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Minutos depois...
Ana brincava feliz com as meninas de salão de beleza. Amava seus
sobrinhos e os filhos de Isabela também ocupavam um lugar especial em seu
coração. Crianças eram tudo de bom, pensou a jovem.
— O tio Lê também quer pintar a unha, Ana! – Vitória, a segunda
filha de Fabrício e Isabela, acabava de chegar acompanhada do “doutor
bundão”, pensou Ana. Apesar de Murilo ser um chato, não gostava nem um
pouco de imaginar que o tal do Leandro pudesse ter voltado para atrapalhar a
felicidade do irmão. Ela não iria permitir que o infeliz se intrometesse no
casamento do irmão, por essa razão, acabava de tomar uma decisão: iria ficar
de olho no maluco, sim, porque só mesmo um doidivanas poderia abandonar
no altar uma mulher incrível como Camila. — Ana! – Vitória bate no ombro
da jovem. — Tio Lê quer pintar as unhas na cor azul.
— Azul? – Ele estava falando sério mesmo, percebeu Ana. Leandro
acabava de sentar-se na cadeira a sua frente.
— Bem, acho que não nos apresentamos! – Leandro sorriu e Ana foi
capturada pelos belos olhos azuis do homem. Nunca havia cruzado com um
par de olhos tão lindos na vida, para ser sincera, nem os de Edu chamavam
tanta atenção assim. Deviam ser os cabelos negros que evidenciavam ainda
mais o olhar azulado do cientista. — Sou Leandro, é um prazer...
— Eu sei quem você é, infelizmente! – Ana foi seca e fez questão de
fechar a cara, não mostraria os dentes para um ser tão desprezível. — E não é
nenhum prazer em conhecê-lo, para ser justa. Meu nome é Ana e sou irmã do
marido de Camila. – Fez questão de frisar a palavra marido.
— O tio Lê e a tia Camila quase casaram, Ana! – Vitória se meteu na
conversa.
— Mas agora ela está casada com outro homem, Vic. E não acho
legal você e suas irmãs ficarem lembrando que eu e Camila quase nos
casamos. O marido da sua tia poderá ficar triste. – Leandro, com jeito,
explicou para a criança.
— Vejo que o soco do meu irmão colocou um pouco de juízo na sua
cabeça. – Leandro arregalou os olhos e tentou retrucar, mas foi impedido pela
língua afiada de Ana. — E já vou avisando que não permitirei que estrague o
casamento feliz do meu irmão. Ele e Camila foram feitos um para o outro,
nem sei como minha cunhada conseguiu ficar quase uma década ao seu lado.
— Ah é? Você parece muito entendida em relacionamentos
amorosos... – Ana puxou a mão de Leandro para poder pintar suas unhas. Era
a coisa mais estranha que tinha visto na vida, um homem de unhas pintadas e
ainda de azul neon, mas precisava dar o braço a torcer que era a coisa mais
fofa que alguém poderia fazer por uma criança.
— Olha, eu posso ser jovem e tal, mas não sou cega, isso é certo!
Camila é mulher demais para seu caminhãozinho.
— Impressão minha ou a senhorita “sabe tudo” acabou de duvidar da
minha masculinidade? – Leandro sorriu de canto. Estava longe de ser um
garanhão, pois o mundo das ciências sempre lhe atraiu mais do que qualquer
coisa, mas também não era assexuado e muito menos homossexual, sabia
despertar desejo em uma mulher e se bem lembrava, Camila nunca havia
reclamado quanto ao seu desempenho.
— Pois você interprete do jeito que quiser! Só sei de uma coisa, se
ousar cruzar o caminho de Camila e fazer com que ela brigue com meu
irmão, juro que arranco esses seus olhos azuis que mais parecem duas bolitas
do que olhos e jogo gude com eles.
Leandro levantou-se irritado. Ela havia passado todos os limites
imagináveis, nunca havia se deparado com mulher mais bocuda e louca em
sua vida. — A senhorita é muito atrevida.
— Tenho nome, sabe! É Ana. E sou atrevida mesmo, o senhor não viu
nada ainda. – Ana meteu o dedo no nariz de Leandro e saiu pisando duro.
Nem Camila conseguia ser tão temperamental e sem noção quanto essa
garota, pensou Leandro. Uma coisa era certa, era melhor manter-se afastado
dela, pois bem sabia que mulheres como ela eram encrenca na certa.
Mais tarde, naquele mesmo dia...
Ana havia combinado de encontrar algumas amigas em uma
badalada boate. Era seu último semestre na faculdade e, dentro de pouco mais
de dois meses, seria uma arquiteta. Ana estava atrasada no curso, pois havia
trancado dois semestres, época em que decidiu fazer intercâmbio na
Inglaterra. Agora, com seus 24 anos, sentia-se mais madura para seguir seus
sonhos, desejava tornar-se uma paisagista. Sempre foi um espírito livre e
romântico, amante da natureza e ecologista por vocação, por essa razão,
amava projetar espaços verdes, criar cenários verdejantes e floridos para que
as pessoas pudessem vir a desfrutar de momentos inspiradores e prazerosos.
— Adivinha quem é? – Ana sentiu duas mãos taparem sua visão e
uma voz masculina chegar aos seus ouvidos. Inalou o perfume de oceano, ela
conhecia aquele cheiro.
— Gabriel!
— Poxa, Ana! Estragou a surpresa! – Gabriel falou.
— Já pensou em trocar o perfume, Gabriel?! O que faz aqui? –
Definitivamente, Ana não estava com humor para ficar trocando gracinhas
com o fotógrafo. Desde o casamento de Malu e Edu, onde foram padrinhos
juntos, ela e o irmão mais novo de Edu saíam juntos para curtir a companhia
um do outro.
— Caracas! Quanta delicadeza, Ana! Vim até aqui só para te ver. –
Gabriel puxou Ana para um abraço e ela não o impediu.
— Desculpe, Gabi! Estou estressada por umas coisas que andaram
acontecendo, que nem dizem respeito a mim... – Ana sentiu-se culpada por
descontar sua frustração com o “sem noção” do Leandro em Gabriel.
Gabriel Botelho Neves era um fotógrafo renomado e membro de uma
das mais tradicionais famílias, um dos solteiros mais cobiçados do Rio de
Janeiro, que poderia estar aproveitando a noite com uma beldade a tiracolo ao
invés de ter que aguentá-la de mal humor. Por outro lado, ela também já
estava cansada com o constante assédio dele.
— Venha... Vamos dançar! – O fotógrafo a puxou para o meio da
pista. Ana era festeira, daquelas que se acabava de tanto dançar. A dança era
o elixir para as dores da alma da garota. Nada poderia superar o prazer de
sentir as fortes batidas em seus tímpanos, a emoção que transbordava toda
vez que se entregava aos movimentos rítmicos. Sempre havia sido dessa
forma para Ana. Quando criança, pedia para que sua mãe a matriculasse em
todas as aulas de dança que ficasse sabendo. Aprendeu do balé clássico às
danças de ruas e ciganas. Não existiria uma Ana sem a dança e sem as batidas
de uma boa música.
No mesmo dia...
Leandro pegou um táxi e chegou ao escritório de Camila. Sua
intenção era resolver as coisas com a ex-noiva de uma vez por todas e seguir
com sua vida. Dentro de alguns meses, deveria assumir a cátedra que o
esperava em Porto Alegre. O solar antigo era a cara de Camila, pensou. A
ruivinha era muito talentosa na restauração, ela havia feito bem em retomar
os seus antigos projetos.
— Boa tarde! Em que posso ajudá-lo? – Solícita, uma jovem senhora
perguntou.
— Olá... Camila se encontra? Sou um antigo conhecido e gostaria de
conversar com ela... – Leandro estava um pouco nervoso, mas não iria voltar
atrás em sua decisão. Queria muito explicar as coisas para Camila e teria que
fazer isso a sós, sem a presença de seu marido pré-histórico.
— Infelizmente, a Dona Camila não se encontra! – A recepcionista
sorriu. — Ela foi chamada às pressas no escritório do marido. Não sei se o
senhor sabe, mas a Dona Camila ainda trabalha para o marido. – Leandro
assentiu com a cabeça. — No entanto, poderá conversar com sua assistente.
— Cris, preciso que você... – Ana entrou na recepção como um
furacão e sentiu o sangue ferver quando encontrou Leandro. — Não acredito
que você teve a petulância de vir até aqui para importunar minha cunhada!
— Boa tarde para a senhorita também! – Leandro sorriu de canto, ao
lembrar o que a atrevida havia lhe feito na noite em que a encontrou na boate.
— A senhorita costuma ser assim tão receptiva com seus potenciais clientes?
— Sem ironia, pois nós dois sabemos que você não é um cliente,
muito menos um em potencial. – Ana respondeu mais furiosa do que antes e
Leandro sentiu prazer em vê-la corada, ficava tão linda que era irresistível
contrariá-la. Sabia que não devia, mas a morena mexia com algo dentro de si
que lhe era estranho.
— Realmente vim até aqui para conversar com Camila. Preciso ter
uma conversa séria com minha ex-noiva. – A recepcionista arregalou os
olhos. — E não será você que me impedirá de falar com ela... Acontece que
acabo de perceber que não perdi a viagem, afinal, eu e a senhorita também
temos assuntos inacabados para tratar.
— Assuntos inacabados? – Ana o fitou nervosa.
— Sim, senhorita! Ou esquece que você começou algo e não
terminou? – Ana engoliu em seco diante do atrevimento do cientista. Ao
perceber o olhar curioso da recepcionista, a jovem pegou Leandro pela mão e
o puxou até a sua sala. Não existia homem mais irritante do que esse
Leandro, pensou Ana, fechando a porta praticamente na cara da
recepcionista.
— Então, você trabalha com a Camila! – Leandro olhou as paredes da
sala de Ana. Era recheada de quadros com imagens de plantas e árvores.
Haviam também vários vasos com flores espalhados pelo ambiente, tudo era
muito colorido para seu gosto. Leandro preferia cores mais sóbrias.
— Eu ajudo Camila no paisagismo dos projetos de restauração que ela
toca. Mas também trabalho no escritório do meu irmão.
— E qual você prefere? Sim, pois acredito que vai ter que decidir por
um deles... – Leandro, sentindo-se à vontade, sentou-se em uma das
confortáveis e modernas poltronas.
— Bem... Eu sou apaixonada por paisagismo e, aqui com Camila,
tenho mais oportunidades de crescer como paisagista, então... Ah não! Quem
o convidou para se sentar, posso saber?
Leandro levantou-se imediatamente. — Ana, você é a pessoa mais
irritante que eu já conheci, além de muito grossa e mal-educada. – Leandro
sabia que devia manter distância, mas ela o atraía como ímã. Suas mãos
coçavam para tocá-la e sua língua desejava sentir novamente o sabor de
menta de sua boca. — Quer saber... Apesar de tantos defeitos, você beija
muito bem! Ao contrário de você, dona encrenca, eu reconsiderei e admito
que nosso beijo é bom.
— Seu abusado... – Leandro deu mais dois passos e puxou Ana para
seus braços, iria beijá-la novamente e que o mundo se explodisse, porque
aquela mulher tinha a boca mais carnuda e deliciosa que havia tido a
oportunidade de conhecer. Ana tentou se soltar, de início, mas vencida pelo
cansaço ou talvez apenas por ter se rendido ao prazer, entregou-se e deixou-
se beijar. Nunca havia beijado uma mulher que se entregava como Ana ao
mesmo tempo em que exigia ser acariciada e protegida. Leandro acabava de
se viciar no sabor do beijo de Ana e isso não era uma boa coisa, pois a garota
era irmã do marido de sua ex-noiva.
Alguns dias depois...
— Não acredito que você teve coragem de aceitar um convite
desses? – Sabrina, a melhor amiga de Ana, perguntou perplexa.
— Eu sei que é arriscado! Mas não permitirei que aquele doutorzinho
estrague a felicidade do meu irmão. – Ana respondeu para a amiga.
— Pois eu acho que você vai se meter numa enrascada! Quando
Murilo descobrir vai te matar e nem vou falar que você pode se apaixonar
pelo tal do Leandro. – Sabrina era o oposto de Ana em muitas coisas. Dizem
que os opostos se atraem, o que era uma máxima que se encaixava à
perfeição para descrever a amizade entre as duas jovens.
— É claro que não me apaixonarei, Sabrina! – Ana soltou uma
gargalhada. — Se até hoje não aconteceu, não será por um homem como
Leandro. Além de mais velho, é um nerd completo. Precisa ver como ele se
veste, tão sem graça.
— Ana! – Sabrina não acreditava no que acabara de ouvir. Sua amiga
era exagerada, ela sabia, mas quando estava com raiva de algo ou alguém,
não havia limites para Ana.
— Mas é verdade, amiga! Não sei como um ser como aquele
conseguiu fisgar um peixão como a Camila. Porque sejamos justas, minha
cunhada é uma das mulheres mais lindas e cheias de atitude que conheci.
— Devo lembrá-la de que você acabou de falar que ele beija bem! –
Sabrina revirou os olhos e deu um gole em seu cappuccino.
— É... De fato, ele tem um beijo muito bom e uma pegada boa
também! Mas isso não significa que corro o risco de me apaixonar por ele.
Sarah, meia-irmã de Murilo se aproximou. Ana e Sabrina haviam
combinado de se encontrar no Café de Sarah. O Le Bohème era famoso pelos
doces e pães franceses. — Olá garotas! Estão servidas à contento?
— Oi Sarah! – Ana abraçou Sarah com carinho, a considerava uma
irmã. — Como está o afilhado mais lindo do mundo? – Ana e Murilo eram os
padrinhos do pequeno Juninho, filho de Sarah e Heitor.
— Seu afilhado está com saudades, Ana! – Sarah sorriu.
— Sarah, ajude-me a colocar um pouco de juízo na cabeça dessa
louca desvairada. – Sabrina pediu socorro à Sarah.
— Ai meu Deus... Não me diga que se meteu em mais uma confusão?
– Sarah colocou o dedo na testa. — Deixe-me ver o que foi dessa vez! Mais
uma conquista ou entrou para mais uma ONG em defesa dos direitos das
plantas em extinção? Espera, já sei! Dispensou o irmão do Edu.
— Antes fosse uma dessas coisas. – Sabrina suspirou. — Conte você
para sua irmã, Ana! Pois não tenho coragem... – Sarah acabou por enrugar a
testa.
— Aceitei um convite para sair com o Leandro! – Os olhos de Sarah
quase saíram para fora, tamanho foi seu espanto. — Nem vem, Sarah! Antes
que me xingue, já adianto que é por uma boa causa. Aliás, você deveria me
agradecer, pois estou apenas defendendo os interesses do nosso irmão mais
velho, que aliás é um pateta quando o assunto são os sentimentos.
— Ana! Você é louca! – Sarah desabafou. — O Leandro? Mas ele é o
ex-noivo da Camila.
— Sim... É o próprio. Chega de dramas, meninas! É apenas um
encontro. Um encontro para despistá-lo e tirá-lo do pé da Camila.
— Se o Murilo desconfiar disso, ele vai te matar, Ana! E toda aquela
história de querer morar sozinha. Seus pais nunca lhe darão um apartamento
se desconfiarem que você vai se meter nisso... – Sarah tentou chamar a
amiga, a quem considerava uma irmã mais nova, à razão.
— Eles não precisam saber! É apenas um encontro, talvez, uns dois...
Nada me fará mudar de ideia. Murilo demorou uma vida inteira para
encontrar uma esposa e não será um tolo como aquele que arruinará a
felicidade do meu irmão. Agora, por favor, mudemos de assunto!
— Está bem, não está mais aqui quem falou! – Sarah acabava de
desistir de colocar um pouco de juízo na cabeça de Ana, pois sabia que ela
era muito teimosa para admitir que poderia estar se colocando numa
enrascada, sem falar que Ana tinha o dom para se envolver em encrencas. —
E quanto ao Gabriel?
— Quantas vezes eu terei que falar que eu e Gabriel não temos nada,
além de uns amassos vez ou outra! Foram apenas umas ficadas e pronto, não
quero namorar com ele.
— Desisto também! – Sabrina falou com a boca cheia.
— Você não tem uma sessão de fotos daqui dois dias? – Ana
estranhou o desespero da amiga para comer. Parecia uma morta de fome.
— Tenho, mas estes doces são irresistíveis... Depois eu passo à base
de sopa e salada! Aliás, é Gabriel quem vai me fotografar. – Sabrina era uma
modelo muito bem-sucedida, embora tenha se lançado na carreira apenas para
poder pagar por sua faculdade.
— Depois eu que sou a louca, não é?! – Ana soltou e as três riram. —
Aproveita e dá em cima do Gabriel, viu! Quem sabe assim, ele larga do meu
pé.
Enquanto isso...
Leandro e Fabrício conversavam animadamente na sala de
professores da faculdade onde Fabrício lecionava. O assunto era a
participação do astrofísico na aula do amigo. O universo sempre era um tema
fascinante e despertava a curiosidade dos alunos.
— Onde esteve ontem à noite? – Fabrício perguntou, empurrando os
óculos em cima do nariz.
— Eu saí! – Surpreso, Fabrício o olhou com ar inquiridor. — O que
foi, Fabrício? Eu saí com uma garota!
— Não foi nada demais, apenas achei estranho você sair e com uma
garota. Mas a vida é sua, não é, não me deve satisfações...
— Tudo bem, eu quero falar a respeito. Cara, isso está me
consumindo...
— Por que estaria? Penso que você tem que tocar sua vida...
— Às vezes, me pergunto o porquê a minha vida não foi tão simples
como a sua. Você e Isabela se amam desde o primeiro olhar, casaram,
tiveram filhos, dividiram sonhos...
— Não é bem assim, temos problemas, Leandro! Problemas como
qualquer outro casal. A diferença é que a gente tenta resolver as coisas com
diálogo e muito respeito.
— Isso foi uma indireta para mim?
— Interprete da maneira que julgar apropriado. – Fabrício se serviu
de um café. — Posso saber quem foi a eleita?
— A Ana Margarida! – Leandro soltou logo, antes que se
arrependesse.
— Opa... Não vai me dizer que... Não! Para! Você pegou a irmã do
marido de sua ex-noiva? – Leandro concordou com um simples balançar de
cabeça. — Você está fodido, homem!
— Eu sei! O pior de tudo é que eu achei que saindo com ela, eu a
tiraria da cabeça, mas só piorou, cara!
— Bah... Você gosta de arrumar sarna para se coçar, Leandro! A Ana
é uma garota linda, eu sei, mas é irmã do Murilo e nem vou falar que a garota
é atrevida, “tu tá ferrado”! Sei lá, acho que você deve saltar fora antes que
seja tarde!
— Já é tarde... – Leandro colocou as mãos nos bolsos, uma mania
adquirida há tempo. — Eu gostei de estar com ela e bem, ela é gostosa
demais.
— Para! Não vai me dizer que você dormiu com a Ana?! – Fabrício
arregalou os olhos claros diante do choque com a constatação. — Olha, só
tenho uma coisa para dizer, você só pega gata, irmão!
— Quem só pega gata? – Malu acabava de juntar-se aos amigos.
— O Leandro, Malu! – Fabrício sorriu para a amiga e foi ao seu
encontro para um abraço. — Achei que não viesse mais.
— Imagine que perderia uma palestra do nosso astrofísico. Estou
louca para saber as novidades. Voltando ao assunto, quem Leandro pegou? –
Maria Lúcia era muito chegada aos amigos e sentia-se em casa na presença
dos dois.
— Ninguém! – Leandro não achava prudente revelar o nome da
garota justo para Malu que era uma das melhores amigas de Camila.
— Como ninguém?! Fabrício acabou de afirmar, eu ouvi bem, que
você pegou uma gata.
— Pois é melhor contar logo para a Malu! – Fabrício comentou. —
Quando esse rolo vier à tona, é melhor ter a Malu por aliada!
— Por Einstein, agora fiquei com medo! – Malu olhou séria para os
amigos e um silêncio constrangedor se fez presente entre os três cientistas. —
Olha, não querem me contar, tudo bem! É claro que eu irei descobrir quem é
a gata misteriosa do Leandro, é só uma questão de tempo.
— Foi a Ana! – Leandro soltou sem pensar muito. Além disso,
confiava na amiga. Ela sabia separar muito bem a amizade que mantinha com
os rapazes da amizade que mantinha com as garotas. Sempre havia
funcionado muito bem e não seria agora que as coisas seriam diferentes. Ele
precisava do conselho dos amigos, não queria cometer os mesmos erros do
passado.
— A Ana? A minha amiga Ana? A Ana, cunhada da Camila? Irmã do
Murilo? – Malu puxou uma cadeira e sentou-se extasiada com a confissão de
Leandro. — “Puta que pariu!” Com tanta mulher por aí, você foi se envolver
com a Ana.
Apreensivo, Leandro sentou-se do outro lado da mesa, de frente à
amiga. — Malu, por favor, não comente com ninguém, muito menos com
Camila ou Isabela.
— Claro que não comentarei! Temos um código de honra, afinal.
Assuntos dos meninos ficam entre os meninos e assuntos das meninas, ficam
somente entre as meninas. Sempre foi assim e não pretendo quebrar. Ocorre
que você acabou de se meter numa encrenca sem tamanho e nem falo da Ana,
mas também do fato de que você quer se entender com a Camila. Diga como
conseguirá as duas coisas? Sim, porque há uma pessoa no meio delas que vai
surtar quando descobrir. – Malu se referia à Murilo, ao ciumento e possessivo
marido de Camila.
— Eu já falei isso para ele, Malu! – Fabrício também se sentou. Os
três pareciam discutir uma nova teoria acerca da matéria negra e não a vida
sentimental confusa de Leandro.
— Pessoal, vocês falam como se fosse algo simples, como se evitar o
que sinto por ela fosse a coisa mais lógica a ser feito. Bem... – Leandro
levantou de supetão. Sentia-se sufocado. Não era um homem que sabia lidar
bem com os sentimentos. — De fato, é a coisa lógica a ser feita, mas eu não
consigo, porra.
— Ele está ferrado, Malu! – Fabrício soltou uma gargalhada.
— Literalmente e absolutamente, ferrado! – Malu falou ainda
extasiada com a confissão do amigo.
Alguns dias depois...
Ana estava na porta da escola das sobrinhas, segurando Clara
pela mão e Mariana no colo. As duas agora frequentavam uma creche no
período vespertino e, de tempo em tempo, Ana buscava as meninas para levá-
las para sua casa a fim de que pudessem passar algumas horas na companhia
dos avôs.
— Clarinha, sua danadinha, volte aqui! – Clara se soltou da mão da
tia e saiu correndo em direção ao parquinho da escola. Bagunça devia
integrar o enorme nome da menina, pensou Ana.
— Vem também, Titia! – Clara gritou entre risadas.
— Ah se eu te pegar, menina, vou te fazer tantas cócegas! Vamos
Mari, vamos pegar sua irmã. – Mariana gargalhou. A caçulinha era mais
tímida e meiga que sua irmã, mas também muito disposta para uma bagunça.
Enquanto Clara brincava na casinha de bonecas, Ana embalava
Mariana em um dos balanços para bebês. Todas as mães e pais acabavam por
parar para elogiar a bebê, era tão fofinha. Mariana havia herdado o cabelo
encaracolado de Murilo e o ruivo de Camila, sem falar nos lindos olhos
esverdeados, era uma princesinha. Clarinha também não ficava para trás, com
os cabelos e olhos negros como a noite, cativava com seu jeitinho sapeca. Era
a molequinha da família. As amava muito. Clara e Mariana haviam se
convertido no centro das atenções da família e, sem qualquer dúvida, eram os
melhores projetos de Murilo.
— Oi! – Um menininho loirinho puxou a blusa de Ana. Era Pedro, o
caçula de Fabrício e Isabela.
— Olá, Pedrinho! O que faz aqui sozinho? Onde está mamãe? – A
morena estranhou a ausência de Isabela.
— Tio Lê quem veio pegar eu! – O menino respondeu e Ana olhou
para o lado à procura de Leandro. Um misto de sentimentos tomou conta de
sua alma naquele momento. — Onde está a Clarinha? – Pedro perguntou
sorridente.
— Está lá dentro da casinha! – Pedro saiu correndo. — Não corra... –
Pouco adiantou chamar a atenção do menino e ele acabou por cair no chão.
Leandro foi ao seu socorro muito prestativo. Ana não conseguiu
desviar a atenção de Leandro. Ele era bonito e que Deus a perdoasse, mas um
pedaço de mal caminho, sua boca salivou ao recordar do que fizeram no
banheiro do bar. Leandro era o tipo de homem que chamava a atenção pela
sua beleza natural, ele não precisava de muito, pois era dono de um porte
físico invejável e traços masculinos na medida certa, o queixo era de uma
simetria irritadamente perfeita, não havia excessos nem ausências. Não era
como seu irmão Murilo ou mesmo Edu ou Heitor, do tipo macho alfa, que
chamavam a atenção pelo excesso de testosterona que exalavam. A
serenidade de Leandro era capaz de abalar qualquer mulher e ele nem tinha
noção disso, o que lhe deixava ainda mais atraente.
O cientista pegou no colo Pedrinho e, assim que ergueu a cabeça, seus
olhos encontraram Ana, que só faltava secar a baba, mas ele nem percebeu o
olhar com segundas intenções da garota, porque Leandro era assim,
desligado, desconectado da realidade que o cercava e do quanto era bonito.
— Boa tarde, Ana Margarida! – Leandro se aproximou sorridente e
Ana sentiu vontade de sair correndo, talvez assim evitasse se jogar em seus
braços, sim, porque sua vontade era grudar-se em Leandro e beijá-lo. Existia
uma verdade inquestionável entre os dois e Ana não seria capaz de negar:
Leandro beijava muito bem.
— Em algum momento você consegue livrar-se do cientista que
habita seu corpo e deixar as formalidades de lado? – Leandro a olhou de
esguelha, um tanto confuso com a colocação da morena.
— Eu apenas lhe desejei boa tarde!
— Eu sei e também lhe desejo uma boa tarde, Leandro! Mas já somos
íntimos o suficiente para que me chame apenas por Ana.
— Ok! – Leandro respondeu sem jeito. Sentia-se incomodado com as
insinuações da garota, mas ao mesmo tempo queria tocá-la e falar-lhe o
quanto a achava bonita. Porém, nunca foi muito bom com as palavras e
desconfiava de que era muito menos com os gestos. Talvez, Camila tivesse
razão e de fato era um “bundão”, mas não queria ser um “bundão”, não para
Ana Margarida, a garota que fazia seu coração saltitar quando abria aquele
sorriso e o levava a pensamentos prazerosos do quanto era bom beijá-la. —
Esta é Mariana? – Perguntou a fim de mudar o foco da conversa e desfazer a
sensação de que havia sido um tolo.
— É sim, além de ser a princesinha da tia! – Ana pegou a menininha
no colo. — Ela é tão meiga e carinhosa.
— Ela se parece muito com a Camila! – Das duas filhas, Mariana era
a que mais lembrava a ex-noiva de Leandro, tanto pela cor do cabelo quanto
pela cor dos olhos.
— Verdade! Mas Clarinha também tem traços da Camila, ao menos,
eu acho.
— Onde está ela?
— Dentro da casinha de bonecas! Aquela lá parece que tem duas
dentro dela, não para quieta um minuto. – Ana riu e Leandro acabou rindo
junto.
— Em resumo, Clara é uma mini Camila. – Clara saiu da casinha de
bonecas e veio ao encontro de Pedro, chamando-o para se juntar à
brincadeira. — Ela se parece com você, Ana!
— Sério? – Ana perguntou encabulada.
— Muito sério! Tirando os cabelos lisos da Camila, ela lembra muito
você e não me surpreendo se pegar uma foto sua de quando criança e achar
que é a Clara. Você é linda... – Leandro se aproximou e acariciou o rosto de
Ana com o dorso de sua mão. — Eu senti sua falta! – Aquelas palavras e
aquele toque inesperado, um gesto tão autêntico e verdadeiro, mexeram com
as bases da morena. No entanto, ela não podia se deixar levar pelos
sentimentos, sentimentos que ela sabia não serem os mais corretos.
— Você não acha estranho... Falar das filhas da mulher que você
almejou dividir uma vida? Elas podiam ser suas filhas, Leandro! – Jogar
Camila na conversa parecia ser a solução para Ana, afinal, ela não poderia
esquecer que Leandro havia a abandonado no altar.
— Não sei descrever o que sinto, Ana! Eu sei que pode parecer uma
loucura, mas eu não sei descrever. Eu sei que fiz tudo errado com Camila e
me arrependo do que fiz... – Leandro afastou-se um pouco e colocou as mãos
no bolso. — Não me arrependo de ter posto um fim em toda aquela história
de casamento, sabe... Meu arrependimento está no fato de ter deixado para
fazê-lo no último momento, fui um covarde, embora eu não intencionasse ser
um. Você consegue me entender?
— Sinceramente, não! – Leandro era tão confuso ao descrever seus
sentimentos que Ana começava a duvidar de que o homem fosse um cientista.
— Ana, eu sou muito desligado para as coisas da vida, meio perdido,
eu diria, mas não é por mal. É meu jeito! Eu sempre achei que estar aí para
Camila fosse o suficiente, sabe! Que o simples fato de estarmos juntos, era o
suficiente, mas hoje eu vejo que ela ansiava por mais e, sinceramente, eu não
sei se, de fato eu queria ser o homem certo para Camila. A verdade é mais
clara do que a luz solar ou tão certa quanto um mais um são dois, seu irmão é
o homem certo para Camila. No dia da festa da Beatriz, eu percebi, pois sou
péssimo com as palavras, mas muito bom em observar, que ela se transforma
na presença de Murilo, ela emanava uma luz que me fez recordar da Camila
aos seus 20 poucos anos, a Camila pela qual me apaixonei. E o pior é que
essa luz foi apagada com o passar dos tempos e eu não fiz nada para reverter
isso, porque eu não era o homem certo para ela.
— Caraca... – Ana precisava tomar fôlego diante do que acabava de
ouvir. — Até que não foi tão ruim assim colocar para fora seus sentimentos,
não é?! Com um pouco mais de treino, você conseguirá grandes avanços. –
Leandro soltou uma gargalhada gostosa de se ouvir, pensou a morena.
— Não se anime, provavelmente, foi sua presença que me inspirou!
— Eu? Imagine só... – Hoje era o dia de Ana sentir-se encabulada,
nunca foi mulher de intimidar-se antes.
— Vamos sair novamente? – Leandro soltou, pegando Ana
desprevenida. Mariana remexeu-se no colo da tia, queria voltar para o
balanço. Ana afastou-se de Leandro, de modo a colocar a menininha no
balanço e Leandro a seguiu. — Então, Ana, o que acha? Vamos sair
novamente?
— Não é uma boa ideia! – Respondeu sem jeito.
— Por quê? – Leandro perguntou tímido. — Por que fui noivo da
esposa do seu irmão?
— Não somente por isso, Leandro! Mas também porque você não faz
meu tipo. – Leandro abaixou a cabeça em sinal de derrota e Ana sentiu-se
péssima por isso. — Olha, não é nada pessoal, sabe! É que eu e você somos
incompatíveis e também você não faz meu tipo... Eu gosto de homens mais
objetivos...
— Não te entendo! Temos química e nosso beijo é bom. – Leandro
soltou, dessa vez frustrado.
— É, até temos uma boa química, nossa noite foi boa e tudo mais... –
Ana parecia dar voltas em torno de si mesma e não conseguia concluir seu
pensamento. — É que você é muito enrolado, Leandro! Gosto de ser mimada
e me sentir o centro do cara com quem fico e você só consegue me deixar
frustrada, nem camisinha você teve a decência de levar. – Não que tivesse se
convertido em problema irreparável a falta de preservativo, mas era uma gafe
de qualquer jeito, uma gafe que poderia ter acabado com a noite dos dois, não
fosse o fato da universitária ser uma garota antenada e precavida.
— E se eu prometer que será diferente, se eu prometer que você terá a
melhor noite de sua vida?! – Leandro não sabia como iria fazer isso
acontecer, mas estava disposto a tentar. Ana despertava em Leandro
sentimentos nunca antes sentidos, sentimentos que o faziam querer superar
obstáculos para ser o melhor parceiro da vida de Ana, nem que para isso ele
precisasse assistir vídeos na internet. Dizem que não há o que não possa ser
encontrado na internet. Leandro se aproximou da jovem e pegou-a pela
cintura, trazendo-a para mais perto do seu corpo. Deixou-se levar pelos
instintos como se fosse a coisa mais certa a ser feita. Queria convencê-la a
aceitar seu convite e trazê-la para junto de seu corpo significava lembrá-la o
quanto era bom os dois juntos, o quanto haviam desfrutado dos momentos a
dois. — Vamos, Ana Margarida, aceite vai!
— Está bem! – Ela não resistiu. Um dos motivos de que não queria
que a chamasse por seu nome completo é que seus pelos se eriçavam. Odiava
o Margarida de seu nome, mas na boca de Leandro era um afrodisíaco,
despertando sensações e pensamentos luxuriosos demais.
— Jura, Ana Margarida?! – Impressão ou não, Ana pressentiu que
Leandro descobriu seu ponto fraco.
— Está prometido, agora, por favor, afasta-se um pouco... Toda essa
proximidade tem me dado... – A morena não conseguiu encontrar as palavras
corretas.
— Confessa que você sente o mesmo que eu, delícia! – Leandro
sussurrou no ouvido dela. Pronto, agora ele havia jogado sujo. — Que está
louca para repetir a dose, repetir nossos beijos.
— Sim... – Ana soltou a confissão sem perceber e odiou-se por isso.
— Quer dizer, um pouco, mas um pouquinho dos pouquinhos. Porque até que
você “trepa” bem. – Na verdade, ele era muito bom no sexo, mas Ana não ia
dar o braço a torcer. Afastou-se de Leandro, tirando Mariana do balanço e
pegando-a no colo, para evitar que o cientista voltasse a se aproximar.
— Jogando sujo! Isso não vale! – Leandro apontou para a menina no
colo da garota.
— Cada um usa as armas das quais dispõe, doutor “bundão”!
— Te pego às 8 no sábado, Ana Margarida! Só me mande seu
endereço por mensagem. Tenha certeza de que dessa vez não vou falhar. –
Leandro deu um beijo em Mariana que abriu um lindo sorriso e depois um
em Ana, deixando-a novamente corada.
Leandro estava uma pilha de nervos. Faltava pouco mais de
uma hora para sair e ir ao encontro de Ana. Ele havia passado os dois últimos
dias preparando seu encontro com a morena. Queria que tudo saísse mais do
que perfeito. Já havia pisado na bola e não queria repetir os mesmos fiascos
de outrora. Ana Margarida era o tipo de garota que gostava de ser paparicada
e bajulada e estava determinado a mimá-la. Olhou ao redor para conferir se
faltava alguma coisa. As margaridas espalhadas pelo apartamento haviam
sido sua cartada de mestre, ideia da florista que o atendeu na floricultura.
Haviam diversos arranjos espalhados pela casa, como se o pequeno loft
houvesse se transformado numa estufa de margaridas. Com a ajuda de
Isabela, conseguiu encomendar uma comida especial, que havia sido entregue
minutos antes e estava no forno.
Para que tudo saísse perfeito, Leandro fez uma lista e repassou todas
as dicas que Isabela havia lhe ditado horas antes pelo telefone, desde a cor da
toalha e colocação das louças e talheres na mesa. Leandro não poupou
esforços para deixar tudo digno de Ana, pois não queria dar motivos para que
ela arrumasse uma desculpa e lhe desse um fora. Todo seu esforço teria que
valer a pena, afinal, até em uma loja de artigos para o lar, Leandro teve que ir.
Também passou na farmácia e comprou um grande estoque de preservativos.
Olhou-se no espelho para conferir se estava apresentável e sentiu-se
um tanto incomodado com isso. Era certo de que queria deixar uma boa
impressão à Ana, mas também não queria se converter num daqueles tipos de
homem que chamam de metrossexual e que fazem de sua aparência o centro
de suas vidas. Ana que o desculpasse, mas isso ele não seria capaz. Pegou as
chaves do carro em cima da mesinha de cabeceira e foi para seu destino, pois
a sorte estava lançada.
Ao chegar no endereço que Ana lhe passou, Leandro não deixou de
perceber a beleza e o requinte do prédio em que a morena morava. O porteiro
anunciou sua chegada e Leandro pediu para que avisasse Ana de que a
aguardaria no saguão. Dentro de poucos minutos, ela desceria, avisou o
porteiro.
— Boa noite! – Leandro avistou a jovem. Ana estava perfeita aos
olhos de Leandro. Vestia um vestido azul simples, mas de muito bom gosto
que realçava as suas curvas na medida certa, sem aparentar qualquer
vulgaridade.
— Boa noite, Ana Margarida! – O cientista se levantou e foi para
perto dela, abraçando-a e depositando um beijinho casto na bochecha de Ana.
— Vamos? – Leandro estendeu o braço para que a morena enganchasse nele
e como um perfeito cavalheiro a pajeou até o carro.
— Vejo que providenciou uma carruagem para sua dama? – Ana
soltou uma gargalhada abafada para não chamar a atenção de alguns
moradores do prédio que passavam no momento.
— Comprei ontem e especialmente para você. Espero que seja de seu
agrado, minha princesa! – O cientista entrou na brincadeira.
— Como comprou ontem? Você comprou um carro? Um carro desse
tamanho e ainda por cima importado... – O queixo de Ana caiu. — E apenas
para me levar até nosso encontro?
— Sim!
— Você é louco, só pode!
— Sempre fui conhecido pela minha racionalidade e objetividade,
mas quando se trata de você, é como se essas duas qualidades sumissem do
meu cérebro. Então, sim, sou de fato louco, mas apenas por você. – Leandro
corou diante de sua confissão e Ana acabou por sorrir.
— Você não precisava ter comprado um carro de luxo para vir me
buscar... Bastava me dizer... Nós podíamos ir com o meu carro, Leandro!
— Esquece isso, Ana! Comprei o carro e pronto. Depois, eu volto
dirigindo para Porto Alegre.
— Como esquecer? Esse carro deve ter custado uma fortuna!
— Para alguma coisa o dinheiro deve servir, não é!? – Leandro devia
ser muito rico, pensou Ana. Claro que ele era rico. Lembrou-se por cima do
que Patrícia, a sogra do irmão, contou-lhe, incluindo que a união das duas
mais ricas famílias de Porto Alegre havia sido muito ansiada pela sociedade
porto-alegrense.
Leandro fechou a porta e deu a volta no carro, acomodando-se ao lado
de Ana Margarida. — O que foi, Ana? Não vai me dizer que você não gostou
do carro! – O cientista falou frustrado.
— Não é isso! Apenas estou chocada, ainda acho que você não
precisava comprar um carro. Perdoe-me se dei a entender que um carro era
necessário. Eu não sou assim, Leandro! Não é o tamanho do carro ou da
conta bancária que me fazem aceitar um convite de um cara. Se minha mãe
estivesse aqui, ela iria me dar o maior dos sermões e com razão. Sinto-me
péssima!
— Esquece isso, Ana! Eu precisava mesmo de um carro mais
espaçoso. – Leandro puxou o rosto de Ana de modo que pudesse olhá-la nos
olhos. Sem resistir a vontade de beijá-la, puxou-a para perto do seu corpo e
grudou-se em seus lábios, perdendo-se na perfeição do beijo de Ana, que se
abriu por completo para acolher a língua atrevida de Leandro. O beijo era a
melhor parte daquele encontro, pensaram praticamente em simultâneo. —
Agora, vamos logo! – Leandro afastou-se, a contragosto, e deu a partida no
carro.
— Oh... Senhor... – Ana arregalou os olhos e suspirou diante da
produção que a aguardava. — Tem certeza de que você é o Leandro, aquele
ser insensível que abandonou minha cunhada no altar? – Leandro a olhou
sem jeito e Ana teve a certeza de que havia falado demais. — Ai... Desculpa,
Leandro! Desculpa mesmo. – Ela foi ao encontro do cientista e o abraçou. —
Eu falo demais, às vezes, quer dizer, eu sempre falo demais.
— Tudo bem! Eu somente queria surpreendê-la! – Leandro falou
derrotado.
— E me surpreendeu! – Ana encostou a cabeça no tórax de Leandro e
um sentimento de pertencimento cruzou seu corpo, como se aquele fosse seu
lugar na vida, nos braços e no coração de Leandro.
— Eu amei tudo, juro! As margaridas são tão lindas, ninguém...
Nunca me deram margaridas de presente. Foi um gesto tão lindo, Leandro! –
E havia sido realmente um gesto muito lindo, ninguém havia sido tão
delicado e externado tanto por sua pessoa, pensou. Os arranjos de margaridas
estavam por todas as partes. Velinhas vermelhas flutuavam dentro de
potinhos cheios de água e inalavam um delicioso aroma de baunilha.
Também haviam estrelinhas decorando o ambiente. — Por que as
estrelinhas? – Curiosa, Ana perguntou.
— Porque amo as estrelas e achei que margaridas e estrelas fariam um
bonito conjunto! Afinal, somos eu e você, Ana! – O coração de Ana pareceu
sair pela boca. Leandro era o homem mais tímido e sem jeito com quem
havia se envolvido, mas era tão meigo e fofo que seria praticamente
impossível não ficar vidrada nele. E isso era praticamente uma aberração para
Ana, pois esta não era a imagem que a jovem mantinha do rapaz. — O que
foi, Ana? – Leandro perguntou diante do silêncio momentâneo da morena,
era sempre tão faladeira.
— É estranho! – Leandro a conduziu até a mesa, puxando a cadeira
para que pudesse se acomodar. — É que sempre imaginei que você fosse o
homem mais insensível do planeta... Bem...
— Ana! – O cientista a interrompeu. — Por favor, vamos esquecer a
história do meu casamento fracassado, ao menos por esta noite, sejamos
apenas eu e você?!
Ana concordou, apesar de que no íntimo queria fazer muitas
perguntas à Leandro. Mas seria injusto com ele se não atendesse ao seu
pedido, não depois de tanto esforço para agradá-la, não custava nada deixar
as perguntas para depois.
— Então, você é filha de médicos? – Leandro sorriu.
— Aham... – Ana respondeu com a boca cheia. Leandro havia pedido
lasanha à bolonhesa, seu prato favorito.
— Meu pai também é médico!
— Não acredito!
— Sim. É um dos melhores cardiologistas do sul do país, eu até acho
que do Brasil.
— É muita coincidência, você não acha?! – Leandro concordou com a
cabeça, levando sua mão até Ana Margarida e entrelaçando os dedos. — Por
que me trouxe para seu apartamento? – Ana perguntou timidamente.
— Porque fiquei com medo de fazer algo de errado em outro
ambiente... Sou um homem tímido, Ana! Também um pouco atrapalhado e
muito introvertido. Ambientes tumultuados demais tendem a deixar-me
nervoso e não queria correr o risco de estragar nossa noite. O que foi? –
Leandro perguntou.
— O que foi o quê?
— Você me olha como...
— Quisesse te beijar! – Ana soltou sem pensar muito. Porém, pela
primeira vez não se arrependeu de falar o que sentia. — Você tem os olhos
mais lindos que eu vi na vida.
— Por isso ameaçou jogar gude com eles, é?! – Leandro sorriu e foi
um sorriso verdadeiro, percebeu a jovem, um sorriso carregado de
sinceridade.
— Eu ainda posso jogar gude com eles! – Ana gargalhou e Leandro
juntou-se a ela nos risos. — Deixe-me ajudá-lo com a sobremesa! – Ana se
prontificou.
— Espero que goste de sorvete! – Leandro estava preocupado com a
simplicidade da sobremesa, mas sua falta de jeito com a cozinha não lhe
deixou alternativa a não ser comprar um pote de sorvete.
— Eu amo sorvete! Sou a doida do napolitano, Leandro! – Ana não o
havia chamado nenhuma vez de doutor “bundão” e aquilo representou muito
para Leandro. Que ele estava fazendo as coisas certas dessa vez. — Não
precisa tigela não! Traga duas colheres e vamos nos afogar nesse pote... –
Falou uma Ana moleca.
— Gosta de cerejas em calda, Ana?
— Traga-as também! – Ana ordenou feliz. Um bom pote de sorvete
era o fim dos problemas e das amarguras de qualquer um, pensou a jovem.
Leandro voltou com duas colheres e um vidro de cerejas em calda e
sentou-se no sofá ao lado de Ana que já estava com o pote de sorvete na mão.
— Leandro, não seja guloso e pare de comer as cerejas! – Ana repreendeu o
cientista, porque do jeito que ia, não sobraria nenhuma cereja para ela.
— Tome uma! – Leandro levou uma cereja até a boca de Ana, que
sem querer acabou chupando os dedos do cientista. Aquilo foi como um
atiçador de brasas em Leandro, seu corpo parecia febril do nada. O biquinho
suculento que Ana havia feito o deixou excitado e sua risadinha rouca levou
seus pensamentos para longe, fazendo-o esquecer por completo da
sobremesa.
— Já te falei que você é uma delícia, não é? – Ana apenas gemeu e
Leandro, incapaz de deter seus instintos mais carnais, aproximou-se ainda
mais da jovem e abocanhou-a num beijo feroz e faminto. — Eu acho sorvete
e cereja em calda uma combinação perfeita, mas sorvete, cereja em calda e
você é mais do que perfeito, fui para o céu só com passagem de ida. –
Leandro sussurrou no ouvido de Ana, descendo com pequenas mordidas pela
extensão do pescoço e chegando até o vale entre os seios, aqueles seios eram
sua perdição, aliás, todo o conjunto de Ana havia se tornado um vício que o
conduzia para sua perdição e ele não se importava nem um pouco em se
perder naquele paraíso que atendia pelo nome de Ana Margarida.
— Filho da mãe! – Ana gemeu novamente, assim que Leandro abriu
os botões do seu vestido e deleitou-se com os seios perfeitamente empinados.
— Posso parar, se preferir!
— Oh... Não... É claro que não! Termine o que começou... – Leandro
agradeceu ao universo pela ajudinha, pois jamais seria capaz de parar, não
agora que se sentia totalmente quente e envolvido por Ana.
Decidido, Leandro levantou, levando consigo a garota, a teria sim,
pois não havia mais volta para os dois, mas a teria do jeito certo, na cama e
com todo o tempo do mundo.
— Mais margaridas! – Ana falou extasiada com a
quantidade de flores que adornavam todo o apartamento. Como se tratava de
um loft e não haviam paredes a dividir os espaços, o ambiente lembrava uma
grande estufa. — Até parece que você me trouxe para uma estufa de flores!
— Bem... Então, cumpri com meu objetivo e com louvor, presumo?!
– Leandro a depositou na cama, empurrando-a contra os lençóis, levando uma
de suas mãos à nuca da morena e a boca na curva deliciosa de seu pescoço.
Ana entregou-se, uma entrega doce, carregada de paixão e desejo, uma
entrega que colocava todo o mundo de Leandro em ruínas. Ela havia o
enfeitiçado com seu jeito moleque e sedutor ao mesmo tempo. — Você é
muito doce, Ana Margarida! – A pronúncia de seu nome completo na boca
daquele homem mexeu com algo dentro da morena. Ela estava prestes a
jogar-se numa imensidão cujo prazer e a luxúria apenas eram o prenúncio de
algo maior que estava prestes a acontecer, algo que a levaria para o abismo,
ela deveria fugir antes que fosse tarde, mas seu corpo a traía miseravelmente
e apenas um gemido rouco e sensual saiu de sua boca, um gemido que atiçou
ainda mais Leandro. Ele sentiu-se vivo, tão vivo como nunca havia se
sentido. — Caralho! Você é linda demais, delícia!
— Ai senhor! Eu amo quando você me chama de delícia! Entro em
combustão... – Ana tratou de livrar-se do vestido. Era muito pano para seu
gosto e depois começou a desabotoar a camisa de Leandro. Suas mãos
comichavam para tocar o peitoral definido dele.
— Você vai me matar, mulher!
— Espero que de tesão, viu! – Ana soltou uma gargalhada e jogou a
camisa de Leandro para longe. — Sinto-me uma rainha no meio de tantas
margaridas e velas perfumadas. Vem cá logo.
— Vem cá nada, sua danada! Quero degustar de toda sua delícia
lentamente, Ana Margarida! Devagar, calmamente, para que seu cheiro e seu
sabor fiquem gravados para sempre no meu olfato e no meu paladar... – Ana
sentiu seu corpo amolecer diante do toque de Leandro. O beijo do homem era
espetacular, mas o resto também não deixava nada a desejar. Tudo estava
completamente fora do eixo e pouco importava para Ana, nunca havia sido
uma pudica em relação ao sexo e ao prazer, e não seria agora que iria se
comportar como uma noviça, não quando havia encontrado alguém que de
fato a fazia subir pelas paredes. Leandro soltou os ganchos que prendiam o
sutiã rendado de Ana, revelando o que muito ansiou por ver.
— Gosta do que vê, seu safado? – Ana perguntou atrevidamente para
desespero de Leandro. A cada provocação da garota, uma parte do corpo de
Leandro era atraído ainda mais para o jogo de sedução que ela acabava de
enredá-lo.
— Preciso mesmo responder? – Devolveu com outra pergunta,
tratando de calá-la com um beijo exigente e voluptuoso além da medida.
— Claro que precisa! – Ana revirou os olhos, como se aquilo fosse o
mais óbvio a ser feito. É claro que para o calado e tímido Leandro não era o
mais óbvio, pensou.
— Misericórdia! Estou mais para um cão babão do que para um
homem neste momento e nem vou falar que mal consigo pensar de maneira
lógica o suficiente para raciocinar o que tem me perguntado nos últimos 10
minutos.
— Gostei dessa sua versão cão babão, muito melhor do que doutor
bundão! – Ana falou e Leandro a prendeu contra o colchão.
— Você não toma jeito mesmo, mas quer saber de uma verdade?!
Não me importa nem um pouco qual versão te agrade mais. Posso ser o que
você quiser, desde que me deixe desfrutar de toda sua doçura, amor! –
Leandro afastou-se lentamente do corpo de Ana, de forma a tomar espaço
para conseguir livrar-se do resto de suas roupas. Ana aproveitou e tirou sua
calcinha, jogando-a na cara do cientista. — Caralho, Ana! Isso foi quente! –
Leandro pegou a calcinha, cheirou-a e jogou-a para trás, tratando de voltar
para junto do corpo de sua delícia. Aquela mulher era o pecado em forma de
gente, pensou, onde já se viu cheirar uma calcinha. Nunca havia cheirado
uma calcinha antes. O pior de tudo é que havia gostado muito de cheirar a
calcinha de Ana. Era uma calcinha de renda vermelha cheia de lacinhos e
que, em outros tempos, ou melhor, em outra mulher, não teria mexido tanto
com sua libido.
— Lê! – Ana praticamente ronronou como uma gata.
— O que, paixão?
— Venha logo para cá, homem! Não aguento mais esperar por você e
por sua boca gostosa grudada em todas as partes do meu corpo. – Mas era
mesmo uma atrevida essa garota, pensou Leandro. Não que estivesse
reclamando, longe disso, cada palavra provocante que saía da boca de Ana
agia como pólvora a queimar o corpo de Leandro.
Leandro não esperou mais e levou sua boca até os seios de Ana,
túrgidos e perfeitos para serem sugados, um por um, delicadamente e
prazerosamente. As mãos de Leandro envolveram os quadris de Ana,
puxando-a para junto de seu corpo. Ela correspondeu com paixão e desejo,
envolvendo suas pernas em torno do quadril dele.
— Beije-me mais, Lê! – Ana implorou, sedenta por mais de Leandro.
Ele queria dar mais para Ana, dar tudo que ela fosse capaz de
suportar. Era tanto desejo envolvido que Leandro seguiu o instinto de macho
contido em algum canto de sua alma atrapalhada e atendeu o chamado
irresistível da garota. Sua boca parecia ter criado vida própria, sua língua não
encontrava mais freios, beijar, sugar e mordiscar era isso que Leandro queria
e foi isso que Leandro fez, deixando-se levar por um frenesi de sensações
prazerosas, onde a volúpia de dois corpos prestes a encontrar o paraíso ditava
os acontecimentos do porvir. Mais um gemido, mais um sussurro de “eu
quero mais” saiu da boca da morena e foi suficiente para que Leandro
afastasse as pernas de Ana e levasse seus lábios sedentos até o centro de sua
feminilidade. Se a calcinha o havia deixado louco de tesão, a tenra e delicada
carne de Ana o deixou prestes a jogar-se num precipício. Ela era viciante, seu
sabor de baunilha era intoxicante, seus sussurros eram melodias para o
ouvido, sua pele arrepiada era o melhor afrodisíaco de todos, o mais potente.
Tudo era Ana, naquele momento, tudo se resumia a Ana e era para Ana.
— Caralho... Você é gostosa demais!
— Eu sei! Agora, vem para cima, por favor, que é sua vez. – Ela
acabava de se doar para ele, deixando-o perplexo, feliz e totalmente louco
para meter-se dentro dela. Leandro tirou a camisinha de dentro da gaveta e a
vestiu, sem perda de tempo, não queria perder tempo. Mas de uma coisa não
abriria mão, sentir aos poucos o aperto de Ana para que pudesse gravar na
memória e em cada pedacinho de sua pele, o prazer que era invadi-la,
tomando-a para si.
— Te farei minha, Ana Margarida! – Falou baixo, quase um sussurro
de tão baixo, conquistando aos poucos o direito de tomá-la, pois Leandro era
assim, acima de tudo um cavalheiro. Queria-a sim, mas de forma terna e
delicada. Assim que a sentiu relaxada, aumentou o ritmo das estocadas,
deixando-se embriagar pelo cheiro, gosto e toque de Ana. A entrega da
morena o exultava, levando-o ao mais puro e perfeito êxtase.
Saciado, Leandro caiu para o lado na cama, levando consigo Ana.
Não a queria longe, de jeito algum. Queria-a colada ao seu corpo. Queria que
o momento se eternizasse, embora soubesse que teria que a deixar ir.
— Já falei que amo seu sotaque sulino? – Ana ergueu a cabeça,
abrindo um sorriso que fez o coração do cientista pular no peito.
— É o meu charme, delícia!
— Convencido você, hein! – Ana bocejou e aninhou-se nos braços de
Leandro. Sentia-se exausta, relaxada e muito feliz. Nenhuma das suas
experiências sexuais anteriores foram tão boas quanto a que tinha acabado de
viver com Leandro. Ele a havia levado às nuvens de uma forma incrível,
pensou a jovem. A adrenalina pela qual acabava de passar ainda corria quente
pelas suas veias. A saciedade a conduzia ao sono, uma paz nunca antes
sentida invadiu sua alma, uma alma que cantitava feliz ao som do ritmo das
batidas do coração de Leandro. Algo devia estar errado, pensou Ana. Leandro
havia se comportado de forma vil e mesquinha com Camila. Era, no mínimo
questionável, tudo o que havia preparado e feito para ela. Sabia que, em
algum momento, teria que refletir melhor sobre tudo, mas decidiu deixar para
depois e permitiu-se ser embalada pelas doces palavras de Leandro que lhe
diziam que ela era a mulher mais perfeita do mundo, linda e bela como uma
estrela a brilhar na vastidão do céu.
Maio de 2014
— Camila, precisamos conversar! – Leandro entrou na sala da vice-
presidência da Construtora Rossini. Não poderia mais esperar, precisava
esclarecer algumas coisas com a noiva. Camila ergueu a cabeça e fitou
Leandro contrariada. Sempre reagia da mesma maneira quando lhe tiravam a
concentração de algo importante.
— O que é tão importante que não pode aguardar? – Camila se
levantou e foi ao encontro do noivo para cumprimentá-lo com um beijo na
bochecha. Desde que o irmão havia se acidentado gravemente, Camila agia e
comportava-se como uma executiva. Ela era brilhante e, sem qualquer
questionamento, fazia um ótimo trabalho na gestão da empresa. — Estou com
muito trabalho e ainda preciso me organizar para uma importante reunião
com o grupo de investidores da Argentina, Leandro! Tem certeza de que não
pode esperar seja lá o que tenha para me falar?
— Recebi um e-mail estranho para que eu confirmasse os doces do
casamento!
— Doces do casamento? Mas isso devia ter sido enviado para o meu
e-mail e não para o seu. – Camila falou, alisando a saia lápis. Desde que
havia assumido a presidência do grupo, Camila vestia-se impecavelmente,
com roupas sóbrias e sapatos de salto. — Não se preocupe com os doces!
Estou cuidando de tudo, querido!
— Como cuidando de tudo, Camila?! – Leandro se sentia pressionado
por não estar preparado para o casamento, mas também não sabia como falar
com a noiva acerca do assunto. Não queria machucá-la, não depois de tudo o
que Camila teve que suportar. O acidente do irmão e a doença da mãe
exigiram de Camila mais do que qualquer jovem poderia suportar. — Olha...
Eu acho que devíamos ao menos esperar um pouco!
— Esperar mais um pouco, Leandro?! Estamos juntos há uma
eternidade! – Camila bufou.
— Não seja exagerada, Camila!
— Exagerada, eu? Estou prestes a fazer 30 anos, Leandro. 30 anos!
Você sabe o que significa 30 anos para uma mulher? É claro que não! Não
posso viver um noivado eterno com você!
Leandro se afastou de Camila, de modo a conseguir respirar e
organizar as ideias. Camila era uma mulher intensa, segura e muito firme de
suas decisões. Era sabido que quando metia algo na cabeça, nada seria capaz
de dobrá-la ou convencê-la do contrário. Leandro via nisso uma qualidade,
qualidade que a fez vencer na vida e se tornar uma das promessas
empresariais do ramo da construção civil, no entanto, a determinação de
Camila, não raros casos, transformava-se em teimosia e quando tal coisa
acontecia, tornava-se cansativo tentar argumentar com ela.
— Se eu te disser que quero um tempo... Um tempo para respirar de
tudo, você compreenderia?
— Não! – Camila o encarou com os olhos mais verdes do que nunca.
Um não de Camila não era fácil de se enfrentar. Mas Leandro precisava fazê-
lo.
— É sempre assim, Camila! Você discute comigo, alega que não
dialogo com você, que não discuto meus problemas, que não divido minhas
angústias com você, não é?! No entanto, quando tento o fazer, você se mostra
intransigente.
— Leandro, por favor! Não é o momento, nem o lugar para se ter este
tipo de conversa. Estou assoberbada... – A ruiva virou as costas e voltou para
sua mesa. — Não tenho cabeça para discutir nosso casamento agora, quando
preciso e devo me concentrar no projeto de expansão da construtora. Os
doces e tudo mais que digam respeito ao casamento, não há com o que se
preocupar, contratei uma profissional para cuidar de tudo e sua mãe se dispôs
a me ajudar. Então... – O cientista a interrompeu.
— Então... – Leandro respirou profundamente. Estava alterado
emocionalmente, havia ido até a noiva para dizer-lhe que não queria se casar,
não ao menos dentro de pouco mais de um mês. Porém, sempre teve
dificuldades de externar os sentimentos, talvez por medo de ser julgado ou
mesmo de machucar os outros. — Então, não diga que eu não tentei, Camila!
— Por Deus, Leandro, não faça de tudo um drama! Se for a tensão
nervosa ou o fato de que nosso casamento possa exigir mais do que está
disposto a suportar, fique tranquilo, querido! – Camila se levantou e foi para
perto do noivo, tocando-o nos ombros. — Um simples e-mail sobre os doces,
equivocadamente enviado para seu endereço eletrônico, não é motivo para
tanto, Leandro! Bem sei que dedica todo seu tempo ao seu projeto de
pesquisa.
Leandro pegou nas mãos de Camila, de maneira a afastá-las do seu
corpo. Precisava manter distância dela naquele momento. — Quando terá um
tempo para conversar, Camila? – Leandro perguntou agoniado, pois talvez,
em outro momento, sua coragem não se fizesse mais presente. — Já que
agora não é um bom momento, diga-me, quando será?!
— Possivelmente apenas no final de semana. Não te entendo,
Leandro! Lembro-me muito bem de ter te avisado de que teria uma semana
intensa de trabalho...
— Tudo bem, Camila! Quando tiver tempo para mim, avise-me,
saberá onde me encontrar.
Leandro saiu da sala sem ao menos se despedir de Camila. Ela não se
importou. Parecia estar mais preocupada com os negócios da construtora do
que com qualquer outra coisa. Estava cansado com o jeito controlador da
noiva. E que Deus o ajudasse, porque estava seriamente inclinado a tomar
uma atitude drástica.
No dia seguinte, Leandro amanheceu com uma dor de cabeça
terrível e com uma ressaca insuportável. No entanto, não havia
arrependimento, pois os garçons na noite anterior ouviram-no pacientemente
e, pela primeira vez na vida, colocou para fora tudo o que havia lhe agoniado
durante anos. Assim que se livrasse do incômodo e do mal-estar da ressaca,
elaboraria um plano para conquistar o coração de Ana Margarida. Haveria de
ser uma estratégia muito bem pensada para que sua morena de boca grande
aceitasse seu amor sem qualquer receio. Era um cientista e um dos bons e não
poderia ser tão difícil, pensou.
Após tomar uma ducha e um analgésico, sem pensar duas vezes, abriu
o notebook e digitou tudo aquilo que havia pensado. Projeto Ter o Amor de
Ana em 5 Passos era o nome do arquivo que salvou. Sua mente funcionava
melhor no modo cientista, sem falar que as ideias fluíam com mais
naturalidade. O objetivo de sua estadia no Rio de Janeiro passou a ser
conquistar Ana Margarida e provar para ela que ele merecia uma segunda
chance. Para tanto, estabeleceu 5 diretrizes básicas a serem seguidas à risca
para o sucesso da operação.
Primeiro objetivo a ser cumprido:
Mudar o visual e comprar roupas novas
Operação banho de loja
Ajudante escolhida: Isabela
Segundo objetivo a ser cumprido:
Aprender a dançar com a finalidade de surpreender Ana
Operação dançarino sexy
Ajudante escolhida: a definir (considerar pesquisa na internet)
Terceiro objetivo a ser cumprido:
Criar o cenário perfeito para a mais bela e romântica noite
Operação noite romântica
Ajudante escolhida: Isabela e Fabrício
Quarto objetivo a ser cumprido:
Pedir perdão para Camila
Operação pedido de desculpas
Sem ajudante.
Quinto objetivo a ser cumprido:
Pedir Ana em namoro
Operação eu quero ela
Sem ajudante.
Leandro salvou o documento e mandou imprimir várias cópias do
mesmo. Levaria consigo uma no bolso como um talismã e uma lembrança de
que estava disposto a tudo para ter Ana ao seu lado, queria compartilhar uma
vida com ela. Nunca esteve mais certo e convicto do que queria na vida. —
Eu quero ela! – Foi a resposta que deu para Rodrigo, o garçom que o atendeu
na noite anterior. E, se antes, não esteve tão determinado na vida,
simplesmente foi porque não havia encontrado sua alma gêmea, a mulher que
fazia seu coração pulsar em ritmo frenético, a mulher que era seu aconchego
e que o fazia entender o seu lugar no mundo. Ana era essa mulher e nada e
ninguém o fariam desistir sem lutar. Nunca havia desistido antes de algo, ao
menos não quando dizia respeito às estrelas, sua grande paixão. Mas
desconfiava que Ana estivesse acima delas, Ana havia se convertido em sua
maior e mais brilhante estrela. Ana era o seu sol e por um sol estava disposto
a vencer seus medos, sua insegurança e se superar.
A dor de cabeça já estava mais leve e não poderia perder mais tempo.
Digitou uma mensagem rápida para Isabela e combinou de encontrá-la no
shopping mais perto da casa da amiga. Fabrício se comprometeu a cuidar das
crianças, uma vez que estava de folga. Tudo parecia conspirar a favor do
cientista e isso só podia ser um bom sinal, pensou. O otimismo voltou a fazer
parte, novamente, da vida de Leandro e ele se sentiu mais animado.
Mais tarde...
— Então você trouxe reforço, Bela! – Leandro abraço Malu. —
Gostei da ideia!
— Não sei no que posso ser útil, mas vim mesmo assim! – Malu
sorriu sem jeito, não gostava muito de fazer compras no shopping.
— Pois acabei de ter uma ideia, irá me ajudar em algo! Você é a
pessoa perfeita. – O cientista lembrou do terceiro objetivo e Malu poderia lhe
ajudar com ele. Uma mente curiosa como a da Malu, além de ser uma
mulher, poderia lhe dar dicas infalíveis.
— Chega de papo vocês dois, vamos logo! – Isabela ordenou. —
Temos muito o que fazer. Pensei em comprar umas camisas bem transadas
para você, Doutor Leandro, além de alguns pares de sapatos mais estilosos.
Também consegui uma hora com um cabeleireiro super badalado.
— Cabeleireiro de mulher? – Leandro pareceu chocado. — Eu havia
pensado em procurar um barbeiro.
— Deixa de ser fresco, Lê! Estamos falando de Ana, você acha que
ela vai se impressionar com qualquer coisa, homem? Claro que não! Aquela
garota é descolada, super moderna e cheia de atitude. Se você quer conquistá-
la, é melhor pensar grande.
— A Bela está certa! Mas também não precisamos exagerar, pois
Leandro tem seus encantos. Acredito que é apenas dar uma melhorada, sei lá!
– Malu exclamou, fazendo um gesto de ombros logo em seguida.
— Malu, te chamei para ajudar e não para atrapalhar.
— Olha só... Não precisam brigar, vocês duas! Entrego minha pessoa
aos cuidados de vocês. Então, vamos logo, antes que me arrependa. –
Leandro falou entre risadas. Estar entre as amigas novamente lhe animou.
Fazia tempo que não se sentia tão relaxado.
Leandro, sempre com a aprovação de Isabela e Malu, comprou várias
calças, casacos, camisas e camisetas, além de sapatos, cintos e cuecas. Apesar
da timidez inicial, conseguiu se soltar e foi protagonista de olhares cobiçosos
quando Isabela o fez provar modelos de cuecas. No entanto, o que mais
gostou foi do cabeleireiro. Isabela havia marcado hora com o cabeleireiro de
Ana e foi muito fácil extrair dele informações preciosas sobre a garota.
— Lê, quero comprar um livro que acabou de ser lançado! Importa se
entrarmos na livraria? – Isabela perguntou. Leandro, apesar de cansado,
concordou.
— Vamos lá, Lê! – Malu o puxou pela mão. — Quero ver os
lançamentos na área da Física.
Depois que Leandro e Malu encontraram o que queriam, foram ao
encontro de Isabela que estava em um dos cantos da movimentada livraria, na
seção dos romances. — Ainda não escolheu? – Malu perguntou à amiga.
— Ah sim, mas não resisti e acabei procurando outros. Você não tem
noção o que é para uma mãe de 4 filhos conseguir vir sozinha numa livraria!
Estou emocionada, confesso. – Isabela sorriu com o olhar perdido nos livros.
— Separei estes para vocês, Lê! – Isabela entregou uma pilha de livros para o
cientista, pegando os de física e astronomia das mãos dele e entregando para
um dos atendentes que passava. — Nada de cálculos e teorias pelos próximos
dias, Lê!
— Bela, você vai me fazer ler romances de mulherzinha?!
— Claro e não são apenas romances de mulherzinhas! – Malu soltou
uma gargalhada por ter compreendido as intenções da amiga. — São
romances eróticos. Estes livros contém uma enciclopédia de A-Z de como
deixar uma mulher feliz e totalmente satisfeita.
— Que exagero, Bela! – Malu riu.
— Você fala isso porque está casada com o homem literário dos
sonhos de qualquer mulher, não é, Malu!? Com certeza, Edu faz tudo o que
está escrito nestes livros. – Malu só conseguiu rir do exagero de Isabela
enquanto Leandro pareceu se interessar pelos livros.
— Ai senhor... Por Einstein, não me diga que você vai comprar estes
livros, Leandro? – Malu perguntou sem parar de rir.
— Claro que vou! Se a Isabela falou que vai me ajudar, por que não
deveria comprá-los?!
— Aproveita leva um dessa autora incrível! – Isabela colocou o livro
na pilha que Leandro carregava. — Essa escritora é intensa demais. Pare de
rir, Malu!
— Não consigo, Bela! Você é safadinha! – Malu respondeu.
— Olha quem fala! Não sou eu a frequentadora de clube de sexo! –
Foi a vez de Leandro rir. Bem a cara da Malu, pensou. — Tem as autoras
nacionais que também são ótimas, Lê. – Mais dois livros foram colocados na
pilha de Leandro.
— Olha que interessante! – Malu pegou um dos livros e leu o título.
— O enredo falava sobre uma mulher traída e o quanto a traição lhe
propiciou uma vida mais feliz. — Acho que devíamos levar um para Camila.
Leandro engoliu em seco e sentiu o rosto esquentar. — O que você
falou? – Perguntou aflito, na esperança de ter escutado errado.
— Que devíamos levar um para Camila! – Isabela deu uma
cotovelada em Malu. — Ai Isabela isso doeu! Não falei nada demais, afinal,
todos sabemos que Camila... Ai meu Deus, desculpe, Leandro, eu não
queria...
— Não... Espera um pouco! Você... – Leandro colocou os livros de
volta na prateleira e levou as mãos dentro do bolso. — Vocês acham que eu
traí a Camila?! – As duas concordaram com a cabeça um pouco encabuladas
pela gafe. — Porra, se vocês acham que eu traí a Camila... A Camila também
acredita que eu a traí! E o pior, a Ana também acredita que eu traí minha ex-
noiva.
— Na verdade, ela não acha não, ela tem certeza! – Malu resolveu ser
sincera. — Aliás, todos nós tínhamos certeza.
— Mas eu não traí a Camila! De onde foram tirar uma coisa absurda
dessas? – A resposta nem precisou ser dada, pois Leandro era inteligente o
suficiente para saber que as três o viram se despedir de Tatiana, sua aluna do
mestrado. — Pera aí vocês duas! Eu nunca traí a Camila!
— E aquela garota do aeroporto? – Isabela o fitou séria.
— Eu nunca tive nada com ela! Aquela garota do aeroporto era minha
aluna do mestrado e eu podia levar uma estagiária comigo para o programa
de pós-doutorado no Canadá. Nunca tive nada com ela. Eu juro! – Agora
Leandro conseguiu entender a indiferença dos amigos e até a mágoa de
Camila e toda a relutância de Ana em aceitá-lo. — Meu Deus, o que fui
fazer? – Leandro levou as mãos aos cabelos. Estava frustrado e com raiva
dele mesmo.
— Doutor Leandro Navarro, você merece uns tabefes! Como pôde
nos deixar tão às cegas desse jeito?! – Isabela lhe deu um tapa no braço. —
Se eu não estivesse tão aliviada com o que você acabou de confessar, eu juro
que eu te dava umas cintadas, você foi pior que moleque birrento, Leandro.
Ser deixada no dia do casamento já é ruim o suficiente, imagine acreditar que
foi trocada por outra mais jovem, Leandro?! Camila enlouqueceu... Você não
faz ideia do quanto ela ficou mal, ela já estava toda sensível porque estava
prestes a completar 30 anos!
Leandro não pôde acreditar no tamanho da confusão que havia
deixado para trás. Não havia sido justo com Camila e agora, mais do que
nunca, precisava procurá-la para esclarecer tudo e implorar por um perdão.
Era um homem, afinal. Um homem atrapalhado, tímido, introvertido, mas era
um homem e merecia honrar as calças que vestia. Faria isso por Camila, por
ele e por Ana, a quem amava mais do que tudo e que devia estar pensando o
pior dele.
— Apesar de estar muito brava com você, Leandro, nunca consegui
aceitar ou mesmo compreender o fato de você ter traído a Camila! Porque,
caramba, você pode ser várias coisas, mas nunca desceria tão baixo. Foi
difícil para todos nós! Puxa vida, você e Camila eram e ainda são nossos
amigos, vocês são família, Lê! – Malu abraçou o amigo, como se um peso
houvesse sido tirado das costas dela. Mais de ano tentando odiar Leandro sem
êxito, tentando encontrar uma justificativa para afastá-lo em nome do amor
que sempre sentiu por Camila. — Por Einstein, você precisa consertar as
coisas com a Camila! – Malu suspirou com lágrimas nos olhos.
— Eu sei e eu vou consertar! Quero que saibam que respeito e admiro
muito a Camila. Mesmo que eu não a tenha traído como deixei a entender
anos atrás, eu errei com ela... Errei feio e errei com vocês também, que
sempre estiveram ao nosso lado. No momento em que decidi aceitar a vaga
no Canadá, eu só pensei em mim, fui um puto de um egoísta! – Leandro não
seria digno de Ana se não conseguisse esclarecer os fatos, desculpar-se com
Camila. Estava determinado a dar um jeito em tudo, nem que fosse a última
coisa que fizesse na vida. — Eu prometo para vocês! Darei um jeito em tudo.
— Leandro, por Deus, olhe o que você irá fazer!
O cientista não ficou surpreso com a falta de fé de Isabela em sua
pessoa. — Dessa vez, não irei falhar, Isabela! Darei o meu melhor e por falar
em melhor, preciso que me indique uma academia de dança.
— Academia de dança? Eu ouvi bem? – Malu arregalou os olhos em
sinal de surpresa. — Não sei no que aprender dançar lhe ajudará com a merda
que você fez, Leandro!
— Nunca estive tão certo de algo em minha vida, Malu! E, no
momento, eu preciso e quero aprender a dançar.
— Eu conheço uma muito boa! Te passo o endereço, mas vamos logo
pagar estes livros, que preciso voltar para casa ou encontrarei tudo destruído,
pois bem sei o quanto Fabrício bagunça aquela casa quando fica com as
crianças.
— Coitado, Bela! Ele se esforça, não seja injusta. – Malu tentou
amenizar o drama da amiga.
— Malu, já falei que sua opinião não conta! Você casou com o
melhor partido do Rio de Janeiro, nem supermercado você faz, amiga! Mas
Malu está certa, Leandro terá que nos explicar direitinho o porquê resolveu
aprender a dançar nessas alturas da vida.
Uma semana depois...
— Está perfeito, Leandro! – Sheila, a professora de dança
contratada pelo cientista, parecia satisfeita com o desempenho do aluno. —
Ela vai amar a performance!
— Não sei não, Sheila! Lembro muito bem da minha ex-namorada
dizer que eu era péssimo na dança.
— Bem, ela também não devia ser a melhor dançarina, porque você
foi ótimo. – Leandro riu de forma tímida. — Não esqueça do que te falei!
Você é poderoso! Foque no seu objetivo e não o perca de vista em nenhum
momento.
Leandro se despediu da professora e foi direito para casa. Estava
cansado e com fome. Nunca imaginou que aprender a dançar requeresse tanta
energia. Com a ajuda da professora de dança, conseguiu pôr em prática as
ideias para a realização do segundo objetivo de sua lista: aprender a dançar
com a finalidade de surpreender Ana. As roupas já estavam separadas e tinha
certeza de que a morena apreciaria a surpresa. Porque Leandro era do tipo de
homem que uma vez empenhado em algo, nenhuma falha seria admitida, era
muito perfeccionista e dedicado, se não fosse assim jamais teria aprendido os
passos e sequências da coreografia montada pela professora. Ana ficaria de
queixo caído, e só em pensar nisso, era suficiente para Leandro ficar ainda
mais empolgado. Sheila também havia conseguido o local perfeito para o
grande dia, ou melhor a grande noite. Mas ainda faltava convencer Ana a ir
ao seu encontro e nada melhor do que Sabrina, a melhor amiga de Ana.
— Alô! Sabrina?
— Sim! – A modelo respondeu do outro lado da linha.
— Aqui é Leandro! Lembra de mim?
— Claro que lembro. O amigo de Ana! – Não era bem amigo que
desejava ser, mas diante das circunstâncias era melhor do que nada.
— Preciso de um favor seu.
— Opa! Como conseguiu meu telefone? Não lembro de ter te
passado! – E não tinha mesmo, pensou Leandro.
— Foi fácil, Sabrina! – Não podia falar que havia hackeado e
quebrado alguns códigos criptografados. Leandro era um bom sujeito, muito
certinho, mas isso não queria dizer que não tivesse cometido sua cota de
infrações, dentre as quais estava hackear quando adolescente. Hábito
abandonado há muitos anos para o bem da imagem da família. Leandro
pensava que sua mãe não iria sobreviver caso o filhinho perfeito fosse
descoberto.
— Mas para que precisa de mim? – Gostou dela, direta e objetiva,
pensou Leandro.
— Quero fazer uma surpresa para a Ana e preciso que você a
convença a ir para um lugar hoje à noite... – Leandro explicou os detalhes do
plano para a melhor amiga de Ana, torcendo para que ela não o delatasse,
porque o sucesso da operação dependeria do elemento surpresa.
— Gente, a Ana vai pirar! Ela vai amar! – Leandro se encheu de
esperança, se a melhor amiga de Ana havia gostado, as probabilidades de
Ana também gostar eram altas. — Ao menos, eu gostaria de uma surpresa
dessas.
— Mas Ana sequer pode desconfiar, Sabrina!
— Confie em mim, Leandro! Minha boca é um túmulo. E depois tem
outra coisa, tenho para mim que farei um favor para minha amiga. Pois ela
passa o dia falando de você!
— Ela fala de mim? – Aquela conversa estava sendo melhor que o
esperado para o cientista.
— É claro que ela te xinga a maior parte do tempo, mas também fala
que você é lindo de morrer. Não aguento mais! Onde já se viu uma mulher
ficar tão indecisa por um homem! Só te dou um conselho, se você quer ficar
com a Ana, corre, mas seja rápido, porque a fila está para andar.
— Como assim a fila está para andar? – Leandro lembrou do loiro
bonitão do outro dia e um amargor corroeu sua boca. Maldito ciúme, pensou.
Ter ciúmes não lhe facilitava em nada a vida, apenas o deixava nervoso e
quando nervoso, não conseguia pensar direito.
— Ah... É claro que você entendeu, Leandro! Ana é uma garota
bonita, atraente e nunca fica muito tempo sem namorado ou como ela mesmo
chama “ficante”. Então corre porque tem “ficante” na espreita e um bem
poderoso.
— O loiro azedo?
— Se você fala do Gabriel, é o próprio! Olha só... Me passa o
endereço do lugar e tenha certeza que darei um jeito de Ana estar lá na hora
marcada. Agora, por favor, cria juízo e não resolva sumir no dia. Vai ser o
maior mico da minha vida. Nem comento que irei te perseguir até o fim do
mundo, se for necessário.
— Obrigado, Sabrina!
— Não me agradeça e trate de fazer minha amiga feliz. – Sabrina
desligou o telefone e Leandro tratou de agilizar tudo para a grande noite, a
noite em que se transformaria no maior e melhor dançarino que o mundo já
viu.
Horas depois...
— Não me lembro dessa prima! – Ana respondeu à amiga. — Pois
acredito que nunca a vi mais gorda ou mais magra. Aliás, nem sabia que você
tinha primas, Sabrina!
— Pois claro que tenho, Ana! Todo mundo tem primas. Então, ela vai
fazer uma despedida de solteira e me convidou, mas como nós duas nunca
fomos muito chegadas, quero que você vá comigo.
— Ai não sei! Eu fiquei de sair com o Gabriel!
— Nem pense nisso! Que amiga é você, hein! Depois quando você
precisar de mim... – Ana se sentiu uma péssima amiga, pois Sabrina já havia
quebrado vários galhos para ela.
— Está bem, sua chantagista! Vou nessa bendita despedida de
solteira. Nem estava com vontade de sair com o Gabriel mesmo. Ele é muito
chiclete e não gosto de homens chicletes.
— Principalmente quando certos físicos lindos e sarados andam
povoando os pensamentos, não é amiga?!
— Leandro? Imagina só que penso naquele ogro abandonador de
noiva! – Sabrina arranhou a garganta. — Está bem, só um pouquinho, mas só
porque ele é bom de cama.
— Ana, minha amiga, admita que você se apaixonou pelo cara que
dói menos!
— Como dói menos, Sabrina? Não posso estar apaixonada pelo cara
que abandonou minha cunhada no altar. – Ana estava cansada de ter que
explicar sempre a mesma coisa para a amiga.
— Ele abandonou Camila e não você, Ana Margarida!
— Não me chame assim, você sabe que não suporto o Margarida do
meu nome!
— E tem outra, Camila está muito bem casada com o Murilo. Então,
deixa de reclamar, faça menos drama, garanto que você vai curtir a noite!
— Tomara mesmo, porque ando sem ânimo para a balada, amiga! – A
verdade é que Leandro a perturbava mais do que ela desejava.
Sabrina passou o endereço da boate para Ana. — Não atrase, Ana!
Minha prima é daquelas mulheres loucas por pontualidade. Esteja lá às 10
horas em ponto. E, por ventura, se eu atrasar, aproveite e se divirta.
A morena desligou o telefone aos resmungos. — Era só o que me
faltava mesmo! Entrar de penetra numa festa e ainda ficar sozinha. Sabrina
não toma jeito mesmo! – Aproveitou que estava com o celular em mãos e
mandou uma mensagem rápida desmarcando o compromisso com o irmão de
Edu. Uma verdade deveria ser admitida: a despedida de solteira da prima de
Sabrina foi uma graça enviada dos céus, pois Ana não estava com a mínima
vontade de sair com Gabriel. Ela era uma doida e não tinha mais como negar.
O cara era lindo, boa praça, educado, sedutor, além de um dos homens mais
disputados da noite carioca, mas ela só tinha olhos e pensamentos para
Leandro. No último final de semana, ela e Gabriel foram ao cinema e até que
rolou alguns beijos, mas nada muito comprometedor ou empolgante, porque
Ana podia ser uma garota moderna e desencanada, mas nunca do tipo que
ficava com um pensando no outro. Por isso, abreviou o encontro e acabou
chegando em casa antes da meia noite para o espanto dos pais. E quando
pensava que afundaria as mágoas num bom pote de sorvete napolitano,
novamente, o ogro abandonador de noiva tomou conta dos pensamentos.
Nunca mais um napolitano teria o mesmo sabor para Ana, não depois de
dividir um pote do melhor napolitano com Leandro.
Para piorar a situação, o cientista havia tomado chá de sumiço. Mas
também o que ela esperaria dele, é lógico que não iria voltar a procurá-la, não
depois de dispensá-lo. Uma parte de Ana sabia que havia tomado a decisão
correta. O melhor e mais lógico a ser feito para o bem de todos. Porém, outra
parte de Ana, aquela parte mais sem-vergonha e ingrata dela, desejava mais
de Leandro. — Se ele gostasse mesmo de você, teria insistido mais! – Ana
falou olhando para o espelho enquanto retocava o batom vermelho. — Você
ficou louca, Ana Margarida Mendonça Marcuzzi! Completamente louca e
fodida! – Fechou o espelho e o guardou na bolsa. Ouviu um bipe do celular.
Puxa Ana, estou cansado de levar bolo teu!
A mensagem havia sido mandada por Gabriel. Homem tolo! Pensou a
morena. Não gostava de homens que se achavam o gás do refrigerante
dietético, já que refrigerante comum engordava. Gabriel Botelho Neves podia
ser um ótimo partido e lindo de morrer, mas seu jeito “sou a última bolacha
recheada do pacote”, a entediava. Leandro não era assim, percebeu. Era um
dos homens mais lindos que havia conhecido e não tinha a menor pretensão
de se utilizar da beleza ou mesmo se achava a última bolacha recheada do
pacote. Era um sujeito calmo, pacífico, introvertido demais sim, mas
charmoso no seu jeito de ser e também era um romântico. Ana soltou um
suspiro, mania que havia adquirido nas últimas semanas sempre que se
lembrava do físico.
— Menina, você está com cara de quem viu passarinho verde!
— Passarinho verde não, Cris, vi uma arara azul para ser sincera, uma
linda arara azul!
— Eita menina! Bem que a Camila me falou que você está
apaixonada.
— Está tão na cara assim? – A recepcionista concordou com a cabeça,
deixando um sorrisinho de canto se abrir. — Caramba! Preciso fazer algo a
respeito!
— Fazer o que, menina? Se está apaixonada, pois viva esta paixão,
mulher!
— Não posso! – Ana se debruçou sobre a mesa. — Ele é proibido
para mim! – Por que ele não podia ter um passado mais simples ou mesmo
abandonado outra mulher que não fosse a esposa do seu querido irmão,
pensou a jovem. Aquilo estava acabando com o juízo de Ana.
— Ô gente... – Cris esbarrou no sotaque baiano. — Vai me dizer que
o príncipe encantado já tem uma princesa?
— Não, ele não tem ninguém, ao menos não na atualidade, Cris!
— Então qual é o problema? Se você está apaixonada e o cara é livre,
porque não investir na conquista, Ana?
— É complicado, Cris. Você não entenderia!
— Quem sabe se me contar! – Cris puxou a cadeira, sentando na
frente de Ana.
— Não vale a pena, Cris! É uma longa e complicada história, acho
melhor deixar para lá. E depois, tenho uma festa para ir, vou ocupar a mente
com a promessa de diversão e passará, tudo passa com uma boa festa.
— Você quem sabe, Ana! Mas estou aqui, caso quiser desabafar.
— Obrigada! Camila não virá novamente? – Ana perguntou a fim de
mudar o assunto da conversa. Já havia dedicado muito do seu tempo e
pensamentos em Leandro e não queria perder mais do seu dia com ele. De
fato, o cientista não era merecedor de tanto alarde.
— Não! Trabalhará de casa mesmo. Qualquer urgência, ela estará no
celular. Problemas com as crianças?
— Não! Antes fosse uma dor de barriga ou uma gripe dos meus
sobrinhos. Camila voltou a ser ameaçada e meu irmão está louco com isso.
Mas eu entendo ele, Cris! Quando Camila ficou sumida foi um sufoco do
capeta. Pois penso que meu irmão não deve descuidar da proteção de Camila!
— Não pensava que fosse tão sério, Ana! Por isso, os armários
enviados para vigiar o solar! – A recepcionista se referiu aos seguranças
enviados por Murilo para fazer a guarda do solar.
— Pois há coisa muito séria por trás do sequestro de Camila, Cris!
Pessoas poderosas, sabe! Na época, meu irmão e os sócios fizeram de tudo
para abafar o caso e a notícia não se espalhar. Meu irmão é um homem de
sucesso e isso por si só atrai inimigos, mas Camila também não fica para trás
e sei que colecionou desafetos. Mamãe desconfia que a união dos dois não foi
bem vista pelo Senador Cavalcante.
— Aquele cujos tabloides ligaram ao tráfico internacional de
mulheres?
— O próprio! O velho é obcecado pela minha cunhada. Há indícios e
muito fortes, eu mesma ouvi um dos policiais falando, que o senador estava
por trás do sequestro de Camila. A desgraçada da Eleonora fez o trabalho
sujo em sequestrá-la, mas era quase certo que Camila seria entregue para o
Cavalcante em troca de uma alta soma em dinheiro. O plano da mocreia era
perfeito demais, vamos admitir, Cris! Além de embolsar uma grana preta
ainda ficaria com o campo livre para ter meu irmão de volta. Pense numa
velha assanhada. Credo, quando penso que meu irmão teve coragem de se
envolver com aquela lá, só por Deus!
— Que arda no fogo do inferno! – Cris fez o sinal da cruz.
— Infelizmente, a mocreia não fez o favor de levar o “demo” do
Cavalcante junto. Tenho para mim que essas ameaças são “coisa” dele, Cris.
— Cruzes, Ana! Vira a boca para lá! Nem é bom pensar essas coisas.
— Sei não! Meu irmão tem que ficar ligado!
Ana digitou no GPS do carro o endereço da boate que Sabrina
ficou de encontrá-la, partindo logo em seguida. Pelo o que havia pesquisado
na internet se tratava de uma boate de strip-tease, uma dedicada ao público
feminino na verdade, uma espécie de Clube das Mulheres. Nunca havia
estado numa festa do tipo antes, apesar de se considerar uma mulher
descolada. Conseguiu estacionar o carro sem maiores problemas, estranhando
a falta de movimentação para uma sexta-feira à noite, embora a boate poderia
ter sido fechada para a festa da prima de Sabrina. Mesmo assim tudo parecia
quieto demais à medida que adentrava no recinto. Conversou com um homem
forte e careca, um segurança na certa, que o levou até o salão principal.
Pensou que poderia estar muito adiantada. Conferiu o horário no celular e já
passava 10 minutos das 10. Talvez seria uma festa surpresa para a noiva, uma
despedida de solteira surpresa. Quando estava prestes a ligar para Sabrina,
luzes foram acessas, iluminando o palco e uma música começou a tocar, uma
música com batidas fortes e ritmadas, que com o jogo de luzes deixavam o
ambiente misterioso, sofisticado e muito sensual.
— A senhorita pode sentar! – Um garçom entrou e entregou um copo
de coquetel para Ana. — O show está para começar. – Ana não fazia a
mínima ideia do que se tratava. O garçom sumiu assim que Ana pensou em
perguntar pelas outras convidadas. Uma despedida de solteira devia ser feita
por várias mulheres e não por uma só. Tudo estava muito estranho.
A música deu lugar a outra ainda mais sensual. Ana reconheceu a voz
da cantora. Era uma cantora britânica de voz rouca, cuja sensualidade da voz
fazia arrepiar qualquer pessoa. A voz da cantora era sexy para caramba,
pensou. As cortinas pretas se abriram e um homem de costas surgiu. O cara
era quente, percebeu eufórica. Dentro de um macacão feito em jeans e muito
justo, demarcando a perfeição de uma bunda feita para ser apertada. Ele se
virou de frente, mas o jogo de luzes e o grande chapéu de palha esconderam o
rosto.
— Caramba! – Ana engoliu em seco, notou que o cara dançava bem
demais. A coreografia era perfeita e digna de aplausos. Ana entendia de
dança e coreografias e o dançarino devia ter ensaiado muito para chegar
naquela perfeição de movimentos.
Pelas luvas e a grande tesoura que carregava nas mãos concluiu que
ele havia se fantasiado de jardineiro. Já tinha ouvido falar de lugares como
este, onde os homens dançavam fantasiados para as mulheres. Sabrina ficaria
louca quando contasse o que havia perdido, mas ainda havia algo estanho, ela
continuava a ser a única mulher na plateia, ou melhor, o único ser vivo a
apreciar aquele pedaço de gostosura em forma de homem.
— Uhuuu!!!! – Ana gritou empolgada e um pequeno sorriso pareceu
surgir por debaixo do chapéu. Os agudos da voz rouca da cantora foram
dando lugar às batidas mais suaves e uma troca quase imperceptível de ritmo
parecia ter ocorrido. Tratava-se de uma regravação do clássico It’s Raining,
mas Ana não lembrava quem era a artista, embora a mixagem e a voz da
cantora imprimiam a mesma atmosfera da música anterior. O dançarino
largou a tesoura em um dos cantos, enquanto um grande globo descia ao
centro do palco, as luzes tornaram-se mais piscantes e coloridas. Ele tirou as
luvas e as jogou para longe e os próximos movimentos indicavam que iria se
livrar do chapéu, certeza que Ana teve assim que as mãos dele foram até as
grandes abas, enquanto seu quadril parecia se quebrar num ritmo frenético e
extremamente sedutor.
— Jesus! Que lugar é esse?! Tira tudo! – Gritou, sentindo o coração
pulsar e a adrenalina correr pelas veias. Ela sempre havia sido amante da
música e da dança e aquilo poderia se comparar ao paraíso.
Do nada, o chapéu voou para o colo de Ana, deixando-a totalmente
estática com o que acabava de descobrir. O dançarino sexy e poderoso, de
passos perfeitos e mais quentes que o inferno era Leandro, o seu ogro
abandonador de noiva. As alças do macacão deslizaram pelos ombros,
deixando à mostra todo o abdome muito bem definido do cientista.
Aproximando-se, Leandro ofereceu a mão para Ana, que foi incapaz de
recusar, não quando ele havia dançado lindamente para ela e roubado mais
um pouquinho do seu determinado coração. Ele a puxou para cima do palco
sem, em nenhum momento, deixar de se mover ao ritmo da música, que havia
novamente mudado. Tocava um hip hop agora e Leandro arrasou novamente,
pegando as mãos de Ana e levando-as até seu peito de forma sedutora, sem
desviar o olhar dela em nenhum momento.
Leandro soube desde o primeiro grito de Ana que havia feito bonito, o
que o fez querer romper qualquer barreira, entregando-se ao ritmo das batidas
da música assim como sua professora havia dito durante a semana. Tudo era
para Ana e não havia inibição ou timidez que fosse suficiente para freá-lo,
não naquele momento, em que o mais lindo e perfeito sorriso se estampava
no rosto da mulher amada, a sua Ana.
— Você é um louco! – Ana gritou.
— Já falei que sou louco por você, Ana Margarida! – Ela começou a
requebrar junto de Leandro, porque seu corpo assim como seu coração a
mandavam se entregar ao ritmo impaciente da música, do momento.
— Você está gostoso demais! – Ana se aproximou do ouvido de
Leandro, ao mesmo tempo que os braços envolveram o pescoço dele,
puxando-o para perto de sua boca, porque para aquele paraíso ser perfeito só
precisava um beijo dele, um daqueles que faziam suas pernas tremeram e
cada partícula do seu corpo desejar Leandro.
— Sou teu jardineiro, delícia! – Respondeu com os olhos mais
brilhantes do que nunca, revelando um abismo de promessas pecaminosas e
no qual Ana iria se perder com facilidade, por ser incapaz de resistir a tudo o
que ele lhe oferecia.
— Nunca mais olharei um jardim sem pensar em você dançando para
mim, seu... – Ele a calou com um beijo, invadindo sua boca com
determinação, pois ele a queria muito e ele a teria. Beijar Ana era como fazer
uma viagem intergaláctica, uma verdadeira jornada em busca do sabor
potente de sua estrela, sua Ana.
— Gostou?
— Se gostei? Claro que gostei, Leandro! – Já não adiantava negar,
não quando ele havia feito o impossível, seria a maior perda de tempo dar
uma de teimosa e negar que havia gostado. — Caramba, Lê, estou subindo
pelas paredes!
— Isso é bom, eu acho!
— Claro que é bom, Doutor Fodão! – Ana gargalhou. — Não tem um
lugar mais reservado, não?! – Leandro conhecia muito bem aquele olhar de
safada e o que ela desejava.
— Aqui é reservado, Ana Margarida! A boate é nossa, o palco é nosso
e eu sou teu para o que desejar.
— Ai meu Deus, um Clube das Mulheres só para mim, com um
stripper só meu, para fazer o que eu quiser! Chama os bombeiros! – Ela era
impossível, pensou Leandro. Mas não seria sua Ana se assim não fosse. Sua
boca era maior que tudo, não somente pelos lábios carnudos e deliciosos, mas
também por não ter qualquer inibição em falar o que pensava.
— Para que chamar os bombeiros, delícia, se você tem a mim para
apagar teu fogo?! Embora, confesso, que prefiro não apagar, mas me queimar
nele, porque, Ana Margarida, você é quente e gostosa demais!
— Eu sei!
— É claro que você sabe! – Leandro gargalhou, tratando de puxá-la
para mais perto do seu corpo e bem assim poder senti-la em toda sua
plenitude.
Ana notou que Leandro fez um sinal para alguém que estava na
cabine de som, dispensando-o. Ele havia pensado em tudo, o maluco. A boate
era deles e Ana aproveitaria o momento e toda paixão que ele lhe prometeu.
— Tira o resto, Lê! – Ela exigiu e ele de forma sedutora afastou-se,
abrindo o zíper do macacão, de maneira a deixar revelar a rigidez de sua
masculinidade dentro de uma cueca box coladinha. Até na cueca, ele havia
pensado. Não era mais aqueles modelos horríveis que não valorizavam em
nada a beleza masculina do cientista. — Caramba, Leandro, essa cueca
valoriza teu “pacote”!
— Pacote? – Leandro não entendeu e Ana apontou para seu pênis,
fazendo-o gargalhar. — Você me enlouquece, delícia! – Soltou feliz e seu
“pacote” ficou ainda mais animado com o que ela lhe prometia. O cientista
reduziu a distância que os separavam, levando as mãos até as coxas firmes e
deliciosas da morena para depois subir até a cintura fina e firmar o aperto ali.
Mas a intenção de Leandro era chegar até os seios dela e perder-se ali mesmo
por um bom tempo.
— Calma, Doutor! – Ana tentou se separar do corpo dele. — Você
ainda não terminou o espetáculo. Vou descer do palco, sentar naquela
cadeira. Vim aqui para assistir um show de striptease e não devo sair
insatisfeita. – Era uma provocadora, pensou Leandro. Mas tudo era para ela e
não deixaria a timidez ou mesmo a vontade louca de se enterrar nela colocar a
perder sua performance.
— Pois sente, senhorita, que o show vai continuar! – As músicas com
batidas sexys, assim como as luzes piscantes, continuavam a garantir a
atmosfera quente e sedutora de antes. Leandro focou em sua morena e no
quanto ele a queria e perdeu-se nas batidas da música. Havia ensaiado outros
passos com a professora e fez bonito para Ana. A cada gemido indecente que
a jovem soltava, uma chama parecia acender no corpo de Leandro. A cada
mordida de lábios que ela dava, uma explosão de testosterona acontecia
dentro de Leandro. Num ato desesperado, desceu do palco e foi ao encontro
dela, porque estava esfomeado e precisava dela mais do que nunca. Forçou-a
a se levantar da cadeira e virando-a de costas para si, Leandro a deitou sobre
a mesa. Ergueu a saia sem qualquer cuidado. Afastou a pequena calcinha
vermelha e deixou os mais puros e inebriantes instintos o guiarem. Sem
qualquer delicadeza passou um dos seus dedos na fenda úmida de Ana, sua
doce descoberta, sua estrela. Ela gemeu, primeiro. Depois, tremeu, pois
Leandro foi impiedoso com ela. E sem pensar duas vezes, desceu a cueca e
colocou-se entre as pernas dela, invadindo-a com estocadas rápidas e
profundas, fazendo questão de marcá-la como sua. Ana estava pronta para
recebê-lo e assim que Leandro tocou-a lá no fundo e todo seu membro foi
tomado pelo conforto da penetração, seu desejo foi de permanecer ali para
sempre ao mesmo tempo em que um furacão dentro de si o fazia se mover
freneticamente em busca por mais dela.
— Não para agora! – Ela ofegou.
— Não vou parar, delícia! – Leandro inflou o peito de orgulho. O
poder que sentiu e a satisfação de ter Ana sob seu jugo, dominando-a de todas
as maneiras possíveis se juntaram ao sentimento de posse. Ana era sua
mulher naquele momento e para sempre. Mais um gemido rouco e delirante
dela e ele se perdeu no êxtase, um êxtase intenso, profundo e arrebatador. O
paraíso tinha nome e sobrenome, pensou.
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Em breve no formato físico no site: www.editorafragmentos.com.br
SINOPSE
A vida fez de Penélope uma mulher forte e tenaz. No início do século
XX, o sonho de toda mulher é ter um bom casamento e filhos, exceto para
Penélope. Prestes a completar 25 anos, Penélope apenas quer receber a
herança deixada pelo pai, um inglês que a deixou no Brasil ainda menina, e
abrir uma escola para moças em São Paulo. Prestes a realizar seu sonho,
Penélope é chamada por sua madrinha Violeta para que acompanhe a jovem
Flora nos eventos sociais do Rio de Janeiro. Sem poder negar um pedido de
sua amada madrinha, Penélope parte para o Rio de Janeiro, onde é acolhida
pela tradicional família Gusmão de Albuquerque.
Dona de uma beleza incomum e de uma inteligência irreverente,
Penélope acaba por ser cortejada por vários cavalheiros, o que desperta
ciúmes no solitário e responsável Felipe Gusmão de Albuquerque, o
primogênito de Violeta. Viúvo e com uma filha pequena para educar, Felipe
não esperava se apaixonar pela afilhada da mãe e fará de tudo para mantê-la
distante de sua organizada e planejada vida. Felipe entende que Penélope não
reúne as qualidades necessárias para ser a esposa de um rico banqueiro e
chefe de uma das mais tradicionais famílias do Rio de Janeiro.
Atormentados pela forte atração que sentem um pelo outro, Penélope
e Felipe sucumbirão ao desejo e um forte sentimento nascerá entre eles.
UMA PAIXÃO PARA FLORA
Belle Époque, livro 2
Disponível em e-Book
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SINOPSE
O sonho de Flora sempre foi fazer uma grande estreia na sociedade
carioca. O que aconteceu tardiamente, apenas aos 17 anos, pois sua família,
diferente das outras da época, deseja que Flora tenha um casamento por
amor, sem interesses superficiais.
Em meio à confusão de pretendentes ao coração de Penélope, afilhada
de sua mãe, a caçula dos Gusmão de Albuquerque conhece Yuri Volkov, um
imigrante russo que fez fortuna no Brasil ao se dedicar ao mundo do
entretenimento. Yuri enxerga em Flora uma oportunidade de ser aceito pela
nata social carioca e a seduz, forçando um casamento entre eles. Os planos do
empresário não saem como o esperado e ele se vê apaixonado pela
esposa, fazendo-o lutar para conseguir protegê-la de um passado marcado por
atos ilícitos.
Atormentados pela forte paixão que sentem um pelo outro, Flora e
Yuri terão que superar vários obstáculos para terem o merecido final feliz.
Disponível em e-Book
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SINOPSE
Em 1922, o sonho de Eloíse é se tornar uma Médica Veterinária e
desbravar o mundo em busca de aventuras. Apaixonada por animais desde
menina e convicta de que as mulheres podem e devem ser mais do que
apenas esposas, Eloíse vê numa expedição científica para a Amazônia a
chance de viver uma grande experiência e aperfeiçoar seus estudos na área
das Ciências Naturais. Para tanto, precisará convencer seu pai a deixá-la se
reunir aos Parker, um casal de cientistas norte-americanos. O que Eloíse não
esperava, era se meter numa confusão com Adrian, o sobrinho dos Parker.
Após um encontro inesperado, Eloíse e Adrian se veem às voltas com uma
forte atração que ditará o rumo de suas vidas.
Uma Aventura para Eloíse é um spin-off da Série Belle Époque,
ansiosamente aguardada pelas fãs da saga, que em formato de conto, narra
parte da mocidade de Eloíse, a filha sapeca de Felipe Gusmão de
Albuquerque e uma das personagens mais cativantes da Série.
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SINOPSE
O sonho de Lenita é se casar com um homem honrado e viver feliz
para sempre. Como é a caçula da família, o pai de Lenita exige que suas
irmãs mais velhas se casem antes, rejeitando, assim, todos os candidatos à
mão da jovem. Quando sequestrada, Lenita conhece Dimitri Petrova, um
mafioso russo que foi enviado ao Brasil para convencer Yuri Volkov a
retomar os negócios da Máfia Russa. Prática e cheia de vida, Lenita se
apaixona pelo seu sequestrador em meio às confusões arranjadas por Flora,
sua melhor amiga.
Um Marido para Lenita é o spin-off de Uma Paixão para Flora, o livro 2 da
Série Belle Époque. Os acontecimentos deste conto são narrados pela
destemida e determinada Lenita Moreira Sales, mais uma personagem
fascinante da Saga.
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SINOPSE
Apaixonada por arquitetura e história, Camila Rossini sonhava se
tornar uma arquiteta para trabalhar com restauração e conservação de prédios
históricos. Jovem, linda, de personalidade forte e destemida, perfeccionista e
detalhista ao extremo, Camila precisou assumir a presidência da construtora
da família quando seu irmão mais velho sofreu um grave acidente de trânsito.
Empenhada em manter os negócios da família, Camila deixa de lado
seus sonhos e passa a viver para a empresa durante anos. Depois de um longo
noivado, é abandonada no altar, o que a leva a questionar as escolhas que fez
na vida e a embarcar numa viagem para o exterior.
Ao retornar para o Brasil, Camila decide recomeçar sua vida e realizar
seus antigos sonhos. Muda-se para o Rio de Janeiro e aceita o cargo de
assistente do genioso e controlador Murilo Mendonça Castro de Alcântara,
um arquiteto talentoso e um mulherengo incorrigível. Uma forte atração
surgirá entre os dois, fazendo-os sucumbir a uma tórrida paixão, que poderá
mudar o curso de suas vidas para sempre.
Quando ela chegou é o primeiro livro da Triologia Ela, que narra os
encontros de casais de mundos diferentes que descobrem no amor seu elo
mais profundo.
ELA É MINHA
Trilogia Ela, 2
Disponível em e-Book
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SINOPSE
Em Quando ela chegou, o livro 1 da Trilogia Ela, conhecemos o
charmoso e divertido arquiteto Eduardo Botelho Neves, o Edu. Abalado com
o casamento de Murilo e Camila, a quem nutria uma paixão, Edu prefere se
afastar dos amigos.
Depois de muita insistência, Edu aceita o convite de Murilo para uma
confraternização em sua casa, onde conhece Maria Lúcia Oliveira de Souza, a
Malu, uma cientista com doutorado em física nuclear, que retorna ao Brasil
para resolver pendências de seu misterioso passado.
O que Edu não esperava era se ver às voltas com a cientista e
apaixonar-se por ela. Porém, Malu não quer se relacionar com ninguém,
dificultando e criando barreiras para que Edu se aproxime.
Edu, um conquistador nato e um sedutor experiente, não mede
esforços para conquistar Malu, usando todas as suas habilidades para atrai-la
para sua cama. Ele a quer muito e ela se deixa levar pelo prazer. A atração
entre os dois passa a ser irresistível e uma perseguição entre eles se inicia,
levando-os a descobrir e a experimentar sentimentos nunca antes vividos.
Ela é minha é o segundo livro da Trilogia Ela, que narra os encontros
de casais de mundos diferentes que descobrem no amor seu elo mais
profundo.
Faz parte desta edição, como bônus especial, o conto Ela é Perfeita.
SEMPRE FOI VOCÊ
Disponível em e-Book
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SINOPSE
Depois de uma década e de escolhas erradas, Pedro reencontra a
mulher de sua vida. Pedro e Melissa foram namorados na juventude, mas o
destino os impediu de ficar juntos. Melissa casou-se com o melhor amigo de
Pedro após ter fugido para o exterior. Pedro, por sua vez, casou-se com a
irmã mais nova de Melissa. Com o retorno de Melissa ao Brasil, agora viúva,
a paixão adormecida entre os dois renasce ainda mais forte.
Preso a um casamento fracassado, Pedro precisará lutar para
reconquistar o amor e a confiança de Melissa. Em meio a segredos e intrigas
familiares, poderá o amor ser capaz de vencer?
AO SR. L, COM AMOR
Disponível em e-Book
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SINOPSE
Através de cartas não enviadas ao Senhor L., o amor idealizado da
Senhorita S., conheceremos a transformação de uma menina tímida em uma
mulher realizada e segura de suas escolhas. A primeira carta foi escrita no
aniversário de 15 anos e, a partir de então, a cada 5 anos, a Senhorita S.
escreveu uma nova carta, onde relatou os principais fatos, conquistas e
sentimentos dos últimos anos de sua vida e as marcas que um amor não
correspondido deixou em sua alma. A última e derradeira carta foi escrita,
após um encontro dos dois, 20 anos depois da primeira carta. Na última carta,
a senhorita S. despede-se definitivamente da menina que um dia foi e dá
boas-vindas à mulher madura e feliz que se tornou.
Diane Bergher é gaúcha de nascimento. Adotou Florianópolis
como o lugar para viver com o marido e filho. É advogada com duas
especializações na área e formação em coaching e mentoring. Uma leitora
compulsiva e escritora por vocação, acredita que sonhar acordada, fantasiar
mundos e transformar realidades é a vocação da sua alma. Quando Ela
Chegou, sua primeira obra, foi lançada na internet. Com um texto delicado e
sensível, o romance conquistou o público feminino do site em que está
hospedado.
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