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Metodologia Científica
Gestão da Educação a Distância
Cidade Universitária – Bloco C
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Bairro Aeroporto. Varginha /MG
ead.unis.edu.br
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Todos os direitos desta edição ficam


reservados ao Unis – MG.
É proibida a duplicação ou reprodução
deste volume (ou parte do mesmo),
sob qualquer meio, sem autorização
expressa da instituição.

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Metodologia Científica
Autoria

Prof. Dr.
Celso Augusto dos Santos Gomes

É doutor em educação, pesquisando a (re)significação docente de formadores de


musicalizadores na convergência de ambientes virtuais e físicos. É mestre em
Tecnologias da Inteligência e Design Digital sob a área de concentração de
"Processos Cognitivos e Ambientes Digitais" onde focalizou a linha de pesquisa
"Aprendizagem e Semiótica Cognitiva". No mestrado, contou com bolsa
CAPES/PROSUP, onde pesquisou por recursos tecnológicos, ubíquos e pervasivos
em processos cooperativos de ensino e aprendizagem. Também tem as seguintes
pós-graduações (lato sensu): Docência em Educação a Distância, Psicopedagogia
Institucional, Designer Instrucional para a EaD virtual e Tecnologia e EaD. Tem
licenciatura e Bacharelado em Música com habilitação em Instrumento (Guitarra
Jazz). Atualmente é Coordenador do Curso de Licenciatura em Música e professor
em cursos de graduação e pós-graduação do Unis-MG. Tem experiência na área
das tecnologias aplicadas à educação superior, à gestão de conhecimentos
corporativos, à educação a distância e musical. Atuou como membro do Comitê de

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Metodologia Científica
Ética em Pesquisa da Fundação de Ensino e Pesquisa do Sul de Minas -
CEP/FEPESMIG.

Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/8784835682994528

GOMES, Celso Augusto dos Santos. Guia de Estudo – Metodologia


Científica. Varginha: GEaD-UNIS/MG, 2017.
98 p.
1. Pensamento Científico 2. Citações e Referências 3. Projeto de
Pesquisa.
I. Metodologia Científica.

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Metodologia Científica
Saudações!
Este material foi construído com a intenção de ser um apoio para que
possamos nos direcionar a um importante componente em nosso atual percurso
acadêmico: o trabalho de conclusão de curso.
Um trabalho que se destina à construção de conhecimentos de uma forma
um pouco diferente da que vimos nas outras disciplinas deste curso. Essa
construção de conhecimentos, portanto, se mostrará pautada na
interdisciplinaridade e na articulação entre teoria e prática. Uma articulação que
tende a acontecer no ato de se pesquisar e refletir sobre conceitos, técnicas e
estratégias presentes no campo do conhecimento deste curso, trazendo à tona
temas assimilados durante o período de estudo, de modo a proporcionar a você o
nível adequado frente ao tema geral desta graduação.
Embora todas as outras disciplinas deste curso se mostrem fundamentais
para a condução, a disciplina que desenvolveremos com base neste material servirá
para que possamos conectar de forma efetiva nossos conhecimentos com a
realidade.
Portanto, a produção de conhecimentos, tendo em vista o exercício da
pesquisa científica, certamente exigirá de você muito esforço. Um esforço que lhe
conduzirá, cada vez mais, a transformar-se em um profissional com conhecimentos
concretos. Ou seja, com conhecimentos que, ao focar determinado tema, lhe
ajudarão a desenvolver a criticidade e o comprometimento com as necessárias
transformações ao meio social que lhe envolve, visto que essas são as principais
características do profissional pesquisador.

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Metodologia Científica
Apesar de o tema da metodologia da pesquisa científica parecer algo
monótono e extremamente teórico, convido você a ler este material tendo sempre
em vista a sua pesquisa de conclusão de curso: o seu tema, as suas perguntas, as
suas hipóteses, o seu percurso de pesquisa. Assim, espero que você interaja com
este material de forma a dialogar, concordar parcial ou integralmente, discordar
parcial ou integralmente com meus escritos e dos autores por mim aqui mostrados,
para que seja possível construir o caminho para a sua pesquisa e para o seu
crescimento profissional, tendo em vista sempre a criticidade.

Abraço, boas leituras e ótimas reflexões!


Prof. Celso Gomes

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Metodologia Científica
Ementa
O conhecimento científico, a ciência e o senso comum. O método e
metodologia científica. Tipos de trabalhos científicos. Redação do
trabalho, estrutura lógica e estilo. Técnica de esquematizar, resumir e
fichar. Estrutura do projeto de pesquisa. Produção do trabalho
científico: da definição do tema à elaboração da conclusão. Definição do
método e a pesquisa científica. Regras da ABNT. Técnicas de
apresentação do trabalho.

Orientações
Ver Plano de Estudos da disciplina, disponível no Ambiente Virtual.

Palavras-chave
Pensamento Científico. Citações e Referências. Projeto de Pesquisa.

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Metodologia Científica
EMENTA____________________________________________________________________ 7
ORIENTAÇÕES ______________________________________________________________ 7
PALAVRAS-CHAVE ___________________________________________________________ 7

UNIDADE I - DIFERENCIANDO CIÊNCIA DE OUTRAS FORMAS DE CONHECIMENTO ___ 11


1. INTRODUÇÃO _____________________________________________________________ 12
1.2 SENSO COMUM ___________________________________________________________ 14
1.3 IDEOLOGIA ______________________________________________________________ 17
1.4 CIÊNCIA_________________________________________________________________ 20
1.4.1CRITÉRIOS INTERNOS DA CIÊNCIA _____________________________________________ 20
1.4.2 CRITÉRIOS EXTERNOS DA CIÊNCIA _____________________________________________ 23
UNIDADE II – CONHECIMENTOS DISCIPLINARES, O MÉTODO CIENTÍFICO ___________ 27
2. INTRODUÇÃO _____________________________________________________________ 28
2.1 A IMPORTÂNCIA DOS CONHECIMENTOS DISCIPLINARES PARA A PRODUÇÃO CIENTÍFICA________ 28
2.2 MÉTODO CIENTÍFICO _______________________________________________________ 31
2.2.1 CONHECIMENTO, CIÊNCIA E MÉTODO __________________________________________ 31
2.2.2. A METODOLOGIA CIENTÍFICA ________________________________________________ 34
UNIDADE III – REVISÃO DE LITERATURA ________________________________________ 44
3. INTRODUÇÃO DA UNIDADE ___________________________________________________ 45
3.1 REVISÃO DE LITERATURA PARA SE ESTABELECER O ESTADO DA ARTE ______________________ 45
UNIDADE IV – PESQUISA QUANTO AOS PROCEDIMENTOS ________________________ 49
4. INTRODUÇÃO _____________________________________________________________ 50
4.1 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA ____________________________________________________ 50
4.2 PESQUISA DE CAMPO _______________________________________________________ 51
4.3 PESQUISA DE LABORATÓRIO __________________________________________________ 52
4.4 PESQUISA DOCUMENTAL 
 ___________________________________________________ 52
4.5 PESQUISA EX-POST-FACTO ___________________________________________________ 53
4.6 PESQUISA DE LEVANTAMENTO _________________________________________________ 53
4.7 PESQUISA COM SURVEY ______________________________________________________ 54
4.8 ESTUDO DE CASO _________________________________________________________ 55
4.9 PESQUISA-AÇÃO __________________________________________________________ 56
4.10 PESQUISA PARTICIPANTE ____________________________________________________ 59
4.11 PESQUISA ETNOGRÁFICA ____________________________________________________ 60

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Metodologia Científica
4.12 PESQUISA ETNOMETODOLÓGICA______________________________________________ 61
UNIDADE V – PESQUISA QUANTO À ABORDAGEM, NATUREZA E OBJETIVOS ________ 63
5. INTRODUÇÃO _____________________________________________________________ 64
5.1 PESQUISA QUANTO À ABORDAGEM _____________________________________________ 64
5.1.1 PESQUISA QUALITATIVA ____________________________________________________ 64
5.1.2 PESQUISA QUANTITATIVA ___________________________________________________ 68
5.3 QUANTO À NATUREZA _____________________________________________________ 71
5.3.1 PESQUISA BÁSICA _________________________________________________________ 71
5.3.2 PESQUISA APLICADA_______________________________________________________ 71
5.3.3 PESQUISA EXPLORATÓRIA ___________________________________________________ 71
5.3.4 PESQUISA DESCRITIVA______________________________________________________ 72
5.3.5 PESQUISA EXPLICATIVA _____________________________________________________ 73
ESTUDO DE CASO __________________________________________________________ 74
CONSTRUINDO UM PROJETO DE PESQUISA ____________________________________ 74
ELEMENTOS PRÉ-TEXTUAIS ______________________________________________________ 76
ELEMENTOS TEXTUAIS _________________________________________________________ 77
INTRODUÇÃO _______________________________________________________________ 77
TEMA _____________________________________________________________________ 78
A JUSTIFICATIVA ______________________________________________________________ 78
OS OBJETIVOS _______________________________________________________________ 80
HIPÓTESES __________________________________________________________________ 81
REFERENCIAL TEÓRICO _________________________________________________________ 83
METODOLOGIA ______________________________________________________________ 88
OBJETO DE PESQUISA __________________________________________________________ 90
PLANO DE TRABALHO OU SUMÁRIO PROVISÓRIO ______________________________________ 91
COLETA DE DADOS ___________________________________________________________ 92
ORÇAMENTO _______________________________________________________________ 93
CRONOGRAMA ______________________________________________________________ 93
ASPECTOS ÉTICOS ____________________________________________________________ 93
REFERÊNCIAS ________________________________________________________________ 94
APÊNDICES _________________________________________________________________ 94
ANEXO ____________________________________________________________________ 94
CONSIDERAÇÕES FINAIS ____________________________________________________ 95
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ________________________________________________ 96

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Metodologia Científica
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Metodologia Científica
Unidade I - Diferenciando

I ciência de outras formas de


conhecimento

Objetivos da Unidade

 Distinguir a ciência de outras formas de conhecimento. Compor


conceitos de ideologia e suas inferências nos critérios internos e
externos da ciência.

Plano de Estudos

 Ciclo 01
 Atividade Teste
 Título: Diferenciando Ciência de Outros Conhecimentos

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Metodologia Científica
Unidade I

1. Introdução
Para tal diferenciação, faz-se necessário definir não só a ciência, mas as
principais formas de conhecimento. Uma tarefa realmente complexa e que muitas
vezes é simplificada pela ação de se considerar que cada campo de conhecimento
não é o outro, como podemos observar nos esquemas a seguir:

O que é O que é senso


ciência? comum?

Respostas Respostas

Não é Não é senso Não é Não é


ideologia comum ciência ideologia

O que é
ideologia?

Respostas

Não é Não é senso


ciência comum

Tendo em vista a relação conceitual entre tais


campos de conhecimento, poderíamos entender
que eles são bem delimitados entre si, como se
observa no esquema a seguir:

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Metodologia Científica
Unidade I

Senso
Ideologia Comum

Ciência

Mas será que o esquema anterior é realmente


verdadeiro? Será que há limites rígidos entre tais
conceitos?

Como nos mostra Demo (1995), essas formas de conhecimento aparecem


sempre mais ou menos misturadas, já que a ciência está cercada de ideologia e
senso comum, não apenas como circunstâncias externas, mas como algo que já está
dentro do próprio processo científico, como se observa a seguir:

Ideologia

Senso
Comum

Ciência

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Metodologia Científica
Unidade I

Nesse sentido, há de se entender que a ciência, portanto, se mostra como


um processo incapaz de produzir conhecimento puro, historicamente não-
contextualizado.
Mas, para podermos compreender melhor essa relação entre ciência,
ideologia e senso comum, que tal intentarmos definir senso comum?

1.2 Senso comum


Antes de tentarmos definir esse campo de conhecimento, vale destacar que
ele possui uma grande importância na história dos problemas filosóficos,
especialmente por estar associado à experiência tradicional. Pedro Demo (1995)
mostra que:
[...] o critério de distinção do senso comum é o conhecimento acrítico,
imediatista, crédulo. O homem simples da rua também "sabe" de
inflação, mas seu conhecimento é diferente do conhecimento do
economista, que é capaz de elaborar uma teoria da inflação, discutir
causas e efeitos. Pode-se colocar no senso comum modos
ultrapassados de conhecer fenômenos ou também crendices sem base
dita científica. O agricultor pode ter seu método de previsão de chuva
ligado a insinuações que considera indicativas, como certo
comportamento de um pássaro; o agrônomo orienta-se por
indicadores bem diferentes. O senso comum é, assim, marcado pela
falta de profundidade, de rigor lógico, de espírito crítico, mas não possui
apenas o lado negativo, a começar por ser o saber comum que
organiza o cotidiano da maioria. (p. 17)

Não obstante, vale destacar que muitas vezes o senso comum se mostra
como uma das fontes de inspiração para se iniciar uma pesquisa científica. Como
mostra Bunge (1975), parte do conhecimento prévio do qual se inicia toda
investigação científica é conhecimento ordinário, isto é, conhecimento não
especializado composto pelo senso comum e também pelo próprio conhecimento
científico.

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Metodologia Científica
Unidade I

Entretanto, ainda baseados no autor supracitado, é


importante ressaltar que o senso comum não pode
ser juiz autorizado da ciência, e a tentativa de
estimar as ideias e os procedimentos científicos à luz
do conhecimento comum ou ordinário
exclusivamente é inadequada: a ciência elabora seus
próprios cânones de validade e, em muitos temas,
se encontra muito longe do conhecimento comum.

Segundo Demo (1995), o lado mais positivo do senso comum é o bom


senso, e é um saber ao mesmo tempo simples e inteligente, sensível e óbvio,
circunspecto. O senso comum tem expressões que significam e nos fazem pensar,
como os ditados populares relacionados abaixo:

"Cada cabeça, uma sentença."

"Quem desdenha quer comprar."

"Quem ri por último ri melhor."

"A pressa é a inimiga da perfeição."

"Se conselho fosse bom, não era dado de


graça."

Entretanto, diante da ciência, o senso comum não é considerado como


postura eficiente. Uma justificativa que se calca na ideia de que o senso comum tem

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Metodologia Científica
Unidade I

pouca ou nenhuma profundidade frente ao rigor lógico da ciência. Demo (1995)


destaca que, “diante da ciência, [o senso comum] é considerado como postura
deficiente e, no extremo, a própria negação dela” (p.17).
Mas sobre o bom senso há de se considerar que, segundo Bunge (1975),
efetivamente, tanto o bom senso quanto o conhecimento científico aspiram a ser
racionais e objetivos: são críticos e aspiram a coerência (racionalidade) e têm a
intenção de adaptação aos fatos, ao invés de se permitir especulações sem controle
(objetividade). Assim, Bunge (1975) mostra que a descontinuidade radical entre a
ciência e o conhecimento comum em numerosos aspectos e, particularmente, no
que se refere ao método, não deve, de todo o modo, fazer-nos ignorar sua
continuidade em outros aspectos, pelo menos se limitarmos o conceito de
conhecimento comum às opiniões sustentadas pelo que se costuma chamar de
bom senso.

Ainda apoiando-nos no autor supracitado, há de se


considerar que o senso comum não pode conseguir
mais que uma objetividade limitada, porque está
demasiadamente vinculado à percepção e à ação, e
quando as ultrapassa, o faz sob a forma do mito. Só
a ciência inventa teorias que, mesmo que não se
limitem a condensar nossas experiências, podem
contrastar-se com esta para serem verificadas ou
falseadas. Nesse sentido, é importante destacar que:

A ciência não é uma mera extensão nem um simples refinamento do


conhecimento ordinário, no sentido em que o microscópio, por
exemplo, amplia o âmbito da visão. A ciência é um conhecimento de
natureza especial: trata primeiramente, ainda que não exclusivamente,
de acontecimentos inobserváveis e não suspeitados pelo leigo, como a
evolução das estrelas e a duplicação dos cromossomos; a ciência

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Metodologia Científica
Unidade I
inventa e arrisca conjecturas que vão além do conhecimento comum,
tais como as leis da mecânica quântica ou as dos reflexos
condicionados; e submete esses supostos a contrastação com a
experiência com ajuda de técnicas especiais, como a espectroscopia ou
o controle do suco gástrico, técnicas que, por sua vez, requerem teorias
especiais (BUNGE, 1975, p. 3)

Portanto, segundo o autor acima, é importante entender que os enunciados


referentes à experiência imediata que produz o senso comum não se mostram
essencialmente incorrigíveis e raras vezes se mostram dignos de dúvida. Assim,
mesmo que os conhecimentos do senso comum se mostrem como conjecturas; na
prática, os manejamos como se fossem certezas. Por essa razão, tais conhecimentos
se mostram frequentemente irrelevantes no que diz respeito à cientificidade. Então,
podemos nos perguntar:

Se podemos lidar os conhecimentos de modo


suficiente pelo senso comum, porque então a
necessidade de se apelar para a ciência?

A resposta para essa questão é que precisamos utilizar da ciência porque os


enunciados que se referem ao senso comum são imediatos e duvidosos e,
portanto, vale à pena submetê-los várias vezes à contrastação e dar-lhes um
fundamento. Mas em ciência, a dúvida é muito mais criadora que paralisadora, pois
a dúvida estimula a investigação, a busca de ideias que deem razão aos fatos de um
modo cada vez mais adequado (BUNGE, 1975).

1.3 Ideologia
O critério da ideologia, segundo Demo (1995), pode ser entendido tendo
em vista o seu caráter justificador de posições sociais vantajosas. Assim, diferente do
senso comum, que está despreparado diante de uma realidade mais complexa por
apresentar uma visão ingênua, a ideologia se mostra:

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Metodologia Científica
Unidade I

[...] intrinsecamente tendenciosa, no sentido de não encarar a realidade


assim como ela é, mas como gostaria que fosse, dentro de interesses
determinados. Para deturpar a realidade de acordo com seus interesses,
a ideologia usa de instrumentos científicos, no que pode adquirir
extrema sofisticação. Pode chegar à mentira, quando não só deturpa,
mas inverte os fatos, fazendo de versões, fatos. (DEMO, 1995, p. 17)

Portanto, pode-se entender que ideologia se esforça a se calcar no


argumento de defender a satisfação de uma necessidade básica humana
(BROWNOWISKY apud DEMO, 1995). Mas, por trás dessa concepção, se observa
que a ideologia pode ser compreendida como sombra inevitável do fenômeno do
poder, que dela lança mão para se justificar. Isso quer dizer que ideologia se
apresenta como um poder sagaz que não se diz como poder, mas que deseja
dominar, que busca vassalos e que detesta contestação.

A ideologia, muitas vezes, se mostra como desígnio


de Deus, com mérito histórico, de boa intenção em
favor dos fracos. Entretanto, a ideologia não é
apenas sistema de crenças, mundivisão, maneira
particular de ver as coisas, mas específica justificação
de serviço ao poder. Portanto, se pode entender
que a ideologia imbrica a religião principalmente
quando essa última serve a posturas dominantes.

Demo (1995) destaca que a ideologia em seu estado mais inteligente se


traveste de ciência e, por isso, seu arquiteto típico é o intelectual, figura importante
na justificação do poder, como também no outro lado:
[...] na elaboração da contra ideologia, com vistas a mudar a história
dominante. Entre os intelectuais sobressaem os que têm origem nas
ciências sociais e similares, porque estão mais afeitos às condições
sociais da estruturação do poder e das vantagens. Neste contexto
transparece já a tendência histórica das ciências sociais de estarem mais

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Metodologia Científica
Unidade I
a serviço do poder, organizando técnicas de controle social, do que a
serviço da emancipação dos desiguais (DEMO, 1995, p. 19).

No campo de conhecimento do nosso curso, ou seja, nas ciências sociais, o


fenômeno ideológico é intrínseco, pois está no sujeito e no objeto. Nesse sentido,
há de se concluir que a própria realidade social se mostra ideológica, porque é
produto histórico no contexto da unidade de contrários, em parte feita por atores
políticos, que não poderiam - mesmo que quisessem - ser neutros. Portanto, não
existe história neutra, assim como não existe ator social neutro.

Tendo em vista tudo o que vimos, você acha que a


ideologia pode ser suprimida?

Segundo Gramsci (1972), a ideologia não pode ser suprimida, apenas


controlada.
Você concorda? Será que ela pode ser mesmo controlada? Será que, em
algumas situações, ela foge do controle?
Com essas concepções de ideologia e senso comum, há de se compreender
que a ciência, como Demo (1995) nos mostrou anteriormente, está repleta de
senso comum e de ideologia.
Pois pense, se ela está repleta de senso comum e de ideologia, porque seria
impossível dominar de todo a realidade, ou discursar sobre ela com apenas o
conhecimento especializado de todas as suas facetas? Como mostra Demo (1995),
a ciência também está carregada de ideologia, pois conhecimento é influenciado por
interesses, além de estar sempre em contexto de prática histórica contraditória.
Assim, podemos entender que a presença da ideologia decorre do débito social,
como transudação normal de um fenômeno político.

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Metodologia Científica
Unidade I

Se ciência não é senso comum, nem ideologia,


embora com eles convivam intrinsecamente, o que
é ciência então? Ela é mesmo superior ao senso
comum?

1.4 Ciência
Respeitando vezos acadêmicos comuns, Demo (1995) mostra que, para
tentar responder à questão anteriormente colocada, há de se entender dois
critérios: internos e externos.

1.4.1Critérios internos da ciência


Os externos são atribuídos de fora, já os internos fazem parte da própria
tessitura da ciência e, assim, são imanentes, como podemos observar a seguir:

A ciência é coerente

A ciência é coerente, ou seja, um discurso evolui sem entrar em contradição


a partir do momento em que se estabelece seu ponto de partida, tanto no sentido
de não partir de premissas conflitantes, como de ter um corpo intermédio
concatenado, e também no sentido de chegar a conclusões congruentes entre si e
entre as premissas iniciais.
Assim, vale destacar que os enunciados científicos, como os do senso
comum, são opiniões, mas opiniões com coerência, ou seja, ilustradas (fundadas e
contrastáveis), em contraste ao que se observa no senso comum, opiniões que não
são suscetíveis a “contrastação” e prova (BUNGE, 1975).

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Metodologia Científica
Unidade I

Por ter coerência, a ciência mostra sua propriedade lógica, ou seja, ela tem:

- Falta de contradição.
- Argumentação bem estruturada.
- Corpo sistemático e bem deduzido de enunciados.
- Desdobramento do tema de modo progressivo e
disciplinado, com começo, meio e fim.
- Dedução lógica de conclusões.

A ciência tem consistência

A ciência tem a capacidade de resistir a argumentações contrárias. Vale


destacar que essa característica difere da coerência porque esta é estritamente
lógica, assim, a consistência se liga também à atualidade da argumentação. Dos livros
produzidos num ano, apenas alguns sobrevivem, bem como os autores, apenas
alguns se tornam clássicos, porque produzem estilos resistentes de argumentação,
tanto em sentido lógico, quanto em sentido de atualidade.
A consistência, segundo Demo (1995), admite conotação histórica, que vai
crescendo nos critérios seguintes, assim:
Não se trata de estabelecer dicotomia entre critérios mais formais e
mais históricos, porque o fenômeno científico é marcado pelos dois. Em
outra linguagem, podemos falar de qualidade formal e de qualidade
política. Por qualidade formal entende-se a propriedade lógica,
tecnicamente instrumentada, dentro dos ritos acadêmicos usuais:
domínio de técnicas de coleta, manuseio e uso de dados; capacidade de
manipular bibliografia; versatilidade na discussão teórica; conhecimento
de teorias, de autores; feitura de passos consagrados, como percurso da
graduação, dissertação de mestrado, tese de doutorado, etc. Embora
tudo isso possa resultar no "idiota especializado", são marcas
fundamentais do processo científico. (p. 21)

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Metodologia Científica
Unidade I

A ciência precisa ter originalidade

A originalidade da ciência significa produção não-tautológica, ou seja,


inventiva, baseada na pesquisa criativa, e não apenas repetitiva. Esse critério é algo
muito importante, principalmente na era em que vivemos e que, por ser chamada
de era do conhecimento, é constituída por uma vastidão de informações. Assim, a
originalidade fica cada vez mais difícil de ser totalmente alcançada, isso sem falar da
facilidade que se tem de se copiar e colar. Uma qualidade ou deformidade que as
tecnologias propiciam frente aos trabalhos acadêmicos, principalmente no que se
entende por originalidade.

Para refletir sobre essa importante característica da


ciência - a originalidade -, acesse a seguinte
reportagem, no link:

http://www.valor.com.br/internacional/2997800/mini
stra-da-educacao-alema-perde-doutorado-por-plagio

A ciência é coerente

A objetivação na ciência significa a tentativa - nunca completa - de descobrir


a realidade social assim como ela é, e mais do que como gostaríamos que fosse.
Como não há conhecimento objetivo, não existe o critério de objetividade, que é

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Metodologia Científica
Unidade I

substituído pelo de objetivação. Ainda que ideologia seja intrínseca, é fundamental


buscar controlá-la, pois a meta da ciência é a realidade, não sua deturpação.
Em consonância com Demo (1995), podemos entender que esses quatro
critérios tentam cercar a complexidade do fenômeno científico, sem poder esgotá-
lo, até por uma razão lógica inerente. Assim, podemos entender que:
A seleção de critérios conduz a um regresso ao infinito, porque não há
definição cabal de nenhum termo. Se definimos o científico como o
coerente, é mister definir o coerente. Se definimos o coerente como o
não-contraditório, é mister definir o não-contraditório, e assim
indefinidamente. Quer dizer, o número quatro não é sagrado, ou seja,
não fazemos "a" demarcação científica, mas uma versão possível dela
(DEMO, 1995, p. 21).

Vale notar que esses quatro critérios são:


 Heterogêneos (em certa extensão).
 Caracterizados por se interpenetrarem.
 Tendencialmente formais (destacando-se a coerência como apenas
formal).

Portanto, vale destacar que os quatro critérios internos à ciência nada dizem
sobre conteúdos. Por isso, uma ideologia pode ser coerente a eles, principalmente
na forma de se desdobrarem. Pode-se observar que tal coerência entre ideologia e
os quatro critérios não é defeito, mas sim uma característica, por mais que possa
decair em ritos vazios, ou seja, usar lógica impecável para um conteúdo irrelevante
ou politicamente nefasto (DEMO, 1995).

1.4.2 Critérios externos da ciência


Os critérios externos da ciência, segundo Demo (1995), podem ser vistos
por meio da intersubjetividade, significando a opinião dominante da comunidade
científica em determinada época e lugar. É externo porque a opinião é algo

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Metodologia Científica
Unidade I

atribuído de fora, por mais que provenha de um especialista, aqui transparece a


marca social do conhecimento. Nesse sentido, o autor supracitado mostra que:
Em si, o científico deveria ligar-se apenas a critérios de propriedade
interna. Um enunciado dito por Marx, pelo Presidente da República, ou
pelo homem simples da rua teria a mesma validade. Todavia, como não
existe nada "em si", mas tudo contextuado na história conflituosa e
desigual, o "argumento de autoridade" - que jamais seria argumento
pela autoridade - acaba prevalecendo (DEMO, 1995, p. 21).

Mas, mostrando outros critérios externos da ciência, podemos citar a


comparação crítica, a divulgação, o reconhecimento generalizado etc. Nesse
sentido, pode-se observar que esses critérios mostram a fragilidade de trabalhos
acadêmicos.

Demo (1195) mostra tal fragilidade ao exemplificar


a história de Galileu, que apesar de ser um grande
realizador científico para a sua época, foi condenado.
Assim, uma obra de grande qualidade científica foi
descartada só porque contrariava expectativas
dominantes.

Outro indício de fragilidade da ciência se refere ao fato de salvar obras


medíocres só porque se encaixam nas estratégias vigentes de prestígio,
comercialização e mesmo subserviência. De outro, aportam um aspecto
fundamental da discussão, no sentido de ser a barreira típica contra o relativismo
científico.

24
Metodologia Científica
Unidade I

Diante desse relativismo científico, o que pode nos


indicar que nada é evidente e conclusivo? Assim,
podemos nos perguntar: em ciência vale tudo?

Para nos ajudar a responder essa questão, nos apoiaremos na reflexão de


Demo (1995):
Cada qual define ciência como quer, aceita e rejeita o que quer.
Primeiro, a postura relativista é logicamente incoerente, porque o
enunciado "tudo é relativo" não é relativo, mas um discurso
contraditoriamente absoluto. Segundo, é historicamente inviável,
porque a sociedade produz cristalizações dominantes, que coíbem cada
indivíduo de ter um mundo totalmente próprio de ideias e posturas.
Assim, não existe relativismo, mas relatividade histórica, o que é um
fenômeno que pervade também as ciências sociais, enquanto são
fenômeno social como qualquer outro. Assim, não admira que tenham
suas "vacas sagradas", seus pontífices, seus asseclas, seus
corporativismos, e assim por diante (p. 22).

Agora que delimitamos os critérios internos e externos da ciência, vamos,


em consonância com o autor, fazer um reparo importante, que se refere às
atribuições ditas externas e que se encontram na origem, mas fazem parte
integrante do jogo, considerando o débito social como componente da própria
tessitura científica. Portanto, seria um erro situar a ideologia como algo externo,
estranho, como invasão indevida.
Na verdade, ideologia é sempre inerente à pesquisa científica, pois sempre
está presente, embora possa vir de dentro (do sujeito) ou de fora (do objeto).
Torna-se invasão indevida quando passa a predominar sobre a ciência, colocando o
processo científico a serviço de pretensões ideológicas.

25
Metodologia Científica
Unidade I

A essa altura de nossas reflexões sobre a ciência e


com a influência da ideologia, podemos nos indagar:
é possível que uma pesquisa científica seja realmente
neutra?

Nesse sentido, acreditamos que não!


Para tal resposta, podemos buscar inspiração em Demo (1995): ao
entender que apenas para uma postura formalizante de ciência, que acredita em
neutralidade, a distinção faz muito sentido, porque considera critérios externos, no
fundo, espúrios; e entende intersubjetividade menos como acerto social histórico
do que como expressão objetiva de formalizações comumente reconhecidas. Com
essa visão, que acreditamos ser equivocada, tende-se a entender a produção
científica como luta metodológica apenas contra inimigos externos, que degradam a
pureza formal de sua criação e que situam a metodologia como um treino para a
neutralidade, tendo em vista a objetividade da realidade. Assim, vale destacar que,
em harmonia com Demo (1995) e Habermas (1987), não há como partilharmos
desta visão, pois acreditamos na mesma importância da qualidade política e da
qualidade formal que uma pesquisa científica sempre deve buscar, principalmente
no que diz respeito à importância da construção de conhecimentos por meio de
estudos disciplinares, principalmente nos cursos de graduação e pós-graduação, para
a produção de novos conhecimentos científicos.

26
Metodologia Científica
II
Unidade II – Conhecimentos
disciplinares, o método
científico

N N

Objetivos da Unidade

 Julgar a importância dos conhecimentos disciplinares e do método científico


para a produção de conhecimentos na academia.

Plano de Estudos

 Ciclo 02
 Atividade Teste
 Título: Conhecimentos Disciplinares e o Método Científico

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Metodologia Científica
Unidade II

2. Introdução
Para que possamos refletir sobre a importância da construção de
conhecimentos por meio de estudos disciplinares, principalmente nos cursos de
graduação e pós-graduação, para a produção de novos conhecimentos em uma
pesquisa científica, convido você a pensar sobre a centelha inicial de uma pesquisa.
Uma centelha que, como mostra Bunge (1975), inicia uma investigação científica
por meio da percepção de que o acervo de conhecimento disponível se mostra
insuficiente para manejar determinados problemas.
Então, há de se destacar a importância de se buscar sempre pelo acervo de
conhecimento disponível em determinadas áreas disciplinares, até mesmo para que
seja possível, com consistência política e formal, formular uma pergunta e,
consequentemente, buscar uma ou até mesmo mais respostas.

Como podemos pesquisar por determinado tema


se não conhecemos os saberes já construídos até
então nesta área do conhecimento? Então,
baseados inicialmente nessa questão, vamos refletir
nesta unidade sobre os conhecimentos disciplinares,
o método científico e a revisão de literatura.

2.1 A importância dos conhecimentos disciplinares para a produção científica


Evidentemente, não é possível iniciar uma pesquisa com um pesquisador
que ignora grande parte do campo que será pesquisado. Nesse sentido, destaca-se
a importância de estudos preliminares para o estabelecimento das conjecturas que
nortearão o percurso da pesquisa. Assim, surge uma nova questão:

28
Metodologia Científica
Unidade II

Qual é (ou deveria ser) o local ideal para a


construção de conhecimentos preliminares a uma
pesquisa?

A resposta que mais deve ser mencionada a tal questão é: na academia.


Principalmente por se entender que a academia é um local que se mostra para
além da transmissão de conhecimentos, mas sim para a construção desses
conhecimentos, tendo em vista a inquietude científica que nela habita.
Assim, entendemos que não é possível iniciar uma pesquisa científica antes
da formulação da(s) pergunta(s) preliminares e sem compreender o estado da arte
do assunto a ser pesquisado. Aqui fica uma boa dica para se iniciar uma pesquisa
científica:

Antes de iniciar a pesquisa, o pesquisador deve


buscar, no mínimo, o estado da arte do assunto a
ser pesquisado. Essa ação pretende atender os
critérios internos, bem como os externos a uma
pesquisa científica.

Assim, podemos entender que para uma pesquisa mostrar coerência,


consistência, objetivação e principalmente originalidade, o pesquisador tem que
estar a par dos conhecimentos já construídos no campo de conhecimento em que
a pesquisa vai se desenvolver. Isso sem falar na responsabilidade que o pesquisador
deve ter frente à qualidade política de uma pesquisa, principalmente no campo das
ciências sociais. E para refletirmos mais sobre essa responsabilidade política, há de se
destacar que, apesar de frequentemente se entender que o estudar a realidade
social significa, logo de partida, buscar suas quantificações possíveis para que estas

29
Metodologia Científica
Unidade II

possam ser tratadas de um modo metodológico formal semelhante ao que se utiliza


nas ciências naturais, segundo Demo (1995), há de se considerar que:

Tal procedimento é fortemente questionado hoje, porque ciência


puramente instrumental coloca precisamente uma questão política da
maior relevância: a quem servem as ciências sociais. Quando se verifica,
com extrema facilidade, que o produto tendencial das ciências sociais
não é o enfrentamento dos problemas sociais na teoria e na prática, em
favor dos desiguais, mas a fabricação competente de técnicas de
controle social a serviço do grupo dominante, percebe-se que a
neutralidade é, sobretudo, útil. Útil ao cientista, porque lhe é cômodo
desconhecer a imbricação com os fins enquanto pode viver à sombra e
com a sobra do poder vigente. Sobretudo útil ao poder vigente, que
aproveita das ciências sociais seu potencial ideológico (p. 24).

Nesse sentido, destaca-se a importância de se construir um estado da arte


preliminar a uma pesquisa de forma crítica, não só no aspecto formal, mas,
sobretudo, no aspecto político frente a um campo de conhecimento em que se vai
desenvolver uma pesquisa.

Um exemplo interessante é o mostrado por Demo


(1995):
Unidade II

30
Metodologia Científica
Unidade II
De todos os modos, tomando-se a sério o débito social das ciências
sociais, é mister reconhecer que critérios de qualidade formal não
bastam. Uma tese de doutorado pode ser formalmente aceita como
perfeita, porque corresponde a todos os ritos académicos e, sobretudo,
é uma demonstração perfeita de domínio instrumental metodológico e
teórico, mas pode igualmente ser irrelevante, no sentido de que não
coloca problema de importância para a sociedade. (p, 24)

Enfim, tendo em vista a importância do conhecimento disciplinar prévio a


uma pesquisa, seja no aspecto formal ou no político, é importante destacar também
a importância do método a ser utilizado para a pesquisa científica, que trataremos a
seguir.

2.2 Método científico


Antes de iniciarmos, é importante trazer para reflexão alguns conceitos
fundamentais que compõem essa prática, que se referem às relações entre
conhecimento, ciência e método.

2.2.1 Conhecimento, ciência e método


Pedro Demo (1995) mostra que o problema central do método é a
demarcação científica entre o que seria e o que não seria ciência. Assim, não há
nada mais controverso em ciência do que sua própria definição, pois:

[...] a menos que a consideremos produto de supermercado que se


compra pronto e se guarda na geladeira. A percepção comum de
ciência está repleta de expectativas simplistas, sobretudo no sentido de
que os cientistas seriam gente acima de qualquer suspeita, produzindo
"oráculos" definitivos, detendo em suas mãos conhecimentos perfeitos.
Ao contrário disso, é mister partir de que a demarcação científica
coloca no fundo discussão inacabável, desde que não se aceite o dogma
como algo científico. (DEMO, 1995, p.15).

Unidade II

31
Metodologia Científica
Unidade II
Nesse sentido, podemos considerar que a metodologia, para a construção
dos conhecimentos científicos, não aparece como solução definitiva para
considerarmos a ciência como a detentora e produtora dos anteriormente referidos
conhecimentos “oraculares”, mas como fonte de questionamento criativo, para
permitir opções consistentes frente à realidade em que vivemos atualmente. Uma
realidade que se pauta no que muitos se referem como era da informação ou
mesmo era do conhecimento.
Portanto, ainda pautados no autor supracitado, vale destacar que o maior
problema da ciência, principalmente nos dias atuais, não é o método, mas a
realidade; como ela não é evidente, e também pelo fato de a ideia que temos da
realidade nem sempre coincidir com a própria realidade, torna-se necessário,
dentro do campo de conhecimentos deste curso, colocarmos a seguinte questão:

O que consideramos realidade social?

Demo (1995) nos mostra que:


 algumas pessoas entendem que a realidade social é algo já feito,
totalmente externo e estruturado,
 outras pessoas acham que a realidade social é algo a ser feito, sendo
algo criativamente histórico,
 outras tentam misturar as duas posturas: em parte a realidade social
está feita, em parte pode ser feita.

Unidade II

32
Metodologia Científica
Unidade II

E você, o que acha? Com qual das respostas você se identifica mais? Você
sabe o motivo da sua escolha? Pois é, dependendo da concepção de realidade
social que assumimos, tem-se uma variação no método científico de captação.

Para uma concepção dialética de realidade social,


cabe o método dialético. Para uma realidade
concebida como sistema, cabe o método sistêmico.

Agora tomaremos a realidade social como processo


histórico. Demo (1995) entende, em seu sentido
pleno, que:

- que existem estruturas na realidade social que são como formas (“fôrmas"),
o que permite tomá-la como fenômeno regular, até certo ponto previsível e
planejável;
- que são estruturas, por exemplo, o complexo de necessidades materiais (a
infraestrutura), o conflito social, formas de comunicação e expressão simbólica, etc.;
- que dividimos o processo histórico em condições objetivas e subjetivas,
significando as estruturas externas ao homem, que as encontra dadas, e a
capacidade política do homem de conquistar seu lugar;
- que transformações sociais se dão nos conteúdos, em que a história pode
ser radicalmente criativa, produtiva, dependendo, portanto, de condições objetivas
e subjetivas, cada qual detendo a mesma ordem de importância;
- que o móvel próprio de mudança, nas condições subjetivas, é o conflito
social, que significa a reação dos "desiguais" contra a opressão dos privilegiados; nas
condições objetivas significa a dinâmica interna processual, que, embora estrutural,
traduz estruturas da mudança, não do esfriamento da história;

33
Metodologia Científica
Unidade II
Unidade II
- que isso leva a conceber a história como uma sucessão de fases, em que
cada fase gera em si mesma a próxima fase, por meio dos conflitos objetivos e
subjetivos que tem de enfrentar.

Com as colocações anteriores, pôde-se entender


que a expressão, talvez mais adequada, para esta
concepção de realidade social é "unidade de
contrários", fazendo-nos entender que, tal como
mostra Chauí (1980), há nessa concepção de
realidade, um dinamismo que provém da
convivência de forças contrárias, que, ao mesmo
tempo, se repelem e se necessitam.
Então, agora que já conhecemos, mesmo que de
forma preliminar, a concepção de realidade social
oriunda da visão dialética sócio-histórica, vamos
pensar um pouco mais sobre o método científico?

2.2.2. A metodologia científica


Para que possamos refletir sobre a metodologia científica, vamos,
inicialmente, buscar o significado de método.

A palavra método é derivada do latim methodus e


do grego methodos. Esse último termo é a junção de
meta com hodos, como se pode observar no
esquema a seguir:

34
Metodologia Científica
Unidade II
Unidade II
Figura 01: Significado de Método

• por,
Meta • para,
• através de.

METHODOS

Hodos • caminho.

Fonte: O autor

Historicamente, podemos vislumbrar na obra “Discurso do Método”, de


Descartes (1637), a primeira vez que, de forma sistemática, o entendimento de
método se apresentou. Na obra observam-se em 4 preceitos o caminho para a
perfeita dúvida:
O primeiro preceito consiste em:
 nunca aceitar como verdadeira qualquer coisa, sem a reconhecer
como tal, evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção;
 não incluir nos seus juízos nada que não se apresentasse tão clara e
tão distintamente ao meu espírito que não tivesse nenhuma ocasião
para o pôr em dúvida.

35
Metodologia Científica
Unidade II

O segundo preceito é constituído em:


 dividir cada uma das dificuldades que eu houvesse de examinar em
tantas parcelas quantas pudessem ser e fossem exigidas para
resolvê-las melhor.

O terceiro preceito se refere a:


 conduzir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos
mais simples e fáceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco
como por degraus até o conhecimentos dos mais compostos, e
supondo mesmo certa ordem entre os que não procedem
naturalmente uns aos outros.

O quarto preceito se acena ao ato de:


 fazer toda a parte enumerações tão completas e revistas tão gerais,
que ficasse certo de nada omitir.

Note que o primeiro, o segundo e o terceiro preceitos se caracterizam em


colocar ordem às evidências; já o quarto preceito se refere às técnicas
metodológicas que se destinam a buscar a integridade total do procedimento.
Portanto, Horn (2003) nos mostra:
[...] quando se observa um objeto, capta-se-lhe a aparência parcial,
aquilo que algum de seus prismas apresenta, ou seja, a perspectiva da
qual se enfoca o que se deseja conhecer determina o aspecto do que é
apreendido. Do mesmo modo que o resultado de toda a pesquisa
depende de um método, cada método implica em uma perspectiva
específica vinculada a uma concepção filosófica e que definirá tanto a
forma de olhar o objeto, como de interpretá-lo. Daí que a mesma
realidade pode resultar em diferentes leituras, conforme o paradigma
que pauta cada pesquisador. (p. 33)

36
Metodologia Científica
Unidade II

Dentre os paradigmas que orientam a pesquisa


acadêmica, observa-se frequentemente a presença
dos seguintes: Positivismo, Fenomenologia e
Marxismo. Ainda segundo o autor supracitado, tais
concepções têm duas origens: no tradicional
dualismo idealismo-materialismo, traduzível na
oposição entre os que priorizam o espírito em
detrimento da matéria e no entendimento de que a
matéria é o princípio fundamental e a ideia – ou
espírito –, secundário. Pode-se dizer, no sentido de
facilitar a apreensão das especificidades das
concepções citadas que, enquanto Positivismo e
Fenomenologia têm pertinência com o idealismo, o
Marxismo se vincula ao materialismo histórico.
Mas, voltando ao método, podemos sintetizar que
esse termo, segundo Japiassu e Marcondes (1996, p.
131), refere-se a um “conjunto de procedimentos
racionais, baseados em regras, que visam atingir um
objetivo determinado. Por exemplo, na ciência, o
estabelecimento e a demonstração de uma verdade
científica”.
Para continuarmos nossa reflexão sobre esse
importante aspecto da pesquisa científica, vamos
agora nos basear em Bunge (1975). Esse pensador
mostra que se deve ter muito cuidado na
consideração do que é o método científico, pois não
deve ser entendido como um conjunto de
instruções mecânicas e infalíveis que capacitaram o
cientista para prescindir da imaginação; não deve ser
interpretado, tampouco, como uma técnica especial
para o manejo de problemas de um certo tipo.
Portanto, considera-se método, nesse contexto, um
procedimento para tratar de um conjunto de
problemas.

37
Metodologia Científica
Unidade II

Assim, para o desenvolvimento de uma pesquisa


científica, temos que considerar que inevitavelmente
deve haver esforço intelectual por parte do
pesquisador. Entretanto, a pesquisa não tende a ser
algo muito complicado, pois é importante que o
pesquisador tenha em vista, no início e ao logo de
todo o processo, um importante elemento: o
problema de pesquisa, que é constituído por uma
ou mais perguntas.
Tendo em vista o problema, que geralmente diz
respeito ao pesquisador ou ao meio em que ele se
insere, o sujeito pesquisador deve passar a pensar
em maneiras de responder às perguntas, no sentido
de se compreender o problema. Portanto, com esse
intento, o pesquisador deve se apropriar de
estratégias para ajudá-lo na busca de conjecturas
que tendem a indicar o caminho para que se chegue
às considerações finais apropriadas e seguras sobre
o problema investigado.

Para se iniciar uma pesquisa científica, é muito


importante que o pesquisador visualize um
problema teórico ou prático a ser resolvido. Com
esse problema bem delimitado e que não se mostre
muito amplo, o pesquisador deve, em seguida,
formular hipóteses ou perguntas para que se possa,
no decorrer da pesquisa, testá-las e confrontá-las
com a literatura analisada, que tende a abarcar o
estado da arte do tema a ser pesquisado, e/ou
verificá-las frente à realidade que se encontram.

38
Metodologia Científica
Unidade II

Segundo Laville e Dionne (1999), “chegar a possíveis explicações ou


soluções para um problema pode significar não apenas aquisição de novos
conhecimentos, mas, também, fornecer uma determinada intervenção. Um
problema é sempre uma falta de conhecimento” (p. 11).
Nesse sentido, entende-se que para sair da situação delimitada de falta de
conhecimento para o conhecimento, é imprescindível que o pesquisador utilize o
rigor metodológico para que os resultados da pesquisa sejam confiáveis frente ao
campo de conhecimento (acadêmico) que se situam, e também no sentido de
constituírem validade social.
Cada classe de problemas requer um conjunto de métodos ou técnicas
especiais.

Segundo Bunge (1975), são os seguintes passos


principais para a aplicação do método científico:

39
Metodologia Científica
Unidade II

Enunciar perguntas
Perguntas bem formuladas e verdadeiramente fecundas.

Arbitrar conjecturas
Conjecturas bem fundadas e contrastáveis com a experiência, para
contestar as perguntas.

Derivar consequências
Consequências lógicas das conjecturas.

Arbitrar técnicas
Técnicas para submeter as conjecturas à contrastação.

Submeter à contrastação essas técnicas


para comprovar sua relevância e o crédito que merecem.

Levar a cabo a contrastação


para interpretar seus resultados.

Estimar a pretensão de verdade


verdade das conjecturas e a fidelidade das técnicas.

Determinar os domínios nos quais valem as conjecturas e as técnicas


para formular os novos problemas originados pela investigação.

40
Metodologia Científica
Unidade II

Existem regras que guiam a execução das operações


acima? Ou seja, existem instruções concretas para
tratar dos problemas científicos?

Segundo Bunge (1975), seguramente existem algumas, ainda que ninguém


tenha conseguido estabelecer uma lista que as esgote, e mesmo que todo mundo
deva resistir a fazê-lo, tendo aprendido pelo fracasso dos filósofos que, desde Bacon
e Descartes, têm pretendido conhecer as regras infalíveis da direção da investigação.
A título de mera ilustração, Bunge (1975) intenta enunciar e exemplificar
algumas regras muito óbvias do método científico:

Formular o problema com precisão e, em princípio,


especificamente.

Propor conjecturas bem definidas e fundadas de


algum modo, e não suposições que não
comprometem em concreto, nem tampouco
ocorrências sem fundamento visível.

Não declarar verdadeira uma hipótese


satisfatoriamente confirmada; considerá-la, no
melhor dos casos, como parcialmente verdadeira.

Perguntar-se porque a resposta é como é, e não de


outra maneira.

41
Metodologia Científica
Unidade II

Nesse sentido, é necessário considerar o seguinte esquema e seu fluxo:
Figura 02: Método Científica

Fonte: O autor

Ainda segundo Bunge (1975), podemos entender que essas e outras regras
do método científico estão muito longe de serem infalíveis e de não necessitarem
de aperfeiçoamento ulterior. Além disso, não se deve:

[...] esperar que as regras do método científico possam substituir a


inteligência por um mero adestramento. A capacidade de formular
perguntas sutis e fecundas, de construir teorias fortes e profundas e a
de arbitrar contrastações empíricas finas e originais não são atividades
orientadas por regras. Se assim fosse, como pensaram alguns filósofos,
todo mundo poderia desenvolver com êxito investigações científicas, e
os computadores poderiam converter-se em investigadores, em vez de
limitar-se a ser o que são, instrumentos da investigação. (p. 3)


42
Metodologia Científica
Unidade II

Nesse sentido, a metodologia científica se mostra capaz de dar indicações


de meios para evitar erros, mas não pode suplantar a criação original, nem sequer
prever todos os erros. Portanto, precisamos sempre estar atentos ao fato de que,
atualmente:
Os cientistas não têm se preocupado muito com a fundamentação nem
pela sistematicidade das regras do procedimento científico. Nem sequer
se preocupam em enunciar explicitamente todas as regras que usam.
De fato, as discussões de metodologia científica não parecem ser
animadas além do começo de cada ciência. Na maioria dos casos, os
cientistas adotam uma atitude de ensaio e erro a respeito das regras de
investigação que usam. Isso ocorre de forma tão implícita, que a maioria
dos cientistas nem as registram conscientemente.

O método científico e a finalidade a qual se aplica


(conhecimento objetivo do mundo) para nós, que
vamos trabalhar a pesquisa científica, constitui a
inteira diferença que existe entre a ciência e a não
ciência.

Em consonância com Bunge (1975), frente a prescrições metodológicas tão


dogmáticas e estéreis (e teoricamente injustificadas), o melhor é ter sempre aquela
que talvez seja a única regra válida: audácia ao conjecturar, rigorosa prudência ao
submeter à contrastação das conjecturas.

O método científico é um traço característico da


ciência, tanto da pura quanto da aplicada. Onde não
há método científico, não há ciência. Mas não é nem
infalível, nem autossuficiente (BUNGE, 1975).

43
Metodologia Científica
Unidade III – Revisão
III de Literatura

Objetivos da Unidade

 Julgar a importância dos conhecimentos disciplinares e do método científico


e a revisão de literatura para a produção de conhecimentos na academia.

Plano de Estudos

 Ciclo 03
 Atividade Teste e Exercício em Grupo
 Título: Revisão de Literatura e Pesquisa Quanto aos Procedimentos,
Abordagem, Natureza e Objetivos

44
Metodologia Científica
Unidade III

3. Introdução da unidade
Antes de iniciar a reflexão sobre a pesquisa, no que tange suas fases e
etapas, precisamos construir um projeto de pesquisa. Assim, um projeto é
imprescindível, independente do tipo de pesquisa a ser realizado.

Mas como iniciar a construção de um projeto de


pesquisa? Uma resposta interessante está na revisão
de literatura. Então, vamos saber um pouco mais
sobre tal procedimento?

3.1 Revisão de literatura para se estabelecer o estado da arte


Um projeto de pesquisa, bem como uma pesquisa como todo, deve ser
marcado inicialmente por conhecimentos disciplinares que mostrem
suficientemente pelo estado da arte do campo de conhecimento em que se vai
pesquisar. Assim, esse estado da arte é constituído por uma boa revisão de
literatura, como veremos a seguir.
Portanto, é fundamental para uma pesquisa (seja ela de qual tipo for) que se
tenha em mãos e em mente o material bibliográfico disponível sobre o tema a ser
pesquisado. Assim, toda pesquisa se inicia com uma boa e ampla revisão de
literatura, que propicia o saber do que já foi determinado sobre a temática da
pesquisa e assim como os processos metodológicos que vimos anteriormente neste
guia, permite a emergência de novas ideias.

45
Metodologia Científica
Unidade III

Independente do tipo de pesquisa a ser realizado


(assunto que trataremos no próximo item deste
guia de estudos), uma boa revisão de literatura é
demandada. Uma revisão que, por meio de um
processo de registros obtidos ao decorrer da leitura
da bibliografia selecionada sobre o tema a ser
pesquisado, se destina a constituir os pilares para a
elaboração do projeto de pesquisa, do texto da
pesquisa, da pesquisa em si até as considerações
finais e mesmo pela indicação de novas pesquisas.

Agora você já deve estar se perguntando: mas como realizar uma boa
revisão de literatura? Assim, Horn (2003) aponta que:

A revisão de literatura é constituída, conforme sua denominação, por


registros de uma releitura do que ‘as autoridades’ já escreveram sobre
o tema, devendo remeter ao maior número possível de ‘autoridades’.
Há que se enfatizar, ainda, que a autoridade também se explicita em
adequação ao nível de complexidade que se espera de cada curso (p.
67).

Isso quer dizer que é necessário escolher por livros e artigos adequados
para espaldar a pesquisa a ser realizada, tendo em vista o seu nível de
complexidade, ou seja, considerando se a pesquisa é desenvolvida no contexto de
graduação, especialização, mestrado ou doutorado.
Assim, a escolha de livros ou artigos para uma boa revisão de literatura
preliminar tende a autorizar/validar uma pesquisa. Entretanto, vale destacar que, se
uma revisão de literatura não for bem realizada, ou seja, considerando livros e
artigos de forma descontextualizada ou mesmo com pouca profundidade frente ao
campo de saber em que se pretende pesquisar, pode-se fadar uma pesquisa ao
fracasso. Diante disso, vale considerar o que Horn (2003) entende como não

46
Metodologia Científica
Unidade III

apropriado para revisão de literatura da graduação: enciclopédias, revistas não


especializadas ou dirigidas a leigos ou estudantes de cursos profissionalizantes ou
propedêuticos; livros didáticos para Ensino Médio; publicações místicas e de
autoajuda destinados ao público não acadêmico. Enfatiza-se que não está em pauta
o valor do conteúdo dos escritos mencionados, mas sua adequação à constituição
de um arcabouço para o patamar da graduação.
Então, depois de escolhermos as obras de forma contextualizada, com o
tema e a profundidade bem definidos, surge uma importante questão:

Como podemos organizar os conhecimentos


trazidos pelas obras escolhidas para a nossa revisão
de literatura?

Uma ação eficaz para organizar os conhecimentos é a elaboração


sistemática de fichas, arquivos em computador, anotações em cadernos etc., pois
apenas a leitura dos textos escolhidos, sem anotações ou marcações, tende a ser
insuficiente para a escrita de um projeto, ou mesmo de um trabalho científico em si.

Para a elaboração sistemática de fichas, arquivos em


computador ou anotações em caderno, é necessário
anotar a referência completa da obra, que deve
conter o nome do autor, tradutor (se tiver), o
número da edição (quando for o caso), a editora, a
cidade e o ano. Se for um fichamento de uma obra
localizada em endereço eletrônico, o endereço e a
data de acesso devem ser anotados.

47
Metodologia Científica
Unidade III

Assim, com a leitura e a elaboração sistemática de fichas dos vários textos


escolhidos, será possível categorizar tópicos que embasarão a revisão bibliográfica
do trabalho e dos demais capítulos da pesquisa. Assim, Horn (2003) mostra que:

Segundo a tradição, a revisão de literatura é o ponto de partida


obrigatório de um estudo. Nela devem estar referidas as teorias
edificadas, os dados compilados, organizados e publicados por
autoridades. Estas são assim consideradas por terem percorrido algum
caminho investigativo pertinente, obtendo o reconhecimento da
comunidade científica à relevância do que constituíram (p. 68).

Se a revisão bibliográfica, ou mesmo o corpo do


texto da pesquisa, não for redigido com as
referências das obras consultadas e seus autores,
que se apresentam como autoridades no campo de
estudo em questão, o texto não terá validade
acadêmica e poderá ser considerado plágio, pois
uma ideia ou trecho de texto que não é
referenciado tende a ser visto como de origem do
autor do trabalho que o redige.

Portanto, a leitura e a elaboração sistemática de fichas na pesquisa é muito


importante, pois evidencia concepções de vários autores e propicia aproximações
ou mesmo oposições, o que demonstra o diálogo do autor da pesquisa com as
várias visões presentes no campo de estudo, explicitando uma sólida sustentação
teórica argumentativa. Agora que vimos a importância da revisão bibliográfica,
independente do tipo de pesquisa a ser realizado, vamos, no próximo item deste
guia de estudos, conhecer e refletir sobre os tipos de pesquisa.

48
Metodologia Científica
IV Unidade IV
quanto aos procedimentos
– Pesquisa

Objetivos da Unidade

 Experienciar o julgamento e abdução dos tipos de pesquisa para a produção


de conhecimentos científicos, tendo em vista diferentes tipos de pesquisa e
seus procedimentos.

Plano de Estudos

 Ciclo 04
 Atividade Exercício em Grupo
 Título: Projeto de Pesquisa

49
Metodologia Científica
Unidade IV

4. Introdução
Nesta unidade, convido você a refletir sobre alguns aspectos referentes aos
tipos de pesquisa, no sentido de se embasar para que possa construir projetos de
pesquisa científica. Nesse sentido, vamos conhecer e pensar sobre os diferentes
tipos de pesquisa e seus procedimentos. Vamos refletir sobre a pesquisa
bibliográfica, de campo, de laboratório, documental, ex-post-facto, de levantamento,
com survey, estudo de caso, pesquisa-ação, participante, etnográfica e
etnometodológica. Então, vamos aos estudos!

4.1 Pesquisa bibliográfica


Vale destacar que existem pesquisas em que a revisão de literatura pode ser
o foco principal, esse tipo de pesquisa é denominado de pesquisa bibliográfica.
Nesse sentido, as obras revisadas são teoricamente corroboradas, ampliadas ou
mesmo contestadas inteira ou parcialmente. Esse tipo de pesquisa pode ser,
segundo (HORN 2003):

[...] realizada independentemente ou como parte de qualquer outra


pesquisa, a que se desenvolve tentando explicar um problema,
utilizando o conhecimento disponível a partir de teorias publicadas em
livros e obras congêneres. [...] o investigador irá levantar o
conhecimento disponível na área, identificando as teorias produzidas,
analisando e avaliando sua contribuição para auxiliar a compreender ou
explicar o problema: objeto de investigação. Esta modalidade de
pesquisa é muito comum na área de ciências humanas e sociais, dada à
natureza do estatuto epistemológico que compõe esta área. Seu
objetivo é buscar compreender as principais contribuições teóricas
existentes sobre um determinado tema-problema ou recorte,
considerando-se a produção já existente (p. 10).

50
Metodologia Científica
Unidade IV

Esse viés é frequentemente usado no nível da graduação, por priorizar uma


visão ampla, o estudo das publicações sobre o tema e uma reflexão sobre elas. Isso
não quer dizer que para a graduação não se deva usar a pesquisa empírica, pois
esse tipo de pesquisa deve ser utilizado quando se necessita imprescindivelmente
de situações práticas que se destinam, frente às obras revisadas: corroborá-las,
ampliá-las ou mesmo contestá-las inteira ou parcialmente.

4.2 Pesquisa de campo


"A pesquisa de campo é muito usada em Sociologia, Psicologia, Política,
Economia e Antropologia. [...] Consiste na observação dos fatos tal como ocorrem
espontaneamente, na coleta de dados e no registro de variáveis presumivelmente
relevantes para ulteriores análises." (RUIZ, 1982, p. 50).
Segundo Horn (2003), a principal finalidade deste tipo de pesquisa é
trabalhar com dados coletados em campo (com uso de instrumentos específicos),
de acordo com os objetivos do assunto escolhido, como mostra o esquema a
seguir:

Recolher, registrar, De acordo


Dados coletados ordenar e com
em campo comparar objetivos
da pesquisa

Usando
instrumentos
específicos

51
Metodologia Científica
Unidade IV

4.3 Pesquisa de laboratório


Segundo Ruiz (1982), a pesquisa de laboratório permite ao pesquisador
experimentar ou realizar experimentos no sentido de:
 exercer positivo controle sobre as condições presumivelmente
relevantes, relativas a determinado evento,
 reproduzir fenômenos dentro de uma plano de modificações
sistemáticas das variáveis independentes, relativamente a
determinado evento.

Com esses experimentos, o pesquisador tem o objetivo de descobrir as


condições antecedentes responsáveis pelo evento subsequente, ou efeito, ou
variável dependente assumida como objeto de pesquisa.
Em consonância com Horn (2003), esta classificação é bastante genérica e
tem apenas a finalidade de chamar a atenção para a importância de se buscar definir
uma abordagem metodológica para o estudo que se pretende realizar. Neste
sentido, deve-se tomar cuidado para não torná-la uma camisa de força que oculta
os resultados potenciais, ou que cerceia a criatividade e a interpretação do
pesquisador, pois qualquer instrumento que condiciona os resultados da pesquisa
limita seu alcance.

4.4 Pesquisa documental 



A pesquisa documental, segundo Fonseca (2002), trilha os mesmos
caminhos da pesquisa bibliográfica, não sendo fácil por vezes distingui-las, assim:
A pesquisa bibliográfica utiliza fontes constituídas por material já
elaborado, constituído basicamente por livros e artigos científicos
localizados em bibliotecas. A pesquisa documental recorre a fontes mais
diversificadas e dispersas, sem tratamento analítico, tais como: tabelas
estatísticas, jornais, revistas, relatórios, documentos oficiais, cartas, filmes,
fotografias, pinturas, tapeçarias, relatórios de empresas, vídeos de
programas de televisão, etc. (FONSECA, 2002, p. 32). 


52
Metodologia Científica
Unidade IV

4.5 Pesquisa ex-post-facto


Silveira e Córdova (2009) mostram que a pesquisa ex-post-facto tem por
objetivo investigar possíveis relações de causa e efeito entre um determinado fato
identificado pelo pesquisador e um fenômeno que ocorre posteriormente. Assim,
segundo Fonseca (2002), podemos entender que a principal característica deste
tipo de pesquisa é o fato de os dados serem coletados após a ocorrência dos
eventos. Nesse sentido: “a pesquisa ex-post-facto é utilizada quando há
impossibilidade de aplicação da pesquisa experimental, pelo fato de nem sempre
ser possível manipular as variáveis necessárias para o estudo da causa e do seu
efeito” (p. 32).

Quando se faz um estudo tentando levantar as


causas da evasão de clientes de uma academia de
ginástica; no estudo experimental, seria o inverso,
tomando-se, primeiramente, um grupo de alunos a
quem seria dado um determinado tratamento, e
observando, posteriormente, o índice de evasão.

4.6 Pesquisa de levantamento


Tipo de pesquisa usada em estudos exploratórios e descritivos, sendo esses
últimos os que mais se adéquam aos levantamentos. Assim, os exemplos mais
frequentes, que temos maior contato na mídia, são os estudos de opiniões e
atitudes (GIL, 2007, p. 52).
Fonseca (2002) aponta que pode ser de dois tipos: levantamento de uma
amostra ou levantamento de uma população (também designado censo). Assim, ele
define:

53
Metodologia Científica
Unidade IV

O Censo populacional constituía única fonte de informação sobre a


situação de vida da população nos municípios e localidades. Os censos
produzem informações imprescindíveis para a definição de políticas
públicas estaduais e municipais e para a tomada de decisões de
investimentos, sejam eles provenientes da iniciativa privada ou de
qualquer nível de governo. Foram recenseados todos os moradores em
domicílios particulares (permanentes e improvisados) e coletivos, na
data de referência. Através de pesquisas mensais do comércio, da
indústria e da agricultura, é possível recolher informações sobre o seu
desempenho. A coleta de dados realiza-se em ambos os casos através
de questionários ou entrevistas (FONSECA 2002, p. 33).

As pesquisas de levantamento permitem que se


conheça a realidade por meio da obtenção de
dados que, organizados em tabelas e gráficos,
permitem que sejam realizados vários tipos de
análises.

4.7 Pesquisa com survey


Este é um tipo de pesquisa que busca informação diretamente com um
grupo de interesse a respeito dos dados que se deseja obter. Trata-se de um
procedimento útil, especialmente em pesquisas exploratórias e descritivas
(SANTOS apud SILVEIRA e CÓRDOVA, 2009).
A pesquisa com survey pode ser referida como sendo a obtenção de dados
ou informações sobre as características ou as opiniões de determinado grupo de
pessoas, indicado como representante de uma população-alvo, utilizando um
questionário como instrumento de pesquisa (FONSECA, 2002, p. 33).
Silveira e Córdova (2009) chamam a atenção para que, nesse tipo de
pesquisa, o respondente não é identificável, portanto, o sigilo é garantido.

54
Metodologia Científica
Unidade IV

As pesquisas de opinião sobre determinado atributo,


a realização de um mapeamento geológico ou
botânico.

4.8 Estudo de caso


Como aponta Gil (2007), este tipo de pesquisa é amplamente usado nas
ciências biomédicas e sociais, pois se constitui como um estudo de caso, e pode ser
caracterizado como um estudo de uma entidade bem definida como um programa,
uma instituição, um sistema educativo, uma pessoa, ou uma unidade social. Silveira e
Córdova (2009) denotam que os estudos de caso visam conhecer em
profundidade o como e o porquê de uma determinada situação que se supõe ser
única em muitos aspectos, procurando descobrir o que há nela de mais essencial e
característico.

Neste tipo de pesquisa, o pesquisador não deve, de


modo algum, intervir sobre o objeto a ser estudado,
mas sim apenas revelar tal objeto segundo sua
percepção e baseado em revisão bibliográfica.

O estudo de caso pode decorrer de acordo com uma perspectiva


interpretativa, que procura compreender como é o mundo do ponto de vista dos
participantes, ou uma perspectiva pragmática, que visa simplesmente apresentar
uma perspectiva global, tanto quanto possível completa e coerente, do objeto de
estudo do ponto de vista do investigador (FONSECA, 2002, p. 33).

55
Metodologia Científica
Unidade IV

Segundo Alves-Mazzotti apud Silveira e Córdova (2009), os exemplos mais


comuns para esse tipo de estudo são os que focalizam apenas uma unidade: um
indivíduo (como os casos clínicos descritos por Freud), um pequeno grupo (como
o estudo de Paul Willis sobre um grupo de rapazes da classe trabalhadora inglesa),
uma instituição (como uma escola, um hospital), um programa (como o Bolsa
Família), ou um evento (a eleição do diretor de uma escola).
Ainda segundo o autor supracitado, os estudos de casos também podem
ser múltiplos, assim, se observa por vários estudos dessa natureza e que são
conduzidos simultaneamente: vários indivíduos (como, por exemplo, professores
alfabetizadores bem-sucedidos), várias instituições (como, por exemplo, diferentes
escolas que estão desenvolvendo um mesmo projeto).

4.9 Pesquisa-ação
Thiollent (1988) mostra que esse é um tipo de investigação social com base
empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com
a resolução de um problema coletivo no qual os pesquisadores e os participantes
representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo
ou participativo.

Segundo Serrano (1994), Kurt Lewin é reconhecido


como o criador dessa linha de investigação. Lewin
era um estudioso das questões psicossociais e
pretendia, com esse tipo de pesquisa, investigar as
relações sociais e conseguir mudanças em atitudes e
comportamentos dos indivíduos.

56
Metodologia Científica
Unidade IV

É dentro dessa orientação que se desenvolve uma das linhas de pesquisa-


ação, que Corey apud Horn (2003) caracteriza como o processo pelo qual os
práticos objetivam estudar cientificamente seus problemas de modo a orientar,
corrigir e avaliar suas ações e decisões. Com a denominação de investigação-ação
(action research), os livros de pesquisa da década de 1950 descrevem essa
metodologia como uma ação sistemática e controlada desenvolvida pelo próprio
pesquisador. Um exemplo clássico é o professor que decide fazer uma mudança na
sua prática docente e a acompanha com um processo de pesquisa, ou seja, com um
planejamento de intervenção, coleta sistemática dos dados, análise fundamentada na
literatura pertinente e relato dos resultados.
Fonseca (2002) mostra que a pesquisa-ação pressupõe uma participação
planejada do pesquisador na situação problemática a ser investigada, nesse sentido:
O processo de pesquisa recorre a uma metodologia sistemática, no
sentido de transformar as realidades observadas, a partir da sua
compreensão, conhecimento e compromisso para a ação dos
elementos envolvidos na pesquisa (p. 34). O objeto da pesquisa-ação é
uma situação social situada em conjunto e não um conjunto de variáveis
isoladas que se poderiam analisar independentemente do resto. Os
dados recolhidos no decurso do trabalho não têm valor significativo em
si, interessando enquanto elementos de um processo de mudança
social. O investigador abandona o papel de observador em proveito de
uma atitude participativa e de uma relação sujeito a sujeito com os
outros parceiros. O pesquisador quando participa na ação traz consigo
uma série de conhecimentos que serão o substrato para a realização da
sua análise reflexiva sobre a realidade e os elementos que a integram. A
reflexão sobre a prática implica em modificações no conhecimento do
pesquisador (p. 35).

McKay e Marshall (2001) apresentam um esquema para o desenvolvimento


de um projeto de pesquisa-ação constituído por oito etapas, como pode ser visto
na figura a seguir. Se inicia na ‘Implementação do problema’ e tem sua finalização
com a ‘Saída, se os resultados forem satisfatórios’.

57
Metodologia Científica
Unidade IV

Figura 01: Projeto de Pesquisa-ação

Fonte: O autor

Costa (2014) define as etapas ilustradas no esquema anterior da seguinte


forma:

Etapa 1, Identificação do Problema, consiste na tarefa do pesquisador


em identificar o problema que tenha interesse em resolver ou
perguntas que possam ser respondidas com a pesquisa. Etapa 2, o
pesquisador deve se empenhar em promover uma ampla revisão de
literatura em busca de teorias que possam estar alinhadas com fatos
relevantes sobre o problema e sirvam para dar suporte à solução do
problema identificado na Etapa 1. Etapa 3, consiste em desenvolver um

58
Metodologia Científica
Unidade IV

plano de ações para a solução do problema. Na Etapa 4, o plano de


ação desenvolvido na etapa anterior deve ser colocado em prática.
Etapa 5, consiste em monitorar as ações implementadas para saber se
os resultados encontrados estão de acordo com o que se esperava
para a solução do problema. Etapa 6, serve para a avaliação do efeito
das ações. Esse é um ponto de decisão. Caso as ações implementadas
na Etapa 4 tenham sucesso total e o problema tenha sido resolvido, é
possível passar diretamente para a Etapa 8. Caso contrário, ações
corretivas deverão ser implementadas na Etapa 7. A Etapa 7 deverá ser
implementada caso o plano de ações elaborado na Etapa 3 necessite de
ajustes. Isso deverá ocorrer enquanto os resultados obtidos na Etapa 6
não forem satisfatórios. A Etapa 8 é a etapa conclusiva. Nesse ponto, o
problema deverá estar resolvido e os objetivos da pesquisa atingidos
com sucesso (p. 297).

Para Gil (2007, p. 55), a pesquisa-ação tem sido alvo


de controvérsia devido ao envolvimento ativo do
pesquisador e à ação por parte das pessoas ou
grupos envolvidos no problema. Apesar das críticas,
essa modalidade de pesquisa tem sido usada por
pesquisadores identificados pelas ideologias
reformistas e participativas.

4.10 Pesquisa participante


Este tipo de pesquisa caracteriza-se, segundo Silveira e Córdova (2009),
pelo envolvimento e identificação do pesquisador com as pessoas investigadas.
Fonseca (2002) mostra que esse tipo de pesquisa foi criado por Bronislaw
Malinowski: para conhecer os nativos das ilhas Trobriand, ele foi se tornar um deles.
Rompendo com a sociedade ocidental, montava sua tenda nas aldeias que desejava
estudar, aprendia suas línguas e observava sua vida quotidiana.

59
Metodologia Científica
Unidade IV

O estabelecimento de programas públicos ou


plataformas políticas e a determinação de ações
básicas de grupos de trabalho.

4.11 Pesquisa etnográfica


Segundo Silveira e Córdova (2009), a pesquisa etnográfica pode ser
entendida como o estudo de um grupo ou povo. As características específicas da
pesquisa etnográfica são:

• o uso da observação participante, da entrevista intensiva e da análise de


documentos;
• a interação entre pesquisador e objeto pesquisado;
• a flexibilidade para modificar os rumos da pesquisa;
• a ênfase no processo, e não nos resultados finais;
• a visão dos sujeitos pesquisados sobre suas experiências;
• a não intervenção do pesquisador sobre o ambiente pesquisado;
• a variação do período, que pode ser de semanas, de meses e até de anos;
• a coleta dos dados descritivos, transcritos literalmente para a utilização no
relatório.

60
Metodologia Científica
Unidade IV

Temos como exemplo as pesquisas realizadas sobre os processos


educativos, que analisam as relações entre escola, professor, aluno e sociedade,
com o intuito de conhecer profundamente os diferentes problemas que sua
interação desperta.

4.12 Pesquisa etnometodológica


O termo etnometodologia, segundo Silveira e Córdova (2009), designa uma
corrente da Sociologia americana, que surgiu na Califórnia, no final da década de
1960.

O marco fundador desse tipo de pesquisa foi a


publicação do livro de Harold Garfinkel “Studies in
Ethnomethodology” (Estudos sobre
Etnometodologia), em 1967 (COULON apud
SILVEIRA e CÓRDOVA, 2009).

Fonseca (2002) mostra que o termo etnometodologia:

[...] se refere, nas suas raízes gregas, às estratégias que as pessoas


utilizam cotidianamente para viver. Tendo essa referência por norte, a
pesquisa etnometodológica visa compreender como as pessoas
constroem ou reconstroem a sua realidade social. Para a pesquisa
etnometodológica, fenômenos sociais não determinam de fora a
conduta humana. A conduta humana é o resultado da interação social
que se produz continuamente através da sua prática quotidiana. Os
seres humanos são capazes de ativamente definir e articular
procedimentos, de acordo com as circunstâncias e as situações sociais
em que estão implicados. A pesquisa etnometodológica analisa deste

61
Metodologia Científica
Unidade IV

modo os procedimentos a que os indivíduos recorrem para concretizar


as suas ações diárias (FONSECA, 2002, p. 36).

Silveira e Córdova (2009) mostram que, para estudar as ações dos sujeitos
na vida quotidiana, a pesquisa etnometodológica baseia-se em uma multiplicidade
de instrumentos, entre os quais podemos citar: a observação direta, a observação
participante, entrevistas, estudos de relatórios e documentos administrativos,
gravações em vídeo e áudio.
Assim, Coulon (1995) denota que a análise etnometodológica intenta
esclarecer como as coisas vêm a ser como são nos grupos sociais, de que maneira
cada grupo e cada membro apreende e dá sentido à realidade e por quais
processos intersubjetivos a mediação da linguagem entre os grupos e seus lugares
constrói a realidade social que afirmam.

62
Metodologia Científica
Unidade V – Pesquisa quanto

V à abordagem,
objetivos
natureza e

Objetivos da Unidade

 Experienciar o julgamento e abdução dos tipos de pesquisa para a produção


de conhecimentos científicos, tendo em vista diferentes tipos de pesquisa e
suas abordagens, naturezas e objetivos.

Plano de Estudos

 Ciclo 05
 Atividade Teste
 Título: Tipos de Trabalho Científico e Comunicação da Pesquisa

63
Metodologia Científica
Unidade V

5. Introdução
Nesta unidade, trago você à reflexão sobre alguns aspectos referentes à
produção de conhecimentos sobre os diferentes tipos de pesquisa e suas
abordagens, natureza e objetivos. Nesse sentido, conheceremos e pensaremos
sobre aspectos quantitativos e qualitativos, além de refletirmos sobre as
possibilidades de pesquisa quanto à natureza, seja ela básica, aplicada, exploratória
descritiva ou explicativa. Então, vamos aos estudos!

5.1 Pesquisa quanto à abordagem


5.1.1 Pesquisa qualitativa
Segundo Silveira e Córdova (2009), a pesquisa qualitativa não se preocupa
com representatividade numérica, mas sim com o aprofundamento da
compreensão de um grupo social, de uma organização, etc. Segundo Goldenberg
(1997):

Os pesquisadores que adotam a abordagem qualitativa opõem-se ao


pressuposto que defende um modelo único de pesquisa para todas as
ciências, já que as ciências sociais têm sua especificidade, o que
pressupõe uma metodologia própria. Assim, os pesquisadores
qualitativos recusam o modelo positivista aplicado ao estudo da vida
social, uma vez que o pesquisador não pode fazer julgamentos nem
permitir que seus preconceitos e crenças contaminem a pesquisa (p.
34).

Ainda segundo Silveira e Córdova (2009), os pesquisadores que utilizam os


métodos qualitativos buscam explicar o porquê das coisas, exprimindo o que
convém ser feito, mas não quantificam os valores e as trocas simbólicas nem se
submetem à prova de fatos, pois os dados analisados são não métricos (suscitados
e de interação) e se valem de diferentes abordagens.

64
Metodologia Científica
Unidade V

Deslauriers apud Silveira e Córdova (2009) mostra que, na pesquisa


qualitativa, o cientista é ao mesmo tempo o sujeito e o objeto de suas pesquisas.
Nesse sentido, o desenvolvimento da pesquisa é imprevisível, o conhecimento do
pesquisador é parcial e limitado e o objetivo da amostra é de produzir informações
aprofundadas e ilustrativas: seja ela pequena ou grande, o que importa é que ela
seja capaz de produzir novas informações.
A pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos,
aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais
profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser
reduzidos à operacionalização de variáveis. Aplicada inicialmente em estudos de
Antropologia e Sociologia, como contraponto à pesquisa quantitativa dominante,
tem alargado seu campo de atuação a áreas como a Psicologia e a Educação. A
pesquisa qualitativa é criticada por seu empirismo, pela subjetividade e pelo
envolvimento emocional do pesquisador (MINAYO, 2001, p. 14).

Como já vimos anteriormente neste guia, podemos


entender que a pesquisa qualitativa se preocupa
com aspectos da realidade que não podem ser
quantificados, centrando-se na compreensão e
explicação da dinâmica das relações sociais.

65
Metodologia Científica
Unidade V

Portanto, segundo Silveira e Córdova (2009), a pesquisa qualitativa se


caracteriza pelo(a):

• objetivação do fenômeno;
• hierarquização das ações de descrever, compreender, explicar, precisão das
relações entre o global e o local em determinado fenômeno;
• observância das diferenças entre o mundo social e o mundo natural;
• respeito ao caráter interativo entre os objetivos buscados pelos
investigadores, suas orientações teóricas e seus dados empíricos;
• busca de resultados os mais fidedignos possíveis;
• oposição ao pressuposto que defende um modelo único de pesquisa para
todas as ciências.

Apoiando-nos nas autoras citadas acima, podemos


considerar que, na pesquisa qualitativa, o
pesquisador deve estar atento para alguns limites e
riscos, tais como:

66
Metodologia Científica
Unidade V

excessiva confiança no investigador como instrumento de coleta


de dados;

risco de que a reflexão exaustiva acerca das notas de campo


Limites e riscos da pesquisa qualitativa

possa representar uma tentativa de dar conta da totalidade do


objeto estudado, além de controlar a influência do observador
sobre o objeto de estudo;

falta de detalhes sobre os processos através dos quais as


conclusões foram alcançadas;

falta de observância de aspectos diferentes sob enfoques


diferentes;

certeza do próprio pesquisador com relação a seus dados;

sensação de dominar profundamente seu objeto de estudo;

envolvimento do pesquisador na situação pesquisada, ou com


os sujeitos pesquisados.

67
Metodologia Científica
Unidade V

5.1.2 Pesquisa quantitativa


Diferentemente da pesquisa qualitativa, a pesquisa quantitativa, como se
observa em seu próprio nome, se caracteriza pela quantificação dos resultados.
Nesse sentido, mostra Fonseca (2002):

Como as amostras geralmente são grandes e consideradas


representativas da população, os resultados são tomados como se
constituíssem um retrato real de toda a população alvo da pesquisa. A
pesquisa quantitativa se centra na objetividade. Influenciada pelo
positivismo, considera que a realidade só pode ser compreendida com
base na análise de dados brutos, recolhidos com o auxílio de
instrumentos padronizados e neutros. A pesquisa quantitativa recorre à
linguagem matemática para descrever as causas de um fenômeno, as
relações entre variáveis, etc. A utilização conjunta da pesquisa qualitativa
e quantitativa permite recolher mais informações do que se poderia
conseguir isoladamente (p. 20).

No esquema a seguir podemos comparar os principais aspectos da pesquisa


qualitativa e da pesquisa quantitativa:

68
Metodologia Científica
Unidade V

Tabela 1 - Comparação dos aspectos da pesquisa qualitativa com os da pesquisa


quantitativa

Aspecto Pesquisa Quantitativa Pesquisa Qualitativa

Enfoque na interpretação
menor maior
do objeto

Importância do contexto
menor maior
do objeto pesquisado
Proximidade do
pesquisador em relação aos menor maior
fenômenos estudados
Alcance do estudo no
tempo instantâneo intervalo maior

Quantidade de fontes de
dados uma várias

Ponto de vista do
pesquisador externo à organização interno à organização

Quadro teórico e hipóteses


definidas rigorosamente menos estruturadas

Fonte: (FONSECA, 2002)

Segundo Polit et all (2004), a pesquisa quantitativa, que tem suas raízes no
pensamento positivista lógico, tende a enfatizar o raciocínio dedutivo, as regras da
lógica e os atributos mensuráveis da experiência humana. Por outro lado, a pesquisa
qualitativa tende a salientar os aspectos dinâmicos, holísticos e individuais da

69
Metodologia Científica
Unidade V

experiência humana, para apreender a totalidade no contexto daqueles que estão


vivenciando o fenômeno.
Veja no esquema a seguir uma comparação entre o método quantitativo e
o método qualitativo:
Tabela 2: Pesquisa Quantitativa e Qualitativa

Pesquisa Pesquisa
Quantitativa Qualitativa

Focaliza uma quantidade pequena Tenta compreender a totalidade


de conceitos do fenômeno, mais do que
focalizar conceitos específicos
Inicia com ideias preconcebidas do
modo pelo qual os conceitos estão Possui poucas ideias
relacionados preconcebidas e salienta a
importância das interpretações
Utiliza procedimentos estruturados dos eventos mais do que a
e instrumentos formais para coleta interpretação do pesquisador
de dados
Coleta dados sem instrumentos
Coleta os dados mediante formais e estruturados
condições de controle

Não tenta controlar o contexto da


Enfatiza a objetividade, na coleta e pesquisa, e sim captar o contexto
análise dos dados na totalidade

Analisa os dados numéricos Enfatiza o subjetivo como meio de


através de procedimentos compreender e interpretar as
estatísticos experiências

Fonte: Polit et all (2004)

70
Metodologia Científica
Unidade V

Uma dica interessante para reflexão sobre o


pensamento científico é o livro ou o filme “O ponto
de mutação”. Uma obra de Fritjof Capra, físico
austríaco, que trabalha a ideia de que é preciso
quebrar as bases da ciência moderna, pautada no
sistema matemático cartesiano. Fazendo-nos refletir
sobre o paradigma, além de intentar entender o
mundo como uma máquina perfeita a serviço do
homem.

5.3 Quanto à natureza


5.3.1 Pesquisa básica
Silveira e Córdova (2009) mostram que este tipo de pesquisa visa por
conhecimentos novos, úteis para o avanço da Ciência, sem aplicação prática
prevista. Envolve verdades e interesses universais.

5.3.2 Pesquisa aplicada


Objetiva, segundo Silveira e Córdova (2009), por produzir conhecimentos
para aplicação prática, dirigidos à solução de problemas específicos. Assim, este tipo
de pesquisa envolve verdades e interesses locais. Pesquisa quanto aos objetivos

5.3.3 Pesquisa exploratória


Gil (2007) mostra que esse tipo de pesquisa tem como objetivo apresentar
uma maior familiaridade com o problema, no sentido de torná-lo mais explícito ou
para que se possa construir hipóteses.

71
Metodologia Científica
Unidade V

Segundo Silveira e Córdova (2009), a grande maioria dessas pesquisas


envolve: (a) levantamento bibliográfico;
(b) entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o
problema pesquisado;
(c) análise de exemplos que estimulem a compreensão.
Gill (2007) afirma que essas pesquisas podem ser classificadas como:
pesquisa bibliográfica e estudo de caso.

5.3.4 Pesquisa descritiva


A pesquisa descritiva exige do investigador uma série de informações sobre
o que deseja pesquisar. Esse tipo de estudo pretende descrever os fatos e
fenômenos de determinada realidade (TRIVIÑOS apud SILVEIRA e CÓRDOVA,
2009).

Exemplos de pesquisa descritiva são: estudos de


caso, análise documental, pesquisa ex-post-facto.

72
Metodologia Científica
Unidade V

Para Triviños apud Silveira e Córdova (2009), os estudos descritivos podem


ser criticados porque pode existir uma descrição exata dos fenômenos e dos fatos,
assim:
Estes fogem da possibilidade de verificação através da observação.
Ainda para o autor, às vezes não existe por parte do investigador um
exame crítico das informações, e os resultados podem ser equivocados;
e as técnicas de coleta de dados, como questionários, escalas e
entrevistas, podem ser subjetivas, apenas quantificáveis, gerando
imprecisão (p. 37).

5.3.5 Pesquisa explicativa


Este tipo de pesquisa, como mostra Gil (2007), interessa-se em identificar os
fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos. Este
tipo de pesquisa intenta em explicar o porquê das coisas através dos resultados
oferecidos, nesse sentido, uma pesquisa explicativa pode ser a continuação de outra
descritiva, posto que a identificação de fatores que determinam um fenômeno exige
que este esteja suficientemente descrito e detalhado.

Pesquisas desse tipo podem ser classificadas como


experimentais e ex-post-facto (GIL, 2007).

73
Metodologia Científica
Estudo de Caso

CONSTRUINDO UM PROJETO DE PESQUISA

Qualquer pesquisa, para ser relevante para a comunidade científica e para a


sociedade, precisa - como vimos neste guia de estudos - ser realizada de forma
sistemática. Dentre os diferentes elementos que proporcionam tal relevância estão
os que se referem à metodologia. Entretanto, um elemento importante para um
bom desenvolvimento metodológico de uma pesquisa que almeje ter relevância
científica e social tende a ser o projeto de pesquisa.

O projeto de pesquisa, nesse sentido, se mostra como uma via que não
precisa ter um traço exclusivo, rígido e engessado, mas um caminho que pode
evitar imprevistos, ou pelo menos preparar o pesquisador para eles. O projeto de
pesquisa se mostra como um instrumento de planejamento que não é neutro e,
portanto, é carregado de escolhas. Essas escolhas atribuem a um projeto a
possibilidade de ser um instrumento para que a pesquisa corra com condições
palpáveis, evitando que, no decorrer da pesquisa, o pesquisador fique imobilizado
frente a imprevistos.

74
Metodologia Científica
Estudo de Caso

Para a construção e desenvolvimento de um


projeto, é importante levantar a seguinte questão:
quais escolhas estão colocadas para o pesquisador?

Segundo Ruido (1986), podemos destacar algumas questões para constituir


os itens anteriormente mostrados, no sentido de ter um bom e coerente projeto
de pesquisa.

Para a formulação do problema, das O que pesquisar?


hipóteses e das referências teóricas:

Para a elaboração das justificativas: Por que pesquisar?

Para se escolher a metodologia adequada Como pesquisar?


para a pesquisa:
Para estabelecer o cronograma coerente Quando pesquisar?
com a proposta da pesquisa:
Para que se possa orçar os recursos da Com que recursos?
pesquisa:
Para se definir as pessoas que irão atuar Quem vai pesquisar?
em cada etapa:

A seguir teremos uma sugestão para a construção de uma estrutura básica


de projeto de pesquisa, que, ao ser usada como referência (e nunca como modelo
ideal), deve ser empregada tendo em vista o cuidado em adaptar para cada situação
e tipo específico de pesquisa.

75
Metodologia Científica
Estudo de Caso

Vale destacar que a estrutura de um projeto de


pesquisa inclui elementos pré-textuais, elementos
textuais e elementos pós-textuais.

Elementos pré-textuais
 Capa - apresenta as informações transcritas na seguinte ordem:

a) nome da entidade para a qual deve ser submetido, quando


solicitado;
b) nome(s) do(s) autor(es);
c) título;
d) subtítulo (se houver, deve ser evidenciada a sua subordinação ao
título, precedido de dois-pontos);
e) local (cidade) da entidade, onde deve ser apresentado;
f) ano de depósito (entrega).
 Folha de rosto- Elemento obrigatório e que deve apresentar as
informações transcritas na seguinte ordem:

a) nome(s) do(s) autor(es);


b) título;c) subtítulo (se houver, deve ser evidenciada a sua
subordinação ao título, precedido de dois-pontos);
d) tipo de projeto de pesquisa e nome da entidade a que deve ser
submetido;
e) local (cidade) da entidade onde deve ser apresentado;
f) ano de depósito (entrega).

76
Metodologia Científica
Estudo de Caso

 Lista de ilustrações
 Lista de tabelas
 Lista de abreviaturas e siglas
 Lista de símbolos
 Sumário

Elementos textuais
A seguir comentaremos alguns dos principais itens dos elementos textuais.

Introdução
A introdução é o primeiro elemento textual de um projeto. Segundo Demo
(2003), é na introdução a parte em que o pesquisador precisa contextualizar o
tema. A introdução deve, portanto, partir de um assunto mais geral de forma a
expor suscintamente o tema do projeto, o problema a ser abordado, uma ou mais
hipóteses (quando couber), bem como o(s) objetivo(s) a ser(em) atingido(s) e a(s)
justificativa(s).

A introdução de um projeto deve ser longa o


suficiente para contextualizar o tema, mas não deve
ser tão extensa a ponto de se tornar um capítulo.

Ainda segundo Demo (2003), a introdução deve primar pela objetividade,


tratando do assunto e do tema a ser pesquisado, pois tem o papel de “introduzir” o
leitor, progressivamente, ao texto, o papel de revelar o ponto de partida do estudo.

77
Metodologia Científica
Estudo de Caso

A função da introdução é, portanto, apresentar ao leitor o tema do projeto


de pesquisa de forma mais geral, ou seja, informando o que e como será tratado o
tema a ser desenvolvido.

Tema
Quando falamos de assunto de uma pesquisa ou projeto de pesquisa,
estamos nos referindo a algo mais geral; e quando falamos de tema do projeto,
estamos falando de algo mais específico e que se refere à problematização do
assunto.
Portanto, é importante que o tema seja abordado para que seja possível
compreender melhor as perspectivas de análise, pois a definição do tema da
pesquisa e do projeto de pesquisa nos mostra uma subárea de interesse a ser
investigada a partir de uma grande área, que é o assunto.

A justificativa
Tozoni-Reis (2007) mostra que o projeto de pesquisa exige uma dedicação
especial às justificativas do estudo, portanto, justificar significa argumentar a favor da
importância do estudo proposto, demonstrar as razões pelas quais se justifica sua
realização.

Ao tratarmos sobre a revisão de literatura, vimos


que é muito importante nos basearmos em autores
e obras, pois eles oferecem significativos subsídios
para a justificativa.

78
Metodologia Científica
Estudo de Caso

Minayo et all (1996) mostram que a justificativa, ao intentar em demonstrar


a relevância da pesquisa proposta, precisa responder à algumas questões:

Quais os motivos que a justificam?

Que contribuições para a compreensão, intervenção ou solução para o problema


trará a realização de tal pesquisa?

No entanto, Tozoni-Reis (2007) nos diz que é preciso estar atento para não
cair na armadilha de se justificar o projeto de pesquisa pela falta de estudos
semelhantes. A exceção de teses de doutorados e de certa forma as dissertações
de mestrado, as pesquisas em nível de graduação não precisam ser totalmente
inéditas, mas a forma com que o tema é abordado e sua problematização devem
evitar ao máximo o plágio e assim demonstrar por significados próprios,
demonstrado, pelo pesquisador no projeto, as razões que o legitimam e que fazem
merecer uma leitura.

Segundo Bicalho (2003), o autor na justificativa de


um projeto mostrará a sua intenção de pesquisa,
explicando o que trará de novo, de interessante e
útil nos resultados que serão alcançados, e que a
pesquisa é séria, confiável, oportuna, e demonstrará
sua relevância social, pessoal, acadêmica e
profissional. Assim, a justificativa irá determinar os
motivos teóricos e práticos.

79
Metodologia Científica
Estudo de Caso

Os objetivos
Um objetivo, segundo Tozoni-Reis (2007), é um propósito, uma meta, um
alvo que se pretende atingir, uma ação a ser realizada, a própria materialização do
estudo. A definição dos objetivos é uma das mais importantes etapas de um
trabalho científico, pois é a partir da formulação dos objetivos que se pode delinear
o projeto de pesquisa. Assim, os objetivos devem ser formulados como se observa
no seguinte esquema:

clareza e
precisão

pertinência ao
exequibilidade
estudo

Objetivos

Para isso, Tozoni-Reis (2007) nos convida a observar alguns cuidados na sua
formulação:
 apresentar, primeiramente, objetivos gerais do estudo para, em
seguida, formular os objetivos específicos;
 não apresentar muitos objetivos, mas aqueles que têm mais sentido
para o trabalho;
 articular os objetivos entre si, apresentando-os de forma sequencial;

80
Metodologia Científica
Estudo de Caso

 optar por objetivos com um único propósito; no caso de haver um


que tenha mais de um propósito, transformá-lo em um novo
objetivo;
 para garantir a clareza da ação a ser realizada, iniciar sempre a
formulação de um objetivo usando o verbo (ação) no infinitivo:
identificar, analisar, compreender etc.

O objetivo geral está relacionado diretamente com


as hipóteses a serem comprovadas. É a definição do
objetivo principal da pesquisa, em seus aspectos
teóricos e práticos a serem alcançados. Já nos
objetivos específicos, o pesquisador subdivide o
objetivo geral em etapas a serem cumpridas e
respondidas até que o último objetivo específico.

Hipóteses
Tozoni-Reis (2007) mostra que as hipóteses são, na verdade, indagações
que orientam a investigação. O que quer dizer que as respostas provisórias a tais
indagações têm como função principal nortear as investigações.
Salomon (2004) mostra que a hipótese e problema formam um todo
indivisível, principalmente se pensarmos o projeto quer metodológica, quer
teoricamente. Isso pode parecer elementar, mas nos mostra que essa é uma
definição da hipótese e que, como resposta provisória ao problema, se apresenta
como uma “solução” indicada e que precisa ser comprovada pela pesquisa.
Nesse sentido, justifica-se que a coleta de dados e sua análise se dão em
função da(s) hipótese(s), o que quer dizer que a formulação da hipótese está
intimamente relacionada com o problema.

81
Metodologia Científica
Estudo de Caso

Frequentemente o problema, em sua operacionalização, se desdobra, a


ponto de existir no projeto: um problema geral e vários problemas
derivados. Para cada problema, neste caso, haverá no mínimo uma
hipótese. Tanto o problema como a hipótese são formulados dentro
do marco teórico de referência adotado pelo pesquisador. O esboço
desse marco teórico já deve existir e ser revelado no projeto. O
processo de pesquisa, particularmente nas fases do levantamento
bibliográfico e da documentação, proporciona ao pesquisador sua
complementação ou sua reformulação. A hipótese deve ser formulada
como proposição, em que sujeito e predicado se relacionam como
variáveis; e os conceitos, categorias, índices, indicadores, definições
operacionais são escolhidos e definidos também de acordo com o
marco teórico de referência adotado (SALOMON, 2004, p. 35).

Ainda segundo Salomon (2004):

Não se trata de uma exigência meramente metodológica. É de natureza


epistemológica; o próprio processo de formação da ciência e o da
construção da teoria científica o exigem. Há muito estava implícita no
método e na lógica dialéticos e explícita na formulação de seus
princípios heterotético1 e de trânsito dialético. Por força de tais
princípios, toda nova teoria, toda lei ou proposição científicas e,
consequentemente, toda hipótese, formam-se e formulam-se em
contraposição à teoria já existente, e nada se faz a partir do zero. De
certo modo constitui a alma do método hipotético-dedutivo,
particularmente na contrastação e na falseação propostas por Popper
(SALOMON, 2004, p, 35).

Portanto, segundo Tozoni-Reis (2007), as hipóteses se mostram como


elementos que orientam o diálogo do pesquisador com a realidade a ser

1
Significa que diversos e pré-preparados, isto é, as várias possibilidades de princípios pré-pensados.

82
Metodologia Científica
Estudo de Caso

compreendida e interpretada, portanto, devem ser claras, objetivas, específicas e ter


como base as referências teóricas do estudo apresentado pelo projeto.

A seguir selecionamos alguns autores e suas


concepções sobre a hipótese:

Segundo Marconi (2000), a hipótese é considerada um enunciado geral em


relação com variáveis (fatos, fenômenos). Que pode ser: uma solução provisória
para determinado problema e possível de ser verificada.
Segundo Ruiz (1996), a hipótese é que fixa uma diretriz capaz de impor
ordem e finalidade a todo o processo de experimentação. O cientista é guiado por
hipóteses.
Segundo Richardson (1989), as hipóteses necessitam ser: claras e
compreensivas; ter base empírica; ser verificadas por meio das técnicas disponíveis;
ser específicas ou possíveis de especificação; estar relacionadas com técnicas já
existentes; possuir alcance geral e ser plausível.

Referencial teórico

Como vimos anteriormente, independente do tipo


de pesquisa a ser realizado, se destina a constituir os
pilares para teóricos do projeto de pesquisa, bem
como do texto da pesquisa, da pesquisa em si até as
considerações finais. Assim, Horn (2003) nos mostra
que:

83
Metodologia Científica
Estudo de Caso

A revisão de literatura é constituída, conforme sua denominação, por


registros de uma releitura do que ‘as autoridades’ já escreveram sobre
o tema, devendo remeter ao maior número possível de ‘autoridades’.
Há que se enfatizar, ainda, que a autoridade também se explicita em
adequação ao nível de complexidade que se espera de cada curso (p.
67).

Isso que dizer que é necessário escolher por livros e artigos adequados para
se espaldar a pesquisa a ser realizada, tendo em vista o seu nível de complexidade,
ou seja, considerando se a pesquisa é desenvolvida no contexto de graduação,
especialização, mestrado ou doutorado.
Não obstante, Tozoni-Reis (2007) denota alguns cuidados necessários às
referências:

As referências são um componente importante do projeto de pesquisa,


pois têm o papel de oferecer ao leitor mais algumas pistas sobre os
caminhos teóricos e metodológicos percorridos pelo pesquisador. Sua
finalidade objetiva é apresentar a documentação usada nos esforços até
agora empreendidos no estudo do tema, proporcionando um maior
aprofundamento dos estudos. As diretrizes e normas para as referências
são as mesmas tanto para projetos quanto para relatórios de pesquisa
(monografias, TCCs, dissertações, teses, artigos científicos etc.). É
comum que pesquisadores mais maduros iniciem a leitura de um
trabalho científico pelas referências, pois, a partir dos autores tratados
no estudo, tem-se um conjunto de informações a respeito da
abordagem dada ao tema, e já uma pré-avaliação do interesse do leitor
pelo estudo. É necessário que os pesquisadores iniciantes percebam a
importância das normas de referências. São bastante detalhadas, mas
têm o papel de padronizar as informações em todos os países do
mundo. Isso significa dizer que, ao nos depararmos com textos escritos
em quase todas as línguas, as normas nos auxiliam a compreender as
informações sobre sua procedência e sobre as referências usadas pelos
autores. No Brasil, essa normatização é feita pela ABNT, que tem as
normas para trabalhos acadêmicos disponíveis para compra. No

84
Metodologia Científica
Estudo de Caso
entanto, para uso dos pesquisadores iniciantes, apresentaremos aqui as
principais normas (p. 61).

Esse autor ainda coloca mais alguns cuidados fundamentais para o


tratamento das referências no decorrer do texto:
 observar rigorosamente as normas de referências;
 todos os autores citados ou referenciados durante o texto têm que
estar nas referências. Se um autor teve muita importância no
trabalho, ele tem que estar citado ou referido;
 citação direta é a fala literal do autor, transcrita diretamente do texto
lido: fazer “citações diretas” de autores quando forem muito
pertinentes ao tema abordado, formatado com destaque (margem
esquerda em 4,0cm, letra 10, espaço simples) para trechos com mais
de 3 linhas. Para trechos transcritos com até 3 linhas, colocar a
citação no corpo do trecho, sempre entre aspas, sem itálico e com
fonte igual a do restante do texto;
 citação indireta é um recurso que indica a influência dos autores
lidos nas ideias apresentadas pelo pesquisador. Para chamada no
texto, deve-se entrar com o último sobrenome do autor e o ano de
publicação. Exemplos: (GARCIA, 1993) ou Garcia (1993). Nas
referências apresentar as informações completas, conforme
instruções abaixo;
 nas citações (diretas e indiretas), quando se trata de uma obra de
dois autores, colocar “e” entre eles. Exemplo: (GARCIA e SILVA,
2003) ou Garcia e Silva, (2003). Quando forem três ou mais autores,
usar o recurso “et al”. Exemplo: (REIS et al, 2005) ou Reis et al
(2005);

85
Metodologia Científica
Estudo de Caso

 quando se faz citação indireta de várias obras de autores diferentes,


coloca-los em ordem cronológica ou alfabética (nunca em ordem de
importância!). Exemplo: “[...] como estudaram vários autores como
Freire (1999), Silva (2001); Almeida (2003)” ou “[...] como
estudaram vários autores (ALMEIDA, 2003; FREIRE, 1999; SILVA,
200l)”;
 para fazer omissões de partes do trecho citado ou saltos maiores
nas citações, usar reticências entre colchetes [...];
 para destacar incorreções ou incoerências nas citações, segundo a
avaliação do pesquisador, usar a palavra sic entre colchetes [sic]; '
 para dar destaque à uma ideia, palavra ou expressão na citação,
&miga;
 usar itálico, ou negrito, mas não se deve esquecer de colocar no final
da
 citação [grifo nosso];
 textos estrangeiros podem ser citados no original ou traduzidos pelo
próprio pesquisador. Se houver citação no original, deve-se
apresentar tradução em nota de rodapé, mas é permitido também
usar a expressão “já traduzido”. Em ambos os casos acrescentar,
após a citação, a expressão “tradução livre”, que informa ao leitor
que o próprio pesquisador a traduziu;
 se você quer citar um autor que foi citado por outro (citação de
citação), é melhor procurar o original. Se por motivo relevante não
conseguir, use
 apud. Exemplo: “[...] segundo Piaget (apud Vasconcellos, 2003)”;
 as notas de rodapé merecem cuidado especial: usá-las somente para
completar informações e não para as referências. Numerá-las no
texto e no rodapé, usar letra menor do que a do texto, com espaço
simples.

Nesse sentido, para a formulação do texto que comporá o referencial


teórico de um projeto de pesquisa, o investigador deverá descrever:

86
Metodologia Científica
Estudo de Caso

[...] o conhecimento disponível na área, identificando as teorias


produzidas, analisando e avaliando sua contribuição para auxiliar a
compreender ou explicar o problema: objeto de investigação. Esta
modalidade de pesquisa é muito comum na área de ciências humanas e
sociais, dada a natureza do estatuto epistemológico que compõe esta
área (Horn, 2003, p. 10).

Há autores que diferenciam bibliografia de


referências nos trabalhos acadêmicos-científicos.
Nesse sentido, Tozoni-Reis (2007) mostra que
bibliografia:

[...] seria a apresentação dos autores lidos, mesmo os que não são
referidos ou citados no texto, e as referências apresentariam apenas os
referidos e citados. No entanto, em se tratando de trabalhos científicos,
essa diferença não tem sentido, pois se exige, desse tipo de trabalho,
que todos os autores lidos sejam apresentados e apenas os autores
lidos o sejam. Portanto, a terminologia mais adequada nesse tipo de
trabalho é referências. Nos trabalhos científicos, as referências devem
apresentar os seguintes dados: autor, título da obra, numeração da
edição, local da publicação, editora e ano de publicação. Esses são os
dados mais comuns, porém, dependendo do tipo de referência, é
preciso também constar indicação do Volume, coleção, número de
série, do tradutor, número de páginas, data mais completa de
publicação, do endereço de acesso eletrônico etc. (p. 63).

Portanto, o objetivo do referencial teórico em um


projeto de pesquisa deve ser o de buscar
compreender as principais contribuições teóricas
existentes sobre um determinado tema-problema
ou recorte, considerando a produção já existente.

87
Metodologia Científica
Estudo de Caso

Metodologia
É o caminho que se percorre para chegar ao fim da pesquisa. Os métodos
da pesquisa devem ser detalhados para que ela possa ser realizada pelos seus pares
e alcançar os objetivos previamente definidos. Nesse sentido, mostraremos os
métodos de abordagem e os de procedimentos:

a) Métodos de abordagem
Andrade (1997) mostra que esses se referem aos procedimentos gerais usados
para o desenvolvimento do plano geral da pesquisa. São eles:
 Indutivo - é quando a pesquisa vai do particular (premissas) para o
geral, ou de verdades particulares concluem-se verdades gerais;
Exemplo: Pedro é mortal. Pedro é homem, logo todos os homens
são mortais.
 Dedutivo - é quando a pesquisa vai do geral para chegar ao
particular, ou seja, do universal ao singular;
 Hipotético-dedutivo – é quando a pesquisa utiliza-se de hipóteses
(conjecturas), que devem ser testadas e criticadas. Quanto mais uma
hipótese resistir às tentativas de refutamento e falseamento, melhor
ela será, mas não deve ser falsificada.

b) Métodos de procedimentos: esses devem ser adequados a cada área da


pesquisa. São eles:
 Empirismo – consiste na observação e tratamento de base
experimental dos fatos.
 Positivismo – preocupa-se em explorar características lógicas do
conhecimento. Entende que a neutralidade científica é uma opção
possível entre outras.
 Estruturalismo – caminha do concreto para o abstrato, e vice-versa,
dispondo, na segunda etapa de um modelo para analisar a realidade
concreta dos diversos fenômenos.

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Metodologia Científica
Estudo de Caso

 Funcionalismo – estuda a sociedade do ponto de vista da função de


suas unidades, isto é, como um sistema organizado de atividades.
 Sistemismo – preocupa-se com a manipulação dos conflitos sociais.
 Dialético – método específico das ciências sociais que vê a realidade
histórica não apenas como um fluxo, mas, sobretudo, como a
origem de uma explicação.
 Fenomenológico – trata daqueles aspectos que são essenciais do
fenômeno, aspirando apreendê-los nos seus momentos
fundamentais, através da intuição.
 Experimental – ocupa-se de submeter os objetos de estudo à
influência de variáveis, em condições controladas pelo investigador, a
fim de observar os resultados que a variável produz no objeto.
 Observacional – observação da realidade sem nenhuma interferência
de variável.
 Comparativo – visa ressaltar diferenças e similaridades entre
indivíduos e fenômenos submetidos a comparações.
 Estatístico – gera apenas uma verdade provável baseado em testes
estatísticos.
 Clínico – utilizado na pesquisa psicológica, consiste em uma relação
profunda entre pesquisador e pesquisado.
 Histórico – parte do princípio de que as atuais formas de vida social,
as instituições e os costumes têm origem no passado.
 Monográfico – consiste no estudo de determinados indivíduos,
profissões, condições, instituições, grupos ou comunidades, com a
finalidade de obter generalizações.
 Tipológico – ao comparar fenômenos sociais complexos, o
pesquisador cria tipos ou modelos ideais, construídos a partir da
análise de aspectos essenciais do fenômeno.

89
Metodologia Científica
Estudo de Caso

Os métodos de pesquisa devem ser detalhados,


para que ela possa ser realizada pelos seus pares e
alcance os objetivos previamente definidos.

De forma inerente aos métodos, há de se discriminar também o


instrumento específico de coleta de dados e que são agrupados em dois tipos:
a) Documentação indireta, que inclui pesquisa documental e pesquisa bibliográfica.
b) Documentação direta, que pode ser:
 Intensiva: entrevista
 Extensiva: formulário, questionário, história de vida, testes
(ANDRADE, 1997).

Objeto de pesquisa
Os recursos dependem da natureza da pesquisa a ser realizada e, nesse
sentido, podem ser os seguintes:
 Sujeitos (quem?)

Segundo Bicalho (2003), neste item, o pesquisador deve: a) descrever a população


ou sujeitos que serão estudados (indivíduos ou animais), situando-os conforme as
características políticas, geográficas, sociais, econômicas e demográficas; b) definir
critérios de seleção e de exclusão, justificando-os; c) programar como as perdas
poderão ser evitadas ou contornadas com substituições; d) descrever quais as
fontes disponíveis para as informações e o que se pretende buscar em cada uma
delas.

90
Metodologia Científica
Estudo de Caso

 Amostra (quem são os meus sujeitos particulares?)

Considerando a impossibilidade de trabalhar com 100% dos sujeitos a


serem pesquisados, se fez necessário selecionar parte da população para que depois
seu resultado seja estendido ao todo.
Segundo Marconi (1999), no processo de amostragem temos a probabilista
e a não probabilista. A amostra probabilista ou aleatória é quando a seleção dos
indivíduos é feita ao acaso recebendo um tratamento estatístico. A amostra não
probabilista é intencional (quando o pesquisador está interessado na opinião de
determinados indivíduos da população).
Segundo Rudio (1996, p.47), devemos justificar os motivos, e apresentar o
modo como a amostra será selecionada e suas características.

 Variáveis

O pesquisador, ao escolher um objeto ou indivíduo para estudo, deve ter a


consciência que a sua pesquisa pode sofrer influência de variáveis que podem ser
dependentes, independentes ou descritivas. Assim, “a variável pode ser entendida
como sendo tudo aquilo que apresenta diferenças, alterações, inconstância, que
pareçam ser importantes para justificar ou explicar complexas características de um
problema [...]” (OLIVEIRA, 2001, p. 115).

Plano de trabalho ou sumário provisório


Apresenta os capítulos, seções e subseções, ordenados de forma lógica que
poderá ser modificado durante a pesquisa, e constitui o planejamento, uma primeira
visualização do trabalho como um todo. Consiste na proposição inicial de
organização sequencial do documento final, o trabalho de conclusão de curso, ou
seja, o planejamento da obra pronta. Tem como finalidade básica organizar a
redação e articulação das partes, possibilitando visualizar sua integração no conjunto
do documento final. Portanto, além dos tópicos obrigatórios, de Introdução,

91
Metodologia Científica
Estudo de Caso

Conclusão e Referências, deve explicitar os títulos das seções ou capítulos e das


respectivas subdivisões.
O plano de trabalho é, na verdade, um guia de orientação para o
investigador, funcionando como um roteiro do caminho a ser seguido (NUNES,
1999, p.31).
Didaticamente, procura-se dividir a investigação científica em três partes:
montagem do plano, execução e redação.

Desse modo, a investigação desenvolve-se por etapas progressivas:


a) primeira etapa: consiste no planejamento global e minucioso dos diferentes
aspectos do trabalho, visando ao seu bom desenvolvimento;
b) segunda etapa: refere-se ao levantamento e à análise dos dados bibliográficos,
documentais ou de campo, relativos aos aspectos da pesquisa;
c) terceira etapa: trata da atividade fundamental da pesquisa, ou seja, a redação, que
deve ser objetiva, clara e apresentar linguagem correta original e inédita
(MARCONI, 2001, p.53).

Coleta de dados
Segundo Marconi (1999), o planejamento detalhado, testado, e o rigoroso
controle de aplicação dos instrumentos de pesquisa, evitará o desperdício de
tempo, erros, defeitos que poderão comprometer a pesquisa.
Em linhas gerais, as técnicas de coletas de dados são: coleta documental;
observação; entrevista; questionário; formulário; medidas de opinião e atitude;
técnicas mercadológicas; testes; sociometria; análise de conteúdo e história da vida.

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Metodologia Científica
Estudo de Caso

Orçamento
Para definir o orçamento, podemos nos perguntar: o que será necessário
adquirir para realizar a pesquisa? Assim, ao responder essa questão, especificam-se
os recursos humanos, financeiros e materiais necessários para a conclusão da
pesquisa.

Cronograma
Para definir o cronograma, podemos nos perguntar: quando e em que
tempo e ordem irei realizar a pesquisa? Portanto, o cronograma é o planejamento
do tempo, quantas semanas ou meses serão destinados a cada etapa e para cada
procedimento, considerando o limite para a conclusão da pesquisa.
Segundo Bicalho (2003), o pesquisador deve descrever como pretende
organizar as etapas a serem realizadas durante a pesquisa, determinando o período
de tempo destinado a cada uma delas. É necessário ser disciplinado e cumprir, na
medida do possível, o cronograma proposto.
Exemplo de etapas: a) revisão do projeto de pesquisa com seu orientador;
b) elaboração do sumário provisório; c) pesquisa bibliográfica; d) leitura metódica e
fichamento das obras selecionadas; e) planejamento da coleta de dados; f) teste dos
instrumentos de coleta de dados (piloto ou pré-teste); g) Aplicação do instrumento
de coleta de dados; h) compilação dos dados e seleção crítica; i) análise e
interpretação dos dados; j) representação dos dados; k) elaboração do roteiro do
trabalho (esqueleto); l) redação do texto final, com discussão e conclusões; m)
revisão e formatação do texto; n) apresentação e divulgação.

Aspectos Éticos
Quando envolver seres humanos e animais, a pesquisa e os instrumentos de
coleta de dados devem ter a aprovação do comitê de ética da instituição que está
vinculada à pesquisa. Os sujeitos participantes devem ter informações sobre o

93
Metodologia Científica
Estudo de Caso

projeto, assinar um termo de consentimento livre e esclarecido, podendo desistir a


qualquer momento.

Referências
Constitui o conjunto de obras consultadas para fundamentar a pesquisa, ou
seja, que fundamentam os pressupostos teóricos do tema e devem ser
apresentados em ordem alfabética e de acordo com a NBR 6023 da ABNT.

Apêndices
São os trabalhos complementares elaborados pelo autor, com o propósito
de complementar sua argumentação.

Anexo
São os materiais complementares de terceiros, tais como texto ou
documento de autoria de terceiros que servem de fundamentação, comprovação
ou ilustração.

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Metodologia Científica
Estudo de Caso

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) pesquisador(a),
Chegamos ao final deste material, mas não no que objetiva o estudo que
iniciamos aqui, e que pretende levar você a:
 Aplicar os conhecimentos adquiridos nos períodos desta graduação,
traduzindo-os de forma teórico-prática na execução de um trabalho
científico que aborde temas atuais do ramo específico deste curso.
 Desenvolver a criticidade e o comprometimento com as necessárias
transformações ao meio social que lhe envolve, visto que essas são
as principais características do profissional pesquisador.

Assim, espero que, com este material, você tenha sido capaz de, além de
eleger um tema específico, iniciar o mergulho no processo de produção de
conhecimentos científicos. Um mergulho que, ao buscar a solução de problemas,
tende a ser um importante instrumento para que você possa se apropriar de
conhecimentos mais profundos a fim de lhe conduzir a ser, cada vez mais, um
profissional com conhecimentos pautados pela criticidade necessária ao nível
acadêmico de um(a) pós-graduado(a).
Então, desejo a você boa pesquisa e espero que você se sinta bem-vindo(a)
novamente a este material ao longo do desenvolvimento de sua pesquisa!
Abraços e boa pesquisa!
Prof. Celso Gomes

95
Metodologia Científica
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