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LITERATURA INFANTOJUVENIL

DOCENTE: ECRISLÂNIA SOTERO


ALUNO(A):_____________________________________________

2021.2
EMENTA
 Leitura: natureza e funções. Leitor: motivação e interesse de leitura.
 Texto literário e não literário.
 Gêneros literários.
 Origem e caracterização do texto infantojuvenil.
 Elementos estruturais da narrativa.

OBJETIVOS GERAIS
 Desenvolver capacidade para utilizar a linguagem como instrumento de aprendizagem
e fazer uso de informações contidas nos textos para o exercício consciente da
cidadania.
 Produzir textos escritos coesos e coerentes, considerando o leitor e o objeto da
mensagem, identificando o gênero e o suporte que melhor atendem à intenção
comunicativa.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Reconhecer que a vida social contemporânea exige que todos desenvolvam


habilidades comunicativas que possibilitem a interação participativa e crítica no mundo
de forma que possam intervir na dinâmica social.
 Aprimorar, pelo contato com os textos literários, a capacidade de pensamento crítico
e a sensibilidade estática, bem como propiciar pela literatura a constituição de um
espaço dialógico que permita a expansão lúdica da oralidade, da leitura e da escrita.
 Reconhecer a importante contribuição da Literatura Infantil para o processo de leitura
e escrita.
 Listar sugestões para trabalhar com gêneros na prática, a partir da leitura e apreciação
de textos literários.

CONTEÚDOS

1. O que é Literatura Infantil


1.1 Literatura Infantil: Definição
1.2 A literatura infanto-juvenil no Brasil
1.3 A linguagem no livro infantil
1.4 Linguagem literária e linguagem não literária

2 Educação e literatura
2.1 gosto pela leitura
2.2 o que é ler
2.3 por que ler
2.4 liberdade e transformação
2.5 leitura e conscientização
3 Gêneros literários
3.1 Conceituação
3.2 Gêneros: narrativo, dramático, lírico

4. Contos de Fada na Educação Infantil: a necessidade de magia da criança.


4.1 Fantasia versus realidade
4.2 Fantasia, recuperação, escape e consolo.
4.3 O valor educacional dos contos de fada.
Literatura Infantil

A literatura infantil é um gênero literário definido pelo público a que se destina.


Certos textos são considerados pelos adultos como sendo próprios à leitura pela
criança e é, a partir desse juízo, que recebem a definição de gênero e passam a
ocupar determinado lugar entre os demais livros.

Portanto, o que é classificado como literatura infantil não independe da


concepção que a sociedade tem da criança e de seu entendimento do que seja
infância. Mas os dois conceitos são instáveis, uma vez que variam em diferentes
épocas e culturas. Vários teóricos, entre eles Peter Hunt, estabeleceram uma
característica distintiva a partir da qual se pode conceituar o que é literatura infantil: o
livro para crianças pode ser definido a partir do leitor implícito - isto é, a partir do tipo
de leitor que o texto prevê. Os principais traços do leitor implícito do texto infantil são:
um leitor em formação e com vivências limitadas por força da idade.

Sendo assim, o texto deve ser adequado à competência linguística da criança


para ler os signos, assim como às suas experiências de vida. Elas podem permitir, ou
não, que o texto produza certos sentidos no leitor. Há, ainda, uma terceira
competência: a competência textual, da qual depende a relação entre texto e leitor
que efetiva a leitura. Exemplo: um livro com muitas páginas, letras miúdas, pouco
espaçamento, ausência de ilustração requer do leitor maturidade (competência) que
uma criança pequena não tem.

Um livro de literatura infantil, portanto, constitui uma forma de comunicação que


prevê a faixa etária do possível leitor, atende aos seus interesses e respeita as suas
possibilidades. A estrutura e o estilo das linguagens verbais e visuais procuram
adequar-se às experiências da criança. Os temas são apresentados de modo a
corresponder às expectativas dos pequenos e, ao mesmo tempo, superá-las,
mostrando algo novo. A literatura infantil apresenta diversas modalidades de
processos verbais e visuais. As melhores obras são aquelas que respeitam seu
público, permitindo ao leitor infantil possibilidades amplas de dar sentido ao que lê.

A mediação do professor é decisiva na relação que a criança irá estabelecer


com a literatura infantil, pois a ele cabe escolher o livro, promover sua leitura e
conversar a respeito na sala de aula. Também será tarefa sua ensinar a criança a
manipular o livro como objeto e descobrir nele o que só com a visão e a manipulação
é possível descobrir.

É desejável que o livro ingresse na sala, nos primeiros anos, como um


brinquedo e uma aventura com as palavras, que desperte a curiosidade dos pequenos
e os estimule a pensar. Que as crianças mergulhem no livro e dele possam emergir
como quem encontrou inesperadas maravilhas no fundo do lago. Ou ao cair na toca
do coelho.
A literatura Infantojuvenil no Brasil

A origem do gênero infantojuvenil começa a se delinear na passagem entre


os séculos XVII e XVIII quando a criança passa ser considerada em suas
especificidades e suas diferenças em relação aos adultos. A princípio, e durante
muitos anos, a literatura se apresenta como conteúdo adulto, deixando de notar a
riqueza criativa que habita as experiências da infância.
O final do século XVIII, alguns escritores mudam o rumo das estórias infantis
e juvenis. A realidade da criança passa a ser retratada considerando a sua
simbologia, sua afetividade, sua psicologia e o seu desenvolvimento cognitivo. Tudo
isso por meio da linguagem literária, que permite à criança e ao jovem ver o seu
universo sendo mimetizado lúdica e artisticamente.

O século XIX marca a consolidação da literatura infantojuvenil no mundo. No


Brasil, o gênero desponta no final desse mesmo século com a contribuição de
autores como Júlia Lopes de Almeida, Sílvio Romero e Câmara Cascudo. A maior
parte dos textos desses autores é resultado de traduções de clássicos infantis
europeus ou compilações de histórias do folclore nacional.

Com relação aos contos europeus, os irmãos Jacob e Wilhem – estudiosos e


poetas alemães -, são os principais organizadores das fábulas infantis que ainda hoje
fazem sucesso com o público infantojuvenil, para citar
algumas: Rapunzel, Chapeuzinho Vermelho, Branca de Neve e os Sete Anões. A
partir do material registrado pelos irmãos Grimm, muitos autores atualizam e recriam
as narrativas clássicas para diversas linguagens artísticas: cinema, seriado, teatro,
entre outras.

No tocante à lenda e ao folclore nacional, surgem histórias como:


Saci, Curupira, Lobisomen, Iara, Mula sem Cabeça, Boto, Vitória Régia, entre outros.
Essas narrativas são retomadas como exemplo de brasilidade durante
o Modernismo, assim como fez Mário de Andrade em sua obra Macunaíma,
evidenciando que a literatura infantojuvenil também é traço fundamental na
construção da identidade cultural brasileira.

Nas mãos do consagrado escritor Monteiro Lobato, a literatura infantojuvenil


brasileira adquire nova roupagem. Lobato entende que há a necessidade de
renovação dos contos tradicionais em todos os seus aspectos: a linguagem precisa
ser mais espontânea, assim como as crianças e jovens são; os cenários precisam
refletir a diversão que permeia o imaginário durante a infância; os personagens são
mais fantasiosos, embora muitos deles mantenham momentos de discursos mais
críticos, e os temas devem contemplar o caráter ficcional.

A primeira obra de Monteiro Lobato que atinge grande divulgação é Narizinho


Arrebitado e, além da Narizinho, inúmeros outros personagens ainda permeiam o
imaginário infantil nacional: Pedrinho, Cuca, Emília, Dona Benta, Tia Nastácia,
Visconde de Sabugosa e toda a turma do famoso Sítio do Pica-Pau Amarelo.
Como afirma Marisa Lajolo, grande estudiosa do gênero, as crianças e os
jovens devem ser educados para a literatura e não pela literatura. Assim como a
produção adulta, a produção infantojuvenil deve ser considerada em sua máxima
potência artística.

A linguagem no livro infantil

O livro infantil possui características estéticas que envolvem a literatura de


uma forma geral e, ainda que seja peculiarmente definido pelo destinatário, a obra
infantil pode levar o leitor a uma abrangente compreensão de sua existência.

Nessa perspectiva, pode-se afirmar que em qualquer possibilidade de


delimitar o conceito de literatura infantil existirá o parâmetro de identificação do leitor
com o texto que manuseia.

No entanto, sabemos que embora o texto seja consumido pela criança, é o


adulto que elabora a obra. Mesmo que não seja o público alvo, como o livro Robinson
Crusoé, de Daniel Defoe, ao longo dos tempos, algumas histórias para adultos
cativam o público infantil.

Na literatura brasileira, foi Monteiro Lobato o primeiro autor que deu voz às
crianças por meio dos personagens, com a preocupação de ressaltar características
infantis como curiosidade, criatividade, teimosia e imaginação. E fez compreender
que não basta apenas falar sobre a criança, mas que é preciso ver o mundo através
dos seus olhos, ajudando-a a ampliar esse olhar nas mais variadas direções.

As linguagens simples, cotidianas, com frases curtas e com uso de recursos


como a onomatopeia, divertem o leitor infantil e chamam sua atenção. É possível
dizer que essas estratégias de adaptação são necessárias para adequar a situação
da história ao sujeito que vai vivenciá-la, ou seja, para colocar a criança em sintonia
com o texto.

O psicólogo russo Liev Vygotsky revelou que o diálogo facilita o


desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da atenção por meio da interação
social. Vygotsky acentuou ainda que palavra e ação estão completamente fundidas
para a criança. Assim, ao arranjar a sequência de palavras, ela organiza o mundo
para si e toma consciência do que sabe, pensa e sente.

Na corrente construtivista, o suíço Jean Piaget, em suas concepções, buscava


fatores universais do desenvolvimento humano para as suas teorias. No livro “A
representação do mundo real da criança”, de 1973, Jean Piaget explorou as
explicações da infância para o funcionamento do universo - um exemplo, quando
alguém pergunta a um aluno da pré-escola o que é um ser vivo. A reposta pode ser
tudo o que se move ou caminha por conta própria. Portanto, na mente de uma
criança, o vento pode ser uma coisa viva e não simplesmente um fenômeno da
natureza.

O pensamento da criança e as histórias a ela dirigidas também podem ser


representados por meio da observação do desenho. Segundo Piaget, até
aproximadamente sete anos de idade, a criança pensa e vê o mundo do mesmo
modo que desenha. Os educadores que ministram aulas para crianças até essa faixa
etária podem ter familiaridade com essa afirmação.

Na área da literatura, através da ilustração, também é possível compreender


aspectos importantes do desenvolvimento infantil. O livro “O pequeno príncipe”, de
Saint-Exupéry, mostra a oposição entre o realismo intelectual e o realismo visual
quando o narrador-criança expressa perplexidade aos adultos que pensaram que o
desenho mais importante da sua vida – uma jiboia comendo um elefante – fosse
apenas um chapéu.

Essa estreita ligação entre obra e leitor deve incitar os educadores a fazerem
um esforço para compreender o desenvolvimento e a aprendizagem, para que a
criança possa se tornar um leitor competente.

Em tempo, é importante ressaltar que a mesma lógica que a criança utiliza na


linguagem está presente no desenho. E que estímulos e recursos são importantes
para que ela possa se desenvolver, alimentar seus pensamentos, sua imaginação e
compreender a realidade com a possibilidade de desdobramento de suas
capacidades afetivas e intelectuais.

Linguagem literária e linguagem não literária

Existem significativas diferenças entre linguagem literária e linguagem não


literária. Compreender cada uma delas é essencial para o entendimento dos diversos
tipos de texto.

Os textos podem ser divididos conforme a linguagem escolhida para a


construção do discurso. São dois grandes grupos, que privilegiam a linguagem
literária e a linguagem não literária. Apesar de os textos literários e não literários
apresentarem pontos convergentes em sua elaboração, existem alguns aspectos
que tornam possível a diferenciação entre eles. Saber identificá-los e reconhecê-los
conforme o tipo de linguagem adotado é fundamental para a compreensão dos
diversos gêneros textuais aos quais estamos expostos no nosso dia a dia.

Nessa questão, não existe uma linguagem que seja superior à outra: ambas
são importantes e estão representadas pelos incontáveis gêneros textuais. As
diferenças nos tipos de linguagem estão ancoradas pela necessidade de adequação
do discurso, pois para cada situação escolhemos a maneira mais apropriada para
elaborar um texto. Se a intenção é comunicar ou informar, certamente adotaremos
recursos de linguagem que privilegiem o perfeito entendimento da mensagem,
evitando assim entraves linguísticos que possam dificultar o acesso às informações.
Se a intenção é privilegiar a arte, através da escrita de poemas, contos ou crônicas,
estarão à nossa disposição recursos linguísticos adequados para esse fim, tais como
o uso da conotação, das figuras de linguagem, entre outros elementos que confiram
ao texto um valor estético. Dessa maneira, confira as principais diferenças entre a
linguagem literária e a linguagem não literária:

Linguagem literária: pode ser encontrada na prosa, em narrativas de ficção,


na crônica, no conto, na novela, no romance e também em verso, no caso dos
poemas. Apresenta características como a variabilidade, a complexidade, a
conotação, a multissignificação e a liberdade de criação. A Literatura deve ser
compreendida como arte e, como tal, não possui compromisso com a objetividade e
com a transparência na emissão de ideias. A linguagem literária faz da linguagem
um objeto estético, e não meramente linguístico, ao qual podemos inferir significados
de acordo com nossas singularidades e perspectivas. É comum na linguagem
literária o emprego da conotação, de figuras de linguagem e figuras de construção,
além da subversão à gramática normativa.

Linguagem não literária: pode ser encontrada em notícias, artigos


jornalísticos, textos didáticos, verbetes de dicionários e enciclopédias, propagandas
publicitárias, textos científicos, receitas culinárias, manuais, entre outros gêneros
textuais que privilegiem o emprego de uma linguagem objetiva, clara e concisa.
Considerados esses aspectos, a informação será repassada de maneira a evitar
possíveis entraves para a compreensão da mensagem. No discurso não literário, as
convenções prescritas na gramática normativa são adotadas.

A linguagem nada mais é do que a expressão do pensamento por meio de


palavras, sinais visuais ou fonéticos, através dos quais conseguimos estabelecer a
comunicação. Compreender os aspectos presentes em cada uma das linguagens é
fundamental para a melhor compreensão dos diferentes tipos de discurso que
produzimos e aos quais estamos expostos em diferentes situações comunicacionais.

Educação e literatura

Paulo Freire, falando sobre leitura diz: “A leitura do mundo precede a leitura
da palavra […] A velha casa, seus quartos, seu corredor, seu sótão, seu terraço – O
sítio das avencas de minha mãe, o quintal amplo em que se achava, tudo isso foi
meu primeiro mundo. Nele engatinhei, balbuciei, de pé, andei, falei. Na verdade
aquele mundo especial se dava a mim como o mundo de minha atividade perceptiva,
por isso mesmo como o mundo de minhas primeiras leituras. Os ‘textos’, as ‘palavras’
as ‘letras’, daquele contexto […] e encarnavam numa série de coisas, de objetos de
sinais, cuja compreensão eu ia aprendendo no meu trato com eles, nas minhas
relações com meus irmão mais velhos e com meus pais […]. A decifração da palavra
fluía naturalmente da ‘leitura’ do mundo particular […]. Fui alfabetizado no chão do
quintal de minha casa, à sombra das mangueiras, com palavras do meu mundo e
não do mundo maior dos meus pais. O chão foi meu quadro negro; gravetos o meu
‘giz’”.

Comumente se acredita que ler é a habilidade de interpretar os sinais gráficos


convencionados da língua falada. Mas não é apenas isso. Mais do que interpretar,
ler é compreender a mensagem que estes sinais nos transmitem. Moacir Gadotti diz:
“ler é ver o que está escrito, interpretar por meio da leitura, decifrar, compreender o
que está escondido por um sinal exterior, descobrir, tomar conhecimento do texto da
leitura. Todas estas definições, finalmente, implicam na existência de um leitor, de
um código e de um autor”.

Se for parar para pensar, vemos que o mundo lê desde o momento em que
abre os olhos, de manhã. O relógio diz se é tarde ou é se cedo para os compromissos
do dia. Pela cara do tempo a gente pode avaliar se o dia vai ser de tempo bom ou
se vai ser preciso agasalho. Tudo isso é leitura, e prosseguimos lendo o dia inteiro,
a vida inteira, sem nos darmos conta. E da realidade cotidiana nasce, naturalmente,
o conhecimento do mundo das palavras e das frases escritas. A leitura é um dado
cultural: o homem poderia viver sem ela e, durante séculos foi exatamente isso o que
aconteceu.

No entanto, depois que a história foi contada através de sinais, a humanidade,


sem dúvida, se enriqueceu. Surgiu a possibilidade de guardar o conhecimento
adquirido e transmiti-lo às novas gerações. No dicionário, encontramos mais alguns
significados para a palavra ler: “percorrer com a vista ao que está escrito, proferindo
ou não as palavras, mas conhecendo-as”; “decifrar e interpretar o sentido de”, e
assim por diante. Procurou-se também a palavra texto, que vêm do latin “textos”, que
significa “tecido”, “trama”, “encadeamento de uma narração”.

Um texto é, portanto, algo acabado, uma obra tecida, um complexo


harmonioso. Essa é a primeira conotação do que é texto. Dessa forma já temos o
texto. Vamos ter o leitor. E do encontro ao leitor e texto teremos a leitura. Quais os
pontos básicos que devem ser considerados para que se produza a verdadeira
compreensão do texto, a verdadeira leitura? Da mesma forma que reagimos, durante
uma conversa, concordando ou discordando de quem está falando conosco,
podemos também ter uma atitude semelhante com relação ao texto.

Cada vez que lemos podemos reagir à mensagem e relacioná-la com nossas
experiências e conhecimentos. Podemos concordar com ela ou discordar dela. Por
isso dizemos que ler, no sentido profundo do termo, é o resultado da tensão entre
leitor e texto. Isto é, a comunicação que se estabelece entre o escritor que elaborou,
escreveu e teve divulgado o seu pensamento, e o leitor que se interessou, leu e
aprendeu o que lhe foi exposto, além de confrontá-lo com sua experiência de vida e
de outras leituras.

Também por isso a leitura, atividade individual e direta, sem intermediários, é


leitura verdadeira. A leitura silenciosa, que mobiliza toda a capacidade e emoção de
uma pessoa é uma atividade tão satisfatória e quase tão criadora como a de
escrever. Tudo isso é ler. Mas o que é hábito? Novamente de encontro ao dicionário
para anotar que “hábito” é disposição duradoura, adquirida pela repetição frequente
de um ato, uso, costume: “Só a educação pode criar bons hábitos”. Duas palavras
saltam logo a vista: duradoura e adquirida. Não se pode, portanto, chamar de hábito
de leitura um ligeiro namorico com esse ou aquele livro.

Da mesma forma, pode-se concluir que não se nasce leitor. Por isso temos
que aprender a ler e a gostar de ler, se possível ao mesmo tempo. Hábitos se formam
cedo, aliás, muito cedo. E o exame da realidade da família brasileira de hoje nos
mostra que é muito rara a formação do hábito de ler apenas contando-se com
recursos de casa. Como não se trata de um ato instintivo, mas pelo contrário, de um
hábito a ser gradativamente adquirido, é preciso que se dê, desde o começo, ao
iniciante da leitura o objeto a ser lido (livro, revista, jornal), respeitando o seu nível
de aprendizado.

Mas depois de tudo isso, observou-se que essa expressão não realçava o
aspecto mais importante da relação com o livro: a leitura como fonte de prazer, nunca
uma atividade obrigatória, encarada como uma imposição do mundo adulto.
Começou-se então a falar do gosto de ler, que deve ser uma experiência prazerosa.
Ela deve começar cedo e a família é o agente ideal dos primeiros incentivos à
criança. O adulto que embala a criança de colo com cantigas de ninar, que brinca
com histórias e rimas, que folheia a revista com a criança está contribuindo e muito
para uma atividade positiva diante da leitura.

Os pais, que têm eles próprios o hábito de ler e que demonstram para os filhos
a necessidade desses momentos de reconhecimento e prazer, estão transmitindo à
criança ou ao jovem o gosto pelos livros.

Gêneros Literários

Os gêneros literários são categorias que organizam todos os tipos de textos


literários pelas semelhanças formais, estruturais e temáticas que eles possuem.

Os gêneros literários são classificados em três tipos:

 Gênero lírico: inclui os textos poéticos de caráter sentimental revelando as


emoções do poeta, por exemplo, os sonetos.
 Gênero narrativo (anteriormente chamado de épico): narra uma história com
personagens, situados em um tempo e um espaço, por exemplo, um romance.
 Gênero dramático: reúne textos teatrais para serem encenados, por exemplo,
uma comédia.

Gênero Lírico
O gênero lírico é um gênero literário escrito em versos que tem como foco
mostrar as emoções, sensações, sentimentos e impressões pessoais do poeta. Os
textos líricos são marcados pela subjetividade, onde o poeta expressa sua opinião,
por isso, eles são escritos na primeira pessoa (eu). O gênero lírico recebe esse nome,
pois faz referência ao instrumento musical, a lira, que acompanhava a declamação de
poesias na antiguidade.

Alguns subgêneros de textos líricos são:

 Soneto - poema de forma fixa, formado por catorze versos (dois quartetos e
dois tercetos).
 Poesia - texto poético formado por versos que se agrupam em estrofes.
 Ode - poema de exaltação composta para ser declamada ou cantada.
 Haicai - poema de forma fixa de origem japonesa, formado por três versos.
 Hino - poema que homenageia alguém ou venera algo.
 Sátira - poema que ridiculariza pessoas ou costumes.
Exemplo de texto do gênero lírico

O Soneto da fidelidade, de Vinicius de Moraes, é um poema de forma fixa


composto por catorze versos (dois quartetos e dois tercetos). Nele, o autor expõe seus
sentimentos relacionados com o amor e a fidelidade.

De tudo, ao meu amor serei atento


Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento


E em louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure


Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):


Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Gênero Narrativo
O gênero narrativo é um gênero literário moderno em prosa, que tem como intuito
narrar uma história. Para um texto ser considerado narrativo, ele precisa conter esses
elementos:

 Enredo - história que narra uma sucessão dos acontecimentos.


 Narrador - aquele que narra a história.
 Personagens - pessoas que estão presentes na história.
 Tempo - o período em que acontece a história.
 Espaço - local onde se passa a história.
Em sua origem, o gênero narrativo era chamado de “gênero épico”, pois incluía as
narrativas histórico-literárias de grandes acontecimentos, chamadas de epopeias.
Alguns subgêneros de textos narrativos são:

 Epopeia - narrativa longa sobre fatos grandiosos de um herói ou de um povo.


 Romance - narrativa extensa escrita em prosa que revela ações de
personagens dentro de uma história.
 Novela - escrita em prosa, é uma narrativa longa, porém mais breve e mais
dinâmica que o romance.
 Conto - escrito em prosa, é uma narrativa mais objetiva e curta que a novela e
o romance.
 Crônica - narrativa breve que focam em acontecimentos do cotidiano.
 Fábula - narrativa fantasiosa que procura ensinar sobre algo.

Exemplo de texto do gênero narrativo


A Rã e o Boi, fábula de Esopo, traz o seguinte ensinamento: "quem tenta
parecer maior do que é se arrebenta".
Uma rã estava no prado olhando um boi e sentiu tal inveja do tamanho dele
que começou a inflar para ficar maior.
Então, outra rã chegou e perguntou se o boi era o maior dos dois.
A primeira respondeu que não – e se esforçou para inflar mais.
Depois, repetiu a pergunta:
– Quem é maior agora?
A outra rã respondeu:
– O boi.
A rã ficou furiosa e tentou ficar maior inflando mais e mais, até que
arrebentou.

Gênero Dramático

O gênero dramático é um gênero literário teatral que reúne os textos


escritos, em prosa ou em verso. Os textos dramáticos são utilizados para apresentar
para uma plateia (espectadores).

Uma característica muito importante dos textos teatrais é a presença de


diálogos entre as personagens. Eles são geralmente divididos em atos, quando as
ações ocorrem num mesmo espaço, e cenas, quando há mudança de local e
personagens.

Alguns subgêneros dos textos dramáticos são:

 Tragédia - texto teatral trágico com tensão permanente e final infeliz.


 Comédia - texto teatral humorado que satiriza diversos aspectos da sociedade.
 Tragicomédia - texto teatral que reúne aspectos trágicos e cômicos.
 Farsa - texto teatral curto e cômico, formados por um ato.
 Auto - texto teatral de abordagem mais religiosa e moralista.

Exemplo de texto do Gênero dramático


O trecho de Romeu e Julieta, de William Shakespeare, aponta o local onde acontece
o diálogo entre dois personagens.
ATO PRIMEIRO - CENA I

Verona. Uma praça pública.

Entram Sansão e Gregório da casa dos Capuletos, com espadas e


broquéis (Escudos redondos e pequenos.).

SANSÃO – Palavra, Gregório, não carregaremos desaforos!


GREGÓRIO – Não, porque então nos tomariam por carregadores.
SANSÃO – Quero dizer que, se nos zangarmos, puxaremos a espada.
GREGÓRIO – Sim, porém procura, enquanto viveres, puxares teu pescoço
para fora do nó da forca.
SANSÃO – Bato logo, quando bolem comigo.
GREGÓRIO – Mas não bolem tão depressa que sejas levado a bater.
SANSÃO – Um cão da família dos Montecchios bole-me com os nervos.

A classificação dos gêneros literários foi proposta na antiguidade clássica


pelo filósofo grego Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.) em sua obra Poética. Segundo ele:
O gênero lírico representava a “palavra cantada”, pois, antigamente, os textos
literários eram recitados e acompanhados por instrumentos musicais. O gênero épico
significava a “palavra narrada”, pois retratava os acontecimentos grandiosos de um
herói em poemas extensos chamados de epopeias. Com o tempo, esse gênero se
expandiu e atualmente ele é chamado de “narrativo”.

Contos de Fada na Educação Infantil: a necessidade de magia da criança

Embora os tempos modernos ofereçam novos recursos para a criança ter


acesso às histórias infantis, nada derruba a magia da antiga fórmula “era uma vez…”
que suavemente chega aos ouvidos de uma criança, através dos lábios dos pais
inspirados nos contos de fadas.

A magia e o encantamento das crianças devem ser alimentados através dessa


linguagem lúdica que fala diretamente à sua alma, proporcionando-lhe conforto e
esperança. Os contos ajudam a criança a elaborar melhor os sentimentos negativos
tão comuns na primeira infância, como o medo, a frustração, o abandono, a
rejeição, entre outros.

Nos contos, a bruxa, o lobo, o pirata e outros personagens maus, representam


sentimentos ruins, são um arquétipo desses sentimentos, portanto querer que estes
personagens morram não é atitude de violência mas a necessidade de acabar com
estes sentimentos ruins. É preciso lembrar que nas histórias a morte não é violência,
é o símbolo da transformação que vai ajudar a criança a elaborar os sentimentos ou
sensações que a incomodam.

Não devemos nos preocupar quando a criança festeja a morte desses


personagens, eles representam seus medos e esta é a forma que ela tem de vencê-
los ou elaborar estes sentimentos que a angustiam. A magia dos contos passa para
a criança a “fórmula da felicidade”, ajudando-a perceber que ela não é a única a
sofrer, pois a criança tem um complexo de inferioridade com relação aos adultos
muito presente nessa fase. Para a criança os adultos constituem um mundo dos
gigantes. Por esta razão devemos nos colocar no nível dos olhos das crianças ao
falarmos com elas.

Os contos mostram que existem os bons e os maus, deixando transparecer


valores sempre atuais. Reconhecer a dor e aceitá-la é um meio de superá-la e assim
ser feliz. A força plasmadora que atua nos contos é a fantasia, mas ela o faz de tal
maneira que as imagens por ela criadas revelam uma sabedoria objetiva. Nunca se
deve procurar uma explicação meramente intelectual, seria como tirar o matiz
colorido das asas de uma borboleta.

Os pais ou professores devem mergulhar nas imagens dos contos e escutar


o que eles lhes murmuram. Quanto menos especulações e análises, tanto mais
impressionante será o modo como irão contá-los. Quando se narra um conto de
fadas, tudo depende da atitude e mentalidade de quem faz a narração. Se os contos
forem narrados com pleno discernimento de seu fundo espiritual, as crianças não
confundirão a “madrasta má”, que toma conta da alma, com uma madrasta (pessoa
real) que pode ser a melhor das mães, sem qualquer traço característico das
madrastas dos contos de fadas. Saberão que bruxas não se encontram na vida
cotidiana, nem os animais que falam, nem os feiticeiros, os gigantes e anões.

É sinal de uma incompreensão crassa, tanto do conto quanto da alma infantil,


narrar a história do chapeuzinho vermelho de maneira que o lobo não coma nem a
menina nem a avó, mas se regale tomando vinho e comendo bolo, junto com elas e
o caçador. Isto significa matar o sentido profundo do conto.

As crianças estão abertas para ouvi-los, pois existe grande afinidade entre
ambos. Elas ainda não amadureceram para a consciência intelectual e aguda dos
adultos, a percepção sensorial é tal que a criança entende perfeitamente ser o leão
um príncipe encantado, pois ela capta algo daquela espiritualidade da qual provieram
as criaturas terrestres e que nelas atua. A existência de coisas ou seres encantados
é perfeitamente aceitável para a psique infantil, já que a criança muitas vezes se
sente como que encantada e afastada do mundo real.

Por meio das histórias podemos trabalhar sentimentos e sensações


muito presentes nas crianças como a ingenuidade, a feiúra, o medo, a
inexperiência, a insegurança, a rejeição, a culpa, a dor, o racismo.

Ingenuidade: Branca de Neve e Pinóquio (acreditam no personagem do mal)

Feiúra: Patinho Feio (um irmão mais bonito do que o outro)

Medo: Chapeuzinho Vermelho, Aladim (medo de estranhos)

Inexperiência: Os Três Porquinhos (o irmão mais velho sabe tudo)

Insegurança: Alice no Pais das Maravilhas, Mogli, Peter Pan (sentir-se


inseguro diante de situações novas)
Rejeição: Cinderela

Culpa: Rei Leão, Pinóquio

Dor: A Pequena Sereia

Abandono: João e Maria (sentimento de abandono pela ausência dos pais)

Racismo: Flavia e o bolo de chocolate

Por meio das histórias também podemos trabalhar o conceito de finitude, pois
tudo na vida tem um começo, meio e fim. As crianças precisam saber que as pessoas
não são como os personagens dos desenhos ou jogos eletrônicos, que nunca
morrem. Diante de tanta tecnologia, nunca os contos foram tão importantes e
necessários na vida da criança como hoje.

Outro conceito que o conto ajuda a criança identificar e que carece de


reconhecimento é a ética. É através dos contos que a criança consegue discernir
o certo do errado, o que pode e o que não pode fazer, enfim, o reconhecimento
do sim e do não.

É muito comum a criança se identificar com um dos personagens de um conto


e se agarrar a ele, querendo repetidas vezes ouvi-lo. Os contos de fada sobreviveram
ao tempo justamente porque são necessários por conterem ensinamentos que falam
à alma da criança, falam de valores imutáveis, caso contrário já teriam desaparecido,
apagados pelo tempo e caídos no esquecimento. Por isso, os pais devem usar e
abusar dos contos. Só assim poderão sonhar com um final feliz para nossa
sociedade tão carente dos verdadeiros valores.
BIBLIOGRAFIA

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