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Rio de Janeiro
2019
Maj Art ALEXANDRE BORGES VILLA TREINTA
Rio de Janeiro
2019
T787g Treinta, Alexandre Borges Villa
CDD 335.4
Maj Art ALEXANDRE BORGES VILLA TREINTA
COMISSÃO AVALIADORA
__________________________________________
Sandro Silva Ruiz – Ten Cel Cav – Me. Presidente
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
__________________________________________________
Alan Sander de Oliveira Jones – Ten Cel Art – Me. Membro
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
__________________________________________________
Marcelo de Jesus Santa Bárbara – Maj QCO – Me. Membro
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
À minha esposa, Penélope, mãe de nossas
dádivas, Helena e Alexandre. Sua
compreensão e colaboração foram
determinantes para o êxito deste trabalho.
Seu carinho me permitiu chegar aonde era
preciso. Todo sucesso meu, também é seu.
ffffffff
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, Tenente-Coronel Sandro Silva Ruiz, não apenas pela orientação
precisa e oportuna, mas sobretudo pela dedicação e pela confiança firmadas ao longo
da elaboração deste trabalho.
Aos meus pais, Alexandre e Almira, meu reconhecimento pela incansável dedicação
à minha educação, desde sempre, permitindo a construção do alicerce fundamental
sobre o qual ergui minha vida.
O presente trabalho tem como tema central o globalismo, um fenômeno complexo que
orienta a construção de um novo arranjo mundial, caracterizado pelo protagonismo de
uma governança global e uma consequente erosão da soberania dos Estados-Nação.
Inspirado na crescente influência de organismos supranacionais, não apenas sobre a
condução das relações entre os países, mas especialmente sobre as expressões do
poder nacional, este estudo traçou como objetivo identificar os principais impactos
provocados pelas ações globalistas na sociedade brasileira, com enfoque na sua
manipulação ideológica montada sobre o marxismo. A condição que motivou o
trabalho foi a perceptível ascensão de atores não estatais e suas atuações na
promoção de pautas que estimulam alteração das percepções sociais e da
manifestação moral da sociedade, como o ambientalismo, o assistencialismo social,
o feminismo radical, a liberação de drogas, as questões de gênero, raça e sexualidade,
dentre outros. Para alcançar o objetivo, este trabalho analisou o globalismo, os atores
que estão à sua vanguarda e a sua agenda. Foi estabelecida a relação do globalismo
com o marxismo, sobretudo o cultural, por meio do estudo da doutrina de Marx e suas
modificações ao longo da história, permitindo atestar que o ideário das doutrinas
esquerdistas foi tomado pelo globalismo para catalisar o processo de dominação
mundial. A pesquisa bibliográfica se deu forma qualitativa e procurou se basear em
livros, artigos, trabalhos acadêmicos e materiais jornalísticos com relevância e
reputação. Encerrando o trabalho, conclui-se que a sociedade brasileira é alvo
recorrente de maciça propaganda anticonservadora e anticristã, fartamente financiada
com recursos de grandes capitalistas. Tais patrocinadores, almejando o poder
supremo sobre o planeta e sua população, subvertem a família, a religião e a
democracia, contaminando-as com ideologias estatistas, coletivistas e amorais.
El presente trabajo tiene como tema central el globalismo, un fenómeno complejo que
ha dirigido la construcción de una nueva organización mundial, caracterizada por el
protagonismo de una gobernanza global y una consecuente erosión de la soberanía
de los Estados-Nación. Inspirado en la creciente influencia de los organismos
supranacionales, no solo sobre la conducción de las relaciones entre países, sino
especialmente sobre las expresiones del poder nacional, este estudio se llevó a cabo
como objetivo identificar los principales impactos provocados por las acciones
globales con enfoque en su manipulación ideológica, montada sobre el marxismo, que
actúa en la sociedad brasileña. La condicionante que motivó el trabajo fue la
perceptible ascensión de actores no estatales y sus actuaciones en la promoción de
pautas que estimulan alteraciones de las percepciones sociales y de la manifestación
moral de la sociedad, como el ambientalismo, el asistencialismo social, el feminismo
radical, la liberación de drogas, cuestiones de raza, sexualidad, género, entre otros.
Para alcanzar el objetivo, este trabajo analizó el globalismo, los actores que están en
vanguardia y su agenda. Fue establecida la relación del globalismo con el marxismo,
sobre todo el cultural, por el medio de estudio de la doctrina de Marx y sus
modificaciones a lo largo de la historia, lo que permitió atestiguar que la ideología de
las doctrinas izquierdistas fue tomada por el globalismo para catalizar el proceso de
dominación mundial. La investigación bibliográfica se dio de forma cualitativa y buscó
base en libros, artículos, trabajos académicos y materiales periodísticos con
relevancia y reputación. Encerrando el trabajo, se concluye que la sociedad brasileña
es objeto recurrente de masiva propaganda anticonservadora y anticristiana,
financiada con recursos de grandes capitalistas que, anhelando el poder supremo
sobre el planeta, subvierten la familia, la religión y la democracia, contaminando la
sociedad con ideologías estatistas, colectivistas y amorales.
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................... 10
1.1 PROBLEMA .......................................................................................... 14
1.2 OBJETIVOS .......................................................................................... 15
1.2.1 Objetivo Geral ..................................................................................... 15
1.2.2 Objetivos Específicos ........................................................................ 15
1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO ............................................................... 16
1.4 RELEVÂNCIA DO ESTUDO ................................................................. 17
2 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................... 18
2.1 O GLOBALISMO ................................................................................... 18
2.2 O MARXISMO E SUA EXPRESSÃO CULTURAL .................................. 24
3 METODOLOGIA ................................................................................... 31
3.1 TIPO DE PESQUISA ............................................................................. 31
3.2 COLETA DE DADOS ............................................................................. 31
3.3 TRATAMENTO DOS DADOS ............................................................... 32
3.4 LIMITAÇÕES DO MÉTODO .................................................................. 32
4 O GLOBALISMO E SEU APARATO IDEOLÓGICO ............................ 33
4.1 ORIGENS .............................................................................................. 36
4.2 AGENTES PROMOTORES .................................................................. 40
4.2.1 Uma Trindade Globalista .................................................................... 40
4.2.2 Organizações por um Governo Mundial ............................................ 48
4.3 AGENDA GLOBALISTA ........................................................................ 56
5 MARXISMO E CULTURA ..................................................................... 63
5.1 MARX E SUA IDEOLOGIA ................................................................... 66
5.2 MARXISMO CULTURAL ...................................................................... 71
5.2.1 Socialismo Fabiano ............................................................................ 75
5.2.2 Escola de Frankfurt ............................................................................ 78
5.2.3 Gramscismo ........................................................................................ 82
5.3 AGENDA MARXISTA ........................................................................... 87
5.3.1 O legado hediondo do coletivismo .................................................... 94
6 CONCLUSÃO ....................................................................................... 101
REFERÊNCIAS .................................................................................... 105
10
1 INTRODUÇÃO
Dentro das teorias das relações internacionais, Sarfati (2005, p. 189) menciona
a governança global como o fenômeno no qual as instituições supranacionais aos
poucos tomam o lugar das instituições nacionais, eliminando, assim, a tradicional
noção de Estado-Nação. Este movimento marca a erosão do papel do Estado e o
fortalecimento do poder transnacional. De acordo com Linklater (1996, apud SARFATI,
2005, p. 257) dentro das novas formas internacionais de organização, observamos
“um sistema pós-westfaliano 1 no qual os Estados abolem parte de seus poderes
soberanos”.
No contexto desse fenômeno, inserido na nova ordem mundial, Costa (2015)
afirma que já se observam organismos supranacionais que, de maneira sutil,
trabalham na consecução do audacioso objetivo de estabelecimento da governança
planetária. Além de organismos supranacionais, envolvem-se, ainda, organizações
não governamentais, grandes corporações, entidades políticas, financeiras, magnatas
de poderosas famílias e até mesmo sociedades consideradas de caráter secreto.
1Relativo à Paz de Westfália, um conjunto de diplomas que inaugurou o moderno sistema Internacional,
ao acatar consensualmente noções e princípios, como o de soberania estatal e o de Estado-Nação.
Por essa razão, considera-se uma das bases de estudo das Relações Internacionais. (DEUTSCHE
WELLE, 2009).
11
2Bolchevique (maioria, em russo) se refere ao Partido Comunista da União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas (URSS), que promoveu a imposição do socialismo na Rússia por meio de revolução em
1917, utilizando violência, confisco armado das propriedades, das fábricas e das fazendas, com
assassinato em massa dos opositores políticos. (INFOPÉDIA, 2019; o autor).
3Think tank é um termo em inglês que se refere a um laboratório de ideias, um centro de pensamento
ou de reflexão, composta por especialistas de natureza investigativa e reflexiva, cuja função é a
exercício intelectual sobre assuntos de política social, estratégia política, economia, assuntos militares,
de tecnologia ou de cultura. (MCGANN, 2018).
13
4Establishment é um termo em inglês que define o grupo de pessoas que detêm a maior parte do poder
e da influência no Estado e na sociedade, concentrando os meios de ação no país e exercendo sua
autoridade em defesa de seus próprios interesses e privilégios. (INFOPÉDIA, 2019; o autor).
14
1.1 PROBLEMA
1.2 OBJETIVOS
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 O GLOBALISMO
No mesmo artigo, Bispo oferece uma definição própria para o globalismo, a qual
apresenta relevância e objetividade:
o ser humano a criaturas econômicas, tal qual faz o marxismo. Sua visão reducionista
e ateia promove a libertinagem e a violência contra a humanidade, substituindo Atenas
e Jerusalém pelo vulgar, pelo desejo irracional de possuir, pelo hedonismo e por uma
fé não espiritual no Estado tecnocrático. (Ibidem).
Muitos pensadores se dispuseram a elaborar o tema da governança global. Em
seu livro de 1928, The Open Conspiracy (A conspiração aberta), o escritor britânico
Herbert George Wells plantou a semente da teoria ao elaborar planos coerentes e
extremamente bem desenhados para uma revolução mundial que estabeleceria um
estado tecnocrático planetário, além de uma economia centralizada e planejada.
Uma das primeiras obras que ampliaram as percepções acerca do globalismo é
Tragedy and Hope (Tragédia e Esperança, tradução nossa), lançada em 1966 por
Carroll Quigley, professor da Universidade de Georgetown. Em seu livro, de 1350
páginas, o autor revela a existência de uma rede conspiratória, cujo objetivo “consiste
em nada menos que criar um sistema mundial de controle financeiro a cargo de mãos
privadas capaz de dominar o sistema político de todos os países e a economia mundial
como um todo”. Quigley afirma que essa organização pretende “ter controle de todos
os recursos naturais, negócios, operações bancárias e transportes por meio do
controle dos governos do planeta”. (apud Allen e Abraham, 2017, p. 15).
Uma personalidade militar que alertou o país antecipadamente acerca dos riscos
do globalismo foi o General Carlos de Meira Mattos. Em artigo publicado em 1997 na
Revista da Escola Superior de Guerra, intitulado O Conflito da Globalização, Meira
Mattos expressa sua preocupação com a erosão da autoridade do Estado diante dos
efeitos da globalização, com aguçada visão prospectiva:
dos Estados-Nação. De acordo com Coutinho (2010, p. 128 e 129), a partir de 1975,
a Governança Global passou a estruturar-se numa forma conhecida como
Progressismo Transnacional, que montou um aparato na ONU e adotou uma ideologia
ambientalista, pacifista e pró direitos humanos. Com tais apelos, esse aparato age
com eficácia para sensibilizar a opinião pública, personalidades e instituições em torno
do globalismo.
A ideia sobre o governo global perde a sombra conspiratória com Nicholas
Hagger, em sua obra lançada em 2004 nominada The Syndicate, (traduzida para o
português como A Corporação). Hagger demonstra com abundância de evidências
que por trás de grandes eventos mundiais (guerras, conflitos, revoluções, eleições etc.)
existe um padrão identificável, uma força que movimenta os acontecimentos no
sentido da centralização do poder global. Em âmbito nacional também se encontram
autores que compartilham essa visão, como o General Sérgio Coutinho, o filósofo
Olavo de Carvalho, o economista Rodrigo Constantino e o escritor Alexandre Costa,
os quais são fonte de conhecimento para a elaboração deste trabalho.
O assunto se desloca definitivamente da nuvem abstrata literária ao mundo
concreto do cidadão comum no momento em que líderes mundiais passam a
combater abertamente o globalismo, fazendo desta pauta um ponto importante em
suas agendas. O atual presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, em
discurso na 73ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas afirmou:
de contornos perceptíveis, que pode e deve ser estudado a fim de que seus reflexos
não comprometam a soberania nacional.
Como se observa, o socialismo seria a ponte erguida com o suor proletário que
ligaria as terras insalubres de um sistema capitalista colapsado ao “paraíso humano”
terrestre chamado comunismo. Marx dizia que no socialismo haveria uma ditadura
revolucionária do proletariado, que impediria que integrantes remanescentes da antiga
classe dirigente tentassem retornar ao poder, bem como reeducaria os trabalhadores
numa consciência mais elevada, livre dos resíduos da mentalidade burguesa. (MISES,
2016, p. 11).
Nessa nova ordem socialista, Marx propõe a nacionalização dos meios de
produção, que seriam controlados de forma centralizada. Essa governança, no
pensamento de Marx, traria prosperidade e abundância material que excede tudo que
o capitalismo já experimentou, fazendo com que todas as necessidades de ordem
material ficassem no passado. (MISES, 2016, p. 12). Nas palavras de Mao Tse-Tung,
nada disso seria feito com algum tipo de respeito pelos opositores, visto que “o
comunismo não é amor. É o martelo com que esmagamos nossos inimigos” (apud
CARVALHO, 2018b. p. 121).
Outro autor que soube decifrar as teorias marxistas foi o historiador norte-
americano Richard Pipes. Em sua obra O Comunismo, Pipes nos apresenta as
origens dos ideais comunistas, o socialismo pré-marxista, ou socialismo utópico, e as
colaborações de Marx na elaboração do socialismo científico. O autor nos revela suas
impressões sobre o marxismo:
Era uma doutrina rígida, que repudiava visões diferentes. Marx não fazia
segredo de sua atitude em relação àqueles que discordavam dele. A crítica,
escreveu certa vez, “não é um escalpelo [bisturi], mas uma arma. Seu objeto
é o inimigo, a quem não se quer refutar e sim destruir”. O marxismo, portanto,
era um dogma disfarçado de ciência. (PIPES, 2014, p. 19).
26
O socialismo só o que fez até hoje foi prometer um futuro melhor ao mesmo
tempo em que reintroduzia o trabalho escravo banido pelo capitalismo,
suprimia todos os direitos civis e políticos conhecidos, reduzia mais de um
bilhão de pessoas a uma angustiante miséria e, para se sustentar no poder,
recorria a meios de uma crueldade quase impensável, como por exemplo a
empalação e o esfolamento de prisioneiros. (CARVALHO, 2018b, p. 129).
ser realizada por pequenas e progressivas reformas. Por isso, o socialismo fabiano
rejeita a luta de classes, ao mesmo tempo que entende que o Estado tem obrigação
de ajudar os trabalhadores a conquistar a igualdade econômica. (COUTINHO, 2010,
p. 89). O fabianismo, continua Coutinho, “tem como conduta pragmática [...] o
exercício da influência político-ideológica na administração política do Estado e a
permeação ideológica dos membros do governo”. (Ibidem, p. 92). Outra característica
interessante apresentada na obra é que há fabianos que realmente manifestam a
aspiração de um Estado mundial do tipo tecnocrático, com relações de afinidade entre
fabianos e círculos globalistas com o Council on Foreign Relations6 e sociedades afins,
como a Comissão Trilateral (criada pela família Rockefeller) as quais serão alvo de
estudo deste trabalho.
Em 2017, o doutor em antropologia Flávio Gordon trouxe a obra A Corrupção da
Inteligência, apresentando de forma atual e oportuna uma análise sobre o papel dos
intelectuais formadores de opinião (sobretudo personalidades das artes, imprensa e
academia) na construção cultural do país. Gordon explica a espiral do silêncio e o seu
poder censor de inibir e calar qualquer voz de opinião diferente da qual manifesta o
senso comum, o qual, por sua vez, foi artificial e propositalmente alterado e
reconstruído pela intelligentsia7 socialista.
Essa tática de domínio da narrativa e infiltração das instituições foi desenhada
por Gramsci, em seus Cadernos do Cárcere. (COUTINHO, 2012, p. 62). Gordon deixa
claro o efeito do pensador italiano em nossas universidades trazendo o levantamento
de um número estarrecedor: “só na década de 1990, aproximadamente um terço das
dissertações ou teses no campo acadêmico-educacional citava o nome do autor dos
Cadernos do Cárcere”. (GORDON, 2017, p. 104).
Continuando a linhagem brasileira de pensadores, o jornalista Luciano Trigo
lançou em 2018 o livro Guerra de Narrativas. Pode-se considerar que esta obra ratifica
e complementa o trabalho de Flávio Gordon, citado acima. Trigo mostra como é
possível contar um monte de mentiras falando apenas a verdade, ardil que a imprensa
brasileira vem executando com despudor quando se reporta à vida pessoal e à
6 Council on Foreign Relations, ou Conselho de Relações Exteriores é uma entidade sediada em Nova
Iorque (EUA) que constrói ideias políticas em âmbito global, fundada em 1921 por J. P. Morgan e John
Rockefeller, entre outros. (COUTINHO, 2010).
7 Intelligentsia é um verbete que se refere a uma categoria ou grupo de pessoas envolvidas em trabalho
intelectual complexo e criativo direcionado ao desenvolvimento e disseminação de determinada cultura,
abrangendo trabalhadores intelectuais de vanguarda. (PRIBERAM, 2019).
29
fraudulenta de Lula, após inúmeros recursos negados pelo Tribunal Superior Eleitoral.
(GARSCHAGEN, 2018).
Hillard (2013) complementa a ideia, informando que a Escola de Frankfurt, de
formação econômica, se diversificou e em seguida formou, num espírito fabiano, não
só gerações de dirigentes ingleses, mas também numerosos estudantes de uma parte
a outra do planeta. Um exemplo é o ex-presidente do Brasil, Fernando Henrique
Cardoso, um autêntico socialista fabiano. (COUTINHO, 2010, p. 99).
As ideias dos intelectuais de Frankfurt exerceram grande influência no âmbito
universitário norte-americano, inspiraram a criação da New-Left e, na sequência,
deram substância aos diversos movimentos contestatórios surgidos após a II Guerra
Mundial: o feminismo, os hippies, o pacifismo, o ecologismo etc. (Ibidem, p. 33). Os
contravalores dessa revolução cultural foram ganhando dimensão, culminando no
emblemático Festival de Woodstock, em 1969, reunindo mais de 500 mil jovens que
promoveram o sexo promíscuo, o uso indiscriminado de drogas e a música psicodélica.
Tal fórmula passou a ser usada em todo o mundo como forma de difundir a nova
cultura pré-revolucionária. O resultado foi uma forte inibição à prática dos valores
ocidentais cristãos e à liberdade de expressão, com a criação de fórmulas
estereotipadas de conceitos “politicamente corretos”. (Ibidem, p. 34). No Brasil, suas
influências começaram a ser sentidas na década de 1960, quando se observam os
primeiros ataques televisivos aos novos inimigos da esquerda, que deixaram de ser
os donos do grande capital e passaram a ser os donos da casa, ou melhor, a família
[patriarcal] brasileira. (GORDON, 2017, p. 249).
Após a apresentação de diversos autores, cujas obras e teorias gozam de
prestígio e reconhecimento, fica patente a atuação da expressão cultural do marxismo,
a qual este trabalho pretende esmiuçar e compreender, a fim de identificar os seus
impactos na sociedade brasileira.
31
3 METODOLOGIA
O método escolhido possui limitações, haja vista que, por se tratar de uma
pesquisa bibliográfica, ficou limitado às consultas realizadas pelo autor, que buscou a
maior variação possível. A pesquisa documental não foi executada devido às
restrições de tempo e às dificuldades de acesso e tratamento de informações.
Outra limitação do método no presente trabalho foi a inexistência de fontes
primárias, o que fez com que o autor tivesse que interpretar informações levantadas
por outros autores. Por isso, entendeu-se como de extrema importância a seleção
criteriosa das fontes a serem utilizadas no trabalho e uma análise imparcial de
conteúdo, a fim de se evitar que a investigação subjetiva fosse tendenciosa e
contaminasse o resultado do estudo.
Enfim, a metodologia utilizada buscou evidenciar de forma objetiva e clara os
seus tipos, tratamento de dados e as limitações dos métodos elencados. Com isso,
acredita-se que a metodologia escolhida permitiu alcançar com sucesso o objetivo
final desta pesquisa.
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provas e argumentos que demonstram que grandes acontecimentos mundiais não são
simples coincidências, ou atos estúpidos desconexos, mas são fruto de planejamento
e brilhantismo de pessoas e grupos com objetivos grandiosos de controle global.
(CONSTANTINO, 2018, p. 206).
O economista analisa a tese dos autores e apresenta a sua posição de maneira
objetiva, afirmando que existem duas hipóteses para explicar os acontecimentos de
expressão mundial: ou são um amontoado de fatos envolvidos em pura casualidade
e coincidência, ou há ordem e intensão sobre eles. Por meio do rastreamento de
recursos financeiros de grandes magnatas capitalistas (doados como verba de
financiamento), Constantino (2018, p. 206) conclui que a segunda hipótese é a
verdadeira. O objetivo seria um só: controle do mundo na expressão política e
econômica, mesmo que seja necessário criar guerras, provocar depressões
econômicas, endividar nações, promover crimes de ódio etc. Deste modo, os
globalistas teriam melhores condições de estabelecer monopólios pela destruição do
livre mercado e das soberanias nacionais e, é claro, convencer a todos que tudo não
passa de “teoria da conspiração”. É oportuno considerar, nessa guerra de narrativas,
a frase de Franklin D. Roosevelt: “Na política, nada acontece por acaso. Se acontece,
pode apostar que assim foi planejado”. (apud COSTA, 2018, p. 78).
Como informação coadjuvante, destaca-se que há abundante oferta de literatura
que pretende convencer o mundo sobre a necessidade do controle total centralizado.
Cita-se, como exemplo, uma obra lançada em 1998 pelo filósofo político inglês John
Gray, denominada False Dawn: The Delusions of Global Capitalism (Falso Amanhecer:
Os Equívocos do Capitalismo Global, tradução nossa) a qual aborda a necessidade
de criação de um governo mundial para controlar o que o autor chama de “excessos
do livre-mercado”. Gray critica frontalmente a postura comercial norte-americana e
defende controle global sobre o comércio, os movimentos de capital, as moedas e
ações diretas sobre as questões ambientais.
A obra de Gray foi tratada com simpatia em artigo jornalístico na Folha de São
Paulo, por Oscar Pilagallo, em 1998, que trata do assunto citando um trecho do livro
O Presidente segundo o Sociólogo, de Fernando Henrique Cardoso, no qual o ex-
presidente brasileiro afirma que “a globalização precisa de controles, porque está indo
para um caminho perigoso [...] falta um Estado mundial, uma espécie de Constituição
do Mundo, que declare os direitos dos povos.” (CARDOSO, 1998, apud PILAGALLO,
1998). A passagem ilustra o alinhamento dos pensamentos de Gray e Cardoso no
35
4.1 ORIGENS
8 O Tratado de Versalhes foi um acordo de paz assinado pelas potências europeias que encerrou
oficialmente a I Guerra Mundial, impondo à Alemanha perda de território, dívidas milionárias a título de
indenização, redução do Exército, entre outras punições. As consequências provocaram colapso no
país e estimularam a ascensão do Nazismo. (HOBSBAWM, 1995).
37
9Brexit, do inglês British Exit (saída britânica) é designação atribuída ao processo de saída do Reino
Unido da União Europeia. (INFOPÉDIA, 2019).
Ao começar esta seção, é importante destacar que, como afirma Costa (2015, p.
9 e 10) o movimento globalista atua de forma discreta e seus financiadores utilizam
instituições e organizações diversas que precisam agir com sigilo para proteger os
agentes e suas verdadeiras intenções de dominação global. Costa também acredita
que, apesar de discretas, as ações são impossíveis de serem escondidas. Pelo fato
de serem muito amplas, as mesmas penetram na sociedade de forma abrangente,
nas instituições, na cultura, no pensamento e na religião, seja de modo direto ou,
principalmente, de modo indireto, por meio de influências. Essas influências podem
ser percebidas nas pautas jornalísticas, nos livros didáticos, nas discussões
acadêmicas, nas artes, nas telenovelas e até nas igrejas.
Para potencializar a sua discrição, torna-se necessário que qualquer investida
que pretenda revelar planos, atores e ações seja desacreditada. Costa (2015, p. 18)
diz que a arma mais usada é a desqualificação. Para alcançar seus objetivos, os
globalistas usam as artes como um importante meio de manipulação de opiniões.
Filmes, livros, programas televisivos a até músicas passam a ridicularizar hábitos,
ideias, costumes e pessoas que estejam desalinhados aos interesses globalistas. Um
ardil comum contra pessoas que pretendem iluminar suas ações sutis é a imposição
do rótulo de “teórico da conspiração”.
Como visto em seção anterior (4.1 Origens), não são apenas instituições que
controlam as investidas globalistas. Costa (2018, p. 36) afirma que os três principais
sobrenomes que promovem pessoalmente o globalismo e atuam expressivamente no
Brasil são: Rothschild, Rockefeller e Soros. Serão abordados, na sequência, esses
três proeminentes atores, chamados agora de Trindade Globalista, dada a sua
destacada atuação mundial.
A história do envolvimento da família judaica Rothschild com a influência global
começa no século XVIII com o patriarca Meyer Amschel Rothschild, na Alemanha, que
deixa um de seus cinco filhos responsável por gerir o banco de Frankfurt e manda os
demais para Londres, Paris, Viena e Nápoles. A já abastada família, que fez fortuna
financiando as Guerras Napoleônicas, de ambos os lados (COSTA, 2015, p. 34),
41
anteponham aos seus objetivos. Apesar de todo esse patrimônio e poder, a imprensa
e demais meios de comunicação “insistem” em não apresentar seus passos, o que
mantém em sigilo os segredos que cercam essa incógnita casta. (COSTA, 2015, p.
34 e 35).
A família estadunidense Rockefeller, de ascendência alemã, fez fortuna no
início do século XX por meio do domínio do fornecimento mundial de petróleo, num
momento histórico em que o uso desse combustível fóssil começou a crescer em
razões incalculáveis, em decorrência da popularização dessa fonte de energia, dos
automóveis e da substituição das máquinas a vapor por motores de combustão em
todo o mundo. A ascensão da família contou com o apoio financeiro de ninguém
menos que a família Rothschild. (HEGGER, 2009, p. 27).
Considerada uma das mais famosas dinastias do planeta, possui um império
com mais de uma centena de organizações e financiam um universo que deve
ultrapassar o milhar. Seu patriarca, John Davidson Rockefeller, era conhecido por ser
excessivamente ganancioso e por não observar preceitos éticos, morais e religiosos
em suas relações comerciais, o que era reprovado pela população majoritariamente
conservadora estadunidense. (COSTA, 2015, p. 25).
A multiplicação do império dos Rockefeller foi impressionante. No final do século
XIX, a família já era proprietária da única empresa refinadora de petróleo do mundo,
a Standard Oil (atual Esso). Toda a produção de petróleo refinado vendida nos EUA
na mesma época estava sob seu controle, contando com a posse de cerca de vinte
mil poços de petróleo e um efetivo de cem mil funcionários. (HEGGER, 2009, p. 28).
O grande rival comercial dos Rockefeller era a europeia Royal Dutch Company,
que contava com apoio dos Impérios Britânico e Holandês. A disputa entre as
empresas foi “resolvida” quando os Rockefeller, após batalha comercial e publicitária,
adquiriram parte das ações de sua concorrente. Os lucros da Standard Oil eram tão
grandes que em 1937, por ocasião da morte do patriarca, a família possuía uma
fortuna comprovada de US$ 5 bilhões, o que corrigido monetariamente seria
equivalente a cerca de US$ 200 bilhões (para cálculo feito em 2004), caso a família
não tivesse aumentado nem um centavo de seu patrimônio. (Ibidem).
O neto do patriarca, David Rockefeller, em seu livro autobiográfico lançado em
2002, Memories, trata abertamente de sua influência em universidades (inclusive
brasileiras como USP e UNICAMP) e em bancos brasileiros, além de assumir que
colabora com a criação de um governo único mundial. A megalomania fica evidente,
44
no mesmo livro, quando David afirma acreditar que sua família está preparada para
comandar a vida de todas as pessoas do mundo (COSTA, 2018, p. 37). As confissões
de David são ainda mais surpreendentes, quando o mesmo afirma na página 427 de
sua autobiografia que:
impeditivo para a criação de uma sociedade global. Sua aversão aos EUA ficou
evidente em 2006, quando afirmou que os americanos são nacionalistas demais e
ignoram os principais problemas mundiais, o que fazia dos EUA a grande fonte de
instabilidade do planeta. Soros acredita que somente a intervenção estatal na
economia pode “corrigir” as desigualdades sociais, e que as nações são fontes
eternas de instabilidade, vendo na criação de instituições supranacionais a única
solução capaz de trazer equilíbrio ao mundo. (Ibidem).
Outra dileta amizade de Soros é o Lord inglês Mark Malloch-Brown, um assumido
globalista citado por Constantino (2018, p. 210). Brown é o atual Vice-Secretário-
Geral das Nações Unidas e antigo Vice-Presidente do Banco Mundial e do Fórum
Econômico Mundial. Com invejável currículo, escreveu The Unfinished Global
Revolution: The Road to International Cooperation (A revolução global inacabada: o
caminho para a cooperação internacional, tradução nossa). O livro, lançado em 2012,
pode ser resumido como um manifesto antinacionalista pela criação de um poder
mundial central capaz de solucionar os problemas diante dos quais os Estados se
mostram “impotentes” de resolver, como as questões climáticas, ambientais, a
promoção dos direitos humanos e a erradicação da pobreza. Na visão de Brown,
mecanismos internacionais, como a ONU, seriam as únicas entidades capazes de
consertar os fracassos dos governos individuais.
O globalista inglês foi presidente do Soros Fund Management e do Open Society
Institute (atual Open Society Foundations), ou seja, é o homem que esteve à frente da
fortuna de George Soros. Sua mais surpreendente função, entretanto, não figura em
nenhuma organização supranacional. Lord Brown é Presidente do grupo Smartmatic,
a famosa empresa das “infalíveis” urnas eletrônicas. Como pode ser lido no sítio
eletrônico oficial da empresa, o grupo Smartmatic planeja, entre outros projetos, lançar
novas tecnologias ligadas à biometria, verificação de identidade online, votação pela
internet, governança eletrônica e controle de poluição. Uma relação de capacidades
que faria o Big Brother da ficção de George Orwell sentir inveja.
Voltando os olhos para a Open Society Foundations, uma ONG bilionária com
cerca de 30 anos, pode-se enxergar uma instituição que figura como o agente
financiador e influenciador de opinião pública e política no mundo, seguindo à risca o
ideário progressista de Soros. Ela financia, entre milhares de ONG’s por mais de 70
países, movimentos que promovem pautas como: facilitação da imigração, oposição
às ações militares estadunidenses, ambientalismo, feminismo radical, fortalecimento
47
11 New Left (Nova Esquerda) é um termo que se refere a movimentos políticos de esquerda surgidos
na década de 1960, cuja característica central é o ativismo cultural/social, substituindo as questões
trabalhistas por debates sobre gênero, raça, sexualidade e justiça social. (COUTINHO, 2010).
48
direita.” A matéria simpática a Soros pôde ser lida, em destaque, nos seguintes portais
brasileiros de notícias online: G1, UOL, Terra, R7, Gazeta do Povo e BBC Brasil.
Juntando-se os pontos, observa-se um bilionário globalista que investe quantias
incalculáveis na agenda esquerdista revolucionária mundial (CONSTANTINO, 2018,
p. 215), cujo braço-direito é Vice-Secretário-Geral das Nações Unidas e Presidente
do grupo Smartmatic. Diante desse quadro, cabe ao leitor se perguntar se todas essas
convergências são obra do acaso, ou fruto de uma fusão de forças agindo
energicamente pelo estabelecimento de um governo mundial.
instituições bancárias, fica fácil compreender porque emprestar dinheiro para países
é o melhor negócio do mundo, seja pelo alto valor das cifras, seja pela segurança de
retorno. (COSTA, 2018, p. 28).
O segundo passo é submeter esses Estados, não apenas inchados e
endividados, mas com sua estrutura corrompida, a grandes entidades supranacionais,
as quais literalmente usurpam a soberania dos países, submetendo-os aos interesses
destas entidades controladas por pessoas que sequer foram eleitas para tais cargos,
como ocorre com a União Europeia e com a ONU. (Ibidem).
Para fechar esse círculo espúrio, promove-se a concentração dos mercados nas
mãos de grandes corporações, por meio de decisões políticas (nos três poderes) que
ataquem a livre concorrência, fortalecendo ainda mais a mão econômica que
movimenta todas as demais engrenagens. O sistema funciona, basicamente, por meio
do financiamento de campanhas de candidatos simpáticos aos seus interesses, de
ONG’s que promovam sua agenda e pela compra de decisões legislativas e
administrativas que esmaguem pequenos empresários com regulações e burocracias
que favoreçam as grandes empresas (Ibidem, p. 29). O arremate ocorre com o
controle da imprensa, que irá manipular a opinião pública e promover o respaldo
popular a todas as arbitrariedades cometidas, devidamente amparadas por ações de
doutrinação ideológica em estabelecimentos de ensino, em manifestações artísticas
e até dentro das igrejas.
No manejo desse complexo cenário, os globalistas, carentes de um aparato
ideológico próprio capaz de propagar os preceitos culturais do “cidadão global”,
apropriam-se do progressismo, do marxismo cultural, e utilizam a doutrina esquerdista
como o agente inoculador de seu elixir.
Constantino (2018, p. 208) afirma que é ponto pacífico que a elite capitalista tem
total interesse em concentração de poder e que o discurso esquerdista parece ajudá-
la muito nesse sentido, opinião compartilhada por Costa (2018, p. 56). Além disso,
segundo Constantino, as experiências reais demonstram que “todos os países que
implantaram o socialismo permitiram que todo o poder e riqueza se concentrassem
nas mãos de um número muito reduzido de pessoas”. Isso é mais do que suficiente
para compreender porque bilionários como os Rockefeller, os Rothschild, os Morgan,
a Fundação Ford, George Soros et caterva financiam movimentos revolucionários de
esquerda. (CONSTANTINO, 2018, p. 207).
58
12WikiLeaks é uma organização transnacional, sem fins lucrativos, sediada na Suécia, que publica
documentos, fotos e informações confidenciais vazadas de governos ou empresas, sobre assuntos
sensíveis. O DC Leaks é um website com vocação similar ao seu congênere sueco. (BBC, 2019).
59
Igarapé, que promove políticas sobre drogas, recebeu R$ 670 mil. O Projeto Alerta
Democrática, que conta com a participação do ex-Deputado Jean Wyllys, recebeu
mais de US$ 510 mil. O Movimento Viva Rio, atuante na liberação do uso de drogas,
recebeu US$ 107 mil. O Instituto Fernando Henrique Cardoso recebeu mais de
US$ 110 mil. (GARSCHAGEN, 2017).
David Horowitz (já citado na seção 4.2.1 Uma Trindade Globalista) em seu livro
The New Leviathan (O Novo Leviatã, em referência ao clássico de Thomas Hobbes),
teve o ímpeto de levantar e contabilizar as doações (rastreáveis) de empresas para
os movimentos de esquerda e para os movimentos de direita nos EUA. Para surpresa
de ninguém, as diferenças são abissais. Para os movimentos de direita, US$ 32
milhões. Para os movimentos de esquerda, a impressionante quantia de US$ 3 bilhões.
Numa conta aproximada, pode-se afirmar que para cada 1 dólar doado para causas
conservadoras, são doados 100 dólares para as progressistas. (BRASIL, 2014).
Seguindo o dinheiro, fica fácil perceber de que lado estão os grandes donos do
capital. Uma vez nomeadas as organizações e pessoas que concentram as verbas
para promover ideias, basta apenas identificar as ideias promovidas pelas mesmas.
Segundo Brasil (2014), destaca-se a promoção de pautas como: direitos humanos,
redistribuição de renda, promoção de assistencialismo social, flexibilização de
fronteiras e facilitação da imigração, cortes em orçamentos militares, ambientalismo,
ativismo feminista radical, concentração de poder em organismos supranacionais,
legalização do uso de drogas, eutanásia, aborto, patrocínio a movimentos
revolucionários insurgentes (por exemplo, na Eslováquia, Croácia, Sérvia, Geórgia e
Ucrânia) e o recrutamento e treinamento massivo de candidatos a cargos eletivos,
militantes ativistas e lobistas. Da coletânea de assuntos citados pelos demais autores
que estudam o fenômeno, acrescentam-se, ainda, o proselitismo homossexual, o
poliamor (relacionamentos adúlteros consentidos), a prostituição, a educação sexual
infantil, a ideologia de gênero, a promoção das políticas de cotas, o desarmamento da
população, a extinção das Polícias Militares e a diminuição do encarceramento.
O resultado da soma dessas pautas não pode ser outro, senão o caos. Por isso
Costa (2018, p. 82) reproduz uma famosa frase de David Rockefeller, proferida num
jantar com embaixadores das Nações Unidas: “Tudo o que necessitamos é uma
grande crise, e as nações não apenas aceitarão a Nova Ordem Mundial, mas pedirão
por ela”.
60
5 MARXISMO E CULTURA
Esta visão romântica do socialismo, entretanto, ficou apenas nas páginas dos
livros e na mente dos marxistas utópicos. A realidade mostrou que os resultados do
agigantamento do Estado e da intervenção total na economia sempre geraram
catástrofes humanitárias, desde a sua primeira experiência, na URSS, até os dias
atuais. As barbáries podem ser lidas no Livro Negro do Comunismo: Crimes, Terror e
Repressão, que aponta os aproximadamente 100 milhões de mortos por regimes
comunistas no mundo. A obra foi lançada em 1997, na França, e conta com mais de
900 páginas de provas referenciadas que demonstram que o assassinato em massa
era uma ferramenta dos governos de inspiração marxista para imporem a sua visão
de mundo. Como disse o ideólogo comunista Antonio Gramsci (apud Gordon, 2017,
p. 79) “se o povo não confia no governo, ou no partido, restava a este dissolvê-lo.” Ou
seja: nas democracias, quando um governo não atende as aspirações da população,
muda-se o governo. No Comunismo, “fica o governo e muda-se o povo”.
Santos (1964, p. 18) apresenta uma sucinta e concreta definição de comunismo
como um “sistema de poder totalitário no qual uma casta burocrática e privilegiada,
65
reunindo todos os instrumentos de poder nas mãos, possui ao mesmo tempo os meios
de produção e de troca e todos os meios de enquadramento político e cultural.”
Leitura equivalente foi feita por Voslensky (1980), em sua obra A Nomenklatura13:
como vivem as classes privilegiadas na União Soviética. Essa elite, que o autor chama
de “classe parasitária”, vivia na mais absoluta suntuosidade. Seus luxos incluíam as
mais opulentas moradias, limusines, restaurantes, clínicas, centro de repousos
especiais etc. É importante ressaltar que todos esses “benefícios” eram desfrutados
quase gratuitamente, enquanto a Nomenklatura, de posse do monopólio do poder
político, econômico e ideológico, ordenava a execução de opositores e assistia a
sociedade soviética morrer de fome ou ser explorada nos campos de concentração e
de trabalho forçado. Interpretação idêntica à de Voslensky se lê em Constantino (2018,
p. 207), quando o autor afirma que as experiências reais demonstram que todos os
países que implantaram o socialismo permitiram que o poder e riqueza se
concentrassem nas mãos de um número muito reduzido de pessoas.
Voltando-se à implantação do regime, é importante ressaltar que as tais
“Revolução” e “Ditadura do proletariado” teriam objetivos bem definidos, de modo que
a sociedade pudesse efetuar a transição para o comunismo. Skousen (2018, p. 59)
apresenta esses objetivos, obtidos por meio do estudo da conhecida obra O Manifesto
Comunista: derrubar o capitalismo; abolir a propriedade privada; eliminar a família
como unidade social; abolir todas as classes sociais; derrubar todos os governos; e,
enfim, estabelecer a ordem comunista numa sociedade sem classes e sem Estado.
Nesse contexto, destaca-se que o globalismo é o sucessor natural do Movimento
Comunista internacional. Igualmente implacável com concorrentes e opositores, é a
melhor ferramenta para centralizar poder nas mãos de cidadãos não eleitos,
autoungidos, que pretendem conduzir a humanidade na direção de seus devaneios e
caprichos. (Christopher Buskirk, apud BRASIL, 2019b).
De posse destes conceitos sintéticos de socialismo e comunismo, torna-se mais
acessível o estudo da teoria marxista e a percepção de como as ideias de Marx estão
indissociavelmente conectadas às visões de mundo do movimento socialista/
comunista, que podem ser tratados de forma generalizante como marxismo, um
verbete bastante utilizado no mundo contemporâneo para se referir genericamente às
teorias coletivistas anticapitalistas, como poderá ser visto a seguir.
13 Nomenklatura, uma palavra de origem russa, é usada para designar a "burocracia", ou a "casta
dirigente" da URSS, composta por altos funcionários do seu Partido Comunista (PC), trabalhadores
com cargos técnicos, artistas e outras pessoas que gozavam da simpatia do PC. (VOSLENSKY, 1980).
66
Karl Marx foi um teórico alemão, nascido em 1818, que se dedicou ao desenho
de teorias e ideais sobre o socialismo. Marx teria combinado conceitos em um sistema,
criando o socialismo científico, que se chama hoje de marxismo (MISES, 2016, p. 23).
Bobbio (1998, p. 738) define esse sistema como um conjunto de ideias e teorias sobre
concepção de mundo, vida social e política produzido por Karl Marx com a
colaboração de Friedrich Engels, que se manifesta de diversas formas, com base nas
diversas interpretações dos pensamentos de seus autores. Do exposto, infere-se que
o marxismo pode ser entendido, sucintamente, como uma versão teórica de
organização social amalgamada pelos preceitos utópicos fundamentais do socialismo
e do comunismo, produzindo uma visão (diversificada e mutante) de transformação
do mundo pela via revolucionária.
Segundo Pipes (2014, p. 22) o marxismo propõe que o capitalismo
inexoravelmente produziria o socialismo, pois a tendência do sistema baseado na
exploração do trabalho seria o colapso. A doutrina de Marx, contudo, não é de fácil
digestão, como observa Pipes. Os escritos reunidos na magnum opus de Karl Marx,
O Capital, contabilizam mais de mil e quatrocentas páginas de uma leitura densa,
técnica e difícil. Poucas pessoas concluíram esse desafio. (Ibidem, p. 20).
O plano de dominação global, por sua vez, encontra nas obras de Karl Marx as
ferramentas fundamentais para êxito. Em essência, percebe-se que o Manifesto
Comunista, uma obra histórica e proeminente de Marx, afirma que a revolução
proletária estabeleceria a ditadura socialista e, a fim de permitir a construção dessa
ditadura, três objetivos críticos [já citados, mas oportuno repeti-los] deveriam ser
alcançados: eliminar o direito à propriedade privada, dissolver a unidade familiar (raiz
de toda a desigualdade) e destruir o ópio do povo, a religião. Depois de derrubados
os três pilares em todo o mundo, o Estado totalitário desapareceria abrindo espaço
para o comunismo, quando governo algum seria necessário. Neste mundo comunista,
“tudo seria paz, doçura e luz, e todos viveriam felizes para sempre.” (ALLEN;
ABRAHAM, 2017, p. 28 e 29).
Allen e Abraham (2017, p. 126 e 127) afirmam que o controle de preços e salários
é o coração do socialismo, pois seria impossível implementar um governo totalitário e
escravizar um povo que goza de liberdade econômica. Controlar preços e salários é
controlar pessoas. Os autores apresentam uma prospecção simplificada sobre como
67
simpatia popular. As ações acontecem até mesmo com manobras para viabilizar o
aumento de impostos, uma forma “legal” de o governo apropriar-se do patrimônio de
sua população. Fazendo relação da tributação com o modus operandi socialista,
aborda-se o livro Ação Humana, de Mises (2010, p. 909), o qual afirma que toda forma
de confisco de propriedade é uma forma de coerção. Uma coerção exercida
exclusivamente pelo Estado por meio do emprego de força repressiva.
Muitos economistas além de Mises afirmam que um estado socialista, por sua
própria natureza, corroeria os direitos de seus cidadãos, em decorrência do aparelho
repressor e coercitivo de controle absoluto sobre os bens. Este é o caso do
economista americano Milton Friedman, o qual, em sua obra Capitalismo e Liberdade,
de 1962, afirma que no socialismo, a ausência de uma economia de livre mercado
levaria inevitavelmente a um regime político autoritário. Em suma, Friedman afirma
que a liberdade econômica é uma prerrogativa para se obter a liberdade política.
As impressões de Milton Friedman também são compartilhadas por Friedrich
Hayek, laureado com o Prêmio Nobel de Economia em 1974. Em seu livro
denominado O Caminho da Servidão, de 1944, observa-se que, assim como Friedman,
Hayek reputava ao capitalismo a pré-condição para a liberdade florescer em um
Estado-Nação. A obra de Hayek tem como tese central que todas as formas de
coletivismo, como o socialismo bolchevique ou o nacional-socialismo nazista, levam
invariavelmente à tirania e à supressão das liberdades individuais, como pôde ser
observado em período posterior à sua obra no regime comunista da União Soviética
e em outros países controlados por regimes de esquerda.
Hayek fornece uma articulada fundamentação de que as liberdades econômicas
e políticas são vinculadas uma a outra. O autor defende, ainda, que um sistema
econômico centralizado nunca conseguiria alcançar a bonança financeira prometida,
o que faria com que o governo, passo a passo, concentrasse cada vez mais poder
para interferir profundamente na economia. Os repetidos fracassos gerariam
“culpados” que só poderiam ser derrotados com mais intervenção e mais poder estatal.
Deste modo se desenharia perfeitamente o círculo vicioso que conduz os países
fatalmente ao totalitarismo.
É interessante fazer um breve paralelo com o regime chavista na Venezuela, sob
as rédeas de Nicolás Maduro, que atravessa exatamente o cenário previsto por Hayek.
Como prova da situação, o Fundo Monetário Internacional (FMI) projetou no World
Economic Outlook (Panorama Econômico Mundial) de abril de 2019, dados
69
Fruto dos escritos de Gramsci durante o período em que esteve preso (Cadernos
do Cárcere), criou-se uma ideologia de viés esquerdista chamada de Gramscismo.
Pouco antes de Gramsci, Lukács, um dos fundadores do Instituto de Pesquisa Social
no qual surgiu a Escola de Frankfurt, reconhecia que a revolução não teria êxito na
14Discurso de Bento XVI na visita ao Parlamento Federal no Palácio do Reichstag de Berlim, proferido
no dia 22 de setembro de 2011.
72
O autor afirma, ainda, que este novo movimento marxista (hoje muito mais
conhecido) aliou-se à burguesia intelectual, ao progressismo cristão e passou a
controlar a maior parte dos meios de comunicações, das escolas e das universidades.
O General Vilas encerra o artigo alertando sobre os riscos de se acreditar num
socialismo “sem campos de concentração”, fazendo uma breve previsão: “os
resultados vêm depois e, então, não haverá tempo de reagir, nem na Europa, nem na
Hispano-américa.” (VILAS, 1980, p. 139).
Cardoso foi eleito presidente, passando o bastão a Lula em 2003, tendo 60% do
orçamento da União comprometido com encargos financeiros e com uma das mais
altas cargas tributárias do mundo, a despeito do bem-sucedido Plano Real. (Ibidem,
p. 101 e 103). De fato, o Governo Cardoso pouco fez pela transição para o socialismo,
mas deixou a estrada asfaltada para a caravana revolucionária do Partido dos
Trabalhadores.
Fruto dos recorrentes fracassos das teorias marxistas, já descritas no início deste
capítulo, Felix Weil, filho de um rico comerciante, teve a iniciativa de reunir teóricos e
intelectuais marxistas num evento para discutir as diferentes tendências das ideias
socialistas. O estudo deste grupo de trabalho, reunido em 1923, partiu do fato de as
tentativas revolucionárias na Estônia, Polônia, Alemanha, Hungria e Bulgária terem
apresentado um incontestável insucesso. Um de seus integrantes expoentes, Georg
Lukács, já havia manifestado o motivo da derrota: “O movimento comunista não entra
na Europa Ocidental em virtude da cultura predominantemente cristã.” (apud
COUTINHO, 2010, p. 32).
Esse encontro foi a origem do Instituto de Pesquisa Social, associado à
Universidade de Frankfurt, na Alemanha. Seus integrantes promoviam discussões
sobre as diferentes formas de interpretar o marxismo, sem tendências de nenhuma
doutrina, nem mesmo a influente leninista. As conclusões, contudo, indicavam sempre
uma posição crítica à sociedade capitalista, ocidental e cristã, assim como uma
antipatia ao marxismo soviético. (Ibidem).
Da leitura de Bragança (2019) infere-se que a Escola de Frankfurt é o
nascedouro do Marxismo Cultural, gerado a partir de uma crítica a todos os pilares da
civilização ocidental: religião, indivíduo, família, propriedade, constituição, estado-
nação etc. Sua estratégia, segundo Bragança, baseia-se na mudança da sociedade
pela raiz, propagando versões alternativas de valores e narrativas históricas, sociais,
políticas e econômicas. Essas narrativas promovem o “combate às injustiças sociais”,
que passam a politizar e regulamentar todos os aspectos da vida humana.
Apesar de professar um marxismo não soviético, os resultados do trabalho
intelectual de Frankfurt convenceram Moscou de sua viabilidade. Os ideólogos
79
ideias não alinhadas e atribuindo rótulos pejorativos àqueles que “ousam” manifestar
opiniões divergentes. Com o domínio da narrativa, a esquerda derruba a análise crítica
e promove a sua hegemonia cultural. Daí a importância que a esquerda atribui à
educação controlada pelo Estado.
Após o término da II GM, o Instituto retornou a Frankfurt, mas muitos de seus
intelectuais permaneceram nos EUA. Seus pensamentos contribuíram para o
surgimento da Nova Esquerda, promovendo uma aliança entre estudantes radicais,
comunistas dissidentes, socialistas revolucionários e intelectuais críticos da cultura
tradicional. Inspirados nas novas ideias esquerdistas, surgem movimentos como o
feminismo (libertação erótica), os hippies (paz e amor), direitos civis, pacifismo
(projetado com o famoso slogan de Herbert Marcuse: faça amor, não faça guerra),
ambientalismo etc. (Ibidem).
O acontecimento mais emblemático dessa geração, ocorrido em 1969, foi o
Festival de Woodstock, um evento que reuniu cerca de 500 mil jovens e proporcionou
três dias de “sexo promíscuo, música psicodélica e uso indiscriminado de drogas”.
Essa “contracultura” difundiu as tendências político-ideológicas progressistas como
expressão da modernidade, estabelecendo uma nova visão moral permissiva e um
comportamento social informal e amoral. (Ibidem).
Costa (2015, p. 68 e 69) apresenta a responsabilidade da Escola de Frankfurt
pela degeneração moral da sociedade ocidental. Segundo o autor, além de Theodor
Adorno e Max Horkheimer, um de seus mais influentes expoentes é o autor de Eros e
Civilização, o filósofo e sociólogo alemão Herbert Marcuse. O alemão fez tudo o que
estava a seu alcance para destruir os valores ocidentais, especialmente nos mais
jovens. Por trás de “preocupações com problemas sociais”, suas obras pregavam o
sexo irresponsável, o uso de drogas e a promoção do conflito entre as gerações,
colocando pais contra filhos.
De acordo com Carvalho (2018b, p. 526), Marcuse descobriu que a “nova” classe
revolucionária, que substituiria o proletariado, seria formada por intelectuais e por
pessoas com ressentimentos sociais, movidos por insatisfações diversas (poder
aquisitivo, sexualidade, homossexualidade, uso de drogas, feminismo etc.). Essas
pessoas deveriam ser organizadas ideologicamente para corromper o “sistema”. Essa
transferência de poder revolucionário ocorreu, segundo Marcuse, porque o
proletariado foi se “aburguesando” gradativamente, transformando-se em classe
média e, assim, perdendo seu viço revolucionário. (GORDON, 2017, p. 251 e 252).
81
5.2.3 Gramscismo
de massa, criava uma ordem que não poderia ser destruída com um simples ataque
frontal, como feito na Rússia. Para implantar o comunismo, no lugar do modelo de
revolução soviética, Gramsci propõe uma guerra de posição. (Ibidem, p. 268).
A guerra de posição consiste em ações voltadas à conquista de posições e
espaços na estrutura de promoção da hegemonia do Estado, na direção político-
ideológica e na construção do consenso dos setores majoritários da população. Tais
ações darão condição para o acesso ao poder do Estado e sua posterior conservação.
Essa guerra deve promover as mudanças de modo gradual, adaptando e modificando
o tecido social sem rupturas, gerando forças crescentes que ajudariam as massas a
abandonarem a passiva situação de oprimidos e a se tornarem protagonistas da
história. (VIEIRA, 2002, p. 42 a 44).
Para obter êxito, a guerra de posição deve busca a “superação do senso comum”,
que consiste em apagar certos valores tradicionais e uma parte significativa da
herança cultural da sociedade. Gramsci acreditava que estas antigas tradições e
costumes culturais limitavam a mente e preservavam a ordem social exploradora
baseada no interesse econômico burguês. O novo senso comum deve conter
conceitos novos e pragmáticos que abram as mentes das pessoas para as mudanças
políticas, econômicas e sociais que conduzirão ao socialismo. (Ibidem, p. 27 e 28).
Como exemplo de novos conceitos que devem ser incutidos na mente da
população para produzir o novo senso comum, destacam-se: a crença de que o
socialismo é sinônimo de justiça social; a ideia de cidadania coletiva clamando por
direitos sociais; o descrédito da história nacional, como se os feitos ocorressem a
serviço das classes dominantes burguesas; a caracterização da sociedade como
preconceituosa e racista; a liberação sexual, homossexual e depreciativa do
matrimônio; e a promoção do sentimento de necessidade de mudança radical no
status quo. (VIEIRA, 2001, p. 46).
Na ótica gramscista, a hegemonia é exercida por meio do consenso (aceitação
universal do novo senso comum). Os grandes instrumentos para a obtenção do
consenso são, justamente, os intelectuais e o uso da educação na aceitação e
assimilação da “nova” cultura. A fase final da revolução, marcada pela tomada de
consciência da sociedade civil e a sua ascensão à posição hegemônica, marca o
momento da passagem do socialismo para o comunismo, sendo chamada na teoria
gramscista de Catarse. (Ibidem, p. 25 a 29).
84
O cenário revolucionário, por sua vez, precisa da crise para prosperar. A crise
(política, social e econômica) ocorre quando o grupo dominante perde a hegemonia
(deixa de ser dirigente) e o consenso, permanecendo unicamente dominante (detém
apenas a pura força coercitiva). Nesse momento, a perda de autoridade da sociedade
política a deixa vulnerável à conquista e destruição pelas classes subalternas guiadas
pelo partido revolucionário. (Ibidem, p. 43).
A teoria gramscista e o emprego prático de seu repertório teórico foram alvo de
aprofundado estudo por parte do General Sérgio Coutinho, cujo resultado foi a
relevante obra A Revolução Gramscista no Ocidente. Acerca dos efeitos das ideias
do comunista italiano sobre a democracia, Coutinho afirma que:
De acordo com Coutinho (2012), o ideário gramscista e a sua via pacífica para a
tomada de poder e implantação do comunismo poderiam ser entendidos graficamente
da seguinte maneira:
O que Dirceu e Wagner querem dizer é que estar no poder não é garantia de
mantê-lo e que as regras democráticas não são compatíveis com a revolução
socialista. Por isso, uma vez no poder, tudo deve ser feito para se perpetuar nele. O
“jogo democrático” deve ser manipulado para se transformar no guardião da ditadura
socialista. Um passo importante é a aniquilação de toda a oposição e o controle
absoluto da narrativa. Como Gramsci disse, é preciso ocupar todas as “trincheiras”
das sociedades liberais-democráticas dos países capitalistas, como a imprensa, a
escola, a igreja, os partidos políticos, o parlamento, as Forças Armadas, o aparelho
policial, o sistema jurídico e até a família. A tomada de poder não será possível sem
a neutralização desse sistema defensivo. (COUTINHO, 2012, p. 63).
Como se vê no ideário de Gramsci, para a tomada de poder, antes de mudar o
Estado, deve-se agir sobre a sociedade. Acerca da ocupação dos aparelhos sociais
do Brasil pela esquerda, o filósofo Olavo de Carvalho afirmou:
17Teologia da Libertação é uma corrente ideológica de inspiração socialista dentro da Igreja Católica,
que pretende, sob o manto do benefício aos mais pobres e carentes, aplicar de forma eclesial os
dogmas marxistas, promovendo a luta de classes. (RICARDO, 2012).
87
18Sobre o terrorismo urbano, convém consultar a obra do terrorista brasileiro Carlos Marighella, lançada
em 1969, o Minimanual do Guerrilheiro Urbano, considerada uma obra de referência para subversão
revolucionária em todo o mundo.
88
atender suas ligações e, por fim, não havia mais alunos em seus cursos, nem convites
para dirigir peças. Seus últimos alunos simplesmente desistiram, após ameaças. Nas
palavras do diretor, sua carreira premiada, com mais de cem espetáculos e
apresentações em sete países, está esperando “um milagre”. (CORDEIRO, 2019).
Como afirma Gordon (2017, p. 219), os formadores de opinião brasileiros,
mesmo sem se dar conta, aderiram à agenda político-cultural da esquerda:
legalização do aborto e das drogas, liberação sexual, gayzismo (ativismo LGBT),
feminismo, ambientalismo, multiculturalismo, secularismo radical ou algum tipo de
ecumenismo espiritualista, neokeynesianismo, antissionismo e anticristianismo.
O aparelho jurídico nacional também é uma vítima do aparelhamento ideológico.
No Seminário Globalismo, realizado pelo Itamaraty, a Juíza Ludmila Lins Grilo, Juíza
de Direito do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, tratou sobre a atuação da agenda
esquerdista/globalista na esfera judicial. Uma das suas contribuições mais relevantes
foi a abordagem da mutação constitucional, um conceito presente nos livros de Direito
Constitucional, que nada mais é que a mudança informal da Constituição, ao arrepio
do processo legislativo formal, ignorando o papel do Congresso. Grilo demonstrou que
o STF está sendo contumaz nas ações dessa natureza. Exemplo é o “entendimento”
de que, diferentemente do que prevê a letra da atual Constituição, a família e o
casamento poderiam ser constituídos por pessoas do mesmo sexo. Outro exemplo é
o aborto, tipificado no código penal, mas com entendimento jurídico de que, se
realizado até o 3º mês, não seria crime. O evento mais recente foi a equiparação do
crime de homofobia ao de racismo, sem nenhum tipo de amparo legal razoável para
tal. (BRASIL, 2019b).
Grilo destaca que nossa justiça está aparelhada ideologicamente, fruto de uma
estratégia esquerdista considerada menos custosa, visto que não requer mobilização
das massas, ao mesmo tempo em que interfere criticamente na independência
funcional dos membros do judiciário. As retaliações aos juízes “não alinhados”
ocorrem com a punição disciplinar daqueles que não seguem sua cartilha, junto às
corregedorias de seus Estados. (Ibidem).
A Suprema Corte, “guardiã da Constituição”, continua legislando, ao ponto
absurdo de a Lei do Voto Impresso (Lei 13.165/2015), aprovada pelo Congresso, ser
julgada inconstitucional pelo STF, mesmo sem ofender nenhum artigo constitucional.
O Supremo declarou que a Lei poderia violar o “sigilo do voto” e violar o “princípio da
proibição do retrocesso”, um conceito inventado, subjetivo e sem nenhum amparo
93
Legalização do aborto 15 80
Pena de morte 50 45
Pesquisa idêntica havia sido realizada pelo IBOPE nos anos de 2010 e 2016. A
comparação dos resultados demonstrou que a sociedade brasileira está acentuando
seu comportamento conservador. Em relação à liberação do uso de maconha, a última
pesquisa do IBOPE ocorreu em 2014 e apontou que 79% dos brasileiros eram contra
a iniciativa. (BRAMATTI; TOLEDO, 2014).
A imposição da agenda marxista, que avançou vigorosamente nos governos de
Lula e Dilma, deixou marcas profundas no país. Para aprofundar essa constatação,
foram reunidos vários dados e indicadores que permitiram uma análise do
desempenho nacional em diversas áreas, as quais serão abordadas na próxima seção.
94
63,4%
60,8%
59,6%
51,9%
Mundo
Brasil
[...] quando toda uma cultura que celebra o criminoso como colaborador de
uma dívida social, ajuda a colocar o país no topo da lista dos mais violentos
do mundo, com mais de 60 mil homicídio ao ano, a esquerda faz-se inocente,
preferindo acusar abstrações – “o sistema”, “a desigualdade”, “o capitalismo”
– ou pior ainda, as vítimas. (GORDON, 2017, p. 260).
contatos estreitos com Lula e com o PT, além de grande admiração por Hugo Chávez,
em entrevista à Folha de São Paulo, em 24 de agosto de 2003. (BARRICELLI, 2014).
O Instituto Internacional de Estudos Estratégicos britânico divulgou em 2011 um
dossiê que revelou íntimas relações de líderes latino-americanos (Hugo Chávez, Lula
e Rafael Correa) com as FARC, inclusive com envolvimentos financeiros (Ibidem). O
mais perturbador é o fato de o Foro de São Paulo continuar a ser simplesmente
ignorado pela grande imprensa brasileira, num ato de omissão dolosa que presume
cumplicidade com o projeto de poder criminoso da esquerda latino-americana.
Todas essas informações, sobre o Foro e sobre os indicadores negativos
nacionais, foram sonegadas ou manipuladas, lançadas em matérias discretas e
incompletas nos cantos de jornais, numa espúria tentativa de construção de narrativas.
O jornalista Luciano Trigo apresenta em sua obra Guerra de Narrativas: a crise política
e a luta pelo controle do imaginário, uma análise fundamentada desse fenômeno
presente em nossa sociedade. Trigo demonstra, com farta referência bibliográfica,
como o PT usou a corrupção, não apenas como uma ferramenta de enriquecimento
ilícito, mas como um sistema de manutenção de seu projeto de poder.
Segundo Trigo (2018, p. 26 e 27), a chegada ao poder pelo PT foi apenas a
concretização política de uma hegemonia que já tinha sido alcançada nas redações
dos jornais, nas universidades, nos ambientes intelectuais e no meio artístico. Depois
de diversas derrotas eleitorais, o Estado foi “tomado” pela via legal, embora amparado
indecorosamente pelo controle da narrativa. Entre seus servos mais destacados,
adoecidos pela deformidade moral, estavam intelectuais, artistas, professores
universitários e jornalistas, sempre que possível assistidos por verbas governamentais,
pela Lei Rouanet ou por doações de grandes empreiteiros e amigos banqueiros. Como
profetizou Gramsci, o poder cultural foi tomado antes da vitória política.
A capacidade da máquina de propaganda Petista era assombrosa. Votar no PT
passou a ser sinônimo de igualdade social, de distribuição de renda, de apoio aos
direitos humanos, de promoção à diversidade cultural, de respeito às mulheres e às
minorias, de defesa dos trabalhadores etc. Ao mesmo tempo, aqueles que criticavam
o PT tornaram-se apoiadores da ditadura, racistas, homofóbicos, machistas,
imperialistas e fascistas. (Ibidem, p. 28 e 29).
Segundo Trigo (2018, p.36 a 39) a estratégia de intimidação e repressão das
ideias dissidentes foi muito bem-sucedida, graças à colaboração dos sindicatos, de
ONG’s, de movimentos sociais e de boa parte da mídia. Os que continuavam a
100
19 Fenômeno descrito por Elisabeth Noelle-Neumann no qual as pessoas, mesmo sabendo que algo
claramente está errado, mantêm-se em silêncio caso a opinião pública (ou consenso) esteja contra elas.
(TRIGO, 2018, p. 39)
6 CONCLUSÃO
contam, ainda, com a eficiente manipulação da opinião pública, promovida por parte
da imprensa, como ferramenta para impor e legitimar a sua própria “democracia”.
Na caminhada globalista, nenhuma oposição é tolerada. A mais tímida reação é
rotulada como discurso de ódio, racismo, machismo, xenofobia, ou qualquer outro
adjetivo difamatório. Patrocinados pelas mais ricas e influentes personalidades do
mundo, seus recursos financeiros são virtualmente ilimitados, assim como a
imoralidade com que conduzem seus planos mais insolentes de controle global. O
establishment enxerga em cada opositor uma ameaça real aos seus interesses, o que
o faz investir recursos incalculáveis na destruição de reputações e na promoção de
desinformação para manipular opiniões e construir um novo senso comum.
No desenvolvimento deste trabalho foram, ainda, identificados os principais
agentes promotores da agenda globalista. Destacaram-se a família Rothschild e seu
controle quase absoluto do sistema financeiro internacional; os Rockefeller e sua
notável história no mundo petroleiro; e George Soros, o bilionário húngaro conhecido
como o maior financiador mundial das pautas esquerdistas. Foi observado, por meio
do rastreamento de doações, que suas fortunas são utilizadas rotineiramente para
bancar a promoção de pautas anticonservadoras, além de financiamentos milionários
de campanhas de candidatos de esquerda pelo mundo.
Além de pessoas, foram apontadas instituições que foram criadas ou
aparelhadas para viabilizar o controle planetário, como o Council on Foreign Relations,
a Comissão Trilateral, o Clube Bilderberg, o Clube de Roma, um número incalculável
de ONG’s e a mais poderosa e atuante de todas, a Organização das Nações Unidas,
que abertamente declara a sua predestinação de conduzir a futura governança global.
O globalismo, em síntese, pode ser entendido como uma nova forma de
colonização, não apenas de países, mas de todo o mundo. Uma dominação total sem
a predominância do poder militar, mas com controle econômico amparado pela
submissão cultural. O globalismo deu-se conta que, para obter êxito, não precisava
controlar os meios de produção econômica, mas sim os meios de produção de ideias.
Esse controle se dá, sobretudo, com o discurso politicamente correto, uma máquina
de censura que castiga qualquer opinião dissonante. Controlando o discurso, controla-
se o pensamento humano. Controlando o pensamento humano, controla-se o mundo.
As pautas mais presentes em sua agenda são o feminismo radical, o
ambientalismo, o pacifismo, os direitos humanos, a ideologia de gênero, a
homossexualidade, o racismo, a liberação do uso de drogas, a imigração permissiva,
103
REFERÊNCIAS
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