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Instituto Federal de São Paulo/Campus São Paulo

Nome: Mismam do Carmo Santos.


Curso: Geografia – Licenciatura.
Turno: Segundo Semestre – Noturno.
Disciplina: Leitura e Produção de Texto 2
Professor: José Guilherme de Almeida
O trabalho do Geógrafo no terceiro mundo: “a cidade” ou “as cidades”? (pp.77-90).
Décimo capítulo.
SANTOS, Milton. O trabalho do Geógrafo no terceiro mundo. 4ª ed. São Paulo: EDUSP, 1996.
“Assim é que os estudos empíricos locais, regionais e mesmo nacionais comportam
definições de categoriass urbanas que a leitura de tais estudos torna explícitas; contudo,
esses textos de caráter geral tratam quase sempre, sob diferentes pontos de vista, da “cidade"
em países s u b d e se n v o l v i d o s , c h e g a n d o a c o n c l u s õ e s f r e q u e n t e m e n t e
a p r e s e n t a d a s na forma de princípios gerais”. (p.77)
“A palavra “cidade” é amiúde empregada para significar realidades assaz diferentes: mesmo
os qualitativos mais ou menos abandonados que acompanham essa expressão são também
excessivamente numerosos para que possamos reconhecer sob um mesmo vocábulo as
mesmas realidades”. (p. 77-78)
“Consagraremos a primeira parte de nossos esforços ao reconhecimento de situações
urbanas fundadas sobre suas características sociológicas”. (p.78)
“Na segunda parte, e mesmo que outras características demográficas estejam presentes,
deter-nos-emos nas características econômicas”. (p.78)

DADOS SOCIOLÓGICOS E EVOLUÇÃO URBANA


“No que respeita às variáveis sociológicas da evolução urbana, parece que podemos distinguir
pelo menos quatro situações diferentes nos países subdesenvolvidos”. (p.78)
“A primeira delas é a das civilizações urbanas relativamente antigas, compreendendo uma
população rural formada de elementos abertos às condições da vida contemporânea e quase
sempre composta de elementos alógenos”. (p.78)
“É o caso de uma parte da América Latina, notadamente o Brasil, como também do Magreb”.
(p.78)
“A segunda situação é a de uma civilização urbana, onde a população rural amalgamada é em
grande parte formada de elementos indígenas mal assimilados”. (p.79)
“Sua rejeição pelo grupo é às vezes econômica e cultural, e essa marginalização é que torna
tão difícil a integração de elementos indígenas na economia. A urbanização, desse modo, é
feita segundo uma separação que lembra a dicotomia cidade-campo”. (p.79)
“É o que ocorre nos países da América Latina com forte proporção de índios incompletamente
ou de todo não assimilados”. (p.79)
“ O terceiro tipo seria o de uma urbanização moderna, que cria uma dicotomia no próprio
interior da cidade, é o caso, sobretudo, da África Negra”. (p.79)
“ É certo que os nacionalismos emergentes levam à formação de quadros e elites. Há uma
rápida tomada de consciência nacional. A distorção na escolha das carreiras é corrigida graças
aos incitamentos próprios ao progresso econômico. A nacionalização dos quadros é a regra
geral”. (p.79)
“ O processo respectivo é desde o princípio sobremodo violento. Assim, as elites nacionais
não chegam, geralmente, a possuir o comando da vida econômica, embora detenham os
postos de direção política”. (p.79)
“Um quarto tipo seria constituído de populações completas ou quase completamente
imigradas, cuja chegada aos países novos coincide com as possibilidades de desenvolvimento
do país acolhedor. Essas populações, pelo seu nível técnico, permitem realizar um processo
de crescimento ainda mais rápido”. (p.79)
“É o caso da América Latina “branca”. Todavia, para o Chile e o Sul do Brasil há algumas
nuanças a observar”. (p.80)
“Poderíamos porventura incluir nesse esquema um quinto tipo: o dos casos asiáticos. Sabe-se
que entre as antigas civilizações rurais do Oriente o fenômeno urbano não tinha maior
importância”. (p.80)
“Na Ásia, a população europeia sempre foi de fraca expressão numérica. Porém, como esse
continente se tornou um campo de batalha para a economia mundial, não devemos
negligenciar, de um lado, o legado americano (por exemplo, no domínio da educação) e, de
outro, o legado do regime socialista”. (p.80)
“ No primeiro caso, não há limite de cor nem raça, nem de dinheiro, nem mesmo de cultura
(no sentido absoluto dos termos), entre cidade e campo. A clivagem é feita em função de
condições econômicas e sociais tanto na cidade como no meio rural”. (p.80)
“ No segundo caso, o limite de cor tende a diluir na medida em que os nacionais, africanos e
outros, apoderam dos postos-chave ao mesmo tempo que outros vivem em condições
semelhantes às do campo. O choque entre os “brancos” e os indígenas opera-se segundo
diferentes formas e direções. No entanto, pode haver choques entre etnias”. (p.80)
“Na terceira hipótese, a aliança entre, de um lado, os antigos habitantes urbanos nacionais,
qualquer que seja a sua raça e condição social, e, de outro o estrangeiro, permite àqueles a
posse da cidade”. (p.80)
“Cria-se, assim, toda uma ideologia de desprezo pelo “indígena”, mesmo quando os textos
escritos afirmam outra coisa”. (p.81)
“Na quarta hipótese, tudo tende a passar-se como na primeira hipótese, dado o grau de
desenvolvimento já alcançado pelo país, máxime quando os imigrantes se instalam em
regiões relativamente vazias”. (p.81)
“Na quinta hipótese, o movimento de urbanização de tipo moderno vem abater-se sobre
cidades muito antigas, embora muito menos povoadas”. (p.81)

DADOS ECONÔMICOS E EVOLUÇÃO URBANA


“Ainda aqui, trata-se de encontrar, em primeiro lugar, os princípios de uma classificação –
para não falar de uma hierarquização – suscetível de reunir as aglomerações urbanas de
regiões subdesenvolvidas num esquema relativamente simples”. (p.81)

O NÚMERO NÃO BASTA


“O critério dos efetivos demográficos, do número da população, vem sendo questionado com
frequência. É com ele, na falta de outro instrumento universal, que se procura medir e
comparar os diferentes graus de urbanização”. (p.82)
“Por outro lado, essa definição estatística não é somente de utilização duvidosa no que
concerne ao espaço, quer dizer, num mesmo momento: num país tomado em sua totalidade,
as diferenças são por demais flagrantes, provenientes que são de condições históricas e
econômicas; numa região, constituem elas a própria base das diferenciações que estão na
origem da organização urbana”. (p.82)
“A noção de cidade varia conforme o período técnico e os modelos consumo adotados. Tal
variação é tanto maior quanto as transformações são mais rápidas”. (p.82)

O CRITÉRIO FUNCIONAL É IGUALMENTE INSUFICIENTE


“O critério das funções urbanas também nos parece insuficiente”. (p.82)
“Sem contar que uma mesma “função” pode assumir significações diferentes na medida em
que representa situações diferentes; por exemplo, o tipo de relações que tal ou tal função
representa face ao exterior da região considerada pode ser uma fonte de graves erros, se se
comparam simplesmente os dados qualitativos referentes a uma outra cidade”. (p.82-83)
“A nosso ver, em cada etapa de desenvolvimento urbano a população urbana se compõe
segundo uma certa equação socioprofissional, a qual, de um lado, representa as relações da
cidade com seu espaço regional e, de outro, é dotada de certa autonomia no que respeita ao
seu comportamento”. (p.83)

A ANÁLISE DEMOGRÁFICA COMO CRITÉRIO


“A análise de alguns estudos urbanos nos países subdesenvolvidos, a utilização de estatísticas
disponíveis e nossos próprios trabalhos sobre a questão levaram-nos a acreditar que, se
considerássemos os organismos urbanos atuais ou a evolução de uma mesma aglomeração,
conseguiríamos revelar fases aparentemente bem delimitadas, onde os dados relativos à
composição socioprofissional da população, seu comportamento alimentar, as condições da
atividade industrial e as influências da cidade sobre seus arredores agrícolas parecem
combinar-se de maneira relativamente clara”. (p.83)

A COMPOSIÇÃO DA POPULAÇÃO
“Os fatores atinentes à composição socioprofissional da população urbana seriam os
seguintes: 1. Sex-ratio; 2. Taxa de natalidade e de mortalidade; 3.setores e subsetores
dominantes e suas características; 4.coeficiente de atividade e tipos de atividade;
5.porcentagem de salários permanentes; 6.massa de salário urbano; 7.causas de migrações
(essencialmente centripismo urbano ou repulsão rural), sex–ratio e qualificação de migrantes,
grau de evolução da região de origem, e 8.nível de retenção de migrantes pela cidade”. (p.84)

O COMPORTAMENTO ALIMENTAR
“No que concerne ao comportamento alimentar da população, precisaríamos examinar os
seguintes temas: 1.grau de permanência na cidade de alimentação rural tradicional,
diferenciação absoluta ou relativa do regime alimentar urbano em relação ao do campo;
2.taxa de diferenciação ou de não-diferenciação dos cardápios no decorrer do ano; 3.preço
dos alimentos em função do tamanho das aglomerações e sua variação anual; 4.número de
alimentos participantes dos cardápios habituais da população; 5.tipos de características do
comércio alimentar urbano, e 6.influência da cidade sobre a produção de alimentos no
interior do país”. (p.84)

A ATIVIDADE INDUSTRIAL
“Esta parte da análise sugere pelo menos o estudo dos seguintes pontos: 1.porcentagem da
população ativa empregada na indústria;2.porcentagem da atividade permanente no interior
dos ativos da indústria;3.passagem dos dados 1 e 2 segundo os ramos de fabricação; 4.nível
de produtividade; 5.taxa de absorção, pela região, da produção industrial urbana, e 6.relações
entre atividade de fabricação e atividade agrícola”. (p.84)

A PRODUÇÃO ALIMENTAR REGIONAL


“Neste domínio, aparentemente mais bem explorado que os demais, há necessidade, entre
outras preocupações, de estabelecer”:
“1.Os tipos de atividade agrícola regional.
2.O nível técnico da agricultura.
3.Os níveis de renda da população rural.
4.A organização da circulação”. (p.85)

UM ESFORÇO DE CLASSIFICAÇÃO
“Sugerimos, pois, uma classificação de quatro aglomerações: cidades embrionárias, cidades
regionais, metrópoles incompletas e metrópoles completas de países subdesenvolvidos”.
(p.85)
“O primeiro item compreenderia as cidades criadas quando da instalação europeia na África
após o período industrial ou as cidades nascidas a partir do nada na América Latina”. (p.85)
“Esse tipo de cidade corresponde geralmente a uma situação de transição extremamente
rápida”. (p.86)
“Nessas cidades embrionárias, a população masculina é muito numerosa, a mortalidade é
elevada e a natalidade, baixa: cada um dos setores seguintes (secundário, comercial ou de
construção) domina os demais conforme os casos; a taxa de população não-ativa é muito
reduzida; esse tipo de cidade atrai a população exógena, constituída em sua maioria por
pessoas desarraigadas do campo e que integram um setor relativamente pequeno de quadros
importados – este último setor é muito importante nas cidades criadas, principalmente em
funções administrativas; a alimentação excessivamente cara e variada parece-se bastante
com a do campo, ou , nalguns casos, baseia-se em alimentos na maioria importados, do que
resulta uma variação de preços mínima no decorrer do ano; há, por fim, no interior da cidade,
agricultores que cultivam suas próprias terras ou, a redor dela, a modernização do comércio
está ligada ao número de pessoas que dispõem de trabalho permanente e bem remunerado,
o que, em alguns países, acontece também em relação ao número de estrangeiros”. (p.86)
“Sob o ângulo da distribuição da produção industrial, a situação embrionária é representada
por fabricações muito elementares distribuídas nos principais centros urbanos”. (p.86)
“A segunda situação abrangeria as cidades já possuidoras de uma função de relação,
desempenhando um papel regional cuja importância varia de uma civilização para outra, de
um continente para outro”, (p.86)
“Neste estágio, a migração começa a fazer-se por repulsão do campo, geralmente ainda
pobre, o qual começa a sentir as primeiras repercussões da presença urbana; mas enquanto
na África, onde os domésticos são homens, o maior número de emigrados é do sexo
masculino, na América Latina essa maioria pertence ao sexo feminino; o comércio e os
serviços, herdeiros da função administrativa, industrial ou agrícola, assumem lugar
predominante e motriz; a taxa de pessoas não-ativas tende, então, a aumentar; parte dos
alimentos é importado: a variação de diversos elementos participantes da nutrição, bem
como seu preço, é muito grande durante o ano; o comércio dos alimentos, muitos dos quais
são originários da própria região, realiza-se em pequena escala, em que predomina o
comércio tradicional; a cidade, que se dedica principalmente à tarefa de animar a produção
exportável, não dispõe de muita força para influenciar a produção alimentícia regional, que
por vezes declina, abrindo caminho aos alimentos importados, fabricados ou não, destinados
a princípio assegurar o período de entressafra, e que logo entram no circuito normal”. (p.86-
87)
“Pode-se falar de um estágio inferior de industrialização, que compreende essencialmente:
1.as indústrias de transformação de matérias-primas regionais destinadas à exportação;2.as
indústrias ligadas ao consumo corrente da cidade e da região (alimentícia, têxtil, etc,), e 3.as
indústrias de material de construção”. (p.87)
“O terceiro item compreenderia as cidades que ultrapassaram o papel regional, englobando
em sua zona de influência outras cidades regionais, mas não podendo fornecer-lhes os bens e
serviços de que necessitam”. (p.87)
“Nessas cidades, a tendência a consumir alimentos importados aumenta em relação ao
número e à quantidade de alimentos fabricados. Isso corresponde aos resultados do
agravamento dos problemas regionais da agricultura de subsistência. Esta, porém, começa a
reagir graças aos efeitos mais numerosos da população urbana. A demanda é ao mesmo
tempo maior e mais constante do que antes, o que obriga os comerciantes a completar sua
demanda nas zonas de produção com a consequente elevação de preços. Mas o aumento dos
preços na cidade é, até certo ponto, freado pela expansão do comércio moderno, que age
como concorrente do comércio tradicional, visto que os supermercados, geralmente ligados a
uma cadeia comercial ou industrial poderosa, jogam com as vantagens de um estoque de
alimentos industrializados, menos facilmente perecíveis. A reação do comércio tradicional é,
então, representada pela sua dependência, em função dos grandes depósitos constituídos na
cidade. Desta forma, no número de alimentos distribuídos por tal comércio tende a reduzir-
se, porquanto prefere-se, sobretudo, comercializar-se os produtos alimentícios menos
facilmente perecíveis”. (p.88)
“O número de imigrantes, procedentes, sobretudo das regiões pobres, tende a aumentar”.
(p.88)
“Assim, os índices de atividade diminuem, podendo a cidade maior reter mais gente: nas
cidades regionais, onde a sociedade é mais coerente, as condições locais têm força para
expulsar numerosos representantes desse setor primitivo, tão abundante nas metrópoles
incompletas. A natalidade nas metrópoles incompletas tende, pois, a aumentar ainda mais,
enquanto a mortalidade diminui. O sex-ratio tende a aproximar-se de 100”. (p.88-89)
“Do ponto de vista da industrialização, pode-se falar de um estágio intermediário que
corresponde ao desenvolvimento quantitativo e qualitativo e à diversificação das indústrias
precedentes, assim como ao surgimento de um novo setor, o das indústrias dos bens de
consumo duráveis, das indústrias mecânicas e metalúrgicas, das fabricações químicas leves”.
(p.89)
“A quarta situação corresponde as “metrópoles completas”, aquelas que desempenham um
papel nacional e internacional. São, em geral, as grandes cidades dotadas de uma indústria
poderosa e diversificada, suficiente para fornecer a todo o país os produtos fabricados
indispensáveis à vida moderna”. (p.89)
“Os representantes do sexo masculino e feminino geralmente equilibram-se. A natalidade
tende a decrescer, como também a mortalidade. A função industrial ganha maior
importância, do mesmo modo que os serviços, enquanto a taxa de pessoas não-ativas
diminui. A cidade atrai a população, graças ao número de novos empregos que oferece,
porém ao receber os imigrantes das zonas rurais pobres, já não dispõe de tantos empregos
para as pessoas analfabetas e sem qualificação, motivo pelo qual se o número dos que
chegam é grande, também o é o das saídas”. (p.89-90)
“A alimentação compõe-se em grande parte de alimentos preparados na própria cidade,
réplica, conquanto de natureza diferente, do que se passa nas cidades do primeiro tipo. Os
progressos na disponibilidade e nos métodos de armazenamento, bem como o nível de vida
mais elevado, permitindo a aquisição de refrigeradores, contribuem para que esses alimentos
se tornem de novo bastante variados. A cidade fabrica grandes quantidades de produtos
alimentícios”. (p.90)
“O comércio amplia-se. Os preços dos alimentos tendem a baixar, sendo já inferiores aos do
estágio urbano precedente. A cidade, pelo volume de sua população e nível de renda,
influencia de maneira decisiva as regiões rurais, que se põem a produzir segundos técnicas
muito avançadas e mesmo comparáveis ou semelhantes às dos países industriais”. (p.90)
“Desse modo, atinge-se o estágio superior de industrialização, caracterizado pela fabricação
de bens de produção”. (p.90)
“Essa classificação pretende servir tanto para a explicação da evolução de uma mesma cidade
como para a comparação de cidades diferentes num mesmo momento”. (p.90)
“O que mais importa, no atual estágio da pesquisa geográfica, é o encontro de um modelo
maleável e operacional”. (p.90)

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