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Universidade Federal de Santa Catarina

Centro de Filosofia e Ciências Humanas


Historia – Introdução aos Estudos Históricos
Prof.ª Rodrigo Bragio Bonaldo
João Vitor Antunes Camargo

Nicolazzi, Fernando. Muito além das virtudes epistêmicas. O historiador público em um


mundo não linear, Rio de Janeiro: Revista Maracanan, 2018. p. 19-34.

p. 19 O autor inicia o texto ao abordar um debate latente na historiografia


atual, a conjunção entre epistemologia, ética profissional, e política. O
primeiro perigo apontado na reflexão é a possível imposição dogmática
da mesma. O segundo, a possível pretensão de discurso universal no que
se aplica a dinâmica entre ética de trabalho e posição política.
p. 20 Ainda sobre o segundo perigo, concluísse pela valorização do dissenso
como procedimento constitutivo. Considerando os problemas ele propõe
um duplo encaminhamento, sendo o primeiro, ao abordar a disciplina de
historiador, abranger algo que vá além das validações normativas da
mesma, considerando assim “técnicas de sí”.
p. 21 Propõe-se uma reflexão num exercício profissional do historiador, que é
pensada para academia, mas que responde demandas públicas que vão
além da epistemologia ou disciplina. Problematiza a reflexão
epistemológica focada em seus postulados de produção, propondo em
seguida uma atenção voltada aos planos de circulação e,
consequentemente, à audiência.
p. 22 O autor traz como exemplo uma palestra de Leandro Karnal. Ao abordar
o grupo contratante da palestra evidencia a pretensão de inspiração
empreendedora empregado no discurso da empresa.
p. 23 Adentrando então no discurso do Karnal, um historiador disciplinado
exercendo uma intervenção pública, ressalta-se como o caráter mercantil
se impregna no discurso contra o individualismo, sendo este levemente
apoiado na erudição do discursante.
p. 24 O autor ressalta também o caráter meritocrático do discurso de Karnal,
que se baseia em sua própria biografia para tal, algo que o autor ironiza.
p. 25 Finaliza a abordagem ao primeiro exemplo após denotar o caráter
imperativo presente no mesmo. No segundo exemplo, de 2 anos antes,
temos o mesmo Karnal discursando agora para seus pares acadêmicos de
um curso de história. Agora com um discurso marcado pela aversão ao
empreendedorismo e pinceladas de conteúdo mais próximo de sua
audiência.
p. 26 Seguindo no mesmo discurso no meio acadêmico, encontra-se também
a aversão a autoajuda e a teologia da prosperidade, ambos presentes em
seu discurso futuro. Então, finalizando o exemplo, o autor cita como
Karnal finaliza o discurso ressaltando a importância de o historiador ter
seu enfoque no grande público, e de fazer de sua linguagem a mais
agradável possível. Após isso, Nicolazzi denota a proximidade do
gestual dos dois discursos, contida em os seus procedimentos
sensivelmente distintos.
p. 27 Continua-se a abordagem comparativa dos dois exemplos, ironizando as
mudanças no discurso de Leandro Karnal. O autor questiona, então,
como a persona do historiador se aplica nesse individuo em específico,
sendo então uma dimensão de tal persona ancorada nas virtudes que o
auditório estabelece como demanda, e o bom intelectual como definido
em parte pela capacidade de se adaptar a essa mesma demanda.
p. 28 É apontada a proximidade das questões do que o historiador oferece e do
que a sociedade espera dele. Sendo assim, a ética focada unicamente na
verdade do discurso é dada como insuficiente, sendo apontadas
necessidades dela de se lidar com quem recebe o discurso, o que se faz
com ele e como ele vem a funcionar.
p. 29 O autor aborda as relações de poder presentes no discurso de 2017,
considerando assim a forma como o discurso faz o empregado se
confundir com empreendedor. Põe-se em paralelo os dois discursos e se
questiona então a natureza da disparidade entre eles, levantando que
talvez a mesma seja fruto do mesmo contexto/raciocínio. Autor inicia a
indagação a respeito de uma proximidade entre empresa e universidade.
p. 30 Nicolazzi, baseando-se ainda em Pierre Dardot(1952-) e Christian
Laval(1953-), argumenta que a persona de Karnal é fruto de um quadro
fundamentado no neoliberalismo contemporâneo, e assim o reproduz.
p. 31 Leandro Karnal é abordado como, enquanto conselheiro, não só quem
entrega um produto, mas em parte um produto em si. É apontado também
a desconexão entre o produto oferecido pelo mesmo em seu site, e o
conteúdo normalmente pertencente ao repertorio do historiador. Por fim,
pontua-se que as duas palestras se complementam na estruturação desse
historiador, que prioriza sua flexibilidade ao mercado de trabalho.
p. 32 O autor localiza a atuação desse historiador publico no contexto de crise
que contem riscos diretos a existência de formas de educação
democráticas e plurais. Questiona-se então como é possível lidar com
uma abertura do saber histórico se ele é localizado em meios que se opõe,
apenas por existir, a sociedade neoliberal para qual se abriria.
p. 33 Nicolazzi afirma então que a continuidade desse debate, sobre a relação
do neoliberalismo com a abertura do conhecimento, extrapolaria os
limites do artigo, mas afirma que o foco na atuação do historiador
público no mundo contemporâneo foi bem colocado. Por fim ele conclui
o texto recorrendo a um paralelo entre o historiador público, focada em
satisfazer a audiência, com Tucídides e Heródoto na Grécia antiga.
p. 34 Resumo da carreira de Nicolazzi.

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