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ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO

ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO

Maj Art ALEXANDRE BORGES VILLA TREINTA

O globalismo e seu aparato ideológico:


impactos na sociedade brasileira

Rio de Janeiro
2019
Maj Art ALEXANDRE BORGES VILLA TREINTA

O globalismo e seu aparato ideológico:


impactos na sociedade brasileira

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Escola de Comando e
Estado-Maior do Exército, como requisito
parcial para a obtenção do título de
Especialista em Ciências Militares, com
ênfase em Defesa Nacional.

Orientador: Ten Cel Cav Sandro Silva Ruiz

Rio de Janeiro
2019
T787g Treinta, Alexandre Borges Villa

O globalismo e seu aparato ideológico: impactos na sociedade


brasileira / Alexandre Borges Villa Treinta. 一 Rio de Janeiro: ECEME,
2019.
113 p.: il. color.; 30 cm.

Orientação: Sandro Silva Ruiz.


Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Ciências
Militares). 一 Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
(ECEME), Rio de Janeiro, 2019.
Referências Bibliográficas: p. 105-113.

1. GLOBALISMO. 2. MARXISMO. 3. CULTURA. 4. SOCIEDADE.


I. Título.

CDD 335.4
Maj Art ALEXANDRE BORGES VILLA TREINTA

O globalismo e seu aparato ideológico:


impactos na sociedade brasileira

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Escola de Comando e
Estado-Maior do Exército, como requisito
parcial para a obtenção do título de
Especialista em Ciências Militares, com
ênfase em Defesa Nacional.

Aprovado em ____ de outubro de 2019.

COMISSÃO AVALIADORA

__________________________________________
Sandro Silva Ruiz – Ten Cel Cav – Me. Presidente
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

__________________________________________________
Alan Sander de Oliveira Jones – Ten Cel Art – Me. Membro
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

__________________________________________________
Marcelo de Jesus Santa Bárbara – Maj QCO – Me. Membro
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
À minha esposa, Penélope, mãe de nossas
dádivas, Helena e Alexandre. Sua
compreensão e colaboração foram
determinantes para o êxito deste trabalho.
Seu carinho me permitiu chegar aonde era
preciso. Todo sucesso meu, também é seu.
ffffffff
AGRADECIMENTOS

Ao nosso Pai Supremo.

Ao meu orientador, Tenente-Coronel Sandro Silva Ruiz, não apenas pela orientação
precisa e oportuna, mas sobretudo pela dedicação e pela confiança firmadas ao longo
da elaboração deste trabalho.

Aos meus pais, Alexandre e Almira, meu reconhecimento pela incansável dedicação
à minha educação, desde sempre, permitindo a construção do alicerce fundamental
sobre o qual ergui minha vida.

Ao Major Atílio Sozzi Nogueira, pelas atenciosas e inestimáveis colaborações.

Ao Padre Paulo Ricardo, ao General Sérgio Augusto de Avellar Coutinho (in


memoriam) e ao professor Olavo de Carvalho, grandes mestres, por terem arrancado
o véu que obscurecia minhas vistas.
“Deus, pátria e trabalho. Metei no regaço essas três
fés, esses três amores, esses três signos santos. E
segui, com o coração puro.” (Rui Barbosa)

“Não é preciso ter olhos abertos para ver o sol, nem


é preciso ter ouvidos afiados para ouvir o trovão.
Para ser vitorioso você precisa ver o que não está
visível.” (Sun Tzu)

“A ditadura perfeita terá a aparência da democracia,


uma prisão sem muros na qual os prisioneiros não
sonharão sequer com a fuga. Um sistema de
escravatura onde, graças ao consumo e ao
divertimento, os escravos terão amor à sua
escravidão.” (Aldous Huxley)
RESUMO

O presente trabalho tem como tema central o globalismo, um fenômeno complexo que
orienta a construção de um novo arranjo mundial, caracterizado pelo protagonismo de
uma governança global e uma consequente erosão da soberania dos Estados-Nação.
Inspirado na crescente influência de organismos supranacionais, não apenas sobre a
condução das relações entre os países, mas especialmente sobre as expressões do
poder nacional, este estudo traçou como objetivo identificar os principais impactos
provocados pelas ações globalistas na sociedade brasileira, com enfoque na sua
manipulação ideológica montada sobre o marxismo. A condição que motivou o
trabalho foi a perceptível ascensão de atores não estatais e suas atuações na
promoção de pautas que estimulam alteração das percepções sociais e da
manifestação moral da sociedade, como o ambientalismo, o assistencialismo social,
o feminismo radical, a liberação de drogas, as questões de gênero, raça e sexualidade,
dentre outros. Para alcançar o objetivo, este trabalho analisou o globalismo, os atores
que estão à sua vanguarda e a sua agenda. Foi estabelecida a relação do globalismo
com o marxismo, sobretudo o cultural, por meio do estudo da doutrina de Marx e suas
modificações ao longo da história, permitindo atestar que o ideário das doutrinas
esquerdistas foi tomado pelo globalismo para catalisar o processo de dominação
mundial. A pesquisa bibliográfica se deu forma qualitativa e procurou se basear em
livros, artigos, trabalhos acadêmicos e materiais jornalísticos com relevância e
reputação. Encerrando o trabalho, conclui-se que a sociedade brasileira é alvo
recorrente de maciça propaganda anticonservadora e anticristã, fartamente financiada
com recursos de grandes capitalistas. Tais patrocinadores, almejando o poder
supremo sobre o planeta e sua população, subvertem a família, a religião e a
democracia, contaminando-as com ideologias estatistas, coletivistas e amorais.

Palavras-chave: Globalismo. Marxismo. Cultura. Sociedade.


RESUMEN

El presente trabajo tiene como tema central el globalismo, un fenómeno complejo que
ha dirigido la construcción de una nueva organización mundial, caracterizada por el
protagonismo de una gobernanza global y una consecuente erosión de la soberanía
de los Estados-Nación. Inspirado en la creciente influencia de los organismos
supranacionales, no solo sobre la conducción de las relaciones entre países, sino
especialmente sobre las expresiones del poder nacional, este estudio se llevó a cabo
como objetivo identificar los principales impactos provocados por las acciones
globales con enfoque en su manipulación ideológica, montada sobre el marxismo, que
actúa en la sociedad brasileña. La condicionante que motivó el trabajo fue la
perceptible ascensión de actores no estatales y sus actuaciones en la promoción de
pautas que estimulan alteraciones de las percepciones sociales y de la manifestación
moral de la sociedad, como el ambientalismo, el asistencialismo social, el feminismo
radical, la liberación de drogas, cuestiones de raza, sexualidad, género, entre otros.
Para alcanzar el objetivo, este trabajo analizó el globalismo, los actores que están en
vanguardia y su agenda. Fue establecida la relación del globalismo con el marxismo,
sobre todo el cultural, por el medio de estudio de la doctrina de Marx y sus
modificaciones a lo largo de la historia, lo que permitió atestiguar que la ideología de
las doctrinas izquierdistas fue tomada por el globalismo para catalizar el proceso de
dominación mundial. La investigación bibliográfica se dio de forma cualitativa y buscó
base en libros, artículos, trabajos académicos y materiales periodísticos con
relevancia y reputación. Encerrando el trabajo, se concluye que la sociedad brasileña
es objeto recurrente de masiva propaganda anticonservadora y anticristiana,
financiada con recursos de grandes capitalistas que, anhelando el poder supremo
sobre el planeta, subvierten la familia, la religión y la democracia, contaminando la
sociedad con ideologías estatistas, colectivistas y amorales.

Palabras clave: Globalismo. Marxismo. Cultura. Sociedad.


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BREXIT British Exit (Saída Britânica da União Europeia)


CFR Council on Foreign Relations (Conselho de Relações Exteriores)
CEBRI Centro Brasileiro de Relações Internacionais
DI Diálogo Interamericano
EUA Estados Unidos da América
FED Federal Reserve (Reserva Federal)
FMI Fundo Monetário Internacional
GM Guerra Mundial
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
Komitet Gosudarstvennoi Bezopasnosti
KGB
(Comitê de Segurança do Estado)
OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
OGP Organização Governamental Privada
ONG Organização Não Governamental
ONU Organização das Nações Unidas
PC Partido Comunista
PCB Partido Comunista Brasileiro
PIB Produto Interno Bruto
PSDB Partido da Social Democracia Brasileira
PT Partido dos Trabalhadores
PUC Pontifícia Universidade Católica
STF Supremo Tribunal Federal
SUS Sistema Único de Saúde
UE União Europeia
UnB Universidade de Brasília
UNESCO Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
UNICAMP Universidade Estadual de Campinas
URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
USP Universidade de São Paulo
UWF United World Federalists (Federalistas do Mundo Unido)
WFM World Federalist Movement (Movimento Federalista Mundial)
WGS World Government Summit (Cúpula do Governo Mundial)
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................... 10
1.1 PROBLEMA .......................................................................................... 14
1.2 OBJETIVOS .......................................................................................... 15
1.2.1 Objetivo Geral ..................................................................................... 15
1.2.2 Objetivos Específicos ........................................................................ 15
1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO ............................................................... 16
1.4 RELEVÂNCIA DO ESTUDO ................................................................. 17
2 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................... 18
2.1 O GLOBALISMO ................................................................................... 18
2.2 O MARXISMO E SUA EXPRESSÃO CULTURAL .................................. 24
3 METODOLOGIA ................................................................................... 31
3.1 TIPO DE PESQUISA ............................................................................. 31
3.2 COLETA DE DADOS ............................................................................. 31
3.3 TRATAMENTO DOS DADOS ............................................................... 32
3.4 LIMITAÇÕES DO MÉTODO .................................................................. 32
4 O GLOBALISMO E SEU APARATO IDEOLÓGICO ............................ 33
4.1 ORIGENS .............................................................................................. 36
4.2 AGENTES PROMOTORES .................................................................. 40
4.2.1 Uma Trindade Globalista .................................................................... 40
4.2.2 Organizações por um Governo Mundial ............................................ 48
4.3 AGENDA GLOBALISTA ........................................................................ 56
5 MARXISMO E CULTURA ..................................................................... 63
5.1 MARX E SUA IDEOLOGIA ................................................................... 66
5.2 MARXISMO CULTURAL ...................................................................... 71
5.2.1 Socialismo Fabiano ............................................................................ 75
5.2.2 Escola de Frankfurt ............................................................................ 78
5.2.3 Gramscismo ........................................................................................ 82
5.3 AGENDA MARXISTA ........................................................................... 87
5.3.1 O legado hediondo do coletivismo .................................................... 94
6 CONCLUSÃO ....................................................................................... 101
REFERÊNCIAS .................................................................................... 105
10

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho se debruça sobre o estudo do fenômeno que orienta a fundação


de um novo arranjo mundial, caracterizado pelo estabelecimento de uma estrutura
governamental global. Este fenômeno vem dando sinais cada vez mais perceptíveis
de sua evolução, especialmente pela construção de um novo padrão cultural,
predominante e homogêneo, capaz de legitimar e harmonizar essa nova era e o seu
produto essencial: o novo cidadão mundial.
O sociólogo brasileiro Octavio Ianni, em sua obra A Era do Globalismo,
apresenta um aprofundado estudo sobre uma face deste movimento, o qual é
chamado, como indica o título do livro, de globalismo. De acordo com Ianni, o
globalismo pode ser entendido como um conjunto de:

[...] realidades sociais, econômicas, políticas e culturais que emergem e


dinamizam-se com a globalização do mundo, ou a formação da sociedade
global. [...] E emerge de forma particularmente evidente, em suas
configurações e em seus movimentos, no fim do século XX, a partir do
desabamento do mundo bipolarizado em capitalismo e comunismo. (IANNI,
1999, p. 183 e 184, grifo nosso).

Dentro das teorias das relações internacionais, Sarfati (2005, p. 189) menciona
a governança global como o fenômeno no qual as instituições supranacionais aos
poucos tomam o lugar das instituições nacionais, eliminando, assim, a tradicional
noção de Estado-Nação. Este movimento marca a erosão do papel do Estado e o
fortalecimento do poder transnacional. De acordo com Linklater (1996, apud SARFATI,
2005, p. 257) dentro das novas formas internacionais de organização, observamos
“um sistema pós-westfaliano 1 no qual os Estados abolem parte de seus poderes
soberanos”.
No contexto desse fenômeno, inserido na nova ordem mundial, Costa (2015)
afirma que já se observam organismos supranacionais que, de maneira sutil,
trabalham na consecução do audacioso objetivo de estabelecimento da governança
planetária. Além de organismos supranacionais, envolvem-se, ainda, organizações
não governamentais, grandes corporações, entidades políticas, financeiras, magnatas
de poderosas famílias e até mesmo sociedades consideradas de caráter secreto.

1Relativo à Paz de Westfália, um conjunto de diplomas que inaugurou o moderno sistema Internacional,
ao acatar consensualmente noções e princípios, como o de soberania estatal e o de Estado-Nação.
Por essa razão, considera-se uma das bases de estudo das Relações Internacionais. (DEUTSCHE
WELLE, 2009).
11

Pode-se somar à visão de Costa a interpretação de Filipe Garcia Martins,


bacharel em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e especializado
em geopolítica. Martins é, atualmente, assessor especial para Assuntos Internacionais
da Presidência da República, e define o globalismo como:

A tentativa de instrumentalização político-ideológica da globalização, com a


finalidade de promover uma transferência do poder decisório das nações para
um corpo difuso de burocratas cosmopolitas e apátridas, que responde não
às comunidades de eleitores, mas a um restrito conjunto de agentes de
influência, com acesso privilegiado a esses burocratas. (BRASIL, 2019b).

Tamanha é a amplidão do globalismo que o atual Ministro das Relações


Exteriores, o diplomata Ernesto Araújo, em seu discurso de posse proferido em janeiro
de 2019, dedicou generosas linhas ao tema e o definiu de forma contundente como
"o ódio, através das suas várias ramificações ideológicas e seus instrumentos
contrários à nação, contrários à natureza humana, e contrários ao próprio nascimento
humano." (ARAÚJO, 2019a). Suas impressões sobre esse fenômeno podem ser
confirmadas também no website de sua criação, o Metapolítica 17, no qual o
Chanceler descreve o globalismo como “a globalização econômica que passou a ser
pilotada pelo marxismo cultural. Essencialmente é um sistema anti-humano e
anticristão.” (ARAÚJO, 2019b).
A partir das impressões do Ministro, observa-se que a estrutura globalista
consegue ampliar ainda mais a sua envergadura quando se alinha ao marxismo, um
movimento político e econômico internacional secular de matriz coletivista, que
igualmente objetiva a propagação de uma ideologia global que visa estabelecer um
novo padrão de organização política, social, cultural e econômica em escala mundial.
O marxismo, de acordo com Penna (2017, p. 211), seria o motor do
empreendimento universal de libertação, abolindo os particularismos nacionais e
criando uma grande fraternidade mundial. Aglutinando-se essas últimas ideias,
percebe-se que o marxismo (com a vênia do termo generalizante, visto que há
diversas expressões de marxismo) manifesta o mesmo caráter supranacional do
globalismo, com o qual se vinculou. Penna (2017, p. 118) cita a afirmação de Marx
que “a Pátria é uma invenção perversa dos burgueses ricos, dos donos do capital.”
Por sua vez, a filósofa e economista marxista Rosa Luxemburgo, a qual foi
considerada por Antonio Gramsci uma figura “maior do que os maiores santos de
Cristo” (apud CARVALHO, 2014, p. 56) afirma que a revolução socialista deveria
12

acabar com toda a opressão e, consequentemente, eliminar a problemática total do


princípio das nacionalidades. (apud PENNA, 2017, p. 122).
As ideias revolucionárias originais de Karl Marx, entretanto, foram reinventadas
pelo ideólogo comunista Antonio Gramsci, chamado pelo historiador Eric Hobsbawm
de “filósofo extraordinário, talvez um gênio, provavelmente o mais original pensador
comunista do século XX” (apud SCRUTON, 2018, p. 270). Gramsci transmutou a luta
de classes e descobriu a revolução cultural como ferramenta para a propagação
mundial do marxismo, o que pode ser entendido como a face principal do marxismo
cultural. Essa vertente marxista possui visão avessa ao emprego da força das armas
e da repressão direta do método revolucionário bolchevique2, como afirma Coutinho
(2012, p. 14).
Ao lado de Gramsci, pari passu, observa-se a Escola de Frankfurt, definida por
Carvalho (2014, p. 160 e 161) como um think tank3 marxista que misturou as teorias
de Freud e Marx, chegando à conclusão de que a cultura ocidental era uma doença
que deveria ser extirpada. A principal “contribuição” da Escola, complementa Carvalho,
foi a Teoria Crítica (a qual será detalhada oportunamente no desenvolvimento deste
trabalho). Essa teoria propõe, entre outros postulados, que a cultura religiosa, a
linguagem e a capacidade lógica ocidental estavam contaminadas e que poderiam e
deveriam ser transformadas, de acordo com o objetivo que se pretendia alcançar. Foi
ela a responsável, entre outros eventos, pela invenção do discurso “politicamente
correto”.
Coutinho (2010, p. 32) afirma que a Escola de Frankfurt assumiu postura
contrária não apenas à sociedade capitalista, ocidental e cristã, mas ao próprio
marxismo soviético. Foi essa Escola que preparou a emersão do gramscismo, cuja
concepção revolucionária dá continuidade ao movimento cultural, agora sob impulso
da reforma intelectual e moral da sociedade e da mudança do senso comum. Coutinho
(2010, p. 207) apresenta, do mesmo modo, a ideia de que a promoção do Governo
Global também se daria por meio do progressismo transnacional, um projeto que une

2Bolchevique (maioria, em russo) se refere ao Partido Comunista da União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas (URSS), que promoveu a imposição do socialismo na Rússia por meio de revolução em
1917, utilizando violência, confisco armado das propriedades, das fábricas e das fazendas, com
assassinato em massa dos opositores políticos. (INFOPÉDIA, 2019; o autor).

3Think tank é um termo em inglês que se refere a um laboratório de ideias, um centro de pensamento
ou de reflexão, composta por especialistas de natureza investigativa e reflexiva, cuja função é a
exercício intelectual sobre assuntos de política social, estratégia política, economia, assuntos militares,
de tecnologia ou de cultura. (MCGANN, 2018).
13

a esquerda revolucionária, fundamentalistas islâmicos, antiamericanos e


antissionistas, atraídos pela aspiração comum de erodir as ambições hegemônicas
dos Estados Unidos.
A ideologia marxista, hoje envolvida pela estrutura globalista, alastrou-se no
Brasil desde a década de 1960, em pleno regime militar, como pode ser constatado
na obra de Gordon (2017, p. 232). A hegemonia cultural da esquerda não apenas
estava presente como continuou crescendo, a ponto de ser o verdadeiro
establishment4 na década de 1970, quando personalidades ligadas ao comunismo
passaram a dominar a cena artística dos veículos de comunicação em massa. Gordon
acrescenta que os militares, nesse período, concentraram esforços sobre a esquerda
política e a sua expressão armada, negligenciando a mais perigosa e sutil de suas
expressões: a cultural. (Ibidem, p. 248).
A esta altura, já começam a ganhar nitidez os pontos de tangência entre os
movimentos globalista e marxista. As relações entre eles também foram identificadas
pelo Príncipe Luiz Philippe de Orléans e Bragança, Deputado Federal eleito no pleito
de 2018, como se lê em artigo publicado na revista Interesse Nacional:

Não é coincidência que por afinidade ideológica os partidos sociais-


democratas são os mais alinhados às demandas dos globalistas nos países
do ocidente. [...] a solução proposta pelos globalistas para erradicar esses
problemas globais é similar à solução para erradicar as diferenças sociais de
um país propostas pelos sociais-democratas: tributação, burocracia e
regulamentação e, é claro, a fortificação de um poder global central capaz de
implementar tudo isso. [...] Isso é o que chamam de globalismo ou, pela
coerência desse texto, “marxismo global”. (BRAGANÇA, 2019).

Nota-se, contudo, a percepção de um suposto “fim” do marxismo em decorrência


da queda do muro de Berlim e do colapso da União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas, ocorridos há cerca de trinta anos. Não é incomum ler que o “fantasma” do
comunismo ainda atormenta os “radicais” de direita. Essa narrativa, entretanto, é
desconstruída de modo argumentativo e referenciado por Gordon (2017, p. 187-220),
que consegue apresentar inúmeras e robustas provas de que o marxismo é um
movimento presente a atuante em nossa sociedade.
Carvalho (2018b, p. 349) define o marxismo como uma forma de “cultura [...], um
exemplo inteiro de crenças, símbolos, discursos, reações humanas, sentimentos,

4Establishment é um termo em inglês que define o grupo de pessoas que detêm a maior parte do poder
e da influência no Estado e na sociedade, concentrando os meios de ação no país e exercendo sua
autoridade em defesa de seus próprios interesses e privilégios. (INFOPÉDIA, 2019; o autor).
14

lendas, mitos [...] e, sobretudo, dispositivos de autopreservação e autodefesa”.


Adicionalmente, pode-se ler na mesma obra que o filósofo acredita que a ascensão
do marxismo ao primeiro plano da vida nacional foi e é a causa principal ou única da
destruição da cultura superior e do sistema educacional do Brasil (Ibidem, p. 315),
entendimento que é compartilhado por Gordon (2017, p. 171 e 358).
Além de toda a estrutura promotora de conteúdo ideológico para a vertente
cultural socialista já citada, é importante abordar aquela que talvez consiga conjugar
com mais eficiência a atuação e a discrição: a Sociedade Fabiana. A ideia central
dessa sociedade é de que a transição do capitalismo para o socialismo deve ser
realizada por pequenas e progressivas reformas. Por isso o socialismo fabiano rejeita
a luta de classes, ao mesmo tempo que entende que o Estado tem obrigação de ajudar
os trabalhadores a conquistar a igualdade econômica. (COUTINHO, 2010, p. 89).
Diante de tão complexo e perturbador cenário, ao longo deste trabalho projeta-
se compreender como o movimento globalista e o marxismo deram as mãos, na
certeza de que o entendimento dessa “parceria” é relevante para revelar as múltiplas
engrenagens que as movimentam em direção comum.
Nesse contexto, este trabalho pretende esmiuçar o globalismo e a sua estreita
ligação com o marxismo, sobretudo o cultural, a fim de levantar os seus impactos no
Brasil, permitindo identificar como a sociedade brasileira está sendo afetada pela
conjugação de suas forças.

1.1 PROBLEMA

As mudanças na expressão cultural da sociedade brasileira são perceptíveis,


mesmo de forma empírica, na medida em que nossos paradigmas são defrontados
com pautas que passaram a predominar nos centros acadêmicos, na imprensa e nas
artes. Tais pautas suscitam a alteração dos valores e da manifestação moral da
sociedade, envolvendo questões de gênero, raça, sexualidade, drogas,
ambientalismo, religião, entre outros. (CARVALHO, 2018b, p. 181).
Considerando que já existe considerável bibliografia demonstrando que os
movimentos globalista e marxista cultural são forças presentes e atuantes na
sociedade brasileira, esta pesquisa se depara com o seguinte problema:
Como a propagação da agenda e do aparato ideológico globalista está
atingindo a sociedade brasileira?
15

1.2 OBJETIVOS

Os resultados que se pretendem alcançar com o presente trabalho estão


conectados aos efeitos do movimento globalista sobre a sociedade brasileira.

1.2.1 Objetivo Geral

A fim de elencar o objetivo geral do trabalho, partiu-se da premissa que há


abundantes evidências de forças ideológicas globalistas de expressão marxista
atuando no Brasil, afirmação que está consubstanciada na introdução do presente
trabalho. Decidiu-se por desmembrar o estudo do “globalismo” e do “marxismo”, haja
vista que os movimentos são distintos, apesar de interligarem-se de forma
indissociável em sua atuação cultural global. O estudo individual de cada frente,
destacando suas devidas conexões, facilitou o entendimento das ideias e permitiu
uma progressão lógica e coerente do trabalho. Baseado nesse entendimento,
formulou-se o seguinte objetivo geral:
Identificar os principais impactos provocados pela manipulação ideológica
globalista na sociedade brasileira.

1.2.2 Objetivos Específicos

Com a finalidade de permitir a conquista do objetivo deste trabalho num


desenvolvimento lógico, coerente e progressivo, foram levantados os seguintes
objetivos específicos:
a. Conhecer o globalismo e as pautas relevantes de sua agenda, apontando os
principais atores que estão à sua vanguarda e suas conexões com o marxismo,
destacando os impactos do fenômeno na sociedade brasileira; e
b. Definir o marxismo cultural e os pontos relevantes de sua agenda, procurando
relacionar sua atuação com as forças globalistas e destacando os impactos do
fenômeno na sociedade brasileira.
16

1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO

O conceito de globalismo é demasiadamente amplo e reúne interpretações muito


distintas, em ramos que abarcam as relações internacionais, a geopolítica, a
sociologia, a filosofia e outras ciências. Ianni nos apresenta uma concepção que
oferece uma ideia de quão complexo é o globalismo:

Trata-se de uma formação social global, desigual e problemática, mas global;


uma configuração geistórica, social, econômica, política e cultural
contraditória, ainda pouco conhecida em sua anatomia e em sua dinâmica.
Está impregnada de tendências ideológicas, assim como de correntes de
pensamento. (IANNI, 1999, p. 190).

A fim de permitir uma abordagem exequível, com profundidade adequada e


coerente com a proposta deste trabalho acadêmico, a pesquisa enfocou a
manifestação globalista que se alinha ao pensamento marxista. Esta corrente de
pensamento é compartilhada, dentre outros pensadores, pelo Chanceler Ernesto
Araújo e pelo Príncipe Luiz Philippe de Orléans e Bragança, como observado na parte
introdutória deste trabalho. Igualmente, a sinergia entre o globalismo e o marxismo
também pode ser observada na obra de Ianni:

O globalismo não se reduz ao neoliberalismo e muito menos se expressa


apenas nessa ideologia. Tanto compreende o neoliberalismo como o
socialismo. Pode e tem sido inclusive o cenário de outras tendências
ideológicas, tais como o social-democratismo e o nazismo. (IANNI, 1999, p.
190, grifo nosso).

Deste modo, a linha de pesquisa enfocou o globalismo como movimento


alinhado ao marxismo cultural. Em relação à sociedade brasileira, ficou logicamente
delimitado o espaço geográfico no qual se pretende inferir conclusões sobre a atuação
do aparato ideológico globalista. Nesse aspecto, na esfera temporal, a pesquisa
abrangeu o período no qual a revolução cultural atingiu expressivamente o Brasil, ou
seja, a partir da década de 1960 (COUTINHO, 2012, p. 113) até o presente.
Não foram estudados os motivos que levaram à elaboração das teorias e
tampouco os objetivos primários de seus idealizadores, mas sim as consequências
práticas e observáveis do emprego de suas ideias.
17

1.4 RELEVÂNCIA DO ESTUDO

A presente pesquisa pretendeu fornecer um diagnóstico sobre as


transformações culturais da sociedade brasileira em decorrência da promoção das
agendas globalista e marxista, permitindo, no campo das ciências militares, a
identificação de possíveis impactos na sociedade brasileira, além de apontar riscos à
soberania nacional.
O globalismo é um movimento pouco reconhecido, mas muito atuante no
mundo ocidental. O Brasil, palco altamente demandado para laboratórios ideológicos,
não está imune aos seus efeitos. A cada geração, o mais ingênuo observador é capaz
de perceber mudanças culturais que conseguiram alterar profundamente a hierarquia
de prioridades e de valores que regem o nosso comportamento social. De acordo com
Costa (2018, p. 21) o Brasil é, no momento, o alvo principal das investidas globalistas,
aquele que está sendo atacado com mais voracidade. As influências do globalismo na
construção hodierna de colisões ideológicas foi descrito por Ianni:

O globalismo leva consigo tendências de homogeneização, simultaneamente


à criação e ao agravamento de problemas sociais; põe em causa o parâmetro
estado-nação; implica fragmentação e provoca a ressurgência de localismos,
provincianismos, nacionalismos, racismos e fundamentalismos. Sim, o
globalismo é problemático e contraditório. (IANNI, 1999, p. 191).

Em suma, a proposta da pesquisa é atual, relevante e oportuna para o momento


pelo qual o país atravessa. Diante de números desproporcionais de violência,
corrupção, fracasso econômico, consumo de drogas e outras moléstias sociais, o
brasileiro vem demonstrado cada vez mais preocupação com os destinos de sua
sociedade. Tal quadro pôde ser percebido nas manifestações pelo impedimento da
ex-presidente Dilma Rousseff, no apoio popular à Operação Lava Jato e,
especialmente, na última eleição presidencial, na qual as forças conservadoras
enfrentaram frontalmente o progressismo, o socialismo e o establishment instalado há
décadas no país.
18

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Esta seção promove um debate sobre os principais temas, informações,


pensadores e teorias que servem de alicerce para a construção do caminho que
orienta ao objetivo desta pesquisa. Baseados em tais pressupostos, serão
apresentados os conceitos preliminares dos seguintes temas: o globalismo e o
marxismo na expressão cultural.

2.1 O GLOBALISMO

Globalismo é um termo que ganhou muita notoriedade nos últimos anos. A


flagrância do assunto pode suscitar a ideia de que esse movimento é jovem e
incipiente. A sua origem, entretanto, é mais remota do que se pode imaginar, como
poderá ser visto a seguir.
Inicialmente, mostra-se importante revisitar o conceito teórico de globalismo,
numa fusão das leituras de Ianni (1999) e Sarfati (2005), descrevendo-o como um
movimento pela formação de uma sociedade mundial, com estruturas supranacionais
dotadas de papel governamental que teriam controle sobre os Estados-Nação, com
consequente empoderamento de organizações transnacionais.
De acordo com o professor Matias Spector, vice-diretor da Escola de Relações
Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (apud CEBRI, 2019), a origem da
expressão “globalismo” está no livro The Emergency of Globalism: Vision of World
Order in Britain and the United States, 1939-1950 (A emergência do globalismo: Visão
da Ordem Global no Reino Unido e nos Estados Unidos, tradução nossa). Na obra,
que paira sobre o momento histórico crítico da II Guerra Mundial, se observa a ideia
de que a melhor maneira de se gerir a paz seria vinculando grandes potências a
organismos globais, como se fossem clubes de nações. Tais ideias inspiraram a
fundação da Organização das Nações Unidas (ONU), tomando lugar da Liga das
Nações, e contando com um órgão superpoderoso, o Conselho de Segurança, capaz
de decidir a paz ou a guerra em escala global. (CEBRI, 2019).
Considera-se apropriado apontar a luz do pensamento filosófico à questão. As
ideias sobre a construção de um governo global são antigas e podem remontar ao
grande pensador do século XVIII, o filósofo prussiano Immanuel Kant. Suas teorias,
19

consideradas idealistas, tiveram grande influência no positivismo e, através dele, no


nascimento das ciências sociais. (Carvalho, 2018a, p. 204).
Para Kant, em sua obra “Paz Perpétua” de 1795, os Estados deveriam ser
repúblicas nas quais os cidadãos definem suas vontades. As ideias de Kant estão
baseadas em dois pilares: republicanismo democrático e união dos Estados liberais
por meio de uma federação, para que haja a promoção da paz. (SARFATI, 2007, p.
103 e 104). Na mesma obra, Kant defende que, para que todas as guerras terminem,
é necessário que a diplomacia seja pública e que as nações sejam regidas por
democracias liberais. Da interpretação de suas teorias, pode-se concluir que estados
democráticos não entrariam em guerra entre si. Tais pensamentos foram
fundamentais na criação da Teoria da Paz Democrática.
Kant, entretanto, era favorável a uma espécie de comunidade de segurança
internacional pautada pelo direito internacional em que os Estados continuassem a
reter suas soberanias, já que a ideia de um Estado mundial não só seria inviável como
ainda poderia acabar em um governo tirânico. (SARFATI, 2007, p. 104).
Aproximando-se das concepções mais modernas, um ponto importante no
conteúdo teórico deste trabalho é clarificar a ideia de que o globalismo e a
globalização são fenômenos distintos, ao contrário do que sugere a etimologia e a
semelhança dos verbetes. A globalização, segundo Bispo, pode ser entendida como:

Um processo, ou um conjunto de processos, que resulta do desenvolvimento


tecnológico, essencialmente na área dos sistemas de informação, ou das
comunicações, e na área dos transportes. [...] permitem a proximidade entre
os actores do sistema internacional, as instituições, os agentes e os cidadãos,
e encurtam as distâncias, a nível mundial. (BISPO, 2017).

No mesmo artigo, Bispo oferece uma definição própria para o globalismo, a qual
apresenta relevância e objetividade:

O globalismo é a ideologia da globalização, a crença de que existe (ou


tende a existir) uma entidade global, acima da realidade social e política
do presente, criada pelas interacções globais, e que condiciona ou determina
a vida das sociedades políticas e, em última análise, dos cidadãos. Esta
entidade não tem uma expressão real, e a influência que exerce sobre as
pessoas e as instituições não tem uma origem precisa e identificável. (BISPO,
2017, grifo nosso).

Comparando os dois conceitos, e amparados pelas ideias supracitadas de


Sarfati e Ianni, observa-se que a globalização não contradiz o Estado-Nação,
enquanto agente organizador e detentor de território e população. Ao contrário, a
20

globalização aumenta os processos de relacionamento entre os países. De modo


contrário, o globalismo pega carona na globalização, onde atua ideologicamente
erodindo a autoridade estatal e florescendo novos atores.
Pode-se afirmar que essas últimas ideias não eram percebidas nas teorias das
relações internacionais de forma consensual, o que pode ser comprovado observando
o texto de Arraes e Gehre (2013), no qual os autores afirmam que o globalismo surge
ao longo das décadas de 1960 e 1970 como um paradigma formado por perspectivas
marxistas e não marxistas de explicação das realidades internacionais com foco na
economia global e os problemas vinculados a ela. Os autores apresentam a ideia de
que, para os globalistas, “o padrão produtivista da sociedade moderna foi forjado pela
racionalidade instrumental econômica, que buscou estimular a produção de riquezas
e a concentração de bens materiais”. Pela definição, nota-se que o globalismo era
interpretado como um fenômeno quase puramente econômico, mas não ideológico.
Pode-se ir além, deduzindo que, primariamente, a ideia de construção de um
governo global seria consequência natural da globalização. Os pensamentos mais
atualizados, entretanto, afirmam o contrário, que o surgimento do provável governo
mundial não é um resultado natural da globalização, mas um processo artificial e
antinatural orquestrado por poderosas organizações.
O cientista político estadunidense Christopher Buskirk, editor da revista
American Greatness (Grandeza Americana) é um dos especialistas mundiais no tema.
Na visão de Buskirk, o globalismo se alimenta da ideia de que as nações e as pessoas
devem render suas soberanias para organizações supranacionais e transnacionais,
as quais estão montadas sobre uma burocracia tecnocrática, e tem como objetivo
dirigir os governos nacionais, usando apelos humanitários, ecológicos e sociais. Para
tanto, os globalistas financiam a esquerda em todo o mundo para promover a
destruição de seus maiores antagonistas: os valores patrióticos, conservadores e
cristãos, bem como os direitos naturais da humanidade. (BRASIL, 2019b).
Buskirk também estabelece as diferenças entre o projeto de controle global e a
globalização. Na visão do cientista político, a globalização é um processo orgânico de
comércio entre empresas e indivíduos através das fronteiras entre os países, um
processo natural do desenvolvimento humano de ordem pessoal, econômica e política,
facilitada e acelerada pela tecnologia. O globalismo, no entanto, é interpretado como
uma ideologia política incapaz de coexistir com as soberanias nacionais e a
autodeterminação dos povos. Ele promove o consumismo e o materialismo, reduzindo
21

o ser humano a criaturas econômicas, tal qual faz o marxismo. Sua visão reducionista
e ateia promove a libertinagem e a violência contra a humanidade, substituindo Atenas
e Jerusalém pelo vulgar, pelo desejo irracional de possuir, pelo hedonismo e por uma
fé não espiritual no Estado tecnocrático. (Ibidem).
Muitos pensadores se dispuseram a elaborar o tema da governança global. Em
seu livro de 1928, The Open Conspiracy (A conspiração aberta), o escritor britânico
Herbert George Wells plantou a semente da teoria ao elaborar planos coerentes e
extremamente bem desenhados para uma revolução mundial que estabeleceria um
estado tecnocrático planetário, além de uma economia centralizada e planejada.
Uma das primeiras obras que ampliaram as percepções acerca do globalismo é
Tragedy and Hope (Tragédia e Esperança, tradução nossa), lançada em 1966 por
Carroll Quigley, professor da Universidade de Georgetown. Em seu livro, de 1350
páginas, o autor revela a existência de uma rede conspiratória, cujo objetivo “consiste
em nada menos que criar um sistema mundial de controle financeiro a cargo de mãos
privadas capaz de dominar o sistema político de todos os países e a economia mundial
como um todo”. Quigley afirma que essa organização pretende “ter controle de todos
os recursos naturais, negócios, operações bancárias e transportes por meio do
controle dos governos do planeta”. (apud Allen e Abraham, 2017, p. 15).
Uma personalidade militar que alertou o país antecipadamente acerca dos riscos
do globalismo foi o General Carlos de Meira Mattos. Em artigo publicado em 1997 na
Revista da Escola Superior de Guerra, intitulado O Conflito da Globalização, Meira
Mattos expressa sua preocupação com a erosão da autoridade do Estado diante dos
efeitos da globalização, com aguçada visão prospectiva:

Agora, os globalistas buscam uma integração mais ampla que a regional, a


unificação do planeta, esbarrarão em obstáculos muito maiores, nenhum
povo está disposto a abrir mão de suas tradições históricas, sua
personalidade nacional, seu direito de autogovernar-se. Certamente terão
que ser feitas algumas concessões, relativas aos antigos conceitos de
soberania e autodeterminação do estado-nação. [...] É neste sentido
harmonizador que devem se empenhar as inteligências dos estadistas das
grandes nações, portadoras da alta tecnologia. Se assim não o fizerem, irão
demolir a estrutura política internacional que vem dando equilíbrio à
sociedade mundial. (MATTOS, 1997, p. 99, grifo nosso).

O General Sérgio Coutinho dedica à Governança Global um capítulo de sua obra


lançada em 2010, denominada Cenas da Nova Ordem Mundial. Coutinho afirma que
a Governança Global é um projeto ideológico, um sistema transnacional de gestão
estabelecido por meio de um pacto global, cuja autoridade transcende a soberania
22

dos Estados-Nação. De acordo com Coutinho (2010, p. 128 e 129), a partir de 1975,
a Governança Global passou a estruturar-se numa forma conhecida como
Progressismo Transnacional, que montou um aparato na ONU e adotou uma ideologia
ambientalista, pacifista e pró direitos humanos. Com tais apelos, esse aparato age
com eficácia para sensibilizar a opinião pública, personalidades e instituições em torno
do globalismo.
A ideia sobre o governo global perde a sombra conspiratória com Nicholas
Hagger, em sua obra lançada em 2004 nominada The Syndicate, (traduzida para o
português como A Corporação). Hagger demonstra com abundância de evidências
que por trás de grandes eventos mundiais (guerras, conflitos, revoluções, eleições etc.)
existe um padrão identificável, uma força que movimenta os acontecimentos no
sentido da centralização do poder global. Em âmbito nacional também se encontram
autores que compartilham essa visão, como o General Sérgio Coutinho, o filósofo
Olavo de Carvalho, o economista Rodrigo Constantino e o escritor Alexandre Costa,
os quais são fonte de conhecimento para a elaboração deste trabalho.
O assunto se desloca definitivamente da nuvem abstrata literária ao mundo
concreto do cidadão comum no momento em que líderes mundiais passam a
combater abertamente o globalismo, fazendo desta pauta um ponto importante em
suas agendas. O atual presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, em
discurso na 73ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas afirmou:

É por isso que os EUA sempre escolherão independência e cooperação ao


invés de governança global, controle e dominação. [...] Jamais entregaremos
a soberania dos Estados Unidos a uma burocracia global não eleita e
inexplicável. [...] A América é governada por americanos. Rejeitamos a
ideologia do globalismo e abraçamos a doutrina do patriotismo. [...] Em todo
o mundo, as nações responsáveis devem se defender contra as ameaças à
soberania não apenas da governança global, mas também de outras novas
formas de coerção e dominação. (TRUMP, 2018, tradução nossa).

Antes de Trump, o primeiro-ministro japonês Yukio Hatoyama, em outubro de


2009 publicou um manifesto demonstrando interesse pelo assunto, afirmando que:

Hoje, à medida que as filosofias políticas e econômicas supranacionais do


marxismo e do globalismo estagnaram, para o bem ou para o mal, o
nacionalismo está mais uma vez começando a ter uma grande influência nos
principais países. [...] nossa responsabilidade como políticos é reorientar
nossa atenção para os valores não econômicos que foram deixados de lado
pela marcha do globalismo. (THE GLOBALIST, 2009, tradução nossa).
23

Voltando-se para o Brasil atual, observa-se o Ministro Ernesto Araújo em


entrevista, denominando o globalismo como “a globalização controlada pelo
amálgama marxista liberal”. Araújo afirmou que é preciso libertar a globalização
econômica do marxismo. O Ministro sustenta que a globalização deve ser preservada
e estimulada, mas com um pensamento nacionalista e conservador, com uma
economia liberal aberta. Para o Chanceler, é esta filosofia que deve estar no controle
da globalização. (BRASIL PARALELO, 2019).
Araújo declara, na mesma entrevista, que o globalismo é muito mais que uma
tentativa de estabelecimento de instituições globais. Em sua visão, o problema mais
grave do globalismo é o seu efeito no pensamento, um processo pelo qual a ideologia
marxista penetra na globalização econômica e faz dela o seu veículo de propagação.
Começa, sobretudo, controlando o discurso, controlando o que alguém pode ou não
dizer. Araújo afirma que o marxismo se deu conta que não precisava controlar os
meios de produção econômica, mas os meios de produção de ideias. Por meio do
controle das ideias, o marxismo captura instituições e atua diretamente contra as
identidades nacionais e até contra pessoais, promovendo o achatamento do ser
humano, o que se configura como a sua face mais grave. (Ibidem).
Carvalho (2017), acredita que o movimento globalista é o agente que controla o
movimento marxista internacional. Quando os marxistas abandonaram o proletariado
como classe revolucionária e adotaram as minorias, a revolução deixou de ser
econômica e passou a ser de ordem social e cultural. Carvalho afirma que este evento
foi o passo decisivo para o alinhamento do esquerdismo com o grande capital. Nesse
relacionamento, a esquerda internacional passou a depender cada vez mais do
financiamento do grande capital, o qual, por sua vez, controla o processo de
dominação.
Na mesma oportunidade, Carvalho (2017) acrescenta outra observação,
declarando que “se eu quero julgar o movimento globalista, a globalização, à luz do
movimento socialista, eu não posso fazê-lo. Por quê? Porque o movimento socialista
é uma parte do próprio movimento globalista, é uma função dele, e por ele foi criado.”
Diante de tantos autores de distinta reputação, fatos, argumentos e indícios,
infere-se que o globalismo não se sustenta como uma teoria “paranoica” de um
“fantasmagórico governo mundial” derivada de um “nacionalismo estreito”, como
afirmou o diplomata Paulo Roberto de Almeida em debate com o filósofo Olavo de
Carvalho (BRASIL PARALELO, 2019). O globalismo é um fenômeno real e presente,
24

de contornos perceptíveis, que pode e deve ser estudado a fim de que seus reflexos
não comprometam a soberania nacional.

2.2 O MARXISMO E SUA EXPRESSÃO CULTURAL

Precisamos odiar. O ódio é a base do comunismo. As crianças devem ser


ensinadas a odiar seus pais se eles não são comunistas. (Vladimir Lenin,
apud CARVALHO, 2018b, p. 121).

Após a leitura da seção anterior, fica já perceptível e embasada a estreita ligação


do globalismo com o marxismo, o que justifica o debate inicial sobre os conceitos de
ambos os assuntos. Em relação ao marxismo, este trabalho não pretendeu se
debruçar diretamente sobre a obra do alemão Karl Marx, mas sobre a produção
literária de pensadores respeitados que analisaram suas ideias e, sobretudo,
analisaram os efeitos e consequências da aplicação de suas teorias.
De modo análogo, pretendeu-se dar continuidade e desdobramento ao
marxismo com o estudo de ideólogos e instituições que produziram mudanças,
adaptações e evoluções nas teorias marxistas, como a Sociedade Fabiana, a Escola
de Frankfurt e as ideias do filósofo italiano Antonio Gramsci. Nessa sequência, foi
possível chegar de forma fundamentada ao marxismo cultural, que é o núcleo do
estudo desta seção.
Iniciando a abordagem do marxismo, é importante destacar que essa ideologia
foi responsável direta por mais de 100 milhões de mortes no mundo, por campos de
concentração e extermínio de opositores, por fomentar ódio e terror, e por
desencadear revoluções sangrentas e ditaduras repressivas em todos os países em
que foi instaurado (CARVALHO, 2018b, p. 119 a 122). Tais fatos costumam ser
despudoradamente omitidos ou esquecidos nas obras idólatras das teorias marxistas,
o que não é o caso deste trabalho.
A abordagem essencial do marxismo pode ser feita aproveitando a consagrada
produção literária do economista austríaco Ludwig von Mises, que dedicou grande
parte de sua vida e intelecto ao estudo do marxismo, como fenômeno econômico e,
também, nos seus efeitos sobre o homem e na privação de liberdade. Sua obra
Marxismo Desmascarado fornece conteúdo relevante sobre a vida e obra de Karl Marx.
De acordo com Mises (2016, p. 37), o fundamento básico do marxismo é a luta de
classes, apesar de Marx nunca ter explicado o que era uma “classe”. O livro crucial
da teoria é o Manifesto Comunista, lançado em 1848 e escrito por Karl Marx e Friedrich
25

Engels, no qual se observa que o socialismo revolucionário seria o destino inexorável


do colapso da expansão capitalista. Segundo Mises, se o livro pudesse ser resumido
a uma frase, seria: abolição da propriedade privada. Assim o autor austríaco sintetiza
o caminho da humanidade pensado por Marx:

[...] o primeiro impulso à tendência global para o socialismo foram os escritos


de Karl Marx. Ele afirmava ter descoberto “leis” invariáveis do
desenvolvimento histórico humano que levariam à derrota do capitalismo e
ao triunfo do socialismo, seguido para a transição final para um mundo
comunista pós-escassez cheio de alegria. (MISES, 2016, p. 11).

Como se observa, o socialismo seria a ponte erguida com o suor proletário que
ligaria as terras insalubres de um sistema capitalista colapsado ao “paraíso humano”
terrestre chamado comunismo. Marx dizia que no socialismo haveria uma ditadura
revolucionária do proletariado, que impediria que integrantes remanescentes da antiga
classe dirigente tentassem retornar ao poder, bem como reeducaria os trabalhadores
numa consciência mais elevada, livre dos resíduos da mentalidade burguesa. (MISES,
2016, p. 11).
Nessa nova ordem socialista, Marx propõe a nacionalização dos meios de
produção, que seriam controlados de forma centralizada. Essa governança, no
pensamento de Marx, traria prosperidade e abundância material que excede tudo que
o capitalismo já experimentou, fazendo com que todas as necessidades de ordem
material ficassem no passado. (MISES, 2016, p. 12). Nas palavras de Mao Tse-Tung,
nada disso seria feito com algum tipo de respeito pelos opositores, visto que “o
comunismo não é amor. É o martelo com que esmagamos nossos inimigos” (apud
CARVALHO, 2018b. p. 121).
Outro autor que soube decifrar as teorias marxistas foi o historiador norte-
americano Richard Pipes. Em sua obra O Comunismo, Pipes nos apresenta as
origens dos ideais comunistas, o socialismo pré-marxista, ou socialismo utópico, e as
colaborações de Marx na elaboração do socialismo científico. O autor nos revela suas
impressões sobre o marxismo:

Era uma doutrina rígida, que repudiava visões diferentes. Marx não fazia
segredo de sua atitude em relação àqueles que discordavam dele. A crítica,
escreveu certa vez, “não é um escalpelo [bisturi], mas uma arma. Seu objeto
é o inimigo, a quem não se quer refutar e sim destruir”. O marxismo, portanto,
era um dogma disfarçado de ciência. (PIPES, 2014, p. 19).
26

Entre os pensadores brasileiros, destaca-se o filósofo Olavo de Carvalho, que


produziu um notável acervo de obras de conteúdo referenciado sobre o assunto. Suas
ideias inspiraram muitas personalidades liberais, a ponto de ser apontado pelo atual
Ministro da Economia, Paulo Guedes, como o “líder da revolução” liberal que toma
palco no Brasil atualmente (O GLOBO, 2019). Carvalho não poupa críticas ao
marxismo e apresenta suas impressões sobre a ideologia:

O socialismo só o que fez até hoje foi prometer um futuro melhor ao mesmo
tempo em que reintroduzia o trabalho escravo banido pelo capitalismo,
suprimia todos os direitos civis e políticos conhecidos, reduzia mais de um
bilhão de pessoas a uma angustiante miséria e, para se sustentar no poder,
recorria a meios de uma crueldade quase impensável, como por exemplo a
empalação e o esfolamento de prisioneiros. (CARVALHO, 2018b, p. 129).

Outro brasileiro que se dedicou ao estudo do marxismo e produziu conteúdo


relevante para a compreensão do tema foi o diplomata José Osvaldo de Meira Penna.
Entre outras obras, Penna lançou A ideologia do século XX: Ensaios sobre o nacional-
socialismo, o marxismo, o terceiro-mundismo e a ideologia brasileira. Esta obra
fornece um estudo detalhado das ideologias igualitárias e coletivistas, abordando os
pensadores, as principais teorias, os contextos históricos e os efeitos das tentativas
de empreender governos socialistas e nacionais-socialistas (fascismo e nazismo).
Penna dedica parte do livro à descrição dos efeitos de tais ideologias no Brasil,
abordando, generosamente, o Governo Vargas. A obra termina com uma análise da
ideologia brasileira que, segundo o autor, é um “maniqueísmo nacional-socialista” que
“domina a nossa intelectualidade há 70 anos” e teve um “colorido” de direita nos anos
de 1930 e em seguida enveredou-se para a esquerda. Penna acredita na influência
gramscista na formação da ideologia predominante no país. (PENNA, 2017, p. 261).
Uma obra consagrada mundialmente que se tornou referência para o estudo do
tema foi O Comunista Exposto, de Willard Cleon Skousen, lançado em 1958. Skousen,
como descrito no prefácio da edição brasileira, foi um intelectual cujas ideias
influenciaram o ex-presidente norte-americano Ronald Regan, que se referia a
Skousen dizendo que “ninguém está mais qualificado para discutir a ameaça que o
comunismo representa para esta nação”. Sua obra explica como surgiu o homem
marxista, aborda os fundadores do comunismo e a atração que essa ideologia exerce
sobre a mente humana. Um dos capítulos de maior relevância foi elaborado pelo autor
após exaustiva análise de depoimentos dados em congressos por estudiosos e de
27

escritos de comunistas e ex-comunistas. O trecho recebeu o nome de “As 45 metas


do comunismo”. Destacam-se algumas passagens marcantes:

Controlar as escolas e usá-las como meio de transmissão do socialismo e da


propaganda comunista vigente; Suavizar o currículo, controlar as
associações de professores e impor a linha do partido nos livros didáticos;
Infiltrar a imprensa, controlar as resenhas literárias e as redações editoriais;
Quebrar os padrões culturais de moralidade; Infiltrar as igrejas e substituir a
religião revelada pela religião “social”; Desacreditar a família como instituição,
encorajar a promiscuidade e facilitar o divórcio; Dar ênfase à necessidade de
educar os filhos longe da “influência negativa” dos pais. (SKOUSEN, 2018, p.
337 a 374).

Da leitura das metas selecionadas, observa-se a grande preocupação do


movimento em obter controle sobre a cultura, a educação e a religião. Nesse contexto,
serão apresentados os autores que servirão de fundamento teórico do marxismo
cultural, dada a capacidade que demonstraram em decodificar a expressão cultural
do marxismo e influenciar o ethos5 social.
Um nome proeminente no assunto é o General Sérgio Coutinho. Em sua obra A
Revolução Gramscista no Ocidente, Coutinho nos oferece um estudo de elevada
qualidade sobre as influências das ideias de Gramsci na evolução do marxismo. O
autor resume a estratégia de Gramsci, que seria a mudança da tomada de poder
executada por Lenin (uso da força e violência) pela tomada de poder por meio da
guerra psicológica ou da penetração cultural para minar e neutralizar as "trincheiras"
e defesas da sociedade e do Estado burgueses. (COUTINHO, 2012, p. 38).
Coutinho apresenta como Gramsci pretende promover a transição da sociedade
capitalista para a socialista:

Nesta longa luta de desgaste se incluem a neutralização do aparelho de


hegemonia da burguesia e do aparelho de coerção estatal e a superação
psicológica, intelectual e moral das classes subalternas e das classes
burguesas, fazendo-as aceitar (ou a se conformar) a transição para o
socialismo como coisa natural, evolutiva e democrática. (COUTINHO, 2012,
p. 40).

Em outra obra de Coutinho, Cenas da Nova Ordem Mundial, pode-se conhecer


a Sociedade Fabiana, uma organização socialista fundada na Inglaterra em 1884. A
ideia dessa sociedade era de que a transição do capitalismo para o socialismo poderia

5Ethos, ou etos, é o conjunto dos costumes e práticas característicos de um povo em determinada


época ou região, ou ainda, o conjunto de características ou valores de determinado grupo ou movimento.
(PRIBERAM, 2019).
28

ser realizada por pequenas e progressivas reformas. Por isso, o socialismo fabiano
rejeita a luta de classes, ao mesmo tempo que entende que o Estado tem obrigação
de ajudar os trabalhadores a conquistar a igualdade econômica. (COUTINHO, 2010,
p. 89). O fabianismo, continua Coutinho, “tem como conduta pragmática [...] o
exercício da influência político-ideológica na administração política do Estado e a
permeação ideológica dos membros do governo”. (Ibidem, p. 92). Outra característica
interessante apresentada na obra é que há fabianos que realmente manifestam a
aspiração de um Estado mundial do tipo tecnocrático, com relações de afinidade entre
fabianos e círculos globalistas com o Council on Foreign Relations6 e sociedades afins,
como a Comissão Trilateral (criada pela família Rockefeller) as quais serão alvo de
estudo deste trabalho.
Em 2017, o doutor em antropologia Flávio Gordon trouxe a obra A Corrupção da
Inteligência, apresentando de forma atual e oportuna uma análise sobre o papel dos
intelectuais formadores de opinião (sobretudo personalidades das artes, imprensa e
academia) na construção cultural do país. Gordon explica a espiral do silêncio e o seu
poder censor de inibir e calar qualquer voz de opinião diferente da qual manifesta o
senso comum, o qual, por sua vez, foi artificial e propositalmente alterado e
reconstruído pela intelligentsia7 socialista.
Essa tática de domínio da narrativa e infiltração das instituições foi desenhada
por Gramsci, em seus Cadernos do Cárcere. (COUTINHO, 2012, p. 62). Gordon deixa
claro o efeito do pensador italiano em nossas universidades trazendo o levantamento
de um número estarrecedor: “só na década de 1990, aproximadamente um terço das
dissertações ou teses no campo acadêmico-educacional citava o nome do autor dos
Cadernos do Cárcere”. (GORDON, 2017, p. 104).
Continuando a linhagem brasileira de pensadores, o jornalista Luciano Trigo
lançou em 2018 o livro Guerra de Narrativas. Pode-se considerar que esta obra ratifica
e complementa o trabalho de Flávio Gordon, citado acima. Trigo mostra como é
possível contar um monte de mentiras falando apenas a verdade, ardil que a imprensa
brasileira vem executando com despudor quando se reporta à vida pessoal e à

6 Council on Foreign Relations, ou Conselho de Relações Exteriores é uma entidade sediada em Nova
Iorque (EUA) que constrói ideias políticas em âmbito global, fundada em 1921 por J. P. Morgan e John
Rockefeller, entre outros. (COUTINHO, 2010).

7 Intelligentsia é um verbete que se refere a uma categoria ou grupo de pessoas envolvidas em trabalho
intelectual complexo e criativo direcionado ao desenvolvimento e disseminação de determinada cultura,
abrangendo trabalhadores intelectuais de vanguarda. (PRIBERAM, 2019).
29

administração governamental de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff. Um


capítulo da obra de Trigo é dedicado aos efeitos do gramscismo na educação, na
igreja e na família. Sua obra será de grande valia para o desdobramento de ideias de
controle de narrativas, a serem abordadas no desenvolvimento deste trabalho.
Ampliando o tema de controle de narrativas, cita-se o caso do francês Pierre
Hillard, doutor em ciências políticas e professor de relações internacionais, que
publicou dezenas de livros e artigos versando sobre o globalismo e os projetos de
dominação global. Os assuntos predominantes em suas obras envolvem questões
sobre como a União Europeia está desintegrando os Estados-Nação europeus e como
instituições transnacionais trabalham para o estabelecimento do controle planetário
total. Seus trabalhos começaram a ganhar notoriedade e gerar polêmicas, ocasião em
que o site Wikipédia inadvertidamente excluiu todo o conteúdo da página que
apresentava o autor e suas obras (confirmado pelo autor deste trabalho via acesso ao
website em março de 2019). As informações sobre o autor e suas obras só são
encontradas em canais fora da mainstream media, o que demonstra uma visível
intenção de suprimir a publicidade de suas ideias.
Fazendo uma interligação entre o pensamento dos diversos autores já citados,
Hillard (2013), em artigo intitulado História da Nova Ordem Mundial também aborda a
Sociedade Fabiana (como visto em Coutinho, 2010) como uma instituição que
defende o princípio de uma sociedade sem classes, fundindo os fundamentos do
socialismo (o Estado providência) com o capitalismo (as leis do mercado), permitindo
o conjunto chegar à uma economia monopolista num quadro estatista mundial,
materializando mais uma conexão entre o globalismo e a esquerda internacional,
especialmente com o fabianismo.
Chega-se, finalmente, à Escola de Frankfurt, uma instituição que cristalizou a
ideia de “humanismo marxista” (SCRUTON, 2018, p. 165). De acordo com Coutinho
(2010, p. 32) a Escola de Frankfurt foi uma instituição que nasceu após as tentativas
fracassadas de imposição marxista-leninista no leste europeu na década de 1920. A
conclusão de seus integrantes foi que o comunismo não entraria na Europa Ocidental
em virtude da cultura predominantemente cristã. A solução para derrubar o “inimigo”
foi consubstanciada na Teoria Crítica, que professa o desconstrucionismo, o
existencialismo ateu e o pós-modernismo. Como representante brasileiro do
socialismo de Frankfurt, cita-se o candidato derrotado à presidência pelo Partido dos
Trabalhadores (PT) em 2018, Fernando Haddad, que assumiu a candidatura
30

fraudulenta de Lula, após inúmeros recursos negados pelo Tribunal Superior Eleitoral.
(GARSCHAGEN, 2018).
Hillard (2013) complementa a ideia, informando que a Escola de Frankfurt, de
formação econômica, se diversificou e em seguida formou, num espírito fabiano, não
só gerações de dirigentes ingleses, mas também numerosos estudantes de uma parte
a outra do planeta. Um exemplo é o ex-presidente do Brasil, Fernando Henrique
Cardoso, um autêntico socialista fabiano. (COUTINHO, 2010, p. 99).
As ideias dos intelectuais de Frankfurt exerceram grande influência no âmbito
universitário norte-americano, inspiraram a criação da New-Left e, na sequência,
deram substância aos diversos movimentos contestatórios surgidos após a II Guerra
Mundial: o feminismo, os hippies, o pacifismo, o ecologismo etc. (Ibidem, p. 33). Os
contravalores dessa revolução cultural foram ganhando dimensão, culminando no
emblemático Festival de Woodstock, em 1969, reunindo mais de 500 mil jovens que
promoveram o sexo promíscuo, o uso indiscriminado de drogas e a música psicodélica.
Tal fórmula passou a ser usada em todo o mundo como forma de difundir a nova
cultura pré-revolucionária. O resultado foi uma forte inibição à prática dos valores
ocidentais cristãos e à liberdade de expressão, com a criação de fórmulas
estereotipadas de conceitos “politicamente corretos”. (Ibidem, p. 34). No Brasil, suas
influências começaram a ser sentidas na década de 1960, quando se observam os
primeiros ataques televisivos aos novos inimigos da esquerda, que deixaram de ser
os donos do grande capital e passaram a ser os donos da casa, ou melhor, a família
[patriarcal] brasileira. (GORDON, 2017, p. 249).
Após a apresentação de diversos autores, cujas obras e teorias gozam de
prestígio e reconhecimento, fica patente a atuação da expressão cultural do marxismo,
a qual este trabalho pretende esmiuçar e compreender, a fim de identificar os seus
impactos na sociedade brasileira.
31

3 METODOLOGIA

Nessa seção é apresentada a metodologia que foi utilizada para desenvolver


o trabalho, evidenciando-se os seguintes tópicos: tipo de pesquisa, coleta de dados,
tratamento de dados e limitações do método.

3.1 TIPO DE PESQUISA

O presente trabalho seguiu a taxionomia apresentada por Vergara (2008) para


delinear o tipo de pesquisa a ser executada e suas adequações aos objetivos
propostos. Após o estudo inicial e considerando os pressupostos citados, esta
pesquisa teve uma abordagem do tipo qualitativa, descritiva, explicativa e bibliográfica.
A pesquisa foi qualitativa, visto que requereu procura de fontes de informações mais
profundas, cuja seleção contempla a subjetividade, mas que permitiram entender os
fenômenos do globalismo e do marxismo de forma clara. Descritiva porque evidenciou
caraterísticas dos fenômenos em pauta, visando definir as suas naturezas e
estabelecer correlações entre as mesmas. A pesquisa descritiva serviu de base para
a pesquisa explicativa, que tentou tornar o globalismo e o marxismo cultural inteligíveis,
facilitando o esclarecimento de como suas relações influenciam a sociedade brasileira.
Foi, finalmente, bibliográfica porque teve sua fundamentação teórico-metodológica
baseada na investigação de livros, artigos, trabalhos acadêmicos, jornais, revistas e
redes eletrônicas de acesso livre ao público em geral.

3.2 COLETA DE DADOS

Esta pesquisa obteve os meios de informação coletados na literatura (livros,


trabalhos acadêmicos, jornais, revistas e redes eletrônicas) de fontes confiáveis e com
dados aderentes às propostas de estudo. Deste modo, foi feita a seleção da
documentação que foi utilizada para atingir os objetivos do trabalho. As conclusões
decorrentes desta pesquisa permitiram conhecer as agendas globalista e marxista e
identificar seus impactos na sociedade brasileira.
32

3.3 TRATAMENTO DOS DADOS

Por se tratar de uma pesquisa qualitativa, na qual fica evidenciada a procura


subjetiva de fontes de informação, desde as rasas até as mais profundas, o tratamento
dos dados se deu de forma não estatística. Em decorrência, foram empregadas as
técnicas de análise de conteúdo, histografia e o método comparativo. A análise de
conteúdo permitiu obter significados apurados do conhecimento levantado. A
histografia facilitou o resgate de informações pretéritas que permitiram compreender
as teorias. Por fim, o estudo comparativo destacou similaridades entre os movimentos
globalista e marxista, apoiando o atingimento dos objetivos deste trabalho.

3.4 LIMITAÇÕES DO MÉTODO

O método escolhido possui limitações, haja vista que, por se tratar de uma
pesquisa bibliográfica, ficou limitado às consultas realizadas pelo autor, que buscou a
maior variação possível. A pesquisa documental não foi executada devido às
restrições de tempo e às dificuldades de acesso e tratamento de informações.
Outra limitação do método no presente trabalho foi a inexistência de fontes
primárias, o que fez com que o autor tivesse que interpretar informações levantadas
por outros autores. Por isso, entendeu-se como de extrema importância a seleção
criteriosa das fontes a serem utilizadas no trabalho e uma análise imparcial de
conteúdo, a fim de se evitar que a investigação subjetiva fosse tendenciosa e
contaminasse o resultado do estudo.
Enfim, a metodologia utilizada buscou evidenciar de forma objetiva e clara os
seus tipos, tratamento de dados e as limitações dos métodos elencados. Com isso,
acredita-se que a metodologia escolhida permitiu alcançar com sucesso o objetivo
final desta pesquisa.
33

4 O GLOBALISMO E SEU APARATO IDEOLÓGICO

Depois de já definido o conceito de globalismo na parte introdutória e no


Referencial Teórico deste trabalho, bem como estabelecidas as diferenças entre esse
fenômeno e a globalização, cabe a esta seção investigar o assunto e evoluir o estudo
no sentido do levantamento de informações que permitam conhecer mais
profundamente o globalismo e o seu aparato ideológico.
Recorrendo ao dicionário Infopédia (2019), entende-se por aparato “um conjunto
de meios ou instrumentos reunidos para um determinado fim”. Em relação à ideologia,
pode-se definir o verbete como “um sistema de ideias, valores e princípios que
definem uma determinada visão do mundo, fundamentando e orientando a forma de
agir de uma pessoa ou de um grupo social”. Da fusão desses conceitos, pode-se
entender como aparato ideológico a estrutura de pessoal, pensamentos e
organizações que, de forma consciente ou involuntária, atuam na transformação do
sistema de ideias e valores de uma população, redefinindo a sua visão de mundo. De
posse desse entendimento, pretende-se estudar o globalismo e desvendar o seu
aparato ideológico, identificando as pautas relevantes de sua agenda (pensamentos)
e apontando os principais atores que estão à sua vanguarda (pessoal e organizações),
bem como evidenciar as suas conexões com o marxismo, destacando os impactos na
sociedade brasileira.
A fim de reforçar as ideias sobre o tema central do trabalho e ratificar as ligações
do globalismo com o ideário de Marx, torna-se relevante trazer a definição objetiva do
economista Rodrigo Constantino, que descreveu o globalismo como “o capitalismo de
estado em escala planetária” com essência de socialismo. É “uma elite buscando
controlar os mercados globais usando as causas progressistas como instrumento.”
(CONSTANTINO, 2018, p. 213).
Graduado em economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
(PUC-Rio), o colunista Rodrigo Constantino dedicou um capítulo inteiro do seu livro,
Confissões de um ex-libertário: salvando o liberalismo dos liberais modernos, ao
estudo do globalismo, além de apresentar uma detalhada comparação [diferenciação]
com a globalização, a qual reúne dados muito relevantes para a compreensão do tema.
Constantino faz substancial referência à obra de Gary Allen e Larry Abraham,
Política, Ideologia e Conspirações, a qual alcançou mais de 5 milhões de cópias
vendidas e figura como fonte para este trabalho. No livro, os autores apresentam
34

provas e argumentos que demonstram que grandes acontecimentos mundiais não são
simples coincidências, ou atos estúpidos desconexos, mas são fruto de planejamento
e brilhantismo de pessoas e grupos com objetivos grandiosos de controle global.
(CONSTANTINO, 2018, p. 206).
O economista analisa a tese dos autores e apresenta a sua posição de maneira
objetiva, afirmando que existem duas hipóteses para explicar os acontecimentos de
expressão mundial: ou são um amontoado de fatos envolvidos em pura casualidade
e coincidência, ou há ordem e intensão sobre eles. Por meio do rastreamento de
recursos financeiros de grandes magnatas capitalistas (doados como verba de
financiamento), Constantino (2018, p. 206) conclui que a segunda hipótese é a
verdadeira. O objetivo seria um só: controle do mundo na expressão política e
econômica, mesmo que seja necessário criar guerras, provocar depressões
econômicas, endividar nações, promover crimes de ódio etc. Deste modo, os
globalistas teriam melhores condições de estabelecer monopólios pela destruição do
livre mercado e das soberanias nacionais e, é claro, convencer a todos que tudo não
passa de “teoria da conspiração”. É oportuno considerar, nessa guerra de narrativas,
a frase de Franklin D. Roosevelt: “Na política, nada acontece por acaso. Se acontece,
pode apostar que assim foi planejado”. (apud COSTA, 2018, p. 78).
Como informação coadjuvante, destaca-se que há abundante oferta de literatura
que pretende convencer o mundo sobre a necessidade do controle total centralizado.
Cita-se, como exemplo, uma obra lançada em 1998 pelo filósofo político inglês John
Gray, denominada False Dawn: The Delusions of Global Capitalism (Falso Amanhecer:
Os Equívocos do Capitalismo Global, tradução nossa) a qual aborda a necessidade
de criação de um governo mundial para controlar o que o autor chama de “excessos
do livre-mercado”. Gray critica frontalmente a postura comercial norte-americana e
defende controle global sobre o comércio, os movimentos de capital, as moedas e
ações diretas sobre as questões ambientais.
A obra de Gray foi tratada com simpatia em artigo jornalístico na Folha de São
Paulo, por Oscar Pilagallo, em 1998, que trata do assunto citando um trecho do livro
O Presidente segundo o Sociólogo, de Fernando Henrique Cardoso, no qual o ex-
presidente brasileiro afirma que “a globalização precisa de controles, porque está indo
para um caminho perigoso [...] falta um Estado mundial, uma espécie de Constituição
do Mundo, que declare os direitos dos povos.” (CARDOSO, 1998, apud PILAGALLO,
1998). A passagem ilustra o alinhamento dos pensamentos de Gray e Cardoso no
35

controle mundial da globalização e no estabelecimento de um governo mundial,


baseados em argumentos contra o livre mercado e contra o Estado mínimo, numa
nítida inclinação ao estatismo e ao controle da economia.
Acerca do controle da economia pelo Estado e suas consequências, é oportuno
fazer referência à obra O Caminho da Servidão, de 1944, de Friedrich Hayek, a qual
fornece uma robusta fundamentação que explica como a liberdade econômica e a
liberdade política são dependentes entre si e como a intervenção estatal sobre a
primeira desfigura inexoravelmente a segunda, corroendo as liberdades individuais.
Voltando à posição do ex-presidente, e se tratando de um socialista fabiano
(Coutinho, 2010, p. 99), deve-se suspeitar, ao menos, que as críticas ao livre mercado
e a apresentação de argumentos apelativos à criação de um “indispensável” governo
global, o qual tudo consertaria, mascaram manobras globalistas para “preparar o
terreno” para a centralização de poder. Constantino (2018, p. 211) nos mostra que os
globalistas utilizam apelos inúmeros, como: acabar com a fome e a pobreza mundial,
controlar a disseminação de doenças, conter o aquecimento global etc. Para todos
esses riscos existe o “Governo Mundial” ou, ao menos, mais poder nas mãos de
burocratas não eleitos e de instituições como a ONU, ligada à elite progressista
financiada por bilionários. O autor conclui suas ideias afirmando que tais grupos
pretendem “salvar” a globalização controlando-a.
Com base nos argumentos supracitados, pretende-se colaborar com a
construção de uma percepção clara de que o tema passa longe de ser uma “teoria da
conspiração”. É fato que muitas informações poderão apresentar aparência
conspiratória ou conduzir à ideia de que o controle planetário é um objetivo surreal,
impalpável e impossível de ser alcançado. Contudo, considerando o fato de que, no
passado, segundo Constantino (2018, p. 206), muitos se propuseram a dominar o
mundo, ou parte dele, como: Alexandre, Júlio César, Napoleão, Stalin, Hitler, entre
outros, por que não conceber que, nos dias de hoje, existem pessoas superpoderosas
com as mesmas aspirações? Não estariam elas influenciando acontecimentos críticos
para que ocorram na direção que lhes convém? Essas perguntas, lançadas com
propósito instigador, servem para promover reflexão e impedir que bloqueios oriundos
de ideias pré-concebidas interfiram na construção de um ponto de vista crítico sobre
o tema.
36

4.1 ORIGENS

Como afirmam Allen e Abraham (2017, p. 22) e Constantino (2018, p. 206), há


muitos séculos a humanidade experimenta tentativas de construção de um governo
global. Muitos Imperadores e ditadores tentaram subjugar os povos às suas
autoridades, sem êxito efetivo. A grande diferença é que, na atualidade, existe um
aparato burocrático, tecnológico e financeiro imensurável, que pode ser usado para
alcançar a meta. Por essas razões, pode-se deduzir que a humanidade nunca esteve
tão próxima de experimentar a submissão a um governo mundial.
De fato, as primeiras civilizações humanas já agiam com inspirações de domínio
global, como pode ser observado nos grandes impérios que aglutinaram porções
importantes do planeta. Por exemplo, citam-se os Impérios Romano, Otomano,
Mongol, Russo, Qing (Chinês) e o próprio Império Britânico que, em seu ápice na
década de 1920, detinha mais de 23% do território do planeta, com possessões em
todos os continentes. A extensão do Império Britânico era tamanha que garantia que
o sol estivesse sempre iluminando ao menos um de seus numerosos territórios, o que
era marcado pela frase “o sol nunca se põe no Império Britânico". (FERGUSON, 2004).
As mais modernas e efetivas tentativas de estabelecimento de uma ordem
globalista podem ser reportadas ao nascimento da Liga das Nações, de 1919. Após a
assinatura do armistício que encerrou a I Guerra Mundial, o qual foi baseado na
proposta de 14 pontos do Presidente dos EUA Woodrow Wilson, criou-se o caminho
perfeito para a gênese desse órgão supranacional. O aparato legal da Liga foi redigido
com influência do Coronel House, um representante da família Rothschild (o mesmo
que redigiu o Estatuto do Council on Foreign Relations e participou da criação do
Federal Reserve). O objetivo declarado da Liga das Nações era de resolver as
disputas internacionais e reduzir os exércitos, impedindo o surgimento de novas
guerras. Entretanto, as exigências do Tratado de Versalhes 8 , em cujo teor foram
adicionadas as propostas de Wilson, geraram consequências gravíssimas à
Alemanha e ao seu povo, o que acabou por estimular a ascensão do nazismo e o
surgimento da II Guerra Mundial. (HAGGER, 2009, p. 25 e 43).

8 O Tratado de Versalhes foi um acordo de paz assinado pelas potências europeias que encerrou
oficialmente a I Guerra Mundial, impondo à Alemanha perda de território, dívidas milionárias a título de
indenização, redução do Exército, entre outras punições. As consequências provocaram colapso no
país e estimularam a ascensão do Nazismo. (HOBSBAWM, 1995).
37

De acordo com Filipe Garcia Martins, assessor especial para Assuntos


Internacionais do Presidente da República, há um posicionamento relativamente
comum entre especialistas em afirmar que o nacionalismo teria sido o impulsionador
das Guerras Mundiais e, por isso, seria um veneno a ser destruído. Por isso,
geralmente o nacionalismo é difamado e associado a figuras como Hitler e Mussolini,
ao invés de personalidades como Mahatma Gandhi ou David Ben-Gurion. Essa
afirmação é falaciosa, pois conjuga e iguala os conceitos de imperialismo e
nacionalismo. As Guerras Mundiais ocorreram, justamente, por não se respeitarem as
fronteiras físicas e culturais das nações, numa tentativa de ampliar o poder sobre
outros países. Esse fenômeno está muito mais próximo do que propõe, pela via
política, a UE (ao invés da manu militari empregada no passado). O Brexit9 é, então,
a resposta a essa tentativa de subordinar as nações a uma burocracia supranacional,
é o clamor do povo para ter seus países de volta, um resgate dos ideais de Margaret
Thatcher e Winston Churchill. Esse sentimento é materializado pelo crescimento do
movimento eurocético10 e pelo resultado das eleições da Itália, Hungria e Polônia,
além dos resultados nos EUA e Brasil, no continente Americano. (BRASIL, 2019b).
Tendo falhado na sua missão precípua de salvaguardar o mundo de um conflito
bélico, a Liga das Nações cedeu lugar à Organização das Nações Unidas. De acordo
com Coutinho (2010, p. 128 e 129), uma das primeiras iniciativas tomadas para o
estabelecimento de uma estrutura de governança global foi a sugestão de criação de
um sistema bicameral na ONU, pelo qual “a voz do povo”, como sociedade civil global,
seria considerada em uma espécie de assembleia paralela à Assembleia Geral. A
bandeira levantada por esse projeto de governança global das Nações Unidas foi a
defesa do meio ambiente. Com essa motivação, a ONU passou a promover uma vasta
rede de ONG’s e OGP’s a fim de operacionalizar os apelos humanitários de paz,
direitos humanos e uma robusta agenda ambientalista. (Ibidem).
Coutinho (2010, p. 131) destaca que a agenda ambientalista da ONU, criada
para atender interesses ideológicos pró-governança global, também atende
diretamente interesses políticos, econômicos e financeiros (públicos e privados), de
integrantes da esquerda europeia e norte americana, de socialistas fabianos, de

9Brexit, do inglês British Exit (saída britânica) é designação atribuída ao processo de saída do Reino
Unido da União Europeia. (INFOPÉDIA, 2019).

10 O movimento eurocético é uma ideologia política de instituições, ou pessoas, que se opõem à


integração do seu país na União Europeia, ou que duvida de suas boas intenções. (INFOPÉDIA, 2019).
38

multinacionais, de personalidades, intelectuais, artistas e autoridades de todo o


mundo. Coutinho afirma, suscintamente, que os globalistas usam o apelo ecológico
para propagar a necessidade de uma autoridade planetária:

A consciência geral da necessidade de uma governança global e de


superação do conceito de soberania nacional é feita por intermédio, em
particular, da ideologia intermediária ambientalista-indigenista, cuja
implicação transnacional é de fácil compreensão. (COUTINHO, 2010, p. 133).

Coutinho adiciona que a governança global (chamada pelo autor de


Progressismo Transnacional) conseguiu ampla divulgação junto à opinião pública e
influência junto a ONU, graças a essa aliança entre tantas personalidades e
organizações. Segundo Costa (2018, p. 28), depois da ONU, centenas de instituições
globalistas passaram a interferir nas decisões soberanas dos países e a influenciar a
política internacional, tornando os Estados verdadeiros reféns por meio de retaliações
políticas, econômicas e até militares.
De acordo com Christopher Buskirk, depois da Liga das Nações e da ONU, outro
passo importante no avanço da nova ordem globalista foi a criação da Comunidade
Europeia do Carvão e do Aço (CECA), de 1952, sob inspiração de Robert Schuman,
o primeiro presidente do parlamento europeu. Este foi um considerável passo para
supressão dos Estados-Nação na Europa. Sua criação reduziu os poderes dos
representantes eleitos e os entregou a uma opaca estrutura de poder centralizado
supranacional. Ao se juntar a CECA com a Comunidade Econômica Europeia (CEE),
de 1957, forma-se o embrião da atual União Europeia. (BRASIL, 2019b).
Hillard (2013) afirma que os grandes organismos supranacionais que promovem
“união” de países, com especial destaque para a União Europeia, são igualmente
organizações a serviço dos globalistas. Daí entende-se o pânico de George Soros
com o Brexit. (O GLOBO, 2018a). Esta visão é compartilhada por Coutinho (2010, p.
126), que afirma que o conceito de governança global, inspirado na gestão de grandes
corporações transnacionais, é uma ideologia que norteia a UE.
A primeira organização privada que discutiu em âmbito internacional a
necessidade de um governo mundial foi o Clube de Roma, criado em 1968 e integrado
por intelectuais, políticos e cientistas que criticavam o progresso sem planejamento.
O grupo se manifesta alertando o mundo sobre as consequências “catastróficas” do
crescimento descontrolado da população mundial e da industrialização, que
provocariam o esgotamento do planeta. Foi com as repercussões dos relatórios do
39

Clube de Roma que movimentos globalistas estimularam a Conferência de Estocolmo,


patrocinada pela ONU, levando definitivamente a pauta ambientalista aos olhos da
humanidade. (COUTINHO, 2010, p. 126).
Mas não são apenas instituições que participam das investidas globalistas. Com
enfoque no Brasil, Costa (2018, p. 36) afirma que os três principais sobrenomes que
movimentam o globalismo e exercem expressiva influência no país são: Rothschild,
Rockefeller e Soros. Estes três atores e suas famílias serão abordados em detalhes
mais adiante, na seção “Agentes Promotores”.
Costa (2015, p. 24) inspira-se na visão de Olavo de Carvalho sobre a hipótese
da existência de três grandes estruturas que pretendem alcançar a dominação global,
as quais compartilham um objetivo comum: subverter a civilização ocidental para, em
seguida, implantar uma ditadura planetária sem precedentes. A visão de Carvalho,
compartilhada por Costa, nomina os três maiores projetos globalistas como: o “Russo-
Chinês”, oriundo da nomenclatura comunista; o “Islâmico”, capitaneado pela
Fraternidade Islâmica e lideranças teocráticas de vários países muçulmanos; e o
“Ocidental”, composto pela elite financeira do ocidente representada pelo Clube
Bilderberg, pela Comissão Trilateral e pelo Council on Foreign Relations. (CARVALHO;
DUGIN, 2012, p. 34).
O geopolítico russo Alexandre Dugin, por sua vez, acredita que os Estados
Unidos da América são os protagonistas do maior plano de criação de um império
global, por meio da destituição da soberania dos Estados-Nação em função de um
governo mundial governado pela elite global em termos legais. Tal projeto, segundo
Dugin, é a pauta central do Council on Foreign Relations, representado pela estratégia
de George Soros e suas fundações. (CARVALHO; DUGIN, 2012, p. 26).
Carvalho discorda de Dugin, afirmando que o movimento ocidental globalista
está desconectado do governo dos EUA e que não teria nenhum interesse nacional.
Carvalho complementa, afirmando que quando os interesses da elite globalista
ocidental colidem com os de suas nações de origem, ela não hesita em voltar-se
contra a própria pátria e a subjugar. (Ibidem, p. 36). Ainda sobre o tema, Carvalho diz
que os EUA não apenas não são o centro do projeto globalista ocidental como são a
sua maior vítima, marcada para morrer. A conclusão de Carvalho alinha-se, finalmente,
com a interpretação dos autores Alexandre Costa e Sérgio Coutinho, ao afirmar que
o projeto globalista ocidental é herdeiro direto e continuador do socialismo fabiano,
tradicional aliado dos comunistas. (Ibidem, p. 40).
40

4.2 AGENTES PROMOTORES

Ao começar esta seção, é importante destacar que, como afirma Costa (2015, p.
9 e 10) o movimento globalista atua de forma discreta e seus financiadores utilizam
instituições e organizações diversas que precisam agir com sigilo para proteger os
agentes e suas verdadeiras intenções de dominação global. Costa também acredita
que, apesar de discretas, as ações são impossíveis de serem escondidas. Pelo fato
de serem muito amplas, as mesmas penetram na sociedade de forma abrangente,
nas instituições, na cultura, no pensamento e na religião, seja de modo direto ou,
principalmente, de modo indireto, por meio de influências. Essas influências podem
ser percebidas nas pautas jornalísticas, nos livros didáticos, nas discussões
acadêmicas, nas artes, nas telenovelas e até nas igrejas.
Para potencializar a sua discrição, torna-se necessário que qualquer investida
que pretenda revelar planos, atores e ações seja desacreditada. Costa (2015, p. 18)
diz que a arma mais usada é a desqualificação. Para alcançar seus objetivos, os
globalistas usam as artes como um importante meio de manipulação de opiniões.
Filmes, livros, programas televisivos a até músicas passam a ridicularizar hábitos,
ideias, costumes e pessoas que estejam desalinhados aos interesses globalistas. Um
ardil comum contra pessoas que pretendem iluminar suas ações sutis é a imposição
do rótulo de “teórico da conspiração”.

4.2.1 Uma Trindade Globalista

Como visto em seção anterior (4.1 Origens), não são apenas instituições que
controlam as investidas globalistas. Costa (2018, p. 36) afirma que os três principais
sobrenomes que promovem pessoalmente o globalismo e atuam expressivamente no
Brasil são: Rothschild, Rockefeller e Soros. Serão abordados, na sequência, esses
três proeminentes atores, chamados agora de Trindade Globalista, dada a sua
destacada atuação mundial.
A história do envolvimento da família judaica Rothschild com a influência global
começa no século XVIII com o patriarca Meyer Amschel Rothschild, na Alemanha, que
deixa um de seus cinco filhos responsável por gerir o banco de Frankfurt e manda os
demais para Londres, Paris, Viena e Nápoles. A já abastada família, que fez fortuna
financiando as Guerras Napoleônicas, de ambos os lados (COSTA, 2015, p. 34),
41

enriqueceu extraordinariamente financiando governos (como dito anteriormente, o


negócio mais rentável do mundo). Os Rothschild aproveitavam e estimulavam os
conflitos entre nações e financiavam os dois lados da disputa, criando as condições
para que os empréstimos sempre prosperassem. (ALLEN; ABRAHAM, 2017, p.44).
Carrol Quigley, em seu já citado livro Tragedy and Hope (p. 52), afirma que os
Rothschild eram diferentes dos banqueiros comuns, pois eram muito próximos dos
governos e particularmente envolvidos e preocupados com as dívidas governamentais,
sendo conhecidos como “banqueiros internacionais”. Segundo Hagger (2009, p. 27)
além de banqueiros, os Rothschild controlavam, no final do século XIX, um terço da
produção russa de petróleo
Como pode ser lido com abundância de evidências em Hagger (2009) e
confirmado em Allen e Abraham (2017), os empréstimos e financiamentos da família
Rothschild englobam conflitos e movimentos diversos, que vão desde a redação de O
Capital, de Marx, passando pela Revolução Russa, a ascensão de Adolf Hitler ao
poder (por mais paradoxal que pareça, visto que são de origem judaica), a Guerra
Civil Americana e a criação do Federal Reserve (instituição financeira, independente
do governo, considerada privada e que atua como o Banco Central estadunidense).
Como diz o patriarca da família Rothschild, “a única maneira de controlar um conflito
é controlar os dois lados do conflito”. (apud COSTA, 2015, p. 65).
Ao abordar a história dessa família enigmática, é adequado destacar uma
organização de grandes capitalistas e banqueiros internacionais bilionários, de caráter
supranacional, criada por iniciativa dos próprios Rothschild. Essa organização surgiu
há cerca de cem anos e é chamada, na literatura que versa sobre o tema, de “O
Consórcio”. (CARVALHO; DUGIN, 2012, p. 58). Carvalho afirma que um dos objetivos
medulares dessa organização é a instauração de um governo mundial socialista, o
que permitiria aos bilionários o controle do processo político-social, libertando-os das
exposições às flutuações do mercado e da livre concorrência, permitindo a
multiplicação de suas fortunas e a garantia da manutenção dinástica do poder. (Ibidem,
p. 64).
Segundo Carvalho, “as megafortunas do Consórcio têm estimulado e subsidiado
o socialismo e a subversão esquerdista de maneira universal, obsessiva e sistemática,
pelo menos desde os anos 1940.” O financiamento de causas ideológicas
esquerdistas realizado por Fundações geridas por bilionários também é confirmado
por Coutinho (2010, p. 131 e 132), sendo o fenômeno chamado pelo autor de
42

Progressismo Transnacional. Carvalho mostra que, apesar de dicotômico à primeira


vista, o “socialismo tornou-se uma aliança entre governo e o grande capital, num
processo de centralização do poder econômico que favorece ambos os sócios”, sem
correr o risco da completa estatização dos meios de produção. (CARVALHO; DUGIN,
2012, p. 63). Como informação complementar, recomenda-se consulta às obras de
Hagger (2009) e Allen e Abraham (2017), as quais possuem impressionantes fontes
que autenticam as informações lançadas por Carvalho.
A filósofa judia de nacionalidade alemã, Hannah Arendt, deixa evidentes as
relações entre o governo mundial e os Rothschild:

Não existe melhor prova desse conceito fantástico de um governo mundial do


que essa família, os Rothschilds, estabelecidos em cinco países de regimes
diferentes, poderosos em cada um, em estreitíssimas relações de negócios
com pelo menos três desses governos, e sem que guerras e conflitos entre
essas nações jamais tenham, nem ao menos por algum momento, abalado
aquela firme solidariedade entre banqueiros. (apud Costa, 2015, p. 108).

Para obscurecer ainda mais as ações de dominação global do Consórcio, o


mesmo atua não por identidade jurídica própria, mas por meio de uma multiplicidade
de organizações subsidiárias espalhadas pelo mundo, como o Council on Foreign
Relations e o Grupo Bilderberg, que serão abordados adiante. (Ibidem, p. 58).
Segundo Allen e Abraham (2017, p. 45) os Rothschild contam com uma bem
elaborada estrutura “antidifamação” que se ocupa em abafar todos os estudos
honestos sobre banqueiros internacionais, bem como promover a destruição da
reputação de qualquer um que tente abordar o assunto e expor as ações dos agentes
financeiros globais.
No Brasil, o nome dessa peculiar família judaica é simplesmente desconhecido,
sendo difícil até mesmo conceber que existam, de fato, pessoas com tanto dinheiro e
poder. As relações com o Brasil, entretanto, são antigas e surpreendentes: a compra
do Acre, conduzida pelo prestigiado Barão do Rio Branco, bem como o envolvimento
do país na Guerra da Tríplice Aliança, receberam financiamentos da família Rothschild.
(COSTA, 2015, p. 35). De acordo com Penna (1997, p. 483 e 484), os Rothschild eram
os agentes exclusivos das operações de empréstimos do Brasil com a Inglaterra.
Atualmente, essa abonada família possui dezenas de bancos, fundos de
investimento, fundações, centenas de associações em todo o mundo, são os
principais controladores do Federal Reserve e influenciam decisivamente o fluxo
global de capitais, podendo desestabilizar empresas, políticos e até governos que se
43

anteponham aos seus objetivos. Apesar de todo esse patrimônio e poder, a imprensa
e demais meios de comunicação “insistem” em não apresentar seus passos, o que
mantém em sigilo os segredos que cercam essa incógnita casta. (COSTA, 2015, p.
34 e 35).
A família estadunidense Rockefeller, de ascendência alemã, fez fortuna no
início do século XX por meio do domínio do fornecimento mundial de petróleo, num
momento histórico em que o uso desse combustível fóssil começou a crescer em
razões incalculáveis, em decorrência da popularização dessa fonte de energia, dos
automóveis e da substituição das máquinas a vapor por motores de combustão em
todo o mundo. A ascensão da família contou com o apoio financeiro de ninguém
menos que a família Rothschild. (HEGGER, 2009, p. 27).
Considerada uma das mais famosas dinastias do planeta, possui um império
com mais de uma centena de organizações e financiam um universo que deve
ultrapassar o milhar. Seu patriarca, John Davidson Rockefeller, era conhecido por ser
excessivamente ganancioso e por não observar preceitos éticos, morais e religiosos
em suas relações comerciais, o que era reprovado pela população majoritariamente
conservadora estadunidense. (COSTA, 2015, p. 25).
A multiplicação do império dos Rockefeller foi impressionante. No final do século
XIX, a família já era proprietária da única empresa refinadora de petróleo do mundo,
a Standard Oil (atual Esso). Toda a produção de petróleo refinado vendida nos EUA
na mesma época estava sob seu controle, contando com a posse de cerca de vinte
mil poços de petróleo e um efetivo de cem mil funcionários. (HEGGER, 2009, p. 28).
O grande rival comercial dos Rockefeller era a europeia Royal Dutch Company,
que contava com apoio dos Impérios Britânico e Holandês. A disputa entre as
empresas foi “resolvida” quando os Rockefeller, após batalha comercial e publicitária,
adquiriram parte das ações de sua concorrente. Os lucros da Standard Oil eram tão
grandes que em 1937, por ocasião da morte do patriarca, a família possuía uma
fortuna comprovada de US$ 5 bilhões, o que corrigido monetariamente seria
equivalente a cerca de US$ 200 bilhões (para cálculo feito em 2004), caso a família
não tivesse aumentado nem um centavo de seu patrimônio. (Ibidem).
O neto do patriarca, David Rockefeller, em seu livro autobiográfico lançado em
2002, Memories, trata abertamente de sua influência em universidades (inclusive
brasileiras como USP e UNICAMP) e em bancos brasileiros, além de assumir que
colabora com a criação de um governo único mundial. A megalomania fica evidente,
44

no mesmo livro, quando David afirma acreditar que sua família está preparada para
comandar a vida de todas as pessoas do mundo (COSTA, 2018, p. 37). As confissões
de David são ainda mais surpreendentes, quando o mesmo afirma na página 427 de
sua autobiografia que:

[...] Alguns acreditam que somos parte de um grupo secreto de conspiradores


trabalhando contra os melhores interesses dos Estados Unidos,
caracterizando minha família e eu como ‘internacionalistas’ e afirmando que
conspiramos com outras pessoas ao redor do mundo para construir uma
estrutura global política e econômica mais integrada — um mundo unificado,
se quiser chamá-lo assim. Se esta é a acusação, declaro-me culpado e tenho
orgulho da minha culpa. (apud Carvalho, 2018b, p. 242).

De acordo com Carvalho (2018b, p. 543) a suprema elite capitalista do Ocidente,


composta pelos Rockefellers, dentre outras famílias, não se empenhou, em absoluto,
para promover o capitalismo liberal no mundo, mas sim na promoção do socialismo,
por meio de generosos patrocínios, em três diferentes vertentes: o socialismo fabiano
na Europa Ocidental e nos EUA, o socialismo marxista na URSS, na Europa Oriental
e na China e o nacional-socialismo na Europa central. Esta visão está completamente
alinhada e fartamente embasada no que se lê nas obras de Allen e Abraham (2017),
Hagger (2009), Costa (2015) e Coutinho (2010).
Acerca das influências no meio acadêmico, Carvalho (2018b, p. 596) afirma que
em 1954, uma comissão de investigações do Congresso americano já havia
descoberto que a Fundação Rockefeller “exercia controle indevido sobre as
universidades, as instituições de pesquisa e a cultura em geral, orientando-as num
sentido francamente antiamericano, anticristão e até anticapitalista”.
Versando sobre o projeto do governo mundial, Carvalho afirma que sua iniciativa
é originariamente comunista, como se pode ler no livro de Elliot Goodman, O Plano
Soviético de Estado Mundial. Nesse contexto, Carvalho cita a Fundação Rockefeller
como um exemplo de grupo econômico ocidental que se deixou seduzir pela ideologia
esquerdista, esperando tirar proveito dela, emitindo financiamentos para movimentos
comunistas, ao mesmo tempo que expandiam globalmente seus próprios negócios.
(CARVALHO, 2018b, p. 166).
Os Rockefeller perceberam que as fundações, ao promoverem causas sociais,
melhorariam a imagem da família e das suas empresas, além de poder aumentar a
influência sobre a população, os agentes públicos e as massas, sempre na direção de
suas ambições. Parte de sua fortuna passou a financiar ONG’s, enquanto o núcleo do
45

patrimônio era investido e multiplicado em bancos, fundos de investimento, indústrias,


laboratórios farmacêuticos, concessões públicas e imóveis de imenso valor, como
metade de Manhattan. (COSTA, 2015, p. 36).
O terceiro nome da trindade globalista é o bilionário húngaro George Soros.
Nascido em 1930 e naturalizado americano, fez boa parte de sua fortuna no mercado
de ações, com lances imprevisíveis. Ainda jovem, durante a II Guerra Mundial, foi
entregue aos cuidados de um amigo da família, mediante suborno, por ser judeu.
Escondendo sua origem judaica, passou-se por afilhado desse funcionário do governo
húngaro, que tinha como missão encontrar judeus, denunciá-los às autoridades para
deportá-los aos campos de concentração e confiscar os seus bens. Sobre essa fase
de sua vida, Soros afirmou, em entrevista à rede de televisão americana CBS em 1998,
que era apenas um espectador e que não sentia remorso, além de revelar que havia
sido o período mais feliz de sua vida, visto que apesar de tanto sofrimento a sua volta,
sentia-se seguro. (BRASIL, 2014).
Após o término da II Guerra Mundial, Soros passou a viver em Londres, onde
virou financista. Ao final da década de 1950, mudou-se para Nova Iorque, onde viveu
intensamente o movimento da contracultura nos anos 60. Seu maior feito financeiro
foi realizado na década de 1990, ao efetuar negociações em moeda envolvendo
câmbio entre dólar e libra esterlina, rendendo lucro na cifra de US$ 1 bilhão. Foi nesta
época que Soros confessou que gastava mais de US$ 300 mil anuais, por meio de
suas fundações, para influenciar a política e a sociedade com suas ideias. Sua fortuna
pessoal está estimada em US$ 13 bilhões, mas administra US$ 25 bilhões em seus
fundos de investimento. (Ibidem).
Soros sempre teve relações com agentes radicais de esquerda. Um de seus
principais executivos foi Aryeh Neier, que fundou o maior e mais radical grupo de
esquerda dos EUA, o Students for a Democratic Society. Foi desse grupo que surgiu
o Weather Underground Organization, um grupo terrorista de extrema esquerda que
tentou derrubar o governo estadunidense nos anos 1970. O líder desse grupo foi Bill
Ayers, nada menos que o lançador da carreira política de Barack Obama. O ex-
terrorista tornou-se especialista em educação e suas ideias estão ajudando a
implementar nos EUA o Common Core, o polêmico sistema de padronização da
educação comandando pelo governo. (Ibidem).
Em resumo, as ideias de Soros se caracterizam por oposição ardente à
supremacia política e econômica estadunidense, que ele considera um fator
46

impeditivo para a criação de uma sociedade global. Sua aversão aos EUA ficou
evidente em 2006, quando afirmou que os americanos são nacionalistas demais e
ignoram os principais problemas mundiais, o que fazia dos EUA a grande fonte de
instabilidade do planeta. Soros acredita que somente a intervenção estatal na
economia pode “corrigir” as desigualdades sociais, e que as nações são fontes
eternas de instabilidade, vendo na criação de instituições supranacionais a única
solução capaz de trazer equilíbrio ao mundo. (Ibidem).
Outra dileta amizade de Soros é o Lord inglês Mark Malloch-Brown, um assumido
globalista citado por Constantino (2018, p. 210). Brown é o atual Vice-Secretário-
Geral das Nações Unidas e antigo Vice-Presidente do Banco Mundial e do Fórum
Econômico Mundial. Com invejável currículo, escreveu The Unfinished Global
Revolution: The Road to International Cooperation (A revolução global inacabada: o
caminho para a cooperação internacional, tradução nossa). O livro, lançado em 2012,
pode ser resumido como um manifesto antinacionalista pela criação de um poder
mundial central capaz de solucionar os problemas diante dos quais os Estados se
mostram “impotentes” de resolver, como as questões climáticas, ambientais, a
promoção dos direitos humanos e a erradicação da pobreza. Na visão de Brown,
mecanismos internacionais, como a ONU, seriam as únicas entidades capazes de
consertar os fracassos dos governos individuais.
O globalista inglês foi presidente do Soros Fund Management e do Open Society
Institute (atual Open Society Foundations), ou seja, é o homem que esteve à frente da
fortuna de George Soros. Sua mais surpreendente função, entretanto, não figura em
nenhuma organização supranacional. Lord Brown é Presidente do grupo Smartmatic,
a famosa empresa das “infalíveis” urnas eletrônicas. Como pode ser lido no sítio
eletrônico oficial da empresa, o grupo Smartmatic planeja, entre outros projetos, lançar
novas tecnologias ligadas à biometria, verificação de identidade online, votação pela
internet, governança eletrônica e controle de poluição. Uma relação de capacidades
que faria o Big Brother da ficção de George Orwell sentir inveja.
Voltando os olhos para a Open Society Foundations, uma ONG bilionária com
cerca de 30 anos, pode-se enxergar uma instituição que figura como o agente
financiador e influenciador de opinião pública e política no mundo, seguindo à risca o
ideário progressista de Soros. Ela financia, entre milhares de ONG’s por mais de 70
países, movimentos que promovem pautas como: facilitação da imigração, oposição
às ações militares estadunidenses, ambientalismo, feminismo radical, fortalecimento
47

de organizações globais, legalização das drogas, eutanásia e aborto, além dos


financiamentos bilionários de candidatos do Partido Democrata dos EUA, como
Barack Obama e Hillary Clinton. (BRASIL, 2014). Soros é considerado, ainda, o maior
financiador mundial dos movimentos de liberação das drogas. (CARVALHO, 2018b,
p. 535).
David Horowitz, um ativista fundador da New Left11 nos anos 60, decepcionou-
se com a tirania dos movimentos de esquerda após o assassinato de uma amiga pelo
movimento negro Panteras Negras, no qual possuía aliados. Após esse evento,
passou a dedicar-se ao estudo das atrocidades cometidas por movimentos de
esquerda. Horowitz lançou em 2011 o livro Do Partido das Sombras ao Governo
Clandestino, cujos focos são, justamente, George Soros e o domínio que o mesmo
exerce sobre o Partido Democrata dos EUA. O autor descreve e apresenta provas
referenciadas de como Soros é um dos principais promotores mundiais do globalismo,
sob a perspectiva de aperfeiçoar a humanidade por meio da engenharia social. Em
1993, com a criação da Open Society Institute, Soros passou a apoiar uma série de
grupos de bandeiras extremistas, o que ocorreu simultaneamente à sua aproximação
da família Clinton. No início dos anos 2000, foi a vez de aproximar-se de Barack
Obama, cujas campanhas presidenciais receberam generosas doações. (BERLANZA,
2018).
Soros também desencadeia ações diretas sobre a imprensa. Nesse contexto,
cita-se o Project Syndicate, a maior associação de colunistas de opinião do mundo, o
que inclui parte da elite globalista e outras lideranças políticas e intelectuais. De
acordo com Costa (2015, p. 121), a influência desse órgão de propaganda é inegável,
pois atua no conteúdo dos grandes jornais mundo. A ONG distribui artigos para
veículos de opinião em mais de 59 línguas, em 154 países e para 492 jornais de maior
influência planetária. Costa acredita que o Project Syndicate seja a maior rede de
homogeneização de opiniões da história do jornalismo. Tal afirmação pode ser
percebida, por exemplo, numa sequência de matérias datadas de junho de 2018, sob
o título “Quem é George Soros, o megainvestidor bilionário que virou alvo de militantes
brasileiros”, com publicações simultâneas e idênticas contando uma versão romântica
de como o filantropo húngaro estava sendo perseguido por “grupos nacionalistas de

11 New Left (Nova Esquerda) é um termo que se refere a movimentos políticos de esquerda surgidos
na década de 1960, cuja característica central é o ativismo cultural/social, substituindo as questões
trabalhistas por debates sobre gênero, raça, sexualidade e justiça social. (COUTINHO, 2010).
48

direita.” A matéria simpática a Soros pôde ser lida, em destaque, nos seguintes portais
brasileiros de notícias online: G1, UOL, Terra, R7, Gazeta do Povo e BBC Brasil.
Juntando-se os pontos, observa-se um bilionário globalista que investe quantias
incalculáveis na agenda esquerdista revolucionária mundial (CONSTANTINO, 2018,
p. 215), cujo braço-direito é Vice-Secretário-Geral das Nações Unidas e Presidente
do grupo Smartmatic. Diante desse quadro, cabe ao leitor se perguntar se todas essas
convergências são obra do acaso, ou fruto de uma fusão de forças agindo
energicamente pelo estabelecimento de um governo mundial.

4.2.2 Organizações por um Governo Mundial

Depois de conhecidos os principais nomes que se dedicam à promoção do


grande governo global, serão apresentadas algumas organizações que compartilham
o mesmo objetivo. É importante destacar, como se lê em Carvalho (2018b, p. 162),
que o globalismo é um processo revolucionário, o mais vasto e ambicioso de todos,
que abrange “a mutação radical não só das estruturas de poder, mas da sociedade,
da educação, da moral, e até das relações mais íntimas da alma humana.”
Nesta corrida pelo poder supremo sobre o planeta, grandes organizações foram
criadas ou aparelhadas para servir à causa, invariavelmente financiadas pelo grande
capital, corrompendo “quem” e “o quê” fosse necessário. Como diz Araújo (2019c), o
globalismo, ou aliança esquerdista-liberal, é “onde a ideologia revolucionária, por meio
do marxismo cultural, sequestrou a globalização econômica e começou a pilotá-la”.
Essa ideia foi abordada por Carvalho (2018b, p. 167) quando o autor afirma que
uma simbiose entre o poder do Estado e os mais poderosos grupos econômicos criaria
um oligopólio que permitiria lucros formidáveis. Nada poderia ser mais atraente para
megaempresários que pretendem dominar um amplo mercado sem concorrência e
com promessas de lucro incalculável.
Um exemplo dessa situação é o Council on Foreign Relations (CFR), fundado
em 1921. O Conselho de Relações Exteriores, apesar de deter uma estreita relação
com o governo estadunidense, é uma entidade privada, criada originalmente para
tratar e promover as relações entre a Inglaterra e os EUA. Dentre seus membros
ilustres, destacam-se personalidades como Henry Kissinger e Samuel Huntington. Há,
contudo, uma visível ligação ideológica entre o CFR e a Sociedade Fabiana (a qual
49

será abordada no capítulo sobre o Marxismo), especialmente nos esforços pela


criação de um império mundial. (COUTINHO, 2010, p. 94).
Esse think tank, criado pela família Rockefeller, é chamado nos EUA de
“antessala” da Presidência, não apenas pela capacidade de transformar as suas
pautas em prioridades governamentais, mas pelo fenômeno comprovado por muitos
exemplos de que para ser presidente dos EUA, antes é preciso fazer parte de seus
quadros, ou ao menos contar com seu apoio, como é o caso dos Presidentes Bush
(os dois), Clinton, Carter e Obama. (COSTA, 2015, p. 55).
De acordo com Carvalho (2012, p. 58) o CFR é uma das organizações
subsidiárias de promoção do globalismo, financiada pelo Consórcio, já descrito na
seção 4.2.1 do presente trabalho. Apesar de existir há um século, o CFR conseguiu
permanecer em absoluta discrição por décadas (e ainda o é, em termos), apesar de
diversos integrantes serem donos de grandes meios de comunicação. (Ibidem, p. 127).
Outro autor que tratou com profundidade sobre o tema foi o neozelandês, doutor
em Teologia, Kerry Bolton, em seu livro de 2011, Revolution from Above (Revolução
de Cima, tradução nossa). Nesta obra o autor demonstra com abundância de
referências como as grandes forças capitalistas mundiais exploram o movimento
marxista para promover a sua agenda global, apesar de suas divergências superficiais.
De acordo com o autor, o objetivo final desse grupo de grandes capitalistas é criar
uma sociedade coletivista mundial de consumidores, na qual o marxismo é apenas
um meio para viabilizar esse audacioso objetivo. Bolton apresenta e examina
inúmeras evidências de que uma rede de banqueiros e financistas que controlam
grande parte do poder político e econômico mundiais atuam, por meio de fundações,
na mudança atitudinal e cultural da população mundial.
Após a análise de provas, Bolton apresenta os impactos de tais ações na
sociedade ocidental, que resultaram em tendências como a revolução sexual, o
feminismo e a promoção do uso de drogas. Acerca do CFR e sua influência sobre o
governo dos EUA, Bolton escreve:

Desde os tempos do Presidente Woodrow Wilson que os EUA têm investido


numa política externa que tem sido ditada pelos banqueiros internacionais,
principalmente através do CFR. Esta política externa nada mais é que uma
"revolução mundial", vasta, extensa e subversiva que nem mesmo Trotsky e
os Bolcheviques chegaram algum dia a promulgar. (BOLTON, 2011, p. 227,
tradução nossa).
50

No Brasil, a organização que corresponde ao Council on Foreign Relations, dos


EUA, é o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), também sob
influências da Sociedade Fabiana. (COUTINHO, 2010, p. 204).
Outra famosa organização, ligada ao CFR, é a Comissão Trilateral. Também
criada pelos Rockefeller, a comissão surgiu em 1973 com a vocação de promover
discussões de assuntos relacionados aos interesses das então três áreas mais
industrializadas do mundo: EUA, Europa e Japão (o que explica seu nome). Mais tarde
ampliou sua atuação para outras regiões do mundo, como a Ásia e Oceania. Contando
com a participação de líderes políticos, acadêmicos e executivos, seus membros se
reúnem para (declaradamente) discutir temas e traçar estratégias que serão levadas
aos parlamentos dos diversos países do globo. (COSTA, 2015, p. 55).
A Comissão possui cerca de 350 membros e tem como finalidade prática
estabelecer controle sobre o sistema financeiro internacional, na esfera econômica,
além de possuir objetivos políticos que coincidem com os conceitos da Sociedade
Fabiana. (COUTINHO, 2010, p. 95). Pode-se deduzir que a Comissão Trilateral, assim
como os socialistas fabianos, cogita estabelecer uma governança global e recomenda
a criação de uma força militar de atuação internacional na estrutura da ONU. (Ibidem).
De modo análogo ao CFR, a Comissão exerce influência sobre o governo dos
EUA, a ponto de apoiar eleições presidenciais, como a de Jimmy Carter e as de
George Bush (pai). Há, ainda, um histórico de grandes personalidades que figuram
como antigos e atuais membros da Trilateral, como Henry Kissinger (secretário de
Estado de Richard Nixon), Robert Mc Namara (ex-secretário de Defesa dos EUA),
entre outros. (Ibidem, p. 96).
O Clube Bilderberg ficou assim conhecido pelo fato de sua primeira reunião ter
ocorrido no Hotel de Bilderberg, na Holanda, em 1954. O anfitrião desse encontro foi
o Príncipe Bernhard da Holanda, o qual havia servido como oficial nazista das
Schutzstaffel (SS) alemãs durante a II Guerra Mundial. Além disso o Príncipe era um
dos principais acionistas da Royal Dutch Shell, uma petrolífera controlado pelo clã dos
Rothschild. (HAGGER, 2009, p. 49). No sitio eletrônico oficial do grupo, observa-se
que seu objetivo é promover discussões para ajudar a criar uma melhor compreensão
das forças complexas e principais tendências que afetam as nações ocidentais. Ao
longo dos anos, os encontros tornaram-se um fórum de discussão sobre uma ampla
gama de tópicos, como comércio, emprego, tecnologia, política monetária,
investimento, desafios ecológicos e segurança internacional. (BILDERBERG, 2019).
51

Os integrantes do grupo, cerca de 130, são bilionários, membros da realeza


europeia, magnatas e altos funcionários do setor privado e administração pública,
além de representantes da imprensa e universidades. As pautas do último encontro,
ocorrido em maio de 2019 na Suíça, englobam mudanças climáticas, China, Rússia,
Brexit, Mídias Sociais e ameaças cibernéticas. No contexto de um mundo globalizado,
de acordo com as informações contidas na sua página eletrônica: “é difícil pensar em
qualquer questão na Europa ou na América do Norte que possa ser enfrentada
unilateralmente.” (BILDERBERG, 2019).
Se há alguma dúvida em relação aos propósitos globalistas do Bilderberg, ela
desaparece ao se deparar com as palavras do seu primeiro anfitrião: “é difícil reeducar
as pessoas que cresceram e foram educadas dentro do nacionalismo e introduzir a
ideia de abrir mão de parte de sua soberania em favor de um órgão supranacional.
(apud HAGGER, 2009, p. 49).
Há inúmeras outras instituições com perfil muito semelhante ao CFR, à
Comissão Trilateral e ao Clube Bilderberg. Cita-se, por exemplo, o Clube de Roma
(ver seção 4.1 Origens) e o Diálogo Interamericano, um fórum privado de discussões,
criado sob influência de David Rockefeller em 1982, que atua influenciando poderes
regionais por meio de apoio financeiro, político e estratégico às forças que promovem
a criação de um governo mundial. No Brasil, partidos como o PT e o PSDB costumam
seguir as orientações emanadas pelo fórum. (COSTA, 2015, p. 56).
Poder-se-ia fazer referências a inúmeras Fundações aparelhadas e geridas por
ideais marxistas, que servem direta e submissamente aos interesses dos grandes
capitalistas mundiais. A título de exemplo, citam-se três gigantes: a Fundação Ford,
a Rockefeller e a Carnegie. Tal aparelhamento pode ser confirmado em O Espírito
das Revoluções, do diplomata brasileiro José Osvaldo de Meira Penna:

[...] esses think tanks escaparam da sorte que, paradoxalmente, afetou as


grandes fundações criadas pelos mais famosos empresários, como a
Rockefeller, a Carnegie e a Ford Foundations, as quais caíram todas nas
mãos de esquerdistas — mais contribuindo para desprestigiar do que
enaltecer a reputação dos EUA no exterior. (PENNA, 1997, p. 425).

A maior instituição de promoção de um governo mundial, e a que provavelmente


suscite mais polêmica, é a Organização das Nações Unidas. Além do conteúdo
apresentado na seção 4.1 Origens, é importante destacar que há pelo menos vinte e
cinco anos, a ONU já declarava oficialmente a intenção de consolidar-se como
52

administração planetária, o que pode ser comprovado na leitura do Relatório sobre o


Desenvolvimento Humano, de 1994. Nesse documento oficial, a ONU reporta
abertamente que “os problemas da humanidade já não podem ser resolvidos pelos
governos nacionais. O que é preciso é um governo Mundial. A melhor maneira de
realiza-lo é fortalecendo as Nações Unidas”. (CARVALHO, 2019b, 165).
Esta afirmação pode ser lida também, com ainda mais detalhes, na obra de Juan
Claudio Sanahuja, denominada Poder Global e Religião Universal, de 2012, que
pretende demonstrar que desde as grandes conferências da década de 1990, a ONU
elabora e executa um projeto de poder global. Sanahuja afirma que, para preparar o
ser humano para esta nova organização planetária, a ONU atuaria na esfera cultural,
por meio da reengenharia social, promovendo pautas progressistas e anticristãs.
Acerca das ações da ONU em sentido convergente aos interesses globalistas e
de natureza aparentemente antagônica à doutrina religiosa cristã, o escritor, jornalista
e ex-marxista norte-americano Lee Penn lançou em 2004 o livro False Dawn: The
United Religions Initiative, Globalism, and the Quest for a One-World Religion (Falsa
Aurora: A Iniciativa das Religiões Unidas, Globalismo e a Busca por uma Religião
Mundial, tradução nossa), no qual analisa e reproduz, em detalhes, inúmeros
documentos de fontes primárias, relatórios e atas de assembleias que atestam cerca
de cinquenta anos de esforços da ONU e de vários grupos bilionários para permitir a
criação de uma religião mundial, de moral permissiva, a qual relega o cristianismo a
uma etapa preparatória considerada como já superada. O objetivo dessa nova religião,
com inspiração globalista progressista, é desconstruir as crenças religiosas
tradicionais e estabelecer um “mundo de paz”, com o discurso utópico de
comunidades engajadas, com respeito à diversidade, justiça social e reunião
ecumênica de todas as religiões do mundo.
A teóloga belga-americana Marguerite Peeters, professora da Universidade
Urbaniana de Roma e diretora do Institute for Intercultural Dialogue Dynamics
(Instituto para Dinâmicas de Diálogo Intercultural, tradução nossa), escreveu cinco
livros e possui mais de 300 artigos publicados, com vocação para estudos de sobre
normas, linguagem, ética e estratégias de instituições internacionais. A professora
doutora lançou em 2011 a obra A Globalização da Revolução Cultural Ocidental, que
apresenta como acontece a relação entre educação, economia e políticas de gênero,
realizadas através da ONU e suas conferências. Peeters ganhou notoriedade mundial
53

com abordagens profundas e refutadoras da ideologia de gênero, com estudos


científicos sobre a agenda feminista radical e sobre a promoção da homossexualidade.
Peeters (2015) demonstra, baseada em abundantes fontes primárias (relatórios
de conferências e assembleias, por exemplo) que a revolução cultural propagada pela
ONU é erguida sobre uma base composta de um plano homossexual e um plano
feminista radical, que consideram os dados antropológicos fundamentais (identidade
de gênero homem x mulher e sua complementariedade, o matrimônio, o casamento,
a família, a paternidade e maternidade etc.) como construções sociais estereotipadas
e discriminatórias. A autora demonstra como esses “estereótipos” estão sendo
sistematicamente destruídos por meio da educação, da cultura e da lei, tudo com o
objetivo de moldar uma nova sociedade aderente à proposta de governança global da
qual a ONU jacta-se liderar.
A obra consegue manifestar como os eixos da tradição moral do Ocidente estão
sendo atacados, dando lugar a uma nova ética global pós-moderna, na qual os
produtos da revolução feminista e sexual substituem a antropologia judaico-cristã. A
nova normatização de valores passa pela mudança e criação de leis, pelo domínio da
educação, por padronização de novas referências de saúde pública e pela política. A
desconstrução dos valores fez desaparecer da sociedade conceitos preciosos, como
o culto à verdade, à família, à castidade, à fé e à moralidade. (PEETERS, 2015, p.34).
O psiquiatra George Brock Chisholm, primeiro Diretor Geral da Organização
Mundial da Saúde (agência subordinada à ONU) declarou na Conferência sobre
Educação ocorrida na Califórnia, em 1954, que “para alcançar o governo global, deve-
se eliminar da mente do homem, o seu individualismo, a sua lealdade às tradições
familiares, o patriotismo nacional e os dogmas religiosos." Este objetivo está sendo
alcançado por meio das padronizações dos conteúdos educativos promovidos pela
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO), como pode ser lido em documento disponível em sua biblioteca digital.
Na publicação intitulada UNESCO: its purpose and its philosophy (UNESCO: seu
propósito e filosofia, tradução nossa), se declara o seguinte:

Especificamente, em seu programa educacional, ela [UNESCO] pode


enfatizar a necessidade extrema da unidade política mundial e familiarizar
todos os povos com as implicações da transferência da plena soberania
das nações separadas para uma organização mundial. Mais
genericamente, contudo, pode fazer muito para estabelecer as bases sobre
as quais a unidade política mundial pode mais tarde ser construída. (1947,
Julian Huxley, apud BRASIL, 2019b, tradução nossa, grifo nosso).
54

Afastando-se da esfera cultural e adentrando o mundo financeiro, passa-se a


abordar o Federal Reserve (FED), que pode ser entendido como o Banco Central dos
EUA, mas de natureza privada. Criado em 1913, o FED foi idealizado por banqueiros
como Rockefeller, Rothschild e J.P. Morgan, sendo promulgado pelo Presidente
Woodrow Wilson, que mais tarde se arrependeria deste ato em público. Com o
controle da emissão de moeda e da taxa de juros estadunidense nas mãos de grandes
agentes financeiros, ficou fácil exercer influência sobre o governo e conduzir eventos
para atender aos interesses de suas corporações. (COSTA, 2015, p. 54).
Durante a polêmica aprovação da criação do FED, o deputado estadunidense
Charles Lindbergh declarou ao Congresso dos EUA que “esta lei estabelece o truste
mais gigantesco da Terra [...] Quando o Presidente a assinar, o governo invisível do
poder financeiro, cuja existência foi provada por investigação, será legalizado.” (apud
ALLEN; ABRAHAN, 2017, p. 54).
Dentre as ONG que trabalham em iniciativas dedicadas ao estímulo do
estabelecimento de um governo mundial, uma das mais importantes, segundo Allen e
Abraham (2017, p. 127) é a UWF - United World Federalists (Federalistas do Mundo
Unido, tradução nossa), uma ONG fundada em 1947, fruto da evolução de uma série
de organizações que começaram na década de 1930 após o fracasso da Liga das
Nações na tentativa de criar uma “Nova Ordem Global” que pudesse impedir a II
Guerra Mundial. Esse instituto advoga, como não poderia ser diferente, a construção
de um Governo Federal Mundial capaz de promover a paz, a justiça social, a
democracia e a aplicação do direito internacional. De acordo com a ONG, a
humanidade só conseguirá se libertar das guerras por meio de um governo global. A
sua lista de membros é vigorosamente entrelaçada com a do CFR.
De acordo com o sítio eletrônico oficial da UWF, seus trabalhos são realizados
em parceria com a ONU e se concentram em transformar a Assembleia Geral em um
parlamento mundial habilitado a promulgar leis de jurisdição mundial, ao invés das
resoluções não vinculantes. Não é preciso muita reflexão para perceber que a
iniciativa iria afetar criticamente a autoridade dos Estados-Nação.
Ainda é possível consultar no sítio da UWF os princípios basilares da futura
Federação Mundial, capaz de fazer os mais totalitários regimes sentirem-se
insignificantes. A ONG manifesta, de modo direto e explícito, que seus princípios são:
a limitação da soberania das nações e a transferência para o governo federal mundial
de poderes legislativos, executivos e judiciais relacionados aos assuntos mundiais; a
55

aplicação da lei mundial diretamente ao indivíduo; a criação de forças armadas


supranacionais capazes de garantir a segurança do governo federal mundial e de seus
estados membros; o desarmamento das nações membros ao nível de seus requisitos
internos de policiamento e, por fim, o poder para tributar e gerar receitas diretamente
e independentemente dos impostos estaduais.
Os absurdos da UWF não se limitam aos seus princípios. A entidade recomenda
e estimula que os povos do mundo se mobilizem para pressionar seus próprios
governos e assembleias legislativas para transformar a Organização das Nações
Unidas em governo federal mundial, aumentando sua autoridade e recursos e
alterando sua Carta. Como grand finale, a ONG afirma que fará uso de “quaisquer
métodos razoáveis” que possam contribuir para a conquista antecipada do governo
federal mundial, fundamentados no benevolente e humanista objetivo de “evitar uma
nova guerra mundial”. (WFM, 2019).
Outra organização supranacional que merece ser mencionada é o World
Government Summit, ou Cúpula do Governo Mundial, uma organização global que
almeja “melhorar as vidas dos cidadãos em todo o mundo, capacitando instituições e
tomadores de decisão com o conhecimento para moldar um futuro melhor”. Como
pode ser visto em seu sitio eletrônico oficial, a Cúpula oferece uma plataforma para
mostrar e trocar as melhores práticas e soluções para os “desafios que as nações
enfrentam”. É composta por uma ampla rede de líderes dos setores público e privado
e se dedica a moldar o futuro dos governos em todo o mundo. A cada ano, a Cúpula
define a agenda para a próxima geração de governos, concentrando-se em como eles
podem aproveitar a inovação e a tecnologia para resolver os desafios universais
enfrentados pela humanidade. A sétima e mais recente reunião ocorreu em fevereiro
de 2019 em Dubai, e contou até com a participação (via transmissão ao vivo) do Papa
Francisco. O evento recebeu mais de 4.000 participantes, entre líderes mundiais,
representantes de organizações internacionais, pensadores e especialistas de mais
de 150 países. (WGS, 2019).
Depois da apresentação de vasto e referenciado volume de informações acerca
das iniciativas de promoção de controle global sobre as nações do planeta, infere-se
que a erosão do poder dos Governos e Estados, dentro de seus próprios territórios,
corre risco real, assim como as soberanias nacionais caminham para a extinção,
levando consigo a liberdade de seus povos.
56

4.3 AGENDA GLOBALISTA

A atuação do globalismo em território nacional, dada a sua materialidade, já


despertou atenção governamental. Em 10 de junho de 2019, foi realizado pela
Fundação Alexandre de Gusmão e pelo Itamaraty o primeiro seminário “Globalismo”.
O evento foi aberto pelo atual Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e
contou com a participação de palestrantes como Filipe Garcia Martins, assessor
especial para Assuntos Internacionais do Presidente da República, e Alexandre Costa,
autor de duas obras que servem de bibliografia para o presente trabalho, a saber:
Introdução à Nova Ordem Mundial e O Brasil e a Nova Ordem Mundial. O objetivo do
seminário foi entender melhor o conceito e o fenômeno do globalismo, assim como
suas implicações para as relações internacionais da atualidade.
Falando de Costa (2018, p. 27), o autor nos mostra que a implantação desta
Nova Ordem Mundial, montada sobre o globalismo, possui um eixo principal e
diversos eixos periféricos. No eixo principal, pode-se incluir ações que promovam os
objetivos elementares para viabilizar a construção do governo global, como: o
aumento do poder do Estado, com regulação da economia e de todos as condutas
humanas possíveis; a criação de estruturas supranacionais que exerçam autoridade
sobre as nações e diminuam a sua soberania relativa; e, por fim, a concentração de
mercados nas mãos de grandes corporações.
No eixo periférico, segundo Costa (2018, p.30) observam-se as ações voltadas
à mudança cultural da sociedade. Os efeitos desejados são alcançados pela
promoção de ideologias e utopias em oposição à realidade. Usualmente as pautas
são promovidas por movimentos sociais e de defesa dos direitos humanos e ONG’s,
as quais se acrescentam a academia, as artes e a imprensa, que se encontram
completamente corroídas, aparelhadas e financiadas por estruturas ideológicas, como
se observa com farta referência na obra de Flávio Gordon, A Corrupção da Inteligência.
(GORDON, 2018, p. 67, 170, 358).
Entender como é importante para os globalistas promover o aumento de poder
dos Estados é simples. O Estado inchado, respaldado pela “necessidade” de
promoção do bem-estar social, é especialista em intervenções na economia, o que faz
com que as nações incidam sobre a já citada teoria de Friedrich Hayek (que será
descrita no capítulo sobre o Marxismo do presente trabalho), provocando aumento de
impostos e endividamento. Sendo o empréstimo a atividade mais rentável para as
57

instituições bancárias, fica fácil compreender porque emprestar dinheiro para países
é o melhor negócio do mundo, seja pelo alto valor das cifras, seja pela segurança de
retorno. (COSTA, 2018, p. 28).
O segundo passo é submeter esses Estados, não apenas inchados e
endividados, mas com sua estrutura corrompida, a grandes entidades supranacionais,
as quais literalmente usurpam a soberania dos países, submetendo-os aos interesses
destas entidades controladas por pessoas que sequer foram eleitas para tais cargos,
como ocorre com a União Europeia e com a ONU. (Ibidem).
Para fechar esse círculo espúrio, promove-se a concentração dos mercados nas
mãos de grandes corporações, por meio de decisões políticas (nos três poderes) que
ataquem a livre concorrência, fortalecendo ainda mais a mão econômica que
movimenta todas as demais engrenagens. O sistema funciona, basicamente, por meio
do financiamento de campanhas de candidatos simpáticos aos seus interesses, de
ONG’s que promovam sua agenda e pela compra de decisões legislativas e
administrativas que esmaguem pequenos empresários com regulações e burocracias
que favoreçam as grandes empresas (Ibidem, p. 29). O arremate ocorre com o
controle da imprensa, que irá manipular a opinião pública e promover o respaldo
popular a todas as arbitrariedades cometidas, devidamente amparadas por ações de
doutrinação ideológica em estabelecimentos de ensino, em manifestações artísticas
e até dentro das igrejas.
No manejo desse complexo cenário, os globalistas, carentes de um aparato
ideológico próprio capaz de propagar os preceitos culturais do “cidadão global”,
apropriam-se do progressismo, do marxismo cultural, e utilizam a doutrina esquerdista
como o agente inoculador de seu elixir.
Constantino (2018, p. 208) afirma que é ponto pacífico que a elite capitalista tem
total interesse em concentração de poder e que o discurso esquerdista parece ajudá-
la muito nesse sentido, opinião compartilhada por Costa (2018, p. 56). Além disso,
segundo Constantino, as experiências reais demonstram que “todos os países que
implantaram o socialismo permitiram que todo o poder e riqueza se concentrassem
nas mãos de um número muito reduzido de pessoas”. Isso é mais do que suficiente
para compreender porque bilionários como os Rockefeller, os Rothschild, os Morgan,
a Fundação Ford, George Soros et caterva financiam movimentos revolucionários de
esquerda. (CONSTANTINO, 2018, p. 207).
58

Voltando a Carvalho (2017), é importante destacar que o filósofo, quando


indagado sobre as ligações obscuras entre globalismo e socialismo, afirma: “se eu
quero julgar o movimento globalista, a globalização, à luz do movimento socialista, eu
não posso fazê-lo. Por quê? Porque o movimento socialista é uma parte do próprio
movimento globalista, é uma função dele, e por ele foi criado.”
Expondo ideia semelhante, em entrevista ao grupo UOL, o professor de relações
internacionais Guilherme Casarões, da Fundação Getúlio Vargas, exprimiu o objetivo
central do governo globalista e sua aliança com o movimento socialista:

O objetivo desse governo globalista seria controlar as pessoas não


exclusivamente pela economia, mas pela aculturação e imposição de uma
cultura transnacional. As mudanças culturais não viriam de processos
revolucionários, mas da corrosão lenta dos pilares da civilização ocidental, de
matriz judaico-cristã: Deus, a nação e a família. O socialismo é instrumento de
aculturação. (apud MARCHAO, 2019).

Consolidando as ideias apresentadas acima, é oportuno visitar a interpretação


de Allen e Abraham sobre o socialismo:

[Quando] entende-se que o socialismo não é um programa de distribuição de


riqueza, mas antes, na realidade, um método de consolidação e controle da
riqueza, então o aparente paradoxo dos super-ricos que promovem o
socialismo não é mais um paradoxo de maneira alguma. Em vez disso, ele
se torna a ferramenta lógica, perfeita mesmo, de megalomaníacos famintos
de poder. (ALLEN; ABRAHAN, 2017, p. 37).

Para identificar as pautas mais importantes do movimento globalista, uma


ferramenta muito apropriada é o rastreamento de “patrocínio”. Graças ao vazamento
de documentos pelo WikiLeaks12 e pelo DC Leaks, foi possível constatar a dimensão,
ainda que parcial, das bilionárias doações para organizações, políticos e partidos de
esquerda em várias partes do mundo. George Soros doou para a Open Society nada
menos que US$ 18 bilhões. Para a campanha de Hillary Clinton à presidência dos
EUA e ao Partido Democrata, US$ 25 milhões. No Brasil, Soros financiou sites de
esquerda como o Mídia Ninja, com US$ 80 mil. A Agência Pública, do jornalista
esquerdista Leonardo Sakamoto, recebeu R$ 1 milhão. O ITS Rio, que criou o site
Mudamos.org, cujos integrantes promovem pautas como a regulação da internet, a
liberação de drogas e desmilitarização da polícia, recebeu US$ 350 mil. O Instituto

12WikiLeaks é uma organização transnacional, sem fins lucrativos, sediada na Suécia, que publica
documentos, fotos e informações confidenciais vazadas de governos ou empresas, sobre assuntos
sensíveis. O DC Leaks é um website com vocação similar ao seu congênere sueco. (BBC, 2019).
59

Igarapé, que promove políticas sobre drogas, recebeu R$ 670 mil. O Projeto Alerta
Democrática, que conta com a participação do ex-Deputado Jean Wyllys, recebeu
mais de US$ 510 mil. O Movimento Viva Rio, atuante na liberação do uso de drogas,
recebeu US$ 107 mil. O Instituto Fernando Henrique Cardoso recebeu mais de
US$ 110 mil. (GARSCHAGEN, 2017).
David Horowitz (já citado na seção 4.2.1 Uma Trindade Globalista) em seu livro
The New Leviathan (O Novo Leviatã, em referência ao clássico de Thomas Hobbes),
teve o ímpeto de levantar e contabilizar as doações (rastreáveis) de empresas para
os movimentos de esquerda e para os movimentos de direita nos EUA. Para surpresa
de ninguém, as diferenças são abissais. Para os movimentos de direita, US$ 32
milhões. Para os movimentos de esquerda, a impressionante quantia de US$ 3 bilhões.
Numa conta aproximada, pode-se afirmar que para cada 1 dólar doado para causas
conservadoras, são doados 100 dólares para as progressistas. (BRASIL, 2014).
Seguindo o dinheiro, fica fácil perceber de que lado estão os grandes donos do
capital. Uma vez nomeadas as organizações e pessoas que concentram as verbas
para promover ideias, basta apenas identificar as ideias promovidas pelas mesmas.
Segundo Brasil (2014), destaca-se a promoção de pautas como: direitos humanos,
redistribuição de renda, promoção de assistencialismo social, flexibilização de
fronteiras e facilitação da imigração, cortes em orçamentos militares, ambientalismo,
ativismo feminista radical, concentração de poder em organismos supranacionais,
legalização do uso de drogas, eutanásia, aborto, patrocínio a movimentos
revolucionários insurgentes (por exemplo, na Eslováquia, Croácia, Sérvia, Geórgia e
Ucrânia) e o recrutamento e treinamento massivo de candidatos a cargos eletivos,
militantes ativistas e lobistas. Da coletânea de assuntos citados pelos demais autores
que estudam o fenômeno, acrescentam-se, ainda, o proselitismo homossexual, o
poliamor (relacionamentos adúlteros consentidos), a prostituição, a educação sexual
infantil, a ideologia de gênero, a promoção das políticas de cotas, o desarmamento da
população, a extinção das Polícias Militares e a diminuição do encarceramento.
O resultado da soma dessas pautas não pode ser outro, senão o caos. Por isso
Costa (2018, p. 82) reproduz uma famosa frase de David Rockefeller, proferida num
jantar com embaixadores das Nações Unidas: “Tudo o que necessitamos é uma
grande crise, e as nações não apenas aceitarão a Nova Ordem Mundial, mas pedirão
por ela”.
60

A agenda do Globalismo é moldada, portanto, para agir sobre alguns pontos


centrais, pilares da cultura ocidental, que Constantino (2018, p. 207) aponta
categoricamente: a destruição da família como Célula Mater social (e principal
resistência ao totalitarismo estatal), a eliminação [relativa] do direito de propriedade e,
por fim, a extinção do que Marx chamava de “ópio” do povo: a religião. No ponto de
vista do autor, não é difícil perceber que há um ataque sistemático a esses pilares que
vem sendo desencadeado há décadas.
A agenda do progressismo implantado no Brasil (e financiada pelo grande capital)
é muito similar às agendas de outras nações, o que nos leva a inferir que, por trás de
um discurso único, existe uma centralização de comando dessas investidas em escala
global. Para materializar essa afirmação, é oportuno observar o artigo denominado
Liberal Democracy vs. Transnational Progressivism: The Future of the Ideological Civil
War Within the West (Democracia Liberal versus Progressismo Transnacional: o
Futuro da Guerra Civil ideológica dentro do Ocidente, tradução nossa), de John Fonte,
presidente do Hudson Institute (um think tank conservador estadunidense fundado em
1961). O autor nos apresenta argumentos de fontes primárias que demonstram como
ONG’s e entidades transnacionais de promoção dos direitos humanos estão
literalmente destruindo a soberania dos EUA, desagregando o tecido social e
promovendo ações para a submissão dos Estados-Nação a um governo soberano
mundial. A face globalista do progressismo transnacional é clara para Fonte:

Defensores transnacionais argumentam que a globalização requer alguma


forma de “governança global” transnacional, porque eles acreditam que o
Estado-Nação e a ideia de cidadania nacional são inadequados para lidar
com os problemas globais do futuro. (FONTE, 2002, tradução nossa).

Cerca de cinquenta entidades, das quais se destacam a Anistia Internacional, a


Human Rights Watch, o Instituto Árabe-Americano, o Conselho Nacional de Igrejas,
entre outras, participaram de uma Conferência de Liderança sobre Direitos Civis, no
ano de 2001. Incapazes de alcançar seus objetivos pelas vias democráticas legais
estadunidenses, redigiram uma carta ao Comissário de Direitos Humanos da ONU
apelando por interferência supranacional.
Essas mesmas organizações, a fim de participar de uma conferência das Nações
Unidas contra o racismo, receberam apoio financeiro da Fundação Ford e Rockefeller.
O resultado foi um documento reivindicando reparação das nações ocidentais pelo
comércio de escravos dos séculos XVII ao XIX, além de uma série de exigências,
61

como: reconhecimento por parte dos EUA do “racismo institucional” de todas as


instituições; a declaração de que o racismo é corruptor do sistema de justiça criminal;
a expansão da legislação contra crimes de ódio; a promoção da política de cotas; o
reconhecimento do padrão de vida estadunidense como um direito, não um privilégio;
a promoção do multilinguismo em substituição ao idioma inglês e o reconhecimento
do sistema capitalista de livre-mercado como falho.
No mesmo artigo, Fonte (2002) nos apresenta os conceitos-chave do
progressismo transnacional que afligem os EUA. Sua análise mostra as principais
ações sobre a cultura, a ideologia e a filosofia ocidentais, das quais destacam-se:
divisão social por raça, etnia e gênero; exploração da dicotomia “opressor x oprimido”;
proporcionalidade étnica e de gênero em todas as profissões; superação da cultura e
visão de mundo “branca, anglicana e masculina”; partilha do poder democrático entre
grupos étnicos, reescrevendo as noções de democracia; desconstrução das narrativas
nacionais e dos símbolos nacionais; e a promoção do “multiculturalismo” e da
cidadania “pós-nacional”.
John Fonte termina o artigo abordando a teoria do choque de civilizações, de
Samuel Huntington, destacando a luta entre um mundo democrático e outro
antidemocrático, além de ampliar o conceito geopolítico propondo uma nova dimensão
para a política internacional do século XXI: o conflito dentro de uma zona democrática
(Ocidente) entre forças democráticas e progressistas. Para deter esse poderoso
movimento, que ameaça regimes constitucionais, liberais e democráticos, o autor
apresenta ferramentas disponíveis, como o controle de fronteiras, a assimilação
cultural por parte dos imigrantes, o ensino de educação-cívica nas escolas públicas e
o estabelecimento da narrativa patriótica na cultura popular.
Apesar de ter sido redigido há mais de quinze anos, o artigo mostra-se bastante
atual e corrobora com o sentimento majoritário da população estadunidense, que
conduziu a vitória eleitoral do Presidente Donald Trump, cuja campanha se apoiava
em pautas que propunham a superação dos desafios descritos por John Fonte.
Assim como a eleição de Trump nos EUA, toma palco na Inglaterra um
fenômeno de reação antiglobalista, nacionalista e conservadora, como se atesta na
obra de Constantino (2018, p. 200). Este fenômeno pode ser materializado pela
iniciativa, apoiada pela população em referendo de 2016, de saída do Reino Unido da
União Europeia, o tão falado Brexit (British Exit). Só o globalista Soros doou quase
R$ 2 milhões para campanhas contra o Brexit (O GLOBO, 2018a). De acordo com
62

Constantino, observam-se analistas e parte da imprensa acusando o Brexit de atacar


a globalização, o que, na visão do autor, é um erro elementar. Para justificar a sua
posição, o economista aborda o Globalismo como o poder mundial centralizado numa
elite intelectual e financeira. A União Europeia, como organização supraestatal que
abarca dezenas de países, é, justamente, um exemplo de antiglobalização, uma vez
que estabelece barreiras protetivas contra o livre mercado. Com este ponto de vista,
ao contrário do que propõe parte da mídia, o Brexit significa mais globalização, e não
o contrário (como o caso das negociações do Mercosul com a União Europeia, que se
arrastaram por quase 20 anos). (CONSTANTINO, 2018, p. 203).
Fazendo um paralelo com o Brasil, é oportuno voltar-se para o que se pode
chamar de “ponto de inflexão” da reação conservadora nacional. De acordo com Pinto
(2017), a reação ostensiva da população brasileira contra a esquerda teve sua estreia
nas grandes manifestações de 2013, contra o governo PT, e seu um estopim ocorreu
no jogo que marcava a abertura da Copa do Mundo de 2014, quando a então
Presidente Dilma foi, diante de espectadores de todo o mundo, enfaticamente vaiada.
A partir desse momento, houve um perceptível deslocamento de discurso para a
direção conservadora, até então dominado por posições de esquerda.
Infere-se, parcialmente, que a sociedade recebe um ataque maciço de pautas
progressistas, financiadas com dinheiro dos grandes capitalistas, que exercem
domínio artificial das narrativas políticas, das escolas, das academias, das artes, da
imprensa e dos movimentos sociais. Suas investidas tentam destruir a ligação entre
as gerações para interromper a transmissão de credos e valores, substituindo-os por
ideologias coletivistas e estatistas. Diante desse cenário, a população brasileira está
se organizando e reagindo contra a onda globalista, contra a inversão de valores e a
favor do nacionalismo, da família e da religião. Este movimento fica autenticado pela
“guinada à direita” que elegeu o Capitão Jair Bolsonaro e o Congresso mais
conservador das últimas quatro décadas. (QUEIROZ, 2018).
63

5 MARXISMO E CULTURA

Para a compreensão adequada e progressiva do assunto central desta seção,


julga-se oportuno começar definindo o socialismo e o comunismo, para, na sequência,
abordar o marxismo. Posteriormente, de posse dos conceitos básicos do marxismo,
será apresentada a sua vertente predominante no ocidente, a qual dissociou-se da
vertente russa: o marxismo ocidental e a sua marcante expressão cultural. No
desenvolvimento desta seção será percebido como todos os conceitos acima se
entrelaçam e se complementam.
Lança-se mão do Dicionário de Política de Norberto Bobbio para o
esclarecimento dos termos supracitados, começando pelas definições de socialismo.
Bobbio (1998, p. 1206 e 1207) o define como um programa político das classes
trabalhadoras, de múltiplas variantes, cuja base comum está fundamentada na
propriedade estatal dos meios de produção, no direito à propriedade privada
fortemente limitado, com recursos econômicos sob controle das classes trabalhadoras,
cuja gestão tenha por objetivo promover a igualdade social por meio da intervenção
dos poderes públicos.
Segundo Bobbio (1998, p. 1207) desde a década de 1840 já se utilizava o termo
socialismo como equivalente ao comunismo, pelo fato de indicarem variações
diversas de movimentos que denunciavam as condições da classe proletária no
período de desenvolvimento da sociedade industrial, se opondo ao liberalismo político
e econômico e ao individualismo. Ambos apresentavam um projeto de reconstrução
da sociedade em bases comunitárias, a ser alcançado por meio revolucionário.
Bobbio afirma que, nas origens, toda a fração da classe operária que estava
convencida da insuficiência das revoluções unicamente políticas e reivindicava a
necessidade de uma transformação geral da sociedade, se dizia comunista. Na
concepção de mundo coletivista, a transição da sociedade capitalista, baseada na
propriedade privada, ao modelo comunista, deveria se dar por meio da tomada de
poder pelo proletariado, instaurando-se uma ditadura, sob a qual seria promovido um
período de transição com relativa participação da renda e parcial sobrevivência da
forma mercatória dos produtos e do trabalho. Numa segunda fase, seria promovida a
completa extinção da divisão de classes e da forma mercatória, período no qual todo
o domínio político desapareceria e a repartição do produto social se realizaria de
acordo com as “necessidades”. (Ibidem, p. 1208). São justamente essas duas fases
64

que a tradição marxista denominou, respectivamente, de socialismo e comunismo,


dando ao primeiro o significado de sociedade transitória a caminho de um modo de
produção integralmente comunista.
De acordo com Santos (1964, p. 17) o socialismo, em sentido amplo, é o sistema
daqueles que pretendem reformar a sociedade pela incorporação da comunhão dos
meios de produção (terras, fábricas etc.). Para o autor, o socialismo é uma fase
revolucionária que colocará fim à sociedade organizada à base da propriedade
privada e permitirá a instauração da ditadura em nome dos proletariados, a fim de
socializar os meios de produção.
Infere-se, portanto, que o socialismo pode ser entendido como uma fase, um
modelo de organização social temporária que ligaria um mundo baseado na
exploração da classe trabalhadora, controlado pelo capital, a um mundo sem classes
sociais, com plena divisão de bens e livre do Estado, como pode ser lido em Bobbio:

O Estado em que a classe dominante é o proletariado não é, então, um


Estado como os demais, porque está destinado a ser o último Estado: é um
Estado de "transição" para a sociedade sem Estado. [...] O Estado de
transição, enfim, se caracteriza por dois elementos diferentes que não podem
ser confundidos: ele, apesar de destruir o Estado burguês anterior, não
destrói o Estado como tal; todavia, construindo um Estado novo, já lança as
bases da sociedade sem Estado. (BOBBIO, 1998, p. 743).

Esta visão romântica do socialismo, entretanto, ficou apenas nas páginas dos
livros e na mente dos marxistas utópicos. A realidade mostrou que os resultados do
agigantamento do Estado e da intervenção total na economia sempre geraram
catástrofes humanitárias, desde a sua primeira experiência, na URSS, até os dias
atuais. As barbáries podem ser lidas no Livro Negro do Comunismo: Crimes, Terror e
Repressão, que aponta os aproximadamente 100 milhões de mortos por regimes
comunistas no mundo. A obra foi lançada em 1997, na França, e conta com mais de
900 páginas de provas referenciadas que demonstram que o assassinato em massa
era uma ferramenta dos governos de inspiração marxista para imporem a sua visão
de mundo. Como disse o ideólogo comunista Antonio Gramsci (apud Gordon, 2017,
p. 79) “se o povo não confia no governo, ou no partido, restava a este dissolvê-lo.” Ou
seja: nas democracias, quando um governo não atende as aspirações da população,
muda-se o governo. No Comunismo, “fica o governo e muda-se o povo”.
Santos (1964, p. 18) apresenta uma sucinta e concreta definição de comunismo
como um “sistema de poder totalitário no qual uma casta burocrática e privilegiada,
65

reunindo todos os instrumentos de poder nas mãos, possui ao mesmo tempo os meios
de produção e de troca e todos os meios de enquadramento político e cultural.”
Leitura equivalente foi feita por Voslensky (1980), em sua obra A Nomenklatura13:
como vivem as classes privilegiadas na União Soviética. Essa elite, que o autor chama
de “classe parasitária”, vivia na mais absoluta suntuosidade. Seus luxos incluíam as
mais opulentas moradias, limusines, restaurantes, clínicas, centro de repousos
especiais etc. É importante ressaltar que todos esses “benefícios” eram desfrutados
quase gratuitamente, enquanto a Nomenklatura, de posse do monopólio do poder
político, econômico e ideológico, ordenava a execução de opositores e assistia a
sociedade soviética morrer de fome ou ser explorada nos campos de concentração e
de trabalho forçado. Interpretação idêntica à de Voslensky se lê em Constantino (2018,
p. 207), quando o autor afirma que as experiências reais demonstram que todos os
países que implantaram o socialismo permitiram que o poder e riqueza se
concentrassem nas mãos de um número muito reduzido de pessoas.
Voltando-se à implantação do regime, é importante ressaltar que as tais
“Revolução” e “Ditadura do proletariado” teriam objetivos bem definidos, de modo que
a sociedade pudesse efetuar a transição para o comunismo. Skousen (2018, p. 59)
apresenta esses objetivos, obtidos por meio do estudo da conhecida obra O Manifesto
Comunista: derrubar o capitalismo; abolir a propriedade privada; eliminar a família
como unidade social; abolir todas as classes sociais; derrubar todos os governos; e,
enfim, estabelecer a ordem comunista numa sociedade sem classes e sem Estado.
Nesse contexto, destaca-se que o globalismo é o sucessor natural do Movimento
Comunista internacional. Igualmente implacável com concorrentes e opositores, é a
melhor ferramenta para centralizar poder nas mãos de cidadãos não eleitos,
autoungidos, que pretendem conduzir a humanidade na direção de seus devaneios e
caprichos. (Christopher Buskirk, apud BRASIL, 2019b).
De posse destes conceitos sintéticos de socialismo e comunismo, torna-se mais
acessível o estudo da teoria marxista e a percepção de como as ideias de Marx estão
indissociavelmente conectadas às visões de mundo do movimento socialista/
comunista, que podem ser tratados de forma generalizante como marxismo, um
verbete bastante utilizado no mundo contemporâneo para se referir genericamente às
teorias coletivistas anticapitalistas, como poderá ser visto a seguir.

13 Nomenklatura, uma palavra de origem russa, é usada para designar a "burocracia", ou a "casta
dirigente" da URSS, composta por altos funcionários do seu Partido Comunista (PC), trabalhadores
com cargos técnicos, artistas e outras pessoas que gozavam da simpatia do PC. (VOSLENSKY, 1980).
66

5.1 MARX E SUA IDEOLOGIA

Karl Marx foi um teórico alemão, nascido em 1818, que se dedicou ao desenho
de teorias e ideais sobre o socialismo. Marx teria combinado conceitos em um sistema,
criando o socialismo científico, que se chama hoje de marxismo (MISES, 2016, p. 23).
Bobbio (1998, p. 738) define esse sistema como um conjunto de ideias e teorias sobre
concepção de mundo, vida social e política produzido por Karl Marx com a
colaboração de Friedrich Engels, que se manifesta de diversas formas, com base nas
diversas interpretações dos pensamentos de seus autores. Do exposto, infere-se que
o marxismo pode ser entendido, sucintamente, como uma versão teórica de
organização social amalgamada pelos preceitos utópicos fundamentais do socialismo
e do comunismo, produzindo uma visão (diversificada e mutante) de transformação
do mundo pela via revolucionária.
Segundo Pipes (2014, p. 22) o marxismo propõe que o capitalismo
inexoravelmente produziria o socialismo, pois a tendência do sistema baseado na
exploração do trabalho seria o colapso. A doutrina de Marx, contudo, não é de fácil
digestão, como observa Pipes. Os escritos reunidos na magnum opus de Karl Marx,
O Capital, contabilizam mais de mil e quatrocentas páginas de uma leitura densa,
técnica e difícil. Poucas pessoas concluíram esse desafio. (Ibidem, p. 20).
O plano de dominação global, por sua vez, encontra nas obras de Karl Marx as
ferramentas fundamentais para êxito. Em essência, percebe-se que o Manifesto
Comunista, uma obra histórica e proeminente de Marx, afirma que a revolução
proletária estabeleceria a ditadura socialista e, a fim de permitir a construção dessa
ditadura, três objetivos críticos [já citados, mas oportuno repeti-los] deveriam ser
alcançados: eliminar o direito à propriedade privada, dissolver a unidade familiar (raiz
de toda a desigualdade) e destruir o ópio do povo, a religião. Depois de derrubados
os três pilares em todo o mundo, o Estado totalitário desapareceria abrindo espaço
para o comunismo, quando governo algum seria necessário. Neste mundo comunista,
“tudo seria paz, doçura e luz, e todos viveriam felizes para sempre.” (ALLEN;
ABRAHAM, 2017, p. 28 e 29).
Allen e Abraham (2017, p. 126 e 127) afirmam que o controle de preços e salários
é o coração do socialismo, pois seria impossível implementar um governo totalitário e
escravizar um povo que goza de liberdade econômica. Controlar preços e salários é
controlar pessoas. Os autores apresentam uma prospecção simplificada sobre como
67

se alcançariam os objetivos globalistas. O primeiro passo é a implementação de


medidas de controle econômico e social de naturezas diversas, criando nações
socialistas para, na sequência, uni-las e submetê-las a um governo mundial. A
estrutura globalista se refere a este supraestado mundial como a “Nova Ordem
Mundial”.
Este governo mundial sempre foi um objetivo comunista, o que pode ser
confirmado pela proposta de Lênin em 1915, de criar os “Estados Unidos do Mundo”
e corroborado em 1936 pelo programa da Internacional Comunista, o qual afirmava
que uma ditadura mundial só poderia ser alcançada pela vitória do socialismo em
diferentes países, fenômeno após o qual as Repúblicas do Proletariado se uniriam e
expandiriam, formando finalmente a União Mundial das Repúblicas Socialistas
Soviéticas. (ALLEN; ABRAHAM, 2017 p. 127).
No ano de 1960, Elliot Goodman, professor da Brown University, EUA, lançou a
obra O Plano Soviético de Estado Mundial. Nas suas mais de 500 páginas, o autor
demonstra, com farta referência de fontes primárias, como o Estado Mundial era um
explícito objetivo soviético, como se lê nas palavras de Lenin:

O movimento socialista não pode ser vitorioso dentro da velha estrutura de


pátria. Ele [o socialismo] cria novas e mais altas formas de vida humana sob
as quais as maiores aspirações e tendências progressistas das massas
trabalhadoras de todas as nacionalidades serão amplamente satisfeitas
numa unidade internacional, enquanto se destroem as atuais barreiras
nacionais. [...] Os Estados Unidos do Mundo é a forma estatal de
unificação e liberdade das nações que identificamos com o socialismo.
(LENIN, 1875, apud GOODMAN, 1965, grifo nosso).

O próprio Josef Stalin, ditador soviético de 1927 a 1953, por ocasião do


congresso de sovietes de 1922, disse: “Hoje é um dia de triunfo para a nova Rússia
que [...] reuniu em torno de si os povos das Repúblicas Soviéticas, a fim de uni-los
num Estado único, a URSS, protótipo da futura República Socialista Soviética Mundial.”
(STALIN 1922, apud GOODMAN, 1965, p. 54). Tal aspiração foi ratificada pela
Constituição da URSS de 1924, que previa a fusão de todas as Repúblicas Soviéticas
num grande Estado Mundial. (Ibidem).
A ideia de Revolução violenta de modelo marxista-leninista, após diversos
fracassos em tentativas de execução em grandes nações europeias, mostrou-se
penosa e ineficiente, dando lugar à revolução cultural, que veremos mais adiante, na
seção Marxismo Cultural. Os passos dessa nova revolução, a cultural, são lentos,
progressivos e, na maioria das vezes, mascarados por falsos objetivos, para obter
68

simpatia popular. As ações acontecem até mesmo com manobras para viabilizar o
aumento de impostos, uma forma “legal” de o governo apropriar-se do patrimônio de
sua população. Fazendo relação da tributação com o modus operandi socialista,
aborda-se o livro Ação Humana, de Mises (2010, p. 909), o qual afirma que toda forma
de confisco de propriedade é uma forma de coerção. Uma coerção exercida
exclusivamente pelo Estado por meio do emprego de força repressiva.
Muitos economistas além de Mises afirmam que um estado socialista, por sua
própria natureza, corroeria os direitos de seus cidadãos, em decorrência do aparelho
repressor e coercitivo de controle absoluto sobre os bens. Este é o caso do
economista americano Milton Friedman, o qual, em sua obra Capitalismo e Liberdade,
de 1962, afirma que no socialismo, a ausência de uma economia de livre mercado
levaria inevitavelmente a um regime político autoritário. Em suma, Friedman afirma
que a liberdade econômica é uma prerrogativa para se obter a liberdade política.
As impressões de Milton Friedman também são compartilhadas por Friedrich
Hayek, laureado com o Prêmio Nobel de Economia em 1974. Em seu livro
denominado O Caminho da Servidão, de 1944, observa-se que, assim como Friedman,
Hayek reputava ao capitalismo a pré-condição para a liberdade florescer em um
Estado-Nação. A obra de Hayek tem como tese central que todas as formas de
coletivismo, como o socialismo bolchevique ou o nacional-socialismo nazista, levam
invariavelmente à tirania e à supressão das liberdades individuais, como pôde ser
observado em período posterior à sua obra no regime comunista da União Soviética
e em outros países controlados por regimes de esquerda.
Hayek fornece uma articulada fundamentação de que as liberdades econômicas
e políticas são vinculadas uma a outra. O autor defende, ainda, que um sistema
econômico centralizado nunca conseguiria alcançar a bonança financeira prometida,
o que faria com que o governo, passo a passo, concentrasse cada vez mais poder
para interferir profundamente na economia. Os repetidos fracassos gerariam
“culpados” que só poderiam ser derrotados com mais intervenção e mais poder estatal.
Deste modo se desenharia perfeitamente o círculo vicioso que conduz os países
fatalmente ao totalitarismo.
É interessante fazer um breve paralelo com o regime chavista na Venezuela, sob
as rédeas de Nicolás Maduro, que atravessa exatamente o cenário previsto por Hayek.
Como prova da situação, o Fundo Monetário Internacional (FMI) projetou no World
Economic Outlook (Panorama Econômico Mundial) de abril de 2019, dados
69

dramáticos para a economia venezuelana, com inflação de 10.000.000% (dez milhões


porcento), desemprego na casa de 44% (quarenta e quatro porcento) e retração do
PIB de 25% (vinte e cinco porcento) no ano corrente (2019).
Outro ponto comum entre Hayek e Mises é o fato de ambos terem comprovado
tecnicamente que é impossível efetuar cálculos econômicos no sistema socialista,
visto que a abolição da propriedade privada dos meios de produção geraria uma
economia sem sistema de preço. Já no ano de 1922, Mises apresentou a sua tese por
meio do livro Socialismo: uma análise econômica e sociológica. A obra demonstrou e
comprovou que o socialismo é insustentável, pois é incapaz de resolver o problema
do cálculo econômico.
Esta simbiose entre controle econômico e repressão política e social também foi
abordada pelo diplomata e membro da Academia Brasileira de Letras, José Guilherme
Merquior, um grande crítico do marxismo. Dentre as suas principais obras, destaca-
se O Marxismo Ocidental, de 1986. Essa obra, premiada internacionalmente, foi eleita
o livro do ano pelo Financial Times e foi considerada como uma publicação
devastadora do comunismo cultural, vindo a receber elogios de diversos críticos
nacionais e internacionais. (É REALIZAÇÕES, 2019). Merquior nos apresenta os
pensadores e pensamentos de esquerda que não estavam institucionalmente
envolvidos com o regime soviético e optaram por desistir dos princípios econômicos
marxistas e se concentrar em temas culturais, como fizeram a Escola de Frankfurt e
Antonio Gramsci.
De acordo com o diplomata, o socialismo marxista, e muito especialmente o
praticado pelos regimes comunistas, sempre refletiu esse menosprezo pelos direitos
civis. Merquior apresenta sua ideia sobre liberdade civil e socialismo de modo claro:

Em Lenin, a indiferença de Marx para com a liberdade civil torna-se


verdadeira hostilidade aos direitos civis e políticos. Hoje, ninguém mais
duvida de que nos regimes comunistas, ninguém consegue, ou tenta, tornar
compatíveis socialismo e democracia. (MERQUIOR, 1987).

Ainda dentro do estudo do marxismo, em artigo denominado Socialismo e


Liberalismo, de 1987, Merquior afirma que o socialismo, em suas origens ideológicas
e intelectuais, era uma teoria econômica, e não política. Foi com Marx que a teoria se
politizou e potencializou a sua veia revolucionária. Sobre Marx, Merquior afirma que o
alemão e sua doutrina nunca valorizaram os direitos civis e chegavam mesmo a
condená-los. Para o diplomata, o marxismo tem o comportamento de uma seita e
70

sempre refletiu o total menosprezo aos direitos de expressão e ao livre pensar.


(MERQUIOR, 1987).
O comportamento anti-humano, intolerante e opressivo do marxismo e de seus
seguidores pode ser observado com nitidez e sintetizado nas palavras de Mauro Iasi,
integrante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e professor da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ). Palestrando no 2° Congresso Nacional da Central Sindical
e Popular (CSP) no ano de 2015, Iasi abordava o avanço do conservadorismo no
Brasil, quando recitou de forma adaptada o poema Perguntas a um homem bom, de
Bertolt Brecht, para expressar suas ideias sobre o diálogo com pessoas “de direita”:

É assim que nós enfrentaremos os conservadores. E como será o nosso


diálogo? [...] alguém tentava argumentar com os trabalhadores que tinha
ideias de direita mas era uma pessoa boa [...] Nós sabemos que você é nosso
inimigo, mas considerando que você, como afirma, é uma boa pessoa, nós
estamos dispostos a oferecer a você o seguinte: um bom paredão, onde
vamos colocá-lo na frente de uma boa espingarda, com uma boa bala, e
vamos oferecer depois uma boa pá e uma boa cova. Com a direita e o
conservadorismo, nenhum diálogo: luta! (PENSADOR DIGITAL, 2015, grifo
nosso).

O terror como ferramenta comunista foi perturbadoramente assumido pelo


guerrilheiro revolucionário Ernesto Guevara, ou Che Guevara, que transformou Cuba
num país socialista ao lado de Fidel Castro em 1959. Em discurso realizado na
Assembleia Geral das Nações Unidas em 1964, o assassino afirma ao microfone:
“Nosotros tenemos que decir aquí lo que es una verdad conocida y la hemos
expresado siempre ante el mundo: fusilamientos, sí, hemos fusilado; fusilamos y
seguiremos fusilando mientras sea necesario. ¡Nuestra lucha es una lucha a muerte!”.
(AZEVEDO, 2013).
De fato, um exame atento das obras de Karl Marx já seria o suficiente para
perceber que todo o terror e misérias dos regimes comunistas são consequências
incontornáveis da própria lógica interna da teoria marxista. Marx, Engels, Lenin e Mao,
“em pessoa reconheceram isso inúmeras vezes, enaltecendo o genocídio e a tirania
como parteiros da história”. (CARVALHO, 2018, p. 121 e 319). Como disse
Christopher Buskirk, no Seminário Globalismo, todos os regimes tiranos retiraram
autoridade da igreja e da família, concentrando sobre o Estado o poder absoluto sobre
os indivíduos. Os entes do trinômio Estado-Igreja-Família não podem usurpar as
autoridades uns dos outros, ao contrário, devem se apoiar mutuamente para promover
o bem-estar do povo. (BRASIL, 2019b).
71

5.2 MARXISMO CULTURAL

Durante a Primeira Guerra Mundial o marxismo viveu uma crise existencial,


quando parte dos trabalhadores do mundo se uniu e pegou em armas por questões
nacionalistas e movidos por interesses burgueses, derrubando a teoria de luta de
classes elaborada por Marx e criando uma urgente necessidade de o marxismo se
reinventar. (RICARDO, 2012). Na verdade, praticamente todas as previsões de Marx
se revelaram incorretas, como ficou evidenciado durante sua vida e,
incontestavelmente, após a sua morte. (PIPES, 2014, p. 24 e 25).
Além da postura dos proletários diante das questões atinentes à I Guerra Mundial,
o comunismo encarou diversas e infrutíferas tentativas de se expandir pelos países
capitalistas desenvolvidos da Europa, como previa a teoria de Marx. Diante de tantos
fracassos, os ideólogos socialistas concluíram que não era a teoria que estava errada,
mas sim a mente dos proletários. Nesse contexto, segundo Ricardo (2012), dois
grandes pensadores se dedicaram a responder à pergunta que inquietava a esquerda:
quem alienou os trabalhadores e os fez lutar uns contra os outros? Dois dos principais
nomes que se dedicaram ao estudo dessa questão são o italiano Antonio Gramsci e
o húngaro Georg Lukács. De acordo com o resultado de suas reflexões, a cultura
ocidental seria a culpada pelo fracasso comunista e, portanto, deveria ser destruída.
A revolução proletária teria logrado êxito na Rússia pois a mesma não estava
contaminada pela cultura ocidental o suficiente para resistir. Sobre a cultura ocidental
e a sua importância para o mundo civilizado, assim falou o Papa Bento XVI14:

A cultura da Europa nasceu do encontro entre Jerusalém, Atenas e Roma, do


encontro entre a fé no Deus de Israel, a razão filosófica dos Gregos e o
pensamento jurídico de Roma. Este tríplice encontro forma a identidade
íntima da Europa. Na consciência da responsabilidade do homem diante de
Deus e no reconhecimento da dignidade inviolável do homem, de cada
homem, este encontro fixou critérios do direito, cuja defesa é nossa tarefa
neste momento histórico.

Fruto dos escritos de Gramsci durante o período em que esteve preso (Cadernos
do Cárcere), criou-se uma ideologia de viés esquerdista chamada de Gramscismo.
Pouco antes de Gramsci, Lukács, um dos fundadores do Instituto de Pesquisa Social
no qual surgiu a Escola de Frankfurt, reconhecia que a revolução não teria êxito na

14Discurso de Bento XVI na visita ao Parlamento Federal no Palácio do Reichstag de Berlim, proferido
no dia 22 de setembro de 2011.
72

Europa enquanto a cultura ocidental não fosse destruída. Lukács é considerado um


símbolo condensado da Nova Esquerda, autor da célebre pergunta “quem nos salva
da civilização ocidental?” (Gordon, 2017, p. 45). Em Gramsci e em Lukács, a fatalidade
e a vontade histórica alinham-se sob o símbolo de uma teleologia redentora. Ambos
os filósofos foram profundamente influenciados pelo apelo romântico anticapitalista
exacerbado pelo trauma da I Guerra Mundial. (TISMANEANU, 2015, p. 157).
Como se lê em Carvalho (2018b), o marxismo vingava-se de seu próprio
fracasso por meio da autoinversão: “em vez de transformar a condição social para
mudar as mentalidades, iria mudar as mentalidades para transformar a condição
social”. Complementando as deduções sobre Lukács, Tismaneanu reconhece que:

Lukács passou a ser um dialético do marxismo revolucionário, o fundador de


fato do que haveria de coagular-se como marxismo ocidental, o oposto do
marxismo soviético. Era o marxismo dos heréticos, dos perdulários, dos
apaixonados pela utopia (como oposto da ideologia), de um radicalismo que
não esquecia o homem, e se importava com os suplícios da subjetividade.
(TISMANEANU, 2015, p. 156).

De volta a Ricardo (2012), em interpretação idêntica à de Costa (2018, p. 24 e


25), verifica-se que os ideólogos comunistas diagnosticaram que essa tal “cultura
ocidental” se mantinha erguida por um tripé, já citado acima por Bento XVI, que
deveria ser derrubado: a filosofia grega, o direito romano e a moral judaico-cristã. Fruto
dessa constatação, surge a corrente de pensadores socialistas apartados dos
marxistas soviéticos e, a propósito, rejeitados por muitos deles, sendo considerados
heréticos e até mesmo, não-marxistas. Esse novo marxismo, reinventado pelos
filósofos e pensadores europeus, nasceu do estudo aprofundado da sociedade
ocidental, sobretudo europeia, e recebeu do grande defensor do comunismo soviético,
o filósofo francês Maurice Merleau-Ponty, a alcunha de “Marxismo Ocidental”.
A migração dessa linha de estudos sociais marxistas para a Europa se deu com
a ascensão de Stalin ao poder soviético. Sob o novo comando, a sociologia passou a
ser considerada uma “ideologia burguesa”, sendo excluída da vida acadêmica e
intelectual. Essa linha de pensamento também foi imposta aos países do leste
europeu, tendo sido adotada igualmente na China, onde a sociologia foi abolida nas
universidades e institutos de pesquisa em 1952. Essa censura explica porque a
sociologia marxista, com predomínio dos estudos culturais e em franca oposição à
bolchevique, só conseguiu sobreviver fora da URSS. (BOTTOMORE, 2012, p. 266).
73

Depois do marxismo clássico e do marxismo soviético, estava, então, inaugurada


mais uma forma de marxismo, que não falava de revolução proletária e tampouco
sobre nenhuma forma de violência (aberta). Devido à sua abordagem
predominantemente cultural da implantação do socialismo, ao invés da violenta veia
revolucionária de modelo soviético, o marxismo ocidental é também chamado de
Marxismo Cultural. (RICARDO, 2012).
De acordo com Bottomore (2012, p. 156 e 157), considera-se que o marxismo
ocidental começou com as produções intelectuais de Lukács e Gramsci, os quais
serão estudados adiante. Esses dois autores marcaram o início de uma tradição que
se mostrou muito interessada pelas questões culturais. De fato, a dimensão cultural é
crucial para o projeto marxista, com especial importância para o marxismo ocidental.
Bottomore também afirma que alguns autores identificam essa tendência específica,
e a chamaram de marxismo “culturalista.” Acerca da ascensão do marxismo cultural,
Bragança manifesta suas impressões no artigo Evolução do Marxismo e Involução da
Democracia, afirmando que:

Verificamos no início do século XXI como o marxismo político revolucionário


deixará de existir como partido e método político efetivo, dando lugar a duas
outras ramificações que ganharão cada vez mais força: o marxismo cultural
e o marxismo global. (BRAGANÇA, 2019, grifo nosso).

Complementando a ideia da vertente cultural do marxismo e associando-a ao


globalismo, reforça-se que muitas tentativas de revolução e implementação de
regimes ditatoriais de esquerda foram promovidas e/ou financiadas pelas mesmas
forças, como visto na seção sobre os agentes promotores do globalismo (4.2 Agentes
Promotores). O fracasso das utopias megalomaníacas dos regimes coletivistas do
século XX deixaram claro que a implementação de tais regimes não seria possível
apenas por arranjos políticos e econômicos, mas pela criação de uma nova cultura e,
por consequência, um novo homem. Tendo por base essa constatação, as forças
globalistas ampliaram e direcionaram suas forças aos aspectos culturais da sociedade,
afinal não seria possível modificar o ser humano sem antes alterar os seus valores.
Apesar de o tema da manipulação ideológica promovida pelo marxismo cultural
ter ganhado notoriedade recentemente, sua atuação no Brasil já era alvo de
preocupação há mais de 40 anos. O Vice-Almirante Luiz Sanctos Doring (então
Capitão de Fragata) publicou um artigo na Revista Marítima Brasileira em 1976, com
o título A Guerra Cultural. No artigo, o militar apresenta a concepção marxista de que
74

a política é a continuação da guerra. De acordo com o autor, a guerra cultural invertia


a ordem das etapas de dominação comunista: antes, ocupava-se militarmente o
território e tomavam-se os espíritos à força; agora, parte-se da tomada dos espíritos
para, depois, manter o regime à força.
Visando ao domínio de determinado país, a guerra cultural usa meios de toda
ordem para, através da sugestão e da coação, provocar a assimilação cultural da
população. Esta, seduzida e convencida, aceitará espontânea e tacitamente o controle
comunista. Sobre as promessas pacíficas dos Partidos Comunistas que tentam
chegar ao poder pelo voto, Doring adverte:

O endurecimento dos regimes onde os comunistas chegarem ao governo


pelo voto, põe-se como consequência lógica e inevitável da própria
irreversibilidade alardeada, que não lhes permitirá admitirem a alternância da
condução do país com os demais partidos. Vale lembrar que não se encontra,
no mundo, exemplo de governo comunista sem partido único e ditadura.
(DORING, 1976, p. 39 e 40).

Passados mais de quarenta anos, autenticam-se as palavras do Almirante como


válidas e coerentes. Basta uma panorâmica dos casos próximos ao Brasil: Cuba,
Guatemala e Venezuela. O mundo ainda não conheceu democracia que conseguiu
resistir às forças do comunismo, assim como não assistiu transição pacífica nas
nações que conseguiram se livrar do terror vermelho.
O assunto, de fato, também era uma preocupação nos países vizinhos. Em artigo
publicado na Revista Marítima Brasileira, em 1980, o General chileno Adel Edgardo
Vilas já alertava para o que era chamado de subversão cultural. Vilas afirma que o
surgimento de uma nova política neomarxista, um verdadeiro cavalo de Tróia
oferecido às nações ocidentais, firmou-se e expandiu-se pela Europa.
O General argumenta que os comunistas perceberam que seus objetivos não
poderiam ser alcançados pela via revolucionária tradicional, mas sim pela conquista
cultural da sociedade civil para, então, derrubar o status quo. Deste modo,
abandonaram as teses da ditadura do proletariado e da socialização dos meios de
produção, partindo para a conquista da hegemonia cultural, usando como ferramentas
a pornografia, o pansexualismo, o abortismo etc. Nota-se claramente que o descrito
pelo General chileno é uma vestibular descrição do marxismo cultural, baseado no
emprego das teses desenvolvidas pelo General Coutinho, em sua obra A Revolução
Gramscista no Ocidente.
75

O autor afirma, ainda, que este novo movimento marxista (hoje muito mais
conhecido) aliou-se à burguesia intelectual, ao progressismo cristão e passou a
controlar a maior parte dos meios de comunicações, das escolas e das universidades.
O General Vilas encerra o artigo alertando sobre os riscos de se acreditar num
socialismo “sem campos de concentração”, fazendo uma breve previsão: “os
resultados vêm depois e, então, não haverá tempo de reagir, nem na Europa, nem na
Hispano-américa.” (VILAS, 1980, p. 139).

5.2.1 Socialismo Fabiano

A Sociedade Fabiana é uma entidade fundada em Londres, em 1883, por um


grupo de jovens intelectuais de diversas linhas socialistas. Seu objetivo declarado era
“reconstruir a sociedade com o mais elevado ideal moral possível.” De fato, sua
missão era promover a difusão gradual do socialismo, entendido como a ferramenta
que poria fim às injustiças sociais da economia liberal, burguesa e capitalista. A ideia
central da Sociedade era a de que a transição do capitalismo para o socialismo
poderia (e deveria) ser feita por pequenas e progressivas reformas. Os fabianos
rejeitam a luta de classes, mas reconhecem, contudo, a obrigação do Estado em
promover a igualdade econômica, visto que entendem o Estado como um aparelho a
ser conquistado para promover o bem-estar social. (COUTINHO, 2010, p. 89).
O nome da Sociedade foi inspirado no General romano Quintus Fabius Maximus,
que conseguiu derrotar Aníbal na II Guerra Púnica adotando a estratégia de evitar
confrontos diretos e efetuar pequenas e graduais ações para fatigar o oponente, não
importando quanto tempo tivesse que esperar para obter a vitória. As ações de Fabius
levavam o inimigo ao cansaço, ao engano e, finalmente, à derrota. (ROCKWELL,
2016).
Inspirados pelo General romano, os fabianos promoviam as ideias marxistas de
modo lento, gradual e disfarçado. Na Inglaterra, criaram, promoveram e conduziram,
via parlamento, a maior parte das políticas sociais britânicas até o início da década de
1980. O resultado não poderia ser outro, senão uma economia em frangalhos e uma
sociedade dependente do governo. A situação só começou a ser revertida com as
medidas econômicas liberais da Primeira-Ministra Margaret Thatcher, a Dama de
Ferro. (Ibidem).
76

No ano de 1895 foi fundado o principal centro de difusão do pensamento fabiano,


a London School of Economics. Sua doutrina foi também adotada pelo Labour Party,
o Partido Trabalhista britânico, fundado em 1906. No ano de 1945 o Labour Party
chega ao poder e consegue implementar grande parte do ideário fabiano, o que corrói
a economia britânica, salva na década de 1980 graças ao capitalismo liberal, com as
medidas de Thatcher, como já mencionado. (COUTINHO, 2010, p. 90 e 91).
Até David Rockefeller era um adepto da Sociedade Fabiana, como pode ser
comprovado pela tese sobre o socialismo fabiano que o bilionário defendeu na
Universidade de Harvard, em 1936. Personalidades renomadas da intelectualidade
britânica, como Herbert George Wells e Bertrand Russel também eram representantes
fabianos e defensores da criação de um governo socialista mundial, com autoridade
soberana, cujas decisões relevantes seriam tomadas por uma burocracia técnico-
científica subordinada a uma aristocracia financeira. A razão dessa centralização
mundial seria promover o padrão mínimo de sobrevivência como direito fundamental
humano. (COSTA, 2015, p. 39). Não é preciso informação adicional para se
estabelecer uma relação direta e autêntica entre o fabianismo e o globalismo.
Os conceitos econômicos dos fabianos não são marxistas. Seus pensadores
reconhecem o desenvolvimento promovido pelo capitalismo liberal, mas não abrem
mão da intervenção do Estado em defesa do trabalhador, ao menos na melhoria da
sua qualidade de vida. As medidas iniciais de intervenção na economia incluíam
tributação progressiva sobre o ganho de capital, regulamentação salarial e elaboração
de legislações sobre condições e jornada de trabalho. Outras medidas incluem, por
exemplo, o aumento do papel do governo por meio de administração das indústrias
por estatais e na prestação de serviços públicos. (COUTINHO, 2010, p. 90). Qualquer
semelhança com a situação vigente no Brasil não é mera coincidência.
O fabianismo possui um relacionamento abrangente com toda a esquerda, além
de simpatia pela influência ideológica dos membros do governo, ainda que
conservadores, de modo a manipular a administração política do Estado. Ora
posiciona-se junto ao socialismo revolucionário, ora flerta com o capitalismo. Por essa
razão, desde 1929 o socialismo fabiano se apresenta como a Terceira Via, ou a
ideologia da social-democracia. Depois do colapso soviético e aproveitando o
fracasso do conceito de luta de classes, a Terceira Via voltou a influenciar a esquerda
desorientada. (Ibidem, p. 92).
77

Atualmente, a Sociedade Fabiana atua como um centro de discussão intelectual,


propaganda e projeção da social-democracia inglesa. Muitos de seus integrantes,
entretanto, manifestam aspiração de um Estado Mundial do tipo tecnocrático, com a
função de planejar e administrar os recursos humanos e matérias de todo o planeta.
Por essa inclinação globalista, não é por acaso que muitos fabianos estão em grandes
círculos globalistas não governamentais, como o britânico Royal Institute of
International Affairs (Instituto Real de Assuntos Internacionais), atual Chatham House
e seu congênere estadunidense Council on Foreign Relations (Conselho de Relações
Exteriores). (Ibidem, p. 91 e 92).
De acordo com Costa (2015, p. 28), como os objetivos de curto prazo coincidem,
os globalistas financiam os comunistas para subverter a sociedade ocidental. A
doutrina ideológica dos globalistas pode, em síntese, ser chamada de social-
democracia, ou socialismo fabiano. É por meio dele que a conduta humana está
sendo transformada para permitir a emersão de uma Nova Ordem Mundial totalitária
que permitirá a perpetuação dinástica dos grandes detentores do poder e do dinheiro
mundial. Um cenário bem retratado por Aldous Huxley em sua obra Admirável Mundo
Novo, de 1931.
Não por acaso o símbolo da Sociedade Fabiana é um escudo preenchido pela
imagem de um lobo envolto em pele de cordeiro. A iconografia dispensa explicações.
Até o uso da língua é dissimulado e adaptado para atenuar e ocultar os verdadeiros
objetivos das ações. Os impostos são chamados de “contribuições”, os gastos do
governo viram “investimentos”, as pessoas bem-sucedidas viram “elite privilegiada”, e
quando dizem que é preciso “mudança”, estão na verdade pedindo mais socialismo.
No Brasil, o fabianismo chegou com Fernando Henrique Cardoso, depois que o
mesmo retornou de seu refúgio político na Europa, juntamente de alguns ex-militantes
próximos, como José Serra e Mário Covas. Renovando seus votos com o socialismo,
pretendeu filiar-se à Internacional Socialista, assim como fez Leonel Brizola. No ano
de 1979, na reunião da Internacional Socialista em Viena, Brizola foi alçado à condição
de líder da social-democracia brasileira, tendo o seu discurso ouvido por Cardoso, na
plateia, como candidato preterido. Foi essa derrota que levou Cardoso a aproximar-
se do fabianismo. (COUTINHO, 2010, p. 100).
Em 1992, Cardoso levou Lula à reunião do Diálogo Interamericano (DI), outra
organização fabiana, onde foi acordada a opção de usar a via pacífica (eleitoral) para
levar a esquerda ao poder no Brasil, o que seria sustentado pelo DI. Em 1994,
78

Cardoso foi eleito presidente, passando o bastão a Lula em 2003, tendo 60% do
orçamento da União comprometido com encargos financeiros e com uma das mais
altas cargas tributárias do mundo, a despeito do bem-sucedido Plano Real. (Ibidem,
p. 101 e 103). De fato, o Governo Cardoso pouco fez pela transição para o socialismo,
mas deixou a estrada asfaltada para a caravana revolucionária do Partido dos
Trabalhadores.

5.2.2 Escola de Frankfurt

Fruto dos recorrentes fracassos das teorias marxistas, já descritas no início deste
capítulo, Felix Weil, filho de um rico comerciante, teve a iniciativa de reunir teóricos e
intelectuais marxistas num evento para discutir as diferentes tendências das ideias
socialistas. O estudo deste grupo de trabalho, reunido em 1923, partiu do fato de as
tentativas revolucionárias na Estônia, Polônia, Alemanha, Hungria e Bulgária terem
apresentado um incontestável insucesso. Um de seus integrantes expoentes, Georg
Lukács, já havia manifestado o motivo da derrota: “O movimento comunista não entra
na Europa Ocidental em virtude da cultura predominantemente cristã.” (apud
COUTINHO, 2010, p. 32).
Esse encontro foi a origem do Instituto de Pesquisa Social, associado à
Universidade de Frankfurt, na Alemanha. Seus integrantes promoviam discussões
sobre as diferentes formas de interpretar o marxismo, sem tendências de nenhuma
doutrina, nem mesmo a influente leninista. As conclusões, contudo, indicavam sempre
uma posição crítica à sociedade capitalista, ocidental e cristã, assim como uma
antipatia ao marxismo soviético. (Ibidem).
Da leitura de Bragança (2019) infere-se que a Escola de Frankfurt é o
nascedouro do Marxismo Cultural, gerado a partir de uma crítica a todos os pilares da
civilização ocidental: religião, indivíduo, família, propriedade, constituição, estado-
nação etc. Sua estratégia, segundo Bragança, baseia-se na mudança da sociedade
pela raiz, propagando versões alternativas de valores e narrativas históricas, sociais,
políticas e econômicas. Essas narrativas promovem o “combate às injustiças sociais”,
que passam a politizar e regulamentar todos os aspectos da vida humana.
Apesar de professar um marxismo não soviético, os resultados do trabalho
intelectual de Frankfurt convenceram Moscou de sua viabilidade. Os ideólogos
79

marxistas ocidentais procuraram reinterpretar os conceitos freudianos15 de modo a


desenvolver novas maneiras de compreender os problemas da alienação. A URSS
passou a conferir importância à Escola ocidental e ajudar com recursos as suas
atividades. Os russos pretendiam exportar para o mundo ocidental o modelo leninista
de uma elite intelectual radicalizada por princípios marxistas, a fim de promover a
desestabilização das economias capitalistas. (VÉLEZ RODRÍGUEZ, 2006).
Com a ascensão de Hitler ao poder, os integrantes da Escola tiveram que fugir
da Europa, refugiando-se especialmente nos EUA, onde recriaram o Instituto de
Pesquisa Social, recebendo apoio da Universidade de Colúmbia, em Nova Iorque. O
maior fruto dos ideólogos de Frankfurt foi a Teoria Crítica, um proposto teórico que
se expressa pelo desconstrucionismo, pelo existencialismo ateu e pelo pós-
modernismo, com inspiração de figuras como Jean-Paul Sartre e Michel Foucault. Sua
produção intelectual passou a exercer grande influência ideológica no âmbito das
universidades estadunidenses. (COUTINHO, 2010, p. 33).
De acordo com Carvalho (2018b, p. 207 e 208), a Teoria Crítica atribuiu ao
intelectual revolucionário a missão precípua de tudo criticar, denunciar, corroer e
destruir, concentrando-se no “trabalho do negativo”, sem se preocupar com o que
seria posto no lugar das ideias derrubadas. De acordo com os próprios integrantes da
Escola de Frankfurt, a Teoria Crítica tinha como objetivo “libertar os seres humanos
das circunstâncias que os escravizavam”. Deste modo, a teoria criava uma plataforma
teórica e ideológica para a revolução cultural, por meio do controle da linguagem e
das ideias. (GRASS, 2016).
A Teoria Crítica ergueu uma indústria cultural movida pela politização da lógica,
afirmando que todo argumento é lógico se tem por objetivo destruir as bases culturais
tradicionais da civilização ocidental, e ilógico se tem como objetivo defendê-las. Assim
nasce o discurso “politicamente correto”, onde o debate aberto é classificado como
subversivo e inflamatório. Essa tática permite a criação de uma “linha de montagem”
de indivíduos com ideias padronizadas e homogeneizadas. (Ibidem). Como disse
Marcuse, “toda a tolerância para com a esquerda, nenhuma para com a direita” (apud
CARVALHO, 2018b, p. 219). Deste modo o politicamente correto atua censurando as

15Relativo a Sigmund Freud, médico neurologista austríaco, considerado pai da psicanálise e


descobridor da complexidade do inconsciente humano. Freud acreditava que o desejo sexual era a
energia motivacional primária da vida humana. Sua obra fez surgir uma nova compreensão do ser
humano, como um animal dotado de razão imperfeita e influenciado por seus desejos e sentimentos.
(PRIBERAM, 2019; PEETERS, 2015, p.26).
80

ideias não alinhadas e atribuindo rótulos pejorativos àqueles que “ousam” manifestar
opiniões divergentes. Com o domínio da narrativa, a esquerda derruba a análise crítica
e promove a sua hegemonia cultural. Daí a importância que a esquerda atribui à
educação controlada pelo Estado.
Após o término da II GM, o Instituto retornou a Frankfurt, mas muitos de seus
intelectuais permaneceram nos EUA. Seus pensamentos contribuíram para o
surgimento da Nova Esquerda, promovendo uma aliança entre estudantes radicais,
comunistas dissidentes, socialistas revolucionários e intelectuais críticos da cultura
tradicional. Inspirados nas novas ideias esquerdistas, surgem movimentos como o
feminismo (libertação erótica), os hippies (paz e amor), direitos civis, pacifismo
(projetado com o famoso slogan de Herbert Marcuse: faça amor, não faça guerra),
ambientalismo etc. (Ibidem).
O acontecimento mais emblemático dessa geração, ocorrido em 1969, foi o
Festival de Woodstock, um evento que reuniu cerca de 500 mil jovens e proporcionou
três dias de “sexo promíscuo, música psicodélica e uso indiscriminado de drogas”.
Essa “contracultura” difundiu as tendências político-ideológicas progressistas como
expressão da modernidade, estabelecendo uma nova visão moral permissiva e um
comportamento social informal e amoral. (Ibidem).
Costa (2015, p. 68 e 69) apresenta a responsabilidade da Escola de Frankfurt
pela degeneração moral da sociedade ocidental. Segundo o autor, além de Theodor
Adorno e Max Horkheimer, um de seus mais influentes expoentes é o autor de Eros e
Civilização, o filósofo e sociólogo alemão Herbert Marcuse. O alemão fez tudo o que
estava a seu alcance para destruir os valores ocidentais, especialmente nos mais
jovens. Por trás de “preocupações com problemas sociais”, suas obras pregavam o
sexo irresponsável, o uso de drogas e a promoção do conflito entre as gerações,
colocando pais contra filhos.
De acordo com Carvalho (2018b, p. 526), Marcuse descobriu que a “nova” classe
revolucionária, que substituiria o proletariado, seria formada por intelectuais e por
pessoas com ressentimentos sociais, movidos por insatisfações diversas (poder
aquisitivo, sexualidade, homossexualidade, uso de drogas, feminismo etc.). Essas
pessoas deveriam ser organizadas ideologicamente para corromper o “sistema”. Essa
transferência de poder revolucionário ocorreu, segundo Marcuse, porque o
proletariado foi se “aburguesando” gradativamente, transformando-se em classe
média e, assim, perdendo seu viço revolucionário. (GORDON, 2017, p. 251 e 252).
81

Adaptando a teoria da mais-valia, Marcuse propôs o termo mais-repressão,


referindo-se à sociedade ocidental como extremamente repressora. Baseando-se nas
teorias psicanalíticas de Sigmund Freud, Marcuse concluiu que a repressão dos
instintos pode ser considerada um elemento de alienação dos seres humanos em
relação ao seu estado natural. Suas ideias de “libertação” chegaram à mídia brasileira
já durante o regime militar, estimulando o sexo não reprodutivo, não monogâmico, não
hétero e não conjugal, os quais tornaram-se (e ainda o são, como nunca o foram)
temas corriqueiros nas novelas e demais programas televisivos voltados para o
público, sobretudo, feminino. (Ibidem). De acordo com Peeters (2015, p. 25), Marcuse
foi o mestre da revolução cultural dos anos 1960, edificada sobre o erotismo e o prazer,
promovendo uma onda transformadora da cultura baseada na revolução feminista e
sexual. Para Marcuse, o novo sistema social deveria ser formado e determinado pelas
pulsões sexuais, relacionando a liberdade com a ausência total de repressão.
Toda essa carga revolucionária da contracultura criou um clima de rebeldia na
juventude, o que a levou à desobediência civil e ao confronto. Imbuídos nesse caldo
ideológico, foram desencadeadas rebeliões estudantis, manifestadas pelos distúrbios
violentos de 1968, em Paris, em Washington, em São Francisco, na Cidade do México
e no Rio de Janeiro. Como disse Lenin: “O melhor revolucionário é um jovem
desprovido de toda moral.” (apud CARVALHO, 2018b, p. 525). Essa sequência de
episódios culminou com os distúrbios na Tchecoslováquia, debelados com
intervenção do Exército Soviético, no que ficou conhecido como a Primavera de Praga.
(COUTINHO, 2010, p. 34).
Com a morte de dois dos principais ideólogos na década de 1970, Adorno e
Horkheimer, e a saída de Habermas do Instituto, a revolução cultural perdeu força e
foi gradativamente esvanecendo. Seu legado, no entanto, deixou as palavras de
ordem no “humanismo libertário”: paz, direitos humanos e ecologia. Tais bandeiras
são amplamente tremuladas pelo ativismo internacional promovido por ONG’s ligadas
ao progressismo transnacional. São as mesmas ONG’s que fomentam o discurso
politicamente correto, a mais atual e dissimulada forma de censura, que inibe a prática
dos valores ocidentais cristãos e destrói a liberdade de expressão. (Ibidem, p. 34).
Adaptando a Lei de Godwin, criada pelo jurista estadunidense Michael Godwin
(apud COSTA, 2018, p. 58): “quando alguém desmascara um truque esquerdista, ou
apenas discorda de uma de suas proposições, a probabilidade de ser chamado de
fascista tende a 100%”.
82

5.2.3 Gramscismo

O italiano Antonio Gramsci, nascido em 1891, foi estudante universitário de


literatura na Universidade de Turim. Seu nome é praticamente desconhecido pela
maior parte dos brasileiros, mas suas ideias estão influenciando fortemente os
acontecimentos no Ocidente. (CARVALHO, 2018b, p.114). Ainda jovem, seduzido
pelo movimento da classe trabalhadora, ingressou no Partido Socialista Italiano em
1913 e começou a escrever para jornais de esquerda. Em 1921, Gramsci ajudou a
fundar o Partido Comunista Italiano, passando a trabalhar para o Komintern 16 em
Moscou e Viena para definir a política de edificação do socialismo soviético e de
relacionamento com os novos Partidos Comunistas do Ocidente. Em 1926, foi preso
pelo regime de Mussolini, condenado a mais de 20 anos de reclusão. (BOTTOMORE,
2012, p. 267).
Foi justamente na prisão que Gramsci produziu os textos essenciais de seu
legado teórico, preenchendo a mão cerca de trinta cadernos que o fizeram,
provavelmente, o maior teórico marxista do século XX. Suas obras, conhecidas como
Cadernos do Cárcere, promoviam a ideia de que a união da classe trabalhadora
permitiria que a mesma entendesse seu lugar no sistema produtivo e social, bem como
permitiria o desenvolvimento das faculdades necessárias à criação de uma nova
sociedade e um novo tipo de Estado. (Ibidem).
O local de destaque de sua teoria, que tinha como objetivo final a implantação
da sociedade comunista, ficou reservado aos intelectuais e suas funções políticas.
Baseado nos estudos da unificação italiana, Gramsci percebeu que os intelectuais
tiveram grande papel na revolução passiva, pela qual a classe camponesa foi
convencida e aceitou sem resistências a imposição de uma nova ordem política. Os
intelectuais seriam os responsáveis por organizar a teia de crenças e relações
institucionais e sociais dominantes, o que Gramsci chamava de Hegemonia. (ibidem).
Fruto de análises sociais, o italiano redefine o Estado como o somatório da força
com o consentimento, ou seja, a hegemonia armada de coerção. A natureza política
das sociedades capitalistas avançadas, construídas sobre instituições complexas e

16 Komintern, ou 3ª Internacional Comunista, é um termo em russo que define a organização


internacional fundada por Lenin e pelo Partido Comunista (PC) da URSS em 1919. Sua vocação era
normatizar procedimentos dos PC de diferentes países, a fim de derrubar o capitalismo, estabelecer a
ditadura do proletariado e promover a criação da República Internacional dos Sovietes em âmbito
mundial. (COUTINHO, 2010).
83

de massa, criava uma ordem que não poderia ser destruída com um simples ataque
frontal, como feito na Rússia. Para implantar o comunismo, no lugar do modelo de
revolução soviética, Gramsci propõe uma guerra de posição. (Ibidem, p. 268).
A guerra de posição consiste em ações voltadas à conquista de posições e
espaços na estrutura de promoção da hegemonia do Estado, na direção político-
ideológica e na construção do consenso dos setores majoritários da população. Tais
ações darão condição para o acesso ao poder do Estado e sua posterior conservação.
Essa guerra deve promover as mudanças de modo gradual, adaptando e modificando
o tecido social sem rupturas, gerando forças crescentes que ajudariam as massas a
abandonarem a passiva situação de oprimidos e a se tornarem protagonistas da
história. (VIEIRA, 2002, p. 42 a 44).
Para obter êxito, a guerra de posição deve busca a “superação do senso comum”,
que consiste em apagar certos valores tradicionais e uma parte significativa da
herança cultural da sociedade. Gramsci acreditava que estas antigas tradições e
costumes culturais limitavam a mente e preservavam a ordem social exploradora
baseada no interesse econômico burguês. O novo senso comum deve conter
conceitos novos e pragmáticos que abram as mentes das pessoas para as mudanças
políticas, econômicas e sociais que conduzirão ao socialismo. (Ibidem, p. 27 e 28).
Como exemplo de novos conceitos que devem ser incutidos na mente da
população para produzir o novo senso comum, destacam-se: a crença de que o
socialismo é sinônimo de justiça social; a ideia de cidadania coletiva clamando por
direitos sociais; o descrédito da história nacional, como se os feitos ocorressem a
serviço das classes dominantes burguesas; a caracterização da sociedade como
preconceituosa e racista; a liberação sexual, homossexual e depreciativa do
matrimônio; e a promoção do sentimento de necessidade de mudança radical no
status quo. (VIEIRA, 2001, p. 46).
Na ótica gramscista, a hegemonia é exercida por meio do consenso (aceitação
universal do novo senso comum). Os grandes instrumentos para a obtenção do
consenso são, justamente, os intelectuais e o uso da educação na aceitação e
assimilação da “nova” cultura. A fase final da revolução, marcada pela tomada de
consciência da sociedade civil e a sua ascensão à posição hegemônica, marca o
momento da passagem do socialismo para o comunismo, sendo chamada na teoria
gramscista de Catarse. (Ibidem, p. 25 a 29).
84

O cenário revolucionário, por sua vez, precisa da crise para prosperar. A crise
(política, social e econômica) ocorre quando o grupo dominante perde a hegemonia
(deixa de ser dirigente) e o consenso, permanecendo unicamente dominante (detém
apenas a pura força coercitiva). Nesse momento, a perda de autoridade da sociedade
política a deixa vulnerável à conquista e destruição pelas classes subalternas guiadas
pelo partido revolucionário. (Ibidem, p. 43).
A teoria gramscista e o emprego prático de seu repertório teórico foram alvo de
aprofundado estudo por parte do General Sérgio Coutinho, cujo resultado foi a
relevante obra A Revolução Gramscista no Ocidente. Acerca dos efeitos das ideias
do comunista italiano sobre a democracia, Coutinho afirma que:

Gramsci foi além das considerações morais e culturais da resistência ao


comunismo, incluindo também as instituições privadas e estatais como
elementos materiais defensivos dos valores burgueses. De qualquer modo, a
Revolução Cultural da Escola de Frankfurt e a “Guerra de Posição”
gramscista somam esforços na destruição da sociedade liberal-democrática.
(COUTINHO, 2010, p. 197).

De acordo com Coutinho (2012), o ideário gramscista e a sua via pacífica para a
tomada de poder e implantação do comunismo poderiam ser entendidos graficamente
da seguinte maneira:

Figura 1: Estratégia Gramscista – Via pacífica para o socialismo.


Fonte: Coutinho (2012), adaptado pelo autor.

Como se observa na figura acima, na concepção revolucionária de Gramsci, a


luta pela hegemonia antecipa a tomada do poder e a transição para o socialismo. Na
85

via democrática, poder-se-ia subentender como “tomada de poder” a vitória eleitoral


de um determinado partido. Mas esse não é o caso da revolução socialista, como bem
disse um dos apóstolos do PT, condenado por corrupção passiva, peculato e lavagem
de dinheiro, José Dirceu: “[...] é uma questão de tempo pra gente [PT] tomar o poder.
Aí nós vamos tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição”. (O GLOBO,
2018b). Pode-se, ainda, confirmar a ideia pelas palavras de outro pontífice do
marxismo tupiniquim, o Petista Jaques Wagner, que vê a democracia como um
problema e lamenta ter que, por enquanto, “jogar com suas regras”:

Nós precisamos disputar o poder político. Que é através do poder político na


democracia [...]. Eles [Cuba] fizeram uma revolução, nós não fizemos uma
revolução, esse é o nosso problema. A gente conquistou o poder pela via
do voto. E pela via do voto dentro da democracia que está aí estabelecida a
gente, por enquanto, tá tendo que jogar com as regras deles. Esse é o
problema. (JORNAL DA CIDADE ONLINE, 2017, grifo nosso).

O que Dirceu e Wagner querem dizer é que estar no poder não é garantia de
mantê-lo e que as regras democráticas não são compatíveis com a revolução
socialista. Por isso, uma vez no poder, tudo deve ser feito para se perpetuar nele. O
“jogo democrático” deve ser manipulado para se transformar no guardião da ditadura
socialista. Um passo importante é a aniquilação de toda a oposição e o controle
absoluto da narrativa. Como Gramsci disse, é preciso ocupar todas as “trincheiras”
das sociedades liberais-democráticas dos países capitalistas, como a imprensa, a
escola, a igreja, os partidos políticos, o parlamento, as Forças Armadas, o aparelho
policial, o sistema jurídico e até a família. A tomada de poder não será possível sem
a neutralização desse sistema defensivo. (COUTINHO, 2012, p. 63).
Como se vê no ideário de Gramsci, para a tomada de poder, antes de mudar o
Estado, deve-se agir sobre a sociedade. Acerca da ocupação dos aparelhos sociais
do Brasil pela esquerda, o filósofo Olavo de Carvalho afirmou:

[...] os comunistas não começaram a nos tomar o Brasil pela Presidência da


República. Tomaram primeiro as universidades, depois a Igreja Católica e
várias das protestantes, depois os sindicatos, especialmente de funcionários
públicos, depois a grande mídia, depois o sistema nacional de ensino, depois
o sistema judiciário, depois os partidos políticos todos, e por fim, depois de
quarenta anos de esforços, a cereja do bolo: a Presidência da República.
Vocês acham realmente que tomando a cereja de volta o bolo inteiro virá
junto? (CARVALHO, 2016).

No Brasil, como se lê em Vieira (2002, p. 50), o gramscismo passou a ocupar as


universidades em meados da década de 1970. Na década seguinte, a penetração
86

acadêmica foi intensa e esteve amplamente presente em pesquisas, livros, ensaios e


artigos diversos. Nosella (apud VIERIA, 2002, p. 50) afirma que cerca de um terço das
dissertações ou teses da área acadêmico-educacional citavam o nome de Gramsci,
que já na década de 1990, tornou-se uma referência para a grande imprensa, o
jornalismo, os intelectuais e demais categorias, como educadores, juristas etc.
De acordo com Ricardo (2012) durante o governo militar, houve um grande apoio
popular e religioso para o combate ao comunismo, o qual foi usado pelos militares
para neutralizar eficazmente a luta armada, mas não a vertente cultural. Ao contrário,
as ações acabaram proporcionando o aumento da cultura comunista no país, ao ponto
de a mesma alcançar a hegemonia, com apoio do próprio governo no financiamento
de publicações comunistas e a cessão amistosa de espaço nas artes e na educação.
Foi com o General Golbery do Couto e Silva que, com o objetivo de “descompressão”
do poder político, entregou-se a cultura nacional aos comunistas, acreditando,
baseado em princípios positivistas, que o governo deveria colocar-se “acima” de
questões ideológicas. (GORDON, 2017, p. 232 a 235).
Neste cenário, o Marxismo Cultural da Escola de Frankfurt e do ideário de
Gramsci floresceram vigorosamente. A esquerda devastou o ensino e a cultura
brasileiros e, por meio de seus escombros, começou a erguer a sua estrutura de poder.
O nascimento do PT (1979), a ascensão da herética Teologia da Libertação 17 , a
divinização do Estado, a condescendência com o crime, o desprezo pelo
conhecimento, o fortalecimento do direito coletivo acima do direito individual, a
promoção da libertinagem sexual e do uso de drogas e a instabilidade política e
jurídica são exemplos de engrenagens que movimentam o Brasil na direção da crise
orgânica e da subsequente tomada do poder.
É importante que, de fato, toda essa estrutura seja entendida como um projeto
de poder, um plano ideologizado que visa permitir a imposição de uma nova ordem
social, de caráter socialista. A estrada que conduziria a esse destino foi asfaltada pela
Constituição de 1988, escriturada habilidosamente por mãos socialistas, que deixaram
marcadas a complexidade, o revanchismo, a condescendência, o paternalismo e a
permissividade democrática, tornando o país, nas palavras de José Sarney,
ingovernável. (COUTINHO, 2012, p. 104 e 105).

17Teologia da Libertação é uma corrente ideológica de inspiração socialista dentro da Igreja Católica,
que pretende, sob o manto do benefício aos mais pobres e carentes, aplicar de forma eclesial os
dogmas marxistas, promovendo a luta de classes. (RICARDO, 2012).
87

5.3 AGENDA MARXISTA

Como visto nas seções anteriores, o objetivo essencial do marxismo é a tomada


de poder para implantar o socialismo e conduzir a sociedade à utopia comunista. A
preocupação nacional com essas tentativas de tomada de poder por parte dos
comunistas não é recente. Como se lê em Coutinho (2010, p. 214), o primeiro golpe
vermelho ocorrido no Brasil foi a Intentona Comunista, de 1935, durante o Governo
de Getúlio Vargas. O episódio foi esquecido pelos livros didáticos, mas as vítimas
assassinadas pelo assalto armado do PCB para tomar o poder e implantar uma
ditadura de modelo soviético estão imortalizadas em monumento erguido na Praça
General Tibúrcio, no Rio de Janeiro, ao lado do ponto turístico do Pão de Açúcar.
Em decorrência das investidas comunistas, Vargas criou a agência de Serviços
de Estudos e Investigações, vinculada ao Itamaraty, que teria como missão dar
suporte à política de prevenção e repressão ao comunismo. (NEPOMUCENO, 2018).
O Departamento Nacional de Propaganda, vinculado ao Ministério da Justiça, investiu
em ações voltadas à campanha antissoviética. As medidas contavam com
publicações, das quais se destacam dois livros que retrataram bem o anticomunismo:
20 anos de trágica experiência: a verdade sobre a Rússia Soviética e Evolução do
Comunismo no Brasil. Até um livro voltado ao público infantil foi lançado: Um passeio
de quatro meninos espertos na Exposição do Estado Novo. (FRAGA, 2017).
A segunda tentativa tomou palco no início da década de 1960, quando uma série
de medidas aparentemente pacíficas de integrantes do governo, especialmente do
então Presidente João Goulart, foram conduzindo o Brasil ao comunismo,
desencadeando uma gigante reação popular que culminou no movimento de 1964 e
levou o Congresso a cassar o mandato presidencial, dando início ao ciclo de
presidentes militares no Brasil. A terceira tentativa englobou o final da década de 1960
e o início da década seguinte, em período marcado pelo terrorismo urbano 18 e
guerrilha rural, de modelo maoísta, que tomou palco na região do Araguaia e foi
neutralizada por ações militares. (COUTINHO, 2010, p. 214).
É importante destacar que os comunistas que tentaram tomar o poder no Brasil
e lutaram contra o regime militar nunca pensaram em democracia, apesar de

18Sobre o terrorismo urbano, convém consultar a obra do terrorista brasileiro Carlos Marighella, lançada
em 1969, o Minimanual do Guerrilheiro Urbano, considerada uma obra de referência para subversão
revolucionária em todo o mundo.
88

atualmente tremularem essa bandeira com imenso cinismo e hipocrisia. Como se lê


na obra A Revolução Impossível, de Luís Mir, seus objetivos sempre foram a
implantação da ditadura do proletariado, e não a democracia, conforme afirmam os
próprios integrantes da luta armada, como Eduardo Jorge, Fernando Gabeira e Vera
Silva Magalhães. (GORDON, 2017, p. 281 e 282).
Como se observa, o movimento comunista nunca respeitou os ditames
democráticos, desde a sua primeira experiência na Revolução Russa, passando pelas
investidas nos países da “Cortina de Ferro”, na China, no sudeste asiático, na África
ou em nosso entorno estratégico, na ditadura Cubana, na Nicarágua de Ortega e no
regime chavista da Venezuela. A liberdade e a democracia nunca coexistiram com o
comunismo, como mostra o ex-comunista e historiador francês Alain Besançon:

Eles [os comunistas] têm necessidade do fechamento absoluto das fronteiras


para proteger o segredo de suas matanças, de seu fracasso; mas, sobretudo,
porque o país supostamente se tornou uma vasta escola em que todos devem
receber a educação que extirpará o espírito do capitalismo e filtrará, em seu
lugar, o espírito socialista. [...] No começo, uma parte importante da
população recebe de boa-fé a pedagogia da mentira. Ela entra na nova moral
com seu patrimônio moral antigo. Ela ama os dirigentes que lhe prometem a
felicidade, ela crê que é feliz. Ela pensa viver na justiça. Ela detesta os
inimigos do socialismo, ela os denuncia, aprova que eles sejam expropriados,
que sejam mortos. Ela apoia seu extermínio com dureza. Ela participa do
crime sem se dar conta. (BESANÇON, 2000, p. 60 e 61).

As investidas de inclinação socialista continuam presentes no Brasil e se


potencializaram com a eleição de Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, e por toda
a gestão do Partido dos Trabalhadores, com Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff,
como lido na seção sobre o Socialismo Fabiano. Durante seminário em homenagem
aos setenta anos da Revolução Russa, promovido pelo Incra no ano de 1987, o então
Deputado Federal por São Paulo, Lula, fez uso da palavra e exteriorizou a veia
autoritária do ainda jovem Partido dos Trabalhadores, ao reconhecer que a via
democrática do parlamento não permitiria que o partido alcançasse seus objetivos:

Nós que somos do PT temos consciência que, quando resolvermos disputar


o parlamento, quando resolvermos disputar uma prefeitura ou Estado,
nenhum de nós, em nenhum instante, está pensando ou insinuando que
através do parlamento ou através de uma prefeitura estará feita a nossa
revolução socialista. Ao contrário, nós temos consciência de que a nossa
ida ao parlamento, a nossa disputa no parlamento é parte de uma etapa do
aprendizado da classe trabalhadora, quando ela irá descobrir que também
via parlamento não é possível atingir os seus objetivos. Tenho clareza
que no PT os companheiros não acreditam na famosa terceira via
[socialdemocracia], como querem insinuar os companheiros suecos. [...] A
humanidade não tem escapatória entre o socialismo e o capitalismo.
(INSTITUTO CAJAMAR, 1988, p. 262, grifo nosso).
89

Um exemplo atual é o Decreto nº 8.243, assinado por Dilma Rousseff em maio


de 2014, instituindo a Política Nacional de Participação Social (PNPS) e o Sistema
Nacional de Participação Social (SNPS). O objetivo do decreto era promover a
chamada “democracia participativa”, dando poder a grupos da sociedade civil
escolhidos sem voto e sem transparência alguma para participar na elaboração de
políticas e programas do governo federal e participar do planejamento do orçamento.
O jurista Ives Gandra advertiu que a participação desses conselhos populares no
processo democrático criaria uma “quinta coluna do poder”, “um verdadeiro golpe
bolchevista às instituições democráticas, copiado das atuais Constituições da Bolívia
e da Venezuela”. (PINHEIRO, 2015, p. 12). Como se observa, esses conselhos
exercem uma espécie de democracia “às avessas”, onde as minorias impõem suas
vontades à maioria.
O Decreto dos “sovietes” foi revogado pelo Decreto nº 9.759, de 11 de abril de
2019. Entretanto, no dia 13 de junho de 2019, o STF concedeu uma liminar (decisão
provisória) para limitar o alcance do decreto, extinguindo apenas os colegiados
populares ligados à administração federal não mencionados em lei. Segundo dados
iniciais do governo, ficariam extintos cerca de 700 colegiados. (BRASIL, 2019a).
Após esse breve preâmbulo relatando algumas investidas comunistas no Brasil,
volta-se à análise da conjugação de forças entre o projeto globalista e a esquerda,
que se encontra fartamente detalhada na já citada obra de Allen e Abraham, Política,
Ideologia e Conspirações. Vale reforçar que, segundo os autores, o socialismo é
entendido como a estrada real dos super-ricos ao poder, e o comunismo como um
“esforço internacional de homens em posições elevadas para obter poder, que para
isso estão dispostos a usar quaisquer meios para alcançar a meta de conquistar o
mundo.” (ALLEN; ABRAHAM, 2017, p. 25). Na visão dos autores, o comunismo não é
um movimento das massas oprimidas, mas um movimento criado, manipulado e
usado por bilionários ávidos por poder para passar a controlar o mundo. Este controle
mundial começa com a implantação de regimes socialistas nos diversos países para,
posteriormente, consolidá-los por meio de um supraestado mundial socialista, como
comprovado na obra de Elliot Goodman, O Plano Soviético de Estado Mundial.
Como visto na seção anterior (5.2 Marxismo Cultural), a criação da estrutura
superior de controle global passa pela transformação do cidadão, por meio da
imposição de uma série de pautas que pretendem alterar os valores morais, atitudinais
e religiosos, ou seja, construir uma nova cultura. Os riscos dos confrontos causados
90

por atritos culturais foram abordados em profundidade pelo cientista político


estadunidense Samuel Huntington, que lançou em 1996 a honorável obra O Choque
de Civilizações e a Recomposição da Ordem Mundial, na qual propõe que as questões
culturais e religiosas dominarão a política global e serão as principais fontes de conflito
no pós-Guerra Fria. Huntington afirma que muito mais preocupantes que eventos
econômicos e demográficos, os verdadeiros problemas do Ocidente são o declínio
moral, o suicídio cultural e a desunião política. (HUNTINGTON, 1997, p. 387).
Sobre as manifestações que envolvem o declínio moral, o autor aponta como as
mais frequentes o aumento da criminalidade, o uso de drogas, a decadência da família,
o menosprezo à ética de trabalho e a diminuição no empenho pelo aprendizado e pela
atividade intelectual (Ibidem). Não é difícil perceber que Huntington descreveu
exatamente os efeitos do Marxismo Cultural que já estava a assolar os EUA.
No campo religioso, Huntington afirma que o cristianismo é um componente
fundamental da civilização ocidental (formada pela Europa, EUA, Canadá e Austrália,
basicamente). Segundo o autor, a erosão do cristianismo provavelmente será uma
ameaça de longo prazo para a saúde da civilização ocidental, cuja identidade é
formada por um conjunto de valores e crenças baseado na liberdade, democracia,
individualismo, igualdade perante a lei, constitucionalismo e propriedade privada. Tais
valores vêm sendo atacados por intelectuais e editores, que tentam substituir os
direitos dos indivíduos por direitos de grupos definidos, sobretudo, em termos de raça,
etnia, sexo e preferência sexual (Ibidem, p. 390). Qualquer semelhança com a cartilha
de Gramsci, Marcuse e as pautas de esquerda (como visto nos itens 5.2.2 e 5.2.3 do
presente trabalho) não é mera coincidência.
O autor afirma que o repúdio aos valores da civilização ocidental (princípio básico
da revolução cultural marxista) significa o fim dos EUA e da própria civilização
ocidental como se conhece atualmente. Huntington adverte, citando Theodore
Roosevelt: “o único meio seguro de levar este país [EUA] à ruína, de impedir de forma
absoluta qualquer possibilidade de que ele continue sendo uma nação, seria permitir
que ele se tornasse um emaranhado de nacionalidades em querelas. (Ibidem, p. 389).
Huntington também faz uma análise crítica da política exterior dos EUA,
afirmando que o desejo estadunidense de espalhar a sua cultura pelo mundo e intervir
nos assuntos de outras civilizações provavelmente se configura como a mais perigosa
fonte de instabilidade e de um possível conflito global. O autor chama atenção para
91

os efeitos perigosos da imposição de uma cultura sobre outras, exatamente o que


pretendem os globalistas em sua epopeia pela construção do novo cidadão mundial.
O que passa nos EUA não é diferente do que se enfrenta no Brasil. A agenda
marxista, financiada pelos globalistas, vem atuando há décadas nos Aparelhos
Ideológicos do Estado, que foram teorizados pelo filósofo francês Louis Althusser, um
dos mais influentes marxistas europeus (CARVALHO, 2018a, p. 40) e que, a propósito,
assassinou sua esposa por esganadura (O GLOBO, 2013). Althusser criticava o
nacionalismo, o liberalismo e o moralismo, acreditando que a dominação burguesa na
organização social ocorria por meio da ação dos Aparelhos Ideológicos do Estado,
que são representados por meio de instituições, a saber: igreja, escola, família, justiça,
sistema político, sindicatos, cultura e imprensa. O francês indica, inspirado nas ideias
de Lenin, que o aparelho que desempenha incontestavelmente o papel dominante
sobre o indivíduo é a escola. Portanto, a escola é a pedra angular sobre a qual se
deveria erguer a nova ideologia que permitirá a implantação do socialismo, numa
visão revolucionária muito semelhante à de Gramsci. (ALTHUSSER, 1987).
Sobre as ações na educação, é oportuno visitar a obra Maquiavel Pedagogo, de
Pascal Bernardin. No livro, o autor apresenta a revolução pedagógica que domina o
mundo ocidental e os danos profundos causados na ética e nos valores humanos.
Bernardin, usando farta referência de fontes primárias, demonstra como a UNESCO,
a OCDE e outros órgãos supranacionais planejam, fomentam e disseminam os ideais
globalistas por meio da imposição de pautas comunistas.
No Brasil, os autores que “ousaram” colocar-se contra as ideias da esquerda
foram riscados do mapa intelectual, sofrendo isolamento por parte da imprensa, das
artes e da academia, como aconteceu com Plínio Correa de Oliveira, Meira Penna,
Gustavo Corção, Heitor de Paola, entre outras mentes iluminadas de notória produção
intelectual que permanecem ocultas e propositalmente condenadas ao ostracismo
pela censura velada. (COSTA, 2018, p. 12). Uma vítima atual é o diretor de teatro
Roberto Alvim. O profissional revelou em entrevista que está fechando sua companhia
de teatro depois de doze anos de atuação. O desastre profissional começou após
manifestação pública de apoio ao presidente Jair Bolsonaro e ao professor Olavo de
Carvalho.
Após assumir-se como conservador, o ex-esquerdista passou a ser boicotado,
ofendido e perseguido pelos colegas de profissão. Seu perfil nas redes sociais foi alvo
de ameaças e xingamentos, seus contatos no meio artístico passaram a não mais
92

atender suas ligações e, por fim, não havia mais alunos em seus cursos, nem convites
para dirigir peças. Seus últimos alunos simplesmente desistiram, após ameaças. Nas
palavras do diretor, sua carreira premiada, com mais de cem espetáculos e
apresentações em sete países, está esperando “um milagre”. (CORDEIRO, 2019).
Como afirma Gordon (2017, p. 219), os formadores de opinião brasileiros,
mesmo sem se dar conta, aderiram à agenda político-cultural da esquerda:
legalização do aborto e das drogas, liberação sexual, gayzismo (ativismo LGBT),
feminismo, ambientalismo, multiculturalismo, secularismo radical ou algum tipo de
ecumenismo espiritualista, neokeynesianismo, antissionismo e anticristianismo.
O aparelho jurídico nacional também é uma vítima do aparelhamento ideológico.
No Seminário Globalismo, realizado pelo Itamaraty, a Juíza Ludmila Lins Grilo, Juíza
de Direito do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, tratou sobre a atuação da agenda
esquerdista/globalista na esfera judicial. Uma das suas contribuições mais relevantes
foi a abordagem da mutação constitucional, um conceito presente nos livros de Direito
Constitucional, que nada mais é que a mudança informal da Constituição, ao arrepio
do processo legislativo formal, ignorando o papel do Congresso. Grilo demonstrou que
o STF está sendo contumaz nas ações dessa natureza. Exemplo é o “entendimento”
de que, diferentemente do que prevê a letra da atual Constituição, a família e o
casamento poderiam ser constituídos por pessoas do mesmo sexo. Outro exemplo é
o aborto, tipificado no código penal, mas com entendimento jurídico de que, se
realizado até o 3º mês, não seria crime. O evento mais recente foi a equiparação do
crime de homofobia ao de racismo, sem nenhum tipo de amparo legal razoável para
tal. (BRASIL, 2019b).
Grilo destaca que nossa justiça está aparelhada ideologicamente, fruto de uma
estratégia esquerdista considerada menos custosa, visto que não requer mobilização
das massas, ao mesmo tempo em que interfere criticamente na independência
funcional dos membros do judiciário. As retaliações aos juízes “não alinhados”
ocorrem com a punição disciplinar daqueles que não seguem sua cartilha, junto às
corregedorias de seus Estados. (Ibidem).
A Suprema Corte, “guardiã da Constituição”, continua legislando, ao ponto
absurdo de a Lei do Voto Impresso (Lei 13.165/2015), aprovada pelo Congresso, ser
julgada inconstitucional pelo STF, mesmo sem ofender nenhum artigo constitucional.
O Supremo declarou que a Lei poderia violar o “sigilo do voto” e violar o “princípio da
proibição do retrocesso”, um conceito inventado, subjetivo e sem nenhum amparo
93

legal. Há diversos pareceres recheados de alegações completamente estapafúrdias e


ideologizadas, munidas de jargões como “reconhecimento da identidade de gênero”,
“direitos humanos das pessoas transgêneros”, “versões tóxicas da masculinidade” e
a classificação de “fundamentalistas religiosos e reacionários morais” que o Ministro
Celso de Mello atribui aos que discordam da aberrante ideologia de gênero. (Ibidem).
Além de aparelhado, o STF simplesmente não reflete o sentimento predominante
na sociedade brasileira. Suas decisões progressistas mostram-se completamente
anticonservadoras e desalinhadas com os valores sociais predominantes. Para
comprovar a inclinação atitudinal da população brasileira, no ano de 2018 o IBOPE
realizou uma pesquisa de âmbito nacional para mensurar o índice de conservadorismo
brasileiro, utilizando cinco pautas básicas: aborto, pena de morte, prisão perpétua,
redução da maioridade penal e casamento homossexual. O objetivo da pesquisa foi
classificar a população brasileira dentro de um espectro que compreendesse o
posicionamento diante dos referidos temas, chegando a um diagnóstico de quão
conservadora ou progressista é a nossa sociedade. As cinco pautas foram
respondidas conforme o quadro abaixo.

Tópico A favor (%) Contra (%)

Legalização do aborto 15 80

Pena de morte 50 45

Prisão perpétua para crimes hediondos 77 19

Redução da maioridade penal 73 22

Casamento entre homossexuais 39 50


Quadro 1 – Conservadorismo no Brasil.
Fonte: IBOPE (2018), adaptado pelo autor.

Pesquisa idêntica havia sido realizada pelo IBOPE nos anos de 2010 e 2016. A
comparação dos resultados demonstrou que a sociedade brasileira está acentuando
seu comportamento conservador. Em relação à liberação do uso de maconha, a última
pesquisa do IBOPE ocorreu em 2014 e apontou que 79% dos brasileiros eram contra
a iniciativa. (BRAMATTI; TOLEDO, 2014).
A imposição da agenda marxista, que avançou vigorosamente nos governos de
Lula e Dilma, deixou marcas profundas no país. Para aprofundar essa constatação,
foram reunidos vários dados e indicadores que permitiram uma análise do
desempenho nacional em diversas áreas, as quais serão abordadas na próxima seção.
94

5.3.1 O Legado hediondo do coletivismo

Serão apresentados, na sequência, uma série atualizada de estatísticas


brasileiras que se propõem a realizar um sobrevoo nas áreas econômica, fiscal,
educacional, sanitária e de segurança pública. Os dados a seguir pretendem
demonstrar o inchaço da máquina pública, a queda no padrão de vida do brasileiro, a
ineficiência e o aparelhamento estatal gerados pela força devastadora do socialismo
em sua busca por objetivos impossíveis. O primeiro gráfico apresenta um histórico do
Índice de Liberdade Econômica do Brasil e do mundo, a partir do ano de 2002.

63,4%
60,8%

59,6%
51,9%

Mundo
Brasil

FIGURA 2 – índice de liberdade Econômica (Brasil – Mundo).


Fonte: Heritage Foundation (2019).

Como se observa, o ápice recente do índice brasileiro de liberdade econômica


ocorreu no final do governo Cardoso, entre os anos de 2002 e 2003. Observa-se que
desde o mandato de Lula, o Brasil vem fechando sua economia, promovendo
intervenções por meio de burocracia e regulações. Houve uma queda de mais de 10%
no índice, demonstrando uma clara aplicação da cartilha econômica socialista.
Quando comparado com a média mundial de liberdade econômica, que vem
aumentando progressivamente, conclui-se que o Brasil caminha na contramão. Dos
180 países analisados na pesquisa, o Brasil ocupa a posição de número 150, atrás
até de países como Egito, Camarões e Gâmbia. Na América Latina, fica à frente
apenas de Cuba, Bolívia e Equador. (HERITAGE FOUNDATION, 2019). O resultado
não poderia ser outro, senão o colapso financeiro, uma multidão de mais de 13
milhões de desempregados (março/2019) e um índice de endividamento familiar
recorde que atinge mais de 62% dos lares brasileiros. (BRASIL, 2019c).
95

O Tesouro Nacional emitiu o resultado das contas do governo federal e, pelo 5º


ano seguido, apresentam déficit bilionário. (MARTELLO, 2019). Ou seja, o governo
vem gastando mais do que arrecada há cinco anos, mergulhado numa espiral
extremamente perigosa produzida por um estado inchado e ineficiente. As políticas
econômicas liberais do atual Ministro da Economia, Paulo Guedes, são a esperança
da recomposição do cofre federal.

FIGURA 3: Desempenho das contas públicas.


Fonte: Martello (2019).

A carga tributária, entretanto, continua subindo. Um estudo realizado pelo


Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação mostrou que no ano de 1988, o
brasileiro trabalhava, em média, o equivalente a 73 dias por ano para pagar impostos.
Atualmente o número mais que dobrou, alcançando os 153 dias, ou cerca de 40%
do seu esforço laborativo. Quando comparado ao PIB, o volume tributário
arrecadado responde por mais de um terço do total, ou cerca de 33,5%. (UOL, 2019).
Em relação ao tamanho do Estado, o crescimento é incontestável. Para ratificar
a afirmação, pode-se verificar o levantamento realizado pelo IPEA, o qual apontou um
aumento de 83% no número de servidores públicos das 3 esferas do país em 20
anos, alcançando quase 11,5 milhões de funcionários no ano de 2016. (NENDER,
2019). Só no governo do PT (2003 a 2015) houve um aumento de mais de 300% (ou
158%, descontando a inflação) nas despesas de pessoal do Poder Executivo,
alcançando a cifra de R$ 92 bilhões por ano. (BORTOT, 2016).
96

O atual Secretário de Desestatização e Desinvestimento do Ministério da


Economia, Salim Mattar, apresentou em palestra dados econômicos que demonstram
a situação trágica das contas públicas e atestam a incompetência do governo de Dilma
Rousseff, que estava conduzindo o Brasil literalmente à falência. Os principais
indicadores apresentados por Mattar mostram um crescimento vertiginoso da
dívida bruta do governo, que alcançou 78,8% do PIB, ante 51,5% apurados há
cinco anos. A recessão na qual o país se encontra fica caracterizada pelo aumento
da dívida pública federal, que passou de 1,4 trilhão em 2009 para 3,7 trilhões em
2018, o que representa um aumento de mais de 160% em dez anos. Mattar (2019)
informa que o governo do PT aumentou o número de empresas estatais federais
controladas pela união em 48%, saindo de 106 (em 2002) para 154 (em 2016).
Os serviços públicos, por sua vez, estão em perceptível agonia. Na área da
educação, por exemplo, os números são alarmantes. O Programa Internacional
de Avaliações de Estudantes, o Pisa, foi aplicado no ano 2015 em alunos do ensino
fundamental a partir do 7º ano (na faixa dos 15 anos) em 70 países membros e
convidados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico), englobando provas nas áreas de ciências, matemática e leitura.

FIGURA 4: PISA - Desempenho escolar OCDE (Ciências, Matemática e Leitura, respectivamente).


Fonte: Martins (2016).

O Brasil apresentou a 8ª pior educação média entre os 70 países avaliados.


A melhor colocação dos alunos brasileiros foi em leitura, na 59ª posição. Em ciências
o resultado foi o 63º lugar. Em matemática, o pior desempenho, ficou em 65º lugar.
De acordo com a pesquisa, 70% dos alunos brasileiros não demonstraram
conhecimentos básicos de matemática, ou seja, não são capazes de realizar
operações aritméticas simples. De modo geral, os alunos brasileiros só conseguem
resolver questões de baixa exigência cognitiva.
97

Os resultados da expressão científico-tecnológica também são anêmicos. Em


2018 a Organização Mundial da Propriedade Intelectual classificou o Brasil no 64º
lugar (6º na América Latina, atrás de Chile, Costa Rica, México, Uruguai e Colômbia)
no ranque global de inovação, avaliando itens como instituições, capital humano,
pesquisa, infraestrutura e sofisticação de mercado e negócio. (MELO, 2018).
Na área da saúde, os números também não são otimistas. Uma pesquisa
divulgada pela Fundação Oswaldo Cruz mostra que no período de 2009 a 2017 houve
uma redução média de 8% no número de leitos por mil habitantes. Em relação
aos leitos de cuidado curativo (de curta e média permanência), houve uma redução
nacional de mais de 11%. Do mesmo modo, quando analisada a quantidade de
hospitais públicos ou privados disponíveis ao SUS, observa-se uma queda de 5,5%
em seu número total. (PORTELA, 2019). Outro estudo na área, promovido pela
Confederação Nacional de Municípios, aponta que nos últimos dez anos houve uma
redução de mais de 40 mil leitos SUS no país, colocando a média nacional em 2,1
leitos para mil habitantes, contra uma taxa ideal entre 2,5 a 3. (ROCHA, 2018).
De modo trágico, os índices brasileiros de violência urbana seguem em
crescimento. Como se observa na figura abaixo, nos últimos 10 anos houve um
aumento de 36,1% nos casos de homicídios no Brasil, saltando de cerca de 48 mil
para mais de 65 mil por ano.

FIGURA 5: Atlas da violência - Número e Taxa homicídio Brasil.


Fonte: IPEA (2019).
98

No Atlas da Violência de 2019 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada


(IPEA) também se observam os dados sobre mortes causadas por arma de fogo.
Nesse quesito, só nos últimos 10 anos, a despeito da polêmica “Lei do
Desarmamento”, houve um aumento de 39,1% no número de mortes. Se o cálculo for
feito tomando-se os últimos 30 anos, o número é ainda mais assustador, com um
salto de mais de 400% no número de mortes por arma de fogo. (IPEA, 2019).
Sobre o tema, Gordon revela as causas políticas e psicossociais que ocupam os
bastidores das estatísticas caóticas na segurança pública nacional:

[...] quando toda uma cultura que celebra o criminoso como colaborador de
uma dívida social, ajuda a colocar o país no topo da lista dos mais violentos
do mundo, com mais de 60 mil homicídio ao ano, a esquerda faz-se inocente,
preferindo acusar abstrações – “o sistema”, “a desigualdade”, “o capitalismo”
– ou pior ainda, as vítimas. (GORDON, 2017, p. 260).

Houve, entretanto, um setor que foi bastante beneficiado pelo governo do PT e


que observou seus lucros se multiplicarem prosperamente. Os bancos passaram os
anos da administração socialista batendo recordes sucessivos, saindo do lucro
anual na casa dos R$ 20 bilhões no início da gestão Lula e alcançando o recorde
histórico de R$ 98,5 bilhões em 2018. (G1, 2019).
Após a análise dessa sequência perturbadora de indicadores negativos,
percebe-se concretamente o legado lastimável das políticas de esquerda. É oportuno,
encerrando esta seção, abordar o principal instrumento de propagação do criminoso
projeto de poder da esquerda latino-americana: o Foro de São Paulo.
O Foro de São Paulo é a mais vasta organização política da América Latina e,
sem dúvida, uma das maiores do mundo. Fundado em 1990 por Lula e Fidel Castro,
o Foro reúne todos os governistas de esquerda do continente, mais de uma centena
de partidos políticos e diversas organizações criminosas e terroristas ligadas ao
narcotráfico e a sequestros, como as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia
(FARC) e o Movimento de Esquerda Revolucionário (MIR) chileno. Por esses laços
estreitos, pode-se afirmar que nunca se observou no mundo uma convivência tão
íntima, organizada [e declarada] da política com o crime (CARVALHO, 2018b, p.114).
O objetivo do Foro de São Paulo é promover, desenvolver e manter, no
continente, governos socialistas, (intervencionistas e repressivos, como sempre o
são), viabilizando uma rede inimaginável de corrupção, lavagem de dinheiro e tráfico
de influências. Raul Reyes, antigo comandante das FARC, assumiu publicamente
99

contatos estreitos com Lula e com o PT, além de grande admiração por Hugo Chávez,
em entrevista à Folha de São Paulo, em 24 de agosto de 2003. (BARRICELLI, 2014).
O Instituto Internacional de Estudos Estratégicos britânico divulgou em 2011 um
dossiê que revelou íntimas relações de líderes latino-americanos (Hugo Chávez, Lula
e Rafael Correa) com as FARC, inclusive com envolvimentos financeiros (Ibidem). O
mais perturbador é o fato de o Foro de São Paulo continuar a ser simplesmente
ignorado pela grande imprensa brasileira, num ato de omissão dolosa que presume
cumplicidade com o projeto de poder criminoso da esquerda latino-americana.
Todas essas informações, sobre o Foro e sobre os indicadores negativos
nacionais, foram sonegadas ou manipuladas, lançadas em matérias discretas e
incompletas nos cantos de jornais, numa espúria tentativa de construção de narrativas.
O jornalista Luciano Trigo apresenta em sua obra Guerra de Narrativas: a crise política
e a luta pelo controle do imaginário, uma análise fundamentada desse fenômeno
presente em nossa sociedade. Trigo demonstra, com farta referência bibliográfica,
como o PT usou a corrupção, não apenas como uma ferramenta de enriquecimento
ilícito, mas como um sistema de manutenção de seu projeto de poder.
Segundo Trigo (2018, p. 26 e 27), a chegada ao poder pelo PT foi apenas a
concretização política de uma hegemonia que já tinha sido alcançada nas redações
dos jornais, nas universidades, nos ambientes intelectuais e no meio artístico. Depois
de diversas derrotas eleitorais, o Estado foi “tomado” pela via legal, embora amparado
indecorosamente pelo controle da narrativa. Entre seus servos mais destacados,
adoecidos pela deformidade moral, estavam intelectuais, artistas, professores
universitários e jornalistas, sempre que possível assistidos por verbas governamentais,
pela Lei Rouanet ou por doações de grandes empreiteiros e amigos banqueiros. Como
profetizou Gramsci, o poder cultural foi tomado antes da vitória política.
A capacidade da máquina de propaganda Petista era assombrosa. Votar no PT
passou a ser sinônimo de igualdade social, de distribuição de renda, de apoio aos
direitos humanos, de promoção à diversidade cultural, de respeito às mulheres e às
minorias, de defesa dos trabalhadores etc. Ao mesmo tempo, aqueles que criticavam
o PT tornaram-se apoiadores da ditadura, racistas, homofóbicos, machistas,
imperialistas e fascistas. (Ibidem, p. 28 e 29).
Segundo Trigo (2018, p.36 a 39) a estratégia de intimidação e repressão das
ideias dissidentes foi muito bem-sucedida, graças à colaboração dos sindicatos, de
ONG’s, de movimentos sociais e de boa parte da mídia. Os que continuavam a
100

levantar a voz contra o consenso eram estigmatizados e tornavam-se os instrumentos


da espiral do silêncio19. Qualquer oposição era transformada em “preconceito”, em
“ódio aos pobres” ou em “golpe”, mesmo que o abismo entre o discurso e a realidade
aumentasse. Esse silêncio acabou convencendo o governo que sua permanência no
poder seria eterna, o que desencadeou o aumento exponencial da mentira, do roubo,
da calúnia e da corrupção.
Quando o colapso se tornou iminente, sobretudo com as manifestações que
tomaram o país após os escândalos do Petrolão e do Mensalão20, o então presidente
nacional do PT, Rui Falcão, chegou ao cúmulo de sugerir que a imprensa livre poderia
levar o país ao nazismo e ao fascismo (Ibidem, p. 141). A guerra de narrativas se
intensificou e buscou como nunca os seus objetivos: manipular, seduzir e cooptar a
população, bem como constranger e intimidar a resistência. Apesar dos esforços, o
impeachment de Dilma Rousseff foi inevitável. A guerra de narrativas, entretanto, não
terminou com o impedimento de Rousseff, mas continua sendo empregada
largamente na desqualificação da Operação Lava Jato e na recente tentativa de
desmoralização do Ministro da Justiça, Sérgio Moro, por meio de mensagens
hackeadas e adulteradas, obtidas por meios ilegais.
A guerra de narrativas, ademais, não investe apenas contra as operações e
instituições que desmantelaram o esquema criminoso do PT. Não é preciso muito
esforço para perceber que o atual governo liberal conservador é vítima de agressiva
campanha difamatória. Não porque a esquerda possui compromisso com o progresso
do país, muito pelo contrário, ela usa a sabotagem como método para viabilizar o seu
projeto de poder, como visto nas já citadas palavras de José Dirceu: “é uma questão
de tempo pra gente [PT] tomar o poder. Aí nós vamos tomar o poder, que é diferente
de ganhar uma eleição” (O GLOBO, 2018b). Na esfera econômica, os socialistas
atacarão qualquer medida econômica liberal que gere emprego e prosperidade, como
fazem com a necessária reforma previdenciária. No campo dos valores sociais,
continuarão a promover as pautas progressistas e anticristãs, erodindo os preceitos
conservadores, como a família, a religião e o direito à propriedade privada.

19 Fenômeno descrito por Elisabeth Noelle-Neumann no qual as pessoas, mesmo sabendo que algo
claramente está errado, mantêm-se em silêncio caso a opinião pública (ou consenso) esteja contra elas.
(TRIGO, 2018, p. 39)

20Sobre os escândalos do Mensalão e Petrolão, recomenda-se a leitura do editorial do jornal O Globo,


de 05 de abril de 2016, disponível em <https://oglobo.globo.com/opiniao/mensalao-petrolao-
evidenciam-organizacao-criminosa-19017036>.
101

6 CONCLUSÃO

O Brasil é a mais cobiçável das presas; e, oferecida, como está, incauta,


ingênua, inerme, a todas as ambições, tem, de sobejo, com que fartar duas
ou três das mais formidáveis. (Oração aos moços, Rui Barbosa, 1920).

Como pôde ser constatado durante o decorrer do presente trabalho, o globalismo


é um fenômeno, em essência, cultural. Para viabilizar a implantação de uma
governança global, ele propõe-se a fazer com que o cidadão abra mão de suas
tradições, de seus princípios, de sua nacionalidade e de seu direito de se autogovernar.
Para tanto, em sua fase de implantação, o globalismo busca a destruição dos valores
sociais tradicionais, simbolizados pela família, pela religiosidade e pela moral judaico-
cristã, substituindo-os por novos paradigmas.
Em seu processo moderno de maturação, que ocorre há poucas décadas, o
globalismo encontrou o aparato ideológico ideal para obter êxito: o marxismo cultural.
O ideário das doutrinas esquerdistas, ora chamado de progressismo, foi tomado pelo
globalismo para catalisar o processo de dominação mundial. Seus agentes fizeram
uso de ferramentas de manipulação marxistas, inspiradas no gramscismo, na teoria
crítica da Escola de Frankfurt e na social-democracia dos socialistas fabianos. De
posse deste aparato ideológico, os globalistas sequestraram a globalização, com a
finalidade de subvertê-la e impregná-la de ideologias, construindo uma conjuntura que
permitisse submeter gradativamente os Estados-Nação a um corpo burocrático e não
eleito de pessoas que se julgam aptas a conduzir o destino da humanidade.
Foi deste modo que o globalismo e a mais recente versão do socialismo se
imiscuíram. Como disse Christopher Buskirk, “O Globalismo é o marxismo em terno
de seda”. (Brasil, 2019b). Os globalistas compreenderam que o socialismo não era
um programa de distribuição de riquezas, mas um poderoso e eficiente método de
controle da riqueza, uma ferramenta que permite a concentração de poder e dinheiro
nas mãos de uma pequena elite política e econômica, numa escala em que as
democracias liberais e o autêntico livre mercado jamais conseguiriam permitir.
Para atingir o audacioso objetivo de controle planetário, os globalistas e o
progressismo, seu vassalo submisso, contam com grande parte das cátedras, das
artes e dos intelectuais, cujo atual papel repousa, especialmente, na elaboração de
falsas crises e na construção de narrativas que transformem qualquer indivíduo (ou
governo) não alinhado aos seus interesses num inimigo da sociedade. Esses agentes
102

contam, ainda, com a eficiente manipulação da opinião pública, promovida por parte
da imprensa, como ferramenta para impor e legitimar a sua própria “democracia”.
Na caminhada globalista, nenhuma oposição é tolerada. A mais tímida reação é
rotulada como discurso de ódio, racismo, machismo, xenofobia, ou qualquer outro
adjetivo difamatório. Patrocinados pelas mais ricas e influentes personalidades do
mundo, seus recursos financeiros são virtualmente ilimitados, assim como a
imoralidade com que conduzem seus planos mais insolentes de controle global. O
establishment enxerga em cada opositor uma ameaça real aos seus interesses, o que
o faz investir recursos incalculáveis na destruição de reputações e na promoção de
desinformação para manipular opiniões e construir um novo senso comum.
No desenvolvimento deste trabalho foram, ainda, identificados os principais
agentes promotores da agenda globalista. Destacaram-se a família Rothschild e seu
controle quase absoluto do sistema financeiro internacional; os Rockefeller e sua
notável história no mundo petroleiro; e George Soros, o bilionário húngaro conhecido
como o maior financiador mundial das pautas esquerdistas. Foi observado, por meio
do rastreamento de doações, que suas fortunas são utilizadas rotineiramente para
bancar a promoção de pautas anticonservadoras, além de financiamentos milionários
de campanhas de candidatos de esquerda pelo mundo.
Além de pessoas, foram apontadas instituições que foram criadas ou
aparelhadas para viabilizar o controle planetário, como o Council on Foreign Relations,
a Comissão Trilateral, o Clube Bilderberg, o Clube de Roma, um número incalculável
de ONG’s e a mais poderosa e atuante de todas, a Organização das Nações Unidas,
que abertamente declara a sua predestinação de conduzir a futura governança global.
O globalismo, em síntese, pode ser entendido como uma nova forma de
colonização, não apenas de países, mas de todo o mundo. Uma dominação total sem
a predominância do poder militar, mas com controle econômico amparado pela
submissão cultural. O globalismo deu-se conta que, para obter êxito, não precisava
controlar os meios de produção econômica, mas sim os meios de produção de ideias.
Esse controle se dá, sobretudo, com o discurso politicamente correto, uma máquina
de censura que castiga qualquer opinião dissonante. Controlando o discurso, controla-
se o pensamento humano. Controlando o pensamento humano, controla-se o mundo.
As pautas mais presentes em sua agenda são o feminismo radical, o
ambientalismo, o pacifismo, os direitos humanos, a ideologia de gênero, a
homossexualidade, o racismo, a liberação do uso de drogas, a imigração permissiva,
103

o fortalecimento de organizações globais, o desarmamento e a legalização do aborto


e da eutanásia. A velha luta de classes foi substituída pela luta de identidades. O
proletariado, coração da revolução socialista, foi substituído pelas “minorias”, pelos
ressentidos e pelos oprimidos. A cultura passou a não ser politicamente neutra, e a
neutralidade passou a abrir espaços no poder nacional para atores não-estatais. E
nesse aspecto, data venia, a esquerda se destaca há décadas.
Em relação à sociedade brasileira, pôde-se constatar que o marxismo cultural da
Escola de Frankfurt e do ideário de Gramsci floresceram vigorosamente. Seus efeitos
devastaram a economia, o ensino e a cultura e, por meio de seus escombros, a
esquerda ergueu a sua estrutura de poder. As instituições nacionais foram tomadas:
a igreja, a imprensa, as artes, o estamento jurídico, os sindicatos, as ONG’s e a
burocracia estatal. Nesse contexto, a grande imprensa, bem alimentada com recursos
públicos e com o patrocínio de grandes corporações globalistas, foi a responsável pelo
acobertamento em massa de atividades criminosas envolvendo as lideranças políticas
que conduziram o Brasil nas duas últimas décadas, especialmente na omissão de
atividades do Foro de São Paulo e no abafamento de casos titânicos de corrupção.
O nascimento do PT (1979), a ascensão da herética Teologia da Libertação, o
aumento de poder e influência de atores não estatais autointitulados “representantes
da sociedade”, a condescendência com o crime, o desprezo pelo conhecimento, o
fortalecimento do direito coletivo acima do direito individual, a promoção da
libertinagem sexual e do uso de drogas e a instabilidade política e jurídica são
exemplos de sintomas da crise nacional, a qual, de fato, não é uma crise, mas um
espúrio projeto de tomada e manutenção de poder.
O resultado, consubstanciado na seção “O legado hediondo do coletivismo”, foi
o fechamento da economia, o endividamento das famílias e do Tesouro Nacional, a
explosão do número de desempregados, o aumento da carga tributária e da máquina
burocrática estatal, a decadência da produção artística e literária, a queda dos
padrões de desempenho escolar, a ascensão da violência urbana a números de
guerra, a glamourização da prostituição e do banditismo, a erotização infantil, a
redução de leitos hospitalares e a multiplicação do lucro das instituições financeiras.
O amálgama globalismo-marxismo cultural, dentro de sua perversidade nativa,
promove, ainda, o afastamento de Deus e a aproximação do homem ao consumo
irracional e ao hedonismo, empurrando as pessoas para experiências de prazer
momentâneas, costumeiramente confundidas com felicidade.
104

A população mundial, entretanto, tem dado sinais de resposta. A eleição de


Trump, nos EUA, de Bolsonaro, no Brasil, e o referendo do Brexit, na UE, materializam
a reação popular contundente contra o globalismo, ainda que os eleitores não
compreendam efetivamente o fenômeno da governança global. A reação se apresenta,
sobretudo, pela vitória de ideias e candidatos conservadores, que se propuseram a
resgatar os valores e crenças que são os alvos mais compensadores do movimento
globalista, como a família, a religião, o patriotismo e a moral judaico-cristã.
No campo das ciências militares, este trabalho identificou nitidamente riscos à
soberania nacional. Para apresentá-los, apoia-se no domínio jurídico, destacando o
inciso I do artigo 1º da Constituição da República Federativa do Brasil, o qual afirma
que a soberania é um fundamento de nossa república. Do mesmo modo, o inciso I
do artigo 4º diz que a independência nacional é um princípio que deve reger as suas
relações internacionais. (BRASIL, 1988).
Nesse sentido, dirigindo-se ao papel das Forças Armadas, lança-se mão da
Política Nacional de Defesa (PND), o documento de mais alto nível do país para
questões de defesa da Pátria. Ela elenca como Objetivos Nacionais de Defesa, entre
outros, a garantia da soberania nacional e a preservação da coesão nacional.
(BRASIL, 2016, grifo nosso). Ademais, a Política Setorial de Defesa (PSD),
documento de mais alto nível do Ministério da Defesa, elenca como objetivo setorial
de defesa nº 3 “contribuir para o desenvolvimento nacional, o bem-estar e a
responsabilidade sociais”, o qual se prevê alcançar por ações setoriais de defesa
(previstas na Estratégia Setorial de Defesa) das quais se destacam “contribuir para a
valorização da cidadania, do patriotismo e do civismo no âmbito da sociedade
brasileira” e “participar de programas educacionais e desportivos que visem à
promoção da cidadania e do sentimento de patriotismo”. (BRASIL, 2018, grifo nosso).
Isso posto, infere-se que as Forças Armadas do Brasil possuem papel direto e
decisivo na manutenção e promoção da soberania nacional e do patriotismo.
Enquadrando o movimento globalista como um poderoso agente perturbador da
capacidade de autogoverno das nações e do sentimento de amor à Pátria, depreende-
se que as Forças Armadas deverão estar aptas a combater os efeitos perniciosos
deste novo antagonista, o globalismo, por meio de ações de defesa nacional. Espera-
se, por fim, que este trabalho pioneiro consiga retirar o tema do umbral e trazê-lo à
superfície, para que o seu estudo e debate possam ganhar a magnitude adequada e
apontar respostas às ameaças que se descortinam diante da Pátria brasileira.
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