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CENTRO DE HUMANIDADES
CAMPINA GRANDE – PB
2021
MICHEL RANGEL DE LIMA RIBEIRO
CAMPINA GRANDE – PB
2021
MICHEL RANGEL DE LIMA RIBEIRO
BANCA EXAMINADORA:
__________________________________________________________
Orientador: Prof. Ms. Alba Valéria Vieira da Silva-orientadora
UAAMI-UFCG
________________________________________________________
Prof. Drª Marisa Nóbrega Rodrigues-membro
UAAMI-UFCG
______________________________________________________________
Prof. Esp. Romero Ricardo Damião de Araújo-membro
UAAMI-UFCG
Esse estudo visa compreender como é realizado o ensino de clarinete na cidade de Guarabira-
PB, tendo como referência o Projeto de Inclusão através da Música e das Artes (PRIMA),
fundado no Estado da Paraíba. Justifica-se com intuito em divulgar a prática instrumental para
a comunidade acadêmica, como também formar cidadãos preparados para sociedade e
proporcionar uma qualidade de vida humanitária, abordando aspectos sociais, políticos e
culturais. Este projeto de pesquisa, de abordagem qualitativa, está fundamentado em autores
ligados ao ensino da prática instrumental como Barbosa (1996; 2004), Nascimento (2006),
Campos (2008), Banda (1994), dentre outros. Delimitou-se em colher informações sobre a
proposta metodológica aplicada no ensino formal de clarinete no contexto de inclusão social.
Concluiu-se, portanto, que o PRIMA oportunizou não apenas o contato com a música ou
simplesmente “tocar” um instrumento musical, mas sobretudo, a melhora na qualidade de
vida destes alunos.
This study aims to understand how the clarinet teaching is performed in the city of Guarabira-
PB, having as reference the Inclusion Project through Music and the Arts (PRIMA), founded
in the State of Paraíba. It is justified to disseminate the instrumental practice to the academic
community, as well as to train citizens prepared for society and to provide a humanitarian
quality of life, addressing social, political, and cultural aspects. This research project, with a
qualitative approach, is based upon authors linked to the teaching of instrumental practice as
Barbosa (1996; 2004), Nascimento (2006), Campos (2008), Banda (1994), among others. It
was delimited to gather information about the methodological proposal applied in the formal
teaching of clarinet in the context of social inclusion. It is concluded, therefore, that PRIMA
provided opportunities not only for contact with music and to "play" musical instruments, but
above all, for the quality of a better life, with the right to stand out and advance in the musical
universe.
INTRODUÇÃO 10
1 PROJETOS SOCIAIS 13
2 O PROJETO DE INCLUSÃO ATRAVÉS DA MÚSICA E DAS ARTES 15
3 O PRIMA EM GUARABIRA 19
4 BREVE HISTÓRICO DOS INSTRUMENTOS DE SOPRO 27
4.1 Instrumentos de sopro na antiguidade 27
4.2 Evolução técnica instrumental: O sistema Boehm 28
4.3 Instrumentos de sopro e sua evolução industrial 28
4.4 Instrumentos de sopro - família das madeiras 29
4.5 Desenvolvimento dos instrumentos de sopro 30
4.6 Criação dos modernos instrumentos de sopro 33
4.7 O Clarinete (breve história, características, família) 34
5 O ENSINO DO CLARINETE NO POLO GUARABIRA 37
5.1 Explicando os métodos utilizados no projeto: O Método da Capo 39
5.2 Método Klosé 41
6 O RELATO DOS ALUNOS MOZART, WEBER, BRAHMS: APRENDENDO A TOCAR O
CLARINETE 44
6.1 Resultado e discussão 45
6.2 Análises 47
CONSIDERAÇÕES FINAIS 49
REFERÊNCIAS 52
10
INTRODUÇÃO
por questões éticas para designar cada aluno entrevistado. Foram o seguintes nomes: Mozart,
Weber e Brahmms.
Os capítulos deste trabalho estão divididos em seis tópicos, que diz respeito,
respectivamente a: 1) PROJETOS SOCIAIS – apresentamos uma breve explicação acerca do
significado e sentido da implantação dos projetos sociais; 2) O “PROJETO DE INCLUSÃO
ATRAVÉS DA MÚSICA E DAS ARTES” – fazemos um percurso histórico em relação a
fundação e efetivação do Projeto de Inclusão Através da Música e das Artes (PRIMA), bem
como mostramos alguns exemplos de projetos sociais que serviram com espelho para criação
deste; 3) O PRIMA EM GUARABIRA – descrevemos a inserção do projeto no polo de
Guarabira desde a sua implantação até a apresentação dos coros, orquestra e ensaios realizados
nas comunidades e com os grupos participantes; 4) BREVE HISTÓRICO DOS
INSTRUMENTOS DE SOPRO – é o maior capítulo, que diz respeito a criação do
instrumento de sopro, em especial ao “clarinete”, que se difunde por mais sete subtópicos, que
são: Instrumentos de sopro na antiguidade; Evolução técnica instrumental: O sistema Boehm;
Instrumentos de sopro e sua evolução industrial; Instrumentos de sopro - família das madeiras;
Desenvolvimento dos instrumentos de sopro; Criação dos modernos instrumentos de sopro; O
Clarinete (breve história, características, família). 5) O ENSINO DO CLARINETE NO POLO
GUARABIRA – corresponde aos métodos de ensino utilizados com os participantes do
projeto, no polo de Guarabira, estes estão divididos em mais dois subtópicos posteriores:
Explicando os métodos utilizados no projeto: O Método da Capo e Método Klosé. 6) O
RELATO DOS ALUNOS MOZART, WEBER, BRAHMS: APRENDENDO A TOCAR O
CLARINETE – remete-se, ao último tópico desse estudo, no qual temos os resultados e
discussão, bem como análise final da experiência oportunizada pelo projeto PRIMA.
13
14
1 PROJETOS SOCIAIS
“As ações sociais podem vir de diversas formas, atualmente existem projetos
educativos por meio de cursos profissionalizantes, saúde e qualidade de vida,
música, religião, literatura e também projetos voltados ao meio ambiente,
saneamento básico e reciclagem.” (TRATA BRASIL, 2018).
15
O “Projeto de Inclusão Através da Música e das Artes”, criado em março de 2012 pelo
governador do estado da Paraíba Ricardo Coutinho, juntamente com um idealizador Alex
Klein, o oboísta brasileiro nascido no estado de Santa Catarina, na qual tem como objetivo
principal, promover a inclusão social. Apesar do projeto ter um nome bem amplo, que se
16
estende pelas artes, a ferramenta mais predominante neste projeto social é a música, que existe
a nível estadual servindo de exemplo para outros estados em todo o Brasil.
Vale ressaltar a importância e o reconhecimento do ensino musical, depois de
aprovada a Lei 13.278/2016, que obriga o ensino das artes visuais, a dança, a música e o teatro
nos currículos escolares em todos os níveis da educação básica. Essa nova lei altera a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB — Lei 9.394/1996) estabelecendo o prazo de
cinco anos para que os sistemas de ensino promovam a formação de professores para
implantar esses componentes curriculares no ensino infantil, fundamental e médio.
O Art. 26 da Lei institui a inclusão da música como conteúdo obrigatório, mas não
exclusivo, do componente curricular de que trata § 6º este artigo “As artes visuais, a dança, a
música e o teatro são as linguagens que constituirão o componente curricular de que trata o §
2o deste artigo” (Redação dada pela Lei nº 13.278, de 2016). Dessa forma vários educadores
discutem e aprovam todas as possibilidades da utilização de ensino musical, com um olhar
transformador, apesar dos aspectos técnicos envolvidos:
1
O maior programa sociocultural brasileiro que oferece, nos períodos de contraturno escolar, cursos de iniciação
musical, luthieria, canto coral, tecnologia em música, instrumentos de cordas dedilhadas, cordas friccionadas,
sopros, teclados e percussão, para crianças e adolescentes entre 6 e 18 anos.
2
É uma política pública prioritária do Governo do Estado da Bahia, executada pela Secretaria de Justiça, Direitos
Humanos e Desenvolvimento Social através de contrato de gestão com a organização social IDSM, Instituto de
Desenvolvimento Social pela Música.
18
Historicamente ,o PRIMA, está perto de completar uma década, uma vez que dada a
sua fundação em 17 de março de 2012. Apesar de passar por dificuldades e muito
crescimento, houve mudanças significativas de gestão que influenciam no andamento e
impulso administrativo.
O primeiro coordenador-geral do projeto foi Alex Klein, um oboísta de renome
mundial, que assumiu o posto de primeiro oboé da Orquestra Sinfônica de Chicago, cargo que
ocupou por 9 anos. O músico atua regularmente como maestro, pedagogo e solista de oboé no
Brasil, Estados Unidos, França, Japão, China, México, Panamá e Portugal. No Brasil, Klein é
detentor de vários prêmios internacionais, e até hoje o único músico brasileiro a conquistar um
Prêmio “Grammy3” na música erudita, colaborou no PRIMA durante quatro anos.
Ao término deste mandato passou o cargo para o cantor e compositor Milton Dornellas
Bezerra Junior, que fez um trabalho exemplar entre os anos de 2017 e 2018, ao lado da
coordenadora artística do projeto, a flautista Priscila Santana, que pertencia ao projeto Neojiba
na Bahia e recebeu o convite para vir trabalhar no grande projeto do PRIMA. Por motivo de
força maior, teve que se desligar do programa para iniciar o seu doutorado nos Estados
Unidos na cidade de Nova York.
Neste mesmo ano quem assume a administração geral do projeto é Lau Siqueira,
renomado poeta paraibano. Os destaques do PRIMA atualmente são do músico e maestro
Rainere Travassos que assume a direção artística, como também, a coordenação e organização
estrutural do projeto no que se refere a parte pedagógica. Quanto a estrutura organizacional
podemos ver nas palavras de Travassos e Silva:
3
Excelência em realização da Industria Musical é uma cerimônia de premiação da “Academia de Gravação” (do
inglês The Recording Academy) dos Estados Unidos, que presenteia anualmente os profissionais da indústria
musical.
19
3 O PRIMA EM GUARABIRA
4
O bairro Mutirão foi um dos primeiros selecionados para obter a instalação do programa, uma vez que neste se
encontravam a maior população de baixa renda, ou seja, uma das comunidades mais carentes da cidade, no
entanto, não havia estrutura física onde este projeto pudesse ser realizado.
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Nesta figura, apresentamos a rotina semanal, comum nos períodos de aulas musicais,
onde está ocorrendo um ensaio grupal. O maestro, claramente, está num processo de
aprendizagem, na qual os músicos executam melodias fáceis, com repertório variado de peças
arranjadas para facilitar esta formação bem diversificada. É válido destacar que algumas
pessoas da comunidade estão observando o ensaio do grupo de sopros e percussão. Nos chama
atenção o interesse dos envolvidos e familiares, além de mostrar a importância que um projeto
como esse tem para este contexto no ensino através da música. Afirmando ainda um papel
social importante na formação do cidadão e de relevância para a população jovem
guarabirense.
O projeto nesta cidade, iniciou-se com o maestro José Carlos Santos, músico e
psicanalista. O Polo vem atendendo crianças, adolescentes e jovens com faixa etária que varia
entre 9 e 18 anos de idade. Além de aceitar alunos de todas as fases, incluindo alunos do 3º
ano do ensino médio. O sucesso do trabalho repercutiu na cidade através de dados, sendo
exposto pelo governador, o investimento realizado, numa matéria sucedida pela prefeitura de
Guarabira em agosto de 2013.
No total serão quase R$ 500 mil reais investidos pelo Governo do Estado em
instrumentos musicais, inclusive em piano e harpa, com aulas diariamente, e, devido
a isto, em poucos meses os estudantes já estarão com condições de se apresentar ao
público com peças simples, e posteriormente, avançando no universo musical. Para
se deslocarem ao CIEEC, os alunos terão transporte garantido cedido pela Prefeitura
(PREFEITURA DE GUARABIRA, 2013)
Podemos observar nesta citação, que o prefeito da cidade de Guarabira deu total apoio
ao falar da importância do “Projeto de Inclusão através da Música e das Artes” em Guarabira
para a população. O município que ocupa o 9º lugar de cidade mais populosa do estado, é
22
reconhecida pelo seu celeiro histórico culturalmente rico na Paraíba, o Polo abraçou
positivamente a realização de concertos, abrindo espaços de apresentação musical nas praças.
Portanto, devemos reconhecer que a prefeitura da cidade de Guarabira está colaborando com
espaço físico e contribuição estratégica (financeira) ao projeto. Beneficiando a todos da
região, seja como melhora no ensino escolar, com mais concentração, assiduidade, motivação
em querer ter a música como profissão futura, ou até mesmo como um momento de terapia e
atividades lúdicas.
Como é dito nesta citação de Ilari (2005, p. 3), educadores musicais dentre vários
autores enfatizam a importância do ensino musical:
Durante minha trajetória como professor foi de suma importância a presença dos
professores itinerantes neste projeto, isto é, de educadores que vinham de outras cidades, e
23
mais especificamente do Polo sede em João Pessoa (de 15 em 15 dias) para ministrar aulas
dos instrumentos de madeira. Tendo em vista, que sou clarinetista 5, não possuía o domínio
técnico e nem educacional dos demais instrumentos de madeira. É válido destacar que por
meio do auxílio desses professores, avançamos de forma positiva e prática, tendo um retorno
ainda maior dos alunos que também tinham interesse e empenho para aprender a tocar os
outros instrumentos disponibilizados pelo programa.
Na imagem ilustrada (figura 3), podemos enxergar uma professora especialista, de
outro polo, que foi convidada a trabalhar e ensinar a técnica específica da flauta transversal.
Os alunos da gravura, começam o ensino básico de iniciação musical com um professor que
não é especialista na utilização e mecanismo do instrumento, mas com o interesse e muita
motivação, o processo de aprendizagem foi realizado para um melhor aproveitamento técnico.
É possível afirmar, atualmente, que há uma estrutura física bem definida para as aulas
de um modo geral. Antes não havia salas adequadas (com a falta de tratamento acústico para
salas em algumas aulas) e tampouco um ambiente favorável para a realização dos ensaios.
Além do apoio e auxílio de professores de outros polos, a exemplo da capital do estado João
Pessoa. Na imagem (figura 4) a seguir, apresentaremos o registro da aula de percussão,
também no polo de Guarabira.
5
Iniciei minha trajetória musical tocando o instrumento clarinete, na Filarmônica Municipal das escolas de
Pombal em 2007. Após sete anos (em 2014), ingressei meus estudos no curso de licenciatura em Música na
Universidade Federal de Campina – UFCG, onde obtive inúmeras experiências com diversos professores, através
do Masterclass (A ordem do aperfeiçoamento). Além de ter participação em vários festivais de todo o Brasil,
chegando, inclusive, a vencer alguns concursos.
24
4 – Aula de percussão
As duas gravuras apresentadas acima, são exemplos de um dia comum de aula com
alguns alunos que aprendem a tocar a flauta transversal (são cinco alunos no total) e os
instrumentos de percussão. Na imagem é possível perceber o interesse dos alunos na aula de
técnica instrumental, com o professor convidado. Esse encontro se trata de um ensaio para
apresentação de encerramento do semestre 2019.1. A imagem (figura 5) seguinte apresenta
uma audição do grupo de metais do PRIMA de Guarabira.
Figura 5- Audição do grupo de metais do PRIMA de Guarabira
Vale salientar que a apresentação da banda sinfônica, na figura acima, foi realizada na
famosa “Praça do Encontro”, que está situada no centro da cidade de Guarabira. Podemos
observar ainda o interesse das crianças da comunidade em ver atuação dos músicos (com
instrumentos como: fagote, trombone, trompete, clarinete e flauta) todas elas que ali
observavam são provenientes de uma escola localizada próxima à praça. Posteriormente,
exibiremos uma apresentação dos participantes do PRIMA, realizada em junho de 2019, com
a presença dos coordenadores gerais do programa.
domínio e prática íntegra. Já os de Campina Grande são aqueles que frequentam o espaço
com mais frequência e trabalham especificamente o aperfeiçoamento técnico instrumental de
cada aluno.
6
O didgeridoo é um instrumento de sopro dos aborígenes australianos. O som dele é produzido pela vibração do
ar, provocado através da vibração dos lábios e por outros sons produzidos pelo instrumentista. Tem forma
cilíndrica ou cônica e o comprimento entre um e dois metros, variando o som conforme o tipo de material do
qual é feito.
27
Os instrumentos de sopro da família das madeiras, são caracterizados pelo timbre que
produz (com sonoridade variadas do grave ao agudo), alguns bem mais penetrantes como as
flautas, flautins ou piccolos, oboés, corne inglês, clarinetes, clarinete baixos ou clarones,
fagotes e contra fagotes. A constituição desses instrumentos é realizada por inúmeros
materiais, como o grenadilha, na maioria das vezes com uma boa qualidade de som, afinação
dentre outros aspectos. No entanto, os que são construídos com uma boa matéria prima, o
Dalbergia melanoxylon 7, faz toda a diferença.
Esses instrumentos de sopro, podem ser utilizados em qualquer gênero ou estilo
musical, têm como característica principal a presença de uma palheta, que pode ser simples ou
dupla. As chaves podem ser construídas de metal, níquel, prata ou até mesmo ser banhada a
ouro (MATEIRO, 2000).
7
Conhecido também como pau-preto (Dalbergia melanoxylon) é uma angiosperma da família Fabaceae,
nativa de regiões sazonalmente secas da África, como Senegal, leste da Eritreia e sul do Transvaal, na África do
Sul. É uma pequena árvore, alcançando de 4 a 15m.
29
Os músicos que tocam esses instrumentos atestam que não há material comparável à
madeira para produzir um som de qualidade e afinação. Os fabricantes do instrumento também
atestam regularmente a insubstituibilidade da madeira porque a combinação particular de
propriedades que a tornam o meio ideal para a fabricação de sopros foi encontrada em poucas
outras espécies de árvores. O uso anual da madeira pelo setor de instrumentos é modesto -
cerca de 4,5% de seu uso total (BARBOSA, 1996).
Embora o número de árvores de blackwood8 (madeira preta) utilizadas pelos
fabricantes de instrumentos tenha permanecido relativamente constante durante a era
moderna, a indústria foi fortemente impactada pelo aumento da demanda de outros setores e
teve que recorrer a outras opções para competir. O uso de madeira alternativa, folheados e
materiais feitos pelo homem, juntamente com o abastecimento de madeira de florestas
certificadas, ajudaram a reduzir a demanda por madeira negra africana e outras espécies de
árvores ameaçadas.
8
O Blackwood Africano é uma das madeiras mais densas, sendo ainda mais duro que o Ébano e que o
Jacarandá Brasileiro, reforçando a propagação, clareza, punch e complexidade harmônica. Possui uma
sonoridade robusta e nítida; um timbre similar a um sino com as reverberações das ondas sonoras, em resposta
lenta. Tem veios retos e textura muito fina com uma superfície oleosa. Muito diferente de outros Jacarandás, na
medida em que é de cor preta e, muitas vezes, com o alburno aparecendo no visual do instrumento.
30
si só. Para uso orquestral, a gama de madeiras adequadas para esses instrumentos sofisticados
se reduziu a poucos (FERNANDES, 2000).
Os sopros europeus eram tradicionalmente feitos de buxo europeu (Buxus
sempervirens), por ser uma das madeiras mais pesadas e disponíveis na Europa. Embora sua
densidade o tornasse útil para instrumentos de sopro, sua tendência a deformar com o tempo,
mesmo que estivesse bem seco, era um fator limitante. Apesar de ter seu tamanho reduzido e
uma taxa lenta de crescimento, sua cor (castanho claro) também se tornou um prejuízo, por
causa dos gostos modernos que se voltaram para espécies de tons mais escuros. Um
instrumento de sopro de buxo ficava sujo facilmente com os anos de uso (CAMPOS, 2008).
Quando as rotas de comércio para portos estrangeiros começaram a ser estabelecidas
durante o período colonial, várias novas madeiras de lei dos países tropicais, notáveis por sua
densidade e usinabilidade, foram testadas e uma delas superou todas as outras – Brya ebenus –
coqueiros, nativos do Caribe. No entanto, o buxo foi rapidamente substituído pelo instrumento
de madeira, ao se destacar pela sua cor (de um rico marrom profundo ao preto), que também
agradava ao gosto da época.
Em consoante com Nascimento (2006) a Jamaica Rain Tree floresce como brilhantes
flores amarelo-laranja quase imediatamente após uma chuva. Nativo da Jamaica e de Cuba,
como a maioria das espécies de árvores, é conhecido por vários outros nomes, como (ébano
jamaicano, cocos de ébano, Grenadilla e ébano das Índias Ocidentais). Como a madeira negra
africana, ela cresce em matagais tropicais, um habitat ao qual se tornou capaz de sobreviver e
se tornar resistente à seca adicionando apenas crescimento incremental em seu ciclo anual.
Este padrão de crescimento dá ao coco as mesmas propriedades que passaram a ser
apreciadas na madeira negra africana - extrema densidade, usinabilidade e estabilidade. Do
mesmo modo, como o blackwood, o cocuswood pertence à família das ervilhas Fabaceae. É
uma leguminosa que enriquece o solo nos habitats frequentemente marginais que sabe ocupar
(CRUVINEL, 2005).
Durante um período relativamente breve, o coqueiro foi a madeira escolhida pelos
fabricantes europeus de sopro, mas, infelizmente, o seu habitat era limitado a Cuba e Jamaica
e a árvore era ainda menor do que a madeira preta (diâmetro médio de 3-6 in / 8-15 cm, como
em comparação com o tamanho que pode ser colhido de 9,5 pol / 24 cm), os troncos da árvore
logo foram dizimados e nenhuma iniciativa de conservação foi instituída para protegê-la no
futuro (CAMPOS, 2008).
Como resultado da escassez de cocos, a madeira negra africana, que é chamada de
grenadilla no comércio de instrumentos, começou a ser usada na fabricação de instrumentos
de sopro, de boa qualidade, atualmente, só está disponível em pequenas quantidades a preços
31
muito caros, pois é considerada quase que insubstituível. Como o blackwood é uma árvore que
cresce retorcida e cheia de falhas, extrair madeira de alta qualidade é extremamente difícil
(BARBOSA, 1996).
Vale destacar que as classificadoras das fábricas podem relegar até 90% da madeira
para a pilha de sucata e que os fabricantes de instrumentos estão descobrindo que perdem até
20% de suas peças durante o processo de usinagem na fábrica. Dessa forma, acreditam-se que
isto acontece devido ao aumento da exposição do pingo a incêndios provocados pelo homem
nas florestas, onde crescem o que excede e o que ocorreria naturalmente. Criando, portanto,
rachaduras finas e defeitos invisíveis na madeira, fazendo com o que ela exploda no torno
durante a fabricação. Essas grandes perdas colocaram uma demanda adicional nos
remanescentes de madeira (CAMPOS, 2008).
A evidência da evolução das madeiras para instrumentos pode ser encontrada na
história do comércio de gaita de foles escocês. Embora a gaita de foles esteja associada à
música das montanhas escocesas, a indicação de instrumentos semelhantes, datados há 1.000
anos atrás, foi encontrada em várias partes da Europa, no norte da África e na Ásia ocidental
(FERNANDES, 2000).
O instrumento pode ter sido inspirado em dispositivos de flutuação feitos de peles de
animais usados para cruzar corpos d'água, uma vez que as primeiras gaitas de fole foram feitas
de peles de cabras, ovelhas ou vacas. Antes da introdução das madeiras importadas, os
cachimbos eram tradicionalmente feitos de fruteiras europeias ou da madeira densa da árvore
de corrente dourada: Laburnum anagyroides. No entanto, as madeiras exóticas se tornaram
disponíveis apenas em 1800, o coco, o ébano do Gabão (Diospyros ebenum) rapidamente
substituiu essas madeiras locais (NASCIMENTO, 2006).
David Glen (1850-1916) foi um dos fabricantes de gaita de foles mais influentes da
história da arte, oriundo de uma família muito renomada, tinham destaque por serem
fabricantes de tubos na época. Thomas MacBean Glen, seu tio (irmão de seu pai), abriu uma
empresa chamada J&R Glen em 1833 e seu pai, Alexander, começou a fabricar cachimbos,
ensinando ao seu filho as habilidades necessárias para aprender o ofício (BANDA, 1994). Em
1869, seu pai morreu e com apenas 19 anos, David, assumiu os negócios da família.
O aprendiz casou-se em 1876 e teve cinco filhos, que também cresceram aprendendo a
construir gaita de foles. Em 1912, a empresa familiar foi renomeada para David Glen & Sons;
iria produzir milhares de gaitas de fole e sobreviver até 1976. Na Escócia, Glen era ainda mais
conhecido como musicólogo, dado que entre 1876 e 1900 colecionou cerca de 1.100 peças
musicais para gaita de foles que foram catalogadas e publicadas em 17 partes (OLIVEIRA,
1996).
32
este período e seu Conservatório Nacional de Música e Dança, na qual treinaram várias
aspirantes a intérpretes nos ofícios da expressão escolhida.
Professores e músicos tiveram a oportunidade de mútua colaboração na edificação de
notáveis inovações para a construção dos instrumentos. Muitos músicos da época também
foram grandes inventores, propondo, portanto: a imaginação para realizar algumas
modificações; produção e criação de um instrumento melhor, capaz de criar harmonias;
entonações que desejavam transmitir. Portanto, a arte e a manufatura progrediram em conjunto
(CRUVINEL, 2005).
Os músicos que fundaram as companhias de instrumentos, frequentemente, vinham de
famílias que praticavam a música por várias e demais gerações. Algumas das companhias
mais eloquentes, foram tão importantes no desenvolvimento dos instrumentos orquestrais para
a música clássica, como também relevantes na transmissão cultural, passadas de geração a
geração (CAMPOS, 2008).
9
Uma adaptação de uma flauta de cana, considerada com uma pequena trombeta de folk que foi
melhorado por Denner.
34
aperfeiçoado com uma campânula semelhante à do oboé. Mais tarde, passou a ser
construído em três partes (boquilha, corpo e campânula) (CAPITÃO, 2017, p. 16).
Dessa forma, é possível afirmar que outras notas foram adicionadas para melhorar
certas notas. Além de terem avançado tecnologicamente, incluindo chaves montadas em
pilares, bem como as chaves de argolas introduzidas pelo fabricante de flautas Theobald
Boehm. A seguir apresentaremos uma imagem (figura 9) do célebre Denner, construtor do
instrumento de sopro alemão da era barroca.
Figura SEQ Figura \* ARABIC 9-Johann Cristian Denner de
Nuremberg
O período clássico foi marcado por um grande acontecimento, quando detectaram que
o clarinete já possuía cinco chaves e, por isso, muitos compositores renomados como Mozart,
Haendel, Schubert, Beethoven, incluíram o uso do instrumento em seus repertórios. Neste
mesmo período, apareceram as primeiras grandes obras, na qual o clarinete começou a ganhar
visibilidade no mundo, junto aos compositores e em virtude de seu som penetrante no agudo e
misterioso no grave. Além da versatilidade de execução pelos instrumentistas da época,
conforme certifica Capitão:
Ivan Müller (1786 - 1854), foi um clarinetista considerado um dos mais inovadores
deste período, em relação à construção e técnica do clarinete com treze Chaves em si bemol.
Causando um grande impacto na época, como compositor e solista, possibilitou ainda a
execução de obras em todas as tonalidades. Sendo, portanto, um grande avanço na estrutura
35
técnica e mecânica, que foi considerada por ter dado um enorme passo para o
desenvolvimento do clarinete atual (CAPITÃO, 2017).
O teórico aponta ainda que o famoso clarinetista Müller juntou-se à Klosé, para que
juntos, pudessem fazer o aperfeiçoamento do clarinete de 13 Chaves, sendo,
consequentemente, um dos clarinetes mais utilizados nos tempos atuais, que é o clarinete em
Si Bemol e o clarinete em lá ambos os sopranos. Assim, conseguiram aprimorar o
instrumento, apontando essa transformação: “Hyacinthe Klosé (Professor) e Auguste Buffet
(construtor) fizeram uma adaptação do sistema que Boehm, que tinham inventado (para a
flauta) e aplicaram-na no clarinete de treze chaves (de Müller)” (CAPITÃO, 2017, p. 17).
Seguindo este momento histórico, Pinto (2006) relata que “O princípio das anilhas
móveis de Boehm” permitiu fechar orifícios de difíceis acessos aos dedos e assim, criar outros
orifícios de impossível alcance para a fisionomia dos dedos. Para além destas alterações, foi
introduzida, entre o corpo e a boquilha do instrumento, outra peça denominada por barrilete.
Este clarinete foi apresentado em 1839 no “Paris Exhibition”.
Na próxima ilustração (figura 10), temos a imagem do clarinete10 atual que a maioria
dos clarinetistas utilizam em todo o mundo. Esse clarinete pode ser usado nos mais variados
grupos musicais, como banda, orquestra sinfônica de baile, nos grupos de choro, jazz, dentre
vários estilos musicais.
10
O bocal, geralmente é formado de ebonita (uma borracha dura); tem uma abertura em forma de fenda em um
dos lados sobre a qual uma única palheta, feita de cana natural, é presa por um clipe de parafuso, ou ligadura, ou
(em tempos anteriores e ainda frequentemente na Alemanha) por lapidação da corda.
36
maneira de colocar a boca corretamente na boquilha. A seguir (figura 11) podemos observar
duas imagens que representam a forma como o clarinete é usado. A primeira imagem
apresenta a posição incorreta de segurá-la na boca e a segunda, o modo correto.
Na fase inicial do instrumento é necessário que se tenha uma prática regular constante
e frequente, para reafirmar e amadurecer esta musculatura que tantos tem dificuldades para
reforçar. Além disso, os alunos que estão praticando o treinamento para tal instrumento,
devem observar e estar atentos claramente aos detalhes que terão que fazer, para assim, se
tornarem um bom músico futuramente e, ter uma boa sonoridade e afinação.
Vale destacar, que os alunos no polo Guarabira conseguiram desenvolver e fazer
corretamente a posição da embocadura com a prática diária, que para nós foi inicialmente uma
grande aquisição. Mas, percebemos que no decorrer das atividades práticas iniciais, os alunos,
geralmente, têm um hábito constante de morder muito forte o material da boquilha; isso
acarreta dificuldades na execução, na afinação, na sonoridade e atrasa consequentemente o
avanço técnico instrumental individual. Contudo, é necessário que tenha uma posição corporal
correta, como a colocação das mãos e também a forma adequada de segurar o instrumento.
Nesta etapa de aprendizagem inicial dos estudos é muito importante que exista uma
compreensão no que diz respeito a utilização do clarinete, pois, dessa forma, há uma
facilitação de obstáculos para que não haja vícios futuros. Posto que, quando começamos algo
de forma errada, ou ainda quando executamos na prática diária e o erro não é corrigido
naquele momento do estudo, há possibilidade de haver muitos outros problemas de execução
38
O ensino musical não deve ser uma via de mão única onde o professor dita o
conhecimento e o aluno simplesmente o recebe. [...] O ideal é que haja uma troca
constante de informações entre professor e aluno. [...] E, tratando-se do ensino do
instrumento, o professor deve adotar uma metodologia para cada grupo ou aluno.
Fundamentado com base nos “Métodos modernos de ensino coletivo instrumental dos
Estados Unidos”, o método Da Capo, de Joel Barbosa, “foi parte de sua tese de doutorado
intitulada An Adaptation of American Instruction Methods to Brazilian Music Education:
Using Brazilian Melodies de 1994”. Em 2004, o método recebeu o nome Da Capo (método
elementar para ensino coletivo ou individual de instrumentos de banda), editado pela Editora
Keyboard. Barbosa (2004), trabalha as atividades instrumentais antepostas à teoria, em seu
método, através de músicas folclóricas brasileiras, aproximando os alunos de sua realidade
melódica, diferenciando-se dos métodos tradicionais encontrados no mercado, direcionados à
formação de músicos.
A principal característica do método Da Capo, está no fato de que o aprendiz deve ter
o contato com o instrumento na primeira aula, possibilitando-o de se integrar a um grupo,
banda ou conjunto, promovendo assim, sua socialização e dando-lhe motivação para continuar
seus estudos. O método consiste em utilizar músicas folclóricas, com células rítmicas simples,
associando-as sempre à teoria com a prática instrumental, o que o torna esse método
39
Tocar e cantar - Toda canção deve ser cantada e tocada. Varie a ordem
dessas duas atividades a cada nova canção a ser aprendida. Havendo
dificuldades em entoar alguma canção, divide a classe em dois grupos,
enquanto uma toca, a outra canta, e vice-versa. Se possível, use um
instrumento harmônico (violão, piano, teclado, etc.) para acompanhar
essas atividades. Procure cantar em tonalidades que sejam mais
apropriadas para a classe. (BARBOSA, 2004, p. 2)
O método que possui uma abordagem aplicada em conjunto da técnica pura, mas
utilizado como metodologia de ensino técnico é o famoso Método Completo de clarinete,
criado pelo clarinetista H. Klosé. Em suma, esse método é estruturado, primeiramente, por
41
estudos de notas longas, além das escalas e arpejos, seguindo a ordem do ciclo das quintas, na
apresentação das escalas e incluindo os aspectos técnicos em seu decorrer de forma gradativa.
Esse modo de estruturação é muito interessante, uma vez que os métodos apresentam o
exercício melódico que inclui a parte técnica que foi anteriormente trabalhada. Todavia, vale
destacar que a maioria dos exercícios melódicos propostos não são compatíveis com o
contexto musical brasileiro, da mesma forma que ocorre nos estudos de outros métodos como
Estudos de Rose, Perrier, Gambaro, Bearmann, dentre outros utilizados no ensino para
clarinete. Esta é uma característica que pode acarretar dificuldades aos alunos, no que diz
respeito ao criar relações necessárias, como também para desenvolver uma determinada
técnica e aplicá-la em seu cotidiano musical.
Em relação aos métodos que propõem um estudo voltado para um único aspecto
técnico, a exemplo do Exercices mécaniques elaborado por Jean Marie Vol. I e II, sabemos
que neste, a relação de técnica e sua aplicabilidade não é possível para ser realizada. Pois, eles
mesmos propõem uma abordagem totalmente tecnicista, tendo em mente que são métodos de
técnica pura. Autores como Campos (2008) que falam acerca do ensino do saxofone, também
concordam com esta afirmação da influência europeia no ensino instrumental.
No projeto, são distribuídos aos alunos apostilas específicas, elaboradas pela
Coordenação Geral, para o uso de cada instrumento musical. Por opção própria, também
utilizamos o método Klosé, que possui grandes estudos técnicos para todos os níveis de
aprendizagem. Por sua vez, com exceção das que seguem a abordagem da técnica pura em
sua maioria, já fazem essa relação de aplicabilidade da técnica ao nosso contexto musical,
tendo em vista que muitas delas são elaboradas para o desenvolvimento musical.
Vale ressaltar, que existem diversas outras abordagens de métodos e apostilas além das
descritas acima, e o estudo desses materiais são (e sempre serão) de grande valia para o
clarinetista, porém, é imperativo que o professor ao selecioná-las como possíveis de serem
trabalhadas em aula, tenha em mente que para alguns, será necessário separar outro material
que complete as lacunas de interpretação, pois, de forma geral, os aspectos técnicos abordados
nesses materiais são os mesmos, divergindo apenas em quantidade, no entanto, os
interpretativos não (NASCIMENTO, 2006).
É importante que nas aulas de treinamento/ensaio se tenha contato com a música de
outros contextos culturais, porém, é indispensável que o estudante tenha influência e
convivência com as músicas de seu cotidiano. Para que sua compreensão musical não se
atente apenas às canções de outras regiões, distantes de sua realidade (BANDA, 1994).
42
Neste capítulo será relatado a experiência musical dos alunos participantes, antes de
estarem envolvidos no projeto, seguidamente de suas vivências e opiniões dadas a respeito do
programa, durante o ensino dos instrumentos e a partir da utilização do método Da Capo.
Em uma das aulas, questionamos os alunos acerca de seus conhecimentos referentes a
música “Vocês já tiveram alguma experiência musical antes do PRIMA?”. Automaticamente,
o primeiro aluno (Mozart) respondeu:
Antes de fazer parte do projeto, eu não havia tido aula alguma de música, sempre
tive vontade de aprender a tocar algum instrumento para poder desfilar no dia 7
(sete) de setembro, pela minha escola, mas como nunca tive oportunidade, vi no
PRIMA uma chance única de poder tocar um instrumento musical. (Comentário do
aluno Mozart coparticipante da experiência, 2019)
Ficamos muito contentes com sua resposta, ao verificamos um ponto positivo em sua
fala, quando enxerga no PRIMA, um lugar para colocar em prática um de seus desejos
enquanto jovem. O segundo aluno (Weber) que respondeu a nossa pergunta, declarou, que já
havia tido contato com a música no local onde costumava frequentar com sua família, a igreja,
percebam:
Neste sentido, podemos afirmar, que de fato, algumas comunidades Cristãs, que
possuem instrumentos nos locais onde elas estão localizadas, dão a oportunidade para aqueles
(entre jovens e adultos, que saibam tocar), possam expor as suas competências na igreja. No
entanto, torna-se restrito e ao mesmo tempo, exclusivo, apenas há quem sabe tocar, ou seja,
não tem o benefício de poder ensinar a outrem, outros instrumentos. Todavia, o PRIMA
oportunizou um espaço ainda maior para que esses alunos pudessem aprofundar e aperfeiçoar
a sua capacidade, bem como de explanar um talento íntimo dele.
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Um terceiro aluno (Brahms) também se pronunciou, destacando que poder tocar para
ele, não era apenas um desejo mútuo, mas sim, uma forma de poder aliviar a mente e
conseguir dar pulos bem mais altos que seriam alcançar o seu tão grande sonho de cursar
Medicina.
Eu nunca tive experiência musical fora daqui, pois vi na música uma forma de
terapia, estudo para o vestibular de medicina. Vi em algumas pesquisas que quem
estuda a música tem o cérebro mais desenvolvido e assim brotou o meu interesse
pelo projeto. Hoje, ao ver o meu resultado, vi que a música tanto me ajudou para
desenvolver as minhas faculdades mentais como para mostrar que sou capaz de
aprender qualquer coisa. Logo, o clarinete é um instrumento muito difícil que exigiu
bastante de mim. (Comentário do aluno Brahms coparticipante da experiência, 2019)
Notadamente, essa pequena discussão realizada através de uma simples pergunta, nos
facultou e rendeu uma postura satisfatória ainda maior em relação ao projeto que foi instalado
no polo de Guarabira. E ainda de grande valia, bem como o reconhecimento pessoal e
profissional enquanto professor de música num programa tão importante para tantos jovens e
crianças daquela região. Tendo em vista também, que por meio dos comentários destes alunos,
foi possível compreendermos que a música bem mais que o som e a aprendizagem dos
instrumentos musicais, ela também traz a superação, o impulso para que possamos vencer as
barreiras e dificuldades do dia a dia.
6. 1 Resultado e discussão
A diversidade cultural que nos cerca é um ponto que deve ser levado em consideração
pelo professor, no momento de planejar suas aulas, pois, cada pessoa possui uma bagagem
cultural distinta, que influenciará na escolha de seus objetivos e, posteriormente, na forma de
como este irá aprender (NASCIMENTO, 2006).
Diante disso, é indispensável que o professor observe o que o aluno trás de sua
vivência, para descobrir qual o objetivo que ele tem ali no espaço onde está convivendo. E, se
o aluno ainda não estiver consciente de qual seja esse objetivo, ele deve ajudá-lo a descobrir,
mostrando algumas possibilidades de atuação e estilos adotados nas performances do
clarinete.
Partindo disto, é recomendável que professor e aluno construam um planejamento de
estudo abordando os pontos selecionados pelo professor, como substancial a um consistente
desenvolvimento técnico/interpretativo do clarinete, e os necessários ao aluno para alcançar
45
seus intentos pessoais. Após a definição dos objetivos, é necessário que haja a escolha dos
materiais que serão utilizados (NASCIMENTO, 2006).
No diálogo entre professor e aluno sobre a definição dos objetivos a serem alcançados,
além dos intentos do aluno e do professor, é necessário abordar os objetivos da instituição a
que ambos estiverem ligados, para que ao final do curso, não haja frustração de nenhuma das
partes, e sim, um equilíbrio entre o objetivo proposto e o alcançado, de uma forma que não
prejudique o processo de aprendizado, por causa do produto a ser alcançado.
O clarinete, apesar de ser um instrumento relativamente novo, já possui grande
inserção no mercado artístico e um número ainda maior de métodos e apostilas voltadas para
seu aprendizado, com inúmeras abordagens de técnica pura e aplicada. No entanto, grande
parte dos métodos possuem uma aproximação europeia ou americana; em sua maioria são
métodos bem estruturados, mas que não foram elaborados para o nosso contexto musical. Um
exemplo de método de técnica aplicada é o Famous Studies criado por W. Ferling; nele
encontramos pequenas melodias que exigem do estudante o desenvolvimento técnico e ao
mesmo tempo expressivo, (FERNANDES, 2000).
Esses estudos estão divididos em duas formas de atuação: 1) os de maiores liberdades,
indicados para serem realizados em andamentos mais lentos; 2) os de maiores exigências
expressivas, com um número superior de exigência técnica para indicação de andamentos e
mais rápidos em direção a sua realização, porém, ambos trabalham a técnica associada ao
desenvolvimento interpretativo de uma melodia que não é pertencente ao repertório brasileiro
(BANDA, 1994).
No que concerne aos aspectos das vantagens do ensino coletivo comparado ao
individual, podemos ver vários resultados a favor da prática coletiva. Alguns autores
brasileiros afirmam que o ensino coletivo de instrumentos musicais se adequa melhor à
realidade no sistema público de ensino. Dado que o acesso a uma gama maior de estudantes,
possibilita o aprendizado musical no contexto escolar, enfatizado por outros aspectos ainda
inerentes. As aprendizagens grupais, como foco na interação social, priorizam o convívio com
os colegas e a estimulação da motivação para o respectivo aprendizado (GOMES 2019, p.2
Apud OLIVEIRA, 2018, p. 309).
O aprendizado musical em grupo é agradável por inúmeras razões, a seguir,
acompanhe algumas delas: o aluno percebe que suas dificuldades são compartilhadas pelos
colegas, evitando desestímulos; o aluno se sente participante de uma orquestra ou coral logo
no início dos estudos e ao conseguir executar uma peça, sua motivação aumenta; o aspecto
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lúdico do ensino coletivo (desde que bem direcionado pelo professor) torna-se uma poderosa
força, auxiliando um aprendizado seguro e estimulante.
Os professores, cada vez mais, têm se tornado adeptos ao ensino coletivo (em grupo).
Considera-se que nas escolas de música de ensino superior também se encontram respaldo
para inserção do ensino coletivo com as modificações introduzidas nos currículos escolares da
graduação. A respeito do ensino coletivo, diz que, apesar de ser algo ainda recente no Brasil,
esta metodologia de ensino musical já conta com a contribuição de educadores e
pesquisadores obtendo resultados positivos com sua utilização”.
O ensino coletivo gera um certo entusiasmo no aluno por fazê-lo sentir-se parte de um
grupo, facilitando o aprendizado dos alunos menos talentosos, causa esta que se finda numa
competição saudável entre os alunos de menor índice de competência, com os mais
avançados. Para juntos, buscarem sua posição musical no grupo, desenvolvendo, portanto,
habilidades para tocar em conjunto (desde o início do aprendizado), e promover um contato
exemplar com as diferentes texturas e formas musicais.
No entanto, existe um baixo custo no faturamento desse resultado, devido ao fato de
ter apenas um único professor/músico para ensinar a toda classe, que variam entre o número
de 30 (trinta) alunos com instrumentos diversos, ao invés de pagar um professor para cada
família de instrumentos. Portanto, nos parece viável a prática do ensino coletivo, quando
Nascimento (2006) refere-se ao método Da Capo e faz a seguinte observação, proposta pelo
seu autor:
“[...] em sua tese de doutorado intitulada “Uma Adaptação dos Métodos Americanos
de Instrução para Bandas para a Educação Musical Brasileira, utilizando Melodias
Brasileiras”, são sugeridas experiências futuras como verifica-se a seguir: “em
conclusão a fim de verificar a validade do sucesso do método como instrumento de
ensino, será necessário submetê-lo a várias experimentações em diferentes partes do
Brasil” (BARBOSA, 1994, p. 29, apud NASCIMENTO, 2006).
6.2 Análises
Para fins deste estudo e experiência realizada até aqui, cabe destacar que o programa
implantado na cidade de Guarabira em 2013, apresentou resultados expressivos e explícitos,
destacando que o acesso à música, além de promover o contato dos alunos com os
instrumentos orquestrais, também viabiliza a inclusão social e incentiva o exercício da
cidadania. A medida em que é pautado por atividades em grupo – orquestra e coro – que se
diferenciam pela necessidade de colaboração e interação pública comunicativa.
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Este estudo que teve como finalidade apresentar o relato de experiência das aulas de
clarinete e a proposta do Programa de Inclusão através da Música e das Artes (PRIMA),
fundada em 2012 no Estado da Paraíba, colaborou de forma favorável e determinante, para
que as crianças e jovens das comunidades carentes pudessem ter acesso à educação musical. A
fim de promover a inclusão social, por meio da formação de orquestras e corais atendidos pela
rede pública de ensino.
Portanto, podemos concluir que o PRIMA está inserido nas propostas de ensino da
música na perspectiva da inclusão social voltada para as sociedades desfavorecidas, com
ênfase no ensino da cidadania pela música, uma vez que através da música orquestral, o apoio
pode ser exercido ao respeito mútuo e consideração ao próximo, transferindo-os também para
a esfera social do aluno.
Neste sentido, cabe destacarmos a análise do questionário realizado com os alunos
(Mozart, Weber e Brahms) quanto às possíveis desvantagens do uso do método, tivemos as
avaliações como: i) Aluno 1 – Mozart: “não vejo desvantagem nenhuma, pelo contrário, o
ensino em grupo só nos ajudou a desenvolver ainda mais; alguns especialistas no assunto que
“depois de um período, o professor deveria encaminhar as crianças para uma aula individual”
e apontou ser “interessante limitar o estudo em grupo, por um período de no máximo um ano
e meio”; ii) Aluno 2 – Weber: “não tínhamos como ter um professor de trompete, um de
trombone, um de flauta, outro para saxofone todos os dias no PRIMA... então o que fizemos?
Procuramos usar um método que atendesse às nossas necessidades e foi aí que entrou o Da
Capo”, ele diz acreditar “que não houve nenhuma perda ou desvantagem por se adotar o
ensino em grupo, mas que essa metodologia precisa ser adequada, em alguns pontos, às
necessidades de nossa região”; iii) Aluno 3 – Brahms: “de forma alguma tivemos
desvantagens, o ensino em grupo nos possibilitou ganho de tempo, maior rendimento dos
alunos e proporcionou à banda ótimos resultados” – isso nos remete a pensar no aspecto do
rendimento técnico dos alunos, proporcionado pela metodologia Da Capo que foi
extremamente positivo.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Anualmente, ao final de cada ano, o PRIMA reúne alunos com capacidade para
executar um repertório de encerramento de final de ano denominado por “grande concerto”,
por meio de audições públicas, para mostrar à população paraibana os resultados do projeto no
polo. Na imagem abaixo (figura 12), podemos ver a apresentação dos alunos em um grande
concerto, por meio do “Projeto de Inclusão através da Música e das Artes”, na qual há
integrantes de várias cidades da Paraíba.
Dentre as cidades que participam do polo podemos destacar cidades do interior como:
Catolé do Rocha, Souza, Patos, Itaporanga, Campina Grande, Cajazeiras, Guarabira e Sapé.
No meio de tantos espetáculos, vimos nascer uma esperança para tantos alunos, que
saíram de uma vida sem perspectiva alguma, à margem da discriminação e sem oportunidades,
para obtenção de muitas conquistas como aprovação em vestibulares de música, medicina e
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REFERÊNCIAS
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Alison Latham. Tradução de Eduardo Francisco Alves. Rio de Janeiro: Zahar, 1994. p.71.
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aprendizagem do saxofone. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Saxofone) –
Universidade do Sagrado Coração, Bauru, 2005.
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música no Brasil: história e metodologia. 2.ed. Teresina: Fundação Cultural Monsenhor
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CINTEDI... Campina Grande: Realize Editora, 2016. Disponível em:
<https://www.editorarealize.com.br/artigo/visualizar/23077>. Acesso em: 17/06/2020.
PARAÍBA ONLINE. Deputados aprovam projeto que institui o prima como política de
estado. Disponível em: <https://paraibaonline.com.br/2018/12/deputados-aprovam-
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SILVEIRA, Fernando José. Mãos e dedos: técnica, saúde e sucesso para o clarinetista. Revista
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