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Registro: 2020.

0000349956

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Habeas Corpus Cível


nº 2063199-64.2020.8.26.0000, da Comarca de São Paulo, em que é
impetrante D. P. DO E. DE S. P. e Paciente L. R. P. (MENOR).

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da Câmara Especial


do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão:
Denegaram a ordem. V. U., de conformidade com o voto do relator, que
integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores LUIS


SOARES DE MELLO (VICE PRESIDENTE) (Presidente sem voto),
MAGALHÃES COELHO(PRES. DA SEÇÃO DE DIREITO PÚBLICO) E
DIMAS RUBENS FONSECA (PRES. DA SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO).

São Paulo, 18 de maio de 2020.

GUILHERME G. STRENGER (PRES. SEÇÃO DE DIREITO CRIMINAL)


Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO Nº 46.484
HABEAS CORPUS Nº 2063199-64.2020.8.26.0000
Comarca: São Paulo (Execução de Medidas Socioeducativas nº
0001716-56.2019.8.26.0015)
Juízo de Origem: DEIJ Departamento de Execuções da Vara Especial da Infância e
Juventude
Impetrante: Defensoria Pública
Paciente: L.R.P.

HABEAS CORPUS Infância e Juventude Ato infracional


equiparado ao crime de roubo majorado – Adolescente em
cumprimento de medida socioeducativa de internação na Casa
CEDRO, que é objeto de medidas cautelares pela Comissão
Interamericana de Direitos Humanos (Procedimento MC 302/15)
Pandemia causada pelo coronavírus (COVID-19) Alegação de
ausência de médicos na unidade Invocação da Recomendação CNJ
nº 62/2020 Pedido de substituição da internação por liberdade
assistida - Manutenção da internação Ausência de ilegalidade
Decisão fundamentada Constrangimento ilegal não evidenciado
Ordem denegada.

VISTOS.

A Defensoria Pública impetra ordem de


habeas corpus em favor de L.R.P., que foi
responsabilizado pela prática de ato infracional
equiparado ao crime de roubo majorado, com
aplicação de medida socioeducativa de internação
(Execução de Medidas Socioeducativas nº

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0001716-56.2019.8.26.0015, do Departamento de
Execuções da Vara Especial da Infância e Juventude
DEIJ).

Sustenta, em síntese, estar o


paciente sofrendo constrangimento ilegal, pois
“cumpre medida socioeducativa de internação no
CASA Cedro, unidade Complexo Raposo Tavares que
é objeto de medidas cautelares pela Comissão
Interamericana de Direitos Humanos no bojo do
procedimento MC-302-15” (fls. 03), e, além disso,
“na Unidade de Atenção Integra à Saúde do
Adolescente (UAISAS) que atende o Complexo
Raposo Tavares onde está localizada a unidade
CEDRO há apenas dois médicos que, no momento,
estão afastados; um deles por problema de saúde e
outro por se encontrar na classificação de risco
para o novo coronavírus” (fls. 03), conjuntura esta
que motivou a formulação de “pedido de
reavaliação da medida socioeducativa de
internação, que restou indeferido pelo MM. Juízo do
DEIJ, em completo desacordo com os princípios e
objetivos da legislação aplicável” (fls. 05).

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Por isto, pleiteia o deferimento de


liminar e, ao final, a concessão da ordem, para
“cassar a decisão de primeiro grau, reavaliando-se,
a medida socioeducativa em curso para substituí-la
por liberdade assistida” (fls. 05).

Indeferida a liminar (fls. 60/65), foram


dispensadas as informações, tendo a douta
Procuradoria Geral de Justiça opinado pela
denegação da ordem (fls. 72/76).

É o relatório.

Extrai-se dos autos que o paciente


cumpre medida socioeducativa de internação, em
virtude da prática de ato infracional equiparado a
crime de roubo majorado. Além disso, possui
histórico infracional, tendo cumprido anteriormente
medidas socioeducativas em razão da prática de
atos infracionais correspondentes a roubo majorado
e tráfico de drogas (fls. 95/96 dos autos da
Execução de Medidas Socioeducativas nº
000096-81.2018.8.26.0015).
Segundo consta, diante da pandemia

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de Covid-19 e da Recomendação CNJ nº 62/2020,


foi solicitada a reavaliação da medida
socioeducativa de internação, para que fosse
substituída pela liberdade assistida (fls. 41/42), o
que restou indeferido (fls. 55/56).
Pretende a defesa seja substituída a
medida de internação pela de liberdade assistida.
Contudo, é o caso de denegar a ordem.
Com efeito, há que se conservar, na
espécie, a manutenção da medida socioeducativa de
internação, eis que bem fundamentada sua aplicação
e manutenção, haja vista a necessidade e
excepcionalidade delineadas no caso concreto (fls.
55/56).
Aliás, a autoridade apontada como
coatora assentou que, verbis:
“(...) na petição da Defensoria Pública não há
menção a qualquer condição de saúde que pode
ser agravada em eventual surto de COVID-19 na
unidade. Como recentemente estabelecido pelo
Conselho Superior da Magistratura paulista no
provimento 2546/2020, é caso de se colocar o
educando em liberdade quando há a presença de
dois requisitos: a) doenças que podem ser
agravadas com a COVID-19, tais como doenças
pulmonares crônicas, portadores de cardiopatia,
diabetes insulinodependentes, insuficiência renal
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crônica, HIV, doenças autoimunes, cirrose


hepática, em tratamento oncológico; b) o ato
infracional não ter sido praticado mediante
violência ou grave ameaça. Por oportuno, saliento
que a Douta Juíza Corregedora do DEIJ já editou
portaria instruindo a Fundação CASA a informar
de plano educandos que se enquadrem na previsão
do referido provimento. No presente caso, verifico
que o primeiro requisito não se encontra
preenchido, o que inviabiliza o pleito defensivo.
Ademais, lendo o relatório de fls. 97/103, verifico
que o educando passa por atendimentos na
enfermaria, não existindo qualquer indício que
sua saúde esteja sendo negligenciada no CASA
Cedro na atualidade. É caso de se aguardar por
novos relatórios de acompanhamento.” (fls. 55/56)

Ressalte-se que o Provimento CSM nº


2546/2020 determina a liberação dos adolescentes
que cumprem medida socioeducativa de internação
apenas quando não tenham praticado ato infracional
equiparado a crime com violência ou grave ameaça
(recordando-se que a medida de internação foi
aplicada, in casu, pela prática de ato infracional
equiparado a crime de roubo majorado pelo
concurso de agentes) e que sejam portadores de
doenças que possam ser agravadas com a COVID-19,
não havendo nos autos nenhuma prova neste

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sentido.
Noutro vértice, muito embora o artigo
3º, inciso I, alínea a, da Recomendação nº 62/2020
do Conselho Nacional de Justiça recomende “a
reavaliação de medidas socioeducativas de
internação e semiliberdade, para fins de eventual
substituição por medida em meio aberto, suspensão
ou remissão”, fato é que, na espécie, sobretudo
diante da gravidade concreta da hipótese em tela
ato infracional cometido com violência e/ou grave
ameaça à pessoa , bem como em razão do histórico
do adolescente que praticou outros atos infracionais
graves e cometeu falta disciplinar em 28.06.2019,
durante o cumprimento da medida socioeducativa
em questão (apologia ao Primeiro Comando da
Capital - fls. 48/52 dos Execução de Medidas
Socioeducativas nº 0001716-56.2019.8.26.0015), a
substituição pleiteada não se afigura, ao menos por
ora, adequada.
Ademais, tenho para mim que a
alegação defensiva no sentido de que o paciente
encontra-se recolhido em unidade de internação
que, “reconhecidamente pela Comissão
Interamericana de Direitos Humanos, não reúne

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condições adequadas ao cumprimento da medida


socioeducativa e não dispõe de equipe médica de
saúde” (fls. 03) amparada em documento datado
de 21 de julho de 2016 (fls. 45/54) , não se afigura
plausível.
A propósito, vê-se ter o d. Magistrado
de Primeira Instância anotado que, verbis:
“Ademais, lendo o relatório de fls. 97/103, verifico
que o educando passa por atendimentos na
enfermaria, não existindo qualquer indício que
sua saúde esteja sendo negligenciada no CASA
Cedro na atualidade” (fls. 55).

Inadmissível, assim, a imediata


substituição da medida socioeducativa de
internação por liberdade assistida, porquanto
ausente qualquer constrangimento ilegal que deva
ser reparado por meio da presente impetração.
Em suma, afigura-se acertada, na
situação concreta, a manutenção, ao menos por ora,
da medida socioeducativa de internação.

Diante do exposto, denego a ordem.

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GUILHERME G. STRENGER
Presidente da Seção de Direito Criminal
Relator

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