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AP2 – ECOLOGIA E TEOLOGIA

PROF: PE. ANTONIO RONALDO VIEIRA NOGUEIRA


ALUNO: RUAN ALIF MENDES DE LIMA

A abordagem teológica da crise ecológica e o conceito de ecologia integral.

O segundo capitulo da Laudato Si é sobre o evangelho da criação, dos


pontos 2 ao 100 e inicia com uma pergunta: se o documento está dirigido tanto
a crentes como a não crentes, por que incluir um capítulo referido
exclusivamente a convicções crentes? O Papa esclarece que ciência e religião
podem entram em um diálogo frutuoso para ambas.
O capitulo é dividido em sete partes: Primeira, a luz que fé oferece (62 –
63), indica que nenhuma ciência e sabedoria deve ser deixada de lado para
construir uma ecologia que nos permita sanar tudo que nós temos destruído. A
segunda, a sabedoria das narrações bíblicas (65 – 75), no livro do Gênesis o
Papa recorda que cada ser humano é criado com amor e a imagem e
semelhança de Deus, mostrando nossa imensa dignidade, ou seja, não somos
algo e sim alguém, também aborda as três relações, com Deus, com o próximo
e com a natureza e qualquer ruptura com um dos três é pecado. No terceiro
ponto, o mistério do universo (76 – 83), o Pontífice aborda que a tradição
judaico-cristã desmitificou a natureza deixando de atribuir um caráter divino e
quando recolocamos o valor e a fragilidade da natureza, podemos terminar
com o mito moderno de um progresso material sem limites, pois a fé nos
permite interpretar o sentido e a beleza misteriosa do universo e a partir dos
relatos bíblicos consideramos o homem como sujeito e não como objeto. No
ponto quarto, a mensagem de cada criatura na harmonia de toda criação (84 –
88), o ser humano reconhece a si mesmo em relação com as outras criaturas e
cada criatura tem uma função e o descobrimento de Deus na natureza estimula
em nós a virtudes ecológicas. No quinto ponto, uma comunhão universal (89 –
92), significa que sem tirar o valor do ser humano, somos chamados a ter
responsabilidade sem também divinizar a terra ou atribuir demasiado valor,
mas somos chamados a protegê-la. No ponto seis, o destino comum dos bens
(93 – 95), requer um planejamento ecológico numa perspectiva social que
tenha uma preocupação com os mais abandonados. Ponto sétimo e último, o
olhar de Jesus (96 – 100), Jesus vivia em harmonia com a criação e não
apartado dela, santificou o trabalho e outorgou um peculiar valor passa nossa
maturação, o Papa recorda que após a ressureição Jesus envolve com sua luz
a toda a criação.
A encíclica segue com outros temas teológicos, a saber: pecados contra
a criação; conversão ecológica; espiritualidade ecológica; sinais sacramentais;
Trindade; Maria e a realidade última e a esperança. Vimos que o “evangelho da
criação” diz respeito ao desígnio de Deus para toda a criação e à relação da
criatura humana como o conjunto da criação.
No tema dos pecados contra a criação vemos quando os seres humanos
destroem a biodiversidade na criação de Deus; quando os seres humanos
comprometem a integridade da terra e contribuem para a mudança climática,
desnudando a terra das suas florestas naturais ou destruindo as suas zonas
úmidas (8). Trata-se aqui de uma dimensão do pecado, ou seja, a ruptura ou
oposição a Deus. Para nós cristãos, a atual “crise teológica”, mais que uma
crise social e ambiental, é uma crise espiritual que diz respeito, negativamente,
à nossa relação com Deus.
A conversão ecológica, a consciência do pecado contra a criação é
inseparável do chamado à conversão, o Papa renova o apelo a uma verdadeira
conversão ecológica na linha de uma sã relação com a criação ou de uma
reconciliação com a criação, o que implica reconhecimento do pecado,
arrependimento de coração e mudança de vida (218).
A espiritualidade ecológica, só pode haver espiritualidade ecológica
numa autêntica conversão ecológica, pois aquilo que o Evangelho nos ensina
tem consequências no nosso modo de pensar, sentir, viver (216). A
espiritualidade ecológica é inseparável de uma educação ecológica, é preciso
“educar para a aliança entre a humanidade e o ambiente” (cf. 209-215).
Os sinais sacramentais e o descanso celebrativo, os sacramentos
constituem um modo privilegiado em que a natureza é assumida por Deus e
transformada em mediação da vida sobrenatural. Através do culto, somos
convidados a abraçar o mundo em um plano diferente (235). Segundo a nossa
experiência cristã, todas as criaturas do universo material encontram o seu
verdadeiro sentido no Verbo encarnado, porque o Filho de Deus incorporou na
sua pessoa parte do universo material. O ser humano está reduzindo o
descanso contemplativo ao âmbito do estéril e do inútil, o dia do descanso, cujo
centro é a celebração eucarística, deve ser vivido com coragem para assumir o
cuidado com a natureza e dos pobres.
A trindade, Maria e realidade última, são os últimos três pontos no
âmbito teológico da encíclica. Na trindade, o Pai, que é fonte de tudo, o Filho,
que O reflete e por Quem tudo foi criado e unido a terra quando foi formado no
seio de Maria e o Espirito Santo, vinculo de amor que está presente no coração
do universo (238). Maria, rainha de toda criação, que cuidou de Jesus, agora
cuida com carinho e preocupação materna deste mundo ferido (241). A
realidade última e o fim, onde encontraremos Deus face a face. A esperança
não é um ponto especifico, mas sim um tema presente no texto inteiro, pois
convida-nos a reconhecer que sempre há uma saída, sempre podemos mudar
de rumo, sempre podemos fazer alguma coisa para resolver os problemas (61).
Entraremos agora no tema da “ecologia integral”. O ser humano não
está dissociado da Terra ou da natureza, eles são partes de um mesmo todo.
Portanto, destruir a natureza equivale a destruir o homem. E destruir o homem,
para os católicos, é pecado. Da mesma forma, não é possível falar em
proteção ambiental sem que esta envolva também a proteção ao ser humano,
em especial os mais pobres e vulneráveis. Esse raciocínio, que o papa chama
de “ecologia integral”, permeia toda a construção da carta encíclica, “uma
verdadeira abordagem ecológica sempre se torna uma abordagem social, que
deve integrar a justiça nos debates sobre o meio ambiente, para ouvir tanto o
clamor da terra como o clamor dos pobres” (49).
O magistério social da igreja, da Rerum Novarum (1891) à Laudato Si
(2015), teve preocupação e interesse para com a ecologia, essa preocupação
foi se ampliando gradativamente na medida em que os anos se passavam
juntamente com o avanço do conhecimento da biosfera e a relação do homem
com a mesma e Deus. Os conceitos de Ecologia “criacional”, Ecologia
“ambiental” e Ecologia “humana” precedem o conceito de Ecologia “integral”.
Ecologia “criacional”, em resumo, afirma que o ser humano foi criado à
imagem de Deus, constituído “senhor” de todas as coisas terrenas, para que
“dominasse” e usasse para glorificar a Deus. Os Papas ao longo dos anos
foram tomando cada vez mais consciência disto, na Rerum Novarum (1891), na
Quadragesimo Anno (1931), na Mater et Magistra (1961), cada um desses
documentos foram dando continuidade ao outro no que se refere ao tema da
Ecologia “criacional”.
Ecologia “ambiental”, um passo importante na consciência ecológica da
Igreja se dar com a encíclica Pacem in Terris (1963), e com a constituição do
CVII Gaudium Spes (1965), o Papa Paulo VI também marcaria o magistério
social na Populorum Progressio (1967) e Octogesima Adveniens (1971),
tomando consciência das relações entre o homem e o “ambiente”, que não é
apenas “meio”, mas espaço onde se dá e do qual depende a vida humana e é
importante perceber um ordem nisto, pois a medida em que se perde essa
ordem, põe em risco a vida humana e seus ecossistemas.
Ecologia “humana”, depois de uma abordagem sobre a “ecologia
criacional” e sobre “ecologia ambiental” os Papas João Paulo II e Bento XVI
ampliam o magistério social na perspectiva de uma “ecologia humana”. Na
Laborem Exercens (1981), frisa que o homem foi criado à imagem de Deus e
recebeu o mandato de submeter e dominar a terra, na Sollicitudo Rei Socialis
(1987), JPII adverte para sua responsabilidade neste “domínio da terra”. Na
Centesimus Annus (1991), que JPII vai mencionar explicitamente o conceito de
“ecologia humana”, que já era implícito nas encíclicas interiores, depois de
alertar sobre o fenômeno do consumismo que é prejudicial para à saúde física
e espiritual, o pontífice fala da degradação do ambiente natural, incluindo o
“ambiente humano”. Bento XVI, na Caritas in Veritate (2009), explica o
fundamento teológico de uma “ecologia humana”, relacionando o ser humano,
natureza com o Criador.
Finalmente chegamos ao conceito de Ecologia integral propriamente
dito, Papa Francisco acrescenta este conceito aos outros já abordado pelos
seus antecessores. Um conceito que somado com os anteriores recobre todos
os campos, o econômico, o social, o cultural, o espiritual e a vida cotidiana
(147-148). E de forma profética inclui prioritariamente os mais pobres. Pode-se
perceber que o conceito de ecologia integral é muito rico, pois consegue unir o
“grito da terra” com o “grito dos pobres”. Não existe maneira melhor de deixar o
mundo sustentável do que cuidando dos pobres de hoje, somente uma
sociedade renovada na solidariedade pode renovar o mundo, não somente na
ecologia, mas socialmente, por isso o Papa aponta para uma
socioambientalidade.
Dossiê sobre “A dimensão socioestrutural do Reinado de Deus”
Fonte: A dimensão socioestrutural do Reinado de Deus, Capitulo V. Francisco
de Aquino Júnior. São Paulo: Paulinas, 2011.
É fato que a dimensão da problemática ambiental não pode mais ser abafada e
é sobre isso a abordagem do texto que também identifica problemas no que se
refere aos padrões de consumo onde o planeta se transformou em negócio. O
capítulo abordará isso em dois pontos: O caráter intrinsecamente social dos
problemas ambientais, onde não se separa problema ambiental de problema
social, ou seja, é preciso superar esse dualismo entre natureza e sociedade
para poder tratar dos problemas sociais acarretados por esse dualismo. O
segundo sobre a dimensão socioambiental do reino de Deus, onde se aborda o
caráter teologal e teológico, pela tendência atual de relativização da dimensão
social e o caráter salvífico-redentor-libertador que caracteriza o enfrentamento
cristão da questão ambiental.

Dossiê sobre o texto “A evolução do conceito de ecologia no Ensino


Social da Igreja
Fonte: Cuidar da casa comum: chaves de leitura teológicas e pastorais de
Laudato Si. Capitulo 4 – A evolução do conceito de ecologia no Ensino Social
da Igreja / Afonso Murad, Sinivaldo Silva Tavares, (organizadores). – São
Paulo : Paulinas, 2016.
O texto inicia com uma mudança quanto ao conceito de ecologia que antes
limitava-se ao “meio ambiente” e hoje remete à relação do homem com o
planeta. No primeiro ponto que se fala sobre a Ecologia “criacional” podemos
perceber como é recente esta questão da relação do homem com a natureza
desde o princípio, uma “teologia da criação”. Nos pontos dois e três
percebemos como é recente essas questões e de como a igreja se preocupou
a partir de encíclicas e constituições, seja sobre Ecologia ambiental ou
Ecologia humana, que é ainda mais recente. O Papa Francisco vai apresentar
esses conceitos e somando-os com o conceito de Ecologia Integral, que
recobre todos os conceitos anteriores, seja ambiental, econômico, social,
cultural, espiritual e também a vida cotidiana.
Dossiê sobre Ecologia e criação
Fonte: ROQUE JUNGES, Ecologia e criação, Resposta cristã à crise
ambiental. Capítulo 3, criação nos textos bíblicos.
O texto começa esclarecendo a questão da visão da criação que se criou a
respeito do livro do Gênesis, explicando que o texto não tem pretensões de
construir uma cosmologia, mas também apresentando outros textos, seja de
tradição hebraica ou cristã. Nos textos hebraicos fica claro a diferença de
compreensão entre as civilizações, nos salmos vemos as formas cosmogônicas
como ordenação da comunidade humana, no dêutero-Isaías podemos ver a
junção da forma cosmogônica em analogia com a história da libertação. Nos
escritos sapienciais, aparecem referências à criação no sentido de reverenciar a
grandeza de Deus, na literatura profética e cristã fica claro o apontamento para a
nova criação e sobretudo na cristã vemos o aspecto da trindade.

Dossiê sobre o texto Fé cristã e superação da crise ecológica.


Fonte: Cuidar da casa comum: chaves de leitura teológicas e pastorais de
Laudato Si / Afonso Murad, Sinivaldo Silva Tavares, (organizadores). – São
Paulo : Paulinas, 2016.
A teologia se desenvolve, paradoxalmente, como inteligência da fé e serviço da
fé, sem fé não há teologia e sem a fé a teologia é um discurso ineficaz. O texto
trata das contribuições que a Laudato Si oferece para uma reflexão teológica. A
encíclica se insere na Doutrina Social da igreja e é dirigida a todos os povos
sobre o cuidado com a casa comum, este texto busca sintetizar os vários
elementos que estruturam a reflexão teológica sobre a problemática ambiental
da encíclica. Em resumo, são cinco pontos trabalhados no texto, evangelho da
criação; pecados contra a criação; conversão ecológica; espiritualidade
ecológica e esperança. Ao final convém dizer que a teologia não é apenas uma
teoria da fé, mas sempre é um serviço a fé, ou seja, fé vivida e celebrada.
Dossiê da vídeo aula “Laudato Si: Educação e Espiritualidade Ecológicas
(cap.6)
Em continuidade a aula passada continua-se a abortar o último capítulo da
Laudato Si que fala da Educação e Espiritualidade Ecológicas. Toda ação
humana precisa ter por base a educação ecológica e da espiritualidade, a aula
também é iluminada pelo de Bingemer sobre o cuidado da casa comum. A
autora nos faz perceber que uma das ousadias importantes da encíclica é
lançar fundamentos da espiritualidade ecológica. A primeira coisa é o louvor a
Deus que é o nome da encíclica, o segundo ponto é a responsabilidade, o
terceiro ponto é o cuidado com a criação frágil e neste ponto é preciso abordar
dois pilares do estilo de vida ecológico: 1º mudança no estilo de vida e 2º
educação para uma aliança entre ser humano e meio ambiente. A estrutura do
capítulo VI é formada por nove pontos: Apontar para um novo estilo de vida;
Educar para uma aliança entre a humanidade e o ambiente; A conversão
ecológica; Alegria e paz; Amor civil e político; Os sinais sacramentais e o
descanso celebrativo; A trindade e a relação entre as criaturas; A rainha de
toda a criação; Para além do sol. As seis primeiras são abordadas nessa aula e
as outras quatro já foram abordadas. O que é importante deixar claro é que
nem todos nós somos chamados a trabalhar diretamente na política, mas em
meio a sociedade nós podemos ajudar bastante com ações comunitárias que
exprimem amor e doação, transformando em experiências espirituais intensas.

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