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INSTITUTO DE ARTES
CAMPINAS
2015
THAIS DOS GUIMARÃES ALVIM NUNES
CAMPINAS
2015
Ao meu marido Pablo
e aos meus filhos Sofia, Pedro e Gabriel.
AGRADECIMENTOS
Aos professores José Roberto Zan e Hermilton Garcia do Nascimento (Budi), pelos
comentários realizados ao longo dos exames de monografia e qualificação.
Agradeço aos amigos Sérgio Freitas e Áurea Demaria, tão comprometidos com a
qualidade, com o questionamento, com a ética e com o ensino, sempre disponíveis a
ajudar sugerindo leituras, dando força e apoio.
À colega e amiga Ilza Joly que, desde o início, me acolheu em São Carlos e na
UFSCar, nos acontecimentos do cotidiano e nos momentos de sobrecarga.
Agradeço aos meus alunos, com os quais compartilhei escutas e reflexões acerca da
voz.
Por fim, agradeço ao meu marido Pablo e aos meus filhos Sofia, Pedro e Gabriel,
que sobreviveram a esta travessia junto a mim, sabendo superar os momentos de
ausência e as dificuldades enfrentadas ao longo do percurso.
RESUMO
The purpose of this research is to cover the vocal path built by the singer/song-writer
Milton Nascimento through his recording career, with the intent of observing, aligning,
selecting and presenting his voice in presence (ZUMTHOR, 1993, 1997, 2005, 2007;
FINNEGAN 1997, 2008); a search with performance and listening as starting points.
Renowned world-wide for his peculiar timber, his remarkable renditions and a style
which does not fall into a category easily, Milton has always drawn attention, since
his early appearances in the 1960’s in Brazil. He has built a solid career and
continues to influence generations. Meticulously examining his vocal production
implies observing the nuances of his singing, pronunciation, exploring, emerging and
breaking through of the senses. While taking the analytical approach of Barthes
(2009), Zumthor (1993, 1997, 2007), Tagg (2003, 2011), Tatit (2007, 2008) and
Machado (2011, 2012), we have selected the song “Clube da Esquina no
2”, composed by Milton Nascimento, Lô Borges and Márcio Borges, initially recorded
at the album Clube da Esquina, in 1972, and taked over by the artist at the Angelus
album, released in 1993, which was revisited by the artist throughout his career, in
order to present in detail the mobility in the use of the voice.
CAPÍTULO 1
DA ESCUTA COMO GUIA PARA ABORDAGEM DA VOZ DE MILTON NASCIMENTO
CAPÍTULO 2
REVEJO NESTA HORA TUDO QUE OCORREU, MEMÓRIA NÃO MORRERÁ:
A TRAJETÓRIA VOCAL DE MILTON NASCIMENTO AO LONGO DE 50 ANOS
DE CARREIRA
a
2.1 Há canções e há momentos – 1 fase
a
2.2 A voz é um instrumento que eu não posso controlar – 2 fase
2.4 Quadros de resumo das características vocais em cada uma das fases
CAPÍTULO 3
A VOZ VEM DA RAIZ
o
3.1 A canção “Clube da Esquina n 2”
Considerações finais
Referências bibliográficas
A voz de Milton Nascimento em presença Introdução I 10
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
INTRODUÇÃO
POR UMA ESCUTA DA VOZ NA CANÇÃO POPULAR BRASILEIRA
a voz não pode se tornar um tema indiferente para um tipo de saber que se inaugura
na Grécia como autoclarificação do logos e que chega no século XX (poderíamos
dizer XXI), após vários e coerentes desdobramentos que duram alguns milênios, à
tematização obsessiva da linguagem (CAVARERO, 2011, p. 24).
1
Em pesquisa realizada no site do CNPq (<http://lattes.cnpq.br/web/dgp>) é possível constatar a predominância
de grupos de pesquisa registrados que tratam a voz do ponto de vista fonoaudiológico, com foco em distúrbios e
tratamentos. Muitos dos grupos cadastrados estão vinculados, ainda, às áreas de Letras, Linguística e Teatro, e o
número de grupos de estudos sobre a voz na área musical é pouco significativo.
A voz de Milton Nascimento em presença Introdução I 11
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
2
Zumthor diz preferir o termo vocalidade à oralidade. Segundo o autor, “vocalidade é a historicidade de uma
voz: seu uso” (ZUMTHOR, 1993, p. 21).
3
De acordo com Zumthor, “movência é criação contínua” (1993, p. 145). Ao contextualizar o termo na
performance o autor menciona: “A performance de uma obra poética encontra, assim, a plenitude de seu sentido
na relação que a liga àquelas que a precederam e àquelas que a seguirão. Sua potência criadora resulta de fato,
em parte, na movência da obra” (1997, p.265).
4
Encontramos este argumento com Jean-Jacques Rousseau, no seu Ensaio sobre a origem das línguas (2008, p.
98-99). Rousseau vincula, ainda, ao longo do ensaio, o surgimento dos gestos às necessidades e o da palavra às
paixões.
A voz de Milton Nascimento em presença Introdução I 12
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
5
O argumento que busco defender aqui é o de que Milton Nascimento tem produção ativa ao longo da carreira
com diferentes e expressivos projetos, além de manter foco de observação no ouvinte e receptor,
predominantemente sobre sua produção musical. Walter Benjamin, em A obra de arte na era de sua
reprodutibilidade técnica (com versões escritas entre 1935-1940), ao observar a literatura, menciona que a
reprodução expandiu o acesso do leitor ao texto a ponto deste “estar a todo o tempo pronto para tornar-se um
escritor” (BENJAMIN, 2013, p. 78). Em nota, o autor menciona que o talento tornou-se um fator raro em épocas
de reprodução, e a consequência disto é de “que a todo tempo e em toda parte a proporção preponderante da
produção artística tenha sido medíocre” (BENJAMIN, 2013, p. 107), o que não se confirma na obra produzida
por Milton. Quanto à indústria cinematográfica, Benjamin (2013, p. 79) fala do seu “interesse em estimular a
participação das massas por meio de representações ilusórias e de especulações ambíguas [...] ela [a indústria]
colocou a carreira e a vida amorosa das estrelas a seu serviço”. A indústria fonográfica adotou estratégia
A voz de Milton Nascimento em presença Introdução I 13
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
semelhante para arregimentar público massivo para suas produções. Milton, ainda que pertencente a tal sistema –
e cedendo a várias de suas lógicas – conseguiu reserva suficiente à sua vida pessoal e, muitas vezes, liberdade de
criação na sua produção, que lhe garantiram o interesse do público e dos artistas principalmente por sua obra em
comparação à sua figura enquanto artista.
6
Tomamos emprestado o termo diáspora, utilizado por Stuart Hall para abordar a comunidade caribenha, para
caracterizar o indivíduo Milton Nascimento.
A voz de Milton Nascimento em presença Introdução I 14
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
7
No Brasil, as editoras que mais produzem materiais didáticos voltados ao ensino/aprendizagem da música
popular são a Lumiar Editora (cujo material é atualmente distribuído pela Irmãos Vitale) e a editora Irmãos
Vitale (<http://www.lumiar.com.br/>, <http://www.vitale.com.br/>). Incluímos, aqui, o amplo conjunto de livros
com transcrições de canções da música popular brasileira realizadas por Almir Chediak e os métodos para estudo
instrumental escritos por músicos profissionais. Temos, ainda, um pequeno conjunto de livros didáticos nas
disciplinas de Harmonia e Arranjo. Nestas áreas, a produção norte-americana ocupa um lugar de destaque,
fornecendo alternativas de estudo voltadas ao gênero. Outra ferramenta de ensino para tais áreas é a utilização de
livros voltados ao estudo da música erudita, sobretudo os relacionados à harmonia, contraponto e composição.
Para o estudo aprofundado de harmonia em música popular, ver a pesquisa de doutorado de Freitas (2010),
A voz de Milton Nascimento em presença Introdução I 16
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
intitulada Que acorde ponho aqui? Harmonia, práticas teóricas e o estudo de planos tonais em música popular,
com generosa abordagem sobre a harmonia tonal, e seu uso no âmbito da música popular.
8
A história de criação do Departamento de Música do Instituto de Artes (IA) da Unicamp está disponível no
seguinte endereço: <http://www.iar.unicamp.br/historia/doc_musica.html>.
9
Para cursos mais integrados, ver Escola Portátil de Música, Rio de Janeiro
(<http://www.escolaportatil.com.br/>), e a abordagem desta nas pesquisas de doutorado de Frydberg (2011; a
autora parte dos processos de aprendizagem da música popular guiada pelos gêneros choro e fado) e Greif (2007;
neste a autora faz uma retrospectiva da história dos conservatórios, criados inicialmente na Itália e depois
difundidos em variados lugares do mundo, e dos modelos de educação e ensino musical). Além disso, várias
iniciativas têm surgido amparadas pelo modelo da escola portátil de música, buscando agregar aprendizagem
coletiva, sociabilidade, e trazendo a educação não formal para espaços formais de educação, como os Projetos de
Extensão Universitária intitulados Roda de Samba: Cultura, Sociabilidade e Educação Não Formal (SOUZA,
2010) e Conhecendo o Choro (GALIZIA et al., 2012), ambos da UFSCar e que podem ser conferidos no
seguinte endereço: <http://www.conhecendoochoro.com.br/>. Temos, ainda, especialmente a área de Canto
Popular da Unicamp, que dedica grande parte de seu currículo à escuta, tanto para a análise crítica, quanto para a
ampliação de recursos interpretativos.
A voz de Milton Nascimento em presença Introdução I 17
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
10
Este material – composto de três CDs e um texto de 190 páginas sobre a produção vocal em sociedades
tradicionais – traz um conjunto diverso de expressões vocais ao redor do mundo. A publicação é citada nas
pesquisas de Machado (2012, p. 166) e Pucci (2009, p. 172).
A voz de Milton Nascimento em presença Introdução I 19
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
Caminhos metodológicos
__________________________
* Dada a natureza musical da presente Tese, este arquivo (em formato .pdf) é interativo e contêm áudios
musicais. Ao longo dos capítulos, se apresentam botões com o símbolo de play (►). Clicando neles, abrem-se
caixas de diálogo que executam trechos de canções interpretadas por Milton Nascimento, colaborando para o
entendimento do teor textual da Tese, bem como de seu objeto de estudo.
Para um melhor desempenho, recomenda-se manipular o arquivo com exclusividade, ou seja, fechar
navegadores de internet ou quaisquer outros programas que estejam em execução. As caixas de diálogo, uma
vez abertas, devem ser fechadas (clicando no seu pequeno "X" que aparece no canto superior direito da caixa),
para evitar que se sobreponham e sobrecarreguem o arquivo, comprometendo sua funcionalidade.
Atenção: é necessário ter instalado o Adobe Flash Player em seu computador. Para atualizá-lo ou baixá-lo,
acesse https://get.adobe.com/br/flashplayer/ e siga as instruções.
A voz de Milton Nascimento em presença Apresentação I 22
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
APRESENTAÇÃO
A primeira vez que tive contato intenso com a música mineira foi no ano
de 1996, ocasião em que morei na cidade de Viçosa/MG. Tendo acabado de
ingressar no curso de Arquitetura pude ouvir, de maneira recorrente, nos diversos
espaços que frequentava, a música de Lô Borges, Beto Guedes, Toninho Horta e a
tão conhecida produção musical do Clube da Esquina. Para mim, um novo repertório
se revelava. Apesar de conhecer algumas canções e já cantar um conjunto delas,
não tinha a dimensão da produção destes artistas que, para muitos dos meus
colegas, era absolutamente familiar. Ali tive a oportunidade de assistir a vários
shows destes compositores ao vivo e perceber que, para mim, uma mineira do
Triângulo Mineiro, era diferente ouvir esse repertório noutra região do estado,
rodeada por montanhas. Minas Gerais tem esta aura.
Minhas aulas na universidade eram entremeadas por apresentações que
fazia nos bares da cidade. Por meio da voz e do violão aprendia melodias,
experimentava harmonias, ampliava meu repertório. As apresentações se tornaram
mais interessantes do que as aulas, o que me levou a repensar o caminho
profissional. O estudo musical me acompanhava desde a infância, levando-me a
concluir que tive um acidente de percurso.
Levei este repertório adiante, o que culminou o desenvolvimento, em
1999 (já cursando Música Popular na Unicamp), da pesquisa de Iniciação Científica
intitulada Buscando a essência da música de Lô Borges. Ainda que rodeada por
uma série de conhecimentos acerca da música popular brasileira e do Jazz, a partir
das disciplinas tanto práticas (canto, prática de conjunto, arranjo, por exemplo),
quanto reflexivas (história da música, história do jazz), e de um mundo musical que
se abria cada vez mais, intuía que precisava investigar mais a música mineira.
Tal intuição me levou ao tema de mestrado, no qual objetivei estudar A
sonoridade específica do Clube da Esquina. Apesar do meu instrumento principal na
universidade ser a voz, sempre me interessei pelas áreas de Arranjo e Harmonia,
que foram focos da minha dissertação.
A aquisição de experiência como professora de canto e o estudo do
repertório do Clube da Esquina despertaram meu interesse em estudar, de maneira
ainda mais aprofundada, a voz de Milton Nascimento que, além de um cantor de
A voz de Milton Nascimento em presença Apresentação I 23
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
CAPÍTULO 1
DA ESCUTA COMO GUIA PARA ABORDAGEM DA VOZ
DE MILTON NASCIMENTO
Esse tipo de abordagem é reforçado pela aparente associação entre não letramento e
iletramento. Tende-se a associar o último a um indivíduo ou grupo que fracassou na
tentativa de dominar as habilidades da cultura geralmente aceitas, sendo, assim,
excluído da herança cultural de seus contemporâneos, sem ter nada de seu para pôr
no lugar. É fácil deduzir que um tipo de imagem similar se aplica a culturas não
letradas, em que todos ou a maioria da comunidade não possuem modos escritos de
comunicação. Além disso, todos incorremos facilmente em um hábito mental que
postula que aqueles aparentemente muito diferentes de nós necessariamente têm
menos sabedoria, menos sensibilidade para as belezas ou tragédias da vida – e por
isso devem, forçosamente, ser considerados, no mínimo, como se pensassem de
forma diferente. Esse tipo de percepção também nos torna aptos a abraçar uma visão
que coloca as sociedades não letradas e seus habitantes no outro extremo de um
grande abismo, separando-as de culturas mais familiares que se baseiam na palavra
escrita (FINNEGAN, 2006, p. 65-66).
11
O capítulo em questão, intitulado O significado da literatura em culturas orais, é parte da obra “A tradição
oral” (ver FINNEGAN, 2006).
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Thais dos Guimarães Alvim Nunes
12
Encontramos estas informações no livro A música de Milton Nascimento, de Chico Amaral (2013), nas
entrevistas realizadas com o compositor. Vale a transcrição de um trecho em que é possível compreender a
relação de Milton com a escuta, a partitura e a criação. Ao fazer menção sobre a gravação da música “Berceuse”
de Ravel para um disco feito com os irmãos jazzistas Belmondo, lançado em 2009, e na qual utiliza a sua
sanfona ganha ainda na infância, sem teclas e sem cilindros, e de quatro baixos, Milton fala: “Quando eu fui
fazer aquele disco com os irmãos Belmondo na França, aconteceu o seguinte: no dia do ensaio, eu acordei e a
minha sanfona estava ao lado da minha cama. Fiquei naquele negócio: eu não trouxe, ninguém falou que
trouxe... quer dizer, até hoje eu não sei! Nós fomos para o ensaio, eu resolvi levar a sanfona só de brincadeira.
Tinha uma música do Ravel [“Berceuse”] e eu peguei a partitura; vi que era em sol maior ou mi menor, e
comecei a prestar atenção, e essa foi a primeira vez que cantei lendo partitura. Tinha uma hora em que eu
acabava de cantar e o trompetista começava seu improviso. Eu fiquei prestando atenção naquilo, depois eu
voltaria cantando, e aí eu falei assim: ah, deixa! Peguei a sanfona, coloquei no colo sem ninguém ver e, quando
ele acabou, eu comecei – está lá no CD. Quando acabou o primeiro show, com sinfônica e tudo, eu dei um berro
no palco, coisa que eu nunca fiz na vida – uhu!, tipo assim, né? Aí o maestro olhou pra mim, eu pensei: lá vem
coisa! Só que ele fez a orquestra bater palma, desceu lá daquele negócio, e veio e esticou a mão pra mim. Eu me
levantei, ele me cumprimentou e fez o pessoal bater mais palma. Eu pensei: meu Deus do céu, como é que essa
porcaria vem tocar música de Ravel com a Sinfônica na França? Aí, depois, eu estava lá no camarim e – acho
que o Lionel – ele foi lá me visitar e eu falei pra ele: olha que coisa, não pode estar acontecendo, essa sanfona,
que não tem nem sustenido nem bemol nem o diabo a quatro, tocando a música de Ravel! Ele falou pra mim:
“Você está enganado, essa música de Ravel foi terminada agora, com a sua sanfona!” (AMARAL, 2013, p. 49-
51).
13
Conforme observamos no texto que compõe o encarte do disco Anima, de 1982 (CD adaptado do LP lançado
pela Ariola): “Este disco traz aquilo tudo que acredito. Todas as coisas que gosto. Essa vontade de acreditar,
apesar de tudo que acontece no mundo, contrário a essa esperança. A vontade muito grande de cantar, de dizer as
coisas para as pessoas, de falar coisas que a gente ouviu, o que a gente aprendeu e que a gente segue vivendo,
apesar de tudo. O nome do disco é Anima. Anima que vem do latim e significa: sopro, aragem, brisa, vento, ar,
exalação, cheiro, aroma, hálito, bafo, respiração; o que anima, dá vida, alento, vida, existência. Significa alma.
Ente, indivíduo, pessoa, alma dos mortos, habitantes, moradores, coração, afeto, vontade. E fizemos o disco
nessas condições aí: é Alma. Vida. Como sempre é comunhão. É um disco que não é apenas um cantor cantando
as coisas. São várias pessoas trabalhando para acontecer uma coisa, ou para acontecerem muitas, dentro de tudo
A voz de Milton Nascimento em presença Capítulo 1 I 26
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
que a gente pode fazer neste mundo. Esse disco é realmente uma comunhão, que me dá um alento, uma forte
esperança” (NASCIMENTO, 1982).
14
BARTHES, Roland. O obvio e o obtuso. Lisboa: Edições 70, 2009, p. 236-248.
A voz de Milton Nascimento em presença Capítulo 1 I 27
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
A escuta da voz inaugura a relação com o outro: a voz, pela qual se reconhece os
outros (como a letra num envelope), indica-nos a sua maneira de ser, a sua alegria ou
sofrimento, o seu estado; ela veicula uma imagem do corpo e, além disso, toda uma
psicologia (fala-se de voz quente, de voz branca etc.) (BARTHES, 2009, p. 243).
15
Janete El Haouli, em seu livro Demetrio Stratos: em busca da voz-música, se apoia nos tipos de escuta
sugeridos por Barthes e chama atenção para o fato de que a abertura a novas percepções sonoras envolve
libertar-se dos gostos pessoais e julgamentos: “Para sermos realmente “todos ouvidos”, mudando nosso gostos
pessoais sedimentados – que nos impedem de fruir o diferente, a voz do outro e de aumentar qualitativamente
nossas emoções e prazeres –, é necessário repensar o que é a escuta, bem como a escuta da voz – algo que, sem
dúvida, Demetrio Stratos nos propõe” (EL HAOULI, 2002, p.33). A autora articula, ainda, o terceiro tipo de
escuta de Barthes à poiética da escuta de Susumo Shono que, na sua leitura “requer uma fruição que atenda às
especificidades dos sons, à materialidade de uma voz que emana de um corpo vivo, não extraindo somente
significação verbal e inteligível, mas atenta ao continuum dos matizes sonoros da voz” (EL HAOULI, 2002, p. 40).
16
Conforme ilustra Adriana Cavarero em seu livro, com um fragmento do escritor italiano Italo Calvino
(inserido em uma coleção dedicada aos cinco sentidos, sendo o do escritor representante da audição), Um rei à
escuta: “Uma voz significa isto: existe uma pessoa viva, garganta, tórax, sentimentos, que pressiona no ar essa
voz diferente de todas as outras vozes” (CAVARERO, 2011, p. 17).
A voz de Milton Nascimento em presença Capítulo 1 I 28
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
(FINNEGAN, 2008, p. 22). Saímos, então, do plano generalizado para pensar sobre
o processo individual de cada artista.
Ao observar a voz, é preciso que não se perca de vista o fato de que ela
também pode existir independentemente da linguagem, ou mesmo prescindir dela.
Valverde (2012) assim o resume, de maneira esclarecedora, quando diz que:
A escuta da voz que canta ultrapassa a mera compreensão das palavras de uma letra
e é capaz de ouvir a voz que soa, sob a voz que diz; como, na própria fala,
precisamos estar atentos ao dizer, e ao modo de dizer, sem reduzi-los ao conteúdo do
que é dito. Além disso, a palavra cantada frequentemente ultrapassa os limites
geográficos e o enquadramento cultural em que foi gerada, uma vez que logo se
dissemantiza em ouvidos estrangeiros, especialmente nesses tempos de globalização,
questionando ainda mais a relação que geralmente se estabelece entre som e
significado, com a redução do som à mera condição de veículo de algo que
supostamente o ultrapassa. Não devemos nos esquecer de que, entre os ouvintes, é
mais comum associar uma canção a sua melodia (que se “aprende” rápido e pode
facilmente ser assoviada, por exemplo) do que a sua letra (que é mais difícil de
memorizar e precisa ser “decorada” até mesmo pelo intérprete profissional)
(VALVERDE, 2012, p. 48).
17
Menciono aqui a pesquisa de Iniciação Científica sobre a obra de Lô Borges, Buscando a essência da música
de Lô Borges, e a pesquisa de Mestrado sobre “A sonoridade específica do Clube da Esquina”, realizadas por
mim em 2001 e 2005, respectivamente, e que envolveram a escuta analítica de vários discos dos músicos
pertencentes ao Clube da Esquina, produzidos predominantemente nos anos de 1960 e 1970.
A voz de Milton Nascimento em presença Capítulo 1 I 29
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
CAPÍTULO 2
REVEJO NESTA HORA TUDO QUE OCORREU, MEMÓRIA NÃO MORRERÁ:
A TRAJETÓRIA VOCAL DE MILTON NASCIMENTO AO LONGO DE
50 ANOS DE CARREIRA
18
A primeira, de outras experiências estrangeiras como Native Dancer, 1975; Milton, 1976 e Journey to down,
1979.
19
Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, versão online. Disponível em:
<http://www.dicionariompb.com.br/creed-taylor/biografia>. Acesso em: 11/09/2014.
20
Ver na seção das Referências Bibliográficas trabalhos sobre o Clube da Esquina que explicitam os
compositores, parceiros e músicos com os quais Milton trabalhou. O site do Museu do Clube da Esquina
(disponível em <http://www.museuclubedaesquina.org.br/>) também retoma, desde os anos 60 até a atualidade,
trajetórias de artistas que trabalharam com os precursores do Clube da Esquina. Maria Dolores Pires do Rio
Duarte descreve, em seu livro intitulado Travessia: a vida de Milton Nascimento, a trajetória artística de Milton
relatando com detalhes os encontros que se deram com diversos músicos ao longo da carreira.
21
Dentre alguns trabalhos que se dedicam especificamente à música, temos Rodrigues (2000), Nunes (2005),
Cançado (2010), Vilela (2010) e Amaral (2013). Outros trabalhos trazem exemplos da música de Milton em
conjunto com outros artistas.
A voz de Milton Nascimento em presença Capítulo 2 I 31
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
22
Este e os próximos subtítulos deste capítulo são trechos da canção “Canções e Momentos”, de Milton
Nascimento e Fernando Brant, gravada no disco Yauretê, de 1987. A escolha de tais trechos deu-se por
acreditarmos que eles sintetizam a trajetória vocal do cantor/compositor estudado.
23
O ano ao lado das composições está relacionado ao ano do disco em que foram gravadas.
A voz de Milton Nascimento em presença Capítulo 2 I 32
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
instrumental (Figura 2.1). Percebemos que, mais adiante na carreira, Milton vai
privilegiar os sons vocálicos em contrapartida aos ataques consonantais em
melodias vocalizadas.
24
Ver Amaral, p. 366-367.
A voz de Milton Nascimento em presença Capítulo 2 I 33
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
homem), retornando, logo após, a uma posição mais central (matar com amor) ►. A
falta de previsibilidade prende a atenção do ouvinte, que se surpreende ao ter sua
expectativa interrompida. Já na gravação de “Outubro”, do disco Courage, a voz
chega projetada na seção C, mas ocorre um distanciamento do microfone no
momento da gravação e a inserção de reverb, o que faz com que a voz se apresente
num volume menor do que a seção anterior. Percebemos, ainda, que o andamento
das canções fica mais acelerado nas regravações presentes no disco Courage (em
“Travessia” – 1967 e 1969, “Catavento” – 1967 e 1969, e “Canção do Sal” – 1967 e
1969, por exemplo).
Em “Sentinela” (1969) ►, podemos ouvir a clareza na pronúncia das
sílabas, característica que irá acompanhar toda a carreira de Milton. O efeito reverb
é inserido na vocalização ►, trazendo profundidade e efeito de eco, e se
compatibiliza com trechos da letra: “memória não morrerá/ longe ouço esta voz/ que
o tempo não vai levar”. Mais à frente, veremos tal efeito vincular-se não só à
memória, mas também aos sonhos explorados no repertório gravado na década de
1970. Em “Rosa do ventre” (1969), identificamos o uso de ornamentação na melodia
através da bordadura superior realizada rapidamente no trecho das frases: “velhas
avenidas me cercando vou passar ►... corpo se descobre a outro corpo e nada
mais” ►. A voz começa a aparecer mais mesclada à massa sonora do
acompanhamento como na introdução e no final da canção “Tarde” (1969) ►. Ainda
nesta canção, a voz de Milton é contida, homogênea e pouco projetada ►,
remetendo a uma emissão bossa novista sobre um acompanhamento que se
aproxima do samba-canção (samba lento em 2/4), além de trazer uma temática
própria do gênero: “Das sombras quero voltar/ somente aprendi muita dor/ e vi com
tristeza o amor/ morrer devagar, se apagar...”. Fica evidente que Milton traz no seu
cantar e em parte de suas composições estéticas destes dois gêneros musicais.
No disco Milton Nascimento (1969), percebemos o uso privilegiado da
percussão, que sai da posição de acompanhante para dividir o primeiro plano com a
voz nas canções “Pescaria” ►, “Pai Grande” ►, “Quatro luas” ► e “Aqui, ó” ►. Em
“Aqui, ó”, Milton mostra sua liberdade em transitar de uma articulação mais
tematizada para outra mais distendida, como observado no trecho “tem benção de
Deus/ todo aquele que trabalha no escritório” ►. Dentre as poucas aparições do
falsete nesta primeira fase, podemos ouvi-lo em “Pai Grande” (1969), na entrada da
A voz de Milton Nascimento em presença Capítulo 2 I 34
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
Figura 2.2 Vocalização em falsete na canção “Pai Grande”. Gravação do disco Milton Nascimento
(1969).
experimentações. Aos poucos, fica claro que a variedade interpretativa do seu canto
se harmoniza com a variedade das características intrínsecas da composição, tais
como: as mudanças de andamento e/ou de rítmica (“Vera Cruz”, 1969;
“Três pontas”, 1967; “Gira Girou”, 1967; “Pescaria”, 1969; “Beco do Mota”, 1969;
► "Pai Grande”, 1969 ; “Amigo, Amiga”, 1970 ; “Canto Latino”, 1970;
“Alunar”, 1970; e “Os Escravos de Jó”, 1973, são alguns exemplos); as
misturas modal e tonal da harmonia, o uso concomitante de tonalidade maior e
menor (“Crença”, 1967; “Tarde”, 1969; “Nuvem Cigana”, 1970; “Maria, Maria”, 1978);
o uso de acorde de quinta menor (“Travessia”); os compassos ímpares (“Rosa do
Ventre”, 1969, com mudança de fórmula de compasso de 7/4 para 2/4; “Saídas e
Bandeiras”, 1972; “Cravo e canela”, 1972; “Lílian”, 1972); a junção de estilos
variados de ritmos num mesmo disco (Milton, 1975); ou ainda a imprevisibilidade de
repertório (presença da canção “Felicidade”, de Tom Jobim, no disco Milton, 1970,
gravado com a banda Som Imaginário, por exemplo); as polirritmias (“Sentinela”,
1969; “Pai Grande”, 1969; “Sunset Marquis 333 Los Angeles”, 1969). São estas
algumas das variáveis. Já no período anterior (1967-1969), notamos que
praticamente toda a estrutura formal do arranjo já está definida na própria
composição.
O período que estamos considerando como segunda fase, do ponto de
vista vocal, abarca um conjunto de 10 discos: Milton, 1970; Clube da esquina, 1972;
Milagre dos peixes, 1973; Milagre dos peixes ao vivo, 1974; Minas, 1975; Native
dancer, 1975; Geraes, 1976; Milton, 1976; Clube da esquina 2; e Journal to down,
1979. Escolhemos destacar características vocais que não se manifestaram – ou
que apareceram de maneira tímida – nos discos anteriores.
Em Milton (1970), por exemplo, pela primeira vez ouvimos um som vocal
ruidoso, utilizado como recurso interpretativo, que parece misturar o registro basal25
com o modal na canção “Amigo, amiga”, no trecho “/em terras de beira-mar/” ►.
Milton faz uso localizado de entoação próxima à fala no final do verso “/meu coração
é deserto/” ► (o que ocorrerá também em “Ao que vai nascer” (1972), na frase
“/respostas virão do tempo/” ► e no trecho “/um espelho feria meu olho/...vinhos do
sul”) ►. As ornamentações da melodia começam a ganhar mais espaço. Ouvimos
25
O registro basal ou fry permite alcançar notas extremamente graves. “Em virtude de um índice de crepitação
percebido auditivamente na produção deste tipo de som, ele também recebeu o nome de fry (frito)”
(MACHADO, 2012, p. 50).
A voz de Milton Nascimento em presença Capítulo 2 I 36
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
26
Estamos seguindo o padrão de numeração que considera o dó central como 3.
A voz de Milton Nascimento em presença Capítulo 2 I 38
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
Dos 17 discos gravados entre 1980 e 1999, sete são ao vivo. Dentre os
registros ao vivo, alguns estão diretamente relacionados à produção anterior, como
no caso do disco Os Tambores de Minas (1998), com seis novos registros para
composições presentes no disco anterior Nascimento (1997) (assim como em
Milagre dos peixes ao vivo (1974), com seis composições presentes no disco
homônimo de estúdio, gravado em 1973). Outros discos trazem um sentido
celebrativo, como Corazón Americano (1984) – que registra o encontro entre
Mercedes Sosa, Leon Gieco e Milton Nascimento, e inclui composições de outros
artistas latino-americanos, como os argentinos Gustavo Santaolalla, Antônio Tarragó
Ros, Ariel Petrocelli, Daniel Toro e Gustavo Santaolalla, a chilena Violeta Parra, o
brasileiro Chico Buarque, os parceiros Ronaldo Bastos, Fernando Brant e Wagner
Tiso, e ainda o cubano Silvio Rodriguez. A celebração ocorre, ainda, em A barca dos
amantes (1986), que traz novos registros para cinco diferentes canções gravadas
em momentos variados da carreira (“Tarde”, 1969; “Nuvem Cigana”, 1972;
“Maria, Maria”, 1978; “Louvação a Mariama”, 1982; “Lágrima do Sul”, 1985), com a
participação do saxofonista Wayne Shorter, com quem Milton já havia dividido
o disco Native Dancer (1975) e cuja sonoridade podemos ouvir no disco Milton
(1976). O disco Amigo (1995), por sua vez, é uma produção que reúne a Orquestra
Jazz Sinfônica, as vozes das crianças de dois corais (Crianças do programa
Curumim e Rouxinóis, de Dinivópolis/SP), e traz os principais parceiros compositores
(Fernando Brant e Márcio Borges), além de parcerias com Caetano Veloso e Chico
Buarque. Dentre as 12 composições registradas, oito são novas interpretações para
composições gravadas em diferentes momentos da carreira. O disco Milton
Nascimento ao vivo (1983) apresenta, pela primeira vez, a famosa canção “Coração
de estudante”, que aparecerá novamente apenas em discos ao vivo, e as canções
“Nos bailes da vida” (1981), “Um gosto de sol” (1972) e “Para Lennon e McCartney”
(1970). Já O Plante blue na estrada do sol (1981) celebra pessoas queridas, como
Caetano Veloso, Chico Buarque, Edu Lobo/Chico Buarque, além de homenagear a
Agostinho Santos com um de seus grandes sucessos (“Estrada do Sol”, de Tom
Jobim e Vinícius de Moraes), e John Lennon e Paul McCartney com a canção “Hello
Goodbye”. Num projeto mais específico, Missa dos quilombos (1982) surge para
A voz de Milton Nascimento em presença Capítulo 2 I 41
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
27
Trecho do encarte do disco Missa dos Quilombos, de 1982.
A voz de Milton Nascimento em presença Capítulo 2 I 42
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
além de músicos e parceiros frequentes como uma grande reunião expandida para o
mundo –, o segundo olha mais para o interior, do artista, dos ritmos de Minas;
apesar de, pela primeira vez, Milton cantar uma composição de Wayne Shorter, “Ana
Maria”.
Os discos lançados entre 2000 e 2013 celebrarão, predominantemente, o
encontro de Milton com Gilberto Gil (2000), com novas cantoras (Pietá, 2002), com
os discípulos da bossa nova (Novas Bossas, 2008), com os irmãos franceses
jazzistas (Milton Nascimento e Belmondo, 2009), com jovens aspirantes à carreira
musical (...E a gente sonhando, 2010) e, por fim, a comemoração dos 50 anos de
carreira do cantor (2013).
2.4 Quadros de resumo das características vocais em cada uma das fases
1a fase
Ex. Disco Ano Canção Trechos Características vocais
“Travessia”
Sonoridade homogênea
Travessia 1967
“Canção do e contida
Sal”
“Travessia”
Travessia 1967 Projeção nos agudos
“Canção do
Sal”
“Crença”
Travessia 1967 Som arredondado
“Irmão de Fé”
“Catavento”
Travessia 1967
Vocalização de melodias
“Gira Girou”
do arranjo
Courage 1969 “Vera Cruz”
Quebra na expectativa do
Travessia 1967 “Outubro” ouvinte (crescendo culmina
numa queda de dinâmica)
Clareza na pronúncia
Milton Nascimento 1969 “Sentinela”
Reverb que traz profundidade
e efeito de eco
Ornamentação de melodia –
bordadura superior
“Rosa do
Milton Nascimento 1969 Dilação do tempo na gravação
Ventre”
para melhor percepção da
bordadura superior
Voz contida, homogênea, pouco
projetada, bossa novista
Milton Nascimento 1969 “Tarde”
Voz mais mesclada à massa
sonora do acompanhamento
“Pescaria”
“Pai Grande”
Milton Nascimento 1969 Uso privilegiado da percussão
“Quatro Luas”
“Aqui, ó”
Articulação tematizada
Milton Nascimento 1969 “Aqui, ó”
e articulação distendida
Falsete enquanto
“Pai Grande”
recurso timbrístico
Milton Nascimento 1969 Notas em alturas semelhantes
“Sentinela” ao exemplo anterior, mas
emitidas em registro modal
A voz de Milton Nascimento em presença Capítulo 2 I 44
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
2a fase
Ex. Disco Ano Canção Trechos Características vocais
“Clube da
Milton 1970
esquina”
Dobra de voz com instrumento
Clube da Esquina 1972 “Nuvem cigana” na realização da melodia
principal
“Clube da
Clube da Esquina 1972 o
esquina n 2”
“Dos cruces”
“Clube da
o
esquina n 2”
Clube da Esquina 1972
“Me deixa Dobra de voz com instrumento
em paz” em contracantos e improvisos
“Ao que vai
nascer”
DIFERENTES MANEIRAS
DE EXPLORAR O AGUDO
“Outubro”
Milagre dos Peixes Alternância entre entoação
1974
– ao vivo de fala e canto
“Sabe você”
VOZES DE CRIANÇA
EM CORO
Através da incidental
Minas 1975 “Minas”
“Paula e Bebeto”
“Ponta de
Minas 1975 Vozes de crianças
areia”
“Ponta de
1975
areia” Uso recorrente do falsete
Native Dancer
“Milagre dos
1975
peixes”
Clube da Esquina
o 1978 “E daí?”
n 2
“Fazenda”
“Calix bento”
Emprego ressaltado da voz dos
“Caldera”
Geraes 1976 músicos participantes como
“Promessa do valorização do coletivo
sol”
“Circo
marimbondo”
“Volver a los Equilíbrio timbrístico e
17” cruzamento das vozes
Equilíbrio na textura
Geraes 1976 “O que será” (voz de Milton numa frequência
superior à de Chico)
“E daí?”
Clube da Esquina Uso de sonoridade
o 1978
n 2 mais metalizada
“Testamento”
A voz de Milton Nascimento em presença Capítulo 2 I 47
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
3a fase
Ex. Disco Ano Canção Trechos Características vocais
“Canção da Surgem canções que
América” arregimentam público massivo.
Sentinela 1980
(partic. Boca
Livre) Uso ressaltado de glissandos
e portamentos, tessitura
“Caçador de menos ampla.
Caçador de mim 1981
mim”
Voz solista se destaca em
“Nos bailes da relação ao coro.
vida”
Caçador de mim 1981
(partic. Roupa A equalização da voz privilegia
Nova) frequências agudas em
alguns discos.
“Certas
Anima 1982
canções” A emissão é mais aberta
Encontros e “Encontros e em algumas canções.
1985
despedidas despedidas”
A guitarra aparece com
características diferentes,
A barca dos mais distorcida e explorando
1986 “Nuvem cigana”
amantes a estridência.
“Evocação das
Anima 1982
montanhas” Continua a atestar a força
“Seis horas expressiva da voz
Angelus 1993
da tarde”
Com letra e música singelas,
compostas unicamente por Milton
e que, em conjunto com a
Nascimento 1997 “Rouxinol”
interpretação vocal, traduzem um
momento pessoal específico da vida
do cantor/compositor
A voz de Milton Nascimento em presença Capítulo 2 I 48
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
Intervocalidades
Ex. Disco Ano Canção Trechos Características vocais
“Ponta de
Minas 1975
areia”
Coro de crianças em lá lá lá
“Coração
Caçador de Mim 1981
civil”
“Clube da
Clube da Esquina 1972 o
Trecho do improviso da primeira
esquina n 2”
versão usado como variação na
“Clube da seção A” da segunda versão
Angelus 1993 o
esquina n 2”
CAPÍTULO 3
A VOZ VEM DA RAIZ
Tabela 3.1 Relação e localização do disco das canções regravadas ao longo da carreira.
Canções Discos
“Travessia”
Milton Nascimento
e Fernando Brant
“Três Pontas”
Milton Nascimento
e Ronaldo Bastos
“Crença”
Milton Nascimento
e Márcio Borges
“Canção
do Sal”
Milton Nascimento
e Márcio Borges
“Morro velho”
Milton Nascimento
28
Não incluímos aqui seus registros em DVDs (5), suas trilhas para longas-metragens (13) e suas participações
em projetos específicos e discos de outros compositores.
A voz de Milton Nascimento em presença Capítulo 3 I 50
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
“Gira, girou”
Milton Nascimento
e Márcio Borges
“Outubro”
Milton Nascimento
e Márcio Borges
“Vera Cruz”
Milton Nascimento
e Márcio Borges
“Sentinela”
Milton Nascimento
e Fernando Brant
“Tarde”
Milton Nascimento
e Márcio Borges
“Pai grande”
Milton Nascimento
“Para Lennon e
McCartney”
Lô Borges,
Márcio Borges e
Fernando Brant
“Maria, três
filhos”
Milton Nascimento
e Fernando Brant
“Clube da
Esquina”
Milton Nascimento
e Fernando Brant
A voz de Milton Nascimento em presença Capítulo 3 I 51
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
“Tudo o que
você podia ser”
Lô Borges e
Márcio Borges
“Cais”
Milton Nascimento
e Ronaldo Bastos
“Nuvem
Cigana”
Lô Borges e
Ronaldo Bastos
“Cravo e
canela”
Milton Nascimento
e Ronaldo Bastos
“San Vicente”
Milton Nascimento
e Fernando Brant
“Clube da
Esquina
o
n 2”
Milton Nascimento,
Lô Borges e
Márcio Borges
“Os povos”
Milton Nascimento
e Márcio Borges
“Um gosto
de sol”
Milton Nascimento
e Ronaldo Bastos
“Lílian”
Milton Nascimento
e Ronaldo Bastos
A voz de Milton Nascimento em presença Capítulo 3 I 52
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
“Nada será
como antes”
Milton Nascimento
e Ronaldo Bastos
“Milagre dos
peixes”
Milton Nascimento
e Fernando Brant
“A Chamada”
Milton Nascimento
(instrumental)
o
“Pablo n 2”
Milton Nascimento
e Ronaldo Bastos
(instrumental)
“Tema dos
Deuses”
Milton Nascimento
“Hoje é dia
del Rei”
Milton Nascimento
e Márcio Borges
“A última seção
de música”
Milton Nascimento
(instrumental)
“Cadê”
Ruy Guerra e
Milton Nascimento
“Sacramento”
Nelson Angelo e
Milton Nascimento
A voz de Milton Nascimento em presença Capítulo 3 I 53
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
“Pablo”
Milton Nascimento
e Ronaldo Bastos
“Saudade dos
aviões da
Panair”
Milton Nascimento
e Ronaldo Bastos
“Ponta de
areia”
Milton Nascimento
e Fernando Brant
“Idolatrada”
Milton Nascimento
e Fernando Brant
“Paula e
Bebeto”
Milton Nascimento
e Caetano Veloso
“Simples”
Nelson Angelo
“Calix Bento”
Tavinho Moura
“Volver a
Los 17”
Tavinho Moura
“Promessas
do sol”
Milton Nascimento
e Fernando Brant
A voz de Milton Nascimento em presença Capítulo 3 I 54
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
“Circo
marimbondo”
Milton Nascimento
e Ronaldo Bastos
“Raça”
Milton Nascimento
e Fernando Brant
“O cio da terra”
Milton Nascimento
e Chico Buarque
“Credo”
Milton Nascimento
e Fernando Brant
“Casamiento
de negros”
Violeta Parra
“Léo”
Milton Nascimento
e Chico Buarque
de Hollanda
“Maria, Maria”
Milton Nascimento
e Fernando Brant
“Que bom
amigo”
Milton Nascimento
A voz de Milton Nascimento em presença Capítulo 3 I 55
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
“Canção da
América”
Milton Nascimento
e Fernando Brant
“Sueño con
Serpentes”
Silvio Rodriguez
“Amor amigo”
Milton Nascimento
e Fernando Brant
“Caçador de
mim”
Sérgio Magrão e
Luiz Carlos Sá
“Nos bailes da
vida”
Milton Nascimento
e Fernando Brant
“Comunhão”
Milton Nascimento
e Fernando Brant
“Anima”
Milton Nascimento
e José Renato
“Louvação a
Mariama”
Milton Nascimento,
Pedro Casaldáliga
e Pedro Tierra
“Lágrima do
Sul”
Milton Nascimento
e Marco Antonio
Guimarães
A voz de Milton Nascimento em presença Capítulo 3 I 56
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
“Coração de
estudante”
Milton Nascimento
e Wagner Tiso
“Amor de índio”
Beto Guedes e
Ronaldo Bastos
“Feito Nós”
Milton Nascimento
e Paulo Ricardo
“O Planeta
blue”
Milton Nascimento
e Fernando Brant
“Canções e
Momentos”
Milton Nascimento
e Fernando Brant
“Bola de meia,
bola de gude”
Milton Nascimento
e Fernando Brant
“Hello
Goodbye”
John Lennon e
Paul McCartney
“Estrelada”
Milton Nascimento
e Márcio Borges
“Sofro calado”
Milton Nascimento
e Régis Faria
A voz de Milton Nascimento em presença Capítulo 3 I 57
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
“Guardanapos
de papel”
Léo Masliah –
versão de Carlos
Sandroni
“O Rouxinol”
Milton Nascimento
“Janela para
o mundo”
Milton Nascimento
e Fernando Brant
“E agora
rapaz”
Dinho Caninana
“Levantados
do chão”
Milton Nascimento
e Chico Buarque
“Os tambores
de Minas”
Milton Nascimento
e Márcio Borges
29
Por “organizar” a multiplicidade de timbres, criações musicais, composições, arranjos e estilos originários dos
músicos e compositores, cuja produção musical está concentrada na década de 1970 no Brasil. Sobre o Clube da
Esquina, ver Diniz (2012), em que a pesquisadora promove uma ampla reflexão sobre o grupo e sua produção,
além de reunir as pesquisas desenvolvidas anteriormente sobre o grupo.
30
Os fatores que contribuem para esta observação estão relacionados: (a) ao uso do acorde de dominante apenas
no último compasso das seções A’ e B, que é empregado com quarta suspensa, evitando a sensível e assim,
também o trítono (quarta aumentada formada entre a terça e a sétima do acorde de dominante) que naturalmente
induziria a uma resolução harmônica que não irá ocorrer, e (b) ao uso de acordes de subdominante localizados
nos compassos de tempo forte, o que privilegia a sensação de movimento causada pela função subdominante.
Ver a partitura em Nunes (2005, p. 117). Haverá uma exposição mais detalhada da partitura mais adiante.
31
Márcio Borges (1996, p. 336) conta, em seu livro, que escreveu a letra da canção a pedido de Nana Caymmi,
para que a gravasse em seu disco.
A voz de Milton Nascimento em presença Capítulo 3 I 59
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
Figura 3.2 Melodia da parte A com as duas metades sobrepostas sobre a mesma progressão harmônica
(primeira metade em cinza e segunda metade em preto).
A voz de Milton Nascimento em presença Capítulo 3 I 60
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
32
Há muitas divergências sobre a nomenclatura dos registros vocais. Para uma apresentação mais detalhada ver
as pesquisas de Mariz (2013, p. 53-60) e Piccolo (2006, p. 88-93). Para esta pesquisa, a abordagem resumida –
mas esclarecedora – trazida por Machado (2012, p. 50-51) em sua tese é suficiente, na qual os registros são
divididos em três: (1) basal ou fry, em que a voz atinge frequências extremamente graves; (2) modal, em que a
maior parte da voz falada e cantada é produzida. O registro modal se divide em três sub-registros conforme a
sensação corporal causada por estes: baixo/peito, médio/glótico e alto/cabeça. (3) Por fim, o registro elevado
representado pelo falsete (voz aguda comumente airada) e flauta (assovio).
A voz de Milton Nascimento em presença Capítulo 3 I 61
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
Figura 3.4 Letra de “Clube da Esquina no 2” com a estrutura formal da gravação de 1993 presente em Angelus.
Introdução
estrofees
6 Porque se chamavam homens
estrofe
a
7
8
9
10
Também se chamavam sonhos
E sonhos não envelhecem
Em meio a tantos gases lacrimogêneos
Ficam calmos, calmos, calmos, calmos...
A’ 2 estrofe
estrofe
Figura 3.5 Uso de diferentes prolongamentos vocálicos e articulações rítmicas a cada nova estrofe.
...
A voz de Milton Nascimento em presença Capítulo 3 I 65
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
33
Sobre tensividade, ver citação de Maria L. V. Paiva Diniz trazida por Machado (2012, p. 61). Resumidamente,
“a tensividade é um lugar imaginário de operações onde atuam duas dimensões: a intensidade (o sensível) e a
extensidade (o inteligível)”. Segundo Zilberberg (2011), essa junção indefectível (do sensível e do inteligível)
define um espaço tensivo de recepção e qualificação para as grandezas que têm acesso ao campo de presença:
pelo próprio fato de sua inserção nesse espaço, toda grandeza discursiva vê-se qualificada, primeiramente, em
termos de intensidade e extensidade e, em seguida, em termos de subdimensões controladas por elas”
(ZILBERBERG, 2011, p. 67).
A voz de Milton Nascimento em presença Capítulo 3 I 66
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
34
Dentre eles, o contrabaixista americano Ron Carter, o baterista Jack Dejohnette, o pianista Herbie Hancock, o
guitarrista Pat Metheny, o saxofonista Wayne Shorter, e o pianista, acordeonista e arranjador Gil Goldstein com
arranjo orquestral e regência em duas canções.
35
Dentre elas, o timbre rouco do cantor inglês de world music, Peter Gabriel, a voz aguda do vocalista Jon
Anderson, também inglês, da conhecida banda de rock progressivo dos anos de 1970 (Yes), e o timbre
ligeiramente nasal e aberto de James Taylor.
A voz de Milton Nascimento em presença Capítulo 3 I 67
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
mundo. A voz cresce projetada e frontal sobre a palavra “gente”, com acentos na
primeira sílaba que são acompanhados pela bateria, emitindo um grito cantado que
modifica a melodia original e insere notas mais agudas.
De maneira resumida, podemos observar na Figura 3.7 a curva
interpretativa resultante da combinação entre dinâmica, timbre e emissão,
explorados nos quatro momentos mencionados, que resultam em diferentes
qualidades emotivas sobre o mesmo desenho melódico; com exceção do último
(palavra “gente”), no qual notas mais agudas são emitidas – em modificação à
melodia original –, reforçando a curva ascendente já desenhada pela dinâmica e
emissão e enfatizando o chamado à uma ação coletiva.
Figura 3.7 Curva interpretativa sobre as palavras “aço”, “calmos”, “rio” e “gente”.
36
Lembrando que a versão de 1972 aparece, aqui, transposta de ré maior para sib com a finalidade de ser
comparada com a versão de 1993.
A voz de Milton Nascimento em presença Capítulo 3 I 71
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
para que seja vencida, sobre a qual o enunciador investe sua energia, gasta suas
forças, atinge o ápice e, em seguida, precisa se reestabelecer.
Figura 3.9 Pontos de respiração sobre a repetição das palavras “aço”, “calmos”, “rio” e “gente”.
Figura 3.10 Trecho vocalizado nos quatro últimos compassos da seção A’.
Figura 3.11 Novo ritmo gerado pelas ênfases dada às notas na performance vocal.
37
Considerando a grande amizade entre Milton Nascimento e Lô Borges, a parceria na composição da canção e a
produção de Milton para o disco de 1979 do parceiro, imaginamos que as modificações harmônicas ocorridas ali
resultam de um trabalho coletivo, não apenas dos compositores, mas também dos músicos envolvidos. Por outro
lado, para nossa observação aproximada, importa mais interpretar o que tais caminhos harmônicos provocam no
campo auditivo e de significado da canção, do que averiguar a autoria dos mesmos.
A voz de Milton Nascimento em presença Capítulo 3 I 77
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
38
Freitas (2010) utiliza o termo desfuncional como uma das variáveis da expressão afuncional, e vincula as
ideias como independência (p. 488) e autonomia (p. 785).
A voz de Milton Nascimento em presença Capítulo 3 I 78
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
Figura 3.14a Seção A de “Clube da Esquina no 2”, apresentada de maneira comparativa entre
as versões de 1972, 1979 e 1993.
Figura 3.14b Segunda metade da seção A de “Clube da Esquina no 2”, que representa o final da
seção A’ nas versões de 1972, 1979 e 1993.
39
Com base na teoria da harmonia funcional, um acorde de função subdominante atrai um acorde de função
dominante que, por sua vez, atrai um acorde de função tônica, realizando a cadência completa e direcional
S – D –T (FREITAS, 1995, p. 30-36; ALMADA, 2009, p. 63; TINÉ, 2011, p. 4-5). No trecho citado da canção, a
combinação dos acordes é invertida e resulta na progressão T – D – S, deixando de realizar a direção própria da
harmonia tonal. Citando outros autores, Freitas (2010, p. 696) traz a expressão “movimento harmônico
regressivo” mostrado por Carter (2009, p. 110) na música pop rock, e os termos “antidireção” ou “involução”,
fazendo referência aos exemplos deste tipo de progressão apresentada nos trabalhos de Schenker (1990, p. 78-
88) e Schoenberg (2001, p. 202).
A voz de Milton Nascimento em presença Capítulo 3 I 81
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
na grande indústria fonográfica, com 27 discos gravados até então, seu improviso
out side provavelmente soa comum para um público habituado a ouvir música
instrumental e jazz; mas para os ouvintes da canção de massa, tais notas
possivelmente impactam na escuta. Nesta perspectiva, a composição do improviso
parece trazer um sentido agregador que permite aproximar diferentes públicos, fazer
conviver harmonias maiores, menores e modais, e pôr lado a lado intervalos
conflitantes num mesmo acorde.
Figura 3.14c Seção B de “Clube da Esquina no 2” nas versões de 1972, 1979 e 1993.
41
Ver argumento desenvolvido por Nascimento (2005) no artigo Música Popular e continuum criativo.
A voz de Milton Nascimento em presença Capítulo 3 I 83
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
42
Em referência ao livro de Gilberto Vasconcellos, intitulado Música Popular: de olho na fresta (1997).
A voz de Milton Nascimento em presença Considerações finais I 84
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Artigos
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FERREIRA, J. G. P.; MUSI, P. A influência da performance vocal no
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criança. PER MUSI – Revista Acadêmica de Música, p. 72, 2007.
REYNER, I. R. Pierre Schaeffer e sua teoria da escuta. Opus, Porto Alegre, v. 17, n.
2, p. 77-106, dez. 2011.
______. Análise musical para “não-musos”: percepção popular como base para a
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VILELA, I. Nada ficou como antes. Revista USP, São Paulo, n. 87, p. 14-27, set./nov.
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______. Ouvir a música como uma experiência imprescindível para ser fazer
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Música da UFPR, v. 7, n. 2, dez. 2014, Curitiba: DeArtes, 2014.
A voz de Milton Nascimento em presença Referências bibliográficas I 89
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
Capítulos de livro
______. O que vem primeiro: o texto, a música ou a performance? In: MATOS, C. N.;
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BAHIANA, A. M. Nada será como antes: MPB anos 70 – 30 anos depois. Rio de
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______. Corpo e forma: ensaios para uma crítica não-hermenêutica. Organizado por
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MARSOLA, M.; BAÊ, T. Canto uma expressão: princípios básicos de técnica vocal.
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PACHECO, C.; BAÊ, T. Canto: equilíbrio entre corpo e som: princípios da fisiologia
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TATIT, L.; LOPES, I. C. Elos de melodia e letra: análise semiótica de seis canções.
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Diniz Pochat e Maria Inês de Almeida. São Paulo: Editora Hucitec, 1997.
Monografia
Dissertações
Teses
Revistas eletrônicas
Sites
<http://www.miltonnascimento.com.br/>.
<http://www.dicionariompb.com.br/>.
<http://www.vatican.va/various/cappelle/sistina_vr/index.html>.
Arquivos sonoros
NASCIMENTO, Milton; BORGES, Lô; BORGES, Márcio. Clube da Esquina n o 2. In:
Clube da Esquina. Com Milton Nascimento (solfejo, violão solo e voz); Lô Borges
(guitarra); Luiz Alves (baixo); Robertinho Silva (bateria); Nelson Ângelo (guitarra);
Eumir Deodato (arranjo); Paulo Moura (regência) e Wagner Tiso (órgão).
Remasterizado nos Estúdios ABBEY ROAD. Londres, 1994. (CD 830429 2). LP
original gravado nos Estúdios EMI-ODEON. Rio de Janeiro, 1972.
______. Milton Nascimento. Rio de Janeiro: EMI-Odeon, 1969. (CD 830432 2).
______. Milagre dos peixes. Rio de Janeiro: EMI-Odeon, 1973. (CD 790790 2).
A voz de Milton Nascimento em presença Referências bibliográficas I 95
Thais dos Guimarães Alvim Nunes
______. Milagre dos peixes ao vivo. Rio de Janeiro: EMI-Odeon, 1974. (CD 830430 2).
______. Clube da Esquina 2. Rio de Janeiro: EMI-Odeon, 1978. (CD 791606 2).
Jornais