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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO


DISCIPLINA ESTUDOS SOCIAIS ECONÔMICOS E AMBIENTAIS

PROPOSTAS PARA A INTRODUÇÃO DE CONFORTO AMBIENTAL


NA COMUNIDADE ESCORREGOU TÁ DENTRO

Aline Nascimento da Silva

Camila Almeida Gusmão

Gabriela Leal Maranhão

Maria Eduarda Queiroz

RECIFE, DEZEMBRO DE 2010


UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO
DISCIPLINA ESTUDOS SOCIAIS ECONÔMICOS E AMBIENTAIS

PROPOSTAS PARA A INTRODUÇÃO DE CONFORTO AMBIENTAL NA


COMUNIDADE ESCORREGOU TÁ DENTRO

Trabalho acadêmico apresentado como


requisito para cumprimento da segunda unidade
escolar da disciplina de Estudos Sociais
Econômicos e Ambientais, ministrada no Curso de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal
de Pernambuco pelos professores Ana Cláudia
Cavalcanti, Cynthia, Giselle Gerson e Luis de La
Mora.

RECIFE, DEZEMBRO DE 2010


INTRODUÇÃO

Localizada no bairro de Afogados, a comunidade Escorregou tá dentro está


instalada a beira do canal do ABC, área bastante desfavorável em termos de Conforto
Ambiental.

De início o terreno não era utilizado com nenhuma finalidade específica e o fato
de estar situado as margens do canal dificultava muito o uso da área. Somente após
algum tempo foram locadas algumas áreas no terreno e de uma forma um tanto quanto
improvisada deu origem a atual comunidade.

Atualmente a comunidade é composta por 180 habitações e não possui


estrutura suficiente para abrigar os cerca de 500 moradores que lá vivem. Os
moradores da comunidade possuem um perfil econômico-social em média semelhante
entre eles, apresentando algumas disparidades de renda. De acordo com dados da
tabela de perfil demográfico e social organizada pelo professor Luis de La Mora em
Maio de 2010, existem na comunidade moradores que possuem renda per capita
variando entre R$21,42 e R$605,00.

Os atores envolvidos neste projeto somos nós, alunos do curso de arquitetura e


urbanismo da UFPE que desenvolvemos esta proposta, os professores da disciplina de
Estudos Sociais Econômicos e Ambientais e os moradores da comunidade que serão
os responsáveis pelas intervenções em suas próprias residências.

A proposta deste trabalho é melhorar as condições de conforto ambiental e de


acesso da comunidade à curto prazo, ou seja, enquanto as famílias não são
transferidas para as unidades habitacionais previstas para serem construídas em dois
anos.

Nosso trabalho fundamentou-se na vivência, por intermédio dos professores da


UFPE, e das questões da habitabilidade necessárias aos moradores da comunidade.
Nossos conceitos foram extraídos do diálogo com os professores envolvidos no projeto
e com a própria comunidade, que naquele momento abria espaço para que nós,
estudantes, propusessemos as premissas de projeto.

Focamos, principalmente, as questões do conforto ambiental, pautadas tanto no


entendimento do espaço interno das habitações quanto de seus valores físicos e
culturais, proporcionado pela relação dos moradores com o canal e das oportunidades
que eles têm de compartilhá-lo e dividi-lo. Chegamos a elaborar propostas para a
melhoria da infra-estrutura atual, que busca incorporar às redes sociais existentes,
respeitando a dinâmica que elas apresentam. Essas propostas foram fruto de um
tempo das pesquisas realizadas dentro e fora da comunidade.
ANÁLISE DA ÁREA DE ESTUDO

A comunidade fica localizada no bairro de Afogados, próximo a Rua Cosme


Viana - via bastante movimentada na cidade e comercialmente ativa – e a beira do
canal do ABC. A área não foi planejada para receber nenhum tipo de habitação ao
longo do percurso do canal, por ser um lugar inseguro e insalubre, porém a ocupação
irregular no local foi bastante intensa e atualmente não se vê espaços desocupados na
área.

A área onde a comunidade está instalada apresenta uma topografia


aparentemente uniforme e plana. Também é encontrada no entorno da comunidade
pouca vegetação, o que se torna um dos fatores que proporcionam o excesso de calor
na área, juntamente com o fato de se ter ao lado do canal uma via asfaltada, de trânsito
intenso de veículos e de poucos locais que proporcionem sombra, gerando assim um
microclima na área de entorno da comunidade com uma grande concentração de calor.

O estado atual em que se encontra a comunidade é degradante. O alto acúmulo


de lixo no canal dá à comunidade um aspecto repugnante de sujeira e o mau cheiro é
insuportável. Não só o aspecto estético é criticado negativamente, mas há também o
alto índice de doenças que podem ser transmitidas através do lixo. Essa situação
degradante é intensificada no período de chuvas pois o canal recebe uma vazão maior
do que pode suportar, fazendo com que o canal transborde e que a água invada as
habitações, fato este que aumenta a insalubridade na comunidade.

Para entrar na comunidade o principal acesso é completamente inseguro: um


“corredor” entre o canal e as casas. Esse acesso não tem um guarda-corpo que proteja
os moradores que circulam na área, e se restringe a uma largura máxima de 50 cm,
proporcionando uma enorme insegurança as pessoas da comunidade, pois existe o
risco constante de cair no canal.

Por estar localizado em uma área bastante comercial – bairro de afogados – a


comunidade dispõe de uma considerável diversidade de serviços em seu entorno, o
que faz com que os seus moradores não precisem se deslocar tanto para atender as
suas necessidades. Além disso, a comunidade não possui equipamentos urbanos nem
espaço destinado a convivência social entre os moradores pois trata-se de uma
comunidade que cresceu sem planejamento e de forma improvisada, onde o que
realmente importava era a ocupação destinada a habitação.

Existe entre os habitantes uma tentativa de organização comunitária para que se


torne possível a reivindicação de seus direitos na prefeitura e em órgãos públicos e
principalmente para que eles possam se organizar dentro da comunidade. Porém essa
tentativa tornou-se comprometida pelo fato de nem todos os moradores possuírem as
mesmas necessidades e interesses, o que gerou de certa forma uma segregação na
comunidade e um consequentemente impedimento nessa possibilidade de diálogo os
representantes de “grupos” divergentes.´

DIRETRIZES / PLANO GERAL

Nosso campo de atuação está estruturado em um eixo de trabalho,


caracterizado pelo diálogo com a comunidade Escorregou ta Dentro para desenvolver
as ações mobilizadas, pela reflexão em torno das questões vividas com a comunidade,
seja na formulação de pautas de trabalho, seja na incorporação de potencialidades,
capacidades e virtudes das relações sociais já estabelecidas.

Uma de nossas metas é dar auxílio aos moradores em relação a melhoria das
casas, por reclamarem bastante das elevadas temperaturas dentro das habitações e da
problemática vinculada ao espaço coletivo e público em função da falta de iniciativa
pública ou privada em oferecer ajuda a comunidade. Com pequenas iniciativas que
nascem espontaneamente das conversas com os moradores, a equipe dá concretude
no espaço às demandas apresentadas. Seguem aqui alguns exemplos:

Em função do dialogo, na própria favela, com os moradores da comunidade,


nasceu a ideia de introduzir o Cobogó nas paredes das casas, para assim, melhorar a
ventilaçao interna. Experimentando um processo de trabalho coletivo e originário do
olhar e da capacidade dos moradores, o grupo elaborou propostas viáveis para serem
implantadas.

Propostas:

a) Cobogó na parede e no muro (Figura 1) – A proposta desenvolvida exige a


aplicação de elementos vazados na parede que fica de frente para o canal e na parede
oposta - que em algumas situações é o muro que separa a Comunidade do terreno em
que serão implantadas as unidades habitacionais para onde os moradores se
deslocarão, o que permitirá a ventilação cruzada na casa – situação que o ar que entra
tem uma saída oposta – o que proporcionará uma diminuição no superaquecimento
das residências. Estudando esta proposta, chegamos a conclusão de que a melhor
opção de elemento vazados para ser usado nessa situação é o cobogó Boca de Lobo
que não permitirá a entrada de chuva nem de pequenos animais e ainda assim
facilitará a circulação do vento. A circunstância que será formada proporcionará a
ventilação higiênica e constante na habitação, de forma que o ar dentro da casa
sempre esteja renovado evitando assim a proliferação de doenças de ordem
respiratória. Entretanto, para a utilização de cobogós no muro que separa a
comunidade do terreno, seria necessário o aval do proprietário. Deveriamos explicar
que essa seria uma medida provisória e que após a relocação dos moradores da
comunidade para as novas unidades habitacionais as fenestrações no muro seriam
fechadas, e o muro voltaria a ser como era antes.
Figura 1

Estudo realizado sobre ventilação:

VENTILAÇÃO:

É extremamente importante que exista uma ventilação adequada sob as telhas. Esta
ventilação tem essencialmente dois objetivos:

• Permitir uma circulação de ar suficiente que evite o levantamento de


telhas em situações de vento forte. De fato, com vento forte, cria-se uma
ação de sucção à superfície das telhas que tem origem na repentina
diferença de pressão do ar. O espaço de ventilação sob as telhas permite
que esta diferença de pressão seja compensada, através da passagem
de ar para o exterior, contrariando assim aquela ação de sucção.
• Contribuir para uma secagem mais rápida da umidade das telhas. Em
situações de chuva ou forte umidade, as telhas absorvem umidade (em
quantidade dependente do tipo de telha e da zona) que origina uma
aceleração do seu desgaste, sobretudo em zonas onde se verificam
temperaturas muito baixas que conduzem ao congelamento desta
umidade. O espaço de ventilação sob as telhas, ao permitir uma secagem
mais rápida desta umidade, contribui para a durabilidade das telhas e do
seu bom desempenho.

b) Utilização de Lanternim (Figura 2) – O lanternim, abertura na parte superior do


telhado, é indispensável nas casas para se conseguir adequada ventilação e
iluminação, pois, permite a renovação contínua do ar pelo processo de
termossifão resultando em ambiente mais confortável. O lanternim deve ser
equipado, com sistema que permita fácil fechamento e com tela de arame nas
aberturas para evitar a entrada de pequenos animais.
Figura 2

c) Levantamento do telhado (Figura 3) – Outra solução, caso não fosse viável a


introdução de cobogós no muro, seria a elevação do telhado das casas. Essa
elevação aconteceria de forma que o telhado ficasse acima do muro, e nesse
caso, seria colocada uma tela de arame para evitar a entrada de animais. Da
mesma forma que proposto anteriormente, seriam colocados cobogós na parede
de frente ao canal.
Figura 3

d) A passarela (Figura 4) - O atual acesso às casas é feito pela própria margem do


canal que possui cerca de 50 cm de largura. A proposta desenvolvida é dada
através da criação de uma passarela feita com tábuas de madeira apoiadas em
barrotes. A passarela deverá ter 1.5m de largura possibilitando assim, a
passagem dos moradores sem que exista um risco de queda. E alem disso,
permitira a passagem de mais de uma pessoas ao mesmo tempo. Seria
importante também a introdução de um peitoril de madeira, para a segurança
dos moadores de aproximadamente 80 cm de altura.

Figura 4 -Estado atual da circulação (+ou- 50cm).


Pequena dimensão para passagem e risco de quedas.

Esboço da Proposta:
CONCLUSÃO
Ao acompanhar esses trabalhos, pudemos aprender a dialogar com a
comunidade, entrando em contato com a natureza de suas problemáticas e das
soluções encontradas para ocupar e dividir o espaço. A vivência dos problemas
coletivos abriu-nos a possibilidade de perceber virtudes do espaço e da convivência em
comunidades tão precárias e densas.

Nossa metodologia de trabalho partiu das virtudes encontradas nas relações


sociais, das capacidades dos moradores de compartilhar questões coletivas e dos
problemas ambientais que as construções desordenadas e precárias acarretam. Este
trabalho foi fruto do diálogo com a população durante os momentos de convivência e
do aprendizado em sala de aula proporcionado pelos professores e os alunos
envolvidos com os projetos.

Nossa análise verificou as questões suscitadas pelo espaço interno e externo


das casas e constatamos os seguintes pontos: as construções são muito precárias,
praticamente não há qualidade ambiental nenhuma. O acesso à comunidade dado pela
própria margem do canal oferece um grande risco aos moradores, pois sua pequena
dimensão não possibilita a passagem de duas pessoas ao mesmo tempo e sua
desregularidade pode ocasionar uma queda no canal. A falta de fenestrações gera um
super aquecimento dentro das casas, pois não usufruem, ainda, de nenhum elemento
que possibilite a melhoria da circulação dos ventos.

As propostas desenvolvidas devem proporcionar um ambiente onde as pessoas


da comunidade possam viver com dignidade e desfrutem de um conforto ambiental
mínimo para satisfazer as suas necessidades, mesmo que seja de modo temporário.
Na futura mudança da comunidade para conjunto habitacional que será construído, as
propostas desenvolvidas, ainda assim, poderão ser mantidas e utilizadas, pois a
retirada das casas pode gerar um bom espaço de convivência entre os moradores,
caso haja um projeto para construí-lo e junto a esse um projeto paisagístico que
permitira um novo aspecto estético para o local. Pela dimensão da área, é possível
fazer uma praça que servirá de área comum, tentando integrar ao máximo o entorno.

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