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Prof.

Moisés

COMER, BEBER E RESPIRAR

Um guia de aprendizagem para controlar


a ansiedade com técnicas respiratórias de mindfulness

Curitiba-PR
2019
Copyright by Jefferson Moises Santos da Silva 2019

Todos os direitos reservados ao autor


Proibido a reprodução total ou parcial sem a autorização prévia do
proprietário intelectual da mesma.

Revisão
Álvaro Posselt

Editoração eletrônica e capa


Eduardo Santos Melo

Ilustração
Internet

Impressão e acabamentos
Ogg Digital Grafica

Dados Internacionais de Catalocação na Publicação


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Moises Santos da Silva, Jefferson.


Comer, Beber e Respirar / Prof. Moises. Curitiba 2019

14x21 84 p. com ilustrações.

1. Auto ajuda 2. Auto conhecimento 3. Exercícios I. Título

ISBN 978-65-901180-0-4

CDD: 158.1

F 118, (789.797/ L 1.534)

Índice para catálogo sistemático:


Auto ajuda : Psicologia aplicada 158.1
Dedicado à Dona Elza, minha mãe,

e a você!
Ao compor um verso
respiro e nele insiro
todo o universo

Alvaro Posselt
Introdução

Comer, beber ou respirar?

Basta pararmos de respirar por alguns segundos para


percebermos a importância da respiração em nossa vida.
Porém, poucos têm esse conhecimento. Estimo que 95% da
população mundial respirem superficialmente e de modo
automático, sem nenhuma participação da capacidade
cognitiva. Ou seja, respiram acordadas do mesmo modo que
dormindo. Sem nenhuma participação da atenção plena, sem
mindfulness.

O que proponho aqui é um “abc” do controle


respiratório para que a respiração deixe de ser algo
fisiológico e meramente automático para envolver a força de
vontade aliada ao processo cognitivo. Em poucas palavras,
uma respiração alfabetizada que envolva mindfulness,
palavra que pode ser traduzida como Atenção Plena.

Acontece que na teoria é tudo muito simples, mas na


prática é outra história. Por isso considero interessante
começar com a pergunta: O que é mais importante: comer,
beber ou respirar?

Sabemos que é possível viver por semanas sem


comida, por dias sem água, mas não podemos ficar mais do
que alguns minutos sem respirar.

Então pergunto agora:

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– Com o que você se preocupa mais: comer, beber ou
respirar?

A maioria se preocupa com a comida, pode até ser


que alguns durante o dia bebam mais água, porém, uma coisa
é praticamente certa: poucos realizam respirações de modo
consciente, ou seja, com Atenção Plena – Mindfulness.

No Oriente existe uma consciência maior sobre o


assunto. Temos o tai chi chuan chinês, o aikido japonês e o
yoga da Índia. No yoga a respiração é conhecida como
PRANA, assim como o KI do aikido e o CHI do tai chi
representam algo muito maior que um exercício envolvendo a
respiração. Trata-se da própria energia vital. Um o “sopro de
vida” dado por Deus. O Big-Bang que marca o início de uma
existência.

Deixemos um pouco de lado o aspecto teórico e


vamos diretamente à questão prática.

Faça isso agora mesmo! Experimente a sensação de


soltar o ar e ficar sem respirar o maior tempo possível!

Agora responda: o que você pensou enquanto esteve sem


ar? __________________________________________.

Neste livro, relato algumas experiências dos diversos


anos que venho utilizando e também possibilitando o ensino
da meditação - sem qualquer pretensão mística ou filosófica -
para atuar diretamente no ponto principal: O aprendizado do
controle respiratório como proposta educativa de Atenção
Plena.

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E assim você pode utilizar o controle da respiração
como uma estratégia metacognitiva capaz de atuar no
controle da ansiedade, aumento do poder de concentração,
fortalecimento da autoestima, aperfeiçoamento das relações
interpessoais e vivência da prática meditativa visando a
melhoria da qualidade de vida nos mais diversos ambientes
sociais, entre eles, escolas, academias e empresas dos mais
variados setores.

“Respirar todo mundo respira, o negócio é saber respirar”


foi um dos depoimentos mais impressionantes que ouvi ao
longo de quase duas décadas realizando aulas, palestras e
workshops no Brasil e no exterior sobre técnicas de
meditação.

Portanto, para termos melhor qualidade de vida,


precisamos despertar a noção de que podemos aprender
sobre algo tão simples e de vital importância em nossa vida
– e que não damos a menor importância – que é saber
respirar.

Ao estabelecer uma relação entre a ansiedade e os


benefícios da atenção respiratória na diminuição da
ansiedade, fica fácil perceber que respirar de forma lenta,
profunda e ritmada acalma a mente, aumenta a confiança em
si mesmo e proporciona também melhores noites de sono,
contribuindo, inclusive, como um excelente recurso auxiliar
nos tratamentos de casos de ansiedade, TDAH, síndrome do
pânico, síndrome do pensamento acelerado e depressão.

Respirar com atenção plena (mindfulness) pode ser


também uma oportunidade de mudança, como no caso de
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uma destemida professora de uma escola onde palestrei na
semana pedagógica, que, ao ser questionada sobre o que é
ansiedade, desabafou: “É tudo aquilo que eu sinto no meu dia
a dia”.

Acontece que a maioria das pessoas não sabe da


relação entre a ansiedade e a respiração superficial. Já os que
sabem, em grande parte, não possuem o conhecimento de
como se deve realizar uma respiração profunda. Ao longo da
leitura, você talvez se identifique com um destes dois grupos e,
certamente, aprenderá a respirar de modo a controlar a
ansiedade, aumentar seu poder de concentração e até mesmo
iniciar a vivência da prática meditativa.

Então para que esperar? Comece agora a descobrir os


segredos de um bom controle respiratório e dê os primeiros
passos em direção a uma vida mais saudável, plena e feliz.

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Primeira parte
Respire, você está vivo!
Para quem está cansado, tenso, estressado, ansioso,
deprimido ou sofrendo de uma terrível síndrome do pânico,
nada melhor do que respirar! Não da maneira habitual, como
se respira na correria do dia a dia, mas respirar de forma lenta,
profunda e ritmada, aliando a isso pequenas pausas
respiratórias sem ar nos pulmões.

Respirar com atenção plena é uma excelente


oportunidade para se perceber, no simples ato de respirar,
uma essência comum a todas as coisas: a eterna renovação da
vida.

Respirar é algo tão importante que podemos passar


dias sem comer, horas sem beber água, mas não somos
capazes de permanecer mais do que uns poucos minutos sem
respirar. O que comprova a função magna da respiração.

Em Gênesis, numa das metáforas mais antigas sobre o


surgimento da vida, Deus moldou o homem do “barro da
terra” e colocou nele sua “respiração”, e o homem tornou-se
um sopro de vida.

Portanto, da primeira respiração de um recém-


nascido até o último suspiro de um moribundo, temos uma
longa história de respirações. Para muitos, uma longa história
de respirações incorretas e puramente fisiológicas. Ou seja,
sem nenhuma alfabetização. O mesmo acontecia comigo e
pode ser que ainda aconteça com você.

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De acordo com Ramacharáca, um renomado yogue
indiano que viveu no século passado, a porcentagem de seres
humanos civilizados que respiram corretamente é muito
pequena. O resultado disso se evidencia no peito contraído,
nos ombros curvos, no terrível aumento das doenças dos
órgãos respiratórios e também nos casos de ansiedade e
depressão.

Nietzsche certa vez escreveu que só a enfermidade o


trouxe à Razão. Comparações à parte, o mesmo aconteceu
comigo. Foi somente quando me vi deitado em uma cama de
hospital com o diagnóstico de tuberculose em mãos é que a
vida começou a ter um significado diferente. Diante daquela
situação, minha razão compreendeu a morte, a incerteza, a
impermanência e a imprevisibilidade da vida. E não apenas
isso. No meu retorno para o apartamento onde morava,
localizado no terceiro andar de um edifício sem elevadores,
percebi que não conseguiria chegar em casa sem realizar as
inevitáveis pausas para retomar o fôlego.

Ao sair do hospital, tive de voltar para casa e ficar


recolhido por três meses. A experiência de ter vivido aqueles
momentos de pensamentos de ansiedade, distanciamento e
solidão foram também fundamentais para que eu desse início
ao que considero hoje como sendo o começo de um
aprendizado da respiração, pois somente quando fiquei sem ar é
que percebi a importância do papel que a respiração
desempenha na nossa vida. Em especial quando aliamos a
cada inspiração e expiração afirmações que atuam no campo
da neurolinguística, como por exemplo: inspirando eu contemplo
a natureza impermanente de todas as coisas... Expirando eu observo a
natureza impermanente de todas as coisas... E assim por diante!

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Diversas fórmulas podem ser criadas para facilitar
os momentos em que somos invadidos pelo medo, tristeza,
raiva ou ansiedade, mas o que importa agora é
primeiramente aprender que existe na respiração algo mais
que trocas gasosas e fazer um bom uso deste novo capital de
conhecimento.

Em Lao Tsé, por exemplo, temos a descrição sobre a


importância de se regular o “sopro maleável” como no recém-
nascido e, na Bíblia, a metáfora do surgimento da vida através
de um “sopro vital” dado por Deus, conforme descrito em
Gênesis. Já no Alcorão, a força vital é referenciada como
sendo Allah, que a quem quer encaminhar (...) Dilata-lhe o
peito para o Islã e quem quer desviar, oprime-lhe o peito.

Portanto, através de uma estratégia de pensamento


lógica e simples, podemos concluir que a nossa dimensão
espiritual também encontra na respiração sua manifestação
mais imediata diante da vida.

Por exemplo, fomos educados para não chegar e


comer direto na panela. Primeiro pegamos um prato e nos
servimos. Não é assim? Com a respiração acontece da mesma
maneira. Nós retiramos da atmosfera através de algumas
respirações profundas e conscientes a energia necessária
naquele momento.

Para que isso aconteça, é importante aprender sobre a


importância da respiração e assim darmos um passo rumo a
uma mudança de paradigma radical, pois indo na fonte da
vida, passaremos de um simples respirar para não morrer
para um inovador respirar para viver!

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Trata-se de uma reforma do pensamento que, na
opinião do filósofo Edgard Morin, permite o pleno emprego
da inteligência para responder a desafios interdependentes,
permitindo a ligação das culturas dissociadas. Uma reforma
paradigmática, concernente à nossa aptidão para organizar
este conhecimento totalmente novo, que é cultivar o hábito de
se estar presente em cada respiração para assim começarmos a
descobrir, como escreveu Paulo Freire, que é possível um vir a
ser mais como seres evolutivos.

Existe inclusive um provérbio oriental que diz: Se


pararmos de respirar, morreremos. Se respirarmos melhor,
viveremos melhor. Quanto mais profunda for a nossa
respiração, mais profunda será a nossa consciência.

***

Depois de ter me recuperado da tuberculose, comecei a


praticar yoga. E foi assim que descobri a importância de se
manter em um estado de atenção plena a cada respiração.

Naquela época eu estava trabalhando na área


empresarial e aproveitei a oportunidade para idealizar um
projeto chamado RESPIRE FUNDO, pois comecei a perceber
que assim como eu, muitas pessoas que se queixavam de
ansiedade, síndrome do pânico, depressão, hiperatividade ou
déficit de atenção possuíam algo em comum: ELAS
RESPIRAVAM SUPERFICIALMENTE.

Realizei uma série de palestras intituladas Motivação


de A a Zen nas mais diversas empresas com o objetivo de
informar que os estudos da Organização Mundial de Saúde –
OMS começavam a demonstrar que A DEPRESSÃO VIRÁ

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A SER A PRINCIPAL DOENÇA NO MUNDO. Sendo que
nos mesmos estudos a ansiedade estava na origem de 40% dos
casos de depressão.

De acordo com os especialistas, a depressão é uma


epidemia silenciosa que gera custos econômicos e sociais
devido a gastos com tratamentos, perdas na produção e
sequelas inimagináveis na psique e na vida dos indivíduos
portadores dessa doença. Mais do que mal estar, prejuízos
econômicos e sociais, a depressão também causa mortes.
Estima-se que do total de um milhão de pessoas que se matam
anualmente, 60% delas sejam portadoras de depressão.

Os especialistas dizem ainda que os países em


desenvolvimento são os mais atingidos porque a depressão
possui diversas causas, algumas delas biológicas, mas parte
dessas causas vem de pressões sociais. E as pessoas serão
afetadas ainda mais em função do estresse em seu dia a dia.

Interessou-me o fato de saber que a ansiedade estava na


origem de quatro em cada dez casos de depressão e por isso
decidi ir atrás de mais informações sobre “O que é
ansiedade?”. Mais ainda, eu queria descobrir como as pessoas
estavam avaliando seus níveis de ansiedade: “Normal, Média
ou Alta?”.

Eu cursava psicopedagogia quando percebi que um


local muito interessante para esclarecer minha curiosidade
sobre a ansiedade seria em uma escola, afinal a escola
funciona como um microcosmo da nossa sociedade.

Depois de anos realizando o projeto RESPIRE


FUNDO em empresas e academias, havia chegado o

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momento da apresentação em uma escola. O tema foi
justamente sobre os efeitos da ansiedade na aprendizagem, que
acabou sendo o título do meu primeiro livro.

Lembro-me de que iniciei meu discurso contando a


seguinte estória:

Dois lenhadores saíram logo cedo para cortar lenha, pois um


inverno rigoroso se aproximava. Ao final do dia, exaustos, começaram
a juntar os pedaços que haviam cortado e um dos lenhadores, que
havia trabalhado sem um minuto sequer de descanso, começou a
comparar o trabalho dos dois. Para seu espanto, seu colega tinha
cortado muito mais lenha do que ele.

Surpreso, indagou:

– Como é possível que você tenha cortado mais lenha do que


eu se em vários momentos do dia eu vi você ficar sentado sem fazer
nada?

Com certo espanto, seu colega respondeu:

– Naquelas horas que você me viu sentado, eu não estava sem


fazer nada. Eu estava era afiando o meu machado!

Em minha opinião – falei para o público presente –


estamos trabalhando demais, estudando demais, enfim,
fazendo coisas demais, achando que estamos produzindo
muito quando, na verdade, nossa mente está cansada.

Respirar profundamente é afiar a mente para


aumentarmos nossa concentração e ficarmos mais atentos ao
momento presente.

Questionei a plateia:
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– O que é mais importante: comer, beber ou respirar? A
resposta é simples, esclareci. Enquanto estou conversando
com vocês, ninguém precisou comer nem beber absolutamente
nada. Mas já usamos, aproximadamente, trinta ou mais das
vinte mil respirações que fazemos diariamente.

Dentro de uma empresa, do faxineiro ao presidente,


todos respiram; nas instituições escolares, todos respiram;
brancos, índios, mulatos, pobres e ricos, honestos e ladrões,
todos respiram. A respiração é um ponto em comum entre os
seres humanos e a natureza. Acontece que estamos nos
tornando pessoas ansiosas, que respiram superficialmente. E
corremos também o risco de nos tornarmos pessoas
superficiais. A todo instante estamos, literalmente,
desperdiçando nosso tempo com preocupações infundadas e
problemas imaginários.

E por falar em tempo... Antes se dizia “tempo é


dinheiro”, numa alusão de que trabalhando mais, teríamos
mais dinheiro. Hoje esse paradigma começa a se romper e
muitas pessoas estão percebendo que o tempo é a maior
riqueza, tanto que essa é uma das principais tendências do
Século XXI: a valorização do tempo das pessoas e
organizações. Em seguida, vem a valorização da
individualidade e, logo atrás, da qualidade de vida.

E o que dizer das pressões enfrentadas pelas pessoas


ainda mais com o aumento dos índices de ansiedade de um
modo geral? Se pudesse dar um conselho, seria este:

– Respire Fundo!

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Segunda parte

Respira a ti mesmo

Quando comecei a praticar yoga, entendi a


importância da respiração para a saúde e descobri que a
maioria das pessoas respira de forma superficial,
independentemente da idade. Em definitivo, essa ansiedade
generalizada que verificamos na nossa sociedade se dá por
falta de conhecimento de que a solução está bem debaixo do
nariz... Respirar conscientemente!

Por exemplo, existe uma técnica muito simples para


controlar a ansiedade que consiste em soltar o ar e manter-se
sem respirar o maior tempo possível. Logo em seguida inalar
de forma lenta, profunda e ritmada sentindo a expansão
abdominal. Simples não quer dizer fácil, porque o maior
desafio é a tomada de consciência para nos recordarmos da
respiração e o relaxamento da musculatura do baixo ventre
para realizarmos a expansão abdominal.

Podemos utilizar outros recursos para facilitar a


atenção plena sobre a respiração como no exemplo a seguir:

Inspirando, eu sinto alegria; expirando, eu relaxo


meu corpo!

Outra técnica muito interessante consiste em acolher


as emoções que nos causam sofrimento e devolvê-las de
maneira oposta:

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Inspirando, eu acolho meu sofrimento; expirando,
eu o devolvo em forma de amor.

E assim outras afirmações podem ser utilizadas como,


por exemplo, quando se está cansado.

Inspirando, eu obtenho maior disposição;


expirando, eu me liberto de todo meu cansaço.

Nos estudos ou trabalho, é possível dizer para si


mesmo:

Inspirando, eu alcanço maior concentração;


expirando, eu me liberto da minha desatenção.

Ou seja, o segredo para tranquilizar os pensamentos


está relacionado com o controle da respiração, principalmente
em se tratando do controle da ansiedade.

Se existisse um “ansionômetro” – aparelho


imaginário para medir o nível de sua ansiedade – qual seria o
resultado?

( ) Normal ( ) Médio ( ) Alto

O que tenho observado é uma tendência a níveis de


ansiedade cada vez mais altos sem que as pessoas saibam
como se libertar desse tipo de sofrimento.

Poucos sabem da relação que existe entre ansiedade e


respiração bloqueada, por isso tantas pessoas recorrem à
medicação. Acontece que é como você engessar o braço e ficar
com ele assim por toda a vida mesmo sabendo que a fratura já
foi curada. Os medicamentos servem por um tempo, mas não

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é algo para sempre. Ainda que façam bem, sabemos que
existem diversos efeitos colaterais.

Logo após a realização de algumas das técnicas


acima, complete a frase:

Quando eu respiro, sinto


______________________________________.

A resposta mais surpreendente que ouvi foi de uma


coordenadora do Ensino Médio:

– Sinto-me aliviada; estava me sentindo enlatada!

Perguntei a ela o que mais tinha aprendido com sua


respiração, e a resposta foi:

– Descobri que não sei respirar direito e que minha


respiração é curta.

Será que, assim como nossa amiga coordenadora,


você também descobrirá que não sabe respirar direito?

Para realizarmos uma respiração corretamente, é


necessário, além de aprendermos como se faz, termos uma
certa dose de atenção. Porém, estamos distraídos e apressados a
maior parte do tempo. Escovamos os dentes já pensando no
que faremos logo a seguir. E isso só acontece porque não
fomos educados para ter essa atenção que se aprende do
mesmo modo que se aprende a ler e a escrever: exercitando.

É por isso também que as pessoas que não foram


educadas para ter atenção tornam-se escravas de uma mente

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desgovernada e cometem muitos erros por simples falta de
atenção.

Você sabe do que estou falando e pode, inclusive,


perceber em si mesmo a falta ou dificuldade de atenção, bem
como notar nas pessoas ao seu redor.

No Damamphada, um antiguíssimo compêndio


budista, escrito milhares de anos antes de Freud, está escrito:

“O que és agora resulta do que já foste. O que serás amanhã


será resultado do que és hoje. As consequências de uma
mente perversa te seguirão como a carreta segue o boi que a
puxa. As consequências da mente purificada te seguirão
como sombra. Ninguém – pais, amigos ou parentes – pode
fazer por você mais do que sua mente governada. Uma
mente bem disciplinada gera felicidade.”

Encontrar um tempo para si mesmo é imprescindível,


afinal, a vida não vai parar ou ficar à nossa espera enquanto
juntamos os pedaços.

Será preciso fazer isso sozinho.

Quando muito, a vida, generosamente, coloca


pessoas ao nosso lado para nos incentivar a seguir em frente
com a jornada.

À medida que você for avançando em sua capacidade


de observar a si mesmo e ao seu próprio respirar, vai começar
a entender o que estou querendo dizer.

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Estamos respirando em todo lugar e a todo instante,
seja caminhando, dirigindo, aguardando na fila a nossa vez de
ser atendido ou mesmo no elevador enquanto aguardamos o
andar escolhido, por isso é possível realizar a seguinte técnica
respiratória:

– Exale no dobro do tempo de sua inalação e


imagine outro coração no lado direito do peito. Entre nele e
fique lá... Inspirando lenta e profundamente e exalando no
dobro do tempo, quantas vezes conseguir realizar esta
poderosa técnica de relaxamento emocional.

Talvez você consiga realizar duas ou no máximo três


repetições e depois algo tirará sua atenção. Perfeitamente
normal. Quando se recordar, realize novamente esta ou
qualquer uma das técnicas contidas neste guia de
aprendizagem.

Você notará que a técnica anterior de exalar no dobro


do tempo da inalação e imaginando um coração no lado
direito produzirá um efeito tranquilizador capaz, inclusive, de
promover uma revolução silenciosa neste músculo cansado de
tantas responsabilidades. A propósito, quando foi a última
vez que você sentiu os batimentos do seu coração?
Aproveite agora para colocar sua mão esquerda sobre ele e
ouvir o que ele tem para te dizer!

Talvez ele pergunte: – Será que você não está


conseguindo estabelecer as devidas prioridades em sua vida?
Como no caso do entendimento de que respirar é mais
importante, mas a vontade de comer se torna uma

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preocupação muito maior e acabamos nos esquecendo de
respirar?

Pode acontecer de você estar se preocupando em


como ganhar mais dinheiro para poder comprar um carro,
apartamento, uma viagem de férias, investir em um novo
projeto de sucesso, etc. Ou talvez tendo de lidar com o
sofrimento de uma doença, morte ou separação. A solução é
buscar integrar corpo, sentimentos e mente através da
respiração.

Você notará que as situações exteriores, sejam boas


ou más, não podem exercer total controle sobre você. Pelo
contrário, controlando a respiração estamos assumindo,
literalmente, o controle ao menos deste instante da nossa vida.
O que não significa que navegaremos em mares sempre
calmos, mas que o barco não vai afundar em caso de uma
tempestade.

Sobre esse assunto, o Dalai-Lama escreveu em Uma


ética para o terceiro milênio que há fortes razões para supor que
existe uma ligação entre a ênfase desproporcionada que é
dada ao progresso exterior e a infelicidade, a ansiedade e o
descontentamento da sociedade moderna.

Trata-se de alcançar um estado de equilíbrio material


e espiritual para se viver uma vida com mais plenitude.

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Terceira parte
Respirando complexidades!

É incrível perceber que pouco mais de meio século


depois ainda permanece vivo o “paradoxo brasileiro” descrito
pelo prêmio Nobel em Física Richard Feynman (1918-1988).
Quando esteve no Brasil, na década de 1950, Feynman
escreveu sobre o paradoxo brasileiro dizendo que entre os
estudantes do mundo inteiro, os jovens que conheceu no
Brasil eram os que mais se debruçavam sobre a física e os que
menos sabiam sobre a matéria. É a metáfora do lenhador em
plena evidência, alertando-nos da importância de respirar
profundamente para afiar o machado!

Como escreveu Mahatma Gandhi: aquele que usa


somente seu intelecto e não ocupa seu corpo não faz um
sacrifício completo. A menos que a mente, o corpo e a alma
trabalhem em uníssono, não podem ser empregados
adequadamente a serviço da humanidade.

Por exemplo, hoje já se sabe que uma mente ansiosa é


capaz de tensionar um músculo, e que o alongamento
muscular é capaz de distensionar a mente.

A ansiedade é um sinal de alerta, um aviso de que


estamos dando atenção em demasia às “coisas” do intelecto e
se esquecendo das coisas do corpo e da necessidade de
caminharmos ao ar livre.

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Tudo isso por conta da própria cobrança que
impomos a nós mesmos. Uma cobrança decorrente do modo
de pensar ocidental que, segundo Edgar Morin, é uma cultura
de especialização que tende a fechar sobre si mesma. Sua
linguagem torna-se esotérica, não somente para o mais
comum dos cidadãos, mas também para o especialista de
outra disciplina.

Essa cultura científica, segundo ele, produz um


“buraco negro” que esconde o próprio sujeito. Morin, citando
Husserl, assinala que os métodos científicos possuem
instrumentos maravilhosos para conhecer os objetos, mas não
há nenhum instrumento para conhecer a si mesmo e muito
menos, conforme escreveu a educadora francesa Mirra
Alfassa, reconhecer que às vezes se faz necessária uma
espécie de descanso, um desejo de ficar tranquilo, de se
concentrar e permanecer dentro de si, para uma assimilação
do que aprendemos e assim construirmos lentamente uma
nova harmonia entre as diferentes partes do ser.

Uma assimilação capaz de promover a reforma do


pensamento proposta por Morin, uma reforma que traz
consigo consequências existenciais, éticas e cívicas.

Tudo se resume em uma palavra: iniciativa.

O filósofo taoista Lao Tsé, já em 1400 A.C.,


enfatizava que uma longa jornada começa com um único passo.

Mas para isso é preciso aprender a entrar em contato


consigo mesmo. É isso que representa para mim a prática de
meditação.

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Meditação, como o próprio Krishnamurti (1895-1986)
fez questão de enfatizar, não é um escape do mundo; não é
atividade egocêntrica, isolante, porém, antes, a compreensão
do mundo e seus costumes. Pouco tem o mundo para oferecer
além de alimento, roupa e morada, e do prazer e suas aflições.
Meditação é um movimento para fora deste mundo, pois
temos de estar totalmente fora dele. Então, o mundo tem
significação e é constante a beleza do céu e da Terra. Então, o
amor não é prazer. Daí nasce uma ação que não é resultado
da tensão, da contradição, da busca de autopreenchimento ou
da arrogância do poder.

Quando utilizo a palavra meditação busco também


transmitir a ideia de um exercício do recolhimento, do silêncio
e da atenção plena sobre a própria respiração.

Por outro lado, estou consciente de que cada um faz


uma interpretação diferente partindo de tal conceito, pois
sobre uma mesma realidade, sujeitos com experiência de vida
e valores distintos a compreendem de maneiras distintas, por
vezes mesmo antagônicas e opostas.

Mas o que importa é chegarmos a um denominador


comum.

E aqui me utilizo da maior referência no assunto que


é o clássico yogasutras, em que está escrito que o objetivo da
meditação é “inibir as modificações da mente”. Sabemos que
a mente se move a todo instante, porém, poucos sabem que é
possível silenciá-la, inibir suas modificações, ainda que por
poucos e breves momentos. E isso tem ligação direta com a

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respiração. No próprio yogasutras está escrito que a mente
torna-se calma pela exalação e retenção sem ar.

Ou seja, para aquietar os pensamentos é preciso


deixar de respirar por alguns instantes. Por isso podemos
dizer que meditação é também sinônimo de atenção plena
sobre a respiração.

Aqueles que têm essa noção são, para mim,


praticantes de atenção plena, independentemente da escolha
pelo modo como hão de meditar, pois o que se apresenta,
além disso, são as inevitáveis variações de linhas de
pensamento e correntes filosóficas que fazem com que surjam
diversos tipos de meditação, como por exemplo, a meditação
vipássana, a cristã, a budista, a transcendental, yogue,
tibetana, mindfulness, etc.

De um modo geral, todas as formas de meditação


têm por objetivo levar a nossa mente agitada e distraída à
imobilidade, ao silêncio e à atenção.

Para nos ajudar nessa tarefa, muitos recorrem ao uso


de uma palavra sagrada, afirmações, oração ou mantra. E é
aqui que começam a surgir as mais diversas distinções, pois
cada estilo de meditação difere no uso de suas palavras
sagradas.

Um hindu, por exemplo, utilizará entre diversos


mantras o mantra om, que representa o som da criação do
Universo; o próprio verbo Divino. Já um praticante de
meditação cristã dirá maranathá, que significa “vem, Senhor”,
no seu anseio de aproximação com Jesus. Um budista

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tibetano entoará o mantra om mane padme hum, que quer dizer
“a joia na flor de lótus”, com a finalidade de se libertar dos
sofrimentos causados pelo orgulho, inveja, desejo, ganância,
etc.

Para o filósofo Krishnamurti, o som constrói sua


própria gaiola e o barulho que o pensamento faz procede
dessa gaiola, e é essa palavra e seu som que separam o
observador e a coisa observada. A palavra não é apenas uma
unidade da linguagem, não é apenas um som, mas é também
um símbolo, uma lembrança de qualquer evento, o qual põe
em movimento a memória, o pensamento. Meditação é a total
ausência da palavra.

Ainda segundo Krishnamurti, você nunca pode se


preparar para meditar: ela deve acontecer sem que você a
busque. Se você a busca, ou pergunta como meditar, então o
método não só o condicionará mais, mas também fortalecerá
o seu atual condicionamento. A meditação, em verdade, é a
negação de toda a estrutura do pensamento. O pensamento é
estrutural, razoável ou não, objetivo ou doentio, e quando
tenta meditar com base na razão ou a partir de um estado
neurótico e contraditório, projetará inevitavelmente o que ele
próprio é e tomará, a sério, sua própria estrutura por
realidade. A palavra é a representação ou a imagem cuja
idolatria se torna um fim.

A questão em si não está em como meditar, pois é


isso que definirá as diferentes técnicas e estilos de meditação.
No meu caso, conheci diversos estilos e técnicas e, como em
tudo, não se pode afirmar que existe “a” meditação ideal, mas
sim “uma” meditação ideal – aquela que você escolher.

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O mais importante, e Krishnamurti esclarece isso
muito bem, é começar pela “outra margem”, por aquilo que
não se conhece, pois quando começamos pelo que já é
conhecido, isso fortalece ainda mais os nossos
condicionamentos.

Mas como começar do outro lado? Essa é a pergunta


que muitos costumam fazer. Krishnamurti responde dizendo
que quando você pergunta — como que eu vou começar do
outro lado? — você está ainda perguntando a partir deste lado.
Portanto, não pergunte isso, mas comece do outro lado, do
lado que você não conhece nada, de outra dimensão que o
pensamento, por mais astuto que seja, não pode apreender.

Assim sugere Krishnamurti: Largue tudo isso e


comece pelo outro lado. Fique em silêncio e você vai
descobrir.

Neste mesmo sentido, a educadora Marie-Christine


Josso nos diz em seu livro Experiência de vida e formação que
a calma mental apresenta-se como um estado de não fazer,
que introduz a “respiração” e o silêncio, necessários ao
distanciamento em relação à nossa agitação, e ocasiona o
relaxamento que, em si, caracteriza um estado de bem-estar,
um dos componentes da felicidade.

Na opinião da educadora, a meditação nos colocaria


em uma via de conhecimento não reflexivo, que se pode
qualificar como ‘conhecimento objetivo’ da significação do
universo e do nosso lugar nesse universo.

27
Portanto, não podemos enfatizar que meditar seria
um conhecimento subjetivo. Ele é subjetivo da perspectiva de
nossa relação com questões mensuráveis e quantificáveis. Por
outro lado, questões objetivas, nessa mesma perspectiva, não
podem ser consideradas objetivas no aspecto meditativo, pois
para esse, o objetivo é justamente aquilo que os métodos
quantificantes e qualificantes não são capazes de qualificar
nem de mensurar.

Desse modo, meditar é um aspecto objetivo quando


se trata da investigação e descoberta do que nos é de mais
desconhecido: o conhecimento de si mesmo.

Existe um velho questionamento que diz: você


acreditaria em alguém que você não conhece?

Então como é que você poderá confiar em si mesmo


se você não se conhecer?

Dito isso, conclui-se que a meditação é um excelente


caminho para elevar a confiança em si mesmo. E também um
caminho para a construção de uma educação que seja capaz
de produzir um varredor de ruas feliz do que um erudito
neurótico, como escreveu o educador escocês Alexander
Sutherland Neill (1883 - 1973), autor do livro Liberdade sem
medo.

Em seu livro Os idiomas do aprendente, Alicia


Fernandez já fazia um alerta sobre os efeitos da ansiedade na
aprendizagem ao escrever que aprender supõe um
reconhecimento da passagem do tempo, do processo
construtivo, o qual remete, necessariamente, à autoria. A

28
instantaneidade, característica do mundo atual, pode nos
colocar em um mundo de produtos descartáveis e
adquiríveis. O conhecimento não é nenhum nem outro.

E foi assim que comecei a pesquisar sobre os efeitos


da ansiedade na aprendizagem e a verificar os significados que
os sujeitos atribuíam ao experimentarem o aprendizado de
uma respiração com atenção plena.

O fato é que, quer olhemos do ponto de vista oriental,


quer do ocidental, prontamente perceberemos a relação
existente entre a respiração e as mais diversas áreas de
conhecimento.

Sendo assim, do ponto de vista químico e biológico, a


respiração pode ser entendida sob dois importantes aspectos:

A) O conjunto de processos de troca do organismo


com o ambiente externo, que permite a obtenção do gás
oxigênio e a eliminação do gás carbônico;

B) O mecanismo por meio do qual a energia química


contida nos alimentos é extraída nas mitocôndrias – pequeno
órgão no interior da célula responsável por transformar a
glicose em energia – e usada para manter o organismo em
atividade, através da respiração celular.

Por sua vez, a glicose é um dos principais


“combustíveis” utilizados pelas células na respiração,
resultando na equação:

Glicose + gás oxigênio = gás carbônico + água +


energia.

29
No que concerne à atenção dedicada à respiração na
criação cênica, é voz corrente a importância da respiração na
criação e na interpretação de um papel a ponto de os atores
afirmarem que “atuar é respirar”.

Octávio Paz, mexicano ganhador do Prêmio Nobel


em literatura no ano de 1990, em seu livro O arco e a lira,
conta-nos que recitar versos é um exercício respiratório, mas é
um exercício que não termina em si mesmo.

Respirar bem, plena e profundamente, não é só uma


prática de higiene nem um desporto, mas uma maneira de
nos unirmos ao mundo e participarmos do ritmo universal.

Recitar versos é como dançar com o movimento total


de nosso corpo e o da natureza. [...] Recitar foi – e continua
sendo – um rito. Aspiramos e respiramos o mundo, com o
mundo, num ato que é exercício respiratório, ritmo, imagem e
sentido, em unidade inseparável. Respirar é um ato poético
porque é ato de comunhão.

Assim, o que se observa é que a respiração é para Paz


mais do que inspirar e expirar: é ato de comunhão! Ao buscar
explicar as noções de Yin e Yang – que são os ritmos que se
alternam formando o Tao – Octávio Paz diz ser possível
encontrar na música a melhor forma de expressão.

Segundo ele, essa concepção de um ritmo para o


universo é encontrada nessa dimensão Yin e Yang, que seria a
representação da filosofia e religião, a dança e a música,
enfim, um movimento rítmico repleto de sentido.

30
E é esse sentido que, segundo Paz, forma o mundo do
ser humano. Um mundo que tolera a ambiguidade, a
contradição, a loucura ou a confusão, não a carência de
sentido. O próprio silêncio está povoado de signos.

É nesse fluxo e refluxo mencionado por Paz que


existe um momento em que tudo se ajusta em meio às nossas
paixões e afazeres. Segundo ele, os opostos não desaparecem,
mas se fundem por alguns instantes. Algo como uma
suspensão no tempo – e aqui me atrevo a dizer, na respiração.

Octávio Paz esclarece que essa reconciliação é


Ananda, um conhecido termo sânscrito para “bem-
aventurança” ou “felicidade suprema”, muito utilizado no
hinduísmo. O prêmio Nobel, em minha opinião, “escala as
profundezas” do dualismo declamando que nessa suspensão
do ânimo: o tempo não pesa. Para ele, poucos são capazes de
alcançar tal estado.

Um estado que Clarice Lispector belissimamente


definiu como sendo a linha de mistério e fogo que é a
respiração do mundo, e a respiração contínua do mundo é
aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio.

Porém, para o poeta mexicano, todos nós, nem que


tenha sido por uma fração de segundo, vislumbramos algo
semelhante. Conforme Paz, não é necessário ser um místico
para roçar essa certeza, pois todos nós já fomos crianças
algum dia. Todos nós já amamos.

O amor, para ele, é um estado de reunião e


participação aberto aos homens e é no ato amoroso que a
consciência, agindo como uma onda, vencendo os obstáculos,

31
antes de se desmanchar, ergue-se numa plenitude na qual tudo
– forma e movimento, impulso para cima e força da gravidade
– alcança um equilíbrio sem apoio, sustentado em si mesmo.
Esse instante conteria todos os instantes, pois sem deixar de
fluir, o tempo se detém repleto de si.

No campo da psicologia, temos a opinião de Fritz


Perls, fundador da gestalt terapia, que nos diz que com
respeito a certos casos contundentes, a ansiedade pode ser
definida como um sintoma de respiração difícil ou
bloqueada.

O que confirma o depoimento dado por Charlotte


Kahle, autora do livro Manual prático de técnica vocal de que
"hoje, principalmente nas grandes cidades, somos obrigados,
já na idade de seis anos, a ficar horas sentados no colégio,
frequentemente em salas superocupadas e abafadas. Mais
tarde, continuando os estudos, exercendo uma profissão, a
nossa vida não muda muito. Dessa maneira, não tendo uma
compensação, os nossos pulmões vão deixando de inspirar
profundamente, e o movimento diafragmático é quase nulo,
assim é que usamos mais a respiração torácica e clavicular”.

O corpo respira dia e noite sem parar, mas sequer nos


damos conta disso. E a tensão do diafragma, músculo
responsável pela respiração, é considerada, portanto, como
uma das principais causas da ansiedade.

Existe outra importante função relacionada com a


respiração: o olfato. Comparados com outros animais, temos
o olfato muito pouco desenvolvido. Mesmo assim, ele exerce
a importante função de garantir nossa sobrevivência no que se
refere à ingestão de alimentos estragados, ou mesmo, no caso
32
de chegarmos em casa e sentirmos cheiro de gás. O que fará
com que evitemos acender a luz, impedindo, assim, que a
faísca provoque uma enorme explosão. Por outro lado, um
cheiro agradável estimulará as células olfativas, aumentando a
produção de saliva e estimulando nosso paladar.

Em meus estudos, até onde pude compreender, foram


os antigos yogues que descobriram que o segredo para
acalmar a ansiedade e a agitação mental está intimamente
ligado ao controle do Prana, a energia que se manifesta através
da respiração.

Em um dos tratados mais importantes sobre yoga, o


yoga-sutras, escrito por volta do século V A.C., encontramos
o seguinte comentário: a mente torna-se clara pela exalação
e retenção do ar.

Também está escrito que a libertação da agitação


mental pode ser atingida através do cessar de inspiração e
expiração.

Já no Bhagavad-Gita lemos que oferecendo o alento


que se inala ao alento que se exala, e oferecendo o alento que
se exala ao alento que se inala se neutraliza ambos os alentos
e assim coloca o pensamento e as emoções sobre controle.

Em outro versículo está escrito que se fechando aos


objetos sensoriais externos, mantendo os olhos e a visão
concentrada no ponto entre as duas sobrancelhas, e
suspendendo dentro das narinas os alentos que entram e saem,
e assim controlando a mente, os sentidos e a inteligência livra-
se do desejo, do medo e da ira.

33
Da mesma forma, B.K.S. Iyengar, mestre em yoga
mundialmente conhecido, fala-nos que a respiração é a base
do yoga e que no coração do yoga está o PRANA, a energia da
vida que forma o mundo e que também se encontra no interior
de cada ser humano, esperando ser percebida e realizada.

Trata-se de um sopro de energia vital doado pelo céu


e pela Terra, que num movimento pulsante – yin e yang –
constitui todas as coisas, inclusive o ser humano.

Numa concepção mais ocidental, é possível


compreender o significado da palavra Prana estabelecendo um
paralelo com a Bíblia, escritura sagrada ocidental, que diz que
Deus modelou o homem com a argila do solo, soprou-lhe nas
narinas um sopro de vida, e o homem tornou-se um ser
vivente. Portanto, dentro desse contexto, não dar importância
à respiração é o mesmo que não dar importância à própria
vida.

Além de ser um componente indispensável para a


manutenção da vida e controle da ansiedade, a respiração
também pode ser considerada, na opinião de Philippe
Campignion, autor do livro Respir-Ações, como uma
experiência de comunicação. Simbolicamente, uma troca.
Escutar a própria respiração é um meio de entrar em contato
com o lado mais profundo de si mesmo, a primeira etapa
para se relacionar bem com o outro ou com o grupo.

Sendo assim, aprender a respirar torna-se um


conhecimento necessário para uma sociedade que, nos
últimos anos, vem atravessando profundas transformações
que estão provocando modificações no trabalho e na vida dos
indivíduos.
34
Para se ter uma ideia, em pouco menos de três
séculos, houve uma inversão assustadora na proporção entre o
rural e o urbano. No início do século XX, por exemplo, o
rural, que era de mais de 80%, passou para menos de 10% em
alguns países, e o espaço urbano de menos de 20% para mais
de 80%.

Na opinião de Asmann, em apenas poucas décadas,


adentramos na sociedade da informação (SI), que veio para
ficar e intensificar-se. A rapidez e profundidade de penetração
das tecnologias de informação e da comunicação (TIC) estão
transformando muitos dos aspectos da vida cotidiana.

Ao longo de toda a evolução da espécie humana,


nunca houve mutações tão rápidas e profundas. E são
justamente essas mudanças em todos os níveis da sociedade,
principalmente nas últimas décadas, que começam a exigir
do ser humano uma grande capacidade de adaptação e
aprendizagem.

Com os avanços tecnológicos, também é possível


entender melhor, através da biociência, que a vida é
essencialmente aprender, e que isso se aplica aos mais
diferentes níveis que se podem distinguir o complexo
fenômeno da vida.

Portanto, a definição darwiniana de evolução


biológica fundamentada na capacidade de adaptação das
espécies pode ser agora entendida, à luz da biociência, como
uma adaptabilidade mediante processos de aprendizagem.

Ou seja, como se referiu Paulo Freire, citando


François Jacob, somos seres programados, mas para aprender.

35
Já para o psicopedagogo Jorge Visca, a aprendizagem não é
algo que se restringe à escola. A escola, obviamente, transmite
uma série de conhecimentos, mas não é somente na escola
que se aprende. A aprendizagem é algo que acontece no
sujeito que aprende.

Contudo, estamos vivendo uma espécie de paradoxo,


pois como escreveu Alicia Fernandez, aprender supõe um
reconhecimento da passagem do tempo. E toda essa
velocidade com a qual nossa sociedade tem se transformado
faz com que as pessoas enfrentem situações de conflitos diante
de suas inadequações às exigências de transformação,
adaptação e aprendizagem impostas pelas leis de mercado e
pelos avanços tecnológicos.

Pelo visto, não só a sociedade se transformou com


rapidez, mas também o indivíduo que dela faz parte. E o que
se nota é que são raros aqueles que, segundo Mills, têm
consciência da complexa ligação entre suas vidas e o curso da
história mundial.

Pelo que se nota na sociedade, parece que estamos


correndo sérios riscos de nos tornarmos, a cada dia, pessoas
mais imediatistas, ansiosas e superficiais. Indivíduos dotados
de informação – e até mesmo certa dose de conhecimento e
inteligência – mas com pouca sabedoria.

O que nos coloca diante do questionamento do


poeta Eliot, que diz “onde está a sabedoria que nós
perdemos no conhecimento? Onde está o conhecimento que
nós perdemos na informação?”.

36
Refiro-me aqui à sabedoria como sendo o exercício
daquela “ética vivaz” mencionada por Paulo Freire e que é
indispensável para a convivência humana. A ética que se sabe
afrontada na manifestação discriminatória de raça, de gênero,
de classe. É por essa ética inseparável da prática educativa,
não importa se trabalhamos com crianças, jovens ou adultos,
que devemos lutar.

Aliados à falta de ética, temos ainda o excesso de


informação, as exigências de mercado, trânsito caótico,
violência urbana, dificuldades de relacionamentos, mentiras,
desonestidades, falcatruas, assédio sexual e moral, alcoolismo,
drogas, poluição do ar e dos rios, poluição sonora,
desmatamentos, corrupção... E, ainda, como escreveu
Lowenfeld, a nossa incrível incapacidade de aceitar as pessoas
como elas são sem levar em consideração sua crença, cor,
raça, opção sexual e status social.

Tudo isso acaba, invariavelmente, expondo-nos a


terríveis crises de ansiedade, pois, como estamos
percebendo, há fortes razões para supormos a existência de
uma ligação entre a ênfase desproporcionada que é dada ao
progresso exterior e a infelicidade, a ansiedade e o
descontentamento da sociedade moderna.

Sabemos que tal ênfase desproporcionada é resultado


de um longo processo histórico. Lembremos que para Marx,
por exemplo, o trabalho é que constrói o homem. Então, se
isso acontece sob atividades alienantes, toda a atividade
humana será prejudicada.

Mas o que é ansiedade afinal de contas?

37
De acordo com Barbosa Silva, autora do livro Mentes
inquietas, a ansiedade pode ser definida como uma reação
bioquímica e comportamental, que tem suas origens na reação
de ataque e fuga que se manifesta como uma expressão do
instinto de conservação.

Tal reação, fundamentada em minha experiência


prática, é decorrente de uma espécie de relação entre tempo
versus medo. Como a vida moderna apresenta muitas situações
de prazos a cumprir e inseguranças decorrentes do medo de
não se concretizarem tais prazos, além da expectativa de “ter
que ser alguém na vida”, em que fica subentendida a
necessidade de ter algo para ser alguém em vez de ser alguém para
ter algo, essa reação bioquímica tende a se repetir inúmeras
vezes. Somada a isso, temos a ansiedade real que se expressa,
por exemplo, através da instabilidade econômica, guerras,
terrorismo, violência urbana, etc.

Portanto, vivemos em um estado de constante


insegurança física, mental, emocional, financeira, e seria
ingênuo de nossa parte acreditar que toda essa ansiedade
generalizada que se percebe em nossa sociedade estaria
distante do âmbito acadêmico e escolar de modo a não afetar
a relação ensino-aprendizagem.

Fica nítido que a ansiedade, através de seus


sintomas físicos, mentais ou psicológicos, como dores pelo
corpo, agitação mental, baixa autoestima, insônia,
hiperatividade ou déficit de atenção, bloqueia o aprendizado
do indivíduo, interferindo não somente no desenvolvimento
da educação tradicional, mas na inteligência social e afetiva.

38
O que nos faz pensar que há muito que se aprender
sobre esta metáfora da vida que é a respiração, conforme fica
evidente no depoimento dado por uma aluna da 5ª série que,
ao ser questionada sobre o que havia aprendido em relação à
sua respiração, respondeu:

– Respirar todo mundo respira. O negócio é saber


respirar!

39
Quarta parte
Respirar é preciso

Geralmente quando inicio uma palestra, uma aula ou


um workshop, faço a seguinte pergunta:

– O que é mais importante: comer, beber ou


respirar?

E é interessante notar a expressão das pessoas


respondendo ‘respirar’ com um tom de ‘é claro!’.

Então busco ir um pouco além...

– E no que pensamos mais: na respiração, na água


ou na comida?

Em meio a risos, a maioria acaba reconhecendo que


se preocupa mais com a comida.

Ou seja, podemos ficar dias sem comer, horas sem


beber água e minutos sem respirar e no fim das contas estamos
mais preocupados com a comida?

Isso nos coloca então diante de um último


questionamento:

– Se a respiração é mais importante, por que não


nos preocupamos com a respiração?

Algumas respostas viraram senso comum entre as


pessoas que corajosamente dão seus depoimentos.

40
“Porque respirar não tem gosto”, ou então, “você não
tem que se preocupar em comprar, pois é de graça!”, ou
mesmo, “respirar é algo que acontece naturalmente, mesmo
que respirando errado”.

Esclareço que não nos preocupamos com a


respiração porque até então não foi possibilitado de maneira
pedagógica o aprendizado sobre ela. Temos aqui um papel
que agora pode fazer parte da educação – possibilitar o
aprendizado do abc da respiração.

E o primeiro passo para tal aprendizado se faz


soltando o ar e abrindo as costelas enquanto nos mantemos
sem respirar.

Agora vamos conhecer alguns dos depoimentos sobre


ansiedade que ouvi nas palestras dadas em escolas, empresas e
academias das mais diversas cidades por onde tive o privilégio
de compartilhar a importância da atenção respiratória.

“Vontade de fazer tudo rápido”;

“Ficar aflito para fazer alguma coisa logo”;

“Quando você quer muito uma coisa e fica todo inquieto”;

“Uma coisa que você quer fazer antes da hora certa”;

“É quando esperamos por algo que vai acontecer no futuro”;

“É quando você espera algo com medo ou agitação”;

“Uma sensação que acelera o coração”;

41
“É uma sensação estranha de querer que as coisas aconteçam
rapidamente. Um nervosismo”;

“É a impaciência, o desespero para fazer algo”;

“Uma sensação de espera eterna te deixando agoniado ao


saber que você não pode fazer nada”.

“É uma grande vontade de fazer alguma coisa logo em curto


prazo”;

“É não saber esperar e querer fazer tudo ao mesmo tempo”;

“Estado de inquietação, dúvida...”;

“Fazer tudo bem rápido e em pouco tempo, ou seja, acabar


logo”;

“Vontade de realizar coisas num tempo mínimo... Querer


tudo para ontem”;

“É uma sensação confusa, acelerada e difícil de controlar. É


algo que o corpo sente e desenvolve sensações esquisitas: suor, a
pressão baixa, o coração acelera. Você não consegue descrever o que
acontece”;

“Tudo o que eu sinto no dia a dia!” Foi a resposta de uma


professora do Ensino Médio.

Como se percebe, a ansiedade está claramente ligada


a uma relação entre o tempo e a realização de alguma tarefa
de que gostaríamos que fosse feita rapidamente ou que, caso
contrário, nos angustia ter de esperar para que se realize. Em
resumo, queremos tudo para ontem.

42
Não é meu objetivo entender tal mecanismo, pois
como diz um provérbio popular indiano: “se alguém foi ferido
por uma flecha, você primeiro salva a pessoa e depois procura
o arqueiro”.

Sendo assim, ao invés de manter o foco na ansiedade,


vamos logo entrar em contato com o abc de uma respiração
com mindfulness.

Faça agora mesmo uma só respiração profunda e,


depois de segurar o ar por alguns instantes, responda:

– Antes de respirar profundamente, você soltou


todo o ar primeiro? É bem provável que não!

Em segundo lugar: – Você puxou a barriga para


dentro?

Para que você entenda com clareza aonde quero


chegar, reflita o seguinte:

– O que acontece com a barriga quando bebemos


muito líquido? – Enche, não é mesmo? – E quando comemos
exageradamente também não enche? – Respirar é um
alimento, o mais importante! Lembra disso?

– Então quando a gente inspira, a barriga também


enche. Essa é uma recomendação muito importante, pois na
maioria dos casos em que existe uma ansiedade presente, a
tendência no momento de inspirar fundo é puxar também a
barriga para dentro, que como veremos é um contrassenso.

43
No mundo todo, crianças, jovens, adultos e idosos
estão sofrendo de ansiedade e fazendo uso de medicação. Ao
invés de medicação, sugiro mais respiração!

Os remédios são eficazes, sei disso porque já fiz uso


quando realmente precisei tratar uma crise de depressão.
Acontece que a medicação serve para dar um suporte que não
temos naquele momento. Depois teremos de retomar as
rédeas e seguir em frente.

Uma coisa de que me lembro foi quando quebrei o


braço e precisei engessá-lo. Agora imagine se ficasse com o
braço engessado por anos e anos! É o que acontece na maioria
dos casos de quem toma remédio para ansiedade e depressão.
Elas não largam mais e passam a viver uma vida engessada.
Obviamente que ninguém quer isso. Acontece que nem
mesmo os médicos sabem respirar. Os atletas também não
sabem. Tanto que quando desenvolvo projetos com atletas,
eles observam que depois de aprender a respirar com atenção
plena, passam a ter mais foco e energia.

Portanto agora, mais do que nunca, respirar é preciso!

A questão é: quanto tempo você consegue manter


uma sequência de respirações lentas, profundas e ritmadas?

É bem natural que você realize uma ou duas e se


esqueça de continuar em poucos segundos. Tudo bem,
quando estiver consciente novamente, procure se recordar de
quando foi a última vez que esteve respirando fundo e o que
fez com que você se distraísse. Então solte todo o ar, aguarde
um período de tempo confortável e retome as respirações
profundas.

44
No começo, eu levava semanas para me recordar da
respiração, depois dias, e agora minha distração é questão de
minutos. Estou quase que a todo instante em mindfulness, ou
seja, em estado de atenção plena sobre minha respiração.

Obviamente muitos anos são necessários para


qualquer tipo de aprimoramento, e com a respiração não vai
ser diferente. O mais importante é ter a resposta para a
seguinte questão:

Como é possível ser feliz com uma mente inquieta e


com desejos que se contradizem a todo instante?

Em minha iniciação em Kriya-yoga (Kri- significa


fazer o trabalho; Ya- é o Ser interno, a alma) pela Self
Realization Fellowship, aprendi que a mente é o mestre dos cinco
sentidos e o mestre da mente é a respiração. O controle da respiração é
o controle da mente.

Mas qual é a intenção de ficar respirando


profundamente o tempo todo?

A resposta é:

– A obtenção da paz mental!

A verdadeira paz que dificilmente pode ser obtida


sem o auxílio da respiração.

Quem se atreveria a navegar em um oceano agitado?

Por outro lado, que delícia navegar em um mar de


águas calmas e tranquilas.

A paz mental é uma sensação espiritual.

45
Quando respiramos profundamente, descobrimos a
verdadeira paz. Compreendemos que a alma, ya, está fazendo
todo o seu trabalho, kri.

Após tantos anos de estudos de Kriya Yoga, aprendi


que se você ama extremamente a respiração, você
experimentará a alegria divina. Sua alma estará absorvida no
Supremo. Assim como a jovem noiva ama o seu marido,
assim como o jovem noivo ama a sua esposa, assim como o
avarento ama o seu dinheiro, similarmente, todos devem amar
a respiração. Ame a sua respiração e experimentará a
Realidade, a Verdade e a Alegria. A calma e a paz virão
automaticamente e você, por fim, se tornará um conhecedor
do Supremo.

***

Agora ao invés de inspirar e encher a barriga, solte


todo o ar e puxe a barriga para dentro, de modo a abrir bem
as costelas, e permaneça o maior tempo possível sem
respirar.

Na prática, estamos seguindo um ensinamento


deixado, já no século V A. C., pelo filósofo indiano Patanjali,
que afirmou: A mente torna-se calma pela exalação e retenção sem
ar. Ou seja, há mais de 5.000 anos já éramos perturbados por
pensamentos indesejáveis.

Observe nessa ausência de ar o silêncio tomar conta


da sua mente e perceba que esse é o começo de um caminho
de encontro com o próprio Ser no aqui e agora através da
atenção plena. Tal ausência de ar e vazio, tal entrega total

46
daquilo que nos é vital, como é o caso da respiração, mostra
que estamos ao mesmo tempo distantes e presentes.

Distantes de tudo à nossa volta – pois não há como


pensar em nada que não seja “preciso respirar” – e ao mesmo
tempo presentes em nós mesmos. Como no instante do
nascimento, uma respiração profunda (não pela quantidade e
sim por vir do mais profundo do Ser) surge como reação
daquela resistência forçada na breve ausência da respiração. O
abdômen expande e a emoção contida se liberta.

– Faça mais uma vez! – Insisto. E note como sua


mente até então desgovernada, inquieta e agitada vai se
acalmando no instante em que a consciência se dá conta de
que neste instante sem ar a prioridade é RESPIRAR!

47
Quinta Parte
Virando a ansiedade de cabeça para baixo

As queixas de medo e insegurança, juntamente com


agitação mental, estão presentes em 100% das vezes que
conversamos mais a fundo com quem reclama de ansiedade,
síndrome do pânico ou depressão. Porém, quando
questionamos tais pessoas sobre a prática de alguma atividade
corporal com regularidade, o que se verifica é que a maioria
vive um estilo de vida sedentário.

Contudo, é possível verificar também que mesmo


alguns praticantes de atividade física se queixam de ansiedade.

E o que isso significa?

Significa que a atividade física, apesar de fazer bem


para a saúde, não representa necessariamente uma melhora
no quadro clínico da ansiedade.

Em 1965, quando o prof. Hermógenes lançou o livro


Autoperfeição com Hatha-Yoga, ele já alertava sobre o assunto
dizendo: "nem mesmo os atletas sabem respirar".

A realidade com a qual nos deparamos hoje pode ser


assustadora! Nenhum de nós está livre da ansiedade, mas
podemos ser agentes de mudança iniciando o aprendizado da
atenção respiratória e levando isso adiante, ensinando ou
mesmo conversando com amigos, familiares e colegas de
trabalho, escola ou faculdade sobre o assunto.

48
Você quer ser um agente de transformação? Pense
nisso! E comece, literalmente, dando uma virada contra a
ansiedade. Claro, trata-se de um alívio e não da libertação
propriamente dita que requer também atividade esportiva e
psicoterapia.

É a postura invertida sobre os ombros na qual o


praticante, deitado de costas no chão, impulsiona as pernas
para cima, apoiando as mãos no quadril e ficando com o peso
do corpo distribuído nos cotovelos e nos ombros.

Um ótimo exercício para acalmar o coração e


revigorar o sistema circulatório.

Viparita Karani é um termo sânscrito que se refere à


ação de inverter.

Trata-se de uma posição corporal que modifica a


ênfase sobre a circulação sanguínea, eliminando o cansaço
muscular, diminuindo a ansiedade e promovendo uma ação
sedativa no sistema nervoso. É indicada também para pessoas
que têm perda de energia ou sentem cansaço com frequência.

Viparita karani

49
Sempre que sou convidado para participar de uma
palestra em escolas, empresas ou academias, procuro
esclarecer que a técnica da respiração profunda envolvendo o
alongamento diafragmático é algo que tem origem na hatha
yoga com a finalidade de melhorar a capacidade respiratória,
garantindo um corpo mais saudável. Tanto que agora escrevo
este guia de aprendizagem para demonstrar que o controle da
ansiedade envolve necessariamente o controle da respiração,
pois a ansiedade é um sintoma de respiração difícil ou
bloqueada. E a inversão auxilia na liberação da tensão
diafragmática promovendo um massageamento nos órgãos
internos.

Também é comum nas apresentações que realizo


ouvir das pessoas o seguinte depoimento:

“Só agora descobri que eu não sei respirar!”

E é mesmo visível que não saibam, pois puxam a


barriga para dentro, estufam o peito e erguem os ombros, ao
mesmo tempo em que seguem meu comando de inspirar
profundamente.

Ora, isso é um contrassenso!

Afinal, quando estamos inspirando, se puxarmos a


barriga para dentro, impedimos a plena entrada de ar nos
pulmões devido à obstrução da musculatura diafragmática. E
isso faz com que ocorra a chamada respiração torácica, que
nitidamente provoca estados de ansiedade.

Como vimos, uma dica para a realização de uma


respiração relaxante é, primeiramente, esvaziar por

50
completo o ar dos pulmões. Só então é que devemos iniciar
uma respiração profunda, que virá acompanhada de uma
suave expansão do abdômen.

– Mas isso não vai me deixar com barriga? –


perguntam algumas mulheres.

– A respiração abdominal não vai deixar ninguém


com barriga, muito pelo contrário. Ao controlar a ansiedade, é
bem provável que você passe a ter uma alimentação mais
moderada. Alimentando-se melhor, consequentemente, é
possível até mesmo emagrecer!

Uma das mães presentes em um evento em que fui


convidado para falar um pouco sobre os benefícios da atenção
respiratória na melhoria da aprendizagem deixou-me surpreso
com a sinceridade do depoimento que fez, em público, e na
presença de outras mães:

– No começo – confessou – estava muito furiosa,


impaciente, e aquela energia toda me movia, queria poder
“soltar os cachorros”. Quando você começou a falar, fiquei
pensando, “mas que saco! Não quero ouvir o que ele tem a
dizer”. De repente, comecei a respirar, a me acalmar e a
sorrir!

Podemos dizer que a respiração serviu, nesse caso,


como uma representação simbólica da experiência de troca.
Uma experiência de dar e receber.

Uma maneira de se relacionar bem com o outro e


com o grupo, partindo de um ponto comum entre todos: o
gesto simples de respirar.

51
Outros casos interessantes fazem parte do tempo que
trabalhei com crianças pequenas e pedia para que elas
completassem a frase: quando eu respiro, sinto...

Ana Júlia, uma criança de quatro anos na época, deu


a resposta “felicidade”.

Já Victoria, de cinco anos, completou a frase com: –


Eu sinto concentração!

E fez um belíssimo desenho dela mesma sentada em


postura de meditação.

Algo também muito interessante aconteceu em uma


atividade feita com adolescentes. Reuni os alunos da sexta
série e pedi para que deitassem no chão. Conduzi uma técnica
de relaxamento que consiste em manter nos pensamentos a
imagem de momentos de tristeza e ir percebendo o que
acontece com a respiração.

52
Em seguida, pedi que imaginassem uma luz azul
invadindo a mente e começassem a pensar somente em
situações alegres e, mais uma vez, observassem a respiração.

Ao término do relaxamento, que durou


aproximadamente vinte minutos, pedi para que desenhassem
a si mesmos, em uma folha de papel, e escrevessem o que
aconteceu com a respiração nos momentos de pensamentos
ruins e pensamentos bons.

Stella escreveu:

– Hoje, quando fizemos o exercício do morto,


foi bom, pude relaxar bastante! O professor foi pedindo
que reparássemos na nossa respiração. Aí fomos
imaginando situações de raiva, felicidade, tristeza... E
fomos vendo se a respiração mudava conforme cada
situação.

Eu fui notando que a cada pensamento


(triste, feliz, raiva...) a respiração ia mesmo mudando.

Em algumas situações, a respiração ficou


acelerada e em outras, bem calminha...

53
Então concluí que a respiração muda sim!
De acordo com seus sentimentos.

Estava diante do pequeno Cauan, de sete anos, que


fez atendimento individual em meu consultório.

Garoto criativo, cabelo com corte estilo moicano e


completamente dinâmico. Pará-lo seria tarefa impossível.

Usei então a palavra mágica “vamos brincar?” Os


olhos dele se arregalaram.

– Quanto tempo leva um minuto?

54
Ele ficou sem responder.

Mostrei a ele no relógio e em seguida combinamos de


ficar com os olhos fechados e descobrir o tempo de um
minuto.

Quinze segundos depois, ele já estava com olhos


abertos dizendo:

– Deu, tio!

– Ainda não. Veja só, leva mais tempo! – disse,


apontando para o relógio.

Ele me olhou, coçou a cabeça e voltou a tentar. Ficou


mais tempo que a primeira vez. E continuou insistindo até
conseguir completar um minuto.

No encontro seguinte, continuei com o “jogo do


tempo” e incluí outra novidade: o jogo do quente ou frio.

No quente ou frio um objeto é escondido e o outro


jogador deve achá-lo. Quanto mais perto do objeto, dizemos
“quente” e mais distante, “frio”.

Nesse jogo é possível deixar a criança de olhos


fechados, em posturas meditativas ou relaxantes, enquanto
procuramos um lugar para esconder o objeto.

E assim, a cada encontro, novas descobertas e


aprendizagens para ambos os lados.

Mas, num certo dia, algo diferente aconteceu...

55
Decidi brincar com o Cauan de jogo do pensamento.
Até então uma simples estratégia para mantê-lo em silêncio e
concentração, mas que revelou uma intrigante descoberta.

Combinamos que ele ficaria sentado, coluna ereta,


olhos fechados com a atenção no ponto entre as sobrancelhas
e observando sua respiração. Logo após eu enviaria a ele um
pensamento. Um desenho geométrico que poderia ser um
quadrado, um círculo ou um triângulo, e ele tentaria
adivinhar.

– Que figura enviei para você?

Cauan acertou respondendo: quadrado.

– E agora?

– Triângulo!

Pensei que acertar a primeira imagem tivesse sido


sorte, mas acertar pela segunda vez mereceu certa atenção.

Decido então romper o que havíamos combinado e,


ao invés de enviar somente uma imagem, enviei duas! Um
círculo com um triângulo desenhado dentro. Algo que, em
minha opinião, seria impossível de ele acertar.

Ele demorou em responder. Ficou pensativo, coçou o


queixo e começou a falar num tom de voz mais baixo, como
que conversando com ele mesmo.

– Não sei... Está estranho, parece... Deixe-me ver,


huummm... Já sei! Um chapéu de palhaço.

– Parabéns! Você acertou. Um chapéu de palhaço!

56
Um círculo com um triângulo desenhado dentro,
visto numa dimensão superior a que eu enviei, ou seja, minha
imagem foi transformada por ele em algo tridimensional
dando origem a um cone, um chapéu de palhaço! Algo que
sequer passou pela minha imaginação.

O fato é que, mesmo eu modificando as regras,


inacreditavelmente ele continuou vencendo o nosso jogo do
pensamento. Será que ele foi mesmo capaz de ler meus
pensamentos ou tratou-se de uma simples coincidência?

Uma das minhas dinâmicas preferidas para realizar no


início de uma atividade em grupo é o exercício de contar até
dez!

A regra para realizar a contagem é bem simples.

a) Não devemos contar em sequência. Ou seja, se eu


digo “um”, as pessoas que estão do meu lado
direito ou esquerdo não poderão dizer “dois”;

b) Toda vez que duas ou mais pessoas disserem o


mesmo número, o jogo começa outra vez;

c) Quem já falou um número uma vez não pode falar


o mesmo na vez seguinte.

Dou início dizendo “um”.

Imediatamente alguém diz “dois”... Outro “três”...


Até que, por exemplo, ouvimos vozes diferentes dizendo
“quatro”.

– Opa! – digo.

57
– Comecem novamente.

E assim segue...

Os minutos se passam e tem vezes que chegamos até


nove. Porém, se mais de um diz “nove” ao mesmo tempo,
teremos de começar outra vez.

Aos poucos o grupo começa a perceber que o


caminho é deixar espaço para que as coisas aconteçam
naturalmente. Percebem também que existe um componente
inexplicável no ar: a incerteza. Afinal, não tem como
adivinhar quem será o próximo a dizer o número da vez.

Até hoje faço uma breve demonstração nas palestras


ou minicursos que realizo. É realmente fantástico!

No caso da minha primeira experiência com este


jogo, levamos aproximadamente vinte minutos para concluir a
brincadeira. O mais incrível: vinte minutos exercitando o
silêncio e a concentração.

No final, gosto de perguntar:

– O que foi possível aprender com essa brincadeira?

A prática persistente da atenção respiratória


naturalmente proporcionará a obtenção do equilíbrio
bioenergético e, uma vez que a respiração é a chave desta
proposta de controle da ansiedade, considero importante
ressaltar que respirar atentamente também servirá para
eliminar as tensões do corpo, da mente e sistema nervoso.

58
É como quando movimentamos o sofá da sala e
embaixo dele encontramos poeira acumulada.

Respirar com atenção plena é passar um aspirador de


pó e remover todas as tensões que estão se acumulando em
nosso corpo, mente e sistema nervoso em decorrência do
medo, da raiva, das frustrações e das dores ocasionadas pela
tristeza por não sabermos lidar com nossas perdas, cobranças,
fracassos e lutos.

A informação que recebemos da nossa sociedade


transmite a mensagem de competição. Logo, não estamos
preparados para perder. A derrota é um sinal de fraqueza.

Não damos conta do tamanho do absurdo que


cometemos ao acreditarmos nessa mensagem que nos é
passada.

Inevitavelmente, todos nós vivenciaremos o


sentimento de perda. Mas como lidamos com isso? Na minha
opinião, não lidamos.

Preferimos ir deixando de lado até que, algum dia,


uma nova perda acionará um botãozinho que irá despertar a
atenção para nossa vida consciente.

Só então nos daremos conta de que estamos


sobrecarregados de tensão e mais tensão e que passamos boa
parte de nossa vida sendo movidos por uma espécie de piloto
automático.

A flexibilidade deixou nosso corpo faz muito tempo.

59
Começam a surgir também sintomas como dores de
cabeça, dores nas costas, sentimentos de baixa autoestima,
preocupações, inseguranças, e é claro, a ansiedade e a
depressão. Não há mais como escapar, é uma vontade maior
que agora se sobrepõem à nossa própria vontade e que diz:

“Chegou a hora de limpar a casa!”.

Para mim, a principal descoberta nesse processo de


higiene física, mental, emocional, energética e espiritual foi a
existência da respiração polarizada, em que alternamos as
narinas durante o ciclo respiratório.

A entrada do ar através da narina direita, por


exemplo, tem um efeito estimulante ao passo que na narina
esquerda tem um efeito sedante. Em outras palavras, uma nos
acorda, outra nos adormece.

Observe, por exemplo, por qual narina você está


respirando de forma mais ativa neste momento e perceba que
sua tendência emocional poderá se refletir no modo como o ar
está entrando em seu corpo.

Busque observar isso principalmente momentos antes


de dormir ou de acordar.

O interessante é criar uma estratégia que permita


realizar a técnica antes de dormir e principalmente em
momentos no qual você saiba que será necessário um nível
maior de atenção, como em uma prova, apresentação de um
projeto, etc. Muito útil será nos casos de crises emocionais.

60
a) Sente-se preferencialmente com a coluna ereta;

b) Coloque a ponta dos dedos indicador e médio da


mão direita entre as sobrancelhas e, com o polegar
direito, feche a narina direita;

c) Inspire de forma lenta, profunda e ritmada pela


narina esquerda;

d) Retenha o ar por alguns segundos e, enquanto


isso, feche a narina esquerda com o dedo anular
que estará juntinho ao dedo mínimo;

e) Afaste o polegar da narina direita e exale


calmamente, esvaziando por completo o ar dos
pulmões;

61
f) Volte a respirar pela narina direita de forma lenta,
profunda e ritmada;

g) Retenha o ar por alguns segundos e feche a narina


direita com o dedo polegar;

h) Libere a narina esquerda esvaziando totalmente os


pulmões.

Repita mais duas vezes o ciclo completo e observe


como você se sente após o exercício desta incrível técnica de
controle respiratório.

Na opinião de Packer, autora de A senda do yoga, a


respiração polarizada estabiliza as funções
cardiorrespiratórias, equaliza as funções do sistema nervoso
simpático e parassimpático e dos hemisférios cerebrais direito
e esquerdo, equilibra as funções nervosas e do corpo
eliminando o estresse, a fadiga mental e a insônia, acalma o
coração, estabiliza a mente e prepara para a meditação.

Não existe segredo. É uma simples questão de


praticar, praticar e continuar praticando. Agindo assim,
obtemos um novo corpo, uma nova mente e um novo modo
de respirar diante da vida.

Ao mover-se pela vida de forma consciente, ritmada e


coordenando a atenção entre coluna ereta e respirações, é
normal que comecemos a experimentar Ananda, um termo
sânscrito que significa Bem-aventurança.

Trata-se de uma palavra que também pode ser


traduzida como sendo felicidade espiritual ou paz de espírito.

62
Novamente, é importante lembrar aqui a mensagem
de Krishnamurti que diz que o mais importante é começar
pela outra margem. Começar por aquilo que não se conhece.

Sendo assim, procure manter-se com a coluna ereta e


realizando respirações profundas e vivenciando cada
momento sem se importar em obter qualquer tipo de
compreensão. Como escreveu Clarice Lispector: viver
ultrapassa qualquer entendimento.

Em nossa sociedade, por exemplo, somos ensinados a


buscar o sucesso através das conquistas materiais. Por outro
lado, nunca nos ensinaram como alcançar o sucesso através
da renúncia e do desapego, que num sentido mais profundo
significa não querer exercer o controle sobre as pessoas ou
circunstâncias.

E é por isso que, na maioria das vezes, acabamos


sofrendo de ansiedade.

No Bhagavad Gita, célebre livro contendo os


ensinamentos védicos da Índia, encontramos as
recomendações práticas para nos livrarmos desse dilema que
mais parece com a situação da chave esquecida dentro do
carro.

A atitude ideal seria agirmos de forma desinteressada,


ou seja, agirmos sem buscar qualquer tipo de recompensa.

E isso nada tem a ver com deixar de ganhar dinheiro.

Desapego não significa voto de pobreza.

63
Significa reconhecer que além de não termos o
controle de certas situações, nada nos pertence de fato. Tudo
são empréstimos. Até mesmo este corpo que possuímos é
emprestado. Vamos ter que o deixar algum dia. Para dar um
passo à frente, preciso deixar o que ficou para trás.

Mais próximo da realidade, preciso desapegar-me da


respiração que está saindo através da exalação para que outra,
nova e plena, possa adentrar em meu ser.

E quanto mais me desapego, quanto mais exalo, mais


a vida me oferece seu generoso e imprescindível alento de
volta. E assim se confirma a máxima Franciscana que diz que
“é dando que se recebe”.

A respeito de tema tão complexo, o próprio Gandhi


definiu renúncia dizendo que de maneira alguma significa
indiferença pelo resultado. A respeito de toda ação, deve-se
conhecer o resultado que se espera obter, os meios e as
capacidades para isso. Aquele que, estando assim equipado,
não tem desejo pelos resultados, mas está completamente
concentrado no devido cumprimento da tarefa à sua frente,
pode-se dizer dele que renunciou aos frutos da ação.

Sendo assim, numa cultura competitiva em que se


busca o sucesso a todo custo, pode acontecer de você falhar
algum dia.

Se isso acontecer, e é bem provável que aconteça,


caberá somente a você ser capaz de desapegar-se do resultado
e seguir em frente sem ficar se remoendo por dentro.

64
Ainda sobre desapego, existe uma estória que diz
mais ou menos assim:

Dois monges estavam atravessando um


rio quando encontraram uma mulher muito
bonita, que também desejava atravessá-lo, mas
estava com muito medo.

Um deles, então, resolveu carregá-la até


a outra margem.

O outro monge ficou indignado com seu


amigo. Afinal, ele havia quebrado uma regra: a
de que um monge nunca deve tocar uma mulher.

Mas ele não disse nada, apenas engoliu


sua indignação.

Quilômetros se passaram até chegarem


ao mosteiro.

O monge indignado se voltou para seu


companheiro e finalmente disse:

– Olhe, terei de falar ao mestre sobre o


seu comportamento proibido.

– Do que você está falando?

– Ora, do seu comportamento. Você


esqueceu que tocou naquela mulher e a carregou
nos braços?

Ele então riu e calmamente replicou.


65
– Sim, eu a carreguei, mas deixei lá na
outra margem do rio, quilômetros atrás. Você, ao
contrário, a está carregando até aqui.

É isso que quero dizer com desapego. Deixar “lá na


outra margem” a ansiedade, a tristeza, a cobrança, o
preconceito, o ódio, a mania de querer estar sempre no
controle das coisas ou das pessoas e um sem número de outras
coisas que ficam consumindo nossa energia vital.

Não é fácil, eu bem sei!

Por vezes tento acalmar minha ansiedade ou elevar


minha autoestima, mas tem dias que acordo ansioso ou então
me sentindo um imprestável... Procuro desapegar-me do
sentimento... Simplesmente exalo e deixo de respirar! Mas
dali a pouco a ansiedade ou a baixa autoestima voltam. Exalo,
desapego, deixo ir... E assim vai! Até que chega um momento
em que volto a sentir-me bem novamente. Sei que venci a
batalha, mas a guerra só terá fim no meu último suspiro!

Existem casos, porém, que não é questão de


desapego. É questão de falta de atividade física mesmo. Então
realizo movimentos de expressão corporal ou coloco um tênis
e saio para caminhar, vou para a academia ou pedalar ao ar
livre procurando desapegar-me das cobranças ou lembranças
de situações que não saíram como esperava e que me
acompanham feito sombra por onde quer que eu vá.

E caminhando ou pedalando, sigo respirando


enquanto coordeno respiração e movimento. Exalo em um,
dois... Inspiro em três, quatro... Seguro o ar, solto... Esqueço-

66
me de coordenar os movimentos, esqueço-me da respiração.
Lembro de volta e, assim, vou respirando, vivendo... Ao
mesmo tempo em que percebo a enormidade de pessoas à
minha volta que sequer fazem ideia do que é respirar.

Com frequência também me utilizo de uma poderosa


receita do professor Hermógenes, que sempre costumava
dizer:

– Entrego, confio, aceito e agradeço.

Ao ligar os ensinamentos de Hermógenes com os


quatro estágios da respiração, obtêm-se o seguinte resultado:

Quando exalo, entrego;

Quando fico sem ar, confio;

Quando inspiro, aceito;

E quando permaneço com ar nos pulmões, agradeço!

Faço isso diversas vezes. Depois, desapego-me de


qualquer tentativa de controle sobre minha própria respiração
e deixo-a fluir...

Apenas observo! Como quem se senta na areia e


contempla o mar e suas incessantes ondas, reconhecendo que
não tem o poder de controlá-las.

Por outro lado, é impossível não me admirar com o


fato de que, em certos momentos, ter a possibilidade de deixar
suspensa a minha própria respiração.

67
De fazer com que ela, assim como a onda antes de se
desmanchar, alcance, como na poesia de Octávio Paz, “um
equilíbrio sem apoio sustentado em si mesmo num instante
que contém todos os instantes e que, sem deixar de fluir, o
tempo se detém repleto de si”.

68
Sexta parte
Respiro, logo existo!

Antes de encerrar uma palestra ou workshop, gosto


de saber o significado que os participantes passaram a atribuir
ao aprendizado sobre a respiração.

Portanto, a última pergunta que costumo fazer é:

– O que mais você aprendeu sobre sua respiração?

Os depoimentos são surpreendentes:

“Que eu não sei respirar”;

“Que mesmo sendo a coisa mais importante, não é a


que mais nos preocupamos”.

“Que a respiração é fundamental e não podemos pensar


que tanto faz respirar, de qualquer jeito temos ar, temos que
respirar com leveza”.

“A respiração controla como funciona nosso corpo. Se


você toma um susto, sua respiração fica descontrolada e você
fica nervoso. Ao controlar a respiração, é possível manter e
reaver a calma”.

“Que quando estou ansiosa, fico com a respiração mais


agitada, e quanto mais agitada mais hiperativa. Quando eu
respiro, eu sinto que fico mais tranquila”.

69
“Respirar todo mundo respira, o negócio é saber
respirar”.

“O quanto respiro de forma errada e que ela é fundamental


para o equilíbrio”;

“Que é necessário para o nosso dia a dia, pois melhora


a minha concentração e fico mais confiante”;

“Aprendi que é possível controlar minhas emoções com


ela. E percebi que eu nunca tinha parado para prestar atenção
nela”;

“Aprendi que é preciso dar mais atenção à minha


respiração, pois quando faço isso, me sinto relaxada”;

“Que a uso de maneira incorreta e que posso, através do


aprendizado, respirar melhor e ficar mais calma”;

“Aprendi que não sei respirar!”;

“Aprendi que eu não respiro direito e com os exercícios


feitos, me senti muito bem. Agora ficarei mais atenta à minha
respiração”;

“Que é preciso ter mais consciência de como se deve


respirar”.

E é exatamente isso que responderia também, que


respirar todo mundo respira, no entanto “é preciso ter mais
consciência de como se deve respirar”.

70
O que acontece, porém, é que a maioria das pessoas
respira, por assim dizer, para não morrer; uma respiração
meramente fisiológica e inconsciente.

Antes isso acontecia comigo e pode ser que também


aconteça com você.

A respiração que proponho é uma respiração para a


Vida!

Em outras palavras:

Respirar não apenas para não morrer, mas aprender a


respirar para VIVER!

Costumo também solicitar que os participantes


completem a frase: quando eu respiro, eu sinto...

Os significados atribuídos mais comuns são:

Vida; Alívio; Felicidade; Calma; Concentração;


Plenitude.

Portanto, fica claro que de nada adianta apontar


culpados. É o velho exemplo de que quando aponto um dedo
na direção do outro, tenho três apontando em minha própria
direção. Por isso não importa o que a vida fez de você até
agora, mas o que você vai fazer dela daqui em frente já que
está tendo esta possibilidade de começar a exercitar o controle
respiratório.

Se quisermos, portanto, diminuir a ansiedade no


mundo, devemos ir ao encontro de nossa própria
historicidade. Ou seja, da noção de que nossa existência no
71
presente mantém uma relação com o passado e com o futuro.
Sendo assim, toda ação possui uma reação. E isso pode ser
feito através do controle respiratório.

É importante termos em mente, como bem descreveu


Gunaratana, que foi professor de Budismo na Universidade de
Georgetown em Washington e autor do livro A meditação ao
alcance de todos, que nos apraz pensar que estamos explorando
todos os ramos do conhecimento humano na conquista da paz
e da felicidade, mas aos poucos começamos a perceber que
exageramos o aspecto material da existência, à custa do mais
profundo aspecto emocional e espiritual e que já estamos
pagando por esse erro. Uma coisa é falar sobre a
degenerescência da fibra moral dos homens de hoje e outra é
fazer algo a respeito. Devemos começar por nós mesmos.
Lancemos para dentro de nós uma olhada genuína e objetiva e
cada um verá momentos em que ‘o contraventor sou eu’.

Portanto, através do controle respiratório, podemos


assumir a responsabilidade pela cura da ansiedade e depressão
começando por nós mesmos. Enquanto acreditarmos em uma
mudança somente através de medicamentos, muito pouco
será mudado.

Para mudar a realidade de fato, precisamos


reconhecer que nossas ideias orientam nossas ações e que, por
isso mesmo, também são capazes de transformá-la. De acordo
com Sri Aurobindo, yogue e educador indiano educado na
Inglaterra, não é tomando uma mera atitude mental que isso
pode ser feito, ou mesmo por um número qualquer de
experiências interiores que deixam o homem exterior como

72
ele era. É este homem exterior que tem que se abrir,
entregar-se e mudar.

No meu caso em particular, só me dei conta de que


estava com depressão porque em determinado momento
comecei a pensar diversas vezes em suicídio. Em certos casos,
cheguei a pensar em atentar contra a vida de alguma outra
pessoa. Principalmente no trânsito em simples discussões.

Tratava-se de uma desorganização mental tão


extremada que eu queria tão somente matar ou morrer.
Obviamente, pensava comigo, tais pensamentos não são
normais.

– Eu estava doente!

A tristeza, a falta de energia, os pensamentos


suicidas, bem como a necessidade de ficar isolado eram sinais
de que eu precisava urgentemente de tratamento médico.

Claro que existem diversos fatores que podem


ocasionar o surgimento da depressão. Fatores climáticos,
psicológicos, sociais, hereditários, orgânicos, espirituais,
amorosos, econômicos, etc. Mas nenhum deles é capaz de
justificar os motivos que impulsionam uma pessoa a atentar
contra a própria vida senão o fato de tratar-se de uma doença.

Uma doença cujos sintomas, quando estamos


medicados, desaparecem em algumas semanas. Mas estar
medicado e sentindo-se bem não é o mesmo que estar curado.
Por isso também da importância de acompanhamento
psicológico.

73
Lembrando que se você suspeita estar com depressão,
procure logo um psiquiatra. Assim como você, eu também
evitava tomar os remédios.

Em certas horas, era a questão do preço – alguns são


caros demais.

Em outras, era a questão de não me adaptar a certo


tipo de medicação em função dos efeitos colaterais.

Por fim, em certas ocasiões, o próprio psiquiatra não


me parecia ser digno de confiança.

Contudo, o preconceito decorrente da falta de


informação foi o maior vilão nessa história toda.

74
Sétima parte
Respirando a gente se aprende!

Na opinião da professora Monserrat Fernandes a


respiração, além de traduzir saúde, higiene e estado social,
tem também uma ação mística sobre o homem, traduzindo o
seu estado psíquico. É sua principal função biológica e magna.
Oxigena o sangue, beneficia glândulas e massageia, com o
auxílio do diafragma, os órgãos internos. A importância de
respirar corretamente é a mesma que VIVER BEM.

A finalidade da respiração é captar, acumular e


distribuir a energia pelo corpo todo e, depois, fixá-la em certas
partes que necessitem de mais energia.

Muitas pessoas, no entanto, desconhecem a


importância do papel que a respiração desempenha na teia da
vida e, assim, assistimos ao alarmante crescimento dos índices
de ansiedade que, como está demonstrado, possui relação
direta com a respiração deficiente.

Para corrigir este problema é preciso, em primeiro


lugar, aprender que a respiração é composta de três fases:
baixa (na região do abdominal), média (na altura das
costelas) e alta (torácica).

Agora, é importante saber que todas as técnicas a


serem realizadas a seguir exigem o controle da musculatura
diafragmática, principal músculo responsável pela respiração,
e que, na maioria dos casos, pode apresentar tensões.
75
Por isso, o melhor a fazer é iniciar o aprendizado de
tais técnicas deitado no chão. Após ter compreendido o
funcionamento básico da respiração abdominal, você então
poderá realizá-la sentado enquanto dirige, trabalha ou mesmo
assistindo tv. Onde estivermos, a respiração estará sempre
conosco, mostrando o caminho para uma vida mais calma e
consciente.

Na opinião do professor Hermógenes, para realizar


tais técnicas, a atenção, alerta e ininterrupta devem
acompanhar a suave e profunda ondulação do ventre, o entrar
e sair do alento. Dizemos alento e não ar atmosférico, pois a
partir daqui, cada vez que inspiramos, devemos mentalizar o
prana, que é vida, paz, saúde, energia, alegria, enfim, tudo de
que precisamos para ser feliz. Bem dissemos que a atenção
deve acompanhar, pois o praticante só experimentará as
sensações de descanso, liberdade, espontaneidade, leveza,
alegria e paz, se abandonar-se à vida que nele penetra, sem
interferir voluntariamente no processo. Deve deixar que a
respiração, vinda do plano profundo do eu, chegue à
superfície e se harmonize no plano consciente.

76
Respiração baixa:

Coloque as mãos sobre o umbigo e faça com que a


respiração aconteça somente nessa região. Tal fase respiratória
é sem dúvida a mais importante porque equilibra todas as
demais. Essa é a forma natural de respirar e é excelente para
tranquilizar crises emocionais.

Importante: quando inspirar, projete suavemente o


abdômen para fora.

É aqui que muitas pessoas sentem dificuldades, pois a


grande maioria quando inspira, costuma fazer exatamente o
oposto, ou seja, recolher o abdômen. Demonstramos que isso
é um contrassenso, pois quando os pulmões enchem de ar,
pressionam o diafragma para baixo e o abdômen é
naturalmente expandido.

Forçar a musculatura abdominal para dentro impede


a ação diafragmática, bloqueando sua ação sobre as vísceras
abdominais (o que pode provocar má digestão, prisão de
ventre e cólicas menstruais), impedindo a liberação emocional
e resultando numa limitação dos sentimentos, falta de
autocontrole, redução do potencial respiratório e, por
consequência, diminuição do fluxo energético em nosso
organismo, levando-nos a estados frequentes de cansaço e
falta de energia.

O que confirma a tese de Fritz Perls, o fundador da


Gestalt-Terapia, que diz que a ansiedade é a experiência da
respiração dificultada durante qualquer excitação bloqueada.
E, embora a respiração desimpedida desfaça a ansiedade, é
exatamente isso que o ansioso não consegue fazer, a saber,

77
respirar, pois, inconsciente do que está fazendo e portanto, de
maneira incontrolável, mantém contra sua respiração um
sistema de tensões motoras tais como o tensionamento do
diafragma, da garganta e o estufar do peito para parecer dono
de si mesmo.

Respiração média:

Essa fase controla a respiração na área média dos


pulmões e requer um controle quase perfeito, pois não se trata
de uma parte autônoma da função respiratória. Trata-se de
uma respiração que governa o fluxo de Prana (bioenergia)
dentro das regiões médias do peito, fazendo diminuir a
pressão em volta do coração. Por isso, na opinião de
Monserrat, é um excelente preventivo de infarto. Já para os
cardíacos, uma excelente técnica para manter o seu estado
permanentemente aliviado. É também a respiração que
devemos nos habituar a realizar no dia a dia, pois para manter
um bom alinhamento da coluna é preciso estar com o
abdômen fortalecido e contraído, sem no entanto realizar a
respiração ‘alta', que é mais solicitada quando estamos
realizando atividades aeróbicas.

Segure na cintura e venha deslizando as mãos até


chegar à altura das costelas. Descanse as mãos nessa área e
tente respirar somente nessa região, “abrindo” as costelas
lateralmente, sem movimentar as demais, alta e baixa.

Respiração alta:

É a última fase da respiração, embora as pessoas


ansiosas a realizem por primeiro. Para executá-la, é necessário
colocar os polegares abaixo das axilas e aproximar os

78
cotovelos junto ao corpo, deixando que as pontas dos dedos se
direcionem para o pescoço. Em seguida, descanse as palmas
das mãos nesse ponto e respire somente nessa região, sem
movimentar as demais, baixa e média.

Ao término dessa experiência, procure avaliar as fases


que você conseguiu realizar com mais facilidade e aquela na
qual encontrou maior resistência, seja de concentração ou de
controle da musculatura. Com o tempo, comece também a
perceber os efeitos psicológicos de cada fase respiratória.

Respiração profunda:

Chegamos, finalmente, à chamada respiração


profunda ou, respiração completa. É a respiração feita através
de um bom controle respiratório. Trata-se, por assim dizer, do
abc da nossa respiração.

Para executá-la, exale todo o ar, abra as costelas,


recolha o abdômen e aguarde até sentir necessidade de
respirar. Quando isso acontecer, inicie a respiração relaxando
a contração abdominal e continue inspirando, suavemente, até
passar para a fase da respiração média (alargando as costelas)
e, por último, finalizar com uma completa absorção de ar nos
pulmões, que ocorrerá na parte alta, elevando suavemente os
ombros. Concomitantemente, o abdômen, que permanecia
avançado, volta à sua posição normal levemente recolhido.

O próprio Hermógenes recomenda que a expiração


seja feita de maneira inversa, como que espremendo a esponja
pulmonar, a partir de cima até embaixo. Tanto a inspiração e
expiração se processam, cada uma, como um movimento
único e uniforme, apesar de triplo, como vimos.

79
Os benefícios dessa respiração são inúmeros. Dentre
eles, na opinião de Hermógenes, podemos citar a melhoria da
qualidade do sangue pela maior eliminação de gás carbônico,
desenvolvendo sensivelmente a resistência orgânica e
aumentando notavelmente a energia psíquica; desenvolve a
autoconfiança, o autodomínio e o entusiasmo para viver.

Lembre-se de quando nos é dito: Respire fundo!


Imediatamente inspiramos e enchemos os pulmões de ar, isto
é bastante comum. Mas, nos esquecemos de um pequeno
detalhe.

Antes de encher os pulmões, devemos esvaziá-los


primeiro.

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Últimos suspiros

Respire fundo!

De acordo com a Organização Mundial de Saúde,


uma pessoa saudável não é somente aquela que não está
doente. Uma pessoa saudável é aquela que está bem consigo
mesma, por isso podemos também entender a noção de saúde
como sendo a capacidade de nutrir nossas células com tudo o
que é essencial para a nossa vida. E você já aprendeu que a
respiração é essencial. Mas, por outro lado, tudo vai depender
da nossa intenção.

Contam que um filósofo caminhava com seu discípulo


quando viu três operários trabalhando seriamente. Lembrou-
se de que, meses atrás, seu discípulo não havia conseguido
entender a importância de se doar por completo a tudo aquilo
que se faz na vida.

O filósofo então aproximou-se do primeiro operário e


perguntou: “O que você faz aí, meu bom rapaz?”.

O operário respondeu: “Estou quebrando pedra”.

O filósofo, em seguida, aproximou-se do segundo


operário e fez outra tentativa: “O que você faz aí, meu bom
rapaz?”.

Desta vez, ouviu uma explicação diferente: “Estou


ganhando dinheiro”, respondeu o operário.

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Agradecendo a preciosa informação, o filósofo fez
depois a mesma pergunta para o terceiro operário e, para o
espanto de seu discípulo, o operário respondeu: “Estou
participando da construção de uma belíssima catedral. Vocês
querem participar?”.

Nossa vida não é assim tão diferente dessa estória.


Alguns vivem como se carregassem pedras, outros como se a
vida fosse tão somente dedicada a ganhar dinheiro. Contudo,
existem aqueles que estão aqui para participarem da
construção de um mundo melhor.

Você quer participar?

Antes de encerrar, gostaria de dizer que aprendi com


a vida que é possível ficarmos dias sem comer, horas sem
beber água e minutos sem respirar, mas não podemos viver
um segundo sequer sem AMOR.

Portanto, mais do que respirar fundo, desejo que você


tenha muito amor em sua vida. E onde quer que eu esteja,
estarei sempre torcendo por você!

Com amor,

Prof. Moisés

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Sobre o autor
Jefferson Moisés Santos da Silva – o prof. Moisés -
estudou da educação infantil ao ensino médio em São
Bernardo do Campo – São Paulo. Curitibano por adoção,
possui formação em ciências contábeis e pedagogia, com pós-
graduação em psicopedagogia clínica e institucional. É
também instrutor de yoga e de meditação com
aperfeiçoamento na Índia. Aprofundou seus estudos na
Faculdade de Teologia da Itália Setentrional em Milão.
No campo profissional desenvolve, desde 2001,
atividades de yoga e meditação mindfulness em empresas,
academias e escolas através de palestras, workshops e cursos
de capacitação com o objetivo de diminuir a ansiedade,
fortalecer a concentração, aumentar a criatividade, melhorar a
qualidade do sono e contribuir para o desenvolvimento da
inteligência emocional e dos relacionamentos interpessoais.
É de sua autoria os livros “Os efeitos da ansiedade na
aprendizagem”, “Rebeldia sem prosa” e “A teologia da
gaivota”.

yogamoises@hotmail.com

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