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ANDRADE
A crítica literária, tendo como parâmetro a dialética Eu vs Mundo, procura
dividir a obra de Drummond em três fases distintas e subsequentes, a saber:
1) “Eu maior que o mundo”: é a fase “gauche”, marcada pelo individualismo,
isolamento, metalinguagem, uma certa dose de ironia e humor, de que são exemplo as
obras Alguma poesia e Brejo das Almas. Nesta fase, entretanto, já está presente uma
poesia de caráter social, podendo-se afirmar que a obra Sentimento do mundo
representa uma transição para a fase seguinte.
2) “Eu menor que o mundo”: presença da crítica social, do poder e da limitação da
palavra, de que é exemplo a obra A rosa do povo.
3) “Eu igual o mundo”: poesia metafísica; presença do niilismo, em que o poeta
interpreta o mundo, analisando-o criticamente e fechando-se para o nada e existência.
Claro enigma assinala uma fase distinta na poética drummoniana, já explícita
na epígrafe de Paul Veléry: “Les événements m’énnuient” (“Os acontecimentos me
entediam”). A citação já aponta para uma mudança de posicionamento: não mais uma
poesia marcadamente política e social, mas agora em favor de temas filosóficos. Uma
outra mudança é a presença de formas poéticas e de uma linguagem mais tradicional, o
que difere da postura anterior, notadamente inovadora, de acordo com as propostas
modernistas.
O título do livro é um paradoxo, um oximoro (mistura de sombra e luz,
obscuridade e clareza). A obra é dividida em seis partes: “Entre Lobo e Cão”, “Notícias
Amorosas”, “Um Menino e os Homens”, “Selo de Minas”, “Os Lábios Cerrados” e “A
Máquina do Mundo”. Segue-se um comentário sucinto sobre cada uma das partes:
1) “Entre Lobo e Cão”
A obra inicia-se com um crepúsculo, a chegada da noite, um ambiente
paradoxal, em que não há como distinguir os dois animais. O primeiro poema
“Dissolução” apresenta uma atmosfera sombria, em que o eu lírico aceita a inevitável
chegada da noite.
Escurece, e não me seduz
tatear sequer uma lâmpada.
Pois que aprouve ao dia findar,
aceito a noite.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
Tarde de Maio
Como esses primitivos que carregam por toda parte o maxilar inferior de seus mortos,
assim te levo comigo, tarde de maio,
quando, ao rubor dos incêndios que consumiam a terra,
outra chama, não-perceptível, e tão mais devastadora,
surdamente lavrava sob meus traços cômicos,
e uma a uma, disjecta membra, deixava ainda palpitantes
e condenadas, no solo ardente, porções de minh'alma
nunca antes nem nunca mais aferidas em sua nobreza sem fruto.
3) “O Menino e os Homens”
Os quatro poemas desta parte são, por assim dizer, homenagens: a um
nascimento (“A um varão que acaba de nascer”), a poetas (Manuel Bandeira, em “O
Chamado” e Mário Quintana, em “Quintana’s Bar) e ao aniversário da morte de Mário
de Andrade (“Aniversário”). Segue-se a homenagem feita a Bandeira, poeta que
influenciou Drummond, como ele mesmo admitiu.
O Chamado
Na rua escura o velho poeta
(lume de minha mocidade)
já não criava, simples criatura
exposta aos ventos da cidade.
EXERCÍCIOS
1. (ITA-SP) – O livro Claro Enigma, uma das obras mais importantes de Carlos
Drummond de Andrade, foi editado em 1951. Desse livro consta o poema a seguir:
MEMÓRIA
Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
10. A obra Claro enigma inicia-se com o poema “Dissolução”, cuja estrofe inicial
transcreve-se:
Escurece, e não me seduz
tatear sequer uma lâmpada.
Pois que aprouve ao dia findar,
aceito a noite.
GABARITO
01. Alternativa C
02. Alternativa B
03. Alternativa D
04. Alternativa B
05. a) Drummond se refere a Manuel Bandeira, pela alusão ao tão conhecido poema
“Vou-me embora pra Pasárgada”.
b) O destino do poeta é o caminho para onde o chamam “a intuição, o amor e o risco
desejado”. Trata-se de um chamado não percebido pelas outras pessoas, pois ele parece
transcender a percepção comum e só se manifestar à sensibilidade do poeta. Esse caráter
transcendente do “Chamado” explica o uso da maiúscula alegorizante.
06. O tom é pessimista, porque a sabedoria (“a ciência) da maturidade, que conhece o
valor exato da vida e não alimenta ilusões, nada pode contra a desolação desse
conhecimento. Ela não pode transcender, superar a si mesma: “nada pode contra sua
ciência, contra si mesma”. As conquistas de sua ciência são caracterizadas pela acuidade
desiludida (“o agudo olfato/ o agudo olhar, a mão livre de encantos”), e essa acuidade,
penetrando a ilusão essencial da vida (“o sonho da existência”), destrói-se a si mesma,
anula sua própria significação. Em outras palavras, a sabedoria da maturidade é uma
sabedoria do desengano, do desencanto (“livre de encantos”), que destrói a si mesma,
pois não nutre ilusão quanto a nada, nem quanto a si.
07. Drummond abandona a temática do presente, social e política, para se voltar ao
passado, por assim dizer, afastando dos acontecimentos que marcavam a sua época.
08. a) Quanto à estrutura, o poema possui quatro tercetos, em versos pentassílabos, ou
seja, redondilha menor. Todos os versos apresentam rimas.
b) A palavra “Não” assume morfologicamente a categoria de substantivo. No
contexto, significa o inexistente, aquilo que não mais existe, mas que é impossível
esquecer.
09. Ao colocar o vocábulo “Inexistente” haveria uma mudança na métrica e na rima.
10. O livro Claro enigma foi publicado em 1951, período em que Vargas novamente
ascende ao poder (1951-1954), marcado pelo cerceamento de liberdade. Desta forma,
Drummond assume uma postura negativa, cética e até conformista (“aceito a noite”)
diante da perspectiva história e política do país.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ACHCAR, Francisco et ali. Literatura para a fuvest. São Paulo, Ática,1991.