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O desenvolvimento humano durante a velhice

Com o envelhecimento, a pessoa se depara com mudanças em diferentes aspectos de sua vida. Nesta fase
acontecem uma série de alterações emocionais, psíquicas, físicas e sociais. A forma com que o idoso lidará com essas
questões contribuirá de forma positiva ou negativa para a sua qualidade de vida. Porém, nem sempre é fácil assimilar,
trabalhar e aceitar todas as transformações sozinho.

A velhice é um processo pessoal, natural e inevitável para qualquer ser humano na evolução da vida, este processo
ocorre relacionado a diversos fatores da vida de uma pessoa, envelhecer é somar todas as experiências da vida, é o
resultado de todas as decisões e escolhas que foram feitas durante todo o percurso da mesma, diante disso,
percebemos que vivenciar o envelhecimento apresenta situações diferentes para cada ser humano, pois somos únicos.

Algumas mudanças também surgem como parte deste processo de envelhecer. Do ponto de vista biológico, o
envelhecimento caracteriza-se pelas mudanças morfológicas e funcionais resultantes das transformações a que o
organismo se submete ao longo da vida, nem toda mudança que ocorre em nosso organismo está fundamentalmente
ligada à idade por si só. É necessário incluir outros fatores que contribuem para essas mudanças no organismo, como
o ambiente, alterações imunológicas, alimentação e atividades.

As mudanças físicas que acontecem no organismo quando do envelhecimento biológico não são simultâneas, mas ao
contrário, os órgãos seguem padrões diferentes de envelhecimento e os classificamos de primários e secundários.

O envelhecimento primário consiste em processos de deterioração biológica, geneticamente programados, que


acontecem inclusive nas pessoas que tem muita saúde e que não passaram por doenças graves na vida. Estes
processos fazem parte da programação natural de nosso sistema biológico sendo assim inevitável sob quaisquer
circunstâncias individuais e ambientais.

O envelhecimento secundário refere-se aos processos de deterioração que aumentam com a idade e se relacionam
com fatores que podem ser controlados, como, por exemplo, a alimentação, a atividade física, os hábitos de vida e as
influências ambientais. Esses fatores dependem de cada indivíduo, então podemos assim afirmar que pode ser
prevenido, e é evitável e não universal.

Relacionado ao desenvolvimento cognitivo nesta fase, nossa capacidade para lidar e para interagir adequadamente
com o ambiente vai depender, em grande medida, de nossa habilidade para detectar, para interpretar e para responder
de maneira apropriada à informação que chega até os nossos sentidos. O envelhecimento biológico do cérebro é, em
geral, evidenciado pela perda de intelecto, memória, capacidade criativa e cognitiva. Mas, ao contrário do que se
pensa, esse processo não acontece de repente, logo que a pessoa atinge uma determinada idade, trata-se de um
processo lento que progride com o passar dos anos.

Sobre a memória, não se pode afirmar contundentemente que a memória da pessoa piore com a idade e nem que o
esquecimento seja uma consequência inevitável do envelhecimento. Além disso, as pequenas perdas que acontecem
na idade adulta são facilmente compensadas pelo uso de outras estratégias cognitivas, como, por exemplo, prestar
mais atenção inicial ao material. De fato as três estruturas da memória são afetadas de maneiras diferentes a memória
sensorial e a memória de curto prazo não sofrem mudanças significativas na idade adulta, a memória de longo prazo
em pessoas idosas que não estejam doentes, sofre uma perda que parece não estar tanto na capacidade de
armazenar informações, mas na habilidade para recuperá-las.

Quando ocorrem alterações na memória na velhice, as hipóteses explicativas para essas alterações estão centradas
em fatores ambientais, déficits do processamento da informação e fatores biológicos (deterioração em algumas partes
de cérebro, como os lóbulos frontais).

Nos estudos sobre a inteligência existe um consenso generalizado entre os pesquisadores na divisão entre a
inteligência fluída e inteligência cristalizada. A inteligência fluída corresponde aos processos cognitivos básicos. Tem a
ver com habilidade para lidar com situações novas, criar conceitos e resolver problemas e situações diversas.

A inteligência cristalizada é o produto do conhecimento adquirido ao longo do ciclo vital e que tem a ver com a
aplicação da inteligência fluída aos conteúdos culturais e acadêmicos recebidos ao longo da vida. Corresponde ao
conhecimento organizado que foi sendo acumulado ao longo da vida de uma pessoa.

A criatividade costuma ser associada à inteligência fluída e corresponde à habilidade para oferecer diferentes soluções
novas ou criativas para os problemas.

A sabedoria vai além da inteligência e está norteada por valores sociais, éticos e morais. Não se pode deixar de
considerar que a sabedoria reflete os conhecimentos, os valores e as normas de uma sociedade, além disso, a
sabedoria é um âmbito que pode ser desenvolvido constantemente ao longo do ciclo vital. Analisando um pouco sobre
o desenvolvimento social do idoso conclui-se que; a duração cada vez maior da velhice obriga o indivíduo a continuar
com o seu processo de socialização exigindo-lhe assim uma adaptação ao contexto em que está inserido, seja ele
familiar, trabalho, comunidade etc.

As pessoas mais velhas com seus conhecimentos já adquiridos têm muito a oferecer e muito a contribuírem. As
relações sociais fora do contexto familiar podem chegar a serem tão importantes para as pessoas mais velhas como as
próprias relações familiares, as relações sociais afetam todos os âmbitos da vida das pessoas mais velhas,
contribuindo assim para o desenvolvimento de hábitos sociais e para a configuração de sua personalidade.

As necessidades afetivas dos idosos não são diferentes das outras pessoas em outras fases da vida, estas
necessidades afetivas são amor, alegria, realização. O amor, em suas três formas de manifestação, Eros, Filia e
Ágape. O prazer que se associa à exploração do ambiente, da alegria das relações com outras pessoas os tornam
mais fortes para enfrentarem o estresse, ansiedade e os enfrentamentos diários permitindo-os assim conseguirem ter
uma qualidade de vida melhor e equilíbrio psicológico.

Competências emocionais traduzem-se em resiliência psicológica, que significa a capacidade de adaptar-se mediante
recursos pessoais em interação com os sociais. A realização (domínio, controle e autonomia) mesmo com
incapacidade, desde que na ausência de depressão graves, dores crônicas, inatividade física, pode funcionar bem com
competências físicas, sociais e psicológicas de que dispõem.

Embora o cérebro mude com a idade, as mudanças variam consideravelmente, elas incluem perda ou redução das
células nervosas e um retardo geral das respostas. O cérebro também parece ser capaz de produzir novos neurônios e
formar novas redes neurais no decorrer da vida.

Desenvolvimento cognitivo 

É por meio da cognição que os seres humanos absolvem os conhecimentos, e que contribui para o desenvolvimento
intelectual dos indivíduos, as habilidades cognitivas estão diretamente ligadas a fatores diversos como a linguagem, a
percepção, o pensamento, a memória, atenção e o raciocínio dentre outro.

Em pessoas mais jovens, os processos cognitivos acontecem com maior fluidez e isso se deve a vários fatores
principalmente, ao vigor da juventude. Nas primeiras fases do desenvolvimento humano, fatores interligados a
cognição, proporciona ao indivíduo maior agilidade tanto no que diz respeito aos aspectos psicoemocional quanto, aos
físico-biológicos.

Quando avaliado o nível cognitivo do sujeito que se encontra na última fase do desenvolvimento humano, fica evidente
o seu declínio, principalmente nos aspectos ligados a atenção e a memória, influenciando o rendimento escolar, pois,
os comprometimentos ocasionados pelas suas diminuições interferem diretamente no processo de aquisição de novos
conhecimentos. Tal problemática se acentua através de comportamentos que contribui negativamente para o bom
desempenho da cognição da pessoa idosa como, distanciamento do convívio social e familiar, depressão, estresse, o
uso indevido de medicamentos e os problemas de ordem emocional, nutricional.

Tendo em vista o comprometimento intelectual do idoso, faz-se necessárias sugestões de atividades onde possam ser
trabalhadas as habilidades perceptivas e de memorização destes indivíduos. Estudos comprovam que estímulos
diretivos e adequados têm demonstrado resultados positivos com o sujeito aprendente da terceira idade fazendo com
que estes não só recuperem competências cognitivas perdidas, mas até pra superar seus limites anteriores.

Através de inúmeras pesquisas científicas pode-se perceber a complexidade do processo intelectual do ser humano.
Existe a distinção entre habilidades (inteligência) fluida e cristalizada:

A habilidade fluida depende muito da condição neurológica do sujeito aprendente enquanto que a habilidade
cristalizada depende dos conhecimentos acumulados durante toda a vida do indivíduo. Esses dois tipos de
inteligências seguem padrões diferentes. No padrão clássico de envelhecimento, entretanto, a tendência tanto na
pontuação do desempenho como no verbal é de queda ao longo da maior parte da vida adulta; a diferença embora
substancial é de grau.

Quando comparada a inteligência fluida com a cristalizada, esta se apresenta muito mais encorajadora, pois, tal
habilidade cognitiva mesmo com o passar do tempo tende a se aperfeiçoar por um período maior da vida do adulto
idoso, independente do declínio que ocorre com a inteligência fluida.

Diante das limitações psicológicas, físicas e neurológicas pelas quais passam a pessoa idosa, é importante uma
melhor compreensão de seu ritmo, habilidades cognitivas e fragilidades características deste estágio do
desenvolvimento humano.

Desenvolvimento Psicossocial 

É um estágio de desenvolvimento em que as pessoas reavaliam suas vidas, fecham situações deixadas em aberto e
decidem como melhor canalizar suas energias e passar seus dias ou anos restantes. Alguns querem deixar aos
descendentes ou ao mundo suas experiências ou corroborar o significado de suas vidas. Outros querem apenas curtir
seus passatempos favoritos ou fazer coisas que não fizeram quando jovens.

Fazendo referência ao termo personalidade, este não possui uma definição única, e pode variar de acordo com os
parâmetros estabelecidos em cada doutrina. Mas, de maneira geral, são um conjunto de
características psicológicas que marcam os padrões de pensar, sentir e agir, ou seja, atitudes e comportamentos
típicos, de um determinado ser humano.
Dois dos mais fortes traços da personalidade: Extroversão personalidade extrovertida (expansiva e sociável) elevados
níveis de emoções positivas e conservam ao longo da vida. E o neuroticismo personalidades neuróticas (instáveis,
suscetíveis, ansiosas e inquietas) demonstram emoções negativas e tendem a se manter negativa. Este é um
elemento prognosticador de humores e de transtornos de humor muito mais poderoso que a idade, a raça, o gênero, a
renda, a educação ou o estado civil.

Senso de integridade do ego: fundamentada na reflexão da própria vida. Na oitava e última etapa do desenvolvimento
psicossocial, as pessoas da terceira idade adquirem um senso de integridade do ego pela aceitação da vida que
tiveram e assim aceitar a morte, ou se entregarem ao desespero pela impossibilidade de reviver suas vidas.

Nesta etapa pode se desenvolver a virtude que é sabedoria: “aceitar a vida que se viveu sem maiores
arrependimentos, sem se alongar em todos os ‘deveria ter feito’ ou ‘como poderia ter sido’, o que significa aceitar as
imperfeições em si próprio, nos pais, nos filhos e na vida”.

É muito comum nessa etapa da vida que a maioria das pessoas examine, reflita e faça um ultimo “balanço” sobre a
própria vida. Se diante dessa análise o individuo sentir-se satisfeito com a vida que viveu, estiver em paz consigo
mesmo, ou seja, apresentar um sentimento de realização e satisfação, achando que lidou de maneira adequada com
os acertos e erros da vida, pode-se dizer que ele tem a integridade do ego (a oitava fase da teoria do desenvolvimento
psicossocial, nessa fase acontece a chamada crise de identidade, acontece com base na avaliação a partir de tudo o
que se viveu e conquistou durante a vida, é uma espécie de avaliação final.) e conquistou a virtude da sabedoria,
aceitando o seu lugar e passado.

Por outro lado, se o individuo se depara com um sentimento de frustração, aborrecido porque perdeu oportunidades e
arrependido de erros que não pode corrigir, não há mais tempo para corrigi-los, então há a desesperança. Ficam
desgostosos consigo mesmos, ranzinzas, ficam amargos em relação ao que poderiam ter sido, criticam e são
intolerantes com as novas gerações.

As pessoas idosas precisam fazer mais do que refletir sobre o passado, precisam continuar ativas, participantes,
buscando desafios e estímulos no seu ambiente, desenvolver novas habilidades e interesses. O apoio da família é
fundamental nesse sentido, para que o idoso se sinta útil, feliz e amado.

A força básica associada a essa fase final do desenvolvimento é a sabedoria, é expressa na preocupação desprendida
com o todo da vida. Ela é transmitida às próximas gerações em uma integração de experiencias que é mais bem
descrita pela palavra herança.

Nessa fase, muitos idosos param de se preocupar com as “convenções sociais”, permitem que a máscara social – quer
dizer, os disfarces que são adotados para garantir uma aceitação social – caiam aos poucos, não se preocupam com
as repercussões daquilo que pensam, falam, sentem e fazem.

Ocorre uma libertação da busca por conquistas, como a dos bens materiais e do status, desacelera-se a corrida por
ascensão e o ego preenche-se com o que está próximo, no presente, sem urgências.

A morte é o grande tema existencial na velhice. A angustia existencial frente a morte é muito forte, pois existe uma
consciência mais vivida de que a morte é um acontecimento concreto e próximo. Entretanto, se a pessoa estiver em
paz consigo mesmo, o medo diante da morte é atenuado. Do contrário, entra em desespero, pois constata que agora o
tempo é curto para alcançar a integridade.

“Na velhice, contempla-se a construção de uma vida.”

A psicologia é das maiores virtudes para a velhice, pois essa é uma etapa do desenvolvimento humano que exige
mudanças e adaptações que não podem ser simplesmente descartadas ou desconsideradas. Há necessariamente
uma sequência de perdas durante a vida; por isso, é importante que os idosos tenham um lugar para falar sobre suas
perdas significativas, sejam elas de origem familiar, profissional ou com relação à saúde. Essas perdas, uma vez
enxergadas e ressignificadas, podem ser melhores aceitas, totalmente incorporadas e, ao invés de serem origem de
sofrimentos, dores ou de doenças psicossomáticas, transformam-se em fatos da vida, em acúmulo de experiências, em
fonte de resiliência, e por aí vai. Uma forma de compreender o processo de envelhecimento é o de uma sequência de
escolhas adaptativas às condições impostas pela realidade.

Ser idoso não significa estar sozinho, mesmo porque há uma diferença entre isolamento e solidão. De acordo com a
etimologia, “solidão” tem raiz no “solo”, enquanto “isolamento” tem raiz etimológica em isola, ou seja, ilha, o que nos faz
compreender que “isolamento” remete à perda dos laços sociais, enquanto na solidão há a existência de laços

CONCLUSÃO

Os indivíduos que tiverem um saldo positivo em cada fase de seu desenvolvimento de personalidade,
conseguirão mais à frente em seu tempo, uma integridade de seu ego necessária para adaptar-se as mudanças
pessoais e sociais. Estes poderão ver o mundo com a simplicidade necessária para se ter tolerância para as
ocorrências da vida e como resultado da experiência vivida e acumulada, o que denominamos sabedoria.
Mas como não existe perfeição ainda mais em se tratando de seres humanos, encontraremos indivíduos cujo
desenvolvimento da personalidade não se realizou de forma satisfatória, cujas situações internas e externas os
conduzirá a uma maior dependência, reativando conflitos que se apresentaram no início do ciclo vital permanecidos de
alguma forma reprimidos.

Costuma-se dizer que o idoso terá sua velhice como consequência do que foi sua vida até ali. A personalidade é uma
construção. Ninguém é o que é por acaso. É fruto da maneira como viveu cada uma das etapas da vida, dos objetos e
desejos que cultivou durante a vida.

A velhice deve ser compreendida não como uma involução, retrocesso, mas como uma evolução. Alguma coisa
que se inscreve no processo de avançar.

Existem quatro maneiras igualmente ineficazes de viver a maturidade:

1. Agarrar-se ao passado – Passa a viver de recordações. Aliena-se do presente. Suas referências estão
todas no passado. Nada presta, senão as coisas de antigamente. Tudo de hoje não presta, é ruim, não tem
sentido, está perdido;
2. Negar a velhice – Tenta encontrar desesperadamente a fonte da eterna juventude. Busca de todas as
formas parecer jovem. Observa-se que atualmente há um culto exagerado à juventude e um desprezo ao
idoso. Além de o jovem ser cultuado, o velho é rejeitado;
3. Isolamento – Vira-se para dentro de si mesmo. Submerge em tristeza e desolação. Já que não desperta
paixão, busca ao menos compaixão;
4. Adotar uma atitude místico-religiosa – A religião é abraçada como forma de renúncia, resignação
conformista e alienação. Fechada num sistema de crença maniqueísta, a pessoa se sente passiva e
descompromissada com a vida. Deus resolve tudo!

 O apoio familiar ofertado na forma de amor, afeição, cuidado e suporte social faz a pessoa idosa acreditar que é
amada e estimada, e esta atitude pode causar efeitos positivos em sua saúde. A qualidade das relações sociais e
familiares é um fator fundamental para garantir a saúde e o bem-estar da pessoa idosa, a função da família é oferecer
proteção, afeto, intimidade e identidade social à pessoa idosa, o vínculo familiar tem consequências positivas na
saúde, causando o bem-estar que se relaciona diretamente com a longevidade. O apoio familiar revela-se como um
fator diferencial para quem vivencia a terceira idade, transmitindo à pessoa idosa segurança, amor e estima que se
refletem no seu bem-estar. 

“Levantem-se na presença dos idosos, honrem os anciãos, temam o seu Deus. Eu sou o Senhor.”
Levítico 19:32

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