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Gilbert B. Weaver, Ph.D., Universidade John Brown, Siloam Springs, Arkansas E.U.A.
Trababalho apresentado na reunião da Evangelical Theological Society, New Orleans, 1990.
Corneluis Van Til é um dos mais importantes apologistas do Século XX e o fundador da Escola
Pressuposicional de Apologética. Van Til explica a estratégia pressuposicionalista para a defesa da fé cristã da
seguinte maneira:
O apologeta cristão, Van Til sustenta, deve se interessar pelo método do não-cristão:
...Ele deve fazer uma análise crítica do método. Ele deve se unir ao seu "amigo" no uso do
método. Mas deve fazê-lo conscientemente, com o propósito de mostrar-lhe que a aplicação
mais consistente de tal método não apenas o distancia do teísmo cristão mas em assim fazendo,
o leva à destruição da razão e da própria ciência.2
Assim, de acordo com Van Til, a escolha é somente entre dois posicionamentos intelectuais: o teísmo cristão ou
a sua negação a qual, ele afirma, leva inevitavelmente à destruição das bases do pensamento humano.
Para avaliarmos a afirmação de Van Til, onde ele diz que o homem deve aceitar o cristianismo como
verdadeiro ou abandonar os fundamentos de todo o pensamento humano, a estrutura lógica de sua
argumentação deve ser investigada. Se identificarmos uma forma válida de argumentação, então alguma luz é
projetada em afirmações um tanto enigmáticas encontradas em seus escritos, que dizem que existe um argumento
absolutamente certo e válido que sustenta a existência de Deus e a verdade do cristianismo. Tais afirmações
devem ser avaliadas tendo em vista que Van Til se opõe às formas tradicionais de argumentação coma as de
Tomás de Aquino e as do Bispo Butler (da Inglaterra).
Só para citar um dos locais onde ele faz uma afirmação deste tipo:
A melhor e única prova possível para a existência de Deus é que a sua existência se faz
necessária para dar uniformidade à natureza e para dar coerência a todas as coisas no mundo.
. . . Assim, há uma prova absolutamente certa para a existência de Deus e para a verdade do
teísmo cristão. Até mesmo os não-cristãos pressupõem a verdade enquanto verbalmente a
rejeitam. Eles necessitam pressupor a verdade do teísmo cristão a fim de poder explicar as suas
próprios realizações.3
Se uma forma válida de argumentação teísta pode ser encontrada aqui, então as outras objeções que Van Til faz
com relação aos argumentos teístas de Tomás de Aquino e outros têm o seu lado positivo e não apenas negativo.
Tendo em vista a posição de Van Til quando diz que os argumentos que começam com o homem são
1
Defense of the Faith, 3rd ed. Philadelphia: Presbyterian and Reformed Publishing Company, 1967., p.
100.
2
Ibid., p. 102.
3
Apologetics, apostila não publicada, 1956, p.64.
1
2
necessariamente inválidos, o que ele agora sugere é uma argumentação que começa com Deus. Esta
argumentação pressupõe o Deus da revelação cristã e termina comprovando Deus pela justificação dos
pressupostos adotados, e a falsificação da negação destes pressupostos.
Embora Van Til não sugira a forma lógica de tal argumentação, o que lhe vale algumas críticas, a seguinte
forma de argumentação por pressupostos fica assim sugerida.4
A forma básica da argumentação em questão é da argumentação disjuntiva. Stephen F. Barker, em seu
Elements of Logic escreve:
Uma sentença composta formada de dois enunciados simples unidas por "ou" é chamada de
Disjunção (ou alternativa). Uma disjunção é sempre simétrica, ou seja, "p ou q é sempre
equivalente a q ou p."5
p ou q choverá ou nevará
não q não choverá
Ele continua, dizendo que para que a argumentação seja válida, o "ou" na premissa maior deve ser exclusivo.
Não pode haver uma terceira possibilidade, e tão pouco o argumento se torna válido se a premissa maior pode
ser interpretada como "p ou q ou talvez ambas." Para se aplicar tudo isto à argumentação teística de Van Til, as
seguintes exigências devem ser cumpridas:
1) Os pressupostos cristãos, "p" , devem ser identificados e formulados da maneira mais precisa possível.
2) O mesmo se aplica aos pressupostos não-cristãos, "q".
3) A disjunção "p ou q" deve ser mostrada como completa em si, isto é, não há uma terceira possibilidade.
4) A falsidade da alternativa não-cristã, "q", deve ser exposta. Daí, a lógica implícita neste mecanismo provará
a verdade da alternativa cristã, "p."
A terceira exigência parece ser a mais fácil de ser cumprida e deve ser a primeira a ser considerada. A
disjunção "ou" deve estar no sentido exclusivo, onde "q" se torna a negação de "p." Assim:
p ou não p
não não p
logo p
Colocando a primeira premissa de um modo mais informal temos: ou o Deus do teísmo cristão, infinito, pessoal
existe ou não existe. Esta afirmação alternativa é verdadeira tanto pela lei da contradição como pela Princípio do
Terceiro Excluído. Por definição, os pressupostos não-cristãos devem ser a negação direta dos pressupostos
cristãos. Consideremos agora se estes pressupostos podem ser prontamente identificados.
4
Veja Gordon Clark, "Apologetics," p. 148, Contemporary Evangelical Thought, Carl F. H. Henry, ed.
New York: Channel Press, 1957.
5
New York: McGraw Hill Book Company, 1965, p. 91.
3
Os Pressupostos Cristãos
Primeiro é necessário identificar os pressupostos cristãos. Os pressupostos da fé cristã têm duas partes,
correspondendo à metafísica e epistemologia, que são as principais divisões da filosofia. Consideremos cada uma
destas partes.
O pressuposto metafísico da fé cristã é a existência da Trindade: o Pai, o Filho, e o Espírito Santo.
Juntos estes formam um Deus único, infinito e pessoal. Apenas este Deus triúno pode ser conceituado como
tanto infinito como pessoal. Um Deus unitário, como o conceito muçulmano de Alá, uma unidade
absolutamente não-diferenciada, pode ser ou infinito e impessoal ou finito e pessoal, mas não pode ser uma
pessoa infinita. Porque um Deus absolutamente sozinho "antes" da criação ou precisaria criar seres pessoais para
ter com eles relacionamento, ou então se ele não precisasse de tal relacionamento pessoal, ele deve, portanto ser
impessoal. Por exemplo, o conceito hindu do "Único" é que ele é uma entidade infinita mas impessoal. De todas
as religiões, somente a Trindade cristã se qualifica como sendo ao mesmo tempo infinita e pessoal.
Uma segunda consideração de interesse sobre o Deus cristão é a sua absoluta soberania. Deus "faz todas
as coisas segundo o conselho da sua vontade" (Ef. 1:11). Todas as coisas existentes e todos os eventos da
história estavam no seu plano antes de existirem ou acontecerem. Além de passagens claras das Escritiuras que
mostram um Deus que predestina, há as implicações de certas doutrinas bíblicas básicas tais como a onisciência
divina e sua obra criativa. De fato, se Deus sabe todas as coisas, então ele sabia tudo sobre sua criação antes que
ela existisse. Ele previu todos os modos possíveis que o mundo poderia ser, mas ele criou somente este mundo,
sabendo de tudo o que aconteceria, então ele, de fato, predestinou tudo que passaria nele.
A conclusão que tiramos de tais considerações sobre Deus é que não há lugar para o que é popularmente
chamado de "acaso" no universo de Deus. Nada está fora do controle de Deus. Visto que Deus criou outros
agentes pessoais, diferentes de si mesmo, então tudo o que existe ou acontece está nos planos de Deus, seja por
sua permissão ou pela causação direta. Assim, cada fato é o que é de acordo com o propósito de Deus para com
ele, de acordo com o significado designado por Deus em relação ao seu plano. Não há assim chamado "fatos
brutos" (fatos sem intepretação).
O segundo pressuposto da fé cristã é epistemológico. Deus se revelou através da natureza, dos eventos
da história, de seu Filho Jesus Cristo e das Escrituras. Visto que Deus se revela na natureza, todos os seres
humanos estão cientes da existência de Deus. Um grupo limitado recebeu a revelação especial, cujo enfoque
central é Jesus Cristo e que chegou até nós através dos profetas que escreveram as Escrituras. A revelação é
viável porque se baseia no fato da real comunicação eterna entre as Três Pessoas da Trindade e que o homem
está capacitado para receber tal revelação, uma vez que foi criado à imagem de Deus. O Espírito Santo é o agente
divino da revelação. O Espírito inspirou os escritores da Bíblia de tal maneira que ele é o produto da ação de
Deus e do homem. Pode, portanto, ser considerada inteiramente inspirada e sem erros nos manuscritos originais.
A fonte principal da teologia cristã é a revelação de Deus nas Escrituras. A teologia cristã é desenvolvida
a partir da exegese da Bíblia. Sobre o fundamento da teologia cristã está colocada a cosmovisão do teísmo
cristão, com suas respostas às perguntas básicas sobre a vida e a existência.
Os Pressupostos Não-cristãos
Para se aplicar a argumentação disjuntiva na comparação dos pressupostos cristãos e não-cristãos
devemos utilizar a segunda exigência já mencionada anteriormente, para ver se há um conjunto comum de
suposições por detrás de todo o pensamento não-cristão. Um modo de abordar isso seria identificar, dissecar
e avaliar todos os sistemas não-cristãos para encontrar pontos comuns a nível de pressupostos. Seria trabalho
árduo, mas não impossível. Mas é desnecessário fazê-lo porque há abordagens diferentes.
O modo básico de encontrar a unidade dos pressupostos do pensamento não-cristão é através da
definição. Por definição, o conjunto de pressupostos não-cristãos deve ser a simples negação dos pressupostos
cristãos. O primeiro é o pressuposto metafísico não-cristão, ou seja, a negação do pressuposto cristão que diz
haver um Deus infinito e pessoal que soberanamente controla seu universo. Este pressuposto não-cristão é que
o Acaso é uma realidade, e nega que haja controle total sobre o universo, de modo que existam áreas da realidade
que não estão sob o controle de ninguém, nem de Deus, nem dos homens. Sugere ainda, que as coisas
4
acontecem por pura espontaneidade. Alguém diria, em contraste com a relação causa e efeito, que a entidade
chamada "Acaso" gera filhos dos quais ela nunca esteve grávida.
O pressuposto metafísico não-cristão afirma, como já dissemos, que ninguém está no total controle do
Universo. O homem está ou parece estar no controle de pelo menos parte do seu meio-ambiente. Aquilo que
o homem não controla ou entende é "governado" pelo "Acaso." Mas a palavra "Acaso" é uma palavra que
descreve uma não-entidade. O acaso não é uma "coisa." Observe a ilustração: Quando o árbitro joga a moeda
para cima e o capitão de um time pede "cara" ou "coroa", tal procedimento é tido como justo pelos dois lados
porque ninguém sabe qual lado da moeda vai dar. Se no lugar do árbitro houves se uma máquina de atirar
moedas tão precisa que todos soubessem quantas vezes a moeda rodaria no ar, então a pessoa que pedisse "cara"
ou " coroa" primeiro sempre ganharia. Não haveria justiça. A questão é que o resultado obtido em se jogar a
moeda com a mão é delegado ao acaso porque o número de vezes que a moeda girará é desconhecido. Este
desconhecimento é hipostatizado, ou tratado como se fosse uma "coisa" concreta: o Acaso. Mas o acaso não é uma
coisa, é somente uma palavra que se refere a nada, à crença de que o evento não está sob o controle pessoal de ninguém.
Para colocar a questão em direta antítese entre as posições do cristão e do não-cristão, afirmar a
existência do acaso não é meramente dizer que alguém não sabe quem controla os eventos, mas que ninguém está
no controle deles. É dizer que, então, não há Deus tal como o Deus do teísmo cristão que controla tudo que
acontece porque ele "faz todas as coisas segundo o conselho de sua vontade." Não é necessariamente a negação
de que algum deus exista, mas é a afirmação de que seja lá qual for o deus que o não-cristão acredita, esse deus
não está no controle das coisas que são atribuídas ao acaso.
Em oposição ao pressuposto epistemológico cristão, o qual toma o conhecimento infinito de Deus e
daí sua Palavra como a base para a verdade, há o princípio da razão humana autônoma. É a convicção de que
a mente humana, em rebelião contra Deus, pode ser o árbitro da verdade e realidade, que é igual ao ato de
rebelião que aconteceu no Jardim do Éden. É o racionalismo; a negação da revelação de Deus na natureza e nas
Escrituras. A lei da contradição se torna o determinante daquilo que é possível e impossível. Se uma coisa, como
um círculo quadrado, se contradiz a si mesma, então é impossivel. Se não é contraditória em si mesma, então
é considerado possível. Este é o tipo de raciocínio que Adão e Eva aplicaram às asseverações conflitantes de
Deus e Satanás no momento da tentação, assim pondo a lógica acima da Palavra de Deus. Com a palavra de
Deus rejeitada, presume-se que haja uma chance que o pecador venha a desobedecer a Deus e não morrer.
A relação entre o acaso e a razão, para o não-crente, pode ser ilustrada da seguinte maneira: Imagine uma
jarra contendo dez bolinhas de gude. Nove bolinhas são pretas e uma é branca. Se elas são misturadas e uma
pessoa tirar uma sem olhar, quais são as probabilidades de se prever qual a cor da bolinha a ser tirada? A lógica,
ou a sua aplicação na ciência das probabilidades nos dirá que há nove chances em dez de se tirar uma bolinha
preta e somente uma chance entre dez, que ela vai ser uma bolinha branca. Mas quando realmente uma bolinha
é tirada sem que se olhe, qual cor vai dar? A resposta é desconhecida, fora do alcance da lógica. É uma questão
do acaso. Aquilo que a razão não pode explicar ou controlar, a explicação é transferida para o acaso. Mas a Bíblia
mostra ao cristão que até mesmo um evento como o rolar de dados, que é delegado ao acaso, está sob o controle
de Deus. Proverbios 16:33 diz "que a sorte se lança no regaço, mas Deus é quem determina a resposta."
A suposição epistemológica da Razão como árbitro final da verdade e realidade é, de fato, como se
recebêssemos um presente de Deus e o tratássemos como não vindo de Deus, e sim usando-o para derrotar o
propósito para qual Deus no-lo deu. É como o Filho Pródigo que deixou a casa do pai com seus bolsos cheios
de dinheiro do pai, mas usou todo o dinheiro para se esquecer do pai e de suas restrições. Ele comprou, por
assim dizer, a sua independência do pai, com o dinheiro do próprio pai! O não-crente usa a razão como se ele
a tivesse, mesmo se Deus não existisse. Na verdade, ele a usará para argumentar que não há um Deus tal qual
a Bíblia declara! Para o não-cristão, a razão se torna até certo ponto a determinante do conhecimento, da
possibilidade metafísica e de valores morais.
A relação entre os pressupostos não-cristãos da lógica e acaso é descrito por Van Til como um "pacto
secreto" entre os dois.6 O acaso cede o máximo de território possível ao controle da lógica. Por outro lado, a
6
Defense, p. 125ff.
5
lógica delega poderes ao acaso para que este controle os territórios que ela (a lógica) não consegue controlar. Em
outras palavras, o domínio da lógica é o domínio do conhecido, e o domínio do acaso é o domínio do
desconhecido. O não-cristão começa apartir de si mesmo, usa a razão para expandir as fronteiras do conhecido
e para avançar no território do desconhecido. Como na ilustração das bolinhas de gude, aquilo que a mente
humana não entende ou controla é entregue ao domínio do acaso.
Depois de identificar os pressupostos não-cristãos, nós podemos tentar surprir a última exigência para
o uso da argumentação disjuntiva. Devemos provar que é falsa a disjunção não-cristã e assim provar a verdade
dos pressupostos cristãos: a disjunção cristã. A característica chave é que os pressupostos dos não-cristãos se
excluem mutuamente. Eles são uma "mistura instável". Em termos do pensamento de dois grandes filósofos
pré-socráticos, a "possibilidade pura" do acaso, a la Heráclito, consome ou destrói a racionalidade autônoma, a
la Parmênides. O acaso destrói a lógica. De onde surgiu a mente lógica? Ela está simplesmente aqui... por acaso!
Então uma entidade formada acidentalmente, acidentalmente produz silogismos ou generalizações indutivas.
Isto é o "fideísmo" final: crê-se no que se crê por nenhuma razão, seja qual for! Não há razão para se usar ou confiar na
razão. Van Til nos dá uma ilustração apropriada:
Pensemos em um homem feito de água num oceano de água sem fim e sem fundo. Querendo
sair do oceano, o homem constrói uma escada de água. Ele põe a escada sobre a água, escorada
na água, e então tenta sair da água. Esta ilustração mostra o quão sem esperança e sem sentido
é a metodologia do homem natural, a qual se baseia na suposição de que o tempo, ou o acaso,
seja o princípio derradeiro. Baseado na sua suposição, sua própria racionalidade é um produto
do acaso. Até mesmo as leis da lógica, que o homem natural usa, são produtos do acaso. A
racionalidade e propósito que ele possa estar buscando não passam de produtos do acaso.7
O apologeta cristão, cuja posição requer que ele sustente que o teísmo cristão é realmente
verdadeiro e assim sendo deve ser aceito como o único pressuposto que faz a aquisição do
conhecimento em qualquer campo inteligível, deve se unir ao seu "amigo" nos seus giros
inúteis, a fim de mostrar-lhe que seus esforços são sempre em vão.
Então se mostrará que o teísmo cristão, o qual a princípio foi rejeitado pelo seu caráter
aparentemente autoritário - é a única posição que dá à razão humana um campo para trabalho
de sucesso e um método de verdadeiro progresso no conhecimento.8
Agora é necessário considerar a natureza da contradição dos pressupostos não-cristãos. A fim de anular
a disjunção não-cristã e assim provar a cristã, é necessário mostrar que o acaso e a lógica são contraditórios,
como afirma Van Til.
Uma contradição formal pode ser simbolizada como "A" e " não-A". "A" pode ser entendido como
"Existe tal entidade, a saber, a lógica, ou a razão, que os seres humanos possuem, a qual pode determinar se
enunciados de linguagem implicam em outros enunciados." "Não-A seria a negação de "A" pela lei da negação.
Será que a aceitação do conceito de Acaso por alguém que afirma "A" constitui o equivalente da "Não-A"?
Vamos investigar esta possibilidade.
7
Ibid. p. 102.
8
Loc. cit.
6
Van Til afirma que uma mente que é vista como produto do acaso não tem base para confiar nas suas
próprias maquinações lógicas. "Baseado na sua suposição, sua própria racionalidade é um produto do acaso ...
até mesmo as leis da lógica que ele emprega são produtos do acaso."9
Talvez as duas combinações, "A" e "não-A", possam ser comparadas se "A" for revista. Que a
suposição epistemológica "A" seja: "Estou comprometendo-me a confiar na operação da minha mente,
operação esta que chamo lógica ou razão, etc." A negação de "A" envolve a suposição metafísica não-cristã, e
seria: "Eu não posso confiar na minha lógica ou razão porque ela é o produto de uma não-entidade irracional
chamada acaso." Os conceitos de acaso e razão, vistos deste modo, se mostram contraditórios. Aqueles que
negassem "Não-A", teriam que provar como o racional surgiu do irracional. A forma lógica de argumentação
a ser utilizada aqui é conhecida como reductio ad absurdum (redução ao absurdo). Barker a esquematiza assim:
Se p então não-p Ex. Se há um número inteiro que seja o maior de todos, então
não há um número inteiro que seja o maior de todos.
Portanto, não-p Portanto não há um número inteiro que seja o maior
de todos.
Barker comenta:
Este tipo de raciocínio pode parecer confuso porque alguém está inclinado a pensar que uma
sentença na forma "se p então não-p" diz algo impossível, algo necessariamente falso.
Contudo, isto é um erro. Uma sentença na forma "se p então não-p" pode muito bem ser
verdadeira, mas somente se o antecedente for falso. É por isso que o raciocínio é válido: A
premissa nos diz que a verdade do antecedente carregaria em si um conseqüente inconsistente
com a verdade do antecedente. Assim o antecedente é "reduzido ao absurdo", e nos dá o
direito de concluir que o antecedente é falso.10
O que Barker quer dizer no exemplo do número inteiro é que ele é um exemplo de conceito contraditório, como
um círculo quadrado. Alguém poderia sempre somar o número um ao "mais alto dos números inteiros" que não
seria então o maior.
Para aplicar a lógica do reductio, aqui vai a seguinte estrutura a ser considerada:
Novamente, o ponto é, se o acaso irracional produziu a razão, então a razão é inerentemente irracional, logo,a
razão não pode ter vindo do acaso.
Tal afirmação pode ser ilustrada com uma estória sobre Charles Darwin. Perto do final de sua vida, diz-
se que Darwin teve o que se chama de sua "dúvida cruel." Ele pensou: "Se a minha teoria da evolução afirma
que minha mente é apenas um cérebro de macaco avançado, então por que deveria eu crer numa teoria proposta
por um cérebro de macaco avançado?" Mesmo que Darwin nunca tenha pensado neste reductio ad absurdum, ele
ainda é um problema para a teoria da evolução orgânica.
Este exame da contradição da disjunção não-cristã mostra que o não-cristão sustenta que os
pressupostos de lógica e do acaso são derradeiros. Contudo, a maioria dos não-cristãos não está ciente da sua
antítese direta ou seja, que os pressupostos são mutuamente exclusivos. Tipicamente, o não-cristão produz uma
9
Loc.cit.
10
Barker, Op.cit., p.96.
7
explicação parcial da vida humana para si mesmo, usando a razão humana autônoma, enquanto ignora o fato que
sua crença no acaso solapa o uso da razão. Isto é inteligível na perspectiva cristã, desde que o não-cristão é,
apesar do que ele acredita sobre si mesmo, uma criatura de Deus, que foi criado para viver neste mundo feito por
Deus. Então, não é supresa que ele se encontre agindo por modos que não possem ser justificados pelo sistema
desenvolvido a partir das suas suposições racionalistas.
Uma contradição também aparece aqui fundamentada no princípio corolário de que as pessoas são seres
que agem segundo princípios que elas aceitam em seu pensamento, às vezes explicitamente mas quase sempre
implicitamente. O corolário é que aquilo que uma pessoa faz revela o que ela acredita. Então se uma pessoa diz que
acredita em tal declaração ou sistema de idéias mas age de modo contrário, há, pelo menos implicitamente, uma
contradição no seu pensar, e o seu sistema de crença deve ser considerado falso. Um outro modo de se colocar
a questão é dizer que um sistema de crença que uma pessoa admite mas com que ela não pode viver deve ser
falso.
Concluímos que o método de defesa da fé cristã de Van Til tem a forma válida do argumento disjuntivo
e que consegue comprovar a verdade do cristianismo, mostrando também a falsidade dos pressupostos não-
cristãos. Seguir-se-ia agora uma análise oportuna da deficiência atualmente dos pressupostos não-cristãos no
movimento conhecido como Nihilismo. A falta de espaço não permite tal discussão aqui.