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História

Revolução Francesa e Napoleão

Teoria

A crise do Antigo Regime


A ordem política que dominou a França até o século XVIII ficou conhecida como o Antigo Regime. Apoiada
em um rei absolutista, em uma corte repleta de privilégio, na manutenção dos direitos feudais e com apoio do
clero, o Antigo Regime representava tudo o que o iluminismo e a burguesia eram contra. Ainda que essa nova
classe social se tornasse poderosa economicamente, o poder político e a participação nas decisões do
Estado ainda eram privilégios do rei e da nobreza.
Tendo em vista o funcionamento dessa sociedade, vale destacar que, para a manutenção desses privilégios,
das riquezas e do próprio direito divino do rei, não bastava a centralização do poder ou o monopólio do Estado
e da violência. Para manter essa estrutura, era necessário a existência também de certos equilíbrios e de
condições mínimas para a sobrevivência dos súditos.
Assim, a Revolução Francesa, portanto, desencadeou-se em uma
conjuntura que, além da difusão do pensamento iluminista, contou
também com uma grave crise do Estado francês. Os fenômenos
climáticos e os obsoletos feudos não produziam alimentos em grande
quantidade para a população que crescia, gerando uma crise alimentícia
na França. Os altos preços do trigo impediam o acesso dos mais pobres
a uma alimentação básica e, desta forma, a fome e a miséria reinavam
na França no final do século XVIII.
Nas questões econômicas, os gastos com os luxos da corte e com
guerras contra outras monarquias (Guerra dos sete anos – 1756-1763) também afetavam as finanças
francesas e impactavam na vida cotidiana. Para sair da crise, o aumento dos tributos sobre o terceiro estado
pressionava ainda mais a população, que continuava trabalhando e sofrendo para manter os privilégios da
nobreza e do clero. Ainda nessa conjuntura, a assinatura do Tratado de Éden-Rayneval (1786) prejudicava as
manufaturas francesas, pois permitia a entrada de tecidos ingleses com baixas tarifas no mercado francês.
Enfim, o cenário francês na segunda metade do século XVIII se transformava aos poucos em um grande
campo minado, repleto de bombas que poderiam explodir a qualquer passo errado. A burguesia ilustrada, por
sua vez, enterrava as minas esperando o momento certo para enfraquecer o Antigo Regime.

O Grande Medo e a queda da Bastilha


Em 1786, a crise se alastrava na França em revoltas nas ruas e nos campos. O rei, Luís XVI, buscando soluções
para a falência do Estado, não conseguia apoio da nobreza para realizar suas reformas, e precisou demitir
seus ministros Turgot e Jacques Necker, que defendiam a cobrança de impostos aos nobres. Assumindo o
posto de Ministro das Finanças em 1783, Charles Alexandre de Calonne chegou a orientar o rei na convocação
da Assembleia dos Notáveis, que reuniu o alto-clero e importantes nobres em 1787, sugerindo que a classe
pagasse impostos para resolver a crise. A solução parecia tão absurda para as camadas privilegiadas que
Calonne também foi demitido, dando lugar no ministério ao arcebispo Loménie de Brienne.

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A proposta de Calonne havia sido tão mal recebida pelas elites francesas, que uma tensão entre o rei e a
aristocracia feudal cresceu. Desejando retomar o antigo poder dos feudos e, mais uma vez, descentralizar o
Estado, essa aristocracia passou a atacar Luís XVI, que agora estava cercado por todos os grupos sociais.
Assim, buscando acalmar as tensões e, de novo, solucionar os problemas financeiros, o antigo ministro
Jacques Necker assumiu o posto de Ministro do Estado em 1788 e, enfim, convocou a Assembleia dos
Estados Gerais. Essa convocação reuniria representantes dos três estados para debaterem e chegarem a
uma conclusão de como resolver as crises franceses. Todavia a assembleia já começaria com uma tensão,
pois a burguesia exigia que a votação deixasse de ser por estado, como era tradicional, e se tornasse
individual, seguindo a proporção de pessoas que cada grupo representava.
Compreendia-se que, no modelo tradicional, clero e nobreza sempre votariam juntos a favor do
conservadorismo de seus privilégios. Entretanto a burguesia, em um modelo de voto individual, teria maiores
chances, pois ainda contaria com o apoio de alguns membros ilustrados da nobreza e do clero. Inclusive, o
abade Emmanuel Sieyès, durante a Assembleia, teria proclamado uma das frases que melhor definem a
situação da burguesia revolucionária: “O que é o terceiro estado? Tudo. Que tem sido ele até agora na ordem
política? Nada. Que pede ele? Tornar-se alguma coisa.”
Enfim, no dia 9 de julho de 1789, o choque dos interesses
entre as ordens e a insistência dos privilegiados em
manter a forma tradicional de votação levaram o terceiro
estado a romper com a Assembleia. Os deputados que
representavam essa ordem se deslocaram para a sala do
jogo da péla, no Palácio de Versalhes, e lá criaram a
Assembleia Nacional, jurando que só sairiam com uma
Constituição pronta.
A tentativa de repressão ao terceiro estado por Luís XVI apenas piorou as coisas, pois as notícias sobre os
acontecimentos em Versalhes se espalharam pela França, levando camponeses e trabalhadores urbanos a
se revoltarem. Para resistir e orientar a população, a Guarda Nacional foi criada como uma milícia burguesa.
Assim, no dia 14 de julho de 1889, a fortaleza da Bastilha, um dos maiores símbolos do Antigo Regime, foi
tomada pela força do terceiro estado.
Desta forma, iniciava-se na França um período de grande violência – com saques, invasão de palácios e
fortalezas, assassinatos de nobres e incêndios –, conhecido como o Grande Medo. Na Assembleia dos
Notáveis, a velha aristocracia feudal havia iniciado um movimento de combate ao Antigo Regime, entretanto
o grande estopim desse movimento foi provocado pela burguesia. E, enfim, aproveitando o cenário, o povo
acertou o golpe final, que levou ao fim o absolutismo.

A Assembleia Nacional (1789-1792)


Como visto, apesar de o povo ter tomado as ruas e os campos com rebeliões violentas, quem conduziu as
principais mudanças do início da Revolução Francesa foi a burguesia, ocupando os grandes salões e
penetrando na política definitivamente.
A Assembleia manteve com força suas atividades até 1792, proporcionando não só mudanças estruturais na
sociedade francesa como dividindo a própria burguesia. Neste período, grupos políticos já começaram a se
formar, dividindo os desejos burgueses. A direita do plenário passou a ser ocupada por uma ala mais
conservadora, representante da alta burguesia e defensora da monarquia, que aos poucos passou a ter seus
membros conhecidos como os girondinos.

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Esse grupo, inicialmente, era maioria na Assembleia, e conseguiu


garantir que o processo revolucionário não se radicalizasse tanto nos
anos iniciais, mas ainda assim conquistasse mudanças liberais. Já à
esquerda, os membros mais radicais da burguesia ficaram
conhecidos como os jacobinos, que logo se tornaram um elo entre a
burguesia e as ruas de Paris. Inicialmente, os jacobinos ainda se
posicionaram de forma moderada, mas, a partir de 1792, com o
crescimento de novas lideranças internas, passaram a tomar
posturas muito mais violentas e radicais na rua e nas instituições políticas. Contudo, apesar de essa divisão
ter sido construída paulatinamente nos períodos da Assembleia, a burguesia conseguiu aprovar, em 1789, a
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
Inspirada na declaração de independência dos Estados Unidos, essa declaração sintetizava os grandes
anseios da burguesia e do iluminismo, estabelecendo o direito à propriedade privada, a igualdade de todos
perante a lei, o direito de resistência à opressão e as liberdades individuais. O lema da revolução: “Liberdade,
Igualdade e Fraternidade”, agora se tornava um valor máximo da sociedade.
Com a declaração, a diferença entre os estados era reduzida, atacando diretamente os privilégios da nobreza.
Visto isso, em 1790, foi a vez de o clero ver suas regalias caírem, com a publicação da Constituição Civil do
Clero, que separava a Igreja do Estado e submetia este grupo ao poder público. Nessa onda de ataques,
muitos bens da Igreja Católica chegaram a ser confiscados e, posteriormente, surgiu entre os revolucionários
um Culto da Razão e do Ser Supremo, que, inspirado no iluminismo, defendia o racionalismo frente a visão
teológica do mundo.
Enfim, com a nobreza e o clero submetidos às novas estruturas e regras da sociedade, faltava apenas o rei,
Luís XVI, ver suas imunidades sendo destruídas. Assim, em 1791, a Assembleia Nacional proclamou a
primeira Constituição francesa, que garantia a criação dos três poderes – executivo, legislativo e judiciário –,
abolia o dízimo eclesiástico, proibia a venda de cargos públicos e garantia o direito de voto a todos os homens
que pudessem comprovar renda ou propriedade (voto censitário). Complicada essa tal liberdade, né? Então
já vão pensando aí: liberdade, igualdade e fraternidade para quem?
Percebe-se que, apesar de a revolução francesa desestabilizar a estrutura social
da França com o iluminismo, um grupo continuou mantendo muitos privilégios:
os homens. Tendo em vista que só os homens receberam o direito ao voto e à
participação política, a ativista francesa Marie Gouze, conhecida como Olympe
de Gouges, escreveu a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã. O novo
documento se apresentou como uma crítica aos privilégios masculinos e
buscou inserir as mulheres nos direitos de igualdade e liberdade. O documento
chegou a ser encaminhado para a Assembleia Nacional, entretanto foi rejeitado
pela Convenção no ano seguinte. Dentre um dos trechos marcantes da
declaração, podemos citar:
“Mulher, desperta. A força da razão se faz escutar em todo o Universo. Reconhece teus direitos. O poderoso
império da natureza não está mais envolto de preconceitos, de fanatismos, de superstições e de mentiras. A
bandeira da verdade dissipou todas as nuvens da ignorância e da usurpação. O homem escravo multiplicou
suas forças e teve necessidade de recorrer às tuas, para romper os seus ferros. Tornando-se livre, tornou-se
injusto em relação à sua companheira.”
(Disponível em: http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Documentos-anteriores-%C3%A0-cria%C3%A7%C3%A3o-da-
Sociedade-das-Na%C3%A7%C3%B5es-at%C3%A9-1919/declaracao-dos-direitos-da-mulher-e-da-cidada-1791.html)

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Ah, mas cuidado! A historiografia basicamente apagou a participação feminina no movimento e o que a Globo
não mostra é que as mulheres foram figuras essenciais durante todo o processo revolucionário. No dia 5 de
outubro de 1789, ocorreu a Marcha sobre Versalhes, movimento no qual uma série de mulheres,
especialmente as que trabalhavam nos mercados/feiras de Paris, se reuniram e marcharam até o Palácio de
Versalhes com a intenção de protestar contra a alta no valor dos alimentos e a favor das reformas políticas
propostas pela Assembleia. Outro motivo da marcha foi o banquete servido aos militares que haviam chegado
recentemente a Versalhes para proteger o rei. Imagina que você está em um contexto de fome e escassez de
comida e seu governante decide oferecer um banquete para um seleto grupo. Vai dar ruim, né?! E deu! Com a
mobilização das mulheres, uma série de pessoas se juntaram aos protestos e obrigaram o rei a voltar para
Paris.

Convenção Nacional (1792-1795) e o terror jacobino


Com a vitória das demandas burguesas no campo político, a antiga nobreza
enfraqueceu e muitos, inclusive, pediram exílio em países vizinhos para
escapar da violência. Até mesmo a nobreza internacional temia que a
revolução se difundisse na Europa, então os monarcas absolutistas da
Áustria e da Prússia assinaram a Declaração de Pillnitz, ameaçando invadir a
França.
Luís XVI, que se sentia refém de uma revolução, usou a ameaça estrangeira
como uma forma de enfraquecer a revolução, entrando e perdendo a guerra.
Entretanto os planos frustrados do rei o levaram a ser capturado na fronteira
francesa, tentando fugir para a Áustria, disfarçado, o que o levou a ser
acusado de traição e de facilitar a entrada dos austríacos na França. O deslize
do monarca, desta forma, levou à prisão do próprio rei por traição.
Assim, com o fim dos esforços pela defesa da França contra as tropas da Coligação Austríaca, na Batalha de
Valmy, a burguesia, liderada por Marat, Danton e Robespierre, enfim proclamou a república, em 20 de
setembro de 1792. Começava, então, na França, a fase da Convenção Nacional, dominada pelas lideranças
jacobinas e pelo radicalismo revolucionário.
O período da Convenção já iniciou com um dos ataques mais radicais ao Antigo Regime, que foi a condenação
à morte do rei Luís XVI. Com a descoberta de documentos que comprovavam seu envolvimento com o rei da
Áustria, a condenação do monarca como traidor da nação teve um desfecho jamais visto anteriormente. Em
21 de janeiro de 1793, a cabeça do rei era guilhotinada em Paris, perante seus antigos súditos que, agora,
tornavam-se cidadãos.
A revolução continuou se radicalizando quando os líderes populares Marat, Danton Hébert e Robespierre, em
2 de junho de 1793, tomaram o poder completamente para os jacobinos, iniciando uma sangrenta ditadura,
conhecida como a Convenção Montanhesa (1793-1794). A liderança de Danton ainda foi moderada, todavia
Robespierre trouxe para a Convenção a fase mais sangrenta dos julgamentos do Tribunal Revolucionário, que
levou milhares de pessoas à guilhotina por suspeitas de traição da nação. Esta fase, que levou inclusive Maria
Antonieta à guilhotina, ficou conhecida como o período do Terror Jacobino.

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As posturas de Robespierre, naturalmente, chegaram a ser contestadas e


causaram cisões entre os jacobinos. A crise interna opôs antigos aliados como
Hébert e Robespierre, que defendiam a violência e a radicalização, e Danton, um
indulgente, que defendia ações mais conservadoras. A situação política francesa
se tornava tão caótica que até mesmo Hébert e Danton foram condenados pelo
Tribunal Revolucionário e executados. Os ideais de liberdade e fraternidade
lentamente derretiam nas mãos contraditórias de Robespierre. Entretanto,
apesar dessa desorganização e de toda a violência do período, algumas
transformações continuaram a ocorrer, como a aprovação da nova Constituição,
em 1793 (Constituição do Ano I), a criação da Lei do Preço Máximo, que tabelava os preços de gêneros
alimentícios, a abolição da escravidão nas colônias e a criação do ensino público.
Buscando romper ainda mais com o monopólio religioso, político e cultural da Igreja Católica e do Antigo
Regime, os jacobinos implementaram um novo calendário francês, em 1793. A nova contagem de tempo se
deu a partir da Constituição de 1792, e o ano anterior passou a ser conhecido como Ano I. O novo calendário
foi pensado de forma a valorizar a razão e os acontecimentos naturais em detrimento dos eventos cristãos,
por isso os nomes dos meses do ano remetiam a elementos da natureza, como brumário (nevoeiros), floreal
(flores) e termidor (calor).
Pega a visão: todo esse clima de revolução e abolição da escravidão foi essencial para a eclosão de revoltas
nas dependências coloniais francesas, especialmente no Haiti. Não é por acaso que a Revolução Haitiana, ou
Revolta de São Domingos, começou no ano de 1791. Apesar de não ganhar a devida importância, ela foi,
certamente, uma das maiores revoluções do século.
A fase da Convenção Montanhesa, apesar de configurar uma violenta ditadura, logo chegou ao fim. No dia 27
de julho de 1794, a ala girondina, buscando retomar o poder, derrubou a convenção, na chamada reação
termidoriana. Apesar de também ser curta, essa reação conseguiu instalar o terror branco, com a perseguição
de jacobinos e revolucionários radicais, e ainda desfazer algumas conquistas jacobinas, com a Lei do Preço
Máximo.

Diretório (1795-1799) e a Conspiração dos Iguais


Internamente, a fase do Diretório conseguiu um equilíbrio muito maior que o período anterior da Revolução. O
domínio dos girondinos garantiu certa recuperação econômica e uma maior moderação nas decisões
políticas, apesar de, com isso, ter atraído o apoio dos monarquistas e da alta burguesia. O grande problema
enfrentado pelos girondinos, nesta fase, foram as Coligações internacionais formadas para derrubar a
Revolução Francesa. Entretanto um jovem militar conhecido como Napoleão Bonaparte demonstrou grande
habilidade estratégica e garantiu para a República francesa diversas vitórias contra os inimigos
internacionais.
Os dois momentos mais sensíveis dos anos entre 1795 e 1799 foram com a Conspiração dos Iguais, de Graco
Babeuf, e com o golpe articulado pelo próprio Napoleão Bonaparte, chamado de golpe do 18 de Brumário. No
primeiro caso, o jornalista parisiense Graco Babeuf, liderando a população mais pobre da cidade, conhecida
como sans-culottes, tentou uma insurreição pautada em ideias igualitárias e consideradas, hoje, precursoras
do socialismo. Propondo igualdade, reformas e o fim da propriedade privada, Babeuf acabou preso, mas seus
questionamentos, publicados no “Manifesto dos Iguais”, conseguiram atingir milhares de pessoas e dar voz
a novos movimentos sociais, sobretudo ao longo do século XIX.

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Em 1799, acompanhado do abade de Sieyès e de Roger Ducos, Napoleão Bonaparte articulou um golpe contra
o diretório, apoiado por uma parcela girondina. A tomada do poder instalou um triunvirato na França, e iniciou
o governo do Consulado, com os três nomes em destaque. Todavia, aos poucos, a figura de Napoleão foi se
sobressaindo e conquistando privilégios até, enfim, tornar-se imperador dos franceses.
Só os curiosos ON: Napoleão foi um dos grandes responsáveis pela egiptomania que tomou a França no
século XIX. Em sua expedição militar para a região, em 1798, Bonaparte levou uma série de pesquisadores
para estudar os artefatos históricos do Egito e achou que era de bom tom levar alguns outros consigo para a
França, como a Pedra de Roseta.

O consulado (1799-1804)
Neste período, os desejos da alta burguesia de uma reorganização interna se consolidaram com a
manutenção de um regime republicano, muito próximo aos militares e chefiado
por Napoleão, Roger Ducos e Sieyés. Apesar dessa divisão inicial, Bonaparte
passou a concentrar os poderes do consulado ao ser eleito primeiro-cônsul e,
posteriormente, ao aprovar a Constituição do ano X, que ampliava ainda mais
seus poderes. Assim, tinha domínio sobre o exército, sobre a criação das leis
e das políticas externas.
Essa fase da chamada era napoleônica, portanto, ficou conhecida pela conquista de uma maior estabilidade
política, econômica e social, realizada através da criação do Banco da França (o franco como nova moeda),
da organização de obras públicas, da construção de liceus, da reaproximação à Igreja Católica (concordata
com o papa Pio VII, mantendo a igreja submissa ao Estado), do financiamento da indústria e da agricultura
francesa e com a própria elaboração das Constituições de 1799 (Ano VII), de 1802 (Ano X) e de 1804 (Ano
XII).
Por fim, Napoleão, ainda no Consulado, também estabeleceu o chamado
Código Civil Napoleônico (1804), que garantia diversas vitórias burguesas da
revolução, como o direito à propriedade privada, ao casamento civil, a
igualdade de todos perante a lei e o respeito às liberdades individuais. No
entanto, apesar dos direitos conquistados e da liberdade, este governo ficou
marcado também pela forte censura à imprensa, perseguição de opositores e pela proibição de greves.

O Império (1804-1815)
Com o aumento da popularidade e o sucesso das conquistas, Napoleão, em 1804, através de um plebiscito,
foi coroado Imperador dos franceses com a aprovação de 60% da
população e, agora, com a força da nova Constituição de 1804 (Ano
XII). Napoleão, assim, distribuiu títulos nobiliárquicos e cargos
públicos para familiares e beneficiou a elite militar, a alta burguesia e
a antiga nobreza na formação de uma nova corte. O novo Estado
francês, assim, iniciava um período de glórias, marcado por obras
faraônicas, pela expansão territorial, por batalhas e pela disseminação
dos ideais iluministas.

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O rápido crescimento francês, as sucessivas vitórias e o poder do exército assustavam as nações vizinhas,
sobretudo a Inglaterra, que temia a perda de seu posto como a grande potência mundial, e do Império
Austríaco, que via ameaçado o modelo absolutista-monárquico. Logo os conflitos pela Europa se ampliaram,
dando início ao período das chamadas guerras napoleônicas.
Nesse contexto, territórios como o da Bélgica, Holanda, Espanha e as terras no norte da atual Itália foram
conquistados pela Grande Armée (exército francês), e passaram ao controle de parentes ou pessoas próximas
a Napoleão, como o caso de José Bonaparte, irmão do imperador francês, que foi rei de Nápoles entre 1806
e 1808, depois rei da Espanha e das Índias a partir de 1808.
Apesar das conquistas, a disputa com a Inglaterra pela hegemonia europeia ainda enfrentava a resistência da
gigantesca marinha britânica, que havia vencido os franceses em 1805 na Batalha de Trafalgar. Assim, como
resposta ao poderio inglês e à derrota francesa, Napoleão, em 1806, declarou o chamado Bloqueio
Continental, visando isolar a ilha britânica do continente europeu, impedindo que seus navios realizassem
comércio e punindo as nações que abrissem seus portos aos ingleses.
O bloqueio continental, no entanto, não teve o sucesso esperado pelo império francês, que, com uma indústria
ainda incipiente, não conseguiu ocupar o espaço deixado pela Inglaterra na exportação de bens
manufaturados, levando muitos países a crises de abastecimento e outros a buscarem formas de furar o
bloqueio, como Portugal e Rússia.

❌Alerta de spoiler❌

Aguardem as cenas dos próximos capítulos....

Voltando, a estratégia de Napoleão fracassou e o enfraquecimento do novo império francês teve início com a
primeira grande derrota napoleônica, na Rússia, em 1812, que contou com a
perda de milhares de soldados.
Assim, aproveitando o momento de crise da Grande Armée, uma nova
coligação foi feita em 1813, sendo essa a grande responsável pela derrota de
Napoleão na chamada Batalha de Leipzig (Batalha das nações), que tem como
consequência a invasão de Paris das tropas rivais, a assinatura do Tratado de
Fontainebleu (1814), a restauração da monarquia com Luís XVIII e o exílio de
Napoleão na ilha de Elba.

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O governo dos 100 dias


Em fevereiro de 1815, com apoio de militares, Napoleão escapou do exílio e retornou à França com grande
acolhimento da elite e do povo, prometendo restaurar o Império e as glórias francesas. No entanto, a nova
fase de Napoleão Bonaparte como líder francês ficou conhecida como o governo dos 100 dias pelo curto
período que durou. Napoleão foi derrotado pela coligação anglo-prussiana na Batalha de Waterloo, que
marcou sua derrota definitiva e o exílio na ilha de Santa Helena, onde viveu até sua morte.
Por fim, a derrota napoleônica em Waterloo atingiu com força o fluxo de um processo revolucionário que se
iniciou com a Assembleia dos Estados Gerais, em 1789 e teve seu auge na formação do Império francês. Essa
derrota, apesar de representar o sucesso das potências absolutistas e da nobreza, não significava a morte
dos ideais liberais da revolução. A ruína de Napoleão, no entanto, estava acompanhada pelo sucesso de um
projeto de expansão dos ideais burgueses que havia atingido todo o mundo ocidental, provocando novos
movimentos revolucionários por todo o século XIX.

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Exercícios

1. (UERJ, 2015)

Carta de Convocação dos Estados Gerais


Por ordem do Rei.
Temos necessidade de nossos fiéis súditos para nos ajudarem a superar todas as dificuldades em que
nos achamos e para estabelecer uma ordem constante e invariável em todas as partes do governo que
interessam à felicidade dos nossos súditos e à prosperidade de nosso reino. Esses grandes motivos
nos determinaram convocar a assembleia dos Estados de todas as províncias sob nossa obediência,
para que seja achado, o mais rapidamente possível, um remédio eficaz para os males do Estado e para
que os abusos de toda espécie sejam reformados e prevenidos.
Versalhes, 24 de janeiro de 1789.
Adaptado de MATTOSO, K. de Q.Textos e documentos para o estudo de história contemporânea. São Paulo: Edusp, 1976.

A convocação dos Estados Gerais deu início à Revolução Francesa, ocasionando um conjunto de
mudanças que abalaram não só a França, mas também o mundo ocidental em finais do século XVIII.
Cite um motivo para a convocação dos Estados Gerais na França, em 1789, e apresente duas
consequências da Revolução Francesa para as sociedades europeias e americanas.

2. (IMEPAC, 2018) “A pátria está perdida e os comerciantes não possuem pátria. Enquanto acreditavam
que a Revolução lhes seria útil, deram a mão aos sans-culottes para destruir a nobreza, [...] era para se
colocar no lugar dos aristocratas. Assim, desde que os sans-culottes gozam dos mesmos direitos que
os ricaços, todos esses canalhas viraram a casaca e empregam todos os recursos para destruir a
República. Açambarcaram todos os alimentos para vendê-los a peso de ouro e nos levar à penúria.”
Discurso de Hebert, dirigente da Comuna. In: OSTERMANN, Nilse Wink; KUNZE, Iole Carretta. Às armas cidadãos! A França
revolucionária (1789-1799). São Paulo: Atual editora, 1995. p. 75-6.

O quadro descrito no texto anterior é reflexo das guerras externas contra a França após a prisão e
execução de Luís XVI, agravado pelo aumento dos preços dos alimentos.
A fim de atender às demandas populares, o Comitê de Salvação Pública estabeleceu o:
a) julgamento sumário de todas as pessoas que conspiravam contra a Revolução, a começar pelo rei
Luís XVI;
b) Recrutamento obrigatório de todos os cidadãos aptos para lutar contra os exércitos da Primeira
Coligação;
c) tabelamento dos preços de gêneros de primeira necessidade e a fixação dos salários pela “Lei do
Máximo Geral”;
d) voto universal, sem nenhum tipo de distinção, mantendo a democracia geral por todo o período da
Convenção.

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3. (Urca, 2018) “Com a vitória da Montanha, triunfa a ideia da organização da assistência pública pelo
Estado e da complementar supressão, em prazo mais ou menos longínquo, dos estabelecimentos
hospitalares. A Constituição do Ano II proclama, em sua Declaração dos Direitos, que os ‘socorros
públicos são uma dívida sagrada; a lei de 22 de Floreal prescreve a formação de um grande livro da
beneficência nacional e a organização de uma assistência no campo’. Só se preveem casas de saúde
para os ‘doentes que não têm domicílio, ou que nele não poderão receber assistência’ – Lei de 19 de
março de 1793.”
(FOUCAULT, Michel. O Nascimento da Clínica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2017, p. 46-47).

Assinale a alternativa que corresponde corretamente ao texto acima mencionado.


a) A vitória da Montanha corresponde ao momento em que O Rei Luís XVI assumiu o poder, trazendo
importantes benefícios para as populações dos campos localizados nas montanhas.
b) A Constituição do Ano II foi promulgada na instauração da Assembleia Nacional Constituinte e no
fim do Absolutismo na França.
c) Floreal é um dos meses do novo calendário criado na Revolução Francesa e na instauração da
Convenção Nacional.
d) O Ano II inicia com a morte de Robespierre, ministro de Luís XVI, responsável pelo golpe de estado
que levou ao fim da Monarquia Absolutista Francesa.
e) A Declaração dos Direitos e a Constituição do ANO II resultaram da ascensão de Napoleão
Bonaparte ao poder francês, com o Golpe do Termidor.

4. (UNITAU, 2016) “Pois o mito napoleônico baseia-se menos nos méritos de Napoleão do que nos fatos,
então sem paralelo, de sua carreira. Os homens que se tornaram conhecidos por terem abalado o
mundo de forma decisiva no passado tinham começado como reis, como Alexandre, ou patrícios, como
Júlio César, mas Napoleão foi o ‘pequeno cabo’ que galgou o comando de um continente pelo seu puro
talento pessoal”.
HOBSBAWM, Eric. A Era das revoluções: Europa 1789-1848. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. pp. 93-94.

Considerando-se a citação acima, pode-se dizer que o processo que resultou na coroação de Napoleão
como imperador foi determinado
a) pela concentração de poderes que Napoleão foi angariando, principalmente após sua proclamação
como primeiro-cônsul vitalício, pela Constituição de 1802.
b) pela proclamação de Napoleão como imperador, pela vontade popular expressa por meio do voto
livre garantido após a Declaração Universal dos Direitos do Homem.
c) pela hegemonia política que Napoleão conseguiu estabelecer na França no período após a
Revolução Francesa.
d) pela conversão de Napoleão como herói nacional após derrotar os jacobinos nas eleições e
estabelecer o Império.
e) pelo apoio externo que Napoleão recebeu após conquistar diversos países europeus durante as
guerras que promoveu e que o legitimaram como imperador.

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5. (UECE, 2012) Napoleão Bonaparte agiu de modo contraditório em relação aos ideais revolucionários.
Por um lado, consolidou conquistas burguesas e criou uma nova aristocracia; por outro lado, foi um
ditador ferrenho para a França que havia lutado muito pela liberdade.
O retrocesso napoleônico em relação aos ideais da burguesia se deu, devido à/ao
a) promulgação do código civil com regras precisas, como o impedimento de concessão de privilégios
de nascimentos, pois todos eram considerados iguais perante a lei.
b) homogeneização do sistema legislativo, acabando com a multiplicidade das fontes do direito que
caracterizou a França do antigo regime.
c) acordo efetuado com o objetivo de terminar o conflito entre o Estado e o clero; assim, a Igreja ficou
subordinada ao Estado que pagava uma pensão aos clérigos.
d) criação de uma nobreza formada por funcionários do governo e membros do clero e à concessão
de altos postos administrativos para familiares.

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História

Gabarito

1. Dentre os motivos que podem ser citados para a convocação dos Estados Gerais estão: a grave crise
financeira na França, busca por soluções econômicas, a proposta dos ministros de taxar a nobreza e os
conflitos entre a antiga aristocracia rural e o rei. Sobre as consequências da revolução para a Europa e
as sociedades na América, podemos citar: a difusão dos ideais liberais e iluministas, o desencadeamento
dos processos de independência nas Américas, a crise do absolutismo, fim da sociedade estamental, o
início de processos revolucionários no século XIX na Europa, a ascensão da Burguesia e os conflitos
entre as forças reacionárias e progressistas.

2. C
Com a tomada de poder por parte dos jacobinos, a revolução ganhou um caráter bem mais radical com
a promulgação de uma série de leis que interessavam às classes mais baixas. Como o texto destacado
está falando sobre a alta no valor dos alimentos, a ação do Comitê de Salvação Pública para resolver tal
problema foi a criação da Lei do Preço Máximo, que tabelava os preços e os salários do país.

3. C
Com a instauração da república jacobina, em 1793, houve a criação de um novo calendário francês, com
a intenção de romper com as bases culturais que formavam o país até então. Buscando se distanciar,
especialmente, do cristianismo, o novo calendário foi formulado de forma a valorizar a razão e os
acontecimentos naturais em detrimento dos eventos cristãos.

4. A
A chegada de Napoleão Bonaparte ao poder ocorreu por um caminho inverso da maioria dos
monarcas/governantes absolutistas. Napoleão ganhou importância a partir da reformulação do exército
francês pós-revolução e dos constantes sucessos militares que permitiram que ele se destacasse
politicamente em um cenário de radicalização revolucionária.

5. D
Apesar de garantir os interesses da alta burguesia e consolidar os ideais liberais, ao se tornar imperador,
Napoleão distribuiu títulos nobiliárquicos e cargos públicos para familiares e beneficiou a elite militar, a
alta burguesia e a antiga nobreza na formação de uma nova corte. A criação de tal corte entrava em
discordância com o interesse burguês de abolir a sociedade de privilégios no início da Revolução
Francesa.

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