INTRODUÇÃO
DESCONFORTO INTELECTUAL
CORPO-SI
DEBATE DE NORMAS
Ao interagir com a sua realidade, o corpo-si passa por debates pois precisa lidar
com suas normas pessoais diante das normas externas, sejam elas explícitas ou
implícitas. “Temos de agir num mundo que não criamos, saturado portanto por
inúmeras normas antecedentes de diversos níveis e graus de proximidade com as
exigências do presente” (SCHWARTZ, 2014, p. 264). Por conta disso, é necessário
estar o tempo inteiro renormatizando e ressingularizando o momento atual, para
poder lidar com ele, respeitando ou se rebelando contra as normas pessoais, assim
como as normas externas.
ATIVIDADE HUMANA
Mesmo com toda essa abrangência e profundidade, a mesma autora demonstra que
o conceito de atividade não substitui o conceito de trabalho, na realidade ele enfatiza
a complexidade da atividade humana requerida pela experiência de trabalho. No
entanto, evidencia a impossibilidade de definir claramente o significado de trabalho
na Ergologia, colocando-o inclusive como uma unidade enigmática, geradora de
desconforto intelectual e produtora de saberes (CUNHA, 2013).
ERGOFORMAÇÃO
Se valendo do seu mestre George Canguilhem, Schwartz (2013) afirma que uma
adequada formação profissional deve incidir sobre duas instâncias, a primeira e a
segunda antecipação. Uma se refere a transmissão de protocolos, prescrições,
técnicas e gestos na tentativa de controlar todas ocorrências prováveis de uma
determinada função profissional. Contudo, há de se considerar que “a formação
profissional não pode ser um império de neutralidade em um mundo social que não
o é. O trabalho é uma experiência ‘viva’, isso significa que ele se inscreve numa
história” (SCHWARTZ, 2013, p. 28). Assim, a segunda antecipação, contrastando
com a primeira, irá legitimar os dilemas, debates e complexidades inerentes às
imprevisibilidades constantes em qualquer meio de trabalho, uma vez que a
realidade transcende a prescrição (SCHWARTZ, 2013).
É então pelo viés dessa segunda antecipação que a dimensão política e
mais profundamente axiológica penetra do interior o mundo das atividades
de trabalho. O que quer dizer que penetram por ela os debates, ditos ou
não, sob ou em penumbra, sobre as formas de uso industrioso dos homens
e das mulheres em nossas sociedades mercantis e de direito (SCHWARTZ,
2013, p. 28).
Schwartz (2013) denuncia a criação de um “nó” entre as duas antecipações que une
de forma dialética e dinâmica aspectos objetivos e subjetivos do trabalho e costura o
macro (história, política, economia e profissão) com o micro (trajetória individual,
escolhas e saberes investidos). Nesse processo, constata uma complicada
contradição:
(...) entre o dinheiro que remunera e julga os investimentos em emprego, os
recursos alocados em “fator trabalho” e as atividades humanas que, em
razão da infiltração de um mundo de valores nelas, valores sem nenhuma
métrica disponível, não podem nem se determinar nem se avaliar
unicamente pelos valores mercantis (SCHWARTZ, 2013, p. 30).
ERGOGESTÃO
Não podemos ter uma visão mutilante do trabalho e julgar de nossa posição
o que é melhor para o outro. Como nos alerta Jacques Duraffourg, devemos
fugir da tentação de simplificar o trabalho, de pensar que as coisas são
simples e que há uma solução para cada problema, bastando para
resolvê-los que conheçamos a filosofia de sua aplicação. Enquanto gestor
eu não posso dizer “eu não quero saber”, “quem manda aqui sou eu”, ou “eu
tenho a solução”. Eu tenho que querer saber, eu tenho que promover,
estimular e participar de encontros que versem sobre o trabalho. Eu tenho
que decidir, mas, tenho que discutir antes e sempre baseado no
conhecimento do que se passa no cerne do trabalho. Essa é uma atividade
fatigante, mas também extremamente apaixonante e gratificante (SOUZA;
VERISSIMO, 2009, p. 83).
Dito isso, Trinquet (2010) esclarece que a ergogestão se faz, acima de tudo, de uma
gestão de contradições, uma vez que a Ergologia mostra que não é possível impor
externamente normas rígidas aos seres humanos. O autor lembra que sempre há de
se adaptar às articulações entre conhecimentos específicos inerente ao trabalho;
singularidade de cada encontro e momento no tempo e espaço; e imprevisibilidade
do ambiente que compreende o trabalho.
CONSIDERAÇÕES FINAIS