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RESUMO
Aqueles que são, ou foram alfabetizadores, com certeza, já se depararam com certos professores
que no primeiro mês de aula, verbalizam a respeito de alguns alunos:” não tem prontidão para
aprender”, “tem problemas familiares”, “é fraco da cabeça”,” não tem maturidade para
aprender” e tantos outros comentários. Outras vezes, culpam-se os próprios educadores, os
métodos ou o material didático. Com seus estudos, Emília Ferreiro desloca a questão para outro
campo, baseada nos estudos de Piaget, que considera o conhecimento como um processo de
organização de dados, Ferreiro tenta desvendar o processo de aprendizado infantil, mostrando que
a alfabetização da criança independe de métodos e manuais. A criança busca construir seu
conhecimento elaborando hipóteses e avançando na escrita, processo este que começa muito antes
da criança ingressar na escola. É a partir deste referencial que surge a teoria construtivista,
apresentada por Emília Ferreiro e Ana Teberosky na década de 1980 no livro “A Psicogênese da
Língua Escrita.” Entendo que ao professor cabe a necessidade de inovar sua prática, tornando-a
mais significativa para garantir a aquisição da escrita e seu uso social.
1 INTRODUÇÃO
A alfabetização é um direito assegurado a todo ser humano, deve promover a autonomia dos
sujeitos e contribuir de forma significativa para a promoção da liberdade, para uma vida autônoma,
independente e participativa nos espaços sociais em que a leitura e a escrita se fazem presentes.
O processo de aprendizagem da leitura e escrita deve ser pautado por uma pedagogia
libertadora, uma prática educativa desafiadora, real e significativa para que os educandos percebam
sua função social.
O construtivismo surge como uma teoria sobre a origem do conhecimento, que busca
caracterizar os estágios mais recentes, baseados nos estudos de Piaget.
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Este estudo pretende dialogar sobre o papel do professor alfabetizador e tecer uma reflexão
acerca da psicogênese da língua escrita, evidenciando as possibilidades de intervenção para cada
nível.
Para tanto, faz-se uso ao longo do trabalho das pesquisas e discussões tecidas por Ferreiro e
Teberosky (2001), que trouxeram grande contribuição sobre o processo de construção da escrita
pautado nas práticas sociais.
Emília Ferreiro, psicóloga e pesquisadora Argentina, radicada no México, fez seu doutorado
na Universidade de Genebra, sob a orientação de Jean Piaget.
Na Universidade de Buenos Aires, a partir de 1974, como docente, iniciou seus trabalhos
experimentais, que deram origem aos pressupostos teóricos sobre a psicogênese do sistema de
escrita, campo não estudado por seu mestre, que veio a tornar-se um marco na transformação do
conceito de aprendizagem da escrita, pela criança.
Emília Ferreiro não criou um método de alfabetização, como muitas escolas apregoam, e
sim, procurou observar como se realiza a construção da linguagem escrita pela criança.
De acordo com Soares (2004, p.12) “os resultados de suas pesquisas permitem, que
conhecendo a maneira com que a criança concebe o processo de escrita, as teorias pedagógicas e
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metodológicas, nos apontem caminhos, a fim de que erros frequentes possam ser evitados pelos
educadores”.
A partir da década de 80, o conceito de alfabetização foi ampliado, havendo uma discussão e
divulgação de uma nova perspectiva de educação com base nos estudos sobre a psicogênese da
língua escrita de Emília Ferreiro e Ana Teberosky a qual teve importância fundamental, pois
rompeu com os pressupostos do método Tradicional (SOARES, 2004, p.31).
Neste processo de aquisição da escrita, o sujeito precisa ter acesso constante com um rico
repertório textual, com materiais diversos de leitura, com situações práticas de escrita para que a
aprendizagem se efetive de fato através do processo interativo, pois” [...] além dos métodos, dos
manuais, dos recursos didáticos, existe um sujeito buscando a aquisição do conhecimento; sujeito
este que se propõe problemas e trata de juntá-los, seguindo sua própria metodologia ( FERREIRO;
TEBEROSKY, 2001,p.5).
Com base nestes pressupostos, Ferreiro (2003), critica a alfabetização tradicional, porque
julga a prontidão das crianças para o aprendizado da escrita por meio de percepção e motricidade.
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Segundo Ferreiro (2010, p.47) “é por não levar em conta o ponto mais importante da
alfabetização que os métodos tradicionais insistem em introduzir os alunos à leitura com palavras
aparentemente simples e sonoras como (babá, bebê); mas que, do ponto de vista de assimilação não
se ligam a nada”.
Ferreiro recusa o uso de cartilhas na alfabetização, para ela, a compreensão da função social
da escrita deve ser estimulada com o uso de textos da atualidade, livros, jornais e revistas, pois as
cartilhas oferecem um universo artificial, em desacordo com a realidade.
A estudiosa acredita que não são os métodos que promovem as aprendizagens significativas.
Para a autora a aprendizagem é resultado da atividade do próprio sujeito.
De acordo com Ferreiro (2010, p.73) “todas as metodologias foram pensadas em função do
código e não em função da língua escrita”.
No início da escrita, a criança acredita que desenhar é uma forma de escrever, ainda não
compreende que a escrita é a representação da fala, do som das palavras.
Logo a criança saberá que existem diferenças gráficas entre desenho, letras e números,
percebendo que para escrever é necessário usar signos que não são desenhos, nem números.
Para Ferreiro (2009, p.12) “as dificuldades que as crianças enfrentam são dificuldades
conceituais semelhantes às da construção do sistema e por isso pode-se dizer, em ambos os casos,
que a criança reinventa esses sistemas”.
Quando começa a se dar conta das características formais da escrita, a criança começa a
construir algumas hipóteses para orientá-la durante o processo de alfabetização.
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Ferreiro (2001), através de pesquisas em conjunto com Teberosky (2001), pode identificar os
vários estágios de evolução pelos quais à criança vai construindo o processo de escrita, estágios
caracterizados em: pré-silábico, silábico, silábico-alfabético e alfabético.
Neste período a criança não possui noção de que a escrita representa a fala, mais tarde, ao
aproximar-se das letras convencionais, constrói hipóteses de que, para algo ser lido, não basta estar
escrito, deve haver uma quantidade mínima de letras para compor uma palavra; chegando a
conclusão de que para escrever nomes diferentes as letras e escritas não podem ser iguais.
Ferreiro (2001, p.95) diz que: ”no período pré-silábico, há sim uma relação com a
linguagem, apesar de muitos afirmarem o contrário”.
A criança neste nível passa a compreender que cada letra representa uma sílaba,
apresentando uma consciência maior da escrita enquanto representação da fala. Começa a supor que
a sílaba é a menor unidade da língua e, por isso, utiliza um reduzido número de letras para sua
escrita.
Com relação a este período Ferreiro (2001, p.95) diz: “descrevi em tudo quanto foi lado,
como um período de transição, como um fenômeno misto, como algo destinado a ser superado,
precisamente por esta oscilação entre um e outro tipo de regularidade”.
Contudo, parece à psicolinguista que a tese escrita por Graciela Quinteros, onde sugere que o
período silábico-alfabético tem sua própria especificidade deve ser pensada.
A escrita alfabética só é conquistada quando a criança tem acesso aos princípios do sistema
alfabético, pois já compreendem que a sílaba não pode ser considerada como unidade mínima da
palavra por existirem letras as quais combinadas representam os sons da fala.
“Nesta fase a criança já franqueou a “barreira do código”, compreendeu que cada um dos
caracteres da escrita corresponde a valores sonoros menores que a sílaba e realiza sistematicamente
uma análise sonora dos fonemas das palavras que vai escrever” (FERREIRO; TEBEROSKY, 2001,
p. 219).
Estar no nível da escrita alfabética, não implica saber escrever de forma convencional,
obedecendo às regras ortográficas, haverá o conflito, pois se inicia uma correspondência entre os
signos gráficos e orais para apropriação da escrita correta por meio da construção de hipóteses cada
vez mais complexas.
5 PRÁTICAS ALFABETIZADORAS
Alguns professores utilizam uma prática pedagógica que diverge da proposta aqui abordada,
pois se preocupam com a transmissão e não com a produção do conhecimento.
Esta postura segundo Freire (2003, p.66), “reflete uma educação bancária dificultando o
pensamento reflexivo do aluno, pois, [...] a única margem de ação que se oferece aos educandos é a
de receberem os depósitos, guardá-los e arquivá-los”.
‘Infelizmente, a maioria dos professores tem uma visão empobrecida da criança que aprende,
reduzindo-a a um par de olhos e ouvidos e uma mão com um lápis para copiar e é só, esquecendo-se
que ela também pensa e traz consigo algum aprendizado e é alguém que constrói e age sobre a
realidade do que foi construído” (FERREIRO, 2010, p.80).
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do estudo realizado, foi possível concluir que é necessária uma prática pedagógica
mais consistente por parte dos professores para que as crianças possam vencer cada desafio e
ultrapassar as hipóteses da construção da escrita, com maior rapidez e autonomia.
Não poderemos enxergar nada, se pensarmos que a criança só aprende através do ensino
formal, precisamos considerar que ela é um ser que tem capacidade de pensar e aprender sem
necessitar de permissão.
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A partir do momento que nós professores, aceitarmos que nossos alunos não são uma tábua
rasa, onde as palavras são inscritas conforme dita algum método, aceitaremos que os métodos são
apenas sugestões de trabalho, eles não são conhecimento e nem podem criá-los.
Não são os métodos, nem novas formas de tentar mudar a alfabetização, que irão melhorar o
ensino inicial da criança, mas uma reflexão de como estamos ensinando.
O grande desafio no processo alfabetizador é contemplar as múltiplas formas de linguagem e
traduzir efetivamente as aprendizagens necessárias aos educandos para que se tornem sujeitos ativos
de sua própria aprendizagem, capazes de atuar numa nova sociedade.
7 REFERÊNCIAS
FERREIRO, Emília. Reflexões Sobre Alfabetização. 25ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2003.
FERREIRO, E.; TEBEROSKY, A. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artes Médicas,
2001.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia - saberes necessários à prática educativa. São Paulo:
Paz e Terra, 2003.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
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