Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
124
LUTAR COM PALAVRAS: COESAO E COERENCIA A coEsÁo PELA ASsocIAJÁO sEIIANTIcA ENTRE As PALAvRAs
Assini, cacla palavra no texto está ligacIa, est;í Esse piincípio pníle parecer clernasiaclanient»
enlaí,acla a, pelo menos, unia outra. É cl» se esperar, evidente e, cle fato, o é. Nn entanto, airicla surpreen-
iio entanto, que quanto mais uina palavra se insere cl»1110s, na escola, propost'is I Lais cle atividades que
no níícleo ten7ático cio texto, isto é, no eixo de seu o contrariain inteiraniente e, clessa forma, só fazem
senticlo principal, mais essa palavra entra em cacleia iriibir a coiiipreensão cle como se faz itm bom texto.
com Outras e í, lieste texto, «ma ocol iêniin iílcinrr.- Vejanios um exemplo clessas atividacles . Talvez, anali-
re. En7 contraparticla, entre as ororrêlrcicis perifclicas sando-o, possamos cnrnpreencler melhor pnr qu», pela
estariam aquelas palavras que se ligam a subtópicos vida afora, algumas pessoas senteni tanta clificulclacle
nienores nu secuiidários. cle escrever textos coesos, i.elevantes, coeientes e,
Aquilo que cletermina, pois, a escolha cio voca- clessa. forma, com uniclade cle tema e com propósitos
bulário é o assunto, 0 tenia, o tópico cio texto. Ouer claios. Talvez possainos conipieencler inelhor, enfilT1,
dizer, a teiuática do texto é seu elenientn unificaclnr, por que o ensino cia língua aincla não está nrientaclo
o ho conclutor que governa a Sel»r;ã0 elas palavras e para clesenvolver cnmpetencias textuais. Certamente,.
que tein, por isso, uina iniportância capital. Por. isso nns falta a conipreeiisão elas "leis" c1o texto, quer
é que a fortnaçã0 cle frases soltas representa uni sa- c1izer, daquilo que é preciso ser feito paia que um
ber niuito limitaclo e pouco relevante na llola cle se conjunto cle palas Ias nu cle frases possa funcionar
c 0 ni o tr'X.t 0.
escrever e ler textos, por exemplo,
Vamos ao exeniplo.
A. niotii!acã0 que prevalece para a escolha das
palavras etn.um texto é, portanto,'le ordeni socincog-. A7ÍVIDADE; DE PRODU(ÁO ÓE,TEXTÓ
iiitiva, quer clizer, está presa aos senticlos e, aos propó- ,-.trivente,uma, pequena'istória .em 'qué'.apareciam':as'paÍavras.':-'i
sitos que partilhamos eni cacla situacã0 cle int»tacão.. ;,', ; ';:;:-:.'..::::
"':,.':::;:;::: a),víagem:",';:::. :,':,:.::-'e) '.terri''"'.,'- „":,
: ; .'"; ';:-.'-':.',
„,.',,,
;:.;:::;.',
; ::.:-') .vem
.;,"„'."; '."-" ',',,:.:::,',::;;f)
veem ;;-,","
'
-
Escolhemos as palavras confornie elas nos pareçanT ;
ativiclacles sociais do clia a clia, faz escolhas aleat:ói ias A "pequena história" criacla por unia das alunas
ou seleciona as palavras pelo tamanho que elas têm, resultou no seguinte texto:
pela classe gramatical a que pertencem ou pela letra
';Ayiagem.",;fói"múito,'.:loriga :.'e'eu'.fiquei enjóar3a."",:,',.'::,':.''';,'; -:-';,'-,:: .''.:
127
LUTAR CO(i) PALAVRAS: COESAO E COERÉ.NCIA A COESAO PELA ASSOCIA(AO SEI1ÁNTICA ENTRE AS PALAVRAS
E preciso que ele viage-para.a.cidade. '.' llislsto ncssí1 lillélllsc polc[uc scl c[uílnto éi c(.)nl-
os irmãos 'dele vêm'de cario de boi :":.''..': -
'" „:-' pleensâo ciessas questões aincla í i)is«f)cie)ite entre as
Meu tio, tem'24 anos de idade, '-.::;:. pessoas clc uln moclo gera[. E, aí, professores, alunos, pais
quatio mi[ reais;",-,';:.
".'eus:irmáos.déeiji
-,
; aceitam essas e outlas propostas silnila)es seul cail néI
As meninas, têrfi'cabelos loiios.",'" .': conta cle que os princípios fl(I)cl lnientais cia textí(aliclaclc:
Elas,:veem de:camirihão'.de:cáçarnba.':.;:,— :,',:;,':,,',,",,:,,'',, estão senclo vioIaclos. Por i ezes, cliante de tarcÍas conio
essa, até há queni fic[uc confnrtaclo, traliquilo, porque
Conio se pode constatar, é inipossível reconhecer. "se está estuciando a língua portuguesa".
aí unia unicfaclc cle sentido. Sâo frases soltas. Urna néio
A vcl'c[ac[e í cil.lc licio se él[)lclic1('l c':scl.cvcl textos
tclil liéida 'I vel colii cl Ou tia.. A scgulicl;.l liélo lctoliia a
assini. Neni se poc[c i(nprovisar, quancio for liecessál io,
pl lliicll a, Ou lilclliol', liclillluna. lctoliia quéilc[ucl outra, ulli'l colil[3L tclicl'I p il'1 cscl cvcí. Esséi, se clcscnl ol ve aos
Ap,'ll ccc ulli ele! quc ninguéill sa13c a qllcnl sc lcfelc. poucos, cac1a vez que somos soiicitaclos n rli=(') a[ o. As
licfe).ências clefiliidas (As ))lani»ris) são introduziclas concliLões eni que as soiicitaLõcs sâo feitas é qLIC sã0
seln ligLacâo com outras anteriores. Preclic:anões novas, decisivas para.que ess;I conipetencia vá c(.escenclo:..
também, apalecem seni uma contcxtu;Ilizciçâo prévia Vcjanios ago(a 0 inverso: uni texto criaclo ã i 01ta
([)or que r( idnrlerlo tío? Por que a niencão'ios crli?elos clc u(ll tenlíl) colii 0 [310[?Oslto dc tlciz(!I L(lilél íllléi[lsc
lc)ul(?s rín ele»í»n'?). Enfiln, tudo nâo passa de Lllii . acerc'1 dc «nl fato e cle sí(as Icpe(cussões na vida l[as
aglolneraclo de ti.ises desconexas, como clisse, c[ue pessoas. Nesse texto, as palavras fora»i escolhicias
serveni exatanicnte pala isso: ní?) «)Icici cl fil:-r.) f)r(scs; (?011forllle 'i pci'spcctiva qUc í) Iiu.tol'[uls ('liiplcshl)'
o inverso, portanto, do que acontece na vida quanclo Suíi cillcillSC (0 quL ÍOI C1CStaCcid0 [)CII'lllli C0nl O
alguéni fala, oilve, lê e escreve.,o inverso, portanto, 'liso cio negrito c cio itálico). Vcjan?os:
cio que a crialica .já faz, nlesnin nos limites de sua ACABOU A FESTA :::'::;:-,",
'
competência «incla. i ncipiente. goúernó,'ésperou o.,Carnava[ passar parva,botar::seii'bloco
0 texto cia aluna nâo pocleria ser cliferente, luiia vez 'na rua;::Na'semana:::pcassada, enquanto'a comissão de,
f lente
'-
que o critério claclo para seu clesenvolvimento nâo foi uni fecvhacya os,úftimõs detalhesc do'acordó corii :o:Fundo
ten)a, nâo foi uni propósito coniunicahvo qualquer, eni '. boné tário'/ri terí)aéic)nal (F M I); em'Washing a; turma : da
ton
fLulÇã0 cio ql.lc cas palavras sel lalii esco[hidas. Foi o apare- -bacteiia',,:acei tou ;o:.ritmo :.do : ajúste. fiscal,-:No rioyó,'samba,
cimento dc ulii guloso c1e palavras, selecionadas conforliie "quem'ançou:::primeiio':foi á: 'ala::ds sei;yidoiesc públicos',
"514.":mil 'integrarites. :Foram, suspénsas :.:até;o,;f)nái'o,, ':,com
12S 129
LUTAR COM PALAVRAS: COESAO E COERENCIA A COESAO PELA ASSOCIAÇAO SEhlANTICA ENTRE AS PALAVRAS
Essa associação das palavras, clesde os significaclos b) i elações cle co-liiponímia, conio ai(i ill r(l., 1(;(/et((l,
quc expressani, htnciona, claraniente, conio um I cc(il»0 Ít iliiilezcil; fio(((, fc(i(1(n; ca»a(lo, »Oltciio, i iií1'0,
c(ic»ii'0 (l0 ic.ito, uma vez que cria ligações ou rle»ci((iiaclo, di 1'oi cinrlo; pc»»oa fí»i(ri, pc»»ocl
laços
enti.e seus cliferentcs segnieiitos, além cle emprestar ao ji(11'ri(ca; Tel ia, z'rfa.l te, f(i/2iit,'I; Izioi(tc(l(/ir(»,
texto interesse, relevância c, por vezes, graça. Vejanios /)lc(i((ci e», /)lazzalr0; ii(i cl i(0, /Iii iizai'Cia, ei cio, 1
" Cl., em L@ous A relação de co-hiponimia é da(la por rlois hiponimos, como
(1980). entre outros, os diferentes tipos clc
arltoliímia, todus, sob algum aspecto, instauradores de ]acos asso- 'gato' 'rato', ou seja, ctois merrlhros dilelentes da mesma classe de
ciativos, inclusive desde o conhecimento que se tem cia organiz;ição seres. Couro lembrei, os nomes co-hiponimos muitas vezes funcionaln
'
cultural do mundo. em tentos como antónirnos.
g~ g4<QU~C'gQ
rnpus cte pA Qcll'll Ca 1rtl« ~«
g/BI IOTECr4
LUTAR CO(I PALAVRAS: COESAO E COERENCIA COESAO PELA ASSOCIA/AO
A SEIIANTICA ENTRE AS PALAVRAS
raio atingido pela relação de parte/todo e pela li.lação I cstl ltos 0 cs clc scl cs 11unlllnost conlo
LlssoclzlçÕ
cle co-hiponímia é demasiado amplo, por conta cia si(zrlicnto, lícl»i; nic(izbios; tribo, rr(ciry((i,, r((rlirr;
Qnlplitucle nlesma dos contextos físicos e culturais oirli((st(n, rrznesir'o, ri(risico», piz(riiz(rn,, i((st(z(-
que esses tipos de relação envolvem. Basta lenlblar. a nze((tos; Jan((7in, pr(i, rnã», lilho; tirizc, trc((ico,
quanticlade clifelente de associacões que se pode fazer tiz'iiiarlo(; capítz(.o, jogr(rio(; i:lcnit ca(cl»al, bispo,
enl um texto por conta da relação de parte/toclo. 1)n(lr n(ri((ipr.'l.n(go, ilha; câirrn(n, clepizinclo;
z.',
Lcinbremos, com alguns poucos exemplos, as e nomes cle coleções e cle seus constituintes
relações enlbutidas entre: — os qll,'1ls I'cIIlctcnl p,'lia seles tlplc;ln1cntc
e nonles cle seres ou objetos que cliviclem o inanimados, conlo em 1)ibliotrca, lil»o; piiin-
mesmo espaço físico, como em boi, n(nclo, corecn, q(zaclio; l)nico, fiotn.;
cniizpo; biblioteca, estarzie, lil ro; iizérlico, ci(fw- IIII nomes cle elenlentos quc entram na colnposi-
incii o, pn.cieizr.r.; cão cle outros materiais, como em (rita e vinho;
nonlcs de eventos, como enl inar(gzz(ni:c(o, ton(c(tc, cr lroln., p»pi((o r'ei l an n; cl((w~ asco, crw i(c
concci.to, rlrfcsn rl» tece, lança(i(ento cl» lil»o, c espeto; c(cine, le(,te e fr(r.r.(ihiz.,
leilão; Esta llst'1 alncla poclcl ill 'ILlnlcnfal I nl nlLllto.
IIII nonlcs clc atlvlclaclcs ploflss10nllls, colllo cnl Trata-se Qpcnlls cle Lln1Q pccJLlcn'1 anlostra, Llnl pcclLlcno
niaryistér'zo, rrz»clirirzrl, r(ri vocczcia, conrci cio; levantanlento. Mas hca a ideia de que as associações
. m nomes cle. unidacles cle nleclida ou de posicão, semânticas entre Qs palavras são de muitos tipos, são
conlo em i(i»tio, cl(iilônzetito, ryailo; lntitz(rl», praticanlente incontáveis e concorrem significativa-
io(z(g(ti(cle; izoi t», s(il; cl»cata, esrlzieirla; mente para criar. os laços que promovem a continui-
nomes de unia sequência: cle tempo (nr(o, clade e Q progressão cio texto coc,rente. A.s palavras
sz'n(estr e, (izês, rlin, se((irma) ; de etapas (i(nsci- cm uni texto não estão apenas j«stapostas.
zizen to, c( (sei iz(»n to, (zzor.tc) ; cle escalas (f»tl»inl., Os exenlplos apresentaclos tênl contelnplaclo,
zstarlz(nl., inizrzici pal; zspecralistn, nzestr r., rlozi.- preferencialnlentc, os substantivos, De fato, essa classe
toi", cle clima (ri(z»i(tc, zí»ziclo, .seco, tc(n pez acto) ; cle palavra tem a proprieclacle c1e se evidenciar mais
cle ciclos (i((fe(ncia., adolescência., iclacle aciz(lta., que outras. Isso nao quer clizer que os verbos ou os
l'elhice; crrsirio fiwlcla»z»(Ital, erzsirzo»zénio, adjetivos tanlbénl não possam cliar laços de sentido CI11
ensiiio sripci ror); de séries (~.éis, c(I(. erros, uln texto e, assim, funcionarem tambénl coesivamente,
cr z(=.arlos, i eczis; nn oio, baía, cabo, »risca»la, fo-., No exemplo em que analiso o texto A festa. acabo(i
rlolfo, ill(a.) ; — que tens conlo tema questões cia econolnia nacional
nomes de grupos e de seus respectivos consti- — pocle-se constatar esse aspecto: os verbos dirrzir(z(ii;
—
ill
tuintes —
hierárquicos ou não 'argamente air(neiztar; (ecl((:"ii; elevar, subir; eycrar; parlar, ctzzebrc(i;
134 135
LUTAR Col!I PALAVRAS: COESAO E COERENCIA A COESAQ PELA ASSOCIAQAO SEI1ANTICA ENTRE AS PALAVRAS
certo n)omento de sua história, a partir daquilo . ligações quc se qLLcl cstabélccer, pétla. qLlc 0 texto
que é usual ou típico desse grupo. Lembremos, por tet)ha a devida continuidade e unida(le e, assin1, pos-
ca)ra)- sa fLIncionar como ativiclade.verbal. Daí por quc é1
exenIplo, a associação qLie se criou no Brasil atual
entre as expressões.' escolhél das ])'Ilé)vias é d cxtrcIlza illlpol'tãncla p'1ra
par ir«lv do PSDB, e c) t)tc«L))rito, a quali(lade'o texto,
a»r lcr«ro br asilei)«L «lc fiz tel~«11, e a»r;lejã o No entanto, o tempo destinado Llíl escola '10
ir)haa, estudo do léxico, ao estudo do vocabul'írio ain([a
~ :o i r)z po»t«1 c)Ida. e o len.o,
«ic r
ocuf)a un1 lugar insi nificante, reduzido, na n)nioria
e «lr I)!(0» c »Orztú» e)71. »cl 1)leIh0, das vezes, a lIsta de palavras 1 ctr)'a«(«rs j/0 tt,'.1 (0 ('»-
(«111«()res" e, pozque estanques, "1)))ri/«1»"), destituídas
Como se pode ver, o conhecin1ento dos esquemas
assim de seu sentido contextualizado e de sua fun(',ão
de organização da realidade, dos episódios, em nosso
dia. a dia, o chamado co)zbeci»zelzto «fe )lz)l)zdo, é um
princípio organizador dos conceitos e constit«i 11))z«z "A estratéf>i:1 de u»la r«ton)ada seln um referente explicito rio
Llecllo antelior cio texto, mas intcrpretlivel pela atival;.ão cle nossos
base b«tsta))te.~i«()zific«zti»a par a rrzui tas «la» associ«Leões
conhecimentos dc; Illundo, colno ;I que exemplificamos aqui (0 Inl r>ni nl
«(Ize»» f«1-:c»z )ele»a))tes er)z rll)I test«1. — o b(oro) Lem siclo «hamacla cle a>lríjor n associa)il a (cf., entre outros,
Dessa forma, esse é o tipo «le ) ec))rs«) ))z«tis d)s- lvfarcusclli, 200l; Koch, 2002). Os textos que vimos mostranclo acfui
tclnI revelado que sou empre«o é bastante frequente e relevante.
»errrirradO r)IZ»Z te);tO «le ))Z«tiO) eXie)ZS«ZO e a«(1«ele «(II»
1,'3G
LUTAR COM PALAVRAS: COESAO E COERENCIA
A COESAO PELA ASSOCIAÇAO SEI!A(<TICA ENTRE AS PALAVPAS
: É:;preciso::quce:.,eie,:úiage",.'para:;:a."cidade:.',":, :,,".;,:.:::".,-".:,'::.:I;'.,:,;.„:
; -;:; -::;:
Meu, tio
Meiis'rmáos'déém:.qúatró"mil;,reais'. :::.'::,:,",:.::::-'::-.',.:.';::;:";,",:,';:.'..',:,"., : :-,:;-.
: AS mzetjirtáS-,têm';CabelóS'.:iOirOS 'I,".,'; ', :",', ...:;-,.;,':,::-.:,
':.';:
138
1:39