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INFLUÊNCIAS

FILOSÓFICAS
Zakiee Hage
História e Sistemas em Psicologia
SENSO COMUM X CIÊNCIA
O senso comum é o conhecimento que surge no cotidiano, através
de nossas experiências. A ciência procura compreender, elucidar e
alterar esse cotidiano, a partir de seu estudo sistemático.

O objeto geral estudado pela psicologia é o homem. Mas quais


seus objetos específicos? Isso varia de acordo com o olhar, com a
visão de mundo de suas teorias.
Apesar dos diferentes olhares da psicologia, o que todas estas
teorias tem em comum? O estudo da subjetividade, ou seja,
daquilo que faz parte do mundo interno das pessoas, das suas
emoções, sentimentos, daquilo que o aproxima dos outros seres
humanos e ao mesmo tempo, o torna único, porque ninguém sente e
vive da mesma forma.

A subjetividade se constrói a partir das suas experiências de vida.


Vamos focar a partir do surgimento da
Psicologia como uma disciplina independente
da filosofia.
. A psicologia não se desenvolve no vazio, por
ONDE COMEÇA fazer parte de uma cultura mais ampla, sofre
influenciais de forças externas que ajudam a
O NOSSO criar novos rumos.
ESTUDO?
Para entender a história da psicologia é
importante analisar o contexto que a disciplina
se desenvolveu, as ideias predominantes na
época, o que é chamado de Zeitgeist ou clima
intelectual da época.
AS INFLUÊNCIAS FILOSÓFICAS NA 1) MECANICISMO
PSICOLOGIA
Dos séculos XVII à XIX o espírito do Mecanicismo dominava a
Europa Ocidental e as grandes cidades.

Neste período as máquinas estavam sendo criadas para ajudar as


pessoas a se livrarem de esforços físicos, então imaginem que dos
mais pobres aos mais ricos, todos estavam em contato com
máquinas: bombas, alavancas, guindastes e afins (Zeitgeist)

O Mecanicismo enxerga o universo como um grande máquina.


Essas doutrina afirmava que os processos naturais são mecânicos e
passíveis de explicação por meio das leis da física e da química.
A ideia do Mecanicismo surgiu na física com os trabalhos de
Galileu Galilei e Isaac Newton. A teoria afirmava que
qualquer objeto existente no universo era composto de
partículas de matéria em movimento e qualquer efeito físico
(movimento das partículas/átomos) resulta de uma causa
direta (movimento do átomo que o atinge) e este movimento
deve ser previsível.

Resumo: o funcionamento do universo físico era comparado ao


do relógio de qualquer outra máquina, sendo organizado e
preciso.
Os cientistas acreditavam que se
conseguissem dominar as leis de
funcionamento do universo, seriam
capazes de prever seu comportamento
futuro.

O relógio mecânico foi a metáfora


perfeita para o espírito do
Mecanicismo do século XVII, uma
verdadeira sensação tecnológica,
semelhante aos computadores no século
XX.
Em razão da regularidade, previsibilidade e exatidão dos relógios,
cientistas e filósofos começaram a enxerga-los como modelos para o
universo físico.

Eles acreditavam que o próprio universo era um imenso relógio


fabricado e colocado em operação pelo Criador.

“O universo nada mais é que um relógio em escala maior" (Bernard de


Fontenelle, cientista). O famoso filósofo francês René Descartes era
adepto a essa ideia.
DETERMINISMO E REDUCIONISMO
O universo funcionava sem qualquer interferência externa já que fora
criado e colocado em funcionamento por Deus, essa ideia tem origem
no Determinismo, que significa a crença de que qualquer ação é
determinada pelos eventos do passado.

É possível prever as mudanças que ocorrem no relógio, bem como no


universo, com base na sequência e regularidade das peças. Era fácil
desmontar o relógio e verificar a operação de suas engrenagens, essa
ideia levou os cientistas a popularizarem o conceito de reducionismo,
pois para compreender o mecanismo do relógio, bastava reduzi-lo a
seus componentes básicos.
Com essa metáfora do
relógio aplicada ao
universo, os cientistas
pensaram: então não
poderíamos explicar
também a natureza
humana através dessa
metáfora?

AUTÔMATOS
Os autônomos eram aparelhos sofisticados que imitavam os
movimentos humanos, compostos por cordas e engrenagens, eram
disponibilizados para o entretenimento da população. Eram
considerados os bonecos da Disney do passado.

Descartes e outros filósofos adotaram os autônomos como modelos


para os seres humanos. Para eles o homem funcionava tal qual o
universo, como um maquinário de relógio.

As pessoas podem até ser mais eficientes e melhores que os


relógios, mas continuavam sendo máquinas.
O fascínio pelas máquinas era tão grande, que os maquinários
dominavam os romances e histórias da época. Até o início do
século XX histórias como Frankstein e o Mágico de Oz criam
personagens mecânicos que imitavam seres humanos.

O período de evolução tecnológica levou os cientistas à adotarem


uma postura voltada à observação e experimentação, afastando-
se dos dogmas impostos pela igreja. Essa força é chamada de
EMPIRISMO.

Seu principal representante foi René Descartes, filósofo e


matemático francês, que inaugurou a psicologia moderna.
CONTRIBUIÇÕES DE
RENÉ DESCARTES
O principal legado de Descartes
para psicologia foi a tentativa
de solucionar a questão MENTE-
CORPO, algo controverso há
séculos.

Antes dele, acreditava-se que a


mente (alma ou espírito) era
algo separado do corpo e que
exercia uma influência poderosa
sobre ele.
Descartes mudou o pensamento da época afirmando que o corpo
influenciava a mente muito mais do que se podia imaginar. A
relação de influência era mútua.

Lembrem, para o filósofo o corpo = máquina.

Para Descartes, a mente servia somente ao pensamento. Todos os


demais processos eram considerados funções do corpo.
Descartes ao observar o corpo percebia que muitos movimentos
corporais ocorriam sem intenção consciente do indivíduo, tal qual
os autômatos, que necessitavam de uma pressão externa para
funcionar = undulatio reflexa.

Por essa descoberta, também foi considerado o autor da teoria do


ato reflexo, que é uma das teorias bases do behaviorismo. A
ideia: um estímulo pode provocar uma resposta involuntária, como
a perna que salta quando o médico bate no joelho.

O comportamento reflexo é automático, não envolve pensamento.


INTERAÇÃO MENTE-CORPO
Para Descartes a mente é IMATERIAL, ou seja, não tem nenhum
material físico, mas é responsável pelo pensamento e processos
cognitivos.

À mente cabia pensar, perceber e criar vontades, sendo assim,


influenciava o corpo e era também influenciado por ele.

Ele concebeu a mente como unidade, ou seja, ela interagia com o


corpo em apenas um único ponto do cérebro, o corpo pineal, que
não tinha divisões.
IDEIAS DERIVADAS E INATAS
Descartes acreditava que a mente produzia dois tipos de ideias.

Derivadas: dependiam de estímulo externo, eram produto das


experiências dos sentidos. Exemplos: o sino da igreja ou a imagem
de uma árvore.

Inatas: eram desenvolvidas pela própria mente. Exemplos: Deus,


eu, perfeição, infinito.
AUGUSTO COMTE E O
POSITIVISMO
200 anos após a morte de Descartes,
se encerra a Psicologia Pré Científica e
se inicia o período do positivismo.

Positivismo = estudo exclusive de fatos


observáveis objetivamente e
indiscutíveis. O conhecimento derivado
da teologia, por exemplo, era
descartado.
EMPIRISMO
Esta filosofia preocupava-se em descobrir como a mente adquiria
o conhecimento e acreditava que todo o conhecimento era
derivado da experiência sensorial.

A mente evolui com o acúmulo progressivo de experiências


sensoriais.

Principais representantes: Jhon Locke, George Berkeley, David


Harley, James Mill e John Stuart Mill.
JOHN LOCKE
Contribuições:
1) Rejeitou a concepção de Descartes sobre
ideias inatas, afirmando que o ser humano
nascia sem qualquer conhecimento prévio.

2) Conhecimento deriva da experiência.

3) Existem dois tipos de experiência: uma


derivada da sensação e outra da reflexão.
Sensação é tudo aquilo que experimentamos através dos nossos
sentidos e essas experiências são impressões sentido. A reflexão
surge a partir desse contato inicial com o meio que é processado
pela mente.

A sensação surge primeiro que a reflexão porque sem a existência


de um reservatório das impressões dos sentidos, não há como a
mente refletir sobre elas. Durante a reflexão formamos abstrações
e ideias de nível superior.
JOHN LOCKE
Contribuições:
4) Existem ideias simples e complexas, as
segundas são compostas pela combinação
entre as ideias simples e surgem através da
reflexão.

5) Teoria da associação: o conhecimento


resulta da combinação entre ideias simples,
que formam ideias complexas. É chamado
hoje de aprendizagem.
JOHN LOCKE
Contribuições:
6) Qualidades primárias e secundárias = as
primárias existem em um objeto, quer sejam
percebidas ou não pelas pessoas. O
tamanho e forma são primárias, enquanto a
cor é secundária.

Secundária depende da percepção do


sujeito, da experiência, como odor, som,
sabor.
GEORGE BERKELY
Contribuições:

A percepção é a única realidade: ele


concordava com Locke sobre o
conhecimento do mundo exterior ter
origem nas experiências, mas discordava
quanto às qualidades primárias e
secundárias.
Ele acreditava que não existiam qualidades primárias =
mentalismo.

Nunca se conhece de todo a natureza física dos objetos do mundo.


Nosso conhecimento deles é baseado na associação de ideias
simples vindas de diferentes órgãos dos sentidos.
JAMES MILL
É um mecanicista radical.
Não acredita na existência da
subjetividade, a mente é uma máquina
(como um relógio), que age pela influência
de agentes externos = mente
completamente passiva.
Como estudá-la? Decompondo-a em seus
elementos (sensações e ideias).
Os elementos são associados por
contigüidade (simultânea e sucessiva) =
repetição. Exemplo: trovões e raios.
JHON STUART MILL
Filho de James Mill, recebeu uma
educação muito severa dos pais. Como o
pai acreditava que a mente era como
uma folha em branco a ser preenchida,
criou uma rotina de estudos rigorosa com
várias línguas e objetos de
conhecimento. Não podia interagir com
outras crianças e era excessivamente
cobrado.
Aos 3 anos lia em grego, aos 11 escreveu seu primeiro trabalho
acadêmico, aos 18 descreveu-se como uma máquina lógica e aos
21 sofreu uma depressão profunda.

Ele era contrário à posição mecanicista do pai (mente passiva),


acreditava que a mente exercia um papel ativo na associação de
ideias.

Química mental: ideias complexas não são somente a soma das


ideias simples, porque acabam adquirindo novas qualidades não
encontradas antes nos elementos simples = a mistura de cores
forma uma cor completamente nova (síntese criativa).

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