasião do
encerramento da vida útil da barragem.

Os maiores passivos gerados são a restrição de uso das áreas devido a fatores geotécnicos,

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contaminação de águas subterrâneas e do solo pela presença de reagentes químicos ou


substâncias perigosas depositadas como rejeitos. Mas o maior deles é provocado por
rompimentos ou rupturas no eixo da barragem, que podem provocar grandes desastres
principalmente quando agravados pela ocupação humana a jusante e pela disposição de
rejeitos perigosos.

Um exemplo de passivo ambiental relacionado à disposição de rejeitos ocorre na região


portuária e industrial de Santana/AP. Neste local foi construída a usina de pelotização do
manganês extraído na Serra do Navio, cujo material residual do processo foi depositado, ao
longo de duas décadas, em uma bacia de rejeitos localizada na área da usina.
Consequentemente, tanto as águas superficiais, nos cursos d’água locais como subterrânea,
apresentam teores acima dos limites permitidos para ferro, arsênio de manganês.

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Figura 6.3: Foto de uma barragem construída atender a lavra de ouro em garimpo, de forma
desordenada e sem critérios geotécnicos. No centro se vê o “eixo” locado em terreno
inconsistente, ao fundo porções de mata ciliar destruídas. Serra do Navio/AP.

Figura 6.4: Foto de uma barragem de decantação de rejeitos provenientes da planta de tratamento
de bauxita. Barcarena/PA.
Quadro 6.4: Condições de ocorrência de passivo ambiental relacionado à disposição de
rejeitos e resíduos.

Indicador Condições de Parâmetros Critério de avaliação


aplicabilidade

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- Verificação da localização em APP


- Local de disposição ´s que não atenda ao disposto no
inciso VI, § 6º do art. 7º da
Disposição de Lavra a céu aberto ou Resolução CONAMA 369 de
rejeitos subterrânea, com disposição 28/03/2006.
- Verificação da instalação de
de rejeitos em pilhas.
- Reabilitação medidas de reabilitação.

- Condições de - Verificação de infiltrações que


permeabilidade contaminam o lençol freático.

- Resíduos sólidos classificados


- Composição química do como Classe I ou IIA, deverão seguir
rejeito as normas da ABNT para
disposição.
- Verificação da localização em APP
- Localização da ´s que não atenda ao disposto no
- Lavra a céu aberto ou barragem inciso VI, § 6º do art. 7º da
subterrânea, com disposição Resolução CONAMA 369 de
de rejeitos em barragens de 28/03/2006.
- Composição química do - Resíduos sólidos classificados
sedimentação/decantação.
rejeito como Classe I ou IIA, deverão seguir
as normas da ABNT para disposição
dos mesmos.
- Condições de - Verificação de infiltrações que
permeabilidade contaminam o lençol freático.

6.2.1.5. Propriedades do solo e processos erosivos

Uma massa de solo pode ser considerada como um conjunto de partículas sólidas, encerrando
vazios de tamanhos e formas variadas que, por sua vez, podem estar preenchidos com água, ar
ou ambos. O solo pode ser equacionado da seguinte forma (Fiori & Carmignani, 2001):
Solo = sólido + líquido + gases

Os mesmos autores citam que uma massa de solo pode ser descrita através de suas
propriedades físicas, como peso específico, teor de umidade, índices de vazios, entre outras, e
suas propriedades mecânicas, como ângulo de atrito interno, resistência ao cisalhamento,
coesão, etc.

As propriedades do solo são usualmente classificadas como – físicas (textura, estrutura,

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permeabilidade, densidade, porosidade, peso específico, dentre outras), químicas, biológicas e


mineralógicas. Estas propriedades são fatores determinantes da sua resistência à erosão, que é
um processo usualmente decorrente das atividades minerárias. A erosão é um efeito de
operações de remoção da cobertura vegetacional e exposição das camadas superficiais, que
ocorre nas atividades de decapeamento, implantação de barragens e pilhas de estéril/rejeito,
abertura de acessos, etc.; resumindo, é o primeiro efeito percebido na implantação de uma
mina.

Os estudos sobre processo de erosão são muito complexos e de alto custo. Deve-se ter em
mente que as propriedades físicas do solo podem ser medidas com relativa facilidade em
laboratórios e que uma pequena variação de seus valores não modifica substancialmente o
comportamento e equilíbrio dos solos. Entretanto, estas podem variar muito em função de
condições externas, como por exemplo, quantidade de chuvas, ocupação antrópica, etc. Da
mesma forma, uma pequena variação das propriedades mecânicas pode influir
consideravelmente na distribuição de esforços e na natureza do equilíbrio, modificando
radicalmente a segurança das obras (Fiori & Carmignani, 2001).

Considerando-se as dificuldades de quantificação de processos erosivos e a dificuldade de


verificação da alteração das condições originais do solo, considerando-se ainda que o impacto
sobre as propriedades químicas e biológicas do solo são de incidência pontual e, finalmente que
segundo D’Agostini (1999) a erosão hídrica do solo pode ser controlada através de inúmeras
ações, mas fundamentalmente inspiradas em uma única e suficiente necessidade: limitar a
velocidade da água que incide e escoa sobre a superfície do solo (ver foto da figura 6.5 que
mostra processo erosivo em talude); sugere-se que a avaliação deste indicador seja feita
somente através de análises para contaminação. Portanto, sugere-se que os processos
erosivos sejam considerados como um efeito ou conseqüência de alterações nas propriedades
do solo.

Quadro 6.5: Condições de ocorrência de passivo ambiental relacionado à alterações nas


propriedades do solo.

Indicador Condições de Parâmetros Critério de avaliação


aplicabilidade

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Propriedades do - Minas com lavra a céu


solo e aberto ou subterrâneas. - Contaminação do solo - Verificação da contaminação do
processos solo através de análises químicas.
erosionais.

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Figura 6.5: Foto mostrando processo erosivo instalado em solo do tipo distrófico, sujeito à
desmoronamentos e movimentos de massa; localizado em via de acesso à cava de uma mina de
ferro. Mariana/MG.
6.2.1.6. Qualidade das águas superficiais e subterrâneas

As atividades minerárias envolvem a utilização da água em diversas etapas, que vão desde a
fase de pesquisa até as operações de rebaixamento do lençol freático para remoção da camada
mineralizada. A água pode ser utilizada como o próprio meio onde se dá a extração mineral,
caso da lavra por dragagem em leito de rios, lagos ou reservatórios; na desagregação do
minério, caso do método de desmonte hidráulico; nas operações de beneficiamento de minério
via úmida, tais como moagem, ciclonagem, flotação, cianetação; na expedição do minério,
agregada a este, no caso do transporte na forma de polpa; na mitigação de outros impactos,
como a emissão de particulados, controlada por aspersão de água; nas águas de chuvas, que
circulam por toda a área da mina; na geração de efluentes oriundos de refeitórios, sanitários, e
abastecimento de combustíveis. Ainda podem estar associadas aquelas águas de superficiais
ou subterrâneas que funcionam como corpos receptores de efluentes provenientes da área da
mina.

Todas estas formas de utilização culminam com a geração de grandes volumes de efluentes,
alterados ou poluídos, que poderão contaminar os corpos d’água locais ou até mesmo regionais
e o lençol subterrâneo; gerando impactos de segunda ordem que irão afetar a fauna, flora e as
condições de abastecimento de água potável.

Na desativação de um empreendimento minerário, não ocorrem mais ações que gerem


efluentes passiveis de contaminação de corpos d’água, mas este tipo de passivo pode ocorrer
nos seguintes casos:
1. Se durante a vida útil do empreendimento não foram implantados programas de controle
da qualidade que previssem e mantivessem a qualidade das águas dentro de limites
aceitáveis pela legislação.
2. Quando existirem barragens com rompimentos ou fraturamentos ocasionando
infiltrações e conseqüente contaminação do lençol freático.
3. Nas minas em que o contaminante é o próprio minério, como ocorre nas minas de
carvão, que expõe as camadas contendo pirita.
4. Quando não são implantados sistemas de controle de erosão e assoreamento, fazendo
com que haja aumento da turbidez e assoreamento dos corpos d’água na área de

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influência.

Sugere-se para a avaliação de qualidade das águas superficiais, que os valores de parâmetros
para os corpos d’água situados na área de influência do empreendimento estejam dentro dos
limites estabelecidos no mínimo para a Classe 3, em conformidade com a Resolução CONAMA
357, de 17 de março de 2005.

Com relação às águas subterrâneas o primeiro passo na análise de passivos é a realização de


estudos para determinação do modelo de aqüífero regional, o que não é suficiente para
constatação da contaminação e qual extensão atingida. Haja visto os aqüíferos do tipo
fraturados, que podem associados a falhamentos de extensões regionais e que com uma
simples análise química não se tem idéia da extensão da área contaminada. Inúmeros são os
fatores a serem considerados para obtenção de dados precisos acerca da fonte contaminante.
Outro fato a ser considerado é se o empreendimento se situa na zona de recarga do aqüífero, o
que agrava o potencial de contaminação.

Uma análise precisa da existência de passivos decorrentes da contaminação do lençol freático é


muito complexa. Silva (1986) cita que investigar o grau de poluição de um aqüífero é oneroso,
leva muito tempo e é difícil. Requer a construção de uma rede de poços de observação, a coleta
sistemática de amostras de água e solos para análise, dentre outros.

Outro fator ainda a ser considerado é a existência de trabalhos anteriores que determinem as
características químicas do aqüífero antes da implantação do empreendimento, para que se
estabelecesse uma comparação. De posse de valores que estabeleçam o background, haveria
condições de verificação da contaminação. Isto acontece atualmente na implantação de um
empreendimento, mas naqueles em funcionamento e, pior ainda, nos desativados, isto se torna
praticamente impossível. A maioria dos empreendimentos desativados são anteriores à
legislação ou até mesmo anteriores ao início dos trabalhos de hidrogeologia no país. Ressalta-
se que a legislação atual não trata dos aspectos que dizem respeito especificamente à
qualidade das águas subterrâneas

Portanto, sugere-se a verificação do indicador de passivo relacionado à contaminação de águas


subterrâneas nos empreendimentos em que haja utilização ou disposição de rejeitos e resíduos
sólidos de Classe I ou IIA, pois se sabe de antemão que qualquer contaminação por estes
resíduos acarretará em um dano ambiental. Na ausência de diretrizes ambientais para o

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enquadramento das águas subterrâneas, sugere-se que seja verificada em análises a presença
de anomalias (valores anômalos de elementos ou substâncias) que são decorrentes do tipo de
resíduo gerado pelo empreendimento.

Figura 6.6: Foto mostrando galeria de mina de carvão subterrânea. O nível do lençol freático foi
atingido fazendo com que houvesse lixiviação das camadas de carvão que contêm pirita, e
consequentemente houve contaminação por ácido sulfúrico. Criciúma/SC.

Quadro 6.6: Condições de ocorrência de passivo ambiental relacionado à alterações na


qualidade das águas superficiais e subterrâneas.

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Indicador Condições de Parâmetros Critério de avaliação


aplicabilidade

Qualidade das - Minas com lavra a céu - Alterações nas águas - Verificação do enquadramento
águas aberto ou subterrânea. superficiais. dentro dos limites estabelecidos
para a classe da bacia hidrográfica
regional.
- Alterações nas águas
subterrâneas em minas - Análises para verificação de
com geração de resíduos anomalias.
Classe I ou IIA..

6.2.1.7. Dinâmica fluvial

As atividades minerárias podem causar alterações na dinâmica fluvial. O fato mais comum é a
transposição de cursos d’água para a lavra em pontos meandrantes do rio; caso típico de
garimpos de ouro e diamante. Nestes locais é feito um barramento com desvio do curso
permitindo a lavra em condições secas.

Outra ocorrência menos comum é o desvio de pequenos cursos para locação de áreas de
empréstimo, por exemplo, na implantação de barragens e pilhas de estéril de grandes
proporções.

Nestes casos o impacto é irreversível, mas pode ser controlado de maneira a não interferir na
dinâmica regional. No caso de lavras em leito de rios como é o caso dos garimpos, o rio pode
retornar ao seu curso original, uma vez cessado o barramento.

Os efeitos deste tipo de impacto são difíceis de mensurar, pois dependem de conhecimentos
pretéritos da dinâmica fluvial, levantamento da biota afetada, dentre outros, dificultando a
abordagem em termos quantitativos. A abordagem qualitativa pode ser feita através da
verificação de comunidades ou núcleos populacionais localizados a jusante que possam ter sido
afetados pela redução de vazão.

Quadro 6.7: Condições de ocorrência de passivo ambiental relacionado à alterações na


dinâmica fluvial.

Indicador Condições de Parâmetro Critério de avaliação

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aplicabilidade

Dinâmica fluvial - Minas com lavra a céu - Alteração no curso - Verificação da diminuição de
aberto e em leito de rios. d’água. vazão.

Figura 6.7: Foto do rio Gualaxo / MG - área de garimpo de ouro, onde se vê a alteração do curso
natural do rio para extração do metal nos meandros abandonados.

6.2.1.8. Rebaixamento do lençol freático

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Segundo Silva (1986) o aproveitamento das águas subterrâneas tem aumentado muito nos
últimos 20 anos devido ao crescimento da demanda e em função da degradação da qualidade
das águas superficiais, como conseqüência do crescimento populacional e do desenvolvimento
industrial e agropecuário.

A mesma autora ainda cita como principais vantagens da utilização de águas subterrâneas para
abastecimento:
- custo de construção dos poços que geralmente é menor do que as obras de captação
de águas superficiais;
- na maioria das vezes a qualidade das águas subterrâneas é adequada ao consumo
direto, sem a necessidade de tratamento prévio (a não ser em casos de contaminação);
- é uma alternativa de abastecimento viável para pequenas comunidades.
A superexploração de aqüíferos pode levar à sua exaustão total, ou ter como conseqüência o
rebaixamento dos seus níveis de águas, acarretando em um aumento dos custos de
bombeamento, diminuição do rendimento dos poços e a possibilidade de recalques nos
terrenos.

Isto é o que ocorre quando a lavra atinge o nível do lençol freático e são instalados poços de
bombeamento para drenagem do aqüífero. Na maioria das vezes os efeitos são sentidos em
todo o aqüífero regional. E nos casos em que existem comunidades próximas com dependência
real ou potencial das águas subterrâneas, ocorre o descrito no parágrafo anterior. Outro efeito
comum principalmente em áreas cársticas é o surgimento de áreas de subsidência, citado no
item 6.2.1.2.

O mesmo pode ocorrer nos casos em que a as instalações atinjam a zona de recarga do
aqüífero, impermeabilizando-a.

Este indicador é de difícil mensuração técnica, mas através de dados pré-existentes de vazões
de poços na região pode-se ter uma noção em termos quantitativos. Sugere-se que a simples
verificação em campo da existência de rebaixamentos do nível de água em poços além da área
em que se desenvolveu a atividade, além da verificação da existência de subsidências em
terrenos da área de influência seja suficiente para a constatação da existência de um passivo
ambiental. Ressalta-se que as áreas de subsidência devem ser verificadas se realmente são
provenientes do rebaixamento do lençol freático, e não de processos naturais.

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Quadro 6.8: Condições de ocorrência de passivo ambiental relacionado à rebaixamento


do lençol freático.

Indicador Condições de Critério de avaliação


aplicabilidade

Rebaixamento - Minas com lavra a céu - Verificação da diminuição de vazão


do lençol aberto e subterrâneas. em poços.
freático - Verificação da existência de áreas
de subsidências relacionadas ao
processo.

6.2.2. MEIO BIÓTICO

6.2.2.1. Supressão de espécies endêmicas ou ameaçadas da fauna e da flora

Este indicador está relacionado à presença anterior à implantação do empreendimento, de


espécies ameaçadas de extinção na área considerada de influência do empreendimento.

No entanto, fica difícil analisar com precisão a perda real de espécies da fauna e flora por
ocasião da implantação de um determinado empreendimento minerário. Ressalta-se o fato de
que muitos deles foi instalada antes da legislação ambiental e, principalmente, antes da
divulgação das listas de espécies ameaçadas de extinção, recurso recente tanto em nível
estadual como federal.

Como então avaliar a ocorrência, em tempos pretéritos, de espécies ameaçadas em


determinada área? Somente estudos muito específicos e detalhados de hábitos de
determinadas espécies ocorrentes regionalmente poderiam dizer com precisão se aquela foi
uma área ocupada por estas.

A determinação deste passivo é bastante complexa, e sugere-se que seja feita por técnico
especializado, através de laudo específicos que determinem a pré-existência de espécies
ameaçadas, que deveriam seguir as listas mais recentes:

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- Listra das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção (IN MMA 03/2003);
- Lista Nacional das Espécies de Invertebrados Aquáticos e Peixes Ameaçadas de
Extinção (IN 05/2004);
- Lista Oficial de Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção (Portaria IBAMA n°
37 N/1992).

6.2.3. MEIO ANTRÓPICO

O que ocorre em muitas regiões do país, com a instalação de uma empresa de mineração, é a
expectativa imediata de melhorias através da geração de empregos diretos ou indiretos, e que a
empresa se constitua em um suporte para a economia local. Em alguns locais, principalmente
naqueles mais remotos, com condições sócio-econômicas precárias, isto é o que realmente
acontece, com a empresa assumindo o papel do governo na tomada de decisões locais e
através de melhorias da infra-estrutura e execução de serviços que competem ao próprio
governo.

Quando a mina é fechada sem um planejamento que permita dar o suporte à comunidade local,
o que geralmente ocorre é o caos econômico e consequentemente social, pois, o município se
vê sem o que muitas vezes é o seu principal provedor de recursos. Em alguns casos, como
ocorre nas regiões de surtos garimpeiros, surgem verdadeiras cidades-fantasma, com a
migração quase total da população.

Mesmo diante disto deste quadro, algumas considerações devem ser feitas; a começar pela
principal característica da atividade minerária: a sua vida útil. É de conhecimento de toda a
população que a mineração é uma atividade com princípio, meio e fim, sendo estas etapas bem
definidas e muitas com data de encerramento já prevista e conhecida pela própria população do
local. Portanto, a ciência destes fatos deveria ser a mola propulsora do governo local, na
tomada de decisões no sentido de se buscar outras fontes de renda. Ressaltam-se nestes casos
os fundos arrecadados pela CFEM, que foram criados também com este objetivo.

Como se analisar um passivo deste âmbito, que na maioria das vezes decorre de falhas não
somente do empreendimento como dos governos, principalmente o local? No que diz respeito à
situação sócio-econômica em que se vêem os municípios após a desativação de

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empreendimentos, a inexistência de ferramentas legais que obrigassem ou prevenissem a


ocorrência destes passivos foi e continua sendo a principal causa.

É inquestionável o fato de que a avaliação deste indicador é muito complexa e envolve questões
políticas e sociais que, para serem levantadas, envolveriam no mínimo vários anos de
pesquisas com uma gama enorme de profissionais. Com as ferramentas disponíveis atualmente
para este trabalho torna-se impossível quantificar ou mesmo uma tentativa de análise deste tipo
de passivo. Portanto, o trato de passivos relacionados ao meio antrópico será relacionado a
itens que permitam a sua mensuração, mesmo que aproximada, como os descritos a seguir.

6.2.3.1. Patrimônio cultural

A Constituição Federal define o que seja patrimônio cultural em seu artigo 216:
Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados
individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos
diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I – as formas de expressão;
II – os modos de criar, fazer e viver;
III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV – as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às
manifestações artístico-culturais;
V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,
paleontológico, ecológico e científico.

A Resolução CONAMA no 347/05, estabeleceu que na outorga da concessão mineral deve ser
considerada a presença de bens de valor natural, científico e cultural, a fim de estender às
atividades de mineração a tarefa de proteção ao patrimônio natural e cultural informando,
sempre que for o caso, aos órgãos competentes.

Estas devem ser as ferramentas utilizadas na avaliação de passivos ambientais decorrentes de


danos ao patrimônio cultural, ou seja, a verificação da não lesão à qualquer bem de natureza
cultural, através do estabelecido na forma da lei vigente.

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6.2.3.2. Alterações na forma de uso do solo

As modificações na forma de uso e ocupação do solo são uma decorrência indireta de impactos
sobre os meio físico já previstos neste trabalho: supressão de vegetação, contaminação do solo
por disposição inadequada de resíduos, deslocamento de populações para ocupação do espaço
físico pelo empreendimento.

As modificações provocadas na forma de uso do solo refletem-se na economia local. Trata-se


de mais um exemplo de ciclo de causas e efeitos diretos ou indiretos. A compatibilização da
atividade minerária com a comunidade e o meio físico em seu entorno é o fator determinante da
geração de passivos desta natureza.
Um critério de avaliação poderia ser a verificação da instalação do empreendimento em áreas
de cultura de subsistência, salvo os casos em que as populações tenham sido devidamente
indenizadas.

Portanto, a análise de passivos neste caso deve considerar a existência de situações que não
permitam o uso do solo para outras atividades, uma vez que o empreendimento já tenha sido
desativado.

Isto pode ser ocasionado por contaminação de parcelas do solo por resíduos tóxicos, alterando
as suas propriedades físicas e químicas, que impedem o seu uso. Sugere-se que este seja o
critério de avaliação neste caso. Através de laudo técnico pode-se comprovar a existência no
solo de substâncias que impedem o seu uso ou que alterem as suas propriedades físicas.

Um exemplo clássico de passivo ambiental ocasionado por contaminação do solo ocorre no


Vale do Ribeira, região extremo sudeste de São Paulo e nordeste do Paraná, onde até início de
1995 existiam diversas minas de chumbo e zinco e prata e uma refinaria de chumbo localizada
em Adrianópolis que funcionou de 1945 a 1995.

Os sedimentos da bacia do Ribeira foram contaminados por Pb-Zn-Cu-As, em valores elevados.


Grandes parcelas de solo localizadas nos municípios que abrigavam as minas e principalmente,
próximos à refinaria, foram contaminadas por chumbo e, consequentemente, as populações
locais expostas ao solo, que apresentaram altas concentrações de chumbo no sangue e arsênio

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na urina. Também foram afetadas as lavouras, cujos produtos também apresentam


contaminação.

Segundo estudos recentes, caso não haja deslocamento de depósitos de descarte e de rejeitos
da refinaria e minas, a exposição das populações locais ao chumbo e arsênio ainda perdurará
por um longo período de tempo. Consequentemente sendo impedida de também usar o solo
para o exercício de suas atividades de subsistência.

6.2.3.3. Desmontagem de equipamentos e demolição de obras civis

A presença deste tipo de passivo pode ser verificada pela existência em áreas remotas de
antigos equipamentos de lavra ou tratamento de minérios abandonados, totalmente danificados
e sem condições de uso. Isto ocasiona um impacto visual, impede o avanço da vegetação e o
retorno da área às suas condições originais.

Em se tratando de obras civis o mesmo ocorre, com alguns agravantes do tipo: presença de
antigos depósitos de substâncias nocivas construídos sem critérios de permeabilidade, sendo
passíveis de contaminação, antigas vilas construídas pela mineração que são abandonadas,
construções necessárias ao processo operacional que são abandonadas; tudo isto formando um
mosaico de impacto visual, impedimentos de retorno às condições originais, gerando conflitos
locais no caso de residências abandonadas.

Também pode ocorrer o contrário como é o caso da vila da Serra do Navio que foi totalmente
reaproveitada por outras empresas de mineração, constituindo-se em um impacto positivo para
a comunidade local. O mesmo ocorreu com a ferrovia e estradas construídas por ocasião da
instalação da mina, que hoje atendem à população.

Sugere-se que a verificação da existência de passivos ambientais decorrentes da não


desmontagem de equipamentos e obras civis seja feita através de uma análise de sua
reutilização ou reaproveitamento. Ver foto da figura 6.8 que mostra o abandono de antigas
instalações minerárias.

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Figura 6.8: Foto mostrando antigas instalações minerárias abandonadas. Criciúma/SC.


6.2.3.4. Modificação da paisagem (Impacto visual)

O impacto visual em relação aos entornos como já citado é difícil de mensurar e,


conseqüentemente, o passivo decorrente disto. Diversos são os fatores a serem considerados,
envolvendo inclusive padrões estéticos e culturais imensuráveis.

Sanchéz (1994) cita em seu trabalho que além da modificação da beleza cênica, e de afetar o
conforto e bem-estar da população, a dimensão das áreas visíveis e o contraste visual dessas
com o seu entorno implica também na desvalorização de bens imóveis, portanto em danos
econômicos. Mas deve-se atentar ao fato de que neste caso então já havia uma intervenção
antrópica anterior ou decorrente da implantação da mineração, nem sempre estando em
situação de conservação. Muitas vezes as populações passaram a existir em função da própria
mineração.

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Portanto a adoção de critérios baseados na estrutura da paisagem e no comprometimento do


funcionamento dos ecossistemas pretéritos, conforme já proposto em trabalhos anteriores que
tratavam de impactos ambientais, não se adequa à identificação de passivos ambientais. Em
alguns casos também a modificação do meio já foi incorporada pela paisagem e pela população
local. Cita-se como exemplo os lagos formados pelas antigas cavas de manganês da Serra do
Navio que se incorporaram à paisagem local e servem de lazer para a população local (figura
6.9).

Sugere-se que este passivo, por não ser mensurável, não seja considerado e sim os efeitos
decorrentes deste, caso sejam comprovadamente existentes.

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Figura 6.9: Foto mostrando lago gerado em cava final que atingiu o nível do lençol freático, com
camada de calcário sobrejacente. Nota-se a formação de um lago de cor azulada, cor
provavelmente proveniente do calcário, que serve como área de lazer para a população local.

6.2.4. INDICADORES DE PASSIVO AMBIENTAL PARA ATIVIDADES MINERÁRIAS –


Síntese

Este tópico apresenta uma síntese do descrito anteriormente. Os quadros mostrados


anteriormente apresentaram a forma de verificação do passivo com a descrição dos parâmetros
a serem analisados. Neste é apresentado o indicador e o passivo decorrente. Portanto este
quadro mostra de forma direta o passivo que pode ser gerado pelo indicador em questão. Cada
indicador está relacionado a uma ou mais possibilidades de ocorrência de passivos.

Quadro 6.10: Indicadores de passivos ambientais na atividade minerária .

INDICADOR PASSIVO AMBIENTAL

Cava final 1. Presença de taludes instáveis.


2. Processos erosivos em estágio avançado com movimentos de massa.

Áreas de subsidência 1. Existência de subsidências na área de influência do empreendimento


comprovadamente relacionadas ao processo de lavra.

Disposição de estéreis 1. Local da disposição em APP’s, não obedecendo ao disposto na Res.


CONAMA n° 369 de 28/03/2006.
2. Ausência de medidas de reabilitação que reintegrem a pilha ao contexto
paisagístico local.
3. Disposição de rejeitos Classe I e IIA fora das normas estabelecidas pela
NBR 10.004/2004 da ABNT.

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Disposição de rejeitos 1. Local da disposição em APP’s, não obedecendo ao disposto na Res.


CONAMA n° 369 de 28/03/2006.
2. Disposição de rejeitos Classe I e IIA fora das normas estabelecidas pela
NBR 10.004/2004 da ABNT.

Propriedades do solo e 1. Contaminação do solo.


conseqüentes processos erosivos

Qualidade das águas 1. Cursos d’água com parâmetros fora dos limites estabelecidos para a
classe 3 ou classe da bacia hidrográfica regional, segundo a Res.
CONAMA 357/2005.
2. Presença de anomalias nas águas subterrâneas relacionadas à
disposição de resíduos sólidos de classe I ou IIA.

Dinâmica fluvial 1. Diminuição de vazão dos cursos d’água comprovadamente relacionada


ao processo de alteração da dinâmica.

Rebaixamento do lençol freático 1. Diminuição comprovada da vazão de poços localizados na área de


influência do empreendimento, e que afetem as comunidades locais.

Supressão de espécies endêmicas 1. Pré-existência comprovada de espécies ameaçadas, em acordo com as


da fauna e da flora listas oficiais de espécies ameaçadas.

Patrimônio cultural 1. Verificação comprovada de danos ou extinção de bens do patrimônio


cultural definidos na C.F. art. 216.

Alterações na forma de uso do solo 1. Existência comprovada por análises, de substâncias nocivas que afetem
a qualidade e propriedades do solo.

Desmontagem de equipamentos e Não mensurado


demolição de obras civis

Impacto visual Não mensurado

Algumas considerações ainda devem ser feitas:

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- a verificação de passivos muitas vezes só pode ser feita através de laudos técnicos
especializados portanto, onde se lê “comprovada” ou “comprovadamente”, entenda-se por
“comprovado através de laudo técnico especializado”.
- poderiam ser acrescentados alguns indicadores, como por exemplo: indicador de saúde
humana. Este se relacionaria às alterações da saúde humana provocadas por atividades de
extração e beneficiamento de minérios. Neste trabalho decidiu-se por não tratá-lo como
indicador e sim, como um efeito direto ou indireto de outros, como: alterações da qualidade da
água e do ar e contaminação química do solo.

Ressalta-se ainda que foi feita uma tentativa de generalização através dos casos de passivos
ambientais mais conhecidos e de maior ocorrência na atividade minerária, mas que não foram
desconsiderados os casos isolados e pontuais. A abrangência deste tipo de estudo é muito
grande e envolveria profissionais de outras áreas.

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7. CONTABILIDADE FINANCEIRA DE PASSIVOS AMBIENTAIS

No âmbito da Contabilidade, passivo ambiental é definido como o conjunto de dívidas reais ou


potenciais que o homem, a empresa ou a propriedade possui com relação à natureza por estar
em desconformidade com a legislação ou procedimentos ambientais propostos (David 2003).

Bergamini Jr. (1999) afirma que um passivo ambiental deve ser reconhecido quando existe uma
obrigação por parte da empresa que incorreu em um custo ambiental ainda não desembolsado,
desde que atenda ao critério de reconhecimento como uma obrigação. Portanto, as alterações
ambientais ocasionadas pelas empresas é que fazem constituir o seu passivo.

Em se tratando de aspectos contábeis, a mensuração dos passivos ambientais, geralmente


envolve variáveis complexas, dificultando o seu reconhecimento, sendo atribuído a diversos
fatores tais como:
- inexistência de técnicas adequadas para identificá-los;
- ausência de identificação de quem os gerou efetivamente;
- inexistência de tecnologia adequada para a recuperação dos danos provocados
pelo homem;
- falta de definição do montante de insumos que seria utilizado para combater a
degradação.

Como forma de identificação e mensuração dos passivos ambientais pode-se utilizar ‘Due
diligencies’ que se refere a um trabalho direcionado para a identificação de todos os aspectos
econômicos, financeiros e físicos que estejam afetando, ou poderão vir a afetar, a situação
patrimonial da companhia. Nesse contexto, certamente as variáveis ambientais também serão
alvo de atenção. Trata-se de dois documentos de caráter altamente técnico, exigidos pelas
autoridades governamentais para a autorização de instalação e funcionamento de algumas
atividades econômicas.

Outros instrumentos que podem ser utilizados são os Estudos Ambientais, que identificam os
impactos provocados ao meio ambiente, fatos geradores dos passivos ambientais, e a partir
desses documentos identificam os efeitos ambientais e mensuram os custos inerentes aos
mesmos. Este é o instrumento mais comum em se tratando de empreendimentos minerários.

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A partir do exposto deve-se ressaltar que no contexto da contabilidade, os passivos ambientais


não têm conotação somente negativa, mas à vezes têm origem em fatos de conotação positiva.
Ribeiro & Gratão (2000) citam que os passivos ambientais podem ser originários de atitudes
ambientalmente responsáveis como os decorrentes da manutenção de sistema de
gerenciamento ambiental. Tais sistemas exigem contratação de pessoal técnico especializado, a
aquisição de máquinas e equipamentos, construção de instalações para funcionamento, etc.,
que, muitas vezes, será feito na forma de financiamento. Esses passivos darão origem aos
custos ambientais, já que são inerentes à manutenção normal do processo operacional.

Mas, como já mencionado, a conotação exclusivamente negativa de passivo ambiental somente


ocorre na área técnica ou operacional. No aspecto financeiro/contábil o passivo pode ser visto
como um custo normal ou inerente ao processo operacional de qualquer empreendimento.
Sendo assim, é impossível que qualquer empreendimento não tenha um passivo, muitas vezes
sem sequer ter iniciado suas atividades.

7.1. CUSTOS AMBIENTAIS

Custos são todos os gastos utilizados para a condução das atividades de uma empresa,
estando relacionados ao processo de produção, podendo ser identificados como: matéria prima,
mão de obra, desgaste de máquinas, impostos em geral, etc. (Iudicíbus 1999). Dentro deste
universo se inserem hoje os custos ambientais de uma empresa, que por sua vez podem ser
definidos como a soma de todos os gastos relacionados à preservação ou recuperação do meio
ambiente.

Para o setor mineral, Taveira (1997) define o custo ambiental como “a antecipação, medida em
termos monetários, incorrida ou potencialmente a incorrer, para atingir os objetivos de avaliar,
reabilitar e recuperar uma área degradada por um empreendimento mineral, ou mantê-la em
condições ambientais aceitáveis, através das ações de proteção, monitoramento e prevenção”.

Os custos ambientais podem ser incorridos nas ações de avaliação, prevenção, minimização,
monitoramento, e reabilitação dos impactos sobre os meios físico, biótico e antrópico,
provocados por empreendimentos do setor mineral, nas fases de planejamento, construção,
operação e fechamento (Taveira 1997).

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Portanto os custos ambientais para um empreendimento minerário devem ser computados


desde a etapa de implantação. As características intrínsecas de cada jazida são determinantes
no cálculo dos custos ambientais, tais como:

- localização: quanto mais próxima dos centros urbanos, maiores os custos com
monitoramento, por sua vez aquelas próximas às áreas de preservação também requerem
maiores cuidados.

- método de lavra: a lavra subterrânea normalmente acarreta em menores custos com


recuperação ambiental que a céu aberto.

- beneficiamento: a decisão pelo tipo de processo de beneficiamento é importante no sentido


de se saber qual o rejeito será gerado, quais as condições de disposição e substâncias
envolvidas no processo. Tudo isto acarreta em custos ambientais.

Segundo Taveira (1997) os custos ambientais podem ser divididos em:

- Custos de degradação: custos externos de um projeto provocados por impactos ambientais


sem controle ou por impactos residuais.

- Custos de controle: evita a ocorrência (total ou parcial) de impactos ambientais.

- Custos de mitigação: são os gastos em ações para reduzir o impacto ambiental do projeto.

- Custos de compensação: são os gastos em ações que compensam os impactos, recuperação


é impossível.

- Custos de monitoramento: gastos com ações de acompanhamento e avaliação de impactos e


programas ambientais.

- Custos institucionais: são os custos do processo legais, ou seja, os gastos com: elaboração
de estudos ambientais nas etapas de planejamento, implantação, e operação; elaboração de
estudos e relatórios exigidos pelos órgãos ambientais; pagamento de multas e ações judiciais;
obtenção de licenças ambientais e; obtenção de certificações, pagamentos de seguros, dentre
outros.

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A forma simplificada de dividir os custos ambientais em empreendimentos minerários, sintetiza-


os em duas formas: custos de preservação e controle e, custos de recuperação.

7.2. CUSTOS DE RECUPERAÇÃO AMBIENTAL DAS ATIVIDADES MINERÁRIAS

Desativar uma mina e seus componentes (lavra subterrânea, lavra a céu aberto, pilhas de estéril
e minério lixiviado, barragens de rejeitos, equipamentos, obras civis e infra-estrutura) implica em
custos e um cronograma de desembolso que deve ser planejado (Oliveira Jr. 2001).

O passivo ambiental é um produto dos impactos das atividades desenvolvidas sobre o meio
natural, envolvendo, portanto, todos os custos das atividades que sejam desenvolvidas nesse
sentido, podendo os danos ambientais serem relativos a recursos hídricos, à atmosfera, ao solo
e ao subsolo, perda da biodiversidade, danos à saúde e à qualidade de vida, impactos na
atividade econômica e, por fim, impactos sociais e culturais.

Para se estimar o cálculo dos custos é necessário se ter em mente, em primeira mão, o tipo de
lavra e as implicações ambientais decorrentes desta. Segundo Oliveira Jr. (2001) de acordo com
as características de cada tipo de lavra e formas de beneficiamento, podemos então definir
quais os objetivos da recuperação e quais as medidas a serem adotadas. A partir de então
serão definidas as ações e custos decorrentes destas.

A forma de tratar o problema proposta por Oliveira Jr. (2001) pode ser estendida para os casos
em que o empreendimento minerário já foi desativado e apresenta passivos ambientais. Os
custos ambientais deverão então ser computados da seguinte forma:

1. identificação do passivo ambiental através de indicadores e parâmetros;


2. definição das medidas a serem adotadas para adequação aos parâmetros pré-estabelecidos;
3. definição das ações que implicarão em gastos;
4. cada ação constituirá em um item de custo na recuperação do passivo detectado.

As características intrínsecas de cada mina (tipo de lavra e método de tratamento do minério)


são fatores preponderantes na análise de custos envolvidos na recuperação de passivos

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ambientais. É inquestionável então que, diversos são os itens de custos a serem considerados
na análise financeira de passivos ambientais.

A partir da deteccão do passivo ambiental e consequentemente da sua quantificação, são


identificadas as medidas de recuperação, caso elas existam. As ações a serem executadas é
que poderão ser avaliadas em termos de custos. Por exemplo: os custos de recuperação de
uma cava, que poderão envolver ações de plantio e revegetação e instalação de dispositivos de
drenagem. Tudo isto acarreta em custos perfeitamente previsíveis.

O que dizer então dos casos em que, por exemplo, foi extinta uma parcela de Floresta
Equatorial? Como calcular os custos de um passivo decorrente de um impacto irreversível?
Primeiramente devem ser levantadas algumas questões.

Os custos considerados em uma produção normalmente são os internos, ou seja, que dizem
respeito à sua contabilidade (custos de operação); os custos externos são excluídos do cálculo.
Normalmente constituem externalidades, como destruição de uma paisagem, extinção de uma
espécie, etc. Os custos associados a estes processos destruidores não são estimados
normalmente (Cavalcanti 2004).

Como então calcular ou medir o imensurável? Uma hipótese ou tentativa seria a criação de
indicadores econômico-ecológicos que estimem a degradação ambiental.

No entanto, Cavalcanti (2004) cita que o perigo de se atribuir valor monetário a bens e serviços
ecológicos é tanto de levar, por um lado, a que se acredite que eles valem aquilo que os
cálculos mostram, quanto de fazer, por outro, pensar que os ativos naturais possam ser assim
somados à ativos construídos pelo homem (ambos referidos á mesma base me dinheiro),
tornando-os substituíveis.

São, portanto, duas as situações a serem consideradas na análise de custos de recuperação de


danos ambientais causados pela atividade minerária:

1. Passivos decorrentes de impactos mitigáveis: os custos devem ser calculados a partir da


análise de custos das ações de recuperação.

2. Passivos decorrentes de impactos irreversíveis. Os custos podem ser feitos através do

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cálculo de custo das ações de medidas compensatórias. Por exemplo, criação de uma
área de preservação como compensação pelo desmate feito em outra área.

7.3. ASPECTOS LEGAIS DA ANÁLISE DE PASSIVOS AMBIENTAIS

Neste tópico é feita uma discussão acerca das responsabilidades legais dos passivos
ambientais.

No âmbito legal, são duas as situações de empreendimentos minerários geradores de passivos:

1. Empreendimentos desativados anteriormente à legislação ambiental. Nestes casos a


questão é: Quem assume o passivo ambiental gerado pelo mau funcionamento ou pelo
fechamento em condições inadequadas?

2. Empreendimentos desativados na vigência da legislação ambiental, gerando passivos e,


portanto, estão em débito com a lei. Neste caso quem responde legalmente pelos danos
e é responsável pelos custos de recuperação é, obviamente, o minerador.

Voltando ao primeiro caso, o trato de responsabilidades pro passivos gerados sem a exigência
legal de recuperação poderá ser feito por recorrência a Constituição Federal que obriga a
recuperação de danos ambientais por parte do agente. Outra ferramenta é a ação civil pública
instituída pela Lei n.º 4717/65 e recepcionada pela Constituição Federal, art. 5º, LXXIII, que
confere a qualquer cidadão o poder agir contra o agente que provocar danos à natureza.

Diversos instrumentos jurídicos devem ser considerados no trato desta questão, que é bastante
abrangente. Uma discussão mais consistente atingiria um nível de detalhe só alcançado por
profissionais da área judicial, além de fugir do escopo do trabalho.

Um outro tópico que não foi considerado no decorrer do trabalho mas, aqui cabe ser ressaltado
ou reafirmado, é a questão das denominadas MPE´s ou minerações de pequena escala, que se
encontram fora do marco legal. Esta poderia ser uma terceira situação de empreendimentos
geradores de passivo ambiental, mas que não foi considerada, uma vez que se convencionou

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tratar por minerador todo aquele que desenvolve qualquer atividade de extração mineral.
Portanto, sendo responsável por danos provenientes desta atividade, que venham a ocorrer.
Ressalta-se ainda o fato de existirem ferramentas legais para o trato de pessoas, naturais ou
jurídicas, que exerçam atividades minerárias sem o cumprimento das exigências legais, e que
não cabem ser aqui discutidas. Nestes casos as primeiras medidas legais a serem tomadas
dizem respeito ao cumprimento do Código de Mineração e só então parte-se para as exigências
legais ambientais.

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