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Terapia Antimicrobiana c 1\1) Í rr (J I.

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Dois anos constituem um longo período para se estar grávida - principalmente


quando os órgãos reprodutores permitem que a água do mar esteja em contato com
eles. A infecção pelos inúmeros micróbios que penetram pelos ovidutos, que se as-
semelham ao útero, da fêmea do tubarão (Squalus acanthias) pareceria um fim pro-
vável para a mãe e/ou para a maioria de seus sete "filhotes". Entretanto, os tubarões
não contraem infecções. O segredo de sua resistência está em um antibiótico de amplo
espectro denominado esqualamina, que está presente em todos os seus tecidos. Ele
ataca as membranas celulares dos micróbios, originando orifícios. A esqualarnina
foi sintetizada em laboratório e está sendo investigada para possível uso em seres
humanos.

Conhecimentos Indispensáveis Perguntas que Vamos Explorar


A Que termos são usados para discutir
bactericida versus bacteriostático (Capítulo 12) quimioterapia e antibióticos e o que eles
inibição competitiva (Capítulo 6) significam?
pressão osmótica (Capítulo 4) B Como se desenvolveram os agentes
síntese de ácido nucléico (Capítulo 2) quimioterápicos?
plasmidios de resistência (Capítulo 8) C De que maneira as expressões toxicidade
seletiva, espectro de atividade e mecanismos
de ação se aplicam aos agentes
antimicrobianos?
D Que tipos de efeitos colaterais estão
nquanto você jaz em um leito de hospital, sofrendo de alguma doença infeccio-
E sa, como é confortador saber-se capaz de se restabelecer, ingerir algumas cáp-
sulas e ter esperanças de se recuperar em breve! Mas as pessoas nem sempre pude-
associados aos agentes antimicrobianos?
E O que significa resistência antibiótica e como
ram fazer isto. No decorrer dos anos, pais ansiosos viram seus filhos morreremde os microrganismos a adquirem?
febres, diarréias, ferimentos infectados e de outras doenças. Cidades inteiras foram F Como são determinadas as sensibilidades dos
devastadas pela peste. Em meados do século XIV, mais de um quarto da população micróbios aos agentes quimioterápicos?
da Europa morreu de Peste Negra (peste bubônica) em apenas alguns anos. Mais G Quais são as características de um agente
pessoas morreram de infecção em períodos de guerra do que por meio de espadas antimicrobiano ideal?
ou balas. Até época relativamente recente, as únicas defesas contra as doenças in-
fecciosas eram tratamentos com chás de ervas e cataplasmas (embebição) ou a fuga
H Quais são as propriedades, usos e efeitos
da área onde a doença estava grassando. Armas modernas e eficientes contra os
colaterais dos agentes antimicrobianos?
micróbios - antibióticos e sulfas - não estavam disponíveis até o século XX. I Quais são as propriedades, usos e efeitos
Faça um retrospecto de sua vida. Houve ocasiões em que você poderia ter morrido colaterais dos agentes antifúngicos, antivirais,
se não houvesse medicamentos antimicrobianos? Com que idade você poderia ter antiprotozoários e anti-helmínticos?
morrido? Qual dos membros de sua farm1ia poderia não estar vivo agora? Felizmente, J Como surgem as infecções hospitalares
vivemos em tempos melhores no que se refere a doenças e mortes causadas por orga- resistentes às drogas e comoelas podem ser
nismos infecciosos. Nos Estados Unidos, a expectativa de vida de uma criança nascida tratadas e evitadas?
em 1850 era de menos de 40 anosrem 1900, de cerca de 50 anos; e, em 1990, de mais
de 70 anos. As doenças infecciosas ceifaram vidas de cerca de 1 em cada 100 residen-
tes dos Estados Unidos, anualmente, até 1900, mas apenas cerca de 1 em cada 300 em
1990. Embora os agentes antirnicrobianos ainda não salvem todos os pacientes, eles
diminuíram drasticamente a taxa de mortalidade por doenças infecciosas. Contudo, pode
voltar um período de mais doenças infecciosas, se os pacientes e a comunidade médica
não conseguirem manter a eficácia dos agentes antirnicrobianos. À medida que um
número maior de patógenos desenvolve resistência às drogas antirnicrobianas disponí-
veis, nossa capacidade de lutar contra as doenças infecciosas diminui.
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Quimioterapia Antimicrobiana Quando os Médicos Aprenderam a Curar


o termo quimioterapia foi criado pelo médico e pesquisador "A explicação era o verdadeiro objetivo da medicina. O que o
alemão Paul Ehrlich para descrever o uso de substâncias quími- doente e sua farru1ia mais queriam era saber o nome da
cas para matar organismos patogênicos sem prejudicar o hospe- doença, e então, se possível, o que a tinha causado, e,
deiro. Atualmente, a quimioterapia se refere ao uso de substân- finalmente, o mais importante de tudo, o que possivelmente
cias químicas para tratar vários aspectos de doenças - aspirina iria acontecer. (...) Gradualmente, percebemos que nós não
para dores de cabeça e inflamação, drogas para regular a função sabíamos muito sobre o que era realmente útil, que nada
podíamos fazer para alterar o curso da grande maioria das
do coração e agentes para livrar o corpo de células malignas. Com
doenças as quais estávamos tão ocupados analisando. (...) E
esta ampla e moderna definição de quimioterapia, descrevemos então surgiu a notícia explosiva da sulfanilamida, e o início da
como agente quimioterápico qualquer substância química usada verdadeira revolução na medicina. Lembro atônito quando os
na prática médica. Tais agentes são também referidos como dro- primeiros casos de septicemia por pneumococos e
gas. estreptococos foram tratados em Boston em 1937. O
Em microbiologia, nós nos dedicamos ao estudo dos agentes acontecimento estava quase além da imaginação. Ali estavam
antimicrobianos, um grupo especial de agentes quimioterápi- pacientes moribundos, que certamente teriam morri do sem
cos usados para tratar doenças causadas por micróbios. Assim, tratamento, melhorando a sua aparência em uma questão de
em termos modernos, um agente antimicrobiano é sinônimo de horas após Ihes ter sido administrado o medicamento e se
sentindo inteiramente bem já no dia seguinte."
agente quimioterápico, como Ehrlich originalmente o definiu.
Neste capítulo, levaremos em consideração uma variedade de - Lewis Thomas, 1983
agentes antimicrobianos e alguns usados para tratar infecções por
helmintos.
Antibiose significa literalmente "contra a vida". Na década
de 1940, Selman Waksman, o descobridor da estreptomicina,
definiu um antibiótico como "uma substância química produzi- nha sido de grande importância terapêutica, foram ainda mais im-
da por microrganismos que tem a capacidade de inibir o cresci- portantes os conceitos que ele desenvolveu para a nova ciência
mento de bactérias, e mesmo de destruir bactérias e outros mi- da quirnioterapia. Ehrlich estava interessado nos mecanismos pe-
crorganismos em solução diluída". Contrariamente, os agentes los quais as substâncias químicas se ligam aos microrganismos
sintetizados em laboratório são denominados drogas sintéticas. e aos tecidos animais. Seus estudos sobre as substâncias quími-
Alguns agentes antimicrobianos são sintetizados modificando- cas que se ligam aos tecidos levaram aos corantes histológicos
se, por meio químico, uma substância de um microrganismo. que ainda hoje são usados.
Mais freqüentemente, um precursor sintético diferente do natu- Os progressos seguintes em quimioterapia foram o desenvol-
ral é fornecido a um microrganismo, que então completa a sín- vimento quase concorrente das sulfas e dos antibióticos. Em
tese do antibiótico. Os agentes antimicrobianos fabricados par- 1935, Gerhard Domagk descobriu que o prontosil, um corante
cialmente por síntese em laboratório e parcialmente por micror- vermelho, inibe o crescimento de muitas bactérias Gram-positi-
ganismos são denominados drogas semi-sintéticas. vaso No ano seguinte, Ernest Fourneau descobriu que a ativida-
de antimicrobiana se devia à fração sulfanilamida da molécula
do prontosil. Estas descobertas estimularam o desenvolvimento

História da Quimioterapia de um grupo de substâncias denominadas sulfonamidas ou sul-


fas. À medida que o número de sulfas cresceu, tomou-se possí-
No decorrer da história, os homens sempre tentaram aliviar o vel usá-Ias para atacar diretamente uma grande variedade de
sofrimento com o tratamento da doença - freqüentemente in- patógenos.Contudo, a utilidade das sulfas é limitada. Elas não
gerindo misturas de substâncias vegetais. Embora os antigos atacam todos os patógenos, e, às vezes, causam lesões renais e
egípcios usassem o bolor do pão para tratar ferimentos, eles não alergias. Mas elas salvaram muitas vidas e continuam a fazê-lo
tinham conhecimento algum dos antibióticos que o fungo con- ainda hoje.
tinha. Pedaços de casca do salgueiro, que agora sabe-se que con- Alexander Fleming percebeu que a capacidade do bolor Pe-
têm um composto intimamente relacionado à aspirina, foram nicillium de inibir o crescimento de microrganismos deveria ser
usados para aliviar a dor. Partes da planta dedaleira foram usa- explorada. Esta idéia o levou a identificar o agente inibidor que
das para tratar doenças cardíacas durante o século XVI, embora ele chamou de penicilina. Em 1928, Fleming já havia observa-
o princípio ativo, a digitalis, não tivesse sido identificado. De do muitas vezes a contaminação de suas culturas bacterianas com
modo semelhante, extratos contendo quinina provenientes da esse fungo, como o tinham feito muitos outros microbiologis-
chinchona eram usados para tratar a malária. tas. Contudo, em vez de reclamar a respeito de outra cultura
Apesar de sua reputação pelo uso de rituais irrelevantes para contaminada e de jogá-Ia fora, Fleming percebeu o tremendo
a cura de doenças, os curandeiros tradicionais das sociedades potencial deste achado acidental. Se somente a substância (pe-
primitivas, especialmente nos trópicos, são grandes conhecedo- nicilina) pudesse ser extraída e coletada em grandes quantida-
res das propriedades medicinais das plantas. Seus conhecimen- des, ela poderia ser usada no combate à infecção.
tos têm sido transmitidos de geração a geração. Pelo fato de es- A idéia de Fleming não teve sucesso até o início de 1940,
tes curandeiros estarem desaparecendo, empresas farmacêuticas quando Ernest Chain e Howard Florey finalmente isolaram a
estão tentando aprender com eles, fazem registros escritos de seus penicilina e trabalharam com outros pesquisadores para desen-
tratamentos e estão testando também as plantas que eles usam. volver métodos de produção em massa. Esta produção em mas-
Na civilização ocidental, a primeira tentativa sistemática para sa ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial e salvou a vida de
descobrir substâncias químicas específicas para tratar doenças muitas pessoas cujos ferimentos foram infectados. Entretanto, os
infecciosas foi feita por Paul Ehrlich. '- (Cap. 1) Embora a des- suprimentos da droga eram limitados, e só foi posta à disposi-
coberta do Salvarsan, em 1910, para o tratamento da sífilis, te- ção dos civis após a guerra. No período pós-guerra, a pesquisa
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continuou rapidamente e novos antibióticos foram descobertos e menos tóxico ao paciente do que um outro agente com o índi-
um após o outro. ce quimioterápico 1.
A introdução da penicilina e das sulfonamidas na década de Para drogas que contenham arsênico, mercúrio e antimônio,
1930 pode ser considerada como o marco do início da medicina a dosagem deve ser calculada de maneira muito precisa, porque
moderna. Como o escritor médico Lewis Thomas disse: "Os estas substâncias são altamente tóxicas aos hospedeiros huma-
médicos podiam agora curar as doenças, e isto era espantoso, nos e a outros animais, tanto quanto aos patógenos. O tratamen-
principalmente para os próprios médicos." to das infecções por vermes é especialmente difícil, porque o que
causa dano ao parasita também causará dano ao hospedeiro.
Contrariamente, os patógenos bacterianos podem freqüentemente
ser tratados pela interferência nas vias metabólicas não compar-
Propriedades Gerais dos Agentes tilhadas pelo hospedeiro. Por exemplo, a penicilina interfere na
síntese da parede celular; não é toxica às células humanas, as
Antimicrobianos quais carecem de paredes, embora alguns pacientes sejam alér-
Os agentes antimicrobianos compartilham determinadas propri- gicos à penicilina.
edades comuns. Podemos aprender muito quanto ao modo de
funcionamento destes agentes e por que eles às vezes não funci-
onam, considerando propriedades tais como a toxicidade seleti- Espectro de Atividade
va, o espectro de atividade, o mecanismo de ação, os efeitos A gama de diferentes micróbios contra os quais um agente anti-
colaterais e a resistência dos microrganismos a eles. microbiano atua é chamada de espectro de atividade. Os agentes
que são eficazes contra um grande número de microrganismos de
uma ampla extensão de grupos taxonômicos, incluindo tanto bac-
Toxicidade Seletiva térias Gram-positivas como Gram-negativas, são considerados
Algumas substâncias químicas com propriedades antimicrobia- possuidores de um ainplo espectro de atividade. Os que são efi-
nas são tóxicas demais para serem ministradas internamente, cientes apenas contra um pequeno número de microrganismos ou
sendo usadas apenas em aplicação tópica - aplicação na super- um único grupo taxonômico possuem um estreito espectro de
fície da pele. Para uso interno, uma droga antimicrobiana deve atividade (~ Fig. 13.1). Alguns antibióticos comuns são classifi-
ter toxicidade seletiva - quer dizer, deve causar danos aos cados de acordo com o seu espectro de atividade no Quadro 13.1.
micróbios sem causar dano significativo ao hospedeiro. Algu- Uma droga de amplo espectro é particularmente útil quando
mas drogas, tais como a penicilina, têm um amplo alcance entre um paciente está seriamente doente com uma infecção causada
o nível de dosagem tóxica, que causa danos ao hospedeiro, e o por um organismo não identificado. O uso desta droga aumenta
nível de dosagem terapêutica, que elimina com sucesso o or- a chance de que o organismo será susceptível a ela. Entretanto,
ganismo patogênico, se o nível for mantido por um certo perío- se a identidade do organismo for conhecida, deve ser usada uma
do de tempo. A relação entre a toxicidade de um agente ao cor- droga de estreito espectro. O uso de tal droga reduz ao mínimo a
po e sua toxicidade a um agente infeccioso é expressa em ter- destruição da microbiota do hospedeiro, ou microbiota normal
mos de seu índice quimioterápico. Para um determinado agente, - os micróbios nativos que ocorrem naturalmente dentro ou
o índice quimioterápico é definido como sendo a dose máxima sobre o hospedeiro, os quais às vezes competem com os orga-
tolerável por quilo de peso do corpo dividida pela dose mínima, nismos infecciosos e ajudam a destruí-los. O uso de drogas de
por quilo de peso do corpo, que vai curar a doença. Deste modo, estreito espectro também diminui a probabilidade de os organis-
um agente com um índice quimioterápico 8 seria mais eficiente mos desenvolverem resistência às drogas.

Bactérias Bactérias
Micobactérias Clamídias Rickétsias
Gram-negativas Gram-positivas

Tobramicina Penicilinas

. I_I
Estreptomicina
.
Sulfonamidas
Cefalos orinas

Tetraciclinas
. ,
Isoniazida Polimixinas

»> Fig. 13.1 Espectro de atividade dos antibióticos. Drogas de amplo espectro, tais como as tetraciclinas, afetam uma variedade de organismos
diferentes. As drogas de estreito espectro, tais como a isoniazida, afetam somente poucos tipos específicos de microrganismos.
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de sua contraparte nos animais. Esta diferença é explorada quan-


>- Quadro 13.1 Espectro de atividade de agentes do se exerce um efeito bactericida ou mortal, ou um efeito bac-
antimicrobianos selecionados teriostático ou inibidor do crescimento, efeito sobre as bactérias
com conseqüências mínimas para as células do hospedeiro .••
Agentes Agentes
(Cap. 12) Entretanto, o sistema imunológico do hospedeiro ou
Organismos de amplo de estreito
espectro= espectro as defesas fagocíticas devem ainda completar a eliminação dos
afetados
micróbios invasores.
Bacteróides e outros Cefalosporinas Lincomicina Aqui são discutidos cinco diferentes mecanismos de ação dos
anaeróbios agentes antimicrobianos: (1) inibição da síntese da parede celu-
Leveduras Cloranfenicol Nistatina lar, (2) destruição da função da membrana celular, (3) inibição
Bactérias Gentamicina Penicilina G da síntese de proteínas, (4) inibição da síntese de ácidos nucléi-
Gram-positivas Ampicilina Eritromicina cos e (5) ação como antimetabólitos (>- Fig. 13.2).
Bactérias Canamicina Polimixinas
Gram-negativas
Estreptococos e Tetracic1inas Estreptomicina Inibição da Síntese da Parede Celular
algumas bactérias Muitas células de bactérias e de fungos apresentam paredes ce-
Gram-negativas
lulares externas rígidas, ao passo que faltam paredes às células
Estafilococos, Tetracic1inas Vancomicina
enterococos e animais. Conseqüentemente, a inibição da síntese da parede ce-
alguns c1ostrídios lular causa, seletivamente, danos às células das bactérias e dos
fungos. As células bacterianas, especialmente as Gram-positivas,
*Os agentes de amplo espectro afetam a maioria das bactérias. apresentam uma elevada pressão osmótica interna. Sem uma
parede celular normal, estas células arrebentam quando subme-
tidas a uma baixa pressão osmótica dos líquidos do corpo. ••
(Cap. 4) Os antibióticos tais como a penicilina e a cefalosporina
Mecanismos de Ação contêm uma estrutura química denominada anel f3-lactâmico, que
Do mesmo modo que outros medicamentos, os agentes antimicrobi- se liga às enzimas que interligam os polipeptidoglicanos .•• (Cap.
anos são às vezes usados apenas porque agem sobre os microrganis- 4) Estes antibióticos, por interferirem nas ligações cruzadas dos
tetrapeptídios, impedem a síntese da parede celular (>- Fig. 13.3).
mos sem que saibamos como eles o fazem. As vidas de muitas pes-
Os fungos cujas paredes celulares não possuem peptidoglicanos
soas foram salvas por medicamentos cujas ações no nível celular
não são afetados por tais antibióticos.
nunca foram compreendidas. Entretanto, é sempre desejável se co-
nhecer o mecanismo de ação de um agente. Com tal conhecimento,
os efeitos das ações sobre os pacientes podem ser melhor monitora- Destruição da Função da Membrana Celular
dos e controlados e maneiras de melhorá-los podem ser encontradas. Todas as células são limitadas por uma membrana. Embora as
As drogas antimicrobianas geralmente atuam sobre uma es- membranas de todas as células sejam bastante semelhantes, as
trutura ou função microbiana importante que geralmente difere membranas das bactérias e dos fungos diferem suficientemente

1. Inibição da síntese da 2. Destruição da função da


parede celular membrana celular
Exemplos: penicilina, Exemplo: polimixina
bacitraci na, cefalospori na

Membrana celular bacteriana

4. Inibição da síntese de
ácidos nucléicos 3. Inibição da síntese
de proteínas
Exemplos: rifamicina
Exemplos: tetraciclina,
(transcrição), quinolonas
eritromicina,
(replicação do DNA)
estreptomicina,
cloranfenicol

5. Ação como
antimetabólitos

Exemplos: sulfonilamidas,
trimetoprim

> Fig. 13.2 Mecanismos de ação. São mostrados aqui os cinco principais mecanismos de ação pelos quais as drogas exercem seus efeitos anti-
microbianos sobre as células das bactérias.
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te ligando-se aos fosfolipídios da membrana. (Com esta altera-


Nada como uma Tigela de Sopa de Barbatana ção, a membrana deixa de ser regulada pelas proteínas da mem-
de Tubarão brana e o citoplasma e as substâncias celulares se perdem.) Es-
Os tubarões, além das suas poderosas mandíbulas e seu tes antibióticos são especialmente eficientes contra bactérias
temperamentoperverso, são conhecidos por sua extraordinária Gram-negativas que possuem uma membrana externa rica em
resistência a tumores e infecções. A esqualamina, um fosfolipídios .••• (Cap. 4) Os antibióticos polienos, tais como a
antioxidanteisolado de tubarões, mostra-se grande promissora anfotericina B, se ligam a determinados esteróis presentes na
para ser usada como antibióticoe agente antitumoral.Em membrana de células de fungos (e de animais). Assim, as
experiênciascom animais, a esqualamina diminui o crescimento
polimixinas não atuam sobre os fungos e os polienos não atuam
de carcinoma do reto e certos tumores cerebrais. O mecanismo
de ação deste composto parece ser a sua capacidade de bloquear sobre as bactérias.
a capacidadedo tumor de desenvolver seu próprio suprimento
sangüíneo.A esqualarninaapresenta também uma atividade Inibição da Síntese de Proteínas
antibióticade amplo espectro. O composto mata as bactérias
atacando e fazendo orifícics na membrana celular. As Em todas as células, a síntese da proteína necessita não somente
barbatanas do tubarão funcionam como matéria-primaque pode das informações armazenadas no DNA mais diversas espécies
ser comprada em mercearias chinesas e farmácias. Uma sopa de RNA, porém também de ribossomos. As diferenças entre os
tradicionalé feita com as barbatanas do tubarão a fim de ribossomos bacterianos (70S) e os dos animais (80S) permitem
proteger a saúde e acelerar a recuperaçãoquando se está doente. que agentes antimicrobianos ataquem as células bacterianas sem
causar danos significativos às células animais - quer dizer, com
toxicidade seletiva. Os antibióticos aminoglicosídios, tais como
a estreptomicina, têm seu nome derivado dos aminoácidos e das
ligações glicosídicas que eles contêm. Eles atuam na porção 30S
das membranas de células animais para permitir uma ação sele- dos ribossomos bacterianos, interferindo na leitura (tradução)
tiva dos agentes antimicrobianos. Determinados antibióticos acurada da mensagem do RNAm - isto é, a incorporação dos
polipeptídicos, tais como as polimixinas, atuam como detergen- aminoácidos corretos .••• (Cap. 7) O c1oranfenicol e a eritromi-
tes e alteram as membranas celulares das bactérias, provavelmen- cina atuam na porção 50S dos ribossomos bacterianos, inibindo
a formação do polipeptídio em crescimento. Pelo fato de os ri-
bossomos das células animais serem constituídos de subunida-
des 60S e 40S, estes antibióticos têm pequeno efeito nas células
do hospedeiro. (As mitocôndrias, entretanto, que apresentam ri-
bossomos 70S, podem ser afetadas por tais drogas.)

Inibição da Síntese de Ácidos Nucléicos


As diferenças entre as enzimas utilizadas pelas células bacteria-
nas e animais para sintetizar os ácidos nuc1éicos proporcionam
um meio para a ação seletiva dos agentes antimicrobianos. Os
antibióticos da família da rifarnicina se ligam a uma RNA poli-
merase bacteriana e inibem a síntese do RNA. ••• (Cap. 7)

••
(a)
Ação como Antimetabólitos
Os processos metabólicos normais das células microbianas en-
volvem uma série de compostos intermediários denominados
metabólitos, que são essenciais para o crescimento e a sobrevi-
vência celular. Os antimetabólitos são substâncias que prejudi-
cam a utilização de metabólitos e que, portanto, impedem uma
célula de realizar as reações metabólicas necessárias. Os antime-
tabólitos funcionam de duas maneiras: (1) inibindo competiti-
vamente as enzimas e (2) sendo erroneamente incorporados em
moléculas importantes, tais como os ácidos nuc1éicos. Os anti-
metabólitos são estruturalmente similares aos metabólitos nor-
mais. As ações dos antimetabólitos são às vezes denominadas
mimetismo molecular, porque eles imitam a molécula normal,
impedindo que uma reação ocorra ou vá em outro sentido.
Na inibição competitiva, uma reação enzimática é inibida
por um substrato que se liga ao sítio ativo da enzima, mas não

(b)

~ Fig. 13.3 Inibição da síntese da parede celular pela penicilina. Quando voluntários humanos submetem-se a uma dieta com
SEM da bactéria (a) antes e (b) após a exibição à penicilina (aumento alimentos esterilizados, o número de bactérias resistentes em
de 785 X). Observe a distorção da forma da célula, devido à quebra, pela suas fezes diminui 1.000 vezes.
penicilina, das ligações cruzadas entre os tetrapeptídios na camada de
peptidoglicano da parede celular.
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NH2
A Farmácia do Futuro: Drogae Antl-eeneo
-:;:?' As drogas do futuro farão muito mais do que tratar sintomas
- elas atacarão os genes causadores da doença. Muitas
empresas de biotecnologia que investiram seu futuro no
~ desenvolvimento destas terapias estão usando ácidos nucléicos
sintéticos a fim de impedir a expressão de genes específicos
COOH envolvidos com AIDS, câncer e doenças inflamatórias.
Pensou-se que, devido à alta especificidade do 'alvo, as drogas
(a)
anti-senso produziriam poucos efeitos colaterais tóxicos.
Entretanto, estudos toxicológicos mostraram que as drogas
NH2 NH2 anti-senso podem produzir diminuição na contagem de células
sangüíneas em vários roedores e extrema hipotensão em
macacos. Existem três tipos básicos de drogas anti-senso.
-:;:?' -:;:?'
Os compostos anti-senso clássicos são oligonucleotídios
específicos para genes pequenos que se ligam a regiões
complementares no RNAm e impedem a tradução das
~ ~ proteínas. O segundo tipo de droga anti-senso utiliza
HO
ribozimas, enzimas feitas pelo RNA, para destruir RNAm
S02NH2 COOH específicos ligados aos oligonucleotídios anti-senso. A terceira
classe de drogas anti-senso oligonucleotídicas tem como alvo
(b) (c) tecidos e órgãos específicos.

~ Fig. 13.4 Inibição competitiva. (a) Ácido para-aminobenzóico


(PABA), um metabólito requerido por muitas bactérias. (b) Sulfanila-
mida, uma sulfa. (c) Ácidopara-aminosalicílico (PAS). A sulfanilami-
da e o PAS agem como inibidores competitivos do PABA. Observe a
semelhança de estrutura entre os três compostos.
dieta; deste modo, o seu metabolismo não é prejudicado por
estes inibidores competitivos.
Os antimetabólitos, tais como a vidarabina, análogo das pu-
pode reagir. '- (Cap. 5) Enquanto este substrato competitivo rinas, e a idoxuridina, análogo das pirimidinas, são erroneamen-
ocupa o sítio ativo, a enzima fica incapaz de funcionar e o te incorporados aos ácidos nucléicos. Estas moléculas são mui-
metabolismo diminuirá de intensidade ou mesmo cessará se to semelhantes às purinas e às pirimidinas normais dos ácidos
quantidades suficientes de moléculas enzimáticas forem inibi- nucléicos (:> Fig. 13.5). Quando incorporadas a um ácido nu-
das. Considere a sulfanilamida e o ácido paracaminosalicílico cléico, elas alteram as informações que ele codifica, porque não
(PAS), que são, do ponto de vista químico, muito semelhantes podem formar os pares de bases corretos durante a replicação e
ao ácido para-aminobenzóico (PABA) (:> Fig 13.4). Eles ini- a transcrição. Os análogos das purinas e pirimidinas são geral-
bem competitivamente uma enzima que atua sobre o PABA. mente tóxicos tanto para as células animais quanto para os mi-
Muitas bactérias precisam do PABA para fabricar o ácido fóli- cróbios, porque todas as células usam as mesmas purinas e piri-
co de que elas necessitam para sintetizar os ácidos nucléicos e midinas para fabricar os nucleotídios. Estes agentes são extre-
outros produtos metabólicos. Quando a sulfanilarnida ou o PAS, mamente úteis no tratamento das infecções virais, porque os ví-
em vez do PABA, é ligado à enzima, as bactérias não podem rus incorporam os análogos mais rapidamente do que o fazem
fabricar o ácido fólico. Faltam às células animais as enzimas as células do hospedeiro, o que os toma mais severamente dani-
para fabricar o ácido fólico e elas precisam obtê-lo a partir da ficados.

H~I
N I
O~N

H
C
N -:::/ "'--CH

I II
HC~ /CH
HO H N HO H

(a) (b) (c) (d)

~ Fig. 13.5 Análogos de bases. Bases dos ácidos nucléicos e seus análogos: moléculas tão similares em estrutura que podem ser incorporadas no
lugar da molécula correta, agindo assim como antimetabólitos. (a) Estrutura básica de unia purina. (b) Vidarabina, análogo da purina. (c) Estru-
tura básica de uma pirimidina. (d) Idoxuridina, análogo da pirimidina.
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Tipos de Efeitos Colaterais perturbada, outros organismos não sensíveis ao agente antimi-
crobiano, tais como o fungo Candida, invadem as áreas não ocu-
Os efeitos colaterais dos agentes antimicrobianos sobre as pes- padas e se multiplicam rapidamente. A invasão pela substitui-
soas infectadas (hospedeiros) se classificam em três categorias ção da microbiota é chamada superinfecção. As superinfecções
gerais: (1) toxicidade, (2) alergia e (3) destruição da microbiota são difíceis de tratar porque os microrganismos são susceptíveis
normal. O desenvolvimento da resistência aos antibióticos pode a poucos antibióticos.
também ser considerado como um efeito colateral sobre os mi- Embora o uso da penicilina por um curto período de tempo
crorganismos. Como explicado posteriormente, a resistência geralmente não destrua de maneira severa a microbiota normal,
produz infecções que podem ser difíceis de tratar. a ampicilina oral às vezes permite o desenvolvimento excessivo
de clostrídios produtores de toxinas. O uso da penicilina ou de
Toxicidade arninoglicosídios por um longo período pode abolir a microbio-
Por sua toxicidade seletiva e mecanismo de ação, os agentes ta normal e permitir a colonização do intestino com bactérias
antimicrobianos matam os micróbios sem causar sérios danos às Gram-negativas e fungos resistentes, como a Candida. O iogur-
células do hospedeiro. Entretanto, alguns antimicrobianos exer- te com cultura viva (que contém lactobacilos) ou um preparado
cem realmente efeitos tóxicos nos pacientes que os receberam. denominado Lactinex (que contém microbiota normal) pode ser
Estes efeitos tóxicos serão discutidos mais tarde juntamente com administrado para contrabalançar os efeitos dos antibióticos. As
os agentes específicos. superinfecções orais e vaginais com espécies de Candida são
comuns após uso prolongado de agentes antimicrobianos tais
como as cefalosporinas, as tetraciclinas e o cloranfenicol. Um
Alergia antigo medicamento para este problema é lavar com suspensões
Uma alergia é uma condição em que o sistema imunológico do diluídas de culturas vivas de iogurte. O risco de superinfecções
organismo responde a uma substância estranha, geralmente uma graves é muito maior em pacientes hospitalizados que estão re-
proteína. Por exemplo, produtos de degradação da penicilina se cebendo antibióticos de amplo espectro, por duas razões. Pri-
combinam às proteínas nos líquidos do organismo para formar meiro, porque os pacientes estão freqüentemente debilitados e
uma molécula que o corpo considera como estranha. As reações menos capacitados a resistir à infecção. Segundo, porque es-
alérgicas podem ser limitadas a moderados exantemas e cocei- tão em um ambiente onde prevalecem os patógenos resistentes
ras na pele, ou podem ameaçar a vida. Um tipo de reação alérgi- às drogas.
ca ameaçadora da vida denominada choque anafilático (Cap. 18)
ocorre quando um indivíduo é submetido a uma substância es-
tranha à qual o seu organismo já se tomou sensibilizado - quer
dizer, uma substância à qual o indivíduo foi exposto e contra ela
Resistência dos Microrganismos
Resistência de um microrganismo a um antibiótico significa que
desenvolveu anticorpos.
um microrganismo antes susceptível à ação de um antibiótico não
é mais por ele afetado. Um fator importante no desenvolvimen-
Destruição da Microbiota Normal to de cepas de microrganismos resistentes a drogas é que muitos
Os agentes antimicrobianos, especialmente os antibióticos de antibióticos são bacteriostáticos em vez de bactericidas. Infeliz-
amplo espectro, podem exercer seus efeitos adversos não somente mente, os micróbios com maior capacidade de recuperação es-
sobre os patógenos, mas também sobre a microbiota nativa - capam das defesas (Cap. 14) e desenvolvem resistência aos an-
os microrganismos que habitam normalmente a pele e os tratos tibióticos.
digestivo, respiratório e urogenital. Quando esta microbiota é

Yieqem Espacial para Micróbios


ResÍf;;têncía aos Antibióticos: Droqee em
Há uma preocupação com o fato de que os astronautas que
Rações Animais
viajam e ficam por longos períodos de tempo no espaço
Nos últimos 50 anos, os antibióticos têm sido usados em possam ter dificuldade no tratamento de suas infecções
alimentos animais, não somente para evitar doenças, mas bacterianas devido à resistência aumentada aos antibióticos.
também para promover o crescimento de animais de corte. As bactérias isoladas em cosmonautas russos mostraram uma
Os antibióticos são usados no alimento animal na proporção resistência aumentada aos antibióticos após um vôo espacial
de 2 a 50 gramas por tonelada para melhorar o crescimento e quando comparadas com as bactérias isoladas antes da missão.
urna quantidade que vai de 50 a 200 gramas por tonelada de Desde então, tem sido visto que o crescimento das bactérias
alimento quando se tem como alvo doenças específicas. em ambiente de gravidade zero se dá mais rápido e as
Depois que os animais foram alimentados com antibióticos bactérias apresentam paredes celulares mais espessas. O Dr.
durante longos períodos de tempo, eles eliminam bactérias James Jorgensen, do Centro de Ciências da Saúde da
resistentes em suas fezes. A transferência destas bactérias de Universidade do Texas, diz que o espessamento da parede
animais para os seres humanos ocorre quando as pessoas que celular toma mais difícil a penetração dos antibióticos nos
estão trabalhando com animais são infectadas em fazendas ou micróbios - desta forma contribuindo para a perda de
abatedouros. As bactérias resistentes aos antibióticos penetram sensibilidade aos antibióticos. Além disso, existem muitos
na comunidade em grande proporção quando a carne é locais dentro dos limites do veículo espacial que permitem a
preparada e consumida. Sem dúvida, o uso de antibióticos com rápida disseminação de genes de resistência. Experimentos em
o objetivo de melhorar o crescimento dos animais de corte é laboratórios espaciais no futuro planejam determinar se os
em parte responsável pelo aumento de bactérias micróbios realmente se tomam mais resistentes aos
multirresistentes a drogas em nossas comunidades. antibióticos em conseqüência da viagem espacial.
TERAPIA AN'fIMICROBIANA

Como a Resistência é Adquirida o


Os microrganismos geralmente adquirem resistência aos antibió- 1& o
o

ticos por meio de modificações genéticas, mas às vezes eles o o o


o
fazem por mecanismos não-genéticos. A resistência não-genéti- o o
ca ocorre quando os microrganismos, como os que causam a
tuberculose, permanecem nos tecidos, fora do alcance dos agen-
tes antimicrobianos. Se os microrganismos isolados começam a
(a)
se multiplicar e liberar seus descendentes, tal geração ainda é
susceptível ao antibiótico. A este tipo de resistência poderia ser
dado o nome de evasão. Um outro tipo de resistência não-gené-
tica ocorre quando determinadas cepas de bactérias se transfor-
mam temporariamente em formas L, as quais carecem da maior
parte de suas paredes celulares .•• (Apêndice B) Durante várias
gerações, enquanto está faltando a parede celular, estes organis-
mos resistem aos antibióticos que atuam sobre as paredes celu-
lares. Entretanto, quando eles voltam a produzir paredes celula- (b)
res, tornam-se novamente susceptíveis aos antibióticos.
A resistência genética aos agentes antimicrobianos decorre de ~ Fig. 13.6 Método de detecção de resistência genética. (a) Popula-
modificações genéticas seguidas pela seleção natural (~ Fig. ção mista de bactérias de resistência variada a um novo antibiótico. (b)
O antibiótico é adicionado à placa de Petri. Somente aqueles microrga-
13.6) .•• (Cap. 8) Por exemplo, na maioria das populações bac-
nismos com suficiente resistência sobreviverão. A introdução do anti-
terianas as mutações ocorrem espontaneamente, numa propor- biótico representa uma mudança no meio, mas ele não induz o apareci-
ção de 1 por 10 milhões até 10 bilhões de organismos. As bacté- mento de organismos resistentes - eles já existiam.
rias se reproduzem tão rapidamente que bilhões de organismos
podem ser produzidos em um curto período de tempo, e, entre
eles, haverá sempre alguns mutantes. Se acontecer de algum
mutante ser resistente a um agente antimicrobiano do meio am- único tipo de antibiótico. Tais mutações freqüentemente alteram
biente, esse mutante e seus descendentes terão maiores probabi- o DNA que dirige a síntese das proteínas ribossomiais. A resis-
lidades de sobreviver, ao passo que os organismos não-resisten- tência extracromossomial se deve geralmente à presença de
tes morrerão. Após algumas gerações, a maioria dos sobreviven- tipos particulares de plasmídios de resistência (R), ou fatores
tes será resistente ao agente antimicrobiano. Os antibióticos não R. •• (Cap. 8) Não se sabe como se originaram os plasmídios de
induzem mutações, mas podem criar ambientes que favorecem resistência, mas eles foram descobertos na Shigella, no Japão,
a sobrevivência de organismos mutantes resistentes. em 1959. A partir desta data, muitos plasmídios R diferentes
A resistência genética em bactérias, onde ela é melhor com- foram identificados. Alguns plasmídios R transportam até seis
preendida, pode ser devida às modificações no cromossomo ou sete genes, cada um dos quais conferindo resistência a um
bacteriano ou à aquisição de um DNA extracromossomial, ge- antibiótico diferente. Os plasmídios R também podem ser trans-
ralmente em plasrnídios. (Os mecanismos por meio dos quais feridos de uma cepa ou espécie de bactérias para outra. A maio-
ocorrem as modificações genéticas foram descritos nos Caps. 7 ria das transferências ocorre por transdução (transferência do
e 8). A resistência cromossomial é devida a uma mutação no DN A do plasrnídio em um bacteriófago) e algumas ocorrem por
DNA cromossomial e, geralmente, só será efetiva contra um conjugação .•• (Cap. 8)

Combater Doençee no Jardim Zoológico: Não É um


Trabalho Fácil
Entrevieta
Rob Schumaker: Logo que entrei na jaula dos macacos naquela
manhã, percebi que um deles estava realmente doente. A primeira
coisa que percebi foi uma grande quantidade de fezes líquidas na
jaula. Os macacos colobus apresentam fezes na forma de pequenas
bolotas, e, assim, um deles estava definitivamente com problema.
Olhei para os animais para descobrir qual deles era. Nós, os
tratadores, como vocês sabem, olhamos para cada animal todos os Um dos macacos colo-
dias e, na verdade, passamos a conhecê-los bem. Imaginei que se bus preto e branco do
tratava de Emily. Sua face estava muito inchada - tanto que seus zoológico - ruminan-
olhos estavam quase fechados pelo inchaço. Sua cauda estava tes que dependem dos
imunda. Eu estava realmente preocupado. Emily é a fêmea mais micróbios de seu intes-
velha do grupo, o que faz dela o ceme das fêmeas. Pensamos, tino para ajudá-Ios a di-
gerir os alimentos.
também, que ela estivesse grávida.
Eu sou Rob Schumaker. Eu trabalho como tratador de macacos
e dos grandes símios no Jardim Zoológico Nacional de Smithsonian macacos a que me refiro são os colobus pretos e brancos:
em Washington, D.e. Estou estudando para me graduar em Colobus abyssinicus. São encontrados na África desde a Etiópia
zoologia, e tenho particular interesse pela microbiologia. Os até a Tanzânia e no Zaire. Sua dieta natural consiste de folhas e
__ 'l'IlUAI'IA AN'I'HIICUmUANA

frutos. Os macacos colobus vivem em grupo de dois até quinze ou tornou-se um animal muito fraco por um longo período. Ela
mais. Os machos são um tanto solitários, mas as fêmeas têm uma perdeu o filhote que estava gerando e também abortou nos dois
sociedade altamente estruturada, com muitas regras. períodos seguintes de gravidez. Este ano, entretanto, ela teve um
Observei Emily um pouco mais. Aqui os veterinários fazem filhote saudável.
visitas diárias, mas eu estava preocupado com Emily e não quis Schumaker: Não obstante soubéssemos qual o microrganismo
esperar que eles viessem até nós. E, mesmo que pudesse ser muito que estava tornando Emily tão doente, estávamos ainda muito
penoso para ela, decidimos colocá-Ia em uma jaula de transporte e preocupados com ela. Sua separação do grupo familiar poderia ser
levá-Ia ao hospital. Tínhamos que descobrir qual era a sua doença. muito estressante tanto para ela como para o seu grupo, e esse
Nossos grupos tinham sido sempre de bons colaboradores; até estresse poderia ser a diferença entre recuperá-Ia ou não. Estar em
aquele momento, tínhamos escapado de dificuldades que outras um hospital é também estressante para os pacientes animais -
colônias de macacos haviam experimentado. eles não conseguem compreender onde estão ou por quê. Os
Dr. Richard Montali: Estas outras dificuldades foram surtos tratadores do hospital são muito bons, mas os animais não os
de disenteria causada pela bactéria Shigella. Ela é um problema conhecem. E eles nem sempre sabem como falar com os animais
em muitas colônias de primatas, e, mesmo em bons zoológicos, individualmente, ou quais são as suas necessidades específicas.
macacos e micos são freqüentemente portadores. Eu sou o Dr. Assim, os tratadores de primatas vão aos hospitais e visitam seus
Richard Montali, o veterinário patologista do Zoológico Nacional. pacientes doentes. Eles lhes dão o alimento na boca, se necessário.
Nosso zoológico não havia tido problemas com Shigella até 1984. Montali: Os tratadores e a equipe de veterinários do zoológico
Agora, eu e o Dr. Mitchell Bush, o veterinário clínico do trabalham em conexão íntima. É importante que a equipe seja
zoológico, estamos fazendo um estudo intensivo de infecção por educada e esteja consciente dos problemas potenciais. Por
Shigella. Duas vezes por ano examinamos cultura de fezes de exemplo, aprendemos a evitar exposições misturadas de diferentes
cada animal durante três dias consecutivos. Encontramos aS. espécies de animais, porque alguns podem ser prejudicados pelo
flexneri e a S. sonnei. Encontramos animais portadores. Até o alimento dos outros. Observamos algumas perdas na casa dos
presente, nenhum dos tratadores a contraiu - embora um dos pequenos mamíferos por causa de situação semelhante. Alguns
veterinários a tivesse. sagüis morreram de infecção pelo Streptococcus zooepidemicus,
A Shigella poderia ter sido introduzida por seres humanos ou Grupo C. Esta bactéria é um patógeno oportunista em seres
por um novo animal. Realmente não sabemos. Entretanto, humanos e é transmitida por cavalos. Está presente, normalmente,
estamos considerando a possibilidade de usar a vacina humana em nos tratos respiratório e genital dos cavalos e pode algumas vezes
animais. Estamos em contato com o Johns Hopkins a respeito de causar sérias infecções até neles mesmos. Em um pequeno
uma vacina contra Shigella, que eles estão desenvolvendo, e que mamífero, como o sagüi, a infecção começa nos linfonodos e, em
poderia ser aplicável aos nossos primatas. O Centro Médico do seguida, se desenvolve em septicemia.
Exército Walter Reed tem também sido bastante prestimoso. Nós Como os sagüis adquiriram uma infecção eqüina?
identificamos a bactéria da disenteria em nossos próprios Provavelmente, dos alimentos dados aos tatus com os quais
laboratórios, mas agora eles fazem culturas especiais para nós, conviviam. Alimentamos os tatus com um produto cru preparado
para caracterizar os organismos por espécie e mesmo por cepas. É com carne de cavalo, vendido comercialmente congelado. Em
uma felicidade ter estes centros médicos próximo de nós. uma exibição mista, tal como a que estamos falando, o sagüi deve
Nós também identificamos outros patógenos nos animais do ter-se aproximado da comida do tatu e provado do alimento. Ou
zoológico em nossos laboratórios: Salmonella e Campylobacter, pode ser que ele tenha apenas tocado a carne com as mãos e
parasitas. A adaptação ao tempo é muito importante. Por exemplo, colocado os dedos na boca. Embora o patógeno não afete os tatus,
para isolar Yersinia pseudotuberculosis e Y. enterocolitica, ele mata alguns sagüis.
transmitidas por ratos, temos que fazer culturas durante 3 a 5 dias É fácil entender como a carne de cavalo podia estar
seguidos. Mesmo assim, podemos encontrar o patógeno em contaminada desta maneira. Vão muitos cavalos saudáveis para o
apenas um destes dias. matadouro? Provavelmente não. E o controle de qualidade sobre
É terrível quando a população de um zoológico é vitimada por os alimentos destinados ao consumo animal é muito menos
uma doença como esta. Perdemos dois gibões (macaco do gênero rigoroso do que naqueles usados para consumo humano. Nossa
Hylobates) por causa da Shigella. Um era velho, o outro tinha solução foi mudar a alimentação para carne de vaca e reorgariizar
outros problemas subjacentes. Mas, mesmo que a mortalidade seja as exposições mistas.
baixa, ela abate a equipe e os outros animais - toda sua estrutura
pode ser destruída.
Uma vez diagnosticado que Emily tinha uma infecção por
Shigella, o tratamento era evidente. Os macacos colobus possuem
estômago do tipo ruminante, semelhante ao da vaca. Isto é, o
estômago tem vários compartimentos e é habitado por bactérias
simbióticas, que ajudam a decompor a celulose encontrada nas
plantas que os macacos comem. [Ver Capo 2.] Estes
microrganismos gastrintestinais muito especiais são adquiridos
pouco tempo depois do nascimento, pela manipulação de fezes de
outros animais e são essenciais para a vida. Um macaco colobus
desprovido de micróbios próprios não pode obter nutrientes
suficientes de seus alimentos para que sobreviva.
Quando estes animais recebem antibióticos, as populações
bacterianas que os ajudam a digerir seus alimentos são
destruídas. Salvá-Ios de uma possível morte por infecção
envolve expô-los a uma possível doença provocada pela má
nutrição. Assim, logo que a infecção pela Shigella esteja curada,
tentamos repopular o intestino com sucos estomacais, aspirados Rob Schumaker no
de outros animais sadios. Infelizmente, esta técnica nem sempre Zoológico Nacional
dá resultado. No caso de Emily, ela provou ser eficiente. Emily em Washington, D.e.
'1'llllAl)IA AN'I'Hm:UOIJlANA _

Schumaker: o zoológico desenvolveu um programa


cooperativo para reintroduzir o mico-leão-dourado ao seu habitat
nativo - o Brasil. São espécies em extinção na selva, mas que se
reproduzem bem em zoológicos, onde um número grande de
animais tem-se acumulado. Desenvolvemos aqui um programa de
estágio onde mantemos os micos-Ieões-dourados soltos ao ar
livre. Isto os ajuda a se adaptar às condições que encontrarão na
selva. Queremos que eles sobrevivam quando lá chegarem.
Montali: E queremos ter certeza de que eles não levam
qualquer doença, para a população selvagem, que possa matar o Um casal de micos-
que sobrou da população em extinção. No zoológico, os animais leões-dourados sendo
podem adquirir parasitas e infecções não existentes em seus países aclimatado à vida ao ar
nativos. Uma barata pode escapar da gaiola de um animal asiático livre no Zoológico Naci-
para uma gaiola adjacente, onde um animal oriundo da América onal antes de serem li-
do Sul vá comê-Ia, adquirindo assim um parasita de um bertados no Brasil.
continente diferente. A barata alemã transfere um nematódio
intestinal, oriundo de seu hospedeiro original, o lêmure, para o
mico-Ieão. Assim, nós examinamos estes micos-leões No que se refere aos tratadores, sempre usamos máscaras com
cuidadosamente antes de enviá-Ios para o Brasil. Também filtros, a fim de não inalar qualquer material aerossol. Usamos
eliminamos do programa animais com defeitos genéticos. luvas, botas e aventais em serviço e não usamos qualquer roupa
Schumaker: Nossos tratadores têm de ser extraordinariamente de trabalho fora do edifício - há uma lavadora e uma secadora
cuidadosos para evitar a contaminação de nossos animais e deles no subsolo do edifício que usamos. Usamos nossas roupas
próprios. Onde quer que haja doenças, tomamos precauções pessoais para entrar e sair.
extras. Por exemplo, sempre usamos botas impermeáveis em volta Do mesmo modo que em nossa rotina básica controlamos os
dos cercados - para lavá-I os e assim por diante. Quando Emily macacos para termos certeza de que estão com boa saúde, nós
ficou doente, montamos um lava-pés contendo uma solução também nos controlamos. As fezes de todos os tratadores são
alvejante diluída, na porta de sua jaula. Os tratadores pisavam analisadas durante três dias consecutivos, duas vezes por ano.
nela ao entrar ou ao sair. (Não queríamos contaminar coisa Há um certo número de patógenos que podem ser transmitidos
alguma fora daquele cercado.) Destinamos utensílios especiais reciprocamente entre o homem e os animais. Logo no início
para aquela jaula em particular. Cuidávamos daquela jaula por deste século, por exemplo, a tuberculose era um problema tanto
último e lavávamos todos os instrumentos com solução alvejante. entre os animais quanto entre os funcionários. Os tratadores a
Tomamos cuidado especial ao esfregar ajaula, usando uma transmitiam aos animais; os animais a transmitiam aos
solução anti-séptica especial. tratadores. Mesmo hoje em dia, a tuberculose de mamíferos
Estas foram as precauções que tomamos além de nossos pode ser um perigo para os tratadores, de modo que nós
procedimentos regulares. Nós geralmente limpamos diariamente o realizamos periodicamente testes para o TB. Chegamos à
interior das jaulas. Elas são esfregadas, lavadas com mangueiras e conlusão de que a transmissão da doença em um zoológico pode
desinfetadas. Fazemos revezamento entre três produtos: um se constituir em um problema duplo. E, uma vez que os animais
detergente anti-séptico; um alvejante, que é um bom removedor dependem completamente de nós, é nossa obrigação resolver
de manchas; e UII} agente desodorizante. todos os problemas.

Mecanismos de Resistência as, a resistência às tetraciclinas, às quinolonas e a alguns


Foram identificados cinco mecanismos de resistência, cada um aminoglicosídios ocorre por este mecanismo. A presença
envolvendo a alteração de uma estrutura microbiana diferente. da penicilina ou da cefalosporina pode sobrepujar parcial-
Um deles envolve a alteração do alvo ao qual os angentes anti- mente tal resistência porque estes agentes interferem na
microbianos se ligam, processo que é geralmente causado por síntese da parede celular.
uma mutação no cromossomo bacteriano. Os outros mecanismos 3. Desenvolvimento de enzimas. Esta causa comum de resis-
envolvem alterações na permeabilidade da membrana plasmáti- tência pode destruir ou inativar os agentes antimicrobia-
ca, enzimas ou vias metabólicas, que são geralmente causadas nos. Uma enzima deste tipo é a l3-lactamase. Existem di-
pela aquisição de plasmídios R. Os cinco mecanismos são, a versas 13-lactamases em diversas bactérias; elas são capa-
seguir, explicados. zes de romper o anel ê-lactâmico nas penicilinas e em al-
gumas cefalosporinas. Enzimas similares que podem des-
1. Alteração dos alvos. Este mecanismo geralmente afeta os truir diversos aminoglicosídios e o cloranfenicol têm sido
ribossomos bacterianos. A mutação altera o DNA de tal encontradas em algumas bactérias Gram-negativas.
modo que a proteína produzida, ou o alvo, seja modifica- 4. Alteração de uma enzima. Este mecanismo permite que
do. Os agentes antimicrobianos não podem mais se ligar ocorra uma reação anteriormente inibida. Ele é exemplifi-
ao alvo. A resitência à eritromicina, à rifamicina e aos cado por um mecanismo encontrado entre determinadas
antimetabólitos se desenvolveu por este mecanismo.
2. Alteração da permeabilidade da membrana. Este meca-
nismo ocorre quando uma nova informação genética mo-
O custo total da resistência aos antibióticos nos Estados
difica a natureza das proteínas na membrana. Tais altera-
Unidos é estimado entre 100 milhões a 30 bilhões de dólares
ções modificam o sistema de transporte da membrana ou anualmente.
os poros na membrana, e desta maneira um agente antimi-
crobiano não pode mais cruzar a membrana. Nas bactéri-

--~------------------------------------
_ '1'lmAI'IA AN'I'nIIc:JUmIANA

bactérias resistentes à sulfonainida. Estes organismos de-


senvolveram uma enzima que apresenta grande afinidade Resistência Microbiana
pelo PABA e uma afinidade muito baixa pela sulfonami- Os micróbios resistentes a desinfetantes, antibióticos ou anti-
da. Conseqüentemente, mesmo na presença da sulfonami- sépticos não são criados, mas já estão presentes nas
da, a enzima funciona suficientemente bem para permitir populações microbianas. É o uso indevido destes compostos
que a bactéria realize o seu metabolismo. que tende a selecionar e, desta forma, promover o crescimento
5. Alteração de uma via metabólica. Este mecanismo despre- de organismos resistentes em nossos lares e hospitais. Através
za uma reação inibida por um agente antimicrobiano que dos mecanismos biológicos de competição microbiana e de
troca genética, os organismos resistentes podem se tomar
ocorre em outras bactérias resistentes à sulfonamida. Es-
predominantes. Quando os'compostos antimicrobianos são
tes organismos adquiriram a capacidade de usar o ácido usados, eles devem apresentar concentrações que sejam fortes
fólico do meio, anteriormente preparado, não mais neces- o suficiente para matar os organismos mais insensíveis
sitando fabricá-lo a partir do PABA. presentes na população-alvo. Se esta situação não for
alcançada, então as bactérias menos sensíveis, livres da
competição, são capazes de prosperar.
Drogas de Primeira, Segunda e Terceira Linhas
À medida que uma cepa de microrganismo adquire resistência a
uma droga, deve-se encontrar uma outra para tratar de maneira
eficiente as infecções resistentes. Se ocorrer desenvolvimento de
resistência a uma segunda droga, toma-se necessário uma ter-
ceira, e assim por diante. As drogas usadas no tratamento da Resistência Cruzada
gonorréia ilustram esta questão. Antes da década de 1930, não Resistência cruzada é a resistência a dois ou mais agentes mi-
havia tratamento eficiente para a gonorréia. Foram então desco- crobianos similares, por meio de um mecanismo comum. A ação
bertas as sulfonamidas para curar a doença. Após alguns anos, da (3-lactamase proporciona um bom exemplo de resistência cru-
desenvolveram-se cepas resistentes à sulfonamida, mas a peni- zada. Em muitos casos, uma enzima que vai decompor um antibió-
cilina tomou-se logo disponível como "droga de segunda linha". tico (3-lactâmico também irá decompor vários outros antibióticos
Durante décadas, desenvolveram-se cepas resistentes à penicili- (3-lactâmicos. A presença de tal enzirna daria a um microrganis-
na que foram combatidas com doses muito grandes de penicili- mo resistência a todos os antibióticos que ela puder decompor.
na. Por volta da década de 1970, algumas cepas de gonococos
desenvolveram a capacidade de produzir uma enzima (3-
lactamase, a qual destruiu completamente os efeitos da penicili- Limitando a Resistência às Drogas
na (;;..-Fig. 13.7). A espectinomicina "de terceira linha" está agora Embora, como vimos, a resistência às drogas não seja induzida
sendo usada. À medida que começam a aparecer cepas resisten- por antibióticos, ela é auxiliada pelos ambientes que contenham
tes à espectinomicina, forçando os médicos a recorrer às drogas os antibióticos. O progresso dos micróbios na aquisição de re-
"de quarta linha", ficamos a imaginar se o desenvolvimento de sistência pode ser impedido de três maneiras. Primeiro, altos
novas drogas pode continuar assim indefinidamente. níveis de antibiótico podem ser mantidos nos corpos dos paci-
Os organismos resistentes a drogas têm sido mais freqüente- entes por tempo suficiente para matar todos os patógenos, inclu-
mente encontrados dentro dos hospitais, onde pacientes grave- sive os mutantes resistentes, ou inibi-los a fim de que as defesas
mente doentes, com resistência diminuída às infecções, servem do organismo possam matá-los. É esta a razão pela qual seu mé-
como hospedeiros convenientes. Entretanto, organismos cada vez dico o aconselha a tomar todo o antibiótico prescrito e não parar
mais resistentes estão sendo isolados de infecções entre a popu- de tomá-lo quando começar a se sentir melhor. O desenvolvimen-
lação geral, e o risco de se adquirir uma infecção resistente às to da resistência quando o medicamento é interrompido antes que
drogas está aumentando para todos. Ainda mais, muitos organis- todos os patógenos sejam mortos é ilustrado na > Fig. 13.8.
mos são resistentes a múltiplos antibióticos. As infecções cau- Segundo, dois antibióticos podem ser administrados simul-
sadas por tais organismos são particularmente difíceis de tratar. taneamente, de modo que eles possam exercer um efeito adicio-
Um novo uso para as sondas genéticas será o de investigar a re- nal denominado sinergismo. Por exemplo, quando a estrepto-
sistência de genes em organismos, com o fim de evitar o adia- micina e a penicilina são combinadas em terapia, o dano causa-
mento de um tratamento eficiente. do à parede celular pela penicilina permite uma melhor penetra-

o
S 3
II H-n=r
R-C-N CH
CH3
HOOC N
H COOH
Penicilina ativa Penicilina inativada

j3-lactamase

;;..-Fig. 13.7 Efeito da p-lactamase sobre a penicilina. Muitas bactérias (estafilococos, estreptococos e gonococos) produzem esta enzima que
inativa a penicilina. A enzima pode '~ertransmitida por plasrnídios. As cefalosporinas, embora semelhantes em ação à penicilina, têm um anel
cíclico com estrutura diferente e são mais resistentes aos efeitos da enzima.
TERAPIA ANTIMICROBIANA __

isoladamente. Este efeito depressivo, chamado antagonismo,


De acordo com o CDC, aproximadamente 50 milhões dos 150 pode ser observado quando drogas bacteriostáticas, como as te-
milhões de receitas que prescrevem antibióticos para pacientes traciclinas, que inibem o crescimento, são combinadas com pe-
não hospitalizados são desnecessárias.
nicilinas bactericidas, que necessitam do crescimento para serem
eficazes.
Terceiro, os antibióticos devem ser limitados apenas a usos
essenciais. Por exemplo, a maioria dos médicos não prescreve
ção da estreptomicina. Uma variação deste princípio é o uso de antibióticos para resfriados e outras doenças virais, exceto em
um agente para destruir a resistência de micróbios a um outro casos de pacientes com alto risco de infecções bacterianas se-
agente. Quando o ácido c1avulônico e uma penicilina chamada cundárias, porque as infecções virais não respondem aos antibi-
amoxicilina são administrados juntos (Augmentin), o ácido óticos. Restrições sobre o uso de antibióticos seriam particular-
c1avulônico se liga fortemente às 13-lactamases e as impede de mente de grande valor em hospitais onde os micróbios "esperan-
inativar a amoxicilina. Entretanto, algumas drogas são menos do para adquirir resistência" ocultam-se em ambientes cheios de
eficientes quando usadas em combinação do que quando usadas antibióticos. Ainda mais, o uso de antibióticos em rações animais

Dia
O
Organismos
,,
, intermediários
,,
,, ,,
,, ,,
Organismos altamente, ,Organismos altamente
sensíveis ' I resistentes

(a)

Dia
3

(b)

Dia Dia
Se o curso
6 10
completo do
tratamento
com os antibióti-
cos terminou
Organismos
altamente
resistentes

Se os antibióticos

*
(c) (e) Recorrência com organismos resistentes
. forem interrompidos
prematuramente

Dia
10

Pode também disseminar-se


para outros hospedeiros,
causando mais infecções
resistentes a drogas

(d) Término do tratamento bem-sucedido

:» Fig. 13.8 Efeitos da paralisação prematura do tratamento antibiótico. (a) Os organismos presentes antes de o tratamento se iniciar têm
diferentes sensibilidades ao antibiótico que será usado. (b) e (c) À medida que o tratamento continua, aqueles organismos mais sensíveis ao an-
tibiótico morrem primeiro, deixando os organismos mais resistentes como sobreviventes. (d). Terminando todo o curso do tratamento, morrem
também os organismos mais resistentes. (e) Se os antibióticos são interrompidos muito cedo, os organismos resistentes remanescentes sobrevive-
rão e se multiplicarão, levando a uma infecção que será difícil ou impossível de curar usando-se o mesmo antibiótico. Os microrganismos podem
então se disseminar para outros hospedeiros.
__ 'l'IlUAI)IA AN'I'nIWItOlUl\NA

poderia ser afastado; veja o boxe "Resistência aos Antibióticos:


Drogas em Rações Animais" .

./ Todos os compostos antimicrobianos são adequadamente


chamados de antibióticos? Por que sim, ou por que não?
./ Quando você deve escolher um antibiótico de estreito espectro em
vez de um de amplo espectro? Por quê?
./ O que é superinfecção? Como é adquirida?
./ Se a exibição aos antibióticos não causa o aparecimento de
mutações resistentes a drogas, por que nós encontramos mais
cepas resistentes a drogas hoje em dia?

Determinação das Sensibilidades


Microbianas aos Agentes
Antimicrobianos
Os microrganismos variam em suas sensibilidades a diferentes (a)
agentes quimioterápicos e as susceptibilidades podem mudar com
o decorrer do tempo. Em condições ideais, o antibiótico apro-
priado para tratar uma infecção específica deveria ser determi-
nado antes que qualquer antibiótico fosse administrado. Às ve-
Controle negativo
zes, um agente apropriado pode ser prescrito tão logo o agente .-------------------------~
etiológico seja identificado em uma cultura de laboratório. Fre-
qüentemente, são necessários testes para mostrar qual é o anti- Cefalexina (8)
biótico que mata o organismo. Diversos métodos - difusão em
disco, método de diluição e métodos automatizados - estão Penicilina (R)
disponíveis para este fim.
Meticilina (8)

Método da Difusão em Disco Ampicilina (8)


No método da difusão em disco ou método de Kirby-Bauer,
uma quantidade padrão do organismo causador da doença é es- Cefotaxima (8)
palhada uniformemente sobre uma placa de ágar. Em seguida,
diversos discos de papel de filtro impregnados com concentra-
ções específicas de agentes quimioterápicos selecionados são Diluição crescente ~
colocados na superfície do ágar (> Fig. 13.9a). Finalmente, a (b)
cultura com os discos antibióticos é incubada.
Durante a incubação, cada agente quimioterápico se difunde, > Fig. 13.9 Método da difusão em disco (Kirby-Bauer) para a de-
a partir do disco, em todas as direções. Os agentes com pesos terminação da sensibilidade microbiana a vários antibióticos. (a)
moleculares mais baixos se dispersam mais depressa do que Uma placa de Petri é pré-semeada (estriamento) com o organismo a
aqueles com peso molecular mais alto. Áreas claras denomina- ser testado. Discos de papel de filtro, cada um contendo uma quanti-
das zonas de inibição aparecem no ágar em volta dos discos onde dade determinada de um antibiótico específico, são colocados sobre
os agentes inibem o crescimento do organismo. O tamanho de o meio, e o antibiótico se difunde em todas as direções. Após incuba-
uma zona de inibição não constitui necessariamente uma medi- ção, uma zona clara de não-crescimento ao redor do disco (zona de
inibição) representa a inibição do organismo pelo antibiótico testado.
da do grau de inibição devido a diferenças de velocidades de
Áreas não-claras indicam resistência ao antibiótico. A maior zona de
difusão dos agentes quimioterápicos. Um agente de grande peso inibição nem sempre indica o antibiótico mais eficaz, uma vez que
molecular poderia ser um poderoso inibidor, mesmo que pudes- diferentes moléculas não se difundem com a mesma velocidade no
se se difundir apenas a uma pequena distância e produzir uma meio. Também, algumas drogas não se comportam da mesma manei-
pequena zona de inibição. Foram estabelecidas medidas padro- ra nos organismos vivos e sobre o ágar. Entretanto, os diâmetros das
nizadas de diâmetros de zonas para os meios individuais, quan- zonas de inibição, quando comparados com medidas padrão, ajudam
tidades de microrganismos e concentrações de droga, correlacio- a indicar se um organismo é sensível ou resistente à droga. (b) A con-
nadas aos diâmetros das zonas, a fim de se determinar se os or- centração inibitória mínima (MIC) testa a susceptibilidade microbia-
ganismos são sensíveis, moderadamente sensíveis ou resisten- na. Uma placa de microdiluição padrão com orifícios rasos que con-
têm diluições crescentes (concentrações decrescentes) de um antibió-
tes à droga.
tico selecionado em caldo é inoculada com a bactéria teste. A placa é
Mesmo quando a inibição tenha sido adequadamente inter- incubada; a menor concentração que impede o crescimento (pontos
pretada em um teste de difusão em disco, o agente quimioterá- nos orifícios) é a MIC. A bactéria testada nesta placa é sensível (S)
pico mais inibidor pode não curar uma infecção. O agente inibi- para todos os antibióticos, com exceção da penicilina (R). O controle
rá provavelmente o organismo causador, mas poderá não matar negativo contém somente caldo.
TERAPIA ANTIMICROBIANA __

quantidade suficiente do organismo para controlar a infecção. Um ciente agente quimioterápico quanto uma concentração apropri-
agente bactericida é, freqüentemente, necessário para eliminar ada para controlar uma infecção. Esta concentração deve ser
um organismo infeccioso, e o método de difusão em disco não mantida nos locais da infecção, pois é a concentração mínima
garante que o agente bactericida será identificado. Ainda mais, que vai curar a doença.
resultados obtidos in vivo (em um organismo vivo) diferem com
freqüência dos que são obtidos in vitro (em recipiente de labora-
tório). Os processos metabólicos no corpo de um organismo vivo Poder de Destruição do Soro
podem inativar ou inibir um composto antirnicrobiano. Ainda um outro método para determinar a eficiência de um agente
o
quimioterápico é o de medir seu poder de destruição no soro.
Este teste se executa obtendo-se uma amostra de sangue do pa-
Método da Diluição ciente enquanto o mesmo está recebendo um antibiótico. Adicio-
o método da diluição para testar a sensibilidade antibiótica foi na-se uma suspensão bacteriana a uma quantidade conhecida do
praticado, pela primeira vez, em tubos de caldos de cultura; ele soro do paciente (plasma sangüíneo menos os fatores da coagu-
é agora realizado em orifícios rasos ou placas padronizadas (>- lação). O crescimento (turvação) observado no soro após a in-
Fig. 13.9b). Neste método, uma quantidade constante de inóculo cubação significa que o antibiótico não é eficiente. A inibição
bacteriano (espécime) é introduzida em uma série de caldos de do crescimento sugere que a droga está agindo e que outras de-
cultura contendo concentrações decrescentes de um agente qui- terminações quantitativas devem ser feitas para identificar a mais
mioterápico. Após incubação (16 a 20 horas), os tubos ou os baixa concentração que ainda proporciona ao soro um poder
orifícios são examinados, e é observada a mais baixa concentra- destrutivo.
ção do agente que impede o crescimento visível (indicado pela
turbidez ou depósitos em pontos dos organismos em crescimen-
to). Esta concentração é a concentração inibitória mínima Métodos Automatizados
(MIe) para um determinado agente atuando sobre um micror- Os métodos automatizados (>- Fig. 13.10) são atualmente dis-
ganismo específico. Este teste pode ser feito para di versos agen- poníveis para identificar organismos patogênicos e determinar
tes simultaneamente, usando-se diversos conjuntos de tubos ou quais os agentes antimicrobianos que os combaterão com efici-
orifícios, mas ele gasta tempo e, portanto, é dispendioso. ência. Um destes métodos faz uso de bandejas dotadas de peque-
Encontrar um agente inibidor pelo método da diluição não é nos orifícios nos quais uma quantidade medida de inóculo é au-
mais comprobatório de que ele matará o organismo infeccioso tomaticamente distribuída. Até 36 organismos oriundos de dife-
no paciente do que encontrá-lo pelo método de difusão em dis- rentes pacientes podem ser inoculados na mesma bandeja. Es-
co. Entretanto, o método de diluição dá um segundo teste para tão disponíveis bandejas contendo diversas espécies de meios
fazer a distinção entre agentes bactericidas que matam micror- apropriados para identificar membros de diferentes grupos de
ganismos e agentes bacteriostáticos que apenas inibem seu cres- microrganismos, tais como bactérias Gram-positivas, Gram-ne-
cimento. Amostras provenientes dos tubos onde não houve cres- gativas, anaeróbias e leveduras. As bandejas estão também à
cimento, mas que podem conter microrganimos inibidos, podem disposição para se determinar a sensibilidade dos organismos a
ser usadas para inocular meios que não contenham agente qui- uma variedade de agentes antimicrobianos.
mioterápico. Neste teste, a concentração mais baixa do agente As bandejas são introduzidas em uma máquina que mede o
quirnioterápico que não permita qualquer crescimento na segunda crescimento microbiano. Algumas máquinas fazem isto usando
inoculação ou subcu/tura constitui a concentração bactericida um raio de luz para medir a turvação. Outras usam meios que
mínima (MBC). Assim, podem ser determinados tanto um efi- contêm carbono radioativo. Os organismos que se desenvolvem

(a) (b)

~ Fig.13.10 Sistema automatizado para identificar microrganismos e determinar sua sensibilidade a vários agentes antimicrobianos. (a)
Uma amostra contendo o(s) organismo(s) é automaticamente inoculada nos orifícios de uma fina placa de plástico, cada um contendo um reagen-
te químico específico. (b) São realizados testes em uma câmara de inoculação, e os resultados são lidos e registrados por computador. Estão dis-
poníveis bandejas para uma grande variedade de testes de identificação e determinação da sensibilidade antimicrobiana.
_ TERAPIA AN'fIMICROBIANA

em tais meios liberam dióxido de carbono radioativo no ar, e um 6. Resistência pelos microrganismos não facilmente adqui-
dispositivo selecionador o detecta automaticamente. As máqui- rida. Deve haver poucos (ou nenhum) microrganismos
nas variam em grau de automação e na velocidade com que os com resistência ao agente.
resultados se tomam disponíveis. Algumas necessitam de técni- 7. Vida longa em prateleiras. O agente deve manter suas
cos para executar algumas etapas; outras fornecem um resulta- propriedades terapêuticas por um longo período de tempo
do computadorizado impresso que é transmitido ao quarto do com um mínimo de procedimentos especiais, tais como
paciente. Algumas máquinas fornecem resultados entre 3 e 6 refrigeração ou proteção contra a luz.
horas, e a maioria os fornece no dia seguinte, embora os orga- 8. Custo razoável. O agente deve ser accessível aos pacien-
nismos de crescimento lento necessitem de 48 horas. tes que o necessitam.
Os métodos de automação tomam a identificação laboratori-
Muitos agentes antimicrobianos se adaptam razoavelmente
al dos organismos e suas sensibilidades aos antimicrobianos mais
. bem a estes critérios. Mas poucos, se é que há algum, vão ao
eficientes e menos dispendiosas. Com os resultados dos testes
encontro de todos os critérios para os agentes antimicrobianos
de laboratório à mão, o médico pode então escolher uma droga
ideais. À medida que melhores drogas forem sendo descobertas,
apropriada, com base na natureza do patógeno, a localização da
a busca por elas continuará.
infecção e outros fatores como, por exemplo, as alergias do pa-
ciente. Os métodos de automação permitem aos médicos pres-
crever um antibiótico apropriado mais cedo em uma infecção,
em vez de prescrever um antibiótico de amplo espectro, eriquanto Agentes Antibacterianos
estão aguardando os resultados do laboratório.
Muitos dos agentes antimicrobianos são agentes antibacterianos;
assim, começaremos com eles o nosso "catálogo" de agentes
antimicrobianos, chamando a atenção para o fato de que alguns
Atributos de um Agente são também eficientes contra outros micróbios. Os agentes anti-
bacterianos podem ser classificados de diversas maneiras; esco-
Antimicrobiano Ideal lhemos usar seus mecanismos de ação. Um outro meio de grupar
os antibióticos é pelos microrganismos que os produzem (Qua-
Tendo examinado as várias características dos agentes antimi- dro 13.2).
crobianos e dos métodos de determinar as sensibilidades dos
microrganismos, podemos agora listar as características de um
agente antimicrobiano ideal:
1. Solubilidade nos fluidos do corpo. Os agentes devem se Seja um Deeoobridori
dissolver nos líquidos orgânicos para que sejam transpor- Os micróbios do solo são boas fontes de antibióticos.
tados pelo corpo e alcancem os organismos infecciosos. Companhias farmacêuticas pagam pessoas para trazer
Mesmo os agentes usados de forma tópica devem se dis- amostras de solo de todas as partes do mundo na esperança de
solver nos fluidos do tecido lesado para que sejam efica- encontrar micróbios produtores de antibióticos novos e úteis.
zes; não devem, entretanto, se ligar com firmeza demasi- Velhos cemitérios, refugos de vida selvagem, pântanos e
pistas de campo de aviação têm sido vasculhados. Tente
ada às proteínas do soro.
coletar amostras de solo de alguns lugares que lhe interessem.
2. Toxicidade seletiva. Os agentes devem ser mais tóxicos Usando técnicas assépticas, semeie a superfície de uma placa
para os microrganismos do que para as células do hospe- de Petri com ágar nutriente com um caldo de cultura contendo
deiro. De maneira ideal, deve haver uma grande diferen- um microrganismo tal como a E. coZi. Faça estrias
ça entre a concentração tóxica para os microrganismos complementares de maneira que toda a superfície seja
e a concentração que causa danos às células do hospe- inoculada igualmente como um gramado. Você pode tentar
deiro. diferentes microrganismos em diferentes placas. Então,
3. Toxicidade não facilmente alterada. O agente deve man- pulverize pequenas quantidades de sua amostra de solo sobre
ter uma toxicidade padrão e não se tomar mais ou menos cada placa inoculada. Incube as placas ou deixe-as à
temperatura ambiente e examine-as diariamente.
tóxico por interações com alimentos, outras drogas ou con-
Desenvolveram-se áreas claras em torno de algumas das
dições anormais tais como diabetes e doença renal no hos- colônias que tenham crescido a partir das partículas de solo?
pedeiro. Se assim for, estas áreas correspondem aos locais onde os
4. Não-alergênico. O agente não deve provocar uma reação antibióticos naturais se difundiram para o ágar e impediram as
alérgica no hospedeiro. bactérias da "relva" de fundo de se desenvolver. Parabéns,
5. Estabilidade: manutenção de uma concentração terapêu- você encontrou um antibiótico!
tica constante no sangue efluidos tissulares. O agente deve
ser suficientemente estável nos fluidos do corpo para ter
atividade terapêutica durante muitas horas; deve ser degra-
dado e eliminado vagarosamente.
Inibidores da Síntese da Parede Celular
Penicilinas
Aproximadamente 40% dos antibióticos fabricados nos As penicilinas naturais, tais como a penicilina G e a penicilina
Estados Unidos são administrados a animais. Embora alguns
V, são extraídas de cultura do mofo Penicillium notatum. A des-
sejam usados para combater infecções, a maioria é misturada
no alimento a fim de promover o crescimento. coberta, por volta dos anos 50, de que certas variedades de Sta-
phylococcus aureus eram resistentes à penicilina despertou o
impulso para que se desenvolvessem penicilinas semi-sintéticas.
'1'llUAI'IA AN'I'HllnUmll\Nll __

infecções. Por exemplo, pacientes com lesões cardíacas (em es-


~ Quadro 13.2 Micróbios selecionados que servem
pecial, malformações ou válvulas artificiais) ou doenças cardía-
como fonte de antibióticos
cas são especialmente susceptíveis à endocardite, uma inflama-
ção do revestimento do coração, causada por infecção bacteria-
Micróbios Antibióticos
na. Os organismos tendem a atacar a superfície das válvulas
Fungos danificadas. Para prevenir tais infecções, os pacientes susceptí-
Aspergillus fumigatus Fumagilina veis freqüentemente recebem penicilina antes de cirurgias ou
Espécies de Cephalosporium Cefalosporinas procedimentos dentários (mesmo em limpeza) que possam libe-
Penicillium griseofulvum Griseofulvina rar bactérias na corrente sangüínea.
Penicillium notatum e P. chrysogenum Penicilina

Estreptomicetos Cefalosporinas
Streptomyces nodosus Anfotericina B As cefalosporinas naturais, derivadas de diversas espécies do
Streptomyces venezuelae Cioranfenicol fungo Cephalosporium, possuem ação antimicrobiana limitada.
Streptomyces erythreus Eritromicina
Sua descoberta levou ao desenvolvimento de um grande núme-
Streptomyces griseus Estreptomicina
Streptomyces kanamyceticus Canamicina
ro de derivados semi-sintéticos bactericidas da cefalosporina C
Streptomyces fradiae Neomicina natural. O núcleo de uma cefalosporina é bastante semelhante
Streptomyces noursei Nistatina ao da penicilina; ambas contêm anéis 13-lactâmicos (~ Fig.
Streptomyces antibioticus Vidarabina 13.11). As cefalosporinas semi-sintéticas, do mesmo modo que
as penicilinas semi-sintéticas, diferem na constituição de suas
Actinomicetos cadeias laterais. As cefalosporinas freqüentemente usadas inclu-
Espécies de Micromonospora Gentamicina em a cefalexina (Keflex), a cefradina e o cefadroxil, todas as
quais são bastante bem absorvidas pelo intestino e, deste modo,
Outras bactérias
podem ser administradas por via oral. Outras cefalosporinas, tais
Bacillus licheniformis Bacitracina
Bacillus polymyxa Polimixinas como a cefalotina (Keflin), a cefapirina e a cefazolina, devem
Bacillus brevis Tirocidina ser administradas por via parenteral, geralmente nos músculos
ou nas veias.
Embora as cefalosporinas não sejam geralmente a primeira
droga considerada no tratamento de uma infecção, elas são fre-
qüentemente usadas quando alergias ou toxicidade impedem o
A primeira destas foi a meticilina, que é eficiente contra orga-
uso de outras drogas. Mas, pelo fato de as cefalosporinas serem
nismos resistentes à penicilina, pelo fato de não ser degradada
estruturalmente semelhantes à penicilina, alguns pacientes que
pela enzima 13-lactamase. Outras penicilinas semi-sintéticas, in-
são alérgicos à penicilina podem também ser sensíveis às cefa-
cluindo a nafcilina, a oxacilina, a ampicilina, a amoxicilina, a
losporinas. Não obstante, as cefalosporinas respondem por um
carbenicilina e a ticarcilina, surgiram em rápida sucessão. Cada
quarto a um terço das despesas de farmácia em hospitais ameri-
uma é sintetizada pela adição de uma cadeia lateral especial a
canos, principalmente porque elas apresentam um espectro de
um núcleo de penicilina (~ Fig. 13.11). Tanto as penicilinas
atividade bastante amplo, raramente causam efeitos colaterais
naturais como as semi-sintéticas são bactericidas.
graves e podem ser usadas profilaticamente em pacientes sub-
A penicilina G, a penicilina natural mais freqüentemente uti-
lizada, é administrada por via parenteral- quer dizer, por uma metidos a cirurgias. Infelizmente, elas são às vezes usadas quando
via diferente da entérica, tal como por via intramuscular ou en- um agente menos caro e de espectro menos amplo seria tão efi-
dovenosa. Quando administrada por via oral, a maior parte dela ciente quanto elas.
é degradada pelos ácidos estomacais. A penicilina é rapidamen- O desenvolvimento de novas variedades de cefalosporinas
te absorvida pelo sangue, atinge sua concentração máxima e é parece ser uma corrida contra a capacidade das bactérias de ad-
excretada, a menos que se combine com um agente tal como a quirir resistência a variedades mais antigas. Quando os organis-
procaína, que toma a excreção mais vagarosa e prolonga a sua mos se tomaram resistentes às cefalosporinas iniciais "de primei-
atividade. ra geração", foram produzidas cefalosporinas "de segunda gera-
A penicilina G é o medicamento de escolha para o tratamento ção", incluindo a cefuroxima e o cefaclor ()õ> Fig. 13.11). Ago-
de infecções causadas por estreptococos, meningococos, pneumo- ra, cefalosporinas "de terceira geração", tais como a ceftriaxona
cocos, espiroquetas, clostrídios e bastonetes aeróbios Gram-posi- e a cefalexina, são usadas contra organismos resistentes a dro-
tivos. É também apropriada para tratar infecções causadas por al- gas mais antigas. Estas drogas são particularmente eficientes (por
gumas variedades de estafilococos e gonococos que não sejam a enquanto) quando se trata de infecções hospitalares resistentes a
ela resistentes. Pelo fato de conservar sua atividade na urina, é muitos antibióticos. Elas estão sendo experimentadas em paci-
apropriada para o tratamento de algumas infecções do trato uriná- entes com AIDS e outras imunodeficiências. (Não confunda es-
rio. As infecções causadas por organismos resistentes à penicilina tas com as drogas de segunda e terceira linhas anteriormente
G podem ser tratadas com penicilinas semi-sintéticas tais como a descritas, as quais não derivam umas das outras.)
nafcilina, a oxacilina, a ampicilina ou a amoxicilina. A carbenici- Os efeitos adversos provocados pelas cefalosporinas tendem
lina e a ticarcilina são especialmente úteis no tratamento de infec- a ser reações locais, tais como irritação no local da injeção ou
ções por Pseudomonas. A alergia à penicilina é rara entre crian- náusea, vômitos e diarréia, quando a droga é administrada por
ças, mas ocorre em I a 5% dos adultos. As penicilinas são geral- vial oral. Dos pacientes alérgicos à penicilina, 4 a 15% também
mente não-tóxicas, mas grandes doses podem ter efeitos tóxicos o são às cefalosporinas. Ainda mais, as cefalosporinas mais re-
sobre os rins, fígado e sistema nervoso central. centes têm pouco efeito sobre os organismos Gram-positivos, os
Além de seu uso no tratamento de infecções, as penicilinas quais podem causar superinfecções durante o tratamento das
são também usadas profilaticamente - quer dizer, para evitar infecções por Gram-negativos.
__ '1'EUAPIA AN'I'nIlCU08lANA

Penicilina Cefalosporina

o
S
R-C-N
II HJ=!=:t CH 3
3

N
O ~ COOH
~ Anel 13-
lactâmico
Estrutura básica Estrutu ra básica

(R = sítios para ligações de cadeias laterais)

Penicilinas naturais Primeira geração

\\· o
11 H 0- 1 ~ H s
Cefalotina
(cocos Gram-positivos)

O 'I _ ~ CH2-C-N~

O
Penicilina G
(cocos Gram-positivos) S
CH2-C-N--r-T~

O
)-N,
O
11
CH2-O-C-CH3

\\ o COONa

0
IIH S
'I _ ~ O-CH2-C-N~ Penicilina V Cefazolina
(ácido-resistente) (cocos Gram-positivos)
O
O
N\ II H s
I /N-CH2-C-N--r-T~ N-N

Penicilinas sem i-sintéticas


N=N . )-N, \I 11
O CH2-S~S~CH 3
COONa
O-CH3 O
- II H s Segunda geração

~
v » C-N~
Meticilina
(penicilinase-resistente)
pCH3
Cefuroxima

o-
O-CH3 O N O
O 11 II H S (amplo espectro)
C-C-N--r-T~
o I I j-N, ~O

O
H 11 H S Ampicilina O CH2-O-C,
~ ;} ?-C-N~ (amplo espectro, COONa NH2
ácido-resistente)
NH2 O

NH
2 O Cefaclor
O

O~ ;}
H
?-C-N~
COONa
11 H

O
S
Carbenicilina
(amplo espectro)
0
'I _ ~
\\1 I1H
~-C-Nn-I

O ~CI
S (amplo espectro)

COONa

NH2 O Terceira geração

HO
0 ~ ;}
1
~-C-N~
11 H s
Amoxicilina
\\
NH2 O
s
0
(amplo espectro) I II H
O 'I _ ~ ~-C-Nn-I

Cefalexina
O ~CH3
COONa
(amplo espectro)

Ceftriaxona
(amplo espectro)

~ Fig. 13.11 Penicilinas. Comparação das moléculas de penicilina e cefalosporina com anéis j3-lactâmicos (azul). A cefalosporina difere ligei-
ramente no anel ligado (vermelho) e tem dois sítios para ligação da cadeia lateral (púrpura), em vez do que ocorre na molécula da penicilina.
TERAPIA ANTIMICROBIANA _

Outros Agentes Antibacterianos que Atuam sobre as bastante tóxica, causando perda da audição e danos renais, espe-
cialmente em pacientes mais velhos, se a droga não for cuidado-
Paredes Celulares samente monitorada.
Os carbapenens representam um novo grupo de antibióticos
bactericidas com estrutura de duas partes. A primaxina, um
carbapenem típico, é constituída de um antibiótico [3-lactâmico
(imipenem), que interfere na síntese da parede celular, e da ci- Desintegradores das Membranas
lastatina sódica, um composto que impede a degradação da droga
nos rins. Como grupo, os carbapenens possuem um espectro de
Celulares
atividade extremamente amplo.
A bacitracina, um pequeno polipeptídio bactericida, derivado Polimixinas
da bactéria Bacillus licheniformis, é usada somente em lesões e Cinco polimixinas, designadas A, B, C, D e E, foram obtidas da
ferirnentos da pele ou das membranas mucos as porque é fracamen- bactéria do solo Bacillus polymyxa. As polimixinas B e E são
te absorvida e tóxica para os rins. A vancomicina é uma molécula clinicamente as mais comuns. São geralmente aplicadas de ma-
grande e complexa, produzida pelo actinomiceto do solo Strep- neira tópica, freqüentemente com bacitracina, para tratar infec-
tomyces orientalis. Pode ser usada para tratar infecções causadas ções da pele causadas por bactérias Gram-negativas, tais como
por estafilococos e enterococos resistentes à meticilina -.É também as Pseudomonas. Usadas internamente, as polimixinas podem
a droga de escolha contra colites pseudomembranosas induzidas causar entorpecimento das extremidades, sérios danos renais e
por antibióticos (enterites com formação de uma falsa membrana parada respiratória. São administradas por meio de injeção quan-
no intestino). Por ser fracamente absorvida pelo trato gastrintesti- do o paciente está hospitalizado e quando a função renal pode
nal, deve ser administrada por via endovenosa. A vancomicina é ser monitorada.

Papel do Clostridium difficile nas Doenças Intef>tinaif> ambiente, o C. difficile é difícil de ser removido. Pode persistir em
Aeeoctedee a Antibióticof> enfermarias de hospitais ou em asilos por meses ou anos, apesar
dos vigorosos esforços para a sua erradicação. Os organismos
A terapia antibiótica algumas vezes tem seu lado negativo. Hoje, podem ser recolhidos de chão, "comadres", roupas de cama e
o Clostridium difficile é um dos mais importantes patógenos mesmo de paredes dos quartos de pacientes infectados.
bacterianos intestinais no mundo desenvolvido, em termos de A clindarnicina é o antibiótico mais freqüentemente associado
prevalência e gravidade da doença. Entretanto, o C. difficile causa a infecções por C. difficile, seguida pela ampicilina e as
doença intestinal em pacientes aos quais os antibióticos foram cefalosporinas. Estas drogas são freqüentemente administradas a
administrados. (Algumas exceções a esta regra existiram na era pacientes que vão sofrer cirurgia abdominal, com a finalidade de
pré-antibiótica, e explicações, não completamente convincentes, diminuir a microbiota normal. O C. difficile é normalmente muito
são apresentadas para elucidar esses casos.) sensível a estes antibióticos, mas sobrevive formando esporos.
Este patógeno é um bastonete anaeróbio Gram-positivo. O C. Depois que a droga é interrompida, eles se regeneram e podem
difficile foi originalmente descrito em 1935, mas não foi apresentar supercrescirnento no trato intestinal, mas eles não
definitivamente associado com doenças até 1978. Durante a invadem os tecidos.
década de 1950, especialmente, o Staphylococcus aureus foi Virtualmente todas as cepas de C. difficile produzem duas
acusado de causar infecções que hoje sabemos serem devidas ao toxinas, mas as cepas variam grandemente quanto à quantidade de
C. difficille. O C. difficile é agora conhecido como o principal toxina produzida. A toxina A, freqüentemente chamada
patógeno hospitalar e é reconhecido como a causa comum de enterotoxina, tem efeito citotóxico (mata as células) e é
colite associada a antibióticos. O C. difficile é encontrado em 15 a responsável pela maioria dos sintomas observados. A toxina B,
25% dos pacientes com diarréia associada a antibióticos; 50 a chamada citotoxina, é consideravelmente mais citotóxica, mas não
75% dos pacientes com colite; e mais de 90% dos pacientes com é ativa no trato gastrintestinal. O mecanismo de ação destas
colite pseudomembranosa (PMC). Nos indivíduos com PMC, uma toxinas não está ainda completamente esclarecido.
pseudomembrana fibrosa cobre a mucos a do cólon, devido ao Os sintomas da colite incluem cólicas abdominais, diarréia,
líquido contendo fibrina que ali se acumula. febre (até 106°P ou 41,1 "C), desequilíbrio eletrolítico, megacólon
O organismo é raramente encontrado em pessoas saudáveis, tóxico (uma aguda dilatação do cólon) e mesmo perfuração do
com exceção dos recém-nascidos, entre os quais ele ocorre cólon. O 'antibiótico vancomicina é o mais eficiente no tratamento
freqüentemente, mas sem causar danos. Estes recém-nascidos e é quase 100% eficaz enquanto a perfuração não ocorrer. A febre
podem atuar como reservatórios para o C. difficile e podem desaparece em intervalos de 24 a 48 horas e a ação intestinal
facilmente disseminá-lo a outros, em hospitais ou em casa. Ele normal é recuperada em 5 a 7 dias. Entretanto, a recidiva é
desaparece à medida que as crianças se aproximam dos 6 a 12 freqüente, devido às formas esporuladas. A vancomicina custa 4
meses de idade. Crianças mais velhas raramente desenvolvem vezes o seu peso equivalente em ouro. O preço do tratamento
problemas com o C. difficile, apesar do freqüente uso de varia de 200 a 600 dólares. O metronidazol é também usado,
antibióticos. Adultos mais velhos são mais propensos a devido às suas propriedades antianaeróbicas.
desenvolver a doença, mas o fator idade não foi ainda explicado. A observação endoscópica das pseudomembranas no cólon é
A PMC pode se desenvolver em pacientes que sofreram cirurgias considerada diagnóstico para uma grave doença por C. difficile. A
abdominais ou intestinais e naqueles cuja microbiota confirmação normalmente necessita o isolamento do organismo a
gastrintestinal foi alterada pelo uso de antibióticos. partir de amostras de fezes e a identificação das toxinas por
O C. difficile é um anaeróbio estrito moderado. É largamente ELISA e ensaios em cultura de tecidos. A toxina A é tão potente
distribuído na natureza, sendo encontrado no solo e nas fezes de que uma molécula é suficiente para causar as mudanças
animais como vacas e cavalos. Um vez estabelecido em um observadas nas células cultivadas.
__ l'llUAI'IA AN'IUIICUOIUANA

Tirocidinas renais preexistentes. Alguns aminoglicosídios danificam o VIII


As tirocidinas são polipeptídios cíclicos obtidos do Bacillus nervo craniano; a estreptomicina causa tontura e distúrbio no
brevis. A primeira a ser descoberta foi a tirotricina, da qual de- equilíbrio e a neomicina causa perda da audição.
rivam a tirocidina e a gramicidina (assim denominada em ho-
menagem a Hans Gram, o criador do método de Gram). Todas Tetraciclinas
são altamente tóxicas, mas podem ser usadas em aplicações tó-
Diversas tetraciclinas são obtidas de espécies de Streptomyces,
picas para prevenir o crescimento bacteriano, especialmente de
dos quais foram originalmente descobertas. As tetraciclinas ge-
cocos Gram-positivos.
ralmente usadas incluem a própria tetraciclina, a clortetraciclina
(Aureomicina) e a oxitetraciclina (Terramicina). As tetracicli-
nas semi-sintéticas mais recentes incluem a minociclina
lnibidores da Síntese de Proteínas (Minocina) e a doxiciclina (Vibrarnicina). Todas são bacterios-
táticas em doses normais e prontamente absorvidas pelo trato
Aminoglicosídios digestivo, tornando-se amplamente distribuídas nos tecidos e
Os aminoglicosídios são obtidos de várias espécies dos gêneros fluidos do corpo (com exceção do líquido cerebroespinhal).
Streptomyces e Micromonospora. A primeira, a estreptomici- O fato de as tetraciclinas apresentarem o mais amplo espec-
na, foi descoberta por volta dos anos 40 e foi eficiente contra tro de atividade de qualquer antibiótico é uma faca de dois gu-
um certo número de bactérias. Desde então, muitas bactérias a mes. Elas são eficazes contra infecções por muitas bactérias
ela se tornaram resistentes. Ainda mais, a estreptomicina pode Gram-positivas e Gram-negativas e são indicadas no tratamento
causar danos aos rins e ao ouvido interno, às vezes causando de infecções causadas por rickéttsias, clamídias, micoplasma e
ressonância permanente nos ouvidos e vertigens. Em conseqüên- alguns fungos. Mas, pelo fato de possuírem tão amplo espectro
cia, este composto só é usado agora em situações especiais e, de atividade, elas destroem a microbiota intestinal normal e fre-
geralmente, em combinação com outras drogas. Por exemplo, qüentemente provocam graves distúrbios gastrintestinais.
pode ser usada juntamente com as tetraciclinas para tratar a pes- Superinfecções recalcitrantes por Proteus, Pseudomonas e Sta-
te e a tularemia e com a isoniazida e a rifampina para tratar a phylococcus tetraciclina-resistentes, bem como infecção por fun-
tuberculose. gos, também podem ocorrer.
Outros aminoglicosídios, tais como a neomicina, a canami- As tetraciclinas podem também provocar uma variedade de
cina, a amicacina, a gentamicina, a tobramicina e a netilmicina, efeitos tóxicos, de moderados a graves. Naúsea e diarréia são
também apresentam indicações especiais e apresentam graus comuns, e, às vezes, observa-se grande sensibilidade à luz. A
variados de toxicidade aos rins e ao ouvido interno. No grau mais droga pode também provocar pústulas que se formam na pele.
baixo, menos tóxico, doses de aminoglicosídios tendem a ser Os efeitos sobre o fígado e os rins são mais sérios. O dano ao
bacteriostáticos. São geralmente administrados por via intramus- fígado pode ser fatal, especialmente em pacientes com infecções
cular ou endovenosa, pelo fato de serem pouco absorvidos quan- graves ou durante a gravidez. Os danos renais podem levar à
do administrados por via oral. acidose (baixo pH sangüíneo) e à excreção de proteínas e glico-
Uma importante propriedade dos aminoglicosídios é a sua se. Pode ocorrer anemia, mas é rara. A tetraciclina pode também
capacidade de agir sinergisticamente com outras drogas - um interferir na eficácia das pílulas anticoncepcionais.
aminoglicosídio associado a uma outra droga freqüentemente Ocorrem manchas nos dentes (~Fig. 13.12) quando crian-
controla melhor uma infecção do que uma ou outra poderiam ças com menos de cinco anos de idade recebem tetraciclina ou
fazer isoladamente. Por exemplo, a gentamicina e a penicilina quando suas mães a receberam durante a última metade da ges-
ou a ampicilina são eficientes contra os estreptococos penicilino- tação. Tanto os dentes transitórios (dentes de leite) quando os
resistentes. Em outras ações sinergísticas, a gentamicina ou a permanentes serão matizados porque os germes de ambos os ti-
tobramicina se associam à carbenicilina ou à ticarcilina para pos de dentes se formam antes do nascimento. A tetraciclina
controlar infecções por Pseudomonas, especialmente em paci- administrada durante a gestação pode levar à formação anormal
entes queimados, e os aminoglicosídios se associam às cefalos- dos ossos do crânio fetal e a uma conformação anormal per-
porinas para controlar infecções por Klebsiella.
Outras aplicações para os aminoglicosídios incluem o trata-
mento de infecções ósseas e de articulações, peritonite (inflama-
ção da membrana que reveste a cavidade abdominal), abscessos
pélvicos e muitas infecções hospitalares. Nas infecções dos os-
sos e das articulações, a gentamicina e a tobramicina são especi-
almente úteis por poderem penetrar nas cavidades articulares.
Pelo fato de a peritonite e os abscessos pélvicos serem graves e
freqüentemente causados por uma mistura de enterococos e bac-
térias anaeróbias, o tratamento com aminoglicosídio se inicia
geralmente antes que os organismos sejam identificados. A ami-
cacina é especialmente eficiente no tratamento das infecções
hospitalares resistentes a outras drogas. Não deve ser usada em
situações menos urgentes, pelo receio de que os organismos se
tornem resistentes a ela também.
Os arninoglicosídios freqüentemente causam danos às célu- );>- Fig. 13.12 Manchas nos dentes causadas pela tetracidina. Se a
las renais, facilitando a excreção de proteínas pela urina, e seu condição resulta da ingestão da tetraciclina durante a gravidez, ambas
uso prolongado pode matar as células renais. Estes efeitos são as dentições, a de leite e a permanente, serão afetadas, uma vez que·os
mais pronunciados em pacientes idosos e naqueles com doenças germes dos dois conjuntos de dentes se formam no feto.
TERAPIA ANTIMICROBIANA __

manente do crânio. A capacidade dos íons cálcio de formar com-


plexo com a tetraciclina é a responsável por tais efeitos nos os- Antibióticos e Acne
sos e dentes. Pelo fato de esta reação destruir o efeito antibiótico Baixas doses de tetraciclinas e eritromicina eliminam as
da droga, os pacientes não devem consumir leite ou qualquer bactérias da pele, principalmente o Propionibacterium acnes,
outro produto derivado de leite com a droga ou por algumas horas e reduzem a liberação de lipases microbianas, que contribuem
após tê-Ia ingerido. Algumas hortaliças, tais como a couve, tam- para a inflamação da pele. Esta terapia é usada para tratar a
bém possuem um elevado teor de cálcio e devem ser evitadas acne, mas a sua eficácia não foi provada. Estudos que
pretenderam determinar a eficácia dos antibióticos na terapia
quando se tomam tetraciclinas.
da acne têm sido inúteis porque lhes faltam controles
convenientes; falham em caracterizar adequadamente o tipo e
Cloranfenicol a gravidade dos casos e pelo emprego de outras terapias
concomitantes. Alguns estudos têm mostrado que doses baixas
O cloranfenicol, originalmente obtido de culturas de Strep-
de muitos antibióticos podem levar ao aparecimento de cepas
tomyces venezuelae, é agora completamente sintetizado em la- resistentés aos antibióticos. Os benefícios dos antibióticos para
boratório. Do mesmo modo que as tetraciclinas, ele é bacterios- pacientes com acne valem o risco de promover o
tático, rapidamente absorvido pelo trato digestivo, distribui-se desenvolvimento de microrganismos resistentes?
amplamente pelos tecidos e apresenta um amplo espectro de ati-
vidade. É usado para o tratamento da febre tifóide, infecções
provocadas por cepas de meningococos e de Haemophilus influ-
enzae resistentes à penicilina, abscessos cerebrais e infecções
graves causadas por rickéttsias.
nos tóxicos geralmente usados. Moderados distúrbios gastrintes-
O cloranfenicol causa danos à medula óssea de duas manei-
tinais são observados em 2 a 3% dos pacientes que a recebem.
ras. Provoca anemia aplástica reversível, relacionada à dose, na
qual as células da medula óssea produzem muito poucos eritró-
Lincosamidas A lincomicina é produzida pelo Streptomyces
citos e, às vezes, também muito poucos leucócitos e plaquetas.
lincolnensis, e a clindamicina é um derivado semi-sintético que
O término do uso da droga normalmente permite que a medula
é mais completamente absorvido e menos tóxico que a lincomi-
óssea recupere sua função normal. Provoca também uma ane-
cina. Ambas as drogas, que são coletivamente denominadas
mia aplástica permanente, não relacionada à dose, devido à des-
lincosarnidas, exercem efeito bacteriostático. A lincomicina pode
truição da medula óssea. A anemia aplástica aparece dias a me-
ser usada para tratar uma variedade de infecções, mas não é sig-
ses após a interrupção do tratamento e é mais comum entre os
nificativamente melhor do que outros antibióticos largamente
recém-nascidos. A anemia aplástica é geralmente fatal, a menos
usados, e os microrganismos rapidamente se tornam resistentes
que um transplante bem-sucedido de medula óssea seja realiza-
a ela. A clindamicina é eficiente contra Bacteroides e outros
do. É observada em apenas 1 entre 25.000 a 40.000 pacientes
anaeróbios, exceto o Clostridium difficile, o qual se estabelece
tratados com cloranfenicol. Seu uso prolongado pode provocar
como superinfecção durante a terapia com clindamicina. As to-
inflamação do nervo óptico e de outros nervos, distúrbios de
xinas do C. difficile podem causar uma colite (inflamação do
orientação, delírio e sintomas gastrintestinais, de moderados a
intestino grosso) grave e algumas vezes fatal, a menos que diag-
graves. Uma vez que o cloranfenicol é, às vezes, receitado ou
nosticada precocemente e tratada com vancomicina oral.
vendido sem prescrição médica fora dos Estados Unidos, você
deve ser cauteloso e conhecer a identidade do antibiótico que
adquire, em outros países. Nos Estados Unidos, o cloranfenicol
é uma droga de última escolha. Inibidores da Síntese dos Ácidos Nucléicos
Rifampina
Outros Agentes Antibacterianos que Afetam Dentre as rifamicinas produzidas pelo Streptomyces mediterra-
a Síntese de Proteínas nei, somente a rifampina semi-sintética é atualmente usada.Fa-
cilmente absorvida pelo trato digestivo, exceto quando ingerida
Macrolídeos A eritromicina, um macrolídeo (composto com um após uma refeição, ela alcança todos os tecidos e fluidos do cor-
grande anel) comumente usado, é produzida por diversas cepas po. A rifampina bloqueia a transcrição do RNA. Embora seja
de Streptomyces erythreus. A eritromicina exerce um efeito bactericida e tenha um amplo espectro de atividade, é aprovada
bacteriostático, é prontamente absorvida e alcança a maioria dos nos Estados Unidos somente para tratamento da tuberculose e
tecidos e fluidos corporais (com exceção do líquido cerebroes- para eliminar meningococos da nasofaringe de portadores.
pinhal). É recomendada para o tratamento de infecções causa- A rifampina pode causar danos ao fígado, mas geralmente só
das por estreptococos, pneumococos e corinebactérias, mas é o faz quando são administradas doses excessivas aos pacientes
também eficiente contra algumas infecções por Mycoplasma, com doenças hepáticas preexistentes. Sua capacidade de intera-
Chlamydia e Campylobacter. A eritromicina é de maior valor no gir com outras drogas é incomum, e as possibilidades de tais
tratamento de infecções causadas por organismos penicilino-re- interações devem ser consideradas antes que a droga seja admi-
sistentes ou em pacientes alérgicos à penicilina. Infelizmente, a nistrada. Tomar rifampina concomitantemente com contracep-
resistência à eritromicina freqüentemente surge durante o trata- tivos orais implica risco aumentado de gravidez e de distúrbios
mento. O tratamento antibiótico duplo - eritromicina e uma menstruais. As doses de anticoagulantes devem ser aumentadas
outra droga - é freqüentemente usado em pacientes com doen- enquando o paciente estiver tomando rifampina, para alcançar o
ça semelhante à pneumonia e que talvez seja a doença dos legio- mesmo grau de redução na coagulação sangüínea. Finalmente,
nários. Diversos antibióticos combatem outras pneumonias, mas viciados em drogas recebendo metadona às vezes sofrem sinto-
a eritromicina é o único antibiótico comum que combate a do- mas de abstinência se lhes é administrada rifampina sem aumento
ença dos legionários. A eritromicina é um dos antibióticos me- da dose de metadona. Uma possível explicação para esses diver-
_ l'llllAl)IA AN1'UIICUOUIANA

fonarnidas têm sido atualmente substituídas em grande parte por


Síndrome do Homem Vermelho antibióticos, porque os antibióticos são mais específicos em seus
Foi demonstrado que a rifampina causa a chamada síndrome mecanismos de ação e menos tóxicos que as sulfonarnidas.
do homem vermelho. Neste distúrbio, que ocorre com altas Quando as sulfonamidas entraram em uso pela primeira vez,
doses do antibiótico, produtos metabólicos coloridos da droga por volta dos anos 30, freqüentemente causavam danos renais.
se acumulam no organismo e são eliminados pelas glândulas As formas mais recentes destas drogas geralmente não causam
sudoríparas. Ela é caracterizada pela coloração laranja- danos renais, mas ocasionalmente promovem náusea e exante-
brilhante ou vermelha da urina, saliva e lágrimas, bem como ma cutâneo. Determinadas sulfonarnidas são ainda usadas para
da pele que parece uma lagosta cozida. As secreções
suprimir a microbiota intestinal antecedendo uma cirurgia de
vermelhas da pele podem ser retiradas por lavagem, mas o
cólon. São também usadas para tratar algumas espécies de me-
dano hepático causado pela droga é reparado vagarosamente.
ningites, porque penetram no fluido cerebroespinhal com maior
facilidade do que o fazem os antibióticos. O cotrimoxazol
(Septra), uma combinação de sulfametoxazol e trimetoprim, é
usado para tratar infecções do trato urinário e algumas outras
infecções. O cotrimoxazol é uma droga de escolha primária para
o controle da pneumonia por Pneumocystis, uma complicação
causada por fungos, comum em pacientes com AIDS. Infelizmen-
te, ambas as drogas são tóxicas à medula óssea e podem provo-
car náuseas e exantema cutâneo.

Isoniazida
A isoniazida é um antimetabólito de duas vitaminas, a nicotina-
mida e o piridoxal. Ela se liga e inativa a enzima que converte a
vitamina em moléculas úteis. Este agente bacteriostático sintéti-
co, que tem pouco efeito sobre a maioria das bactérias, é efici-
sos efeitos é que a rifampina estimula o fígado a produzir maio- ente contra a micobactéria que causa tuberculose. A isoniazida
res quantidades de enzimas que estão envolvidas no metabolis- é completamente absorvida no trato digestivo e alcança todos os
mo de uma diversidade de drogas. tecidos e fluidos do corpo. Pelo fato de as micobactérias presen-
tes em qualquer infecção normalmente incluírem alguns orga-
nismos isoniazida-resistentes, ela é geralmente administrada jun-
Quinolonas to com um outro agente como a rifampina ou o etambutol (a ser
As quinolonas, um novo grupo de bactericidas sintéticos, aná-
discutido na seção seguinte). Suplementos dietéticos de nicoti-
logos do ácido nalidíxico, são eficientes contra muitas bactérias
narnida e piridoxal também devem ser dados com a isoniazida.
Gram-positivas e Gram-negativas. O mecanismo de ação das
quinolonas é o de inibir a síntese do DNA bacteriano pelo blo-
queio da DNA girase, a enzima que desenrola a dupla hélice do Etambutol
DNA, etapa preparatória para a sua replicação. São exemplos O agente sintético etambutol é eficiente contra determinadas
deste grupo de antibióticos a norfloxacina, a ciprofloxacina e a cepas de micobactérias que não respondem à isoniazida. O etam-
enoxacina. São especialmente eficientes no tratamento da diar- butol é bem absorvido e alcança todos os tecidos e fluidos do
réia dos viajantes e em infecções do trato urinário causadas por corpo. Contudo, as bactérias adquirem resistência ao mesmo com
microrganismos multirresistentes. bastante rapidez, e, assim, ele é usado com outras drogas, tais
Um processo recente produziu uma classe de antibióticos hí- como a isoniazida e a rifampina.
bridos. Um destes, uma combinação da quinolona com a cefa-
losporina, está atualmente sendo testada. Quando a enzima 13-
Nitrofuranos
lactamase atua sobre o componente cefalosporina, a quinolona
Os nitrofuranos são drogas antibacterianas que penetram nas
é liberada da molécula híbrida e fica disponível para matar os
células susceptíveis e, aparentemente, danificam os sistemas
organismos resistentes à cefalosporina. O uso destes antibióti-
respiratórios microbianos. Centenas de nitrofuranos foram sin-
cos sinergísticos de ação dupla pode também impedir ou retar-
tetizados desde que o primeiro foi obtido em 1930. Apenas al-
dar o desenvolvimento de resistência aos antibióticos.
guns destes são usados atualmente. Doses orais de nitrofuranto-
ína (Furadantin) são bacteriostáticas em pequenas doses, facil-
mente absorvidas e rapidamente metabolizadas. Esta droga é
Antimetabólitos e Outros Agentes especialmente usada no tratamento de infecções urinárias agu-
Antibacterianos das e crônicas. A baixa incidência de resistência a toma um agente
profilático ideal para evitar recaídas. Infelizmente, 10% dos pa-
cientes apresentam náuseas e vômitos como efeito colateral e
Sulfonamidas devem, então, ser tratados com um antibiótico. Um outro
As sulfonamidas, ou sulfas, constituem um grande grupo de agen- nitrofurano, o nifuratel, possui as mesmas vantagens clínicas da
tes bacteriostáticos inteiramente sintéticos. Muitos são derivados nitrofurantoína, com uma incidência mais baixa de efeitos cola-
dasulfanilamida, uma das primeiras sulfonarnidas (l> Fig. 13.4b). terais gastrintestinais. Infelizmente, esta droga barata e eficien-
Em geral, as sulfonarnidas administradas oralmente são pronta- te não se apresenta disponível atualmente.
mente absorvidas e se distribuem amplamente pelos tecidos e flui-
dos corporais. Agem bloqueando a síntese do ácido fólico, o qual As estruturas químicas, os usos e os efeitos colaterais dos
é necessário para fabricar as bases nitrogenadas do DNA. As sul- agentes antibacterianos estão resumidos na l> Fig. 13.13.
Método
Comum de
Agente Usado para Tratar Administração* Efeitos Colaterais

Agentes que inibem a síntese da parede celular


Penicilina (natural) Grande variedade de infecções, principalmente IM,a Relativamente poucos
de bactérias Gram-positivas efeitos colaterais, mas
podem ocorrer alergias
Penicilina (semi-sintética) Infecções resistentes à penicilina natural a,EV Mesmos da penicilina
natural
Cefalosporinas Grande variedade de infecções quando alergia EV,IM,a Relativamente não-tóxico,
ou toxicidade torna os outros agentes inadequados mas pode levar à
superinfecção
Carbapenens Infecções mistas, infecções nosocomiais, EV Reações alérgicas,
infecções de etiologia desconhecida superinfecções,
apoplexia com privação
de sentido, distúrbios
gastrintestinais
Bacitracina Infecções da pele (aplicação tópica) T Tóxica para os rins no
caso de uso interno
C H /s,
2 5'CH-CH-C CH
COOH CH3/ I 11 I 2
NH2 N-CH-CO-Leu
H~ 0"'----N~SCH2CH2NHCH=NH

HC~
D-t"P I
I o-Phe-r-r+lia-r-+Asp o-oju
CH3 I I I
Imipenem lIe-D-Om-Lys-lIe
(um carbapenem) Bacitracina
Agentes que interferem na função da membrana celular

Polimixinas Infecções da pele (aplicação T, EV. Altamente tóxica quando


tópica, com bacitracina) do uso interno
Tirocidinas Infecções da pele causadas por cocos T,EV Altamente tóxica quando
Gram-positivos (aplicação tópica)" do uso interno

___ Leu _

Om D-Phe

Vai
I \ Pro

( )
Tyr Phe

\ Gin
/
D-Phe
----- Asn-----

Tirocidina

Antimetabólitos e outros agentes


Sulfonamidas Algumas espécies de meningites e para suprimir a a,EV Formas iniciais causavam
microbiota intestinal antes de cirurgia de cólon danos renais, mas as em
uso atualmente não mais
causam danos aos rins
Isoniazida Tuberculose (usada com etambutol) a Pode causar deficiência
de piridoxina
Etambutol Tuberculose (usada com isoniazida) a
Nitrofurantoína Infecções do trato urinário a Náusea e vômito

.rr
Q
CH20H C2H5
N02 o CH=N o
I I

Q H-C-NH-(CH) -NH-C-H I Ii
I 22 I N-C

C2H5 CH20H
I ~NH

S02 C-N-NH H2C-C~


I II I 2 o
NH2 o H
Etambutol Nitrofurantoína
Sulfanilamida Isoniazida
(uma sulfonamida)

'1M = intramuscular 0= oral


EV = endovenoso T = tópico
~ Fig. 13.13 Drogas antibacterianas selecionadas.
Método
Comum de
Agente Usado para Tratar Administração* Efeitos Colaterais

Agentes que inibem a síntese de proteínas

Estreptomicina Tuberculose (usada com isoniazida e rifampina) IM,O Danos renais e ao ouvido
interno
Gentamicina e outros Infecções antibiótico-resistentes e infecções 1M, T (queimaduras) Graus variados de danos
aminoglicosídios hospitalares (usada sinergisticamente com renais e ao ouvido interno
outras drogas)
Tetraciclinas Infecções bacterianas de amplo espectro o Manchas nos dentes; causa
e algumas infecções fúngicas sintomas gastrintestinais;
pode levar à superinfecção
Cloranfenicol Infecções bacterianas de amplo espectro; abscessos o Pode danificar a medula
cerebrais e infecções penicilina-resistentes óssea e causar anemia
aplástica
Eritromicina Infecções por bactérias Gram-positivas, o Um dos antibióticos menos
algumas infecções penicilina- tóxicos comumente
resistentes e doença dos legionários usados

OH
I
NH

OH
HO

CH3
HO

O o

HO NH2
o
HO
CH2
=r) 2

o
NH2

o CH OCH3 ?~OH .
~3C~~OH
VNH-CH3

CH3 ~-~ OH Tetraciclina


o CH3
Eritromicina Gentamicina

NH

"
H2:~r):C-NH O~0:Q=HN-CH;H

H2N-C-NH OH o OH/H o OH
"
NH OH CH3
c"", o CHpH

Cloranfenicol Estreptomicina

Agentes que inibem a síntese dos ácidos nucléicos

Rifampina Tuberculose e para eliminar o Urina, saliva, lágrimas e


meningococos da nasofaringe pele com coloração
laranja brilhante ou
vermelha; danos hepáticos;
muitos distúrbios quando
usada com outros agentes
Quinolonas Infecções do trato urinário, diarréia do o Náusea; dor de cabeça
viajante; eficaz contra muitos e outros distrúrbios do
organismos resistentes a drogas sistema nervoso

HO

o
HOOC~F

l~~Nl
1\ CH I NH
CH=N-N N-CH3 HC~CH
2 2
~

0-----4---'.;
"-J
Ciprofloxacina
(uma quinolona)

Rifampina

~ Fig. 13.13 (Cont.)


'l'IlllJU'lllllN'I'nIl(~UOJnllNA __

./ Por que o antibióticocom a maior zona de inibiçãonão até 3 semanas após a interrupção do tratamento, mas não se sabe
necessariamenteé o melhor para ser usado em determinadopaciente? onde a droga é retida durante este intervalo.
./ Que efeitos colaterais prejudiciais podem aparecer quando da A anfotericina B é a droga de escolha no tratamento da mai-
administração da tetraciclina? Quais os cuidados que devem ser oria das infecções sistêmicas provocadas por fungos, especial-
tomados quando se está ingerindo esta droga? mente criptococose, coccidioidomicose e aspergilose. Embora
./ O que é um anel B-lactâmico? Onde ele é encontrado? Qual a sua não se saiba se os fungos tenham desenvolvido resistência ao
importância? agente, os efeitos colaterais são numerosos e, às vezes, graves .
./ Que organismos sofrem ação da isoniazida e do etambutol? Eles Incluem sensações cutâneas anormais, febre e calafrios, náuse-
são antibióticos? Qual é o mecanismo de ação da isoniazida? as e vômitos, dores de cabeça, depressão, lesões renais, anemia,
ritmos cardíacos anormais e mesmo cegueira. Pelo fato de algu-
mas infecções causadas por fungos serem fatais sem tratamen-
to, os pacientes, especialmente os imunocomprometidos ou os
Agentes Antifúngicos que têm AIDS, têm pouca chance, a não ser arriscar-se a estes
terríveis efeitos colaterais.
Os agentes antifúngicos estão sendo usados com maior freqüên-
cia, devido ao surgimento de cepas resistentes e ao aumento do
número de pacientes imunossuprimidos, especialmente aqueles Nistatina O polieno antibiótico nistatina (Micostatin) é produ-
com AIDS. Pelo fato de os fungos serem eucariontes e, desse zido pelo Streptomyces noursei. Esta droga apresenta o mesmo
modo, serem similares às células humanas, o tratamento com mecanismo de ação que a anfotericina B, mas é também eficien-
antifúngicos freqüentemente causa efeitos colaterais tóxicos. Em te em aplicações tópicas no tratamento das infecções por
níveis menos tóxicos, muitas infecções sistêmicas por fungos são Candida. Pelo fato de não ser absorvida pela parede intestinal,
lentas na resposta. Ainda mais, não há testes de laboratório dis- pode ser ministrada por via oral para tratar superinfecções fún-
poníveis para determinar a susceptibilidade e os níveis terapêu- gicas no intestino, que freqüentemente ocorrem após tratamento
ticos apropriados. A despeito destas dificuldades, numerosas prolongado com antibióticos. A nistatina recebeu seu nome do
drogas eficazes estão se tornando disponíveis, muitas delas sem Departamento de Saúde do Estado de Nova York, onde ela foi
receita médica. descoberta.

Imidazóis e Triazóis Griseofulvina


Os imidazóis e triazôis compreendem um grande grupo de A griseofulvina, originalmente derivada do Penicillium
fungicidas sintéticos aparentados. Diversos agentes, incluindo o griseofulvum, é usada principalmente para infecções superfici-
clotrimazol, o cetoconazol, o miconazol e o fiuconazol, são de ais provocadas por fungos. Esta droga fungistática é incorpora-
uso corrente, muitos à disposição sem receita. Os imidazóis e da a novas células que substituem as células infectadas; interfe-
triazóis parecem afetar as membranas plasmáticas dos fungos, re no desenvolvimento do fungo, provavelmente danificando o
interrompendo a síntese dos esteróis da membrana. Todos estes aparelho mitótico usado na divisão celular. Embora a griseoful-
agentes são usados topicamente, em cremes e soluções, para vina (Fulvicin) seja pouco absorvida no trato intestinal, ela é
controlar infecções da pele causadas por fungos (dermatornico- administrada oralmente e parece alcançar os tecidos-alvo atra-
ses) e infecções causadas pela levedura Candida na pele, unhas, vés da perspiração. É ineficiente contra bactérias e a maioria dos
boca e vagina. O cetoconazol tem sido também administrado por agentes fúngicos sistêrnicos, mas é muito útil em uso tópico em
via oral para tratar infecções sistêmicas causadas por fungos, infecções fúngicas da pele, cabelo e unhas. A maioria das infec-
especialmente quando outros agentes antifúngicos não foram ções se cura dentro de quatro semanas, mas infecções recalci-
eficientes. Alguns pacientes, entretanto, apresentam irritações trantes associadas às unhas podem persistir mesmo após um ano
cutâneas de suaves a graves com tais agentes tópicos. Ainda mais, de tratamento. As reações à griseofulvina são geralmente limi-
podem ocorrer interações potencialmente graves da droga, es- tadas a moderadas dores de cabeça, mas podem incluir distúrbi-
pecialmente com determinados anti-histamínicos e imunossu- os gastrintestinais, principalmente quando é necessário tratamen-
pressores. to prolongado.

Polienos Outros Agentes Antifúngicos


A farm1ia de antibióticos polienos é constituída por agentes an- Aflucitosina é uma droga sintética usada para tratar infecções
tifúngicos que contêm, pelo menos, duas duplas ligações. A an- causadas por Candida e diversos outros fungos. Esta pirirnidina
fotericina B e a nistatina são dois dos mais comuns antibióticos fluorada é transformada no corpo em fluorouracil, análogo do
polienos. uracil, e, em conseqüência, interfere com a síntese dos ácidos
nucléicos e das proteínas. A droga pode ser administrada oral-
Anfotericina B O antibiótico fungicida anfotericina B (Fungizo- mente e é muito bem absorvida, mas 90% da quantidade admi-
na) é derivado do Streptomyces nodosus. A droga se liga ao nistrada é encontrada inalterada na urina dentro de 24 horas. Pelo
ergosterol da membrana plasmática (um esterol que se cristali- fato de ser menos tóxica e de causar menos efeitos colaterais do
za) encontrado em células de fungos, algumas algas e protozoá- que a anfotericina B, a flucitosina deve ser dada no lugar da an-
rios, mas não em células humanas. A anfotericina B aumenta a fotericina B sempre que possível.
permeabilidade da membrana, de modo que a glicose, o potás- O tolnaftato (Tinactina) é um fungicida tópico comum que é
sio e outras substâncias essenciais extravasem da célula. A dro- conseguido facilmente sem prescrição. Embora o seu mecanis-
ga é fracamente absorvida pelo trato digestivo, e, assim, é apli- mo de ação ainda não seja conhecido, ele é eficaz no tratamento
cada por via endovenosa. Mesmo assim, apenas 10% da dose de várias infecções cutâneas, incluindo o pé-de-atleta e a cocei-
administrada é encontrada no sangue. A excreção persiste por ra de jóquei.
TEUAPIA ANTUnCUOBIANA

A terbinafina (Lamisil), um fungicida relativamente novo, foi ribavirina tem mostrado atividade contra uma ampla variedade
aprovado para uso tópico em infecções da pele e candidíase eu- de vírus não relacionados, gerando esperanças de se encontrar
tânea. Pelo fato de ser absorvida diretamente pela pele, ela al- um agente antiviral de amplo espectro.
cança níveis terapêuticos em muito menos tempo que os agen- O aciclovir (Zovirax), um análogo da guanina, é muito mais
tes administrados oralmente, tais como a griseofulvina. rapidamente incorporado nas células infectadas por vírus do que
nas células normais. Assim, é menos tóxico do que os outros
análogos. Pode ser aplicado de maneira tópica ou administrado

Agentes Antivirais por via oral ou endovenosamente. É especialmente eficiente para


aliviar dores e para promover a cura de lesões primárias em um
Até pouco tempo, não havia agentes quirnioterápicos eficientes caso novo de herpes genital. É administrado profilaticamente para
à disposição contra os vírus. Uma das razões para a dificuldade reduzir a freqüência e gravidade de lesões recorrentes, que apa-
de se encontrar tais agentes é que o agente deve atuar nos vírus recem periodicamente após um primeiro ataque. Entretanto, não
dentro das células sem afetar, de maneira grave, as células do impede o estabelecimento de vírus latentes em células nervosas.
hospedeiro. Os agentes antivirais disponíveis no momento ini- O aciclovir é mais eficiente do que a vidarabina contra a encefa-
bem alguma fase da replicação viral, mas não matam os vírus. lite herpética e o herpes neonatal, uma infecção adquirida por
ocasião do nascimento, mas não é eficiente contra outras infec-
ções causadas pelo vírus do herpes.
VírU5 Reeietente» a Dro{Ja5 O ganciclovir é um análogo da guanina semelhante ao aci-
clovir. A droga é ativa contra diversas espécies de infecções por
Acumulam-se evidências de que os vírus, como as bactérias, herpesvírus e em particular para infecções oculares por citome-
podem desenvolver resistência aos agentes quimioterápicos.
Tem sido observado em pacientes com AIDS e com o vírus do galovírus em casos de AIDS.
herpes e citomegalovírus corriresistência ao aciclovir.
Algumas cepas de laboratório do vírus que causa a AIDS têm Amantadina
se tornado resistentes à azidotimidina (AZT), a droga mais
eficiente, atualmente, para o tratamento da doença. A A amina tricíclica amantadina impede os vírus da influenza A
resistência aos agentes quimioterápicos é um problema maior de penetrarem nas células. Administrada oralmente, é prontamen-
em relação aos vírus do que com as bactérias, pelo fato de te absorvida e pode ser usada desde alguns dias antes até uma
haver poucos agentes antivirais à disposição. Quando uma semana após a exibição ao vírus da influenza A, para reduzir a
bactéria se torna resistente a um antibiótico, um outro incidência e gravidade dos sintomas. Infelizmente, causa insô-
normalmente pode ser encontrado ao qual a bactéria é nia e ataxia (incapacidade de coordenar os movimentos volun-
susceptível. Infelizmente, este não é o caso dos vírus, e tários), especialmente em pacientes idosos, os quais são com
devemos esperar que a biotecnologia possa nos ajudar na freqüência severamente afetados pela gripe. A rimantadina, uma
batalha contra os vírus resistentes às drogas.
droga similar à amantadina, pode ser eficiente contra uma maior
variedade de vírus, e menos tóxica também.

Análogos das Purinas e Pirimidinas


o Tratamento da AIDS
v ários agentes estão sendo testados para o tratamento da AlDS.
Diversos análogos das purinas e pirimidinas são agentes antivi- Novas informações a respeito da AIDS, suas complicações e seu
rais eficientes. Todos fazem com que o vírus incorpore informa- tratamento estão se tornando possíveis com grande rapidez.
ções errôneas (o análogo) no ácido nucléico e, em conseqüên- Vamos considerar a AIDS, os agentes usados para tratá-Ia e as
cia, interfira com a replicação do vírus .•• (Cap. 7) As drogas ramificações dos profissionais da área da saúde no Capo 18.
incluem a idoxuridina, a vidarabina, a ribavirina, o aciclovir e o
ganciclovir.
A idoxuridina e a trifluridina, ambas análogas da tirnina, são lnterferons e lmunoestimuladores
administradas em gotas nos olhos para tratar inflamação da cór- As células infectadas por vírus produzem uma ou mais proteí-
nea causada pelo vírus do herpes. Não devem ser usados por via nas coletivamente mencionadas interferons (Cap. 16). Quando
interna porque reprimem a medula óssea. liberadas, estas proteínas fazem com que as células vizinhas pro-
A vidarabina (ARA-A), um análogo da adenina, vem sendo duzam proteínas antivirais, que impedem que estas células se
usada com sucesso para o tratamento da encefalite viral, uma tornem infectadas. Assim, os interferons representam uma defe-
inflamação do encéfalo causada pelo vírus do herpes e pelo ci- sa natural contra a infecção viral. Alguns interferons estão atu-
tomegalovírus. Não é eficiente contra as infecções por cito me- almente sendo geneticamente produzidos e analisados como agen-
galovírus adquiridas antes do nascimento. A vidarabina é me- tes antivirais. Alguns resultados positivos têm sido obtidos no
nos tóxica que a idoxuridina ou a citarabina, mas algumas vezes controle da hepatite viral crônica e verrugas e interrompendo cân-
causa distúrbios gastrintestinais. ceres relacionados com vírus, tais como o sarcoma de Kaposi.
A ribavirina (Virazol), um nucleotídio sintético, análogo da Pelo fato de as células produzirem interferons naturalmente,
guanina, bloqueia a replicação de determinados vírus. Sob for- um possível meio de combater os vírus é induzir as células a
ma de aerossol, pode combater os vírus da influenza; sob a for- produzir interferons. O RNA de fita dupla sintético tem mostra-
ma de ungüento, pode ajudar a curar lesões herpéticas. Embora do aumentar a quantidade de interferon no sangue. Experimen-
seja de baixa toxicidade, pode provocar defeitos congênitos e não tos com esta substância em macacos infectados por vírus mos-
deve ser administrada a mulheres grávidas. Descobriu-se ser trou um aumento suficiente da participação do interferon no
eficiente contra os hantavírus como aqueles que causaram o surto impedimento da replicação viral.
mortal da doença respiratória na reserva Navajo, na região do Dois outros agentes, o levamisol e o inosiplex, parecem esti-
Four Corners, no sudoeste americano, em 1993 .•• (Cap. 21) A mular o sistema imunológico a resistir a infecções virais e ou-
TERAPIA ANTUnCROBIANA __

tras infecções. Ambos parecem estimular preferentemente a ati-


vidade dos leucócitos chamados linfócitos T do que estimular a
liberação de interferon. O levamisol parece ser eficiente
profilaticamente, reduzindo a incidência e a gravidade das infec-
ções respiratórias superiores crônicas, que são provavelmente de
natureza viral. Reduz também os sintomas dos distúrbios auto-
imunológicos, tais como a artrite reumatóide, na qual o corpo
reage contra seus próprios tecidos. O inosiplex tem ação mais
específica: estimula o sistema imunológico a resistir à infecção
a determinados vírus que causam resfriados e gripes.
Embora os esforços para melhorar as terapias antivirais pelo
aumento das defesas naturais tenham sido algumas vezes bem-
sucedidos, nenhuma tem ainda uso disseminado. Mais pesqui-
sas são necessárias para identificar ou sintetizar agentes eficien-
tes, para se determinar como eles atuam e descobrir como po-
dem ser usados com maior eficiência. ;... Fig. 13.14 Língua pilosa preta, uma reação ao metronidazol
(Flagyl). As papilas na superfície da língua tomam-se aIongadas e cheias
de um produto de degradação da hemoglobina, que escurece a língua.

Agentes Antiprotozoários
Embora muitos protozoários sejam organismos de vida livre, amebas e pela Giardia. Embora o metronidazol (Flagil) contro-
alguns são parasitas dos seres humanos. O parasita que causa a le estas infecções, ele não impede o crescimento excessivo de
malária invade os glóbulos vermelhos e faz com que o paciente Candida. Pode também causar defeitos congênitos e câncer e
sofra de febre alternando com calafrios. Outros protozoários pode ser passado às crianças pelo leite matemo. O metronidazol
parasitas causam infecções intestinais ou do trato urinário. Fo- às vezes provoca um efeito colateral fora do comum denomina-
ram descobertos diversos agentes antiprotozoários que são bem- do "língua pilosa preta" ou "língua com pelagem marrom", por-
sucedidos no controle ou mesmo na cura da maioria das infec- que degrada a hemoglobina e deixa depósitos nas papilas (pe-
ções por protozoários, mas alguns apresentam efeitos colaterais quenas saliências) na superfície da língua (> Fig. 13.14).
um tanto desagradáveis.
Outros Agentes Antiprotozoários
Quinina Uma diversidade de outros compostos orgânicos foi considera-
A quinina, proveniente da casca da chinchona (nativa do Peru e da como eficiente no tratamento de determinadas infecções cau-
da Bolívia, mas agora cultivada exclusivamente na Indonésia), sadas porprotozoários. A pirimetamina interfere na síntese do
foi usada durante séculos para tratar a malária. Um dos primei- ácido fólico, que os protozoários patogênicos necessitam em
ros agentes quimioterápicos a aparecer com uso difundido, é atu- maiores quantidades do que as células do hospedeiro. É usada
almente usada apenas para tratar a malária causada por cepas de juntamente com a sulfanilamida para tratar algumas infecções
parasitas resistentes a outras drogas. por protozoários, tais como a toxoplasmose. A pirimetamina
(Daraprim) também pode ser usada profilaticamente para evitar
a malária.
Cloroquina e Primaquina A suramina sódica, um composto contendo enxofre, pode ser
Atualmente, os agentes antimaláricos mais comumente usados administrada por via endovenosa para tratar a doença do sono
são os agentes sintéticos c1oroquina (Aralen) e primaquina. A africana (tripanossomíase) e outras infecções por tripanossomas.
cloroquina parece interferir na síntese de proteínas, especialmente O nifurtimox, um nitrofurano, é usado contra os tripanossomas
nos glóbulos vermelhos, onde penetra mais prontamente do que que causam a doença de Chagas. Compostos de arsênico e anti-
o faz em outras células. A droga pode se concentrar em vacúo- mônio, embora muito tóxicos, têm sido usados com algum su-
los no interior do parasita e impedi-l o de metabolizar a hemo- cesso contra infecções amebianas e por leishmânias refratárias.
globina. A cloroquina é usada para combater infecções ativas. O isotionato de pentamidina é usado para tratar a tripanossomí-
O parasita da malária se mantém nos glóbulos vermelhos e pode ase africana e como droga de segunda escolha para a pneumonia
provocar recaídas quando se multiplica e é liberado no plasma por Pneumocystis, uma complicação fúngica da AIDS.
sangüíneo. Uma combinação de cloroquina e primaquina pode
ser usada profilaticamente para proteger pessoas que visitem ou
trabalhem em regiões do mundo onde a malária ocorre e que,
assim, correm o risco de ser infectadas. Entretanto, as drogas Agentes Anti-helmínticos
devem ser administradas tanto antes quanto depois de se entrar Diversos helrnintos podem infectar os seres humanos. Uma va-
em uma zona afetada pela malária. Um novo agente profilático, riedade de agentes anti-helmínticos está disponível para ajudar
a mefloquina (Lariam), provou ser eficiente contra variedades o corpo a se livrar destes parasitas indesejáveis.
resistentes.
Niclosamida
Metronidazol A niclosamida interfere no mecanismo dos carboidratos e, em
O irnidazol sintético metronidazol é eficiente no tratamento das conseqüência, faz com que o parasita libere grande quantidade
infecções por Trichomonas, que causam secreção e coceira va- de ácido lático. A droga pode também inati var produtos fabrica-
ginal. É também eficaz contra infecções intestinais causadas por dos pelo verme para resistir à digestão pelas enzimas proteolíti-

---------
_ '1'llllJU'IJl AN'I'UnnWnIANJl

cas do hospedeiro. É eficaz principalmente no tratamento das ponível, mas logo estreptococos penicilino-resistentes foram
infecções por tênias. encontrados.
Esta cadeia de acontecimentos se observou repetidamente. À
medida que novos antibióticos se desenvolviam, surgiam cepas
Mebendazol de estreptococos resistentes a muitos deles. Acontecimentos se-
O imidazol mebendazol (Vermox) bloqueia a captura de glico- melhantes levaram à emergência de cepas antibiótico-resisten-
se pelos nematódios parasitas. É útil no tratamento de infecção tes de muitos outros organismos, incluindo estafilococos, gono-
por triquiúros, oxiúros e ancilóstomos. Entretanto, pode causar cocos, Salmonella, Neisseria e especialmente Pseudomonas. As
danos aos fetos e, portanto, não deve ser administrado a mulhe- infecções por Pseudomonas são atualmente um dos grandes pro-
res grávidas. blemas em hospitais. Muitos destes organismos são agora resis-
tentes a diversos antibióticos diferentes, e novas cepas resisten-
Outros Agentes Anti-helmínticos tes estão constantemente sendo encontradas.
A piperazina (Antepar), um composto orgânico simples, é uma Por que os organismos resistentes estão sendo mais freqüen-
poderosa neurotoxina que paralisa os músculos da parede do temente encontrados em pacientes hospitalizados do que em
corpo dos nematódios e é útil no tratamento de infecções por pacientes externos? Esta pergunta pode ser respondida observan-
Ascaris e oxiúros. Embora a piperazina exerça seu efeito nos ver- do-se o ambiente hospitalar e os pacientes com probabilidade de .
mes no intestino, se absorvida, pode alcançar o sistema nervoso serem hospitalizados. Primeiro, apesar dos esforços para se man-
humano e provocar convulsões, especialmente em crianças. terem as condições sanitárias, um hospital proporciona um am-
O composto ivermectina, desenvolvido originalmente para o biente onde as pessoas doentes vivem em contato íntimo e onde
tratamento de nematódios parasitas em cavalos (e amplamente muitas diferentes espécies de agentes infecciosos estão constan-
usado para evitar infecções por vermes do coração em cães), foi temente presentes, espalhando-se facilmente. Segundo, os paci-
considerado como sendo extremamente eficiente contra a entes hospitalizados tendem a estar mais gravemente doentes do
Onchocerca volvulus em seres humanos. As infecções provoca- que os pacientes externos; muitos apresentam resistência dimi-
das por este nematódio, disseminado em muitas partes da Áfri- nuída à infecção devido à sua doença ou porque receberam dro-
ca, causam perda progressiva da visão, conhecida como gas imunossupressoras. Finalmente, e mais importante, os hos-
oncocercíase ou cegueira do rio. pitais caracteristicamente fazem uso intensivo de uma varieda-
de de antibióticos. Pelo fato de muitas infecções estarem sendo
A );>- Fig. 13.15 apresenta as estruturas químicas, os usos e os tratadas e de diferentes antibióticos estarem sendo usados, os
organismos resistentes a um ou mais antibióticos têm probabili-
efeitos colaterais dos agentes antifúngicos, antivirais, antiproto-
zoários e anti-helmínticos. dade de emergir. As cepas resistentes podem se espalhar rapida-
mente entre os pacientes.
O tratamento das infecções resistentes cria um ciclo vicioso.
.I A maioria dos agentes antifúngicos também mata bactérias, ou Se pode ser encontrado um antibiótico para o qual o microrga-
vice- versa? nismo é sensível, a droga passa a ser usada para tratar a infec-
.I Que dificuldades resultam do fato de os protozoários parasitas e ção. Entretanto, algumas cepas do organismo que são resisten-
os helmintos terem muitas das vias bioquímicas dos seres tes ao novo antibiótico podem proliferar e necessitar tratamento
humanos? com uma outra droga nova. Estabelece-se um ciclo recorrente
em que novos antibióticos são usados e os organismos
susbseqüentemente desenvolvem resistência a eles.
Problemas Especiais com Infecções A prevenção de infecções causadas por cepas de microrga-
nismos resistentes a antibióticos é uma tarefa difícil, mas di-
Hospitalares Resistentes a Drogas versas linhas de orientação devem ser seguidas. Primeiro, o uso
de antibióticos deve ser limitado a situações em que o paciente
Tão logo os agentes antibacterianos se tornaram disponíveis, não tenha possibilidade de se recuperar sem tratamento por an-
organismos resistentes começaram a aparecer. Um dos primei- tibióticos. Segundo, testes de sensibilidade devem ser realiza-
ros sucessos no tratamento das infecções bacterianas foi o uso dos e os pacientes devem receber somente um antibiótico ao
da sulfonamida para tratar infecções causadas por estreptococos qual se saiba ser o organismo sensível. Terceiro, quando são
hemolíticos. Foi então descoberto que a sulfadiazina é útil na usados antibióticos, eles devem ser continuados até que os or-
prevenção de febre reumática oriunda de infecções estreptocó- ganismos estejam completamente erradicados do corpo do pa-
cicas recorrentes. Logo surgiram cepas de estreptococos resis- ciente. O uso de dois antibióticos em conjunto, como foi des-
tentes às sulfonamidas. Epidemias (principalmente em instala- crito anteriormente no capítulo referente às quinolonas, é es-
ções militares durante a Segunda Guerra Mundial) causadas por pecialmente proveitoso ();>- Fig. 13.16). Finalmente, qualquer
cepas resistentes provocaram muitas mortes. Estas epidemias paciente com uma doença infecciosa deve ficar isolado dos
foram mantidas sob controle quando a penicilina se tornou dis- outros pacientes.
l'llRAI>IA AN'I'nIlCUOIUANA __

Método
Comum de
Agente Usado para Tratar Administração* Efeitos Colaterais

Agentes antifúngicos

Clotrimazol Infecções da pele e das unhas o Irritação da pele

Miconazol Infecções da pele e sistêmicas T,EV Intensa coceira, náusea,


resistentes a outros agentes febre, tromboflebite
Anfotericina B Infecções sistêmicas EV Febre, calafrios, náusea,
vômitos, anemia,
danos renais, cegueira
Nistatina Infecções por Candida, T
superinfecções intestinais
Griseofulvina Infecções da pele, cabelos e unhas T,O Dor de cabeça moderada,
inflamação dos nervos,
distúrbios gastrintestinais
Flucitosina Candida e algumas infecções sistêmicas o Menos tóxica que a maioria
dos agentes antifúngicos

o N HO
CH3
o -oOH NH2
CH3

ao
::r ::r ::r ::r ::r ::r

OLO o
OH OH
OH

I COOH
o OH OH OH OH o OH
Clotrimazol Miconazol
Anfotericina B

HO

CH3
CH3

CH3
::r ::r ::r ::r

OH
::r ::r

OH
0-0 CH3

OH

o
COOH
o OH OH OH OH o OH CI

Nistatina Griseofulvina Flucitosina

Agentes anti-helmínticos

Niclosamida Infecções por tênias o Irritação do intestino


Piperazina Infecções por oxiúros e Ascaris O Pode causar convulsão em
crianças
Mebendazol Infecções por Trichuris, O Pode causar danos ao
oxiúros e ancilóstomos feto se administrado em
mulheres grávidas
Ivermectina Infecções por Onchocerca volvulus (causa O Mínimo
cegueira do rio), infecções pelo verme do
coração em animais

Niclosamida Piperazina Mebendazol

.'IM = intramuscular 0= oral


EV = endovenoso T = tópico

~ Fig. 13.15 Drogas antifúngicas, antivirais, antiprotozoários e antí-helmíntícas selecionadas.


__ TERAPIA ANTUnCnOBIANA

Método
Comum de
Agente Usado para Tratar Administração* Efeitos Colaterais

Agentes antivirais

Idoxuridina Infecções da córnea T Supressão da medula óssea


Ganciclovir Infecções oculares por CMV na AIOS EV Supressão da medula óssea
Vidarabina Encefalite viral T,EV Menos tóxica que os outros
agentes antivirais
Ribavirina Lesões herpéticas (aplicação tópica), T Pode causar defeitos·
gripe (em aerossol) congênitos se administrado
a mulheres grávidas
Aciclovir Infecções pelo vírus do herpes; EV,O,T Menos tóxico que os
menor severidade dos sintomas outros análogos
Amantadina Infecções pelo vírus da influenza A para impedir O Insônia e ataxia 11
a entrada nas células (preventivo) I
p.,
o o
11

I'(NH

I o 0:'> H2N-C
Ií N>

=q
N'~O N'N
N N N

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HN:X >

HOH2C,",<-J
N
HO

CH20H
~
HO HO HO OH

Idoxuridina Ganciclovir Vidarabina Ribavirina

sE~'
N

HN:X >
HN2 A N N

HOCH2 o
""CH,.....- 'CH
I
2

Amantadina Aciclovir

Agentes antiprotozoários

Quinina Malária resistente a outros agentes O


Cloroquina Malária O Dor de cabeça, coceira
Primaquina Com cioroquina para impedir recidiva de malária O Náusea discreta e dor
abdominal
Pirimetamina Infecções por vários protozoários O Grandes doses danificam a
medula óssea
Metronidazol Infecções por Trichomonas, Giardia e amebas O,EV,T Língua pilosa preta

CH30~

yN~
NH
I
CH3CH(CH,)3NH2

Quinina Cloroquina Primaquina

Pirimetanima Metronidazol

~ Fig.13.15 (Cont.)
'1'llIllU'IA AN'I'HllfIlOlnANA __

(a) Um único antibiótico 13-lactâmico contra (b) Terapia antibiótica dupla contra bactérias (c) Terapia antibiótica dupla contra bactérias
bactérias produtoras de 13-lactamase produtoras de 13-lactamase não-produtoras de 13-lactamase

"'\!!!l"~!M;~-r.i:L\V13-lactamase

Os organismos são incapazes


de produzir 13-lactamase e,
portanto, não podem
quebrar o anel 13-lactâmico.

O anel A quinolona
13-lactâmico permanece "<,
é quebrado, inativa. ""
e quinolona ativa
é liberada.

o anel se quebra,
inativando o
antibiótico
13-lactâmico.

Os organismos são
mortos ou suprimidos;
a quinolona não é
liberada, assim não se
Os organismos desenvolvem cepas
são mortos ou resistentes à quinolona.
suprimidos.

Os organismos se multiplicam;
a infecção continua.

>- Fig. 13.16 Uso de terapia com dois antibióticos para erradicar infecções resistentes a cepas.

Recapitulação
Acontecimentos subseqüentes incluíram o desenvolvimento das
Quimioterapia Antimicrobiana sulfas, da penicilina e de muitos outros antibióticos.
o Quimioterapia é o uso de qualquer agente químico no tratamento
de doenças.
o Um agente quimioterápico,
mico usado na prática médica.
ou droga, é qualquer agente quí-
Propriedades Gerais dos Agentes
o Um agente antimicrobiano é um agente químico usado para Antimicrobianos
tratar uma doença causada por um micróbio. Toxicidade Seletiva
o Um antibiótico é uma substância química produzida por micror- o Toxicidade seletiva é a propriedade dos agentes antimicrobia-
ganismos que inibe o crescimento ou destrói outros microrganis- nos que lhes permite exercer maiores efeitos tóxicos sobre os
mos. micróbios do que sobre os hospedeiros.
o Uma droga sintética é aquela produzida em laboratório. O nível de dosagem terapêutica de um agente antimicrobiano
o Uma droga semí-sintética é uma droga feita parcialmente pelo
é a concentração durante um período de tempo necessário para
microrganismo e parcialmente por síntese em laboratório. eliminar um patógeno.
o O índice quimioterápico é uma medida da toxicidade de um
agente para o corpo em relação a sua toxicidade para um orga-
História da Quimioterapia nismo infeccioso.
Os primeiros agentes quimioterápicos foram preparados de mis-
turas de plantas usadas por sociedades primitivas. Espectro de Atividade
o A pesquisa de Paul Ehrlich por "balas mágicas" foi a primeira o o espectro de atividade de um agente antimicrobiano se refere
tentativa sistemática para descobrir agentes quimioterápicos. à variedade de microrganimos sensíveis ao agente. Um agente
'I'I;UAI'IA AN'l'mWUOIUANA

de amplo espectro ataca muitos diferentes microrganismos. Um Método da Difusão em Disco


agente de estreito espectro ataca apenas poucos organismos di-
No método da difusão em disco (Kirby-Bauer), discos de pa-
ferentes.
pel de filtro impregnados com antibióticos são colocados em
placas de ágar inoculadas com uma camada do organismo em
Mecanismos de Ação teste. As sensibilidades às drogas são determinadas pela compa-
Os agentes que matam as bactérias são bactericidas; aqueles que ração do tamanho das zonas claras ao redor dos discos com um
inibem o crescimento bacteriano são bacteriostáticos. quadro de medições padrão.
Os agentes que inibem a síntese da parede celular permitem que
a membrana celular do micróbio afetado se rompa e libere o con-
teúdo celular. Método da Diluição
Os agentes que destroem a função da membrana celular dissol- No método da diluição, um inóculo constante é colocado em
vem a membrana ou interferem nos movimentos das substâncias caldo de cultura ou em pequenos orifícios com diferentes quan-
para dentro e para fora das células. tidades conhecidas dos agentes quimioterápicos. A concentra-
Os agentes que inibem a síntese de proteínas impedem o cresci- ção inibitória mínima (MIC) do agente é a mais baixa concen-
mento dos micróbios, destruindo os ribossomos ou interferindo tração na qual não é observado nenhum desenvolvimento do or-
de algum outro modo com o processo de tradução. ganismo. A concentração bactericida mínima (MBC) do agente
Os agentes que inibem a síntese de ácidos nucléicos interferem é a mais baixa concentração na qual a subcultura do caldo não
com a síntese do RNA (transcrição) ou do DNA (replicação) ou permite qualquer crescimento.
destroem as informações que estas moléculas possuem ..
Os agentes que atuam como antimetabólitos afetam os metabó-
litos normais através da inibição competitiva das enzimas micro- Poder de Destruição do Soro
bianas ou por terem sido erroneamente incorporados em molé- No método de destruição pelo soro, uma suspensão bacteriana
culas importantes, tais como os ácidos nucléicos. é adicionada ao soro de um paciente colhido enquanto o pacien-
te está recebendo um antibiótico, e se observa se os organismos
Tipos de Efeitos Colaterais estão mortos.
Os efeitos colaterais dos agentes antimicrobianos no hospedeiro
incluem a toxicidade, a alergia e a destruição da microbiota nor-
mal. Métodos Automatizados
As reações alérgicas aos agentes antimicrobianos ocorrem quando Os métodos automatizados permitem a rápida identificação dos
o corpo reage ao agente como uma substância estranha. microrganismos e a determinação de suas sensibilidades aos agen-
Muitos agentes antimicrobianos atacam não somente o organis- tes antimicrobianos.
mo infeccioso, mas também a microbiota normal. Podem ocor-
rer superinfecções com novos patógenos quando a capacidade
de defesa da microbiota normal está destruída.
Atributos de um Agente
Resistência dos Microrganismos Antimicrobiano Ideal
Resistência a um antibiótico significa que um microrganismo, Um agente antimicrobiano ideal é solúvel nos líquidos do corpo,
anteriormente susceptível à ação de um antibiótico, não é mais apresenta toxicidade seletiva e não é alergênico; pode ser manti-
por ele afetado. do em uma concentração terapêutica constante no sangue e nos
A resistência não-genética ocorre quando os microrganismos fi- líquidos do corpo; tem poucas probabilidades de induzir resis-
cam isolados do antibiótico ou sofrem uma modificação tempo- tência; tem uma longa vida média em prateleira; e é de custo ra-
rária, como por exemplo a perda de suas paredes celulares, o que zoável.
os toma não-susceptíveis à ação antibiótica.
A resistência genética ocorre quando os organismos sobrevivem
à exibição a um antibiótico, devido à sua capacidade genética de
evitar danos pelo antibiótico. À medida que os organismos sus-
Agentes Antibacterianos
ceptíveis morrem, os sobreviventes resistentes se multiplicam Os agentes antibacterianos inibem a síntese da parede celular,
descontroladamente e aumentam em número. destroem as funções da membrana celular, inibem a síntese de
A resistência cromossomial é devida a uma mutação no DNA proteínas, inibem a síntese de ácidos nucléicos ou agem de algu-
microbiano; a resistência extracromossomial é devida ao ma outra maneira para matar as bactérias.
plasmídio de resistência (R) ou fatores R.
Os mecanismos de resistência incluem alteração de receptores,
das membranas celulares, das enzimas ou das vias metabólicas. Agentes Antifúngicos
A resistência cruzada é a resistência contra dois ou mais agen- Os agentes antifúngicos aumentam a permeabilidade da membra-
tes antimicrobianos semelhantes. na plasmática, interferem com a síntese dos ácidos nucléicosou
A resistência a drogas pode ser minimizada (1) pelo tratamento de alguma forma interferem nas funções celulares.
continuado com um antibiótico apropriado com dosagem de ní-
vel terapêutico até que todos os organismos causadores da doen-
ça sejam destruídos; (2) usando dois antibióticos que exerçam
sinergismo, um efeito adicional; e (3) usando antibióticos somen-
Agentes Antivirais
te quando absolutamente necessários. Os agentes antivirais têm sido difíceis de ser descobertos, por-
que eles devem causar danos aos vírus no interior da célula sem
danificar severamente as células do hospedeiro.
Determinação das Sensibilidades Microbianas A maioria dos agentes antivirais é formada por análogos de ba-
ses púricas e pirimídicas.
aos Agentes Antimicrobianos O interferon é liberado pelas células infectadas por vírus e esti-
A sensibilidade dos micróbios aos agentes quimioterápicos é mula as células vizinhas a produzir proteínas antivirais. Os in-
determinada por sua exibição aos agentes em cultura de labora- terferons estão sendo produzidos por engenharia genética e sen-
tório. do testados no tratamento de infecções virais e no câncer.

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