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1. A HIPÔTESE ESTÉTICA
' (i1.1\~'i: Bleu.
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ão é p1*ovãv(-:l que se tenliam escrito mais zibsiirdos 21-:çmcã


du estéticã do que ãce1*cz1 de outrã coisa quãlqucr, (lado que
21 bibliogrãliã sol_›1*c:* o assilntio não é siiiliciexitcioneiitic ãinplã.
Mas não conhego quãlquer ãssunto ãceitã do qual se tc11l'1ã111 clito
jli
H tão poucãs coisas pc1**t.in<*:11Les. Hã uma explicãglão pãrã isto. Qui-fin

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quiser ¢:lz1l)o1*ã1" uma teoria plãusível du estét.icã tem de possuil' duãs
qualidãdes: selisilniliclzide artlísticã cr tãlcnto para pensai" com clzimzã.
-unH-un-4
Sem sensil)iliclãclc, não se podc ter cxperiênciã estiét.ic.ã cr, ohviã1ne11-
te, ãs tleoriãs que não fee l)as¢:iã1n numã expcriência estffrlicã ãmpla e
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profunclã São chesproviclãs de valor. So quem fait du am-3 uma {o11t.e
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Coilstante de clnoção ãpãixonadã possui os dãdos dos quais se podem


*-91'.-4:»
deduzir teorias úteis. Toclãviã, pzu*ã se cle(l11zi1"en1 teoriz-15 úteis, mesnio
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pãrtindo de clados (;(›1*rectos, é nec.essã1*io um certo t1*ãl)ãll1o intclcc-
tual, e infclizmelite um illtclecto robusto não é iI1sopa1*ávf:l de uma
sensiliiliclãdc clelicacla. Muitas vexes, os pe11s;.1dores mais esforçãdos
não tiverain qualquer experiênciã estél.icã. Tenho um amigo dotado
de um intelcclto1)enet.1*z-111te comou1nz1b1*ocã que, enlluora se iliteressc
p()1'cstéticz1, lluncã poderá ser acusã(1o de ter tido uma 1'1nicã enlogão
estéticã ao longo dos sous quase qua1'c11ta anos de vida. 1)este modo,
não dispondo de L1111afacL11(la(le que lhe perlnitia distinguir uma oh1*ã
de arte (le um serrotc, é cãpaz de z1cuI11L1lãr uniã pirãmidf: de argu-

(llive Bell, Art, (Ihãtto Sc Windus, Londres, 1914, pp. I3-30.

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111e|1los i|1t,*t›11teSt:§1veis acerca (la hipótese de um serrote ser uma obra que as emocionam de um modo particular, se potlem cleniorarï
(lo arte. liste tlefeito p1*iva o seu perspicaz e subtil raciocínio de grande -se nos múltiplos encantos, cleliciosos e peculiares, de cada um:
part tr do seu valor, porque a maxima Se§,,›1111(l(› a qua] as conclusöes Assiin se escre\›*e1'n crítica e lhc chamam estetica, se iinagiilam que
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(le um argulnento logicamente perfeito pouco crétilito merecem se as estão a lalar de Arte quando estão a falal* de tleterniiiiadas ohras
premissas forem manil`eStan1c11te falsas continua cin vigor. Mas nem de arte ein particular, ou mesmo acerca cla técnica (la pintura, se,
ludo São espinhos nesta roseira, ja que esta ilisensibilidade, se bem gostanclo dc determinaclas obras em particular, a ct11r1s1(_le1*z1g_îat›
que laineiritcãvel por incapacitar o meu amigo de encontrar uma base da arte em geral lhes parecc* eiriiattloiiliac, tali-*ez tenllaln escolluclo
sólida para a sua z11r*gt11r11e11tação, o cega miSericordiosamcnte para o a melhor parte. Se não Se scntem curlosas acerca da natu1*e>*.a (la
.› absurdo das suas conclusöes, permitinclo-lhe assim dcsfrutar plena- sua
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nem (la qualiclatle
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comum
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a todos
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os*_ ob]ectos
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que
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mente a sua magistral (lialéctica. Uma pessoa que parte da hipótese de a proxfoctain, podein contar com a mmlla snnpatia t tamliein,
que Si1*1*Îdwi11 Landsecr foi o mais ilotãvel pintor de todos os tempos (lado que o que (lixem é [i'eqt1e11te1nc11te encantador e stigestisi-*o,
não sente qualquer apreen São rc*lativa1nente a uma estética que prove com a minha admiracão. l\*'IaS que 11i1r1gt.1ú111 Suponha que o que
que Giotto loi o pior. Por isso, quando o meu amigo chega, por meio esc1*e\«'e1rn c* diïem C* esteticag é crítica, ou muito Slniplesmentc*
de uma série (le passos lógicos, a conclusão de que uma obra de arte uma «oct1paç_îão››. _
(leve ser pequena, ou redonda, ou lisa, ou de que, para se apreciar () ponto cle partida de todos os Sistemas (le esttéuca tem de
totalmente uma pintura, a pessoa deve colocar-se em determinada Ser a experiêmiia pessoal (le uma en*1ocão peculiar. Aos t.1l.)_}ectosqt1e
posicão, ou íazê-la roclar como um pião, não pocle perceber por que pro\»'ocam esta en1o(_¿ão chalnamos <<.olJraS de arte››. 'lotlas as pessoas
motivo lhe pergunto Se esteve hã pouco tempo em Calnbridge, uni sensíveis concortlam em aíirmar que as olaras de arte p›1'o*mtîa111
lugar onde ele vai de vez em quanclo. uma e1no<_;ão peculiar. l\Iaturalmentc:, nao quero com isto clizer que
Por outro lado, as pessoas que reagem imetliata e segura- todas as obras p1*o\i-'ocaln a mesrna emogão. Pelo contrario, cada
mente ãs obras de arte, enlbora sejam, a meu ver, mais irivejãveis obra gera uma emoção ('liIere1r1te. Mas todas estas eiiriticfies poclem
do que os homens de Sólitla capzlciclacle intelectual, mas de sensi- ser icleiltilicaclas como emoçöes (la mesma especie. Soμ-1 como loi,
bilidade reclu;,f.,icla, São com frequência tão incapazes como eles de ('lité- ver
' -, a melhor
- opinião- está
“ do* tncu lado. . ]ul9;o
L. que a existencia
falar com acerto acerca da estética. Nem sempre São muito lúcidas. de uma espécie particular cle emogão, proi-'ocada pelas obras de
Possuem os dados nos quais qualquer Sistema se deve basear, mas arte visual, emoção essa que E: provocacla por todos os generos cle
carecem, em geral, da capacidade de realizar inferências correctas arte visual (pinturas esculturas ctliíïcios, vasos, sgrzsivicllas, texteis,
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a partir de daclos verdadeiros. Tendo rccebido emoçöes estéticas etc etc ) não
'*".9 " C* posta
" em (li'1\«~'i(la
_ por quem for capax de a Sentiix _

(las obras de arte, estão em condiçöes de procurar a qualidade lista eniogão chama-se <.<e1r1r1o(_¿ao estetlca» e, se putlermos clescobi u

l comum a todas elas que as emocionou, mas, de facto, não a pro-


curam. Não as censuro. Para que haveriam de se incomodar a
alguina qualidaclc con1un1 e peculiar cle todos os ol:¿]ectos que a
p1*o\f'ocam, tcremos solucionado o que considero ser o prolilenîa
examinar os seus sentimentos, Se para elas sentir é Suíiciente? Para central (la estética. Tercinos tjlcscoberto a qualidade essencial to a
que haverialn cle se pôr a pensar, se pensai* não é o seu forte? Para obra de arte, a qualltlatle que tlistmgue as obras de arte de todas
que liaveriain de procurar a qualiclade comum a todos os objectos as outras classes cle ohjectos.

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Pois ou lotlas as ohras de arte visual têm uma qualidatle co- ()s objectos que provocam emocão estética variam de indivíduo
mum, ou, quantlo falamos de «obras de arte››, estamos a divagar para inclivíduo. Osjuízos estéticos são, como dix o pro\-férbio, uma
st*111 nexo. 'lotla a gente fala da <<arte››, operando uma classilica(__;ão questão de gosto; e os gostos, todos o admitem com orgulho, não
mental pela qual distingue a classe (las «obras de arte» de todas as se cliscutem. Um hom crítico pode ser capar. (le me fazer ver, nun1a
outras classes. Qual é a justificação para esta classilicação? Qual é pintura que me tleixou frio, coisas em que eu não has-*ia reparado,
a qualiclatle comum e peculiar de todos os membros desta classe? até que, por lim, recebcnclo a emocão estctética, a reconheço como
Seja ela qual for, não hã tlúvida cle que se encontra frequentemen- obra de arte. Estar constantemente a indicar as partes cuja Soma,
te em companhia de outras qtlalitîlacles; mas estas São adventícias ou n*1ell*1or, cuja cotnbinação se unifica para protlu;r.ir a forma
- aquela é essencial. Tem de haver uma qualidade sem a qual não signiíicante é a função da crítica. Mas é inútil que um crítitîo me
pode l1a\-*er obra (le arte. Possuintlo-a, ainda que em grau mínimo, diga que algo é uma obra de arte; ele tem de fazer que seja eu a
nen huma obra é completamente clesprovida de valor. Que qualida- senti-lo. E so pode consegui-lo fazenclo-ine ver. Ele tem de acetler
cle é esta? Qual é a qualitlatle que é partilhada por todos os ol)_jectos às minhas emoçöes através dos mens olhos. Se não me conseguir
que pros-'ocan1 as nossas en1o(¿öes estéticas? Qual é a qualidade fazer ver algo que me emocione, não serã capa;f. de me obrigar a
que e comum a Santa Sofia e as janelas de (Îlllartres, ã escultura ter emoçöes. Não tenho o (lircito de con sitlerar que algo a que não
mexicana, a uma taç¿a persa, aos tapetes chineses, aos frescos (le consigo reagir emocionalmente é uma obra de arte. Î\le1n tenho
Giotto, em Pãdua, e ãs ol)ras-primas de Poussin, Piero della Fran- o direito de procurar a qualidade essencial em algo que não .s*f2*ri,!:Î
ces-ca e (§]éza1111e? Pare-ce-me que liã uma única resposta possível: que fosse uma obra cle arte. O crítico so potle alectar as minhas
a forma si gnif1_cante_. F.m cada um clestes ob_jectos, uma particular teorias esteticas se afectar a minha experiência estét.ica. '1"oclos os
coinbinação fle linhas e cores, certas formas e relaçöes entre formas, sistemas de estética têin cle Se basear na e:›~:pe1*iência pessoal, ou
clespertain as nossas e1r11(›çöe*.s estéticas. A estas 1"ela(__;Öes e combina- seja, têln de ser St1bLjectivos.
cöes de linhas e cores, a estas formas esteticamente estimulantes, Toclavia, embora todas as teorias estéticas tenham de se basear
chamo eu <<l*i`or1na Signilicante››; e a «l*`or1na Significante» é a única em juízos estéticos e, em última instãncia, todos osj1.1ízos estéticos
qualidatle comum a todas as olnas de arte visual. tenham de ser uma questão de gosto pessoal, seria precipitado
Neste ponto, pocler-se-a ob_jectar que estou a transformar a alirmar que nenhuma teoria estética potle ter validatle geral. Em-
estética numa questão puramente stlbjectiva, uma vez que os ineus bora A, B, C e I) sejanl as obras que me emocionam e A, 1), li e F
únicos datlos São experiências pcssoais de uma emogão particular. as obras que emocionam o leitor, potle muito bem acontecer que
Dir-se-ã que os objectos que provocam esta emocão variam de :xi seja a única qualidacle que ambos estamos convencidos de que é
i11tli\-fítltlo para in(li\›*íduo e que, por isso, um sistema de estética comum a todas as obras da sua própria lista. Podemos estar totlos
não potle ter validatle objectiva. A este reparo (leve responder- de acordo em materia de estética e, não obstante, discordar quanto
-se que qualquer sistema de estética que pretenda assentar nun1a às obras de arte particularcs, quanto ã presença ou ausência (la
K.-*erdatle ohjjectii.-*.a é tão maliilestamente ritlículo, que não merece qualitlade x. () meu objectivo imetliato sera mostrar que a forma
ser discuttitlo. Não dispomos de outro meio para reconhecer uma signilicante é a única qualidatle comum e peculiar a todas as obras
obra de arte que não seja o sentimento que c-la suscita em nós. de arte visual que me emocionam; solicito, pois, ãs pessoas cu_]a

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o t¿tt'1~; 15 .1 .-itmg? o Qt.-fis fi: .›-1 _-1.*n“.*-_??

es|.›eritÎ*1ici;t esltfftica não coincitle com a minha que veritiquetn se rombinação cle linhas e cores (contando o branco e o preto como
essa qualitlatle não sera t.:-.tn1l,)e111 comum a todas as obras que as cores) que me emociona esteticamente.
emocionam, ou se conseguem tlescobrir outra qualiclatle acerca (la O facto de não ter chamatlo a isto <<beleza›> poderã surpre-
qual se possa tlizer o mesmo. ender algumas pessoas. Estou evitlentemente tlisposto a conceder
Neste momento, surge uma itr1t.,e1'1*t›gttgãt›, de facto irrelevattte, a quem define a beleza como «uma combinagão de linhas e cores
mas que tlificilmente potle ser omitida: «Por que nos emocionamos que provoca emoção estética» o direito de substituir a minha pala-
tão pr:iluntjlanlente com formas que se relacionam entre si de um vra pela sua. Toclavia, de uma maneira geral, e por mais rigorosos
modo pa1't.it:t1lar?›› questão é muito interessante, mas irrelevante que sejatnos, tendemos a aplicar o epíteto «belo» a objectos que
para a estética. Na estcétrtitftct pura, temos de consitlerar apenas as não provocam aquela emoção peculiar protluzicla pelas obras de
nossas e111o›t_foes e o seu ob_jecto: para os propósitos (la estótica, não arte. Suspeito de que toda a gente con sitlera que uma borboleta ou
temos o tlireito, nem llã qualquer necessitlatle, (le espreitarmos uma llor são belas. Mas alguém sente por uma borboleta ou uma
para trãs (lo ol)_ject.o, para o estaclo de espírito tlaquele que o lez. llor o mesmo tipo de emoção que sente por uma catetlral ou uma
Mais tarde, tentarei responder a esta questão porque, ao fazê-lo, pintura? Aqtlilo a que cliamo emoção estética não é aquilo que a
potlelei tleset1\›'ol\l~'e1* a minha teoria da relac_¿ão da arte com a vitla. 111aioria (le nos sente, em geral, pela beleza natural. Mais adiante,
Não terei, totlaxfia, a ilusão (le estar a completar a lninha teoria (la tlelentlerei que algumas pessoas potlem, ocasionalmente, ver na
estçótica. Para uma tliscussão de estetica, apenas temos (le acorclar natureza o que eu vejo na arte, e sentir por ela uma emoção estética;
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ein que as fortnas tlispostas e tiomliinatlas (le acortîlo com cert.as mas estou convencitlo de que, por norma, a maioria clas pessoas
leis tlesconliecitlas e misteriosas nos einocionani de um modo sente pelas aves, as llores e as asas tlas borboletas uma espécie de
particular, e em qtte a tarefa do artista consiste em coinbiliã-le-1s e emoção muito tliferente (la que sente por pinturas, \-fasos, templos
dispo-las (le inotlo a emocionar-nos. A estas ct'nnl:›in.a(_,;Öes e dispo- e estãtuas. Por que razão estas coisas belas não nos emocionam en-
sigíies tîhamei eu, por comoditlatle e por outra razão que stt1*gi1't't quanto obras cle arte e outra questão, e não é uma questão estetica.
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mais tarde, <<l*`orma Significant.e>›. Para o nosso propósito imecliato, apenas temos de tlescobrir qual é a
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. E aintla temos de nos tleter numa terceira i11t.e1`1`t›gt1gã(›. «Não qualidade comum aos objectos que nos emocionam enquanto obras
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esta a esquecer-se da t:orÈ*››, pergunta alguém. É claro que não. de arte. Na última parte tleste capítulo, quando tentar responder

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(_) meu termo «forma significz-mt.e›› incluía cot11l,)i1r1at_¿Öes de linhas e
(le cores. A tlistingão entre forma e cor é irreal; não se potle conce-
ber uma linha incolor ou um espago incolor, nem se potle conceber
ã questão «Por que razão nos emocionamos tão profundamente
com certas combinaçöes de linhas e cores?››, espero propor uma
explicação aceitãvel (lo nlotivo por que nos emocionamos menos
uma relagão tle cores tlesp1*ovi(la (île formas. um tlesenlio a preto profuutlamente com outras coinbinacñes.
Il e hranco, os espacos são totlos brancos e estão todos tleliinitatlos Uma vez que chamamos «Beleza» a uma qualitlade que não
por linhas pretas; n.a maior parte das pinturas a óleo, os espagos desperta a emoção caracteristicamente estética, seria enganaclor
são nuiltitîolores, tal como os sous limites; não se potle inlaginar aplicar a mesma tlesignagïão à qttalidade que a clesperta. Para
uma linha limite sem conteútlo, nem un1 conteúdo sem uma linlia fazer da «beleza›› o objecto da emogão estetica, teríamos de dar ã
limite. Por isso, qt,1a1*1(1ltr›falo (le forma signiíicante, reliro-me a uma palavra uma tlefmição excessivamente rigorosa e pouco comum.
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'lotla a gente usa «beleza» num sentido não estético; na realidade, ti uin.a fotografia de uinajovem bonita; música bela, a música que
a maioria das pessoas costuma usa-la desse modo. excepgão (lo provoca emoçöes similares às provocatlas por jovens senhoras em
seu uso por um ou outro profissional da estética, o sentido mais Iarsas musicais; e poesia bela, a poesia que lhes recortla emoçöes
comum da palavra não é estetico. Nem preciso de considerar o itlênticas as que sentiram, vinte anos antes, pela lillia do reitor.
abuso grosseiro patente em conversas vulgares sobre «belas cagadas» lil evidente que a palavra «beleza›› é usatla para conotar objectos
e «belos t.iroteios››; qualquer purista da lingua diria que nem sequer «le emoçöes bem diferentes, e essa é uma razão que me leva a não
se trata de um abuso. Além disso, neste caso não ha qualquer risco empregar um termo que conduziria inevitavelmente a confusöes
de se confuiidir o uso estético com o não estético. Mas, quando e mal-entendidos com os meus leitores.
falamos de uma mulher bela, esse risco existe. Quando um homem Por outro lado, não tenlio qualquer especie de divergêiicia
comum fala de uma mullier bela, não quer decerto dizer que ela o coin os que consideram mais adequado chamar a estas combina-
emociona esteticamente; mas quando um artista chama bela a uma çöes e disposiçöes de formas que provocam as nossas emoçöes
mullier vellia e mirrada, pode, por vezes, estar a clizer o mesmo que estéticas, não «forma signil§icante››, mas <<1'elz1çÖes sig11il.ic;-111t.es de
quando cliama belo a um busto incompleto. O liomem comum, se forinaS››, e tentant depois aproveitar o melhor de dois mundos, o
for tambem um liomem de gosto, cliz-nnarã belo ao busto incom- estético e o metafísico, designantlo tais rela(__;Öes por <<rit.mo››. Tentlo
pleto, mas não chamarã bela ã mulher velha e mirrada, porque, em tornado claro que entendo por «forma significante» as disposiçoes
materia de mullieres, não é ã qualidade estética que essa mullier e combinaçöes que nos emocionam de um modo particular, de
possa possuir, mas a outra qualidade, que ele atribui o epíteto. De bom grado me associo aos que preferem dar um nome cliferente
facto, e de uma maneira geral, para terein einoç_îöes esteticas, as ã mesina coisa.
pessoas não recorrem aos seres liumanos, aos quais pedem outra Q A hipótese de que a forma Significante é a qualidade essencial
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Coisa muito diferente. Podemos chamar <<l)e1eza›› a essa «outra de uma obra de arte tem pelo menos um merito que é negado a
coisa››, quando a encontramos numa im1ll1er`jovem. \*"iven1os numa muitas outras, mais famosas e atraentes: ajuda a explicar as coi-
época siiiipãtica. Pana um homein vulgar, <<l)elo›› é quase sempre Todos conhecemos pinturas que suscitam o nosso interesse e
sinónimo de <<desejãve1:››. A palavra não conota necessariainente despertain a nossa admiração, mas não nos emocionam enquanto
qualquer tipo de reacção estética e sou levado a acreditar que, na obras de arte. A esta classe pertence aquilo que designo por «Pin-
i mente de muitos, o conteúdo sexual da palavra é mais forte do que tura Descrit.iva››, isto é, a pintura em que as formas são usadas, não
o estetico. Tenho reparado na coerência daqueles para quein a coisa como objectos de emoção, mas como meios de sugerir emoção
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. __¿_ mais bela do mundo é uma mullier bela, e a segunda coisa mais bela ou veicular informação. Pertencem a esta classe retratos de valor
do mundo o retrato de uma mulher bela. A confusão entre beleza psicológico e histórico, ol)ras topogrãticas, pinturas que contain
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estética e beleza sensual não é, no seu caso, tão grande quanto se llistórias e sugerem situaçöes, e toda a especie de ilustraçöes. Todos
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fi possa Supor. Talvez nem sequer haja confusão, porque talvez minca reconhecemos a distinção; todos dissemos que este ou aquele
tenham tido uma emoção estética com a qual possain confundir desenho era excelente como ilustragão, mas desprovido de valor
as outras emo(__;öes que têrn. A arte a que chamam «bela» está, em como obra (le arte. Claro que muitas pinturas descritivas possuem,
geral, estreitamente relacionada com as mulheres. Um belo quaclro entre outras qualidades, significado formal, sendo portanto oliras

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de arte; mas ha muitas mais que não o possuem. Elas interessam- lerem manuÎacturado iiiiitagîöes incrivelmente desprezíveis (las
-nos; e tambem nos podein emocionar de muitas maneiras, mas não coisas antigas, os académicos do imperador Nero tivessem regis-
nos emocionam esteticamente. De acordo com a minlia hipótese, tado, em frescos e mosaicos, os llãbittos e moclas do seu tempo,
não são obras de arte. Não alectam as nossas einoçöes estéticas, esse material, embora fosse lixo artístico, seria hoje uma inina
porque não são as suas formas, mas as ideias ou a informação su- de ouro histórica. Quein dera que tivessein sido Friths, em vez
geritlas ou veiculadas pelas suas formas, que nos afectam_ de Alina-Tademasl Todavia, a fotograiia tornou impossível uma
Poucos quatlros são mais conhecidos ou amados (lo queA Emi- trai1sirnt1t.açãtc› equivalente do lixo motlerno_ Por isso, temos de
gfiïo de P'(i.dd;i*i*i.gimi., de Frith; e eu seria a última pessoa a contestar a confessar que os quadros produzidos na tradigtão de Frith se torna-
sua popularidade. Passei muitos quarenta minutos a deslindar os ram superlluos: apenas consomem horas de traballio de homens
episódios fascinantes que o compöem, forjantlo para cada um deles válidos, que poderiam ser proveitosamente empregues em obras
um passado iriiagiiiãrio e um futuro improvãvel_ Todavia, embora mais benéficas. No entanto, não são tlesagradãveis;ja o mesmo não
Seja certo que a obra-prima de Fritli, ou reprodugöes da mesma, se pode dizer (laquele tipo de pintura clescritiva de que 0 il/ítíttl*itfii
proporcionaram a milliares de pessoas muitas meias lioras de um é o exemplo mais llagrante_ É claro qtie O .tl-iftírlititfti não e uma obra
prazer intrigaclo e fantasista, não é menos certo que iiingi_1é1i1 de arte. Nele, a forma não e usada como objecto de eiiitigãti, mas
experimentou frente a ela meio Segundo que fosse de êxt.aSe esté- como meio de sugerir emocöes. Basta isto para tornã-la vã; e mais
tico, e isto não olistante o quadro conter helas passagens de cor, do que vã, porque a emoção que sugere é falsa. O que ela sugere
e não estar mesmo nacla mal pintado. A E.s[a¿f(îr› ale PfzialdzÎnigtr›i*i*i. não não é piedade e admira(_¿ão, mas um sentiinento deicomplacência

é uma obra de arte; e um documento interessante e divertido, no com a nossa própria conipaixão e generosidade. E sentimental.
I

qual linlia e cor São usadas para contar liistorietas, sugerir ideias e ›

I
A arte estã acima da moral, ou mellior, toda a arte e moral, porque,
apontar os liãbitos e costumes de uma época, e não para provocar I
como espero n'1oStrar_jã a seguir, as obras de arte são meios de
I

enioção estética_ As formas e as relacöes entre formas não eram, acesso imediato ao bem. Quandojulgainos uma coisa como obra de
I

para Frith, objectos de emocão, mas meios para sugerir emogão e arte, atribuímos-lhe a maior importãncia ética e colocamo-la fora
transmitir ideias. do alcance do moralista. Contudo, os quatlros descritivos que não
As ideias e a informação transmitidas por A l5.s*m_ç('Z0 de Pad- são obras de arte, e que, por isso, não são necessariamente meios
ri*iÎ*iig'tfm são tão divertidas e tão bem apresentadas, que o quadro de acesso a bons estados de espírito, devem ser estudados pela
tem um valor considerãvel e bem merece ser preservado_ Todavia, ética. Não senclo uma obra de arte, O il.dtï(1*it.'t› não tem nenlium do
a perleigão dos processos fotog1*ã{icos e do cinema esta a tornar imenso valor ético que possuem todos os objectos que provocain
supértluo este tipo de quadros. Quem duvida de que um fotógrafo arrebatamento estético, e o estado de espírito para o qual e meio,
do Da..iÎl§i› Il/IriÎrrt,›*ir', em colaboragão com um reporter do DazÎly Mail, na sua qualidade de ilust.ra<_;ão, parece-me iimlesejãvel.
nos possa contiar muito mais acerca do «Dia-a-dia de Londres» As obras (lessesjovens ariojados que são os futuristas italianos
do que qualquer membro da Royal Academy? De futuro, serão as são exemplos notãveis de pintura clescritiva_ 'lal como os meinhros
fot.ogralias, apoiadas por peças de jornalismo brilhante, e não a da Royal Aczttleiiiy, eles usam a forma, não para provocar eiiiocöes
4 -1--=.:- pinttira descritiva, a relatar-nos liãbitos e modas. Se, em vez de estéticas, mas para transmitir iiiforinagão e ideias. Na realidatle, as

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o t¿t.-fs* 15 si if-1? o ç¿t.i'f>; iá* .t _-un

teorias dos Futuristas provam que os seus quadros não têm absolu- cep(_¿Öes são raras. Por norma, a arte primitiva é boa- e, neste caso,
tainente nada que ver com a arte. As suas teorias sociais e políticas a rninha hipótese volta a ser útil _, porque, também por norma,
são 1'espeit.ãveis, in_as eu gostaria de sugerir aos jovens pintores está isenta de qualidades descritivas. Na arte primitiva, não desco-
italianos que e possível ser futurista em pensamento e acção, sem brimos uma ligt1i“z-ticãti rigorosa, mas apenas a forma sigi'1ifica1;1te_
deixar de ser artista, se a pessoa tiver a sorte de possuir o adequado No entanto, nenhuma arte nos emociona tão profilndainente_ Quer
talento. Associar a arte ã política é sempre um erro. As pinturas consideremos a escultura sumeria ou a arte egípcia pré-ditriãsttica,
futuristas são descritivas, porque visam apresentar, em linhas e co- a arte grega arcaica, as olturas-primas de Wt*i e 'l"ang', ou aquelas
res, o caos da mente miin inomento particular; as suas formas não obrasjaponesas atitigt-ts de que tive a sorte de ver al guns exeinplares
tem a intencão de proinover a einocão estética, mas de transmitir soberbos (espccialmente dois l_)odl1isattvaS de madeira) na I*Îxposi<__;ão
i1ifo1`inat_tão. E (liga-se de passagem que, qualquer que seja a natu- de Shepherd Bush, em 1910, quer consideremos, mais perto de nos,
reza das ideias que sugerem, estas formas são, em si, tudo menos a arte l)iz.antina primit.iv'a do sectllo VI e os sens desenvtilviinentos
revolucionãrias. Nas pinturas futuristas que tenlio visto ~ talvez primitivos entre os bãrbaros ocidentais, ou, um pouco mais longe,
ã extîepcïtti de alguinas obras de Severini -Q, sempre que se torna aquela misteriosa e majestosa arte que lloresceu 11aA11ierica (Ientral
tiguralivo, como frequentemente acontece, o desenlio inscreve-se e do Sul antes (la cliegada do homem branco, observamos em todos
naquela ct›11veiic:ãt“› agradãvel e vulgar que Besnard pos na moda estes casos très características comuns: ausiîrncia de figu1'a<_¿ão, atlseii-
liã cerca de trinta anos, e que os estudantes de Belas Artes tanto cia de exibicionismo tecnico, forma sublimernente im pressionante. E
gostain de e:~:i|.iir. linquanto obras de arte, as pinturas futuristas taii1l')ei'i1 não é tlifícil tlestîobrii* a conexão entre as trê*s. () sigiiificatlo
*I-r iq,-~¢- '_ '-Î
são irrelevantes; mas não é enquanto obras de arte que devem ser formal perde-se quando hã pret›ttt.tpac.ão com a tigt11r':agãt:› exacta e
avaliadas. Lima pintura futurista de qualidade e uma observação a ct›1i1petûi1cia ostensiva.`*"
psicolúgica de qualidade, revelando, por meio de linlias e cores, as
coniplexidades de um estado mental cligno de interesse. () possível
1 A t.*xistt"?ntîia de låu K`ai-t'l1il1 torna claro que a arte tleste período (sûrs. 1'
fracasso das pinturas futuristas deve ser explicado, não ein termos a \'|u) era um n1ovi1nt*nto priinitivo típit'o_ l)izt*rqt1e.a arte grantliosa, vital, das
da ausência de qualidades artísticas, que nunca lhes competiu pos- (linastias Liang, (Ihen, Wei e 'lang (r um desenvolvimento da arte extrenlamente
suir, mas das mentes cujos estados pretendem revelar_ reliiiatla ejã c's;_,›'t›tatlz1 da tlccatltÎ'nt"i;-t Han - da qu:-tl Ku l{`ai-chili seria tim e
A maioria das pessoas que se interessam por arte veritica que delicado lierdeiro retardatlo - É o mesiiio que dizer que a escultura romãnica
a maior parte das obras que mais as emociona pertence ao grupo é um desenvolvimento de l**raxíteles. Entre os dois, acoiiteceu qualquer coisa que
a que os estudiosos chamam <-=primitivo››. certo que hã primitivos revitalizou o curso da arte. () que acontcceti na (Iliina foi a revolucão espiritual
e emotional que se seguiu ã int.rotli1t_;ãt'› do Budismo_
de mã qualidade. Por exemplo, recordo-me de ter ido ver, clieio
“O que não quer dizer que a ligt11*acïti›t*xat'tt1 seja mã em si. lil indiferente_
de entusiasmo, uma das mais antigas igrejas romå`tnicas de Poitiers
LÎma forma perfeitamente represeutatla pode ser sigiiifict-line, mas é fatal sacrilicar
(Notre-Dame-la-Grande), e de a ter acliado tão desproporcionada, o significado a ligtm-tcã<›. A coutroversia entre signiIic.atlo e ilusão parece ser tão
estîessivaineiite decorada, tosca, bojuda e pesada como os edifícios antiga quanto a propria arte e teiilio poucas dúvidas de que o que torna a maior
tlas classes altas de um desses arquitectos altamente civilizados que parte da arte paleolíticz-1 tão mã (1 a p|'e<›t'tipac;-`tt_i com a ligt1i'zt(¿ãt'› esac1a_ lfividen-
llorescerain mil anos antes ou oitocentos anos depuis. Mas tais ex- temenle, os desenhadores paleolíticos não tinham consciencia do sigiiiiicado da

ÎÊH 391
?

o Qi.«'1~: ii' .-1 _-:RTI-3?


i 0 Qt..-vs i-I" A _.~1iri'1-_?

Naturalmente, diz-se que, se liã pouca figura(__,îã0 e menos ser ou não prekjndiciais, mas são sempre irrelevantes que, para
momices na arte primitiva, é porque os primitivos não eram capa'/.es apreciarmos uma obra de arte, não necessitamos de levar con-
de apreender semelhanças ou de fazer piruetas intelectuais. A alir- nosco nenlium elemento da vida, nenlium conliecimento das snas
iiriagão é despropositada. Hã nela alguma verdade, sem dúvida, mas ideias on questöes, nenhuma familiaridade com as suas eniocöes.
se eu fosse um crítico cuja reptitação dependesse da capacidade de A arte transporta-nos do mundo da actividade do liomem para
impressionar o público corn uma aparência de conhecimento, seria nm mundo de exaltação est.ética. Por momentos, esquecemos
1n_ais cauteloso com a sua divulgação. Porque supor que os mestres os interesses llumanos; as nossas expectativas e memórias ficam
bizantinos eram incompetentes on que não eram capazes de criar suspensas, somos elevados acima do lluxo da vida. (_) inatemãtico
uma ilusão visual se tivessem desejado fazê-lo, parece pressnpor pnro, absorvido nos sens estndos, conliece um estado mental que
ignorãncia acerca do realismo espantosamente competente das presumo que seja semelhante, se não mesnio idêntico. As suas
-'mÎ._l _ obras notoriamente mas dessa época_ Na minlia opinião, a ausência especulaçöes suscitam nele uma emoção que não resnlta de uma
|
'-
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de capacidade figurativa dos primitivos (leve ser atribuída ãquilo a relagão perceptível entre elas e a vida dos liomens, mas brota,
que os críticos clramam <<tlistt›i,*(¿ãt_› propositacla››. Seja como for, o imunana ou sobre-linmana, do coracão de uma ciência abstracta
i
caso é que, quer por falta de ttoiiipetfî-iiciap, quer por falta de vontade, Intei*ro,<_,§o-1*1*1e, por vezes, sobre se os apreciadores da arte e os .apre-
iii
.I os primitivos não criaram ilnsöes visnais nem exibiram execucôes ciadores das soluçöes mate1nãt_icas não estarão ainda mais estreita-
extravagantes, mas concentraram as suas energias na única coisa mente relaciona(.los. Antes de sentirmos uma eino<_¿ão estética por
iiidispensãvelz a criacão da forma. Assiin, criaram as obras de arte tnna coinbiiiação de formas, não percebereinos intelectnalinente
mais perfeitas que possuímos. a correcção e a necessidade da combinação? Se percebemos, isso
i Que ningnem iinagiiie que a ligi,11*.ac¿ão e mã em si; uma explicaria por que motivo, passando rapidamente por uma sala.,
reconhecemos uma pintura de boa qualidade, embora não pos-
forma realista pode ser tão Significante, no seu ltigar, enqnanto
parte da composigão, quanto uma forma ali)stract.a. Todavia, se samos dizer que tenha provocado em nos uma grande e1nogão_

l a forma fignrativa tiver algum valor e como forma, e não como


li guração. Os elementos figurativos de uma obra de arte podem
como se reconhecêssemos intelectualmente a correcção das snas
formas, sem fixarmos a atengão e recollierinos, por assim dizer,
o seu significado emocional. Se assim for, é admissível perguntar
se o que causou a e1i'1ocfãt› estetica foram as proprias formas, ou a
l" forma. sua arte assenielha-se ã dos mais competentes e sinceros meinbros da
Roval Ati;-ttleiiiv: e um pouco melhor que a de Sir Hdi-vartl Povnter e um pouco nossa percepção da sua co1*1*ec<_¿ão e necessidade. Mas não parece
pior que a do falecido I.ortl Leiglitoii. Que isto não e um paradoxo, testemn- que me deva alongar nesta discussão. 'fenho estado a investigar
nham-no os desenlios das grutas de Altamira ou obras como os esbogos de cavalos por que razão certas combinacöes de forinas nos emocionarn; não
encontrados em Bruniquel, e que se encontrain actualmente no Î\-*'lnseu Britãnico. teria percorrido ontras vias se tivesse pergnntado, antes, por que
Se a calieca ein marlini de tuna_jovein descoberta na Grotte du Pape, em Bras-
razão certas c(r›1;i1biiizt<_¿<"›es são percepcionadas como correctas e
scnipouj,-' (lvluseii St.. (šerinain), e o bnsto de marfiin descoberto no mesino local
neccssãrias e por que motivo a nossa percepção da sua co1*retî<¿ão
({1olt-t't_'ão St. Cric) forem, de facto, paleolíticos, então liouve artistas paleolíticos
e necessidade provoca emo<_;ão. () que tenho a dizer e isto: o
tlc boa qnalidade, que criaram formas, em vez de as imita1*e1n_ A arte neolítica e,
eviilcnltiiiieiilae, outra questão. filósofo arrebatado, e a pessoa que contempla uma obra de arte,

: 40 -11
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o Q 1-I' .4 .-t1o'f*:? U QI.-"I;` If .*I _*lH'.*".'*.`.)

haliitam um mundo detentor de um intenso e singular significado mais do que uma emoção estetica reduzida tentarã potenciar a sua
proprio. lisse signilicado não esta relacionado com o si_gi1ilit:z.ttîlo fraqueza sugerindo as enioçöes da vida. Para evocar as eiiitcigoes
da vida. Nesse mundo, não ha ltigar para as einogöes da vida. da vida, tem de ser figurativo. Assim, pode pintar uma e_*.~<:ecu<¿ao;

i É um mundo com eiriiogöes próprias.


-_

se falliar o primeiro tiro, o da forma signilicante, tema atïe1*tai*


Para apreciarmos uma obra de arte, apenas necessitamos de com o Segundo, (lespertando uma emocão de medo ou compat-
levar comi'osco nm sentido de forma e de cor e um conhecimento xão. 'l`odavia, se, no artista, nina i11cliiiat___îãt› para se aproveitar das
I_
do espaco tri-dimensional. Esse conliecimento, admito-o, e essen- e1i1<*›(¿<*')es (la vida é muitas vezes sinal de uma 1iisp1i*;-tgîtiti pouco
i
cial para a apreciacão de muitas obras iiotãveis, porque muitas das consistente, no espectador, uma tendência para procurar, por
È I

formas mais emotivasjamais criadas são em trôs dimensöes. Ver trãs da forma, as eiiiocfies da vida e sempre um smal de l alta de
il um cnbo on um rombóide como nm desenho plano é diininuir o
1
sensibilidade. Significa que as snas einocñes esteticas sao fracas,
|
sen Significado e um sentido do espaç__îo tridimensional e essencial ou pelo menos imperfeitas. Perante uma obra de`arte, as pessoas
_'í_-I
para a plena apictfiagão da maioria das formas arquitectónicas. que sentem ponca ou nenlinma einogão com a lorina pura sen-
Pintnras que seriam ii1sigi*iilicî;1iit.es, se as víssemos como padröes tem-se perdidas_ São como surdos num concerto. Sahem que estao
biditnensioiiaiS, pi*t*ivt›tfaii1 einot_'öes profundas, porque de facto as na presenca de algo grandiose, mas falta-llies capacttlade para
il
vemos como planos relacionados. Se a representa(¿ão do espaço api*ee11cle-lo. Sabein que deviam sentir uma treiiieiida eniocao,
ti"idimensional é designada por <<l'igti1“¿s1cã(››*›, então concordo que 11;-1 mas acontece que llies e mnito difícil, ou inesnio impossivel, .sentir
uma especie de figtiragão que não e irrelevante. 'lainbem concordo a especie particular de einocão que aquela obra pode snscitar. 1*.
que,_juntamente com o nosso sentimento da linlia e da cor, temos assim, projectam nas forinas da obra os lactos e as ideias pelos
de levar connosco um conhecimento do espaco, se quisermos tirar quais são capazes de sentir emocão e sentem por elas as emog_îoes
o mellior part.ido de toda a espécie de formas_ Não obstante, liã que são capazes de sentir - as ei11t.icot%s vulgaresda vida. Quan-
cti11ligt1i";1coes 1i'i;s,1gi1ífitî;1s para cuja apreciagão não é necessãrio do confrontados com uma pintura, relacionam 1nstintivameiite
este conhecimento: assim, embora cle não seja irrelevante para a as suas formas com o mundo do qual provêm. Tralalll il Î0`l`111i*1
A4 4 1

i
apreciação de algumas obras de arte, não e essencial para apreciação criada como se fosse forma imitada, uma pintura como se losse
t.
de todas elas. ()n seja, a ligtiracão do espaco tridiniensional nem é uma fotogralia. Em vez de entrarem, pelo caniinho da arte, no
irrelevante, nem essencial, a toda a arte, e todas as outras espécies mundo novo da experiência estetica, fazem meta volta e regressaiii
de figura(_;ão são irrelevailtes. a casa, ao mundo dos interesses l1umanos_ P.ara eles, o srgnilicado
Não é minimamente surpreendente que liaja elementos de uma obra de arte depende do significado que nela lilvcslfilll;
il li_s_,ft1rativos ou descritivos irrelevantes em muitas obras de arte de nada de novo se acrescenta as suas vidas; o único efeito da obra
e:~;t'elei1t,e qualidade. Noutra ocasião, tentarei mostrar por qué. de arte é agitar um pouco o materialjã conliecido. Uma boa obra
A ligura<_¿ão não 6 neccssariamente nociva e formas altamente de arte visual leva uma pessoa que Saiba apreciã-la da vitla ao
realistas podem ser extreinamente significaiites. E contndo muito extase. Usar a arte como meio de aceder as emoçöes da vida 1'* o
*i frequente a Iigtiiïtgãtti ser nm sinal de fraqneza num artista. Um mesmo que usar um telescópio para ler o._jt›riial. Note-se que as
pintor sem energía suficiente para criar formas que provoquent pessoas incapazes de sentir etiiocîöes estéticas puras se rt*t*tn*tlain

4*) 45

l
*Î--_

o Qt..-*.r. .-1 .=t1ri'f.'?

das pinturas pelo tema; ao passo que as que são capazes de sentir
essas emocöes têm frequentemente dificuldade em recordar o
2. A ATITUDE ESTÉTICA
_]t:Rtn«it~1 S'ro1.i\1'rz
tema de um quadro. Nunca repararain no elemento figurativo,
e, portanto, quando discutem as pinturas, falam do contorno (glas
formas, das relacöes e da intensidade das cores. Muitas vezes, a
qnalidade de uma única pincelada permite-llies perceber se um
artista tem ou não qualidade_ Só lhes interessam as linhas e as
cores, as Suas relaçöes, intensidade e qualidades; mas têm com
elas uma emogão mais profunda e innito mais sublime do que
poderiam t.er com a descrigião de factos e ideias.
A I*`(.)1*€.-'l-I..-'l (.`()M() 1*`1íR (.`IÎP('.`I (_).-'\-"_-fl M (JS O _-'l-*I t .-*'i'\-"1')()

percepgão estética sera e>q)licatila em termos da ri.t*íti.i.r1e


estética.
_-.m.__

ll

i.i a atitude que tomamos que determina a forma como


percepcionamos o mundo. Uma atitude é uma maneira de dirigir
i e controlar a nossa percepgão. l\'unca vemos nem ouviinos, in-
I
|I discriminadamente, tudo aquilo que constitui o nosso ambiente.
Pelo contrario, «prestainos atenção» a algumas coisas, ao passo
que apreendemos ontras apenas de maneira vaga ou quase nula.
Portanto, a atencão é .sel¿*tftiii›fi. _ concentra-se em alguns aspectos
do que nos rodeia e ignora outros. Uma vez que reconliecamos
este facto, compreendeinos a inadequação da vellia noção de que
l; os seres humanos são receptores t.otalmei1te passivos de todo e
F-I' qualquer estímulo externo. Além disso, aquilo a que prestamos
I
|
atc*nc_îão é ditado pelas finalidades que temos em cada moniento. As
nossas acgöes são geralmente dirigidas a nm ob_jectivo. Para atingir
iii 0 seu objectivo, o organismo observa com interesse, informando-se
Îli
sobre o que, no ambiente, poderã ajudã-lo e o que poderã prejn-
dicã-lo. Obviainente, quando os indivíduos têin fins diferentes,

_]erome Stolnitz, _---*"l:f.s!Îitfti'c.s (taff I'lH'ilr›.s'r›jJ›'2jif ri/}-*î'rt ('.`*i*'it*ttrí..sii:_* (.`i'iti'f.*r.tf I*ii:'.i*'tirt'iir-


tion, Houghton Milllin, Boston, Mass., 1É)ti0_, pp. E32-42

* 44 -ts

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