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“No princípio Deus criou os céus e a terra” (Gênesis 1:1). Esta é a afirmação
que encontramos no primeiro versículo da Bíblia. De forma introdutória,
utilizamos esta mesma afirmação no estudo da Teontologia ou de Deus —
na disciplina de Teologia Sistemática I. Também recorremos a ela, agora,
para falar da criação, uma vez que esta primeira afirmação estabelece
um pressuposto teológico para toda a revelação que segue, conforme
apresentada nas Escrituras. Importa, assim, refletir sobre a profundidade
desta máxima, observando os detalhes e efeitos que ela nos traz.
Saiba mais
Para melhor entendimento da questão literária dos textos do Antigo
Testamento, sobre autoria, datação e tradições, sugiro a consulta
às referências bibliográficas indicadas nesta unidade ou a fontes
semelhantes.
Tratando especificamente das expressões utilizadas para
identificar a Deus nos relatos de Gênesis, vale a pena atentar para
o problema introduzido pela tradução da língua original para o
português. Algumas versões da Bíblia traduzem a palavra Iahweh
como “SENHOR”, com letras maiúsculas, enquanto a palavra
adonai, que em hebraico se refere a uma forma de tratamento de
alguém em posição de domínio, é traduzida como “Senhor”, com
letras minúsculas. Isto causa uma natural confusão ou, no mínimo,
a perda da informação sobre a carga teológica que a tradição do
monoteísmo javista traz para o entendimento dos textos. Algo
semelhante ocorre com a tradução de elohim que tanto pode
designar o Deus do povo de Israel quanto qualquer outro deus.
Como visto, as duas palavras querem expressar uma ideia única, de alguma
coisa que se parece com outra. Da mesma maneira como uma escultura
se assemelha, pela imagem transferida ao material utilizado na sua
confecção, àquilo que quer representar, o ser humano é dito como alguém
parecido com Deus. Seguindo o raciocínio já iniciado anteriormente,
considerando que a dupla expressão é utilizada como parte da criação
geral, parece haver uma intenção do autor em afirmar a particularidade do
Esse relato, mais antigo que o primeiro, apresenta uma direta relação
entre o termo adam e adamah. Ambos possuem a mesma raiz hebraica
e Leonard Coppes sugere que “embora a etimologia de ’ādām não possa
ser explicada com certeza [...] a palavra está provavelmente relacionada
com a cor avermelhada da pele humana” (1998, p. 13). Daí a associação
com a terra (adamah) da qual o ser humano é dito ser moldado. Como
indica Coppes, “originalmente, a palavra tinha o sentido de solo vermelho
arável” (1998, p. 14). Para o autor,
Saiba mais
A ênfase sobre a ideia do ser humano como um ser social é uma
máxima que vale para todos, independente do gênero, mesmo o
relato do Gênesis tendo sido construído a partir do sexo masculino.
Ela é reafirmada pelas ciências humanas, desde Aristóteles, que
dizia que o ser humano era um animal político, ou seja, entendido
essencialmente em sociedade.
O mesmo vale para as teorias da psicologia que avaliam a formação
da personalidade desde as primeiras relações estabelecidas com
a mãe, pai, família estendida, escola e tantos outros ambientes de
convivência:
Exercício de aplicação - 02
Tendo em vista os conceitos apresentados de Imagem e Semelhança
de Deus, como podemos tornar estes conceitos eficazes em nossa
vida cotidiana:
a) Ao saber que possuo um espírito, assim como Deus, sei também que
nada nem ninguém pode ir contra o meu espírito, por isso, tudo na minha
vida será como eu quero que seja;
b) Ser imagem e semelhança de Deus, me torna exatamente como Deus,
por isso tenho poder e controle sobre todas as situações ao meu redor.
c) Sendo imagem e semelhança de Deus tenho permissão e dever de dominar
sobre toda a criação, escolhendo qual será o futuro da criação, inclusive de
outros seres humanos que estão sob meu domínio.
d) Sendo imagem e semelhança de Deus, me pareço com ele na minha
liberdade de decidir e agir, assim, tenho capacidade para escolher cumprir
os planos de Deus e me manter em um relacionamento sadio com ele,
comigo mesmo, com os outros e com o restante da criação.
e) A imagem e semelhança de Deus me dá acesso ao mundo espiritual,
permitindo que tenha acesso a ele em oração, experimente as coisas
celestiais e lute contra as potestades demoníacas.
Exercício de reflexão - 03
Certamente você já leu este relato de Gênesis 2, porém, pode ser
que não tenha atentado para o tipo de interpretação que está sendo
proposto aqui. Por isso, releia o relato de Gênesis 2, na versão
bíblica de sua preferência, e escreva em 3 ou 4 linhas, a partir dos
estudos feitos até aqui, suas percepções sobre a criação humana.
Wolff também esclarece o conceito por trás da palavra nephesh ()נ ֶפשׁ, ֶ֫
indicando que seu uso no texto de Gênesis 2:7 “certamente, não significa
“alma’. N. deve ser vista aqui em conjunto com a figura total do ser
humano e especialmente com sua respiração; por isso, o ser humano
não tem n., mas é n., vive como n.” (2007, p. 34) — “n.” nesta citação
é a abreviação de nephesh. O autor define a ideia de grega de psyche
de maneira diferente de nephesh, que também é traduzida por alma
em português. Para o grego a alma (psyche) aponta para o “lugar” dos
sentimentos e estados de ânimo na interioridade humana. Já a nephesh
é entendida como algo referente ao ser humano como um animal
biológico. Aliás, os animais também são chamados de “seres viventes”
(nephesh chayah) (Gn 2:19), no entanto, a teologia evangélica não atribui
a eles uma alma — entendida mais como o conceito grego de psyche —
como o faz com o ser humano. Aprofundando sua análise e recordando
as duas características da literatura hebraica destacadas anteriormente
— paralelismo sinonímico e pensamento sintético —, Wolff explica que
Resumindo, nephesh, na maioria das vezes, indica o ser humano como um todo,
naquilo que representa os seus anseios, desejos, buscas, anelos, aspirações
ou cobiças vitais. Ela se refere àquilo que está no interior, no “lugar” profundo
do ser humano, comparando esta sensação à da fome, sede e respiração
que estão no limiar da existência e que precisam ser satisfeitas; tudo isto
desde uma perspectiva mais animal e intuitiva, sem o controle consciente da
razão. Sendo assim, a nephesh não é uma coisa que se tem; não é uma parte
humana localizável ou possível de ser separada de sua existência total. Ela
funciona como uma referência a um aspecto da constituição humana assim
como outros termos se referirão a outras características.
Com esta explicação de Wolff fica difícil entender a ideia do espírito como
algo que constitua uma “parte” do ser humano, como algo que lhe seja
pessoal e confira autonomia própria ou possibilidade de identificação de
forma separada de seu ser como um todo. Também não conseguimos
identificá-lo como responsável pela personalidade, consciência, mente
ou outra dimensão daquilo que pretende descrever a complexidade da
existência humana.
Exercício de fixação - 04
Qual das opções abaixo representa a melhor interpretação do
termo hebraico nephesh aplicado à constituição humana?
a) A vida como um todo, com atenção para os desejos humanos
mais básicos;
b) O âmbito do ser humano onde se reconhece a personalidade;
c) A área da vida que se relaciona com as outras pessoas;
d) A área da vida que se relaciona com Deus pela expressão dos
sentimentos;
e) O âmbito do ser humano referente às coisas espirituais.
Saiba mais
A Septuaginta
Muito antes de escreverem seus textos, os autores do Novo
Testamento já possuíam a referência da Septuaginta. São os textos
da Septuaginta que aparecem sendo citados pelos autores do Novo
Testamento em seus livros quando se referenciam às Escrituras,
portanto, era natural que usassem os termos gregos adotados
naquela versão que traduziam os termos hebraicos originais.
Exercício de aplicação - 05
Ao olharmos para a constituição do ser humano, a partir da
antropologia bíblica, é correto afirmarmos que:
a) É possível perceber o corpo, assim como o sopro do espírito, que vivifica
a minha alma. Por isso, assim como Deus, me percebo trino.
b) Como não consigo perceber a minha alma, considero que o corpo físico
é o elemento mais importante na minha existência.
c) Percebo facilmente meu corpo físico, mas é bastante difícil distinguir
a alma e o espírito. Assim, aquilo que didaticamente conhecemos como
corpo, alma e espírito me parecem perspectivas do meu ser, que é uma
unidade indivisível.
d) Percebo claramente o meu espírito e consigo facilmente diferenciá-lo
da minha alma e corpo físico, a carne. Sabendo que o sopro de Deus é
o responsável por me dar o espírito, ele acaba se tornando a parte mais
importante.
e) A minha alma são os meus sentimentos e raciocínio. O meu espírito
é como percebo a minha comunicação com Deus, sem que precise usar
o raciocínio. Tudo isto acontece na minha carne, por isto, me percebo
composto como três partes distintas e separáveis.
Nessa lista incluí o termo nous, traduzido como mente, que embora não
tenhamos abordado anteriormente, possui grande proximidade com
o conceito de leb no hebraico. Outro termo mencionado foi melos que
significa um membro ou uma parte do corpo físico, muito próximo da
palavra sarx. Interessante é percebermos o uso das expressões corpo
natural e corpo espiritual, que foge da tendência de se considerar o corpo
como algo apenas físico, especialmente quando interpretamos o texto
de 1 Tessalonicenses 5:23. O que parece concluir-se dessa pequena
lista é que o texto que acabou sendo utilizado como fundamento para a
tricotomia não se repete em nenhum outro ensino de Paulo e, portanto,
acaba ficando como algo isolado em sua antropologia. Arrisco dizer que
a perspectiva paulina concorda com a do Antigo Testamento, mas utiliza
diversas caracterizações de funções ou percepções do ser humano para
poder transmitir sua mensagem. Por isso, Schweizer afirma:
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Os termos antropológicos de Paulo não são consistentes
ou originais. O Espírito Santo afeta o homem todo e não
pode ser explicado psicologicamente. Isso permite que
Paulo adote idéias populares quase que livremente. A
tese de que não há um πνεῡμα antroplógico em Paulo
dificilmente pode ser sustentada. Junto com σωμα
e σάρξ, πνεῡμα é usado quase exclusivamente para
as funções físicas do homem, 1Co 7:34; 2Co 7:1; Cl
2:5(?). Pode ser um paralelismo com ψυχή, (Fl 1:17) ou
paralelismo com σάρξ, pode denotar o homem como
um todo, com uma ênfase mais forte em sua natureza
psíquica do que física, 2Co 2:13; 7:5; cf. 7:13; 1Co 6:18,
tudo com pronomes pessoais (1968:434-435).
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Hagnos, 2007.
Nosso estudo não ficará restrito a esses relatos; eles apenas introduzem
a ideia inicial sobre o mandato cultural humano. O objetivo aqui será
investigar tudo o que envolve este conceito e suas consequências para a
promoção da vida humana em seu habitat.
O que isso significa é que o autor ou editor do texto de Gênesis fez uma
associação imediata em sua narrativa juntando a criação e a queda por
meio de um tipo de conjunção hebraica. No texto, a criação inclui a queda
com a mudança da perspectiva. Criação e queda aparecem, então, integradas
uma a outra. Uma demonstração ainda mais clara de que a queda faz parte
de um mesmo conjunto de ideias é a preparação feita no texto anterior em
função das árvores que simbolizam “a vida” e o “conhecimento do bem e do
mal” (Gn 2:9). Estas árvores funcionam como uma referência para o relato
da queda. Primeiro vemos o papel da árvore que aponta para a questão do
desejo humano pelo conhecimento divino, que leva ao que entendemos
como desobediência e pecado original (Gn 3:6). Depois, como consequência
do pecado vemos o ser humano sendo impedido de ter acesso à árvore que
representa a perpetuação da vida (Gn 3:24).
Saiba mais
A simbologia da serpente no Antigo Testamento
É interessante notar que nenhum texto do Antigo Testamento faz
a associação entre a serpente e o diabo. Pelo contrário, vemos
em alguns textos até mesmo uma conotação positiva em relação
à serpente, como representação simbólica. Por exemplo, o texto
de Números 21:4-9 fala de uma serpente de bronze que salva —
este mesmo texto é revisitado em João 3:14. É apenas no livro
de Apocalipse que aprece uma indicação, não totalmente clara,
que identifica o dragão, ou a antiga serpente, sem mencionar a
narrativa do Gênesis, com a figura do diabo. Por outro lado, o papel
da serpente é visto como representante daquilo que denominamos
tentação e, neste sentido, o Novo Testamento faz a associação
teológica com Satanás, que assume o papel de tentador.
Ora, o que Bonhoeffer sugere é que a queda surge da tensão interna que
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existe no ser humano como um ser criado à imagem e semelhança de
Deus, mas em uma condição de liberdade limitada. A liberdade humana
faz parte de sua existência, de forma não programada e aberta aos
relacionamentos e às escolhas. Sobre tudo isto, entretanto, incide o outro
lado da moeda, que é a responsabilidade. A limitação da liberdade é parte
da condição de criatura. Esta limitação, ainda que convivendo com os
desejos interiores que tentam romper a esta condição, está, nas palavras
de Bonhoeffer, no centro de sua existência, e dela não se pode fugir. Se
nesta liberdade limitada o ser humano se revolta e tenta viver como se
fosse totalmente livre, como se fosse autossuficiente, conhecedor de
tudo, tomando decisões e agindo com base em sua própria mente, ele se
depara com um abismo intransponível. Mais que isso, ele se depara com
uma existência impossível e entra em colapso.
Exercício de aplicação - 07
A maior tentação do ser humano e o que o levou ao estado decaído
foi o desejo de ser como Deus, de ser autossuficiente e plenamente
hábil para decidir sobre os rumos de sua vida e da criação. Ainda
hoje nos deparamos diariamente com esta tentação. Qual das
situações abaixo são reflexos de ceder a esta tentação?
a) O excesso de organização com as finanças pessoais;
b) O alto investimento no crescimento profissional para ser bem-
sucedido(a);
c) A insistência nos relacionamentos com pessoas não cristãs;
d) O uso de todo tipo de recurso para controlar os que estão ao seu redor;
e) Falar muito e fazer pouco pelas pessoas que não conhecem a Cristo.
O que Brunner nos alerta é que a narrativa sobre o pecado de Adão e Eva
não é considerada pelos escritores bíblicos como sendo o foco desta
teologia. Nem mesmo a ideia da hereditariedade ou transmissão do
pecado aos descendentes está no centro de sua elaboração. A teologia
do pecado, tanto nos outros textos bíblicos quanto no entendimento das
pessoas na igreja, está mais concentrada na quebra das leis — ou da
Lei — do que no grande drama da queda. Por isso, quando lemos o relato
da criação-queda temos a tendência a pensar de maneira abstrata. O
relato de Gênesis trata daquilo que se convencionou chamar de pecado
original, mas que em nossa análise não aparece como um ato concreto
e sim como o simbolismo da tentativa humana de dar vazão ao desejo
existencial de querer ser o que não se é, ou seja, de querer ser divino.
Mesmo não aparecendo explicitamente a palavra pecado no relato da
queda, entendemos que este conteúdo está presente. Isto fica mais
claro no texto seguinte que trata do assassinato de Abel por Caim, onde
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a expressão hattat (pecado) aparece (Gn 4:7). A definição da palavra
hebraica hattat está associada à ideia de erro, “errar um alvo ou um
caminho” (Smick, 1998, p. 637). Neste sentido, quando o ser humano
tenta ser Deus, ele erra o caminho existencial de sua condição humana
limitada e, assim, peca.
2.2.3. A queda
A expressão queda nos remete à ideia de um deslocamento entre um
estado de existência superior e um inferior ou entre um estado bom e
outro mal. Quando o ser humano tenta concretizar o seu desejo de
ser como Deus, ele decai em seu estado existencial. Já mencionamos
que a transição entre o relato da criação e o da queda se dá por uma
conjunção adversativa — o Wāw hebraico ou, “mas” em português —, o
que significa uma mudança de rumo. O quadro pintado na criação é de
harmonia e plenitude. As necessidades básicas humanas, tudo o que
é primordial para a sua sobrevivência e existência, estavam atendidas.
Metaforicamente, o ser humano tinha casa, alimento e companhia. Suas
relações eram saudáveis e promoviam a sua condição humana em
equilíbrio. Ele estava nu e não se envergonhava.
Mais triste ainda neste cenário é a ideia de morte. Se antes havia o acesso
à árvore da vida, suprindo uma possível falência humana, agora, este
acesso é proibido, e o ser humano deixa de existir; retornando à terra como
pó. Qualquer que seja a concepção de vida eterna, nestes relatos ela não
aparece de maneira clara. No entanto, não podemos ignorar a grande
decepção existencial que acomete o ser humano quando ele se depara com
o decreto divino de impedimento ao acesso à árvore da vida por causa de
sua escolha, de seu pecado e da queda (Gn 3:22-24). Diante do ser humano
está a fatalidade, uma existência limitada, a mais cruel das realidades, contra
a qual ele lutará com todas as forças enquanto houver fôlego.
Enfim, estas narrativas simbólicas não devem ser lidas como coisas
específicas acontecendo a criaturas específicas. Ela é uma poesia sobre
o drama da existência humana. O que afeta a serpente, a terra, a mulher e
ao homem, afeta toda a criação, num cenário de tristeza e desolação, ao
mesmo tempo que enseja a esperança por um estado nostálgico, de voltar
a ser como era no jardim, antes da queda. O grande drama humano, debaixo
do poder do pecado, gera de forma imediata a expectativa pela salvação.
2.3.1. Tentação
A tentação pode ser entendida como a sugestão mental que usa a força
dos desejos que se encontram no nosso íntimo. De forma consciente
ou subconsciente, o ser humano alimenta interiormente estes desejos
tentando concretizá-los em sua vida. Os resultados, porém, da
concretização dos desejos humanos podem ser danosos para a sua
existência como um todo. Por causa desta característica de sutileza,
do complicado envolvimento da racionalidade, da sensorialidade e da
volição — razão, sensação e vontade —, a tentação é representada pelo
“mais astuto de todos os animais selvagens” (Gn 3:1).
Saiba mais
A palavra hebraica arum, traduzido pelo adjetivo “astuto” aplicado à
serpente, é utilizada apenas dez vezes no Antigo Testamento: uma
vez neste texto de Gênesis e, não por acaso, todas as outras nove
nos livros sapienciais de Jó e Provérbios — livros de Sabedoria. Seu
significado está associado ao conceito de esperteza, prudência e
bom senso, tanto no sentido negativo quanto positivo, como vemos:
• Jó 5:12 – “Ele frustra os planos dos astutos, para que fracassem
as mãos deles”;
• Jó 15:15 – “O seu pecado motiva a sua boca; você adota a
linguagem dos astutos”;
• Provérbios 13:16 – “Todo homem prudente age com base no
conhecimento, mas o tolo expõe a sua insensatez”;
12
Feliz é o homem que persevera na provação, porque
depois de aprovado receberá a coroa da vida, que
Deus prometeu aos que o amam.13Quando alguém
for tentado, jamais deverá dizer: “Estou sendo tentado
por Deus”. Pois Deus não pode ser tentado pelo
mal e a ninguém tenta. 14Cada um, porém, é tentado
pelo próprio mau desejo, sendo por este arrastado e
seduzido. 15Então esse desejo, tendo concebido, dá à
luz o pecado, e o pecado, após ser consumado, gera a
morte (Tg 1:12-15).
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O texto que vem logo após à queda, que narra a história do assassinato
de Abel por Caim, pode ser lido como um desdobramento dela. Ali
encontramos a seguinte afirmação: “Se você fizer o bem, não será aceito?
Mas, se não o fizer, saiba que o pecado o ameaça à porta; ele deseja
conquistá-lo, mas você deve dominá-lo” (Gn 4:7). O que o autor indica
é essa constante luta entre o desejo mal, que pode corromper o estado
existencial humano, e a sua concretização, entendida como pecado. Ao
ser humano cabe dominar, exercer autocontrole, governar seus desejos e
suas ações, enfim, ser responsável por suas escolhas.
Exercício de fixação - 08
O que podemos considerar como a principal fonte de tentação?
a) A tentação vem do próprio Deus, para testar a fé humana;
b) A tentação é posta por Satanás, para arrastar o ser humano
ao pecado;
c) A tentação é um plano de Deus e Satanás, como narrado na
história de Jó;
d) A tentação vem do próprio ser humano, para satisfazer seus
desejos básicos;
e) A tentação vem do próprio ser humano, para satisfazer seus
desejos cobiçosos;
2.3.3. Responsabilidade
Já comentamos rapidamente sobre a responsabilidade que pesa sobre
o ser humano quanto ao pecado, mesmo quando ele ocorre sob o efeito
da tentação, que explora a sua fraqueza. Aprofundando um pouco mais
esse tema, podemos trazer para a discussão os conceitos de liberdade e
livre arbítrio há tanto tempo presente na Antropologia Teológica.
O livre arbítrio, por sua vez, pode ser entendido como um componente
da liberdade, contudo, associado ao julgamento de uma decisão a ser
tomada ou de uma ação. Arbitrar significa escolher após avaliar as
possibilidades. A discussão, portanto, está em determinar como esta
liberdade de escolha e de ação, que o ser humano possui, se relaciona
com a responsabilidade pelas consequências de ambas. Outro elemento
a ser considerado é o pecado como algo presente em suas entranhas.
Wolfhart Pannenberg contribui com o seguinte raciocínio:
Exercício de reflexão - 09
Escreva em 3 a 4 linhas o que você entendeu sobre a responsabilidade
humana em relação ao pecado:
2.4.1. Teodiceia
O problema do mal tem sido discutido na filosofia e na teologia a partir
de um termo mais amplo que procura elaborar qual é a participação,
associação ou envolvimento de Deus. A expressão Teodiceia representa
a tentativa de se propor um encaminhamento de raciocínio pelo conceito
de justiça divina — theos e dike, respectivamente, Deus e justiça.
Embora esta discussão ocorra também em círculos não teológicos, seus
questionamentos tentam dar conta das dúvidas de quem experimenta o
sofrimento diante daquilo que pensamos da pessoa Deus. As perguntas
principais seriam: se Deus é bom por que existe o mal? Se Deus é justo
por que o inocente sofre?
Glossário
Deísmo
No século 19 e no início do século 20, a palavra deísmo foi
usada por alguns teólogos em oposição ao teísmo, a crença em
um Deus imanente que intervém ativamente nos assuntos dos
seres humanos. Nesse sentido, Deísmo foi representada como a
visão daqueles que reduziram o papel de Deus a um mero ato de
criação de acordo com as leis racionais detectáveis pelo homem e
sustentaram que, após o ato original, Deus virtualmente se retirou e
se absteve de interferir nos processos da natureza e dos caminhos
do ser humano.
Fonte: https://www.britannica.com/topic/Deism
Pensar em Deus como a origem do mal, ou seja, como aquele que cria o
mal como algo que faz parte da criação, traz um imediato desconforto pelo
simples fato de termos que admitir a possibilidade de um Deus sádico.
Se Deus cria o mal, com que objetivo ele o faz? Pensar na possibilidade
do mal como um instrumento de teste, de terapia, de aperfeiçoamento
ou outra coisa direcionada ao ser humano não afasta a conclusão de que
este Deus, no fundo, não é totalmente bom ou não ama profundamente
suas criaturas, pois, em sua criação ele inclui algo que é percebido como
sofrimento. Ao mesmo tempo, esta primeira tese de Deus como a origem
do mal não possui fundamentação bíblica. Pelo contrário, as Escrituras
afirmam exatamente o oposto. Elas definem Deus como amor e sua
criação como boa ou muito boa.
| Teologia Sistemática III | FTSA | 75
Saiba mais
Um alerta. Há quem faça a interpretação indevida do texto de
Isaías 45:7 para justificar a origem do mal em Deus: “Eu formo a
luz e crio as trevas, faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas
estas cousas”. Este texto, na versão ARA, não trata da criação nem
tampouco de qualquer elaboração doutrinária sobre esta temática.
O texto é uma profecia, estruturada como um discurso, direcionada
ao rei persa Ciro, que quando governava a Babilônia permitiu que
os judeus retornassem à Jerusalém sob a liderança de Esdras.
Se lermos o texto de Isaías 45:1-7 atentamente, veremos que a
profecia trata da ação de Ciro como um poderoso governante e
conquistador, porém, enxergado como alguém usado por Javé para
realizar as intervenções históricas que ele determina. Ciro é visto
como um agente divino, ungido para a função de liderança sobre
as nações, e Javé é visto como Deus, que cria todas as coisas e
age na história. O mal aparece no texto como contraponto à paz,
que naquele contexto estava diretamente relacionada aos conflitos
provenientes das guerras de conquista. A palavra hebraica utilizada
é ra, traduzida em algumas versões como desgraça, mas que
também é entendida como miséria e adversidade. Neste sentido,
o mal, aqui, deve ser interpretado pela ótica do entendimento
teológico monoteísta javista, que responsabiliza Deus por todas
as coisas que ocorriam sobre a terra, compreendendo, igualmente,
a sua intervenção direta sobre a história humana. O mal é visto
como representado pelas guerras, mas que cessam quando Deus
estabelece a paz.
Exercício de aplicação - 10
A partir do que foi estudado sobre o mal, como podemos aplicar estes
conceitos em nossa vida a fim de compreender a sua existência e
superá-lo?
a) É preciso sempre estar próximo de Deus, por meio dos ritos religiosos
e das leituras bíblicas, evitando que o mal domine o nosso ser, pois, a
presença de Deus por si só é suficiente para derrotar o mal;
b) Devemos sempre avaliar se nosso estilo de vida, nossos pensamentos
e desejos, nos levam para uma condição oposta à da criação, com
consequente desarmonia, injustiça e sofrimento. Se assim for, é preciso
que mudemos a nossa mente e comportamento, buscando viver como
Deus espera vivamos;
c) É preciso rejeitar por completo tudo aquilo que o mundo nos oferece,
pois as estruturas são dominadas pelo mal e ao aceitá-las estamos
aceitando a existência do mal em nossas vidas;
d) É dever da igreja, enquanto instituição devidamente constituída, derrotar
o mal e fazer imperar o bem, custe o que custar. A igreja deve manter
longe de seu espaço aqueles que vão contra a sua teologia, mantendo o
Templo santo;
e) Apenas com jejum e oração seremos capazes de vencer o mal e as
pessoas que nos cercam que o representa.
Referências bibliográficas
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PANNENBERG, Wolfhart. Teologia Sistematica. Vol. II. Madrid: UPCO, 1996.
SMICK, Elmer B. 638 ( ָח ָטאhātā’) errar, sair do caminho, pecar, etc.. In:
Nos textos acima, shalah é traduzido por “tirar”, “livrar” e “deixar ir”. No
caso da história de Ló, sabemos que a ação de o tirar das ruínas de
destruição das cidades de Sodoma e Gomorra significou ter a sua vida
poupada, ou seja, salva. O mesmo raciocínio vale para o caso de José,
conforme se refere o texto de Gênesis 37:22. Rúben salva José de seus
próprios irmãos, que queriam matá-lo, sugerindo que ele seja lançado em
uma cisterna. Ao propor esta saída, ele livra José da morte que poderia
ser executada por seus irmãos. Já na história do Êxodo, deixar o povo ir
é o mesmo que salvá-lo da opressão que sofria no Egito.
Saiba mais
A opressão do povo de Israel no Egito
A terceira expressão hebraica que pode ser incluída em nossa
construção do conceito veterotestamentário da salvação é peletah.
Podemos vê-la aplicada nos seguintes textos:
É curioso notar que esta versão do texto de Êxodo 18:10 traduz as duas
ocorrências do termo natsal, conforme destacado em itálico, por dois
sinônimos: libertou e livrou. Observando outros textos encontramos
opções de tradução como tirou e poupou. Contudo, não vejo necessidade
de nos aprofundarmos em mais detalhes sobre esta ideia de salvação
como libertação, uma vez que ela está bastante desenvolvida na história
do povo de Israel, apresentada nas Escrituras. O que observamos é que
este é o principal evento teológico do Antigo Testamento, entendido
como um ato de salvação promovido por Deus, e que é sempre lembrado
para reforçar esta relação de aliança e cuidado e fortalecer a fé do povo:
Juízes 6:9; 1 Samuel 10:18; 1 Reis 8:16; 1 Crônicas 17:5; Salmo 78:12;
Isaías 10:24; Jeremias 2:6; Ezequiel 20:6; Daniel 9:15; Oséias 2:15; Amós
2:10; Miquéias 6:4; Ageu 2:5.
Exercício de fixação - 11
Qual das opções abaixo representa melhor a ênfase comum
presente no significado teológico dos termos hebraicos malat,
shalah, peletah, natsal?
a) A salvação do pecado que está enraizado na vida humana desde
Adão;
b) A salvação vista como a libertação das forças do mal que atacam
o ser humano;
c) A salvação como escape das tentações que conduzem ao
pecado;
d) A salvação como livramento de situações concretas nos vários
contextos de risco para o ser humano;
e) A salvação promovida pelo Messias de Israel.
• Êxodo 21:8 - “Se ela não agradar ao seu senhor que a escolheu,
ele deverá permitir que ela seja resgatada. Não poderá vendê-la a
estrangeiros, pois isso seria deslealdade para com ela”;
• Salmo 111:9 - “Ele trouxe redenção ao seu povo e firmou a sua aliança
para sempre. Santo e temível é o seu nome!”;
Saiba mais
O significado técnico de mágica
Mágica na antropologia é a crença de que a manipulação ritualística
de elementos naturais pode causar efeitos sobrenaturais. Definem-
se ainda dois tipos de mágica, a simpática e a contagiante. A
mágica simpática é aquela em que uma coisa semelhante produz
um efeito semelhante. Um exemplo seria a mágica vodu em que de
se faz um boneco de alguém e se coloca agulhas no mesmo para
que a pessoa que o boneco representa sofra as consequências
daquele ato. A mágica contagiante é aquela em que a manipulação
de algo próximo seria capaz de produzir um efeito sobre aquilo
com a qual possui proximidade. Por exemplo, alguns chamados
trabalhos de macumba manipulam objetos de uma pessoa, ou
fio de cabelo, unha, etc., para que aquela pessoa sofra alguma
consequência pretendida no ritual. Danças da chuva, de guerra,
sacrifícios, oferendas, etc., partem deste mesmo princípio.
• Lucas 18:14 – “Eu digo que este homem, e não o outro, foi para casa
justificado diante de Deus. Pois quem se exalta será humilhado, e
quem se humilha será exaltado”;
• Atos 13:39 – “Por meio dele, todo aquele que crê é justificado de
todas as coisas das quais não podiam ser justificados pela Lei de
Moisés”;
Exercício de reflexão - 13
A partir do que foi dito sobre os textos paulinos, elabore uma pequena
reflexão de como a compreensão de arrependimento, conversão e
justificação se aproximam e se diferenciam da compreensão do AT.
Tendo isso em mente, apresento este tema e o que virá a seguir, tendo
como ponto de partida o aspecto do relacionamento. Suas ênfases se
mostram menos negativas, menos centradas no problema do pecado, e
mais comunicadoras do caráter amoroso de Deus.
• Mateus 6:9 – “Vocês, orem assim: ‘Pai nosso, que estás nos céus!
Santificado seja o teu nome’”;
Exercício de fixação - 15
Qual das afirmações abaixo melhor representa a proximidade entre
os conceitos de adoção e reconciliação na teologia da salvação
apresentada no Novo Testamento?
a) Ambas são construídas a partir do mesmo conceito
veterotestamentário de redenção;
b) Ambas se referem a Jesus por meio do seu sacrifício expiatório;
c) Ambas enfatizam, desde uma perspectiva mais positiva, a
Referências bibliográficas
CARR, G. Lloyd. 1198 *( ָמ ַלטmālat). In: HARRIS, R. Laird (org.). Dicionário
Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova,
1998.
COKER, William B. 1734 ( ָפּ ָדהpādâ) resgatar, remir, livrar. In: HARRIS, R.
Laird (org.). Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento.
São Paulo: Vida Nova, 1998.
VAUX, Roland De. Instituições de Israel no Antigo Testamento. São Paulo:
Teológica, 2003.
WRIGHT, Christopher J. H. Old Testament ethics for the people of God.
Downers Groove, IL: InterVarsity, 2004.
Exercício de fixação - 16
Baseado na discussão apresentada na disciplina, responda: em
que sentido a cruz pode significar a morte de Deus?
a) Como simbologia do que o ser humano faz ao rejeitar a Deus.
b) Como prova histórica da morte do Deus encarnado.
c) Como representação da mordida da serpente no calcanhar do
descendente da mulher, de acordo com o texto de Gênesis;
d) Como a real morte de Deus, afinal Jesus é Deus e morreu na
cruz;
e) Deus não pode morrer, então, a cruz não pode significar a
morte de Deus.
Exercício de fixação - 17
Sobre o sistema soteriológico do triunfo de Cristo é correto afirmar que:
a) A salvação é entendida como a morte de Cristo funcionando
como um resgate pago a Deus para a libertação dos seres humanos;
b) A salvação é entendida como a morte de Cristo funcionando
como um resgate pago para a libertação dos seres humanos das
garras do Diabo;
c) A salvação é entendida como a ressurreição de Cristo funcionando
como uma prova de sua vitória sobre o pecado humano;
d) A salvação é entendida como a morte de Cristo funcionando
como a vitória sobre os poderes políticos, já que foi Pôncio Pilatos
quem tentou matá-lo, mas ele ressuscitou;
e) A salvação é entendida como a ressurreição funcionando como
a vitória sobre a morte do corpo físico.
Exercício de aplicação - 18
Considerando os apontamentos sobre os sistemas soteriológicos,
qual seria uma possível postura saudável para nossa leitura
teológica no século XXI?
a) Priorizar o sistema de Anselmo porque foi o apóstolo Paulo
nos ensinou
b) Retomar os sistemas que foram esquecidos ou deixados de
lado;
c) Enfatizar somente o sistema da satisfação vicária, porque é o
mais conhecido na tradição cristã;
d) Fazer uma análise crítica dos sistemas buscando sua
contextualização;
e) Desconsiderar todos os sistemas porque estão ultrapassados.
O que quero alertar com esta provocação é que parece que muitas vezes
somos tomados por uma motivação negativa da salvação, enfatizando
mais os castigos, os esforços para alcançá-la e os riscos de perdê-la, do
que a iniciativa de Deus que enfatiza o amor: “Porque Deus tanto amou o
mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não
pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16). As melhores ilustrações
deste risco que corremos estão em algumas parábolas de Jesus (Mateus
20:1-6; 22:1-14; Lucas 15:11-32).
138 | Teologia Sistemática III | FTSA
Exercício de aplicação - 19
No texto da aula, fiz a seguinte proposição: “A salvação, portanto,
não está restrita a um evento de conversão momentânea de
aceitação, pela fé, do sacrifício vicário de Cristo. Também não se
limita a uma questão de vida futura no céu.”
Quais implicações esta proposição pode trazer à nossa vida?
Verifique as afirmativas abaixo e depois assinale a alternativa
correta.
I – Ao falarmos de salvação dos efeitos da queda, consideramos os
aspectos psicológicos e financeiros também.
II – Além de focarmos no futuro, também precisamos focar no
presente.
III – A salvação dos efeitos da queda é algo contínuo, ou seja, não
se restringe somente a um momento.
a) Apenas a afirmativa I está correta;
b) Apenas a afirmativa II está correta;
c) Apenas as afirmativas I e III estão corretas;
d) Apenas as afirmativas II e III estão corretas;
e) Todas as afirmativas estão corretas.
Falar de evangelização no meio evangélico parece ser algo que não precisa
de definição. A isto chamo de senso comum, ou seja, um entendimento
tácito que paira sobre as nossas mentes. Ainda que este entendimento
possa ter algumas variações, elas são sutis e, por isto, não encontramos
discussões sobre o seu significado ou mesmo sobre qualquer fundamento
bíblico e teológico para o atual entendimento. Exemplificando o que estou
argumentando, quando penso em evangelização a primeira ideia que me
vem à cabeça é a fórmula que herdamos dos movimentos de avivamento
do século XIX e das cruzadas evangelísticas do século XX.
Exercício de reflexão - 20
Faça uma breve reflexão de como os conteúdos apresentados
podem trazer implicações sobre a nossa compreensão da tarefa
de evangelização.