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ANNA KAROLINE TAVARES MARSICANO DE BRITO – AULA 02 – EMILE

DURKHEIM – AS REGRAS DO MÉTODO SOCIOLÓGICO

1. Diferencie ciência de senso comum em Emile Durkheim e a importância da


sociologia. Justifique.

O senso comum representa, em linhas gerais, um conjunto de conhecimentos


empíricos difundidos na sociedade, caracterizados como formas genéricas de
posicionamentos (agir e ser) sobre determinados temas que são adotados pela maioria dos
indivíduos com base nos fatos cotidianos. Tal forma de conhecimento é comum nas
crenças, não possui uma base científica, assim como não é dotado de criticidade, ou seja,
não permite que os indivíduos construam o saber de forma comprovada, mas sim de
maneira espontânea como, por exemplo, consolidar um pensamento com base no que
várias pessoas opinaram sobre determinado tema. Em seu livro, Durkheim elucida o senso
comum comparando-o com os efeitos causados pelo calor, luz, som ou eletricidade, tendo
em vista que esses fenômenos causam impressões confusas e não noções claras.
A ciência, por sua vez, utiliza-se de métodos estabelecidos, pautados em uma
estrutura própria de acordo com a natureza do objeto estudado, na intenção de
compreender e comprovar o funcionamento dos fenômenos em questão. É justamente
neste sentido de elaboração do método científico que Durkheim, em sua obra “As Regras
do Método Sociológico”, desenvolve a construção sistemática da sociologia enquanto
ciência, através dos estudos e investigações acerca dos fatos sociais, aproximando-a do
modelo adotado pelas ciências naturais e distanciando como verdadeiros todos os
conhecimentos que não fossem demonstrados através de métodos estruturados
cientificamente. Portanto, o conhecimento científico, diferentemente do senso comum,
fundamenta suas hipóteses através da investigação e postulam leis com base científica,
não apenas meras especulações ou reflexões.
Neste sentido, a sociologia apresenta-se como um instrumento científico capaz de
detectar a incidência dos fenômenos na sociedade e buscar/propor soluções para possíveis
problemas sociais, na intenção de diminuir os dados que estes possam causar sobre o
funcionamento social. Entretanto, mais que apresentar respostas, a sociologia representa
uma forma de compreender as causas e consequências do que ocorre no mundo, portando-
se como uma verdadeira psicanalista do meio social e de suas reverberações através das
interações entre as coisas e os indivíduos que o compõem.
2. Defina e relacione fato social, coerção social e instituição no autor.

Na obra “As Regas do Método Sociológico”, Durkheim teve como objetivo


basilar analisar o fato social, tratando-o como o principal objeto de investigação da
sociologia, a fim de demonstrar que cada parte da sociedade possui uma função
específica em prol de sua totalidade. Neste sentido, conceituou o fato social como toda
forma, seja ela fixada ou não, capaz de incidir sobre o indivíduo uma coerção advinda
do exterior, de maneira generalizada, independentemente das manifestações e vontades
individuais de cada pessoa. Como exemplos de fatos sociais é possível citar as normas
de convivência, os valores e convenções, tendo em vista que todos estes existem
independentemente da vontade do indivíduo.
Ainda na referida obra, na medida em que o autor conceitua o fato social, é
possível extrair três características que estão interligadas ao seu funcionamento. A
primeira característica diz respeito à generalidade, uma vez que o fato social atinge toda
a sociedade e não apenas os indivíduos isoladamente. Em seguida, tem-se a
exterioridade, que consiste na noção de que o fato social existe fora do indivíduo. Por
fim, postula-se sobre a coercibilidade, que está relacionada ao poder que os fatos sociais
possuem em relação à sociedade, tendo em vista que eles obrigam os indivíduos a
cumprirem os padrões sociais mesmo que não estejam de acordo.
A coerção social, portanto, é um por imperativo por meio do qual o fato social é
imposto à sociedade, quer ela deseje ou não o seguir. Desta forma, entende que uma vez
criadas as estruturas sociais, elas adquirem autonomia e assumem independência
quanto aos indivíduos, influenciando diretamente sua existência. Além disso,
Durkheim pontuou que, com o passar do tempo, a coerção deixa de ser sentida pelo
indivíduo, haja vista que seus efeitos vão tornando-se hábitos e tendências enraizadas,
sendo realizados de maneira automática.
As instituições sociais, por sua vez, são mecanismos que determinam e repassam
as regras e normas da sociedade para os indivíduos, atuando no processo de
socialização e integração de grupos sociais. Como exemplo de instituições sociais, é
possível citar a família, a escola, a igreja e o próprio Estado, uma vez que estes grupos
indicam os caminhos que os indivíduos devem seguir em prol de atingir uma noção de
coesão social, representando, de tal forma, formadores de opiniões e posicionamentos.
3. Elabore uma questão sobre o texto.

Conforme Durkheim expõe, é necessário que o pesquisador mantenha distância e


neutralidade em relação aos fatos sociais, tratando-os como coisa, na intenção de garantir
a objetividade na estruturação do método científico. Contudo, como é possível que o
indivíduo, enquanto ser complexo, possa tomar esse distanciamento se ao mesmo tempo
em que ele investiga ele também é o próprio objeto a ser investigado?

4. Relacione este texto com algum artigo científico, livro ou tema tratado por algum
autor contemporâneo e justifique de forma breve.

Apesar dos autores em questão trabalharem conceitos distintos, através de


posicionamentos também diferentes, a leitura do livro “As Regras do Método
Sociológico” de Durkheim, principalmente no que se refere à incidência do fato social
em determinada sociedade, proporcionou o estabelecimento de pontos de convergência
com algumas características da dominação trabalhadas por Bourdieu em “A Dominação
Masculina”.
De acordo com o sociólogo contemporâneo, as instituições como o Estado, a
família e a escola atuam como agente disseminadores das relações de dominação,
determinando comportamentos, impondo regras e valores que são absorvidos pelos
indivíduos, de forma que tais posturas são aprendidas institivamente por meio de
esquemas inconscientes. Esta forma de internalização dos preceitos sociais tido como
corretos remetem à noção proposta por Durkheim sobre a relação dos indivíduos com as
instituições e regras morais, que atuam sob o poder imperativo da coação. Assim, o poder
simbólico, trabalhado por Bourdieu, em conjunto com a ideia de coercibilidade dos fatos
sociais, desenvolvida por Durkheim, possuem uma certa interseção na medida em que
invadem inconscientemente o meio social.

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