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Audiovisual Contemporâneo Brasileiro - Centro Universitário Senac Santo Amaro

Professora Patricia Araujo Vasconcelos.


Nomes: Otávio de Castro Roque, Vitor Bícego.
4º semestre, turma A.

Uma busca de identidade contemporânea

Filmes abordados: 'Terra Estrangeira' (1996), Daniela Thomas, Walter Salles; 'A cidade onde
envelheço' (2016), Marilia Rocha.

O contexto histórico durante a escrita e produção de ambos os filmes se convergem


em nível nacional, e disso, os temas destes repetem-se e se encontram na busca de uma
identidade nacional que se mistura com a busca de si mesmo e a impossibilidade de um
futuro - questões que se transformam em pessoais e ganham outros significados dentro destes
personagens e realizadores, mas que partem necessariamente desse momento político do ''país
traído''.

'Terra Estrangeira' (1996) e 'A cidade onde envelheço' (2016) foram concebidos em
momentos históricos muito próximos a dois grandes impeachments políticos no país (1992;
2016), que não só são marcos dentro de uma perspectiva política burocrática mas também
levanta um sentimento de 'povo abandonado' da nação e implica diretamente nessa perda, ou
melhor, impossibilidade de conexão com uma identidade nacional - não há espelhamento
entre um símbolo de nação e seu próprio povo assim que ele se sente traído.

“Nesse processo de invenção na e da modernidade, a nação tornou-se crucial


“tanto para o modo como um Estado se liga a seus membros, distinguindo-os dos
membros de outros Estados”, quanto para o modo como os Estados nacionais se
relacionam entre si. E, com isso, a identidade nacional acabou por existir em dois
níveis: “no sentimento do ‘eu’ do indivíduo como nacional, e na identidade do todo
coletivo em relação a outros da mesma espécie””.¹

Do macro ao micro, essas questões são espelhadas nos longas, refletindo essas crises
de identidade nacional dentro do comportamento das personagens não necessariamente com
momentos intensos de discussão política, mas no que move essas personagens. Como por
exemplo na indecisão de ficar ou partir da ambas personagens Francisca e Alex, entre
Portugal e Brasil, entre a sua terra natal e terra estrangeira - terra essa que além de estrangeira
abre outras questões em segundo plano no filme, pois é terra colonizadora.

Faz-se da ação das personagens a relação política possível entre o momento histórico
vivido entre a realização do filme, mas também a relação com a identidade de ser brasileiro
historicamente e o que isso pode significar, como por exemplo, quando se usa o símbolo da
relação país colonizado x país colonizador.
Outros momentos em que é possível entender esses símbolos contemporâneos são em
passagens divertidas feitas para esse público necessariamente que fala a mesma língua do
realizador (e assim o espelha), como em ‘A cidade onde envelheço’ o comentário de
Francisca sobre o jeito brasileiro de se relacionar, quando comenta com o amigo que no
Brasil é comum pedir um trago de cigarro na rua para estranhos, como isso é um traço
nacional e popular. Ou como ela começa a se irritar com o ‘descuido’ de azulejos nos 1
banheiros. Ou quando são percebidas pelo público as estranhezas e diferenças de uma mesma
língua quando falada em diferentes países em ambos os filmes; ‘pedir uma bola’ em PT
Portugal significa num contexto com PT Brasil ‘dar um trago’.

"Não depende do lugar, quanto mais tempo passa mais eu me sinto


estrangeira [...]. Olha aqui, eu não sou ninguém, você então menos ainda - e o outro
ninguém foi morto a 3 dias atrás." frase dita pela personagem Alex vivida por
Fernanda Torres.

Nesta citação é possível perceber que essa constante crise identitária é trazida em
pequenas doses dentro do que move esses personagens durante esses filmes e filmes do
mesmo período, que pensam a contemporaneidade em algum nível. São personagens jovens
e conscientes do agora, e justamente por isso existe essa impossibilidade de futuro, de não
alcançar a visão de um futuro, e à partir disso é comum esse movimento de ‘volta às raízes’
para se entender como indivíduo, é um forte traço observado no cinema contemporâneo que
ronda e une esses dois filmes profundamente. A procura do ‘eu’ dentro do coletivo, seja
numa nação ou num outro grupo identitário.

Texto muito bom, bem articulado e escrita envolvente. Dá pano pra manga pensar
nessa relação que vocês perceberam acerca de "filmes pré-pós impeachment" e o desejo
latente da construção dessa identidade nacional.
1
Gonçalves, Mauricio R.
Cinema e identidade nacional no Brasil
1898-1969 /

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