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“Neste jantar, a que os meus amigos deram o nome de banquete, em falta de outro melhor, reuni
umas cinco pessoas, conquanto as notícias dissessem trinta e três (anos de Cristo), no intuito de lhe
dar um aspecto simbólico.” (2o parágrafo)
No contexto em que se inserem, as orações sublinhadas expressam, respectivamente, ideia de
(A) consequência e comparação.
(B) concessão e consequência.
(C) condição e comparação.
(D) concessão e finalidade.
(E) condição e finalidade.
Escritor refletido e cheio de recurso, a sua obra é uma das minas da literatura brasileira, até hoje, e
embora não pareça, tem continuidades no Modernismo. Nossa iconografia imaginária, das
mocinhas, dos índios, das florestas, deve aos seus livros muito da sua fixação social; de modo mais
geral, para não encompridar a lista, a desenvoltura inventiva e brasileirizante da sua prosa ainda
agora é capaz de inspirar. (Roberto Schwarz. Ao vencedor as batatas, 2000. Adaptado.)
O comentário refere-se ao escritor
(A) Manuel Antônio de Almeida.
(B) Aluísio Azevedo.
(C) Tomás Antônio Gonzaga.
(D) José de Alencar.
(E) Raul Pompeia.
Para responder às questões de 02 a 05, leia a crônica “A obra-prima”, de Lima Barreto, publicada na
revista Careta em 25.09.1915.
Marco Aurélio de Jesus, dono de um grande talento e senhor de um sólido saber, resolveu certa vez
escrever uma obra sobre filologia. Seria, certo, a obra-prima ansiosamente esperada e que daria ao
espírito inculto dos brasileiros as noções exatas da língua portuguesa. Trabalhou durante três anos,
com esforço e sabiamente. Tinha preparado o seu livro que viria trazer à confusão, à dificuldade de
hoje, o saber de amanhã. Era uma obra-prima pelas generalizações e pelos exemplos. A quem
dedicá-la? Como dedicá-la? E o prefácio? E Marco Aurélio resolve meditar. Ao fim de igual tempo
havia resolvido o difícil problema. A obra seria, segundo o velho hábito, precedida de “duas palavras
ao leitor” e levaria, como demonstração de sua submissão intelectual, uma dedicatória. Mas “duas
palavras”, quando seriam centenas as que escreveria? Não. E Marco Aurélio contou as “duas
palavras” uma a uma. Eram duzentas e uma e, em um lance único, genial, destacou em relevo, ao
alto da página “duzentas e uma palavras ao leitor”. E a dedicatória? A dedicatória, como todas as
dedicatórias, seria a “pálida homenagem” de seu talento ao espírito amigo que lhe ensinara a
pensar… Mas “pálida homenagem”… Professor, autor de um livro de filologia, cair na vulgaridade da
expressão comum: “pálida homenagem”? Não. E pensou. E de sua grave meditação, de seu
profundo pensamento, saiu a frase límpida, a grande frase que definia a sua ideia da expressão e,
num gesto, sulcou o alto da página de oferta com a frase sublime: “lívida homenagem do autor”…
Está aí como um grande gramático faz uma obra-prima. Leiam-na e verão como a coisa é bela.
Para responder às questões de 12 a 16, leia o trecho do romance Grande sertão: veredas, de
Guimarães Rosa. Sei que estou contando errado, pelos altos. Desemendo. Mas não é por disfarçar,
não pense. De grave, na lei do comum, disse ao senhor quase tudo. Não crio receio. O senhor é
homem de pensar o dos outros como sendo o seu, não é criatura de pôr denúncia. E meus feitos já
revogaram, prescrição dita. Tenho meu respeito firmado. Agora, sou anta empoçada, ninguém me
caça. Da vida pouco me resta — só o deo-gratias; e o troco. Bobeia. Na feira de São João Branco, um
homem andava falando: — “A pátria não pode nada com a velhice...” Discordo. A pátria é dos
velhos, mais. Era um homem maluco, os dedos cheios de anéis velhos sem valor, as pedras retiradas
— ele dizia: aqueles todos anéis davam até choque elétrico... Não. Eu estou contando assim, porque
é o meu jeito de contar. Guerras e batalhas? Isso é como jogo de baralho, verte, reverte. Os
revoltosos depois passaram por aqui, soldados de Prestes, vinham de Goiás, reclamavam posse de
todos os animais de sela. Sei que deram fogo, na barra do Urucuia, em São Romão, aonde aportou
um vapor do Governo, cheio de tropas da Bahia. Muitos anos adiante, um roceiro vai lavrar um pau,
encontra balas cravadas. O que vale, são outras coisas. A lembrança da vida da gente se guarda em
trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que nem não
misturam. Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo as coisas de rasa importância. De cada
vivimento que eu real tive, de alegria forte ou pesar, cada vez daquela hoje vejo que eu era como se
fosse diferente pessoa. Sucedido desgovernado. Assim eu acho, assim é que eu conto. [...] Tem
horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data. O senhor
mesmo sabe.
No trecho “O senhor é homem de pensar o dos outros como sendo o seu, não é criatura de pôr
denúncia”, o narrador caracteriza seu interlocutor como
(A) distraído. (B) indulgente. (C) desrespeitoso. (D) presunçoso. (E) perseverante
Unicamp 2020/21
Entre todas as palavras do momento, a mais flamejante talvez seja desigualdade. E nem é uma boa
palavra, incomoda. Começa com des. Des de desalento, des de desespero, des de desesperança.
Des, definitivamente, não é um bom prefixo. Desigualdade. A palavra do ano, talvez da década, não
importa em que dicionário. Doravante ouviremos falar muito nela. De-si-gual-da-de. Há quem não
veja nem soletre, mas está escrita no destino de todos os busões da cidade, sentido
centro/subúrbio, na linha reta de um trem. Solano Trindade, no sinal fechado, fez seu primeiro rap,
“tem gente com fome, tem gente com fome, tem gente com fome”, somente com esses
substantivos. Você ainda não conhece o Solano? Corra, dá tempo. Dá tempo para você entender que
vivemos essa desigualdade. Pegue um busão da Avenida Paulista para a Cidade Tiradentes, passe o
vale-transporte na catraca e simbora – mais de 30 quilômetros. O patrão jardinesco vive 23 anos a
mais, em média, do que um humaníssimo habitante da Cidade Tiradentes, por todas as razões
sociais que a gente bem conhece. Evitei as estatísticas nessa crônica. Podia matar de desesperança
os leitores, os números rendem manchete, mas carecem de rostos humanos. Pega a visão, imprensa,
só há uma possibilidade de fazer a grande cobertura: mire-se na desigualdade, talvez não haja mais
jeito de achar que os pontos da bolsa de valores signifiquem a ideia de fazer um país. (Adaptado de
Xico Sá, A vidinha sururu da desigualdade brasileira. Em El País
A crônica instiga o leitor a ficar atento à desigualdade na cidade de São Paulo. Assinale a alternativa
que identifica corretamente os recursos expressivos (estilísticos e literários) de que se vale o autor.
a) A desigualdade está escrita nas linhas de trens e ressoa nos versos de Solano Trindade:
onomatopeia.
b) No destino dos transportes coletivos no sentido centro subúrbio é possível viver a desigualdade:
eufemismo.
c) A desigualdade se mostra na expectativa de vida dos moradores de bairros bem situados e
periferias: alusão.
d) Na cobertura da imprensa, números da desigualdade perdem para pontos da bolsa de valores:
ambiguidade.
“Se Cabral tivesse uma vaga noção d’ACAPA de hoje, véspera do 22 de abril de 2020, provavelmente
teria desviado o curso de suas caravelas rumo a outras terras.”
ACAPA- terra plana à vista
No país cujo destino foi desenhado por ventos e velas há 520 anos hoje abundam birutas
A primeira página que você não vê no jornal que você lê
ACAPA é um perfil de Facebook, que publica capas possíveis de revista. O efeito humorístico na
leitura dessa edição de ACAPA decorre mais precisamente do uso
a) da expressão “terra à vista”, que remete à época em que a terra ainda era plana.
b) da expressão “abundam birutas”, em referência aos povos originários do Brasil.
c) do pronome relativo “cujo” para indicar o destino traçado para a terra plana há 520 anos.
d) da imagem de uma biruta mostrando a direção do vento, aliada à referência a “birutas” atuais.
As palavras organizadas comunicam sempre alguma coisa, que nos toca porque obedece a certa
ordem. Quando recebemos o impacto de uma produção literária, oral ou escrita, ele é devido à
fusão inextricável da mensagem com a sua organização. Em palavras usuais: o conteúdo de uma
obra literária só atua por causa da forma. (Adaptado de Antonio Candido, “O direito à literatura”, em
Vários escritos. São Paulo: Ouro sobre azul e Duas Cidades, 2004, p.178. A obra Sobrevivendo no
inferno do grupo Racionais Mc’s é composta pelas canções e pelo projeto editorial da capa e
contracapa do CD. Nesse projeto editorial, encontram-se elementos visuais e verbais que
estabelecem um jogo de formas e sentidos. Com base na afirmação de Antonio Candido, é correto
afirmar que a organização desses elementos
a) produz uma simetria entre som e sentido, sendo que tal simetria indica que os símbolos religiosos
são uma resposta à violência.
b) configura um sistema de oposições, uma vez que imagens e palavras estabelecem tensões
materiais e espirituais, constitutivas do sentido das canções.
c) configura uma sintaxe poética de ordem espiritual. Essa sintaxe espelha o caos e as injustiças
vividos na periferia das grandes cidades.
d) produz uma lógica poética racional. Essa lógica se explicita na vitória do crime sobre a visão de
mundo presente nos versículos bíblicos transcritos.
O poema abaixo vem impresso na orelha do livro Psia, de Arnaldo Antunes.
Psia é feminino de psiu; que serve para chamar a atenção de alguém, ou para pedir silêncio. Eu berro
as palavras no microfone da mesma maneira com que as desenho, com cuidado, na página. Para
transformá-las em coisas, em vez de substituírem as coisas. Calos na língua; de calar. Alguma coisa
entre a piscina e a pia. Um hiato a menos.
Na orelha do livro, Antunes apresenta ao leitor seu processo de criação poética. É correto dizer que
o autor se propõe a
a) revelar a primazia da comunicação oral sobre a escrita das palavras.
b) discutir a flexão de gênero, que torna a palavra “psia” um substantivo.
c) defender a conversão das palavras em coisas, mudando seu estatuto.
d) explorar o poder de representação da interjeição exclamativa “psiu!”.
Entre os versos de Gilberto Gil transcritos a seguir, podemos identificar uma relação paradoxal em:
a) “Sou viramundo virado / pelo mundo do sertão.”
b) “Louvo a luta repetida / da vida pra não morrer.”
c) “De dia, Diadorim, / de noite, estrela sem fim.”
d) “Toda saudade é presença / da ausência de alguém.”
#BRACONTRAAUS não é a única rivalidade que as mulheres têm de enfrentar no esporte hoje. Marta
está jogando com uma chuteira sem patrocínio e com símbolo de equidade no esporte.
Texto II O que levou Marta, seis vezes a melhor do mundo, a enfrentar a Austrália de chuteiras
pretas? Adianto, não foi o futebol “raiz”. Marta não fechou patrocínio com nenhuma das gigantes do
mercado esportivo. Não recebeu nenhuma proposta à altura do seu futebol. Isso diz muito sobre o
machismo no esporte. A partir disso, a atleta decidiu calçar a luta pela diversidade. (Fonte:
Considerando o tweet e o texto acima, é correto afirmar que a atleta
a) enfrentou o time adversário com chuteiras pretas, mesmo que não tenha sido influenciada pelo
futebol “raiz”.
b) usou chuteiras sem logotipo e luta pela igualdade de gênero no esporte, mesmo sendo
considerada seis vezes a melhor do mundo.
c) não recebeu patrocínio de nenhuma grande empresa, embora a chuteira preta sem logotipo
simbolize o futebol “raiz”.
d) optou por lutar contra o machismo no esporte, embora as propostas de patrocínio não tenham
considerado seu valor.
– Pela milionésima vez, por favor, “se amostrar” não existe. Não pega bem usar uma expressão
incorreta como essa. – Ora veja, incorreto para mim é o que não faz sentido, “se amostrar” faz
sentido para boa parte do país. – Por que você não usa um sinônimo mais simples da palavra? Que
tal “exibido”? Todo mundo conhece. – Não dá, porque quem se exibe é exibido, quem se amostra é
amostrado. Por exemplo: quando os vendedores de shopping olham com desprezo para os meninos
dos rolezinhos e moram no mesmo bairro deles, são exibidos. Eles acham que a roupa de vendedor
faz deles seres superiores. Por outro lado, as meninas e os meninos dos rolezinhos vão para os
shoppings para se amostrar uns para outros, e são, portanto, amostrados. Percebeu a sutileza da
diferença? – Entendo, mas está errado. – Como é que está errado se você entende? Você não aceita
a inventividade linguística do povo. “Amostrar” é verbo torto no manual das conjugações e
“amostrado” é particípio de amostra grátis! Captou? Considerando que a comparação entre modos
de falar pode ser fonte de preconceito, o exemplo citado por uma das personagens da crônica
a) reforça o preconceito em relação às turmas de jovens de um mesmo bairro, com base nos
significados de “amostrado” e “exibido”.
b) explicita o preconceito, valendo-se de “amostrado” e “exibido” para distinguir dois grupos de
jovens do mesmo bairro.
c) dissimula o preconceito e reconhece que “se amostrar” é, de fato, um verbo que não está de
acordo com as normas gramaticais. d) refuta o preconceito e confirma o desconhecimento da regra
de formação do particípio passado do verbo “se amostrar”.
Texto I Leia os versos iniciais da peça Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come (1966), de
Oduvaldo Vianna Filho e Ferreira Gullar. Em formato de cordel, os versos são cantados por todos os
atores. Se corres, bicho te pega, amô. Se ficas, ele te come. Ai, que bicho será esse, amô? Que tem
braço e pé de homem? Com a mão direita ele rouba, amô, e com a esquerda ele entrega; janeiro te
dá trabalho, amô, dezembro te desemprega; de dia ele grita "avante”, amô, de noite ele diz: "não
vá": Será esse bicho um homem, amô, ou muitos homens será? Texto II
-Se correr o bicho pega
-Se ficar o bicho come
(1 de maio) -Se unir o bicho foge
Observe a charge de Laerte que fez parte da mostra Maio na Paulista, em 2019.
Considerando a relação entre os textos I e II, conclui-se que a charge
a) resgata a temática do cordel, rompendo com o impasse vivido pelos personagens.
b) reafirma o dilema dos personagens da peça, parafraseando os versos iniciais do cordel.
c) evidencia a tradição popular nordestina, utilizando a imagem para sofisticar os versos.
d) confirma a força transformadora da versificação popular, reproduzindo-a em imagens.
As vírgulas em "E depois, o silêncio." (L. 1) e em "Mas seu rosto continua sorrindo, para sempre." (L.
2-3) são usadas, respectivamente, com a mesma finalidade que as vírgulas em
(A) "Após a queda, tomaram mais cuidado." e "Quanto mais espaço, mais liberdade.".
(B) "Aos estrangeiros, ofereceram iguarias." e "Limpavam a casa, e preparávamos as refeições.".
(C) "Colheram trigo e nós, algodão." e "Eles se encontraram nas férias, mas não viajaram.".
(D) "Para meus amigos, o melhor." e "Organizava tudo, cautelosamente.".
(E) "Viu o espetáculo, considerado o maior fenômeno de bilheteria." e "'Conheço muito bem',
afirmou o rapaz."
Psicanálise do açúcar
O açúcar cristal, ou açúcar de usina,
mostra a mais instável das brancuras:
quem do Recife sabe direito o quanto, e o pouco desse quanto,
que ela dura. Sabe o mínimo do pouco que o cristal se estabiliza cristal sobre o açúcar, por cima do
fundo antigo, de mascavo, do mascavo barrento que se incuba; e sabe que tudo pode romper o
mínimo em que o cristal é capaz de censura: pois o tal fundo mascavo logo aflora quer inverno ou
verão mele o açúcar. Só os banguês* que-ainda purgam ainda o açúcar bruto com barro, de mistura;
a usina já não o purga: da infância, não de depois de adulto, ela o educa; em enfermarias, com
vácuos e turbinas, em mãos de metal de gente indústria, a usina o leva a sublimar em cristal o pardo
do xarope: não o purga, cura. Mas como a cana se cria ainda hoje, em mãos de barro de gente
agricultura, o barrento da pré-infância logo aflora quer inverno ou verão mele o açúcar. João Cabral
de Melo Neto, A Educação pela Pedra. *banguê: engenho de açúcar primitivo movido a força animal.
Os últimos quatro versos do poema rompem com a série de contrapontos entre a usina e o banguê,
pois
(A) negam haver diferença química entre o açúcar cristal e o açúcar mascavo.
(B) esclarecem que a aparência do açúcar varia com a espécie de cana cultivada.
(C) revelam que na base de toda empresa açucareira está o trabalhador rural.
(D) denunciam a exploração do trabalho infantil nos canaviais nordestinos.
(E) explicam que a estação do ano define em qualquer processo