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Instituto de Matemática - IM-UFRJ

Análise I/Análise Real - MAA240/MAW475


Simulação da Segunda Prova - 07/06/2021

TEMPO DE PROVA: 2,0h

Questão 1: (2.5 pontos)


Seja f : R → R uma função tal que f (x + y) = f (x) + f (y) para todo x, y ∈ R. Prove que f é
contı́nua em 0 ∈ R se, e somente se, f contı́nua em R.

Solução:
Primeiro observamos que se f (x + y) = f (x) + f (y) para todo x e y, então f (x) = f (x) + f (0),
então f (0) = 0. Além disso,

f (x) = f (x − x0 + x0 ) = f (x − x0 ) + f (x0 ),

e f (x) − f (x0 ) = f (x − x0 ). Logo, se f é contı́nua em 0, então para todo ε > 0, existe δ > 0
tal que se |h| < δ, temos |f (h)| = |f (h) − f (0)| < ε. Logo, se h = x − x0 e |x − x0 | < δ, temos
|f (x) − f (x0 )| = |(f (x − x0 )| < ε. Logo, f é contı́nua em x0 ∈ R.
Reciprocamente, se f é contı́nua em todo x0 ∈ R, então em particular é contı́nua em 0.

Questão 2: (2.5 pontos)


Seja f : I → R uma função contı́nua em I e derivável em I ◦ , onde I é um intervalo. Prove que f é
Lipschitz contı́nua em I se, e somente se, f 0 é limitada em I ◦ .

Solução:
Se f é Lipschitz, então existe L > 0 tal que para todo x, y ∈ I, |f (x) − f (y)| ≤ L|x − y|. Logo,
para y = x + h, h 6= 0, temos

f (x + h) − f (x)
≤ L,
h

f (x + h) − f (x)
então lim = |f 0 (x)| ≤ L,
h→0 h

e f 0 é limitada em I ◦ .
Reciprocamente, suponha que |f 0 (x)| ≤ L para todo x ∈ I ◦ . Sejam a, b ∈ I com a < b. f é
contı́nua em I e derivável em (a, b) então existe c ∈ (a, b) tal que f 0 (c) = f (b)−f
b−a
(a)
. Logo,

f (b) − f (a) 0
b − a = |f (c)| ≤ L.

Logo, |f (b) − f (a)| ≤ L|b − a| para todo a, b ∈ I e f é Lipschitz.

Questão 3: (2.5 pontos)


Seja f : [a, b] → R uma função definida e derivável em [a, b]. Se f 0 (a) < 0 < f 0 (b), demonstre que
existe um ponto c ∈ (a, b) tal que f 0 (c) = 0.

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Simulação da Segunda Prova - 07/06/2021 (continuação)

Solução:
Seja f : [a, b] → R definida e derivável em [a, b] tal que f 0 (a) < 0 < f 0 (b). f é contı́nua em [a, b],
então assume um valor máximo e mı́nimo no intervalo [a, b]. Temos

f (a + h) − f (a)
f 0 (a) = lim+ < 0,
h→0 h
logo para algum h suficientemente pequeno (e com 0 < h < (b − a)/2), temos f (a + h) < f (a).
Pelo mesmo argumento, Pois f 0 (b) > 0, para h > 0 suficientemente pequeno, temos que f (b) >
f (b − h). Isso significa que f não assume o seu valor mı́nimo num ponto extremo de [a, b]. Logo,
podemos aplicar o resultado que uma função derivável que assume um valor mı́nimo num ponto
interior c ∈ (a, b) deve satisfazer f 0 (c) = 0.

Questão 4: (2.5 pontos)


Considere a função f (x), com x ∈ R, definida por
(
x, se x é irracional,
f (x) =
p sen( q ), se x = pq onde q ≥ 1 e p são inteiros com mdc(p, q) = 1.
1

Para que pontos f é contı́nua?

Solução:
Afirmamos que f é contı́nua em todo ponto irracional, f é descontı́nua em todo número racional
não-zero e que f é contı́nua em 0 ∈ R.
Seja x0 = p/q ∈ Q \ {0}, com mdc(p, q) = 1. Se x é irracional, então
1
f (x) − f (x0 ) = x − p sen( ),
q
p 1
= x − q sen( ),
q q
 
p p 1
= x− + 1 − q sen( ) .
q q q

Observamos que o termo (p/q)(1 − q sen(1/q)) independe de x, e é diferente de 0. Logo, quando


x → x0 = p/q por números irracionais, f (x) − f (x0 ) → (p/q)(1 − q sen(1/q)) 6= 0. Logo, f não
é contı́nua em Q \ {0}.
Se x0 ∈ I = R \ Q. Se x → x0 com x irracional, temos f (x) → f (x0 ). Se x ∈ Q,
1
f (x) − f (x0 ) = p sen( ) − x0 ,
q
 
p 1 p
= q sen( ) − 1 + − x0 .
q q q

Fazemos uma afirmação (sem prova): Se { pqnn } é uma sequência de números racionais (com
mdc(pn , qn ) = 1) convergindo para um número irracional, então qn → ∞.

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Logo,
1
qn sen( ) → 1,
qn
 
pn 1
qn sen( ) − 1 → 0,
qn qn

e f (xn ) → f (x0 ). Concluimos que f é contı́nua em todo número irracional.


p
Em x0 = 0. Se x → 0 para x ∈ I irracionais, então f (x) = x → 0 = f (x0 ). Se x = q
∈ Q com
mdc(p, q) = 1.
1
f (x) − f (x0 ) = = p sen( ),
q
p 1
= · q sen( ),
q q
 
p 1 p
= q sen( ) − 1 + .
q q q

Levamos p/q para 0. Ou seja, se pq < n1 , então np < q, e então q > n e logo q sen( 1q ) − 1 pode
ser tomado arbitrariamente pequeno. Logo, quando p/q tende para 0,
 
p 1 p
f (x) = q sen( ) − 1 +
q q q

tende para 0. Concluimos que f é contı́nua em x0 = 0.

Questão 5: (2.5 pontos)


Seja A ⊆ R um subconjunto fechado e f : A → R uma função definida em A. Prove que f é
contı́nua em A se, e somente se, para todo subconjunto fechado K ⊆ R, f −1 (K) ⊆ A ⊆ R é um
conjunto fechado.

Solução:
Suponha que f : A → R é contı́nua e K ⊆ R é fechado. f −1 (K) = {x ∈ A ; f (x) ∈ K}.
Afirmamos que f −1 (K) é fechado. Seja {xn } ⊆ f −1 (K) uma sequência tal que xn → x ∈ A. f
é contı́nua, então f (xn ) → f (x). f (xn ) ∈ K, que é fechado e deve conter todos seus pontos de
aderência. Logo f (x) ∈ K e x ∈ f −1 (K). Concluimos que f −1 (K) é fechado.
Reciprocamente, suponha que para todo K ⊆ R fechado, a pré-imagem f −1 (K) ⊆ A ⊆ R é
fechado. Seja x0 ∈ A e ε > 0. Temos f (x0 ) ∈ R. Consideramos a bola aberta Bε (f (x0 )) =
(f (x0 ) − ε, f (x0 ) + ε). Então K = R \ Bε (f (x0 )) = (−∞, f (x0 ) − ε] ∪ [f (x0 ) + ε, ∞) é fechado.
Logo, por hipótese,

f −1 (K) = {x ∈ A ; |f (x) − f (x0 )| ≥ ε}

é fechado. O ponto x0 é pertencente ao conjunto aberto R \ f −1 (K), então existe δ > 0 tal que
se |x − x0 | < δ, então x ∈ R \ f −1 (K). Logo, se x ∈ A e |x − x0 | < δ então x ∈ A \ f −1 (K) e
f (x) ∈/ K. Logo, |f (x) − f (x0 )| < ε. Isso é dizer, para todo x0 ∈ A e para todo ε > 0, existe
δ > 0 tal que se x ∈ A com |x − x0 | < δ, temos |f (x) − f (x0 )| < ε. Ou seja, f é contı́nua.

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