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Introdução ao estudo da Doutrina Espírita

Para as coisas novas, necessita-se de palavras novas. Assim o quer a clareza da


linguagem, para evitar a confusão inseparável do sentido múltiplo provocado por
vocábulos iguais. As palavras espiritual, espiritualista, espiritualismo já possuem
uma acepção bem definida; dar-lhes uma outra para aplicar à Doutrina dos
Espíritos seria multiplicar as causas já numerosas da anfibologia?. O
espiritualismo é o oposto do materialismo; quem quer que acredite ter em si
mesmo outra coisa além da matéria é espiritualista; mas não quer dizer que
acredite na existência de Espíritos ou em suas comunicações com o mundo
visível. Em lugar das palavras espiritual e espiritualismo, empregamos para
designar essa última crença, Espírita e Espiritismo, cuja forma lembra a origem e
o sentido radical e, por esse fato mesmo, têm a vantagem de ser perfeitamente
inteligíveis, reservando à palavra espiritualismo suas próprias acepções.
Diremos, portanto, que a Doutrina Espírita ou o Espiritismo tem por princípio as
relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível. Os
adeptos do Espiritismo serão os espíritas ou, se o quiserem, os espiritistas.
O Livro dos Espíritos contém a Doutrina Espírita, mas liga-se também à doutrina
espiritualista, da qual representa uma das fases. Tal é a razão pela qual leva no
topo de seu título as palavras: Filosofia Espiritualista.

C- Das Causas Primeiras - Deus - (LE - Livro 1º - cap. I - pergunta 1 a 3)

Deus e o Infinito

Que é Deus?
“Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas10.”

O que se deve entender por infinito?


“O que não tem nem começo nem fim: o desconhecido; todo o desconhe-cido é
infinito.”

Pode-se dizer que Deus é o infinito?


“Definição incompleta. Escassez de recursos da linguagem, insuficiente para
definir as coisas que estão acima da inteligência dos homens.”
Deus é infinito em suas perfeições, mas o infinito é uma abstração; dizer que
Deus é o infinito é tomar o atributo de uma coisa por ela mesma; definir uma
coisa, que não é conhecida, por uma que também não o é.

Condições da Prece

Condições da Prece
1. Quando orardes, não vos assemelheis aos hipócritas, que gostam de orar em
pé nas sinagogas e nas esquinas, para serem vistos pelos homens. Eu vos digo,
em verdade, que eles já receberam a sua recompensa. Mas vós, quando orardes,
entrai em vosso aposento e, fechada a porta, orai ao vosso Pai em segredo, e Ele
– que vê o que se passa em segredo – vos dará a recompensa.

E quando orais não faleis muito, como fazem os gentios, imaginando que serão
ouvidos por muito falar. Não queirais, portanto, parecer-vos com eles, pois vosso
Pai sabe do que tendes necessidade, antes que vós lho peçais. (Mateus, VI:5-8)

2. Quando vos puserdes em oração, se tiverdes algo contra alguém, perdoai-lhe,


para que também o vosso Pai que está nos céus, perdoe os vossos pecados.
Porque se vós não perdoardes, também vosso Pai que está nos céus, não vos
perdoará os pecados.(Marcos, XI:25-26)

3. E propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos, como


se fossem justos, e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo
para fazer oração: um era fariseu e o outro publicano. O fariseu, em pé, orava lá
no seu interior desta forma: Meu Deus, eu vos rendo graças, por não ser como o
resto dos homens, que são ladrões, adúlteros, injustos, como é também este
publicano. Eu jejuo duas vezes por semana, e pago o dízimo de tudo o que
possuo.

O publicano, ao contrário, afastando-se, não ousava ao menos erguer os olhos


ao céu, mas batia no peito, dizendo: Meu Deus, tende piedade de mim, pois sou
um pecador.
Eu vos declaro que este voltou para casa justificado, e não o outro. Pois todo
aquele que se exalta será humilhado, e todo o que se humilha será exaltado.
(Lucas, XVIII:9-14)

4. As condições da prece foram claramente definidas por Jesus. Quando orardes,


diz Ele, não vos coloqueis em evidência, mas orai em segredo. Não vos
preocupeis em orar demais, pois não é pela multiplicidade das palavras que
sereis atendidos, mas por vossa sinceridade. Antes de orardes, se tiverdes algo
contra alguém, perdoai-lhe, pois a prece não será agradável a Deus, se não
partir de um coração purificado de qualquer sentimento contrário à caridade.
Orai, enfim, com humildade, como o publicano, e não com orgulho, como o
fariseu. Examinai vossos defeitos, e não as vossas qualidades, e se vos
comparardes aos outros, buscai o que há de mau em vós. (Ver Cap. X, nº 7 e 8).

Eficácia da prece

5. O que quer que pedirdes através da prece, crede, conseguireis. (Marcos,


XI:24)
6. Há pessoas que contestam a eficácia da prece entendendo que, por conhecer
Deus as nossas necessidades, torna-se inútil expô-las a Ele. Acrescentam ainda
que, como tudo se encadeia no universo por meio das leis eternas, nossas
rogativas não podem mudar os desígnios de Deus.

Sem dúvida alguma, há leis naturais e imutáveis que Deus não pode anular
segundo os caprichos de cada um. Mas daí a acreditar que todas as
circunstâncias da vida estejam submetidas à fatalidade, a distância é grande. Se
assim fosse, o homem seria apenas um instrumento passivo, sem livre arbítrio e
sem iniciativa. Nessa hipótese, só lhe caberia curvar a fronte aos golpes de todos
os acontecimentos, sem procurar evitá-los. Não deveria esquivar-se dos perigos.
Deus não deu ao homem o entendimento e a inteligência para não serem
utilizadas; a vontade para não querer; a atividade para ficar na inação. Sendo o
homem livre para agir, num ou noutro sentido, seus atos têm, para ele mesmo e
para os outros, conseqüências subordinadas às suas decisões. Por sua iniciativa,
há portanto, acontecimentos que escapam, forçosamente, à fatalidade, e que
nem por isso destroem a harmonia das leis universais, assim como o avanço ou o
atraso dos ponteiros do relógio não destrói a lei do movimento, sobre o qual está
estabelecido o mecanismo. Deus pode, então, atender a certos pedidos sem
derrogar a imutabilidade das leis que regem o conjunto, dependendo sempre da
Sua vontade.

7. Seria, pois, ilógico concluir-se desta máxima: “Aquilo que pedirdes através da
prece vos será concedido”, que basta pedir para obter, é injusto acusar a
Providência se ela não atender a todos os pedidos que lhe fazem, pois ela sabe
melhor do que nós o que nos convém. Assim acontece a um pai prudente, que se
recusa a dar ao filho o que lhe seria prejudicial. O homem, normalmente, só vê o
presente. Ora, se o sofrimento é útil à sua felicidade futura, Deus o deixará
sofrer, como o cirurgião deixa o doente passar por uma cirurgia que deve curá-
lo.

E o que Deus lhe concederá, se for pedido com confiança, é a coragem, a


paciência e a resignação. O que Ele lhe concederá ainda são os meios de livrar-se
dos problemas, com a ajuda das idéias que os bons Espíritos lhe sugerem,
deixando-lhe assim, o mérito da ação. Deus assiste aqueles que se ajudam a si
mesmos, segundo esta máxima: “Ajuda-te e o céu te ajudará”, e não os que
tudo esperam do socorro alheio, sem usarem as suas próprias faculdades. Mas
na maior parte do tempo, preferimos ser socorridos por um milagre, sem nada
fazermos. (Ver Cap. XXV, nº 1 e seguintes).

8. Tomemos um exemplo: Um homem está perdido num deserto; sofre


terrivelmente de sede; sente-se desfalecer, cai ao chão; pede a Deus que o
ajude, mas nenhum anjo vem lhe trazer água. Entretanto, um bom Espírito lhe
sugere levantar-se, e seguir determinada direção. Então, com um movimento
instintivo, reúne suas forças, levanta-se e, caminha ao acaso. Chegando a uma
elevação, ele descobre, ao longe, um regato e com isso coragem. Se tiver fé,
dirá: “Obrigado, meu Deus, pelo pensamento que me inspiraste e pela força que
me deste.” Se não tiver fé, dirá: “Que ótima idéia eu tive! Que sorte eu tive, em
tomar o caminho da direita ao invés do caminho da esquerda; o acaso, algumas
vezes, nos ajuda de fato! Como eu estou feliz pela minha coragem e por não ter
me deixado abater!”

Mas, dir-se-á, por que o bom Espírito não lhe disse claramente: “Siga este
caminho, e no fim encontrarás o que tens necessidade!” Por que não lhe
apareceu para guiá-lo e sustentá-lo no seu abatimento? Dessa forma, o teria
convencido da intervenção da Providência. Primeiramente, para lhe ensinar que é
preciso ajudar-se a si mesmo e fazer uso de suas próprias forças, depois,
porque, por incerteza, Deus coloca à prova a confiança e a submissão à sua
vontade. Esse homem estava na situação da criança que, ao cair, vendo alguém,
põe-se a gritar esperando que alguém a levante; Mas, se não vê ninguém,
esforça-se e levanta-se sozinha.
Se o anjo que acompanhou Tobias lhe houvesse dito: “Eu fui enviado por Deus
para guiar-te em tua viagem e te preservar de todo perigo”, Tobias não teria
nenhum mérito. Foi por isso que o anjo somente se deu a conhecer na volta.

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