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Ética, Cidadania e Realidade

Brasileira 01
Aula 01 - Ética, Moral e a Condição Humana

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EDUCAÇÃO SUPERIOR
Ética, Cidadania e Realidade
Brasileira 01

Aula 01 - Ética, Moral e a


Condição Humana

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EDUCAÇÃO SUPERIOR
4 Ética 01

Introdução da
Aula
Na aula “Ética, Moral e a Condição Humana” você estudará o que é ética, o indivíduo e os

aspectos da moral e os dois pilares da condição humana (ética e moral). Nesta aula, você

deverá:

• Compreender a diferença entre ética e moral e como esses conceitos contribuem


para a vida em sociedade.

• Identificar que ações têm um compromisso com o bem e com a justiça de uma
forma coletiva.

Reflexão

Vamos começar nossa disciplina com a seguinte questão: por que

pensamos tanto sobre ética e não sabemos ao certo do que se trata?

Por que esse tema é tão necessário a ponto de ser abordado por

filósofos desde a antiguidade, mantendo-se tão atual e polêmico?


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Tópico 01 - O Que é Ética?

Ética é um tema que está sempre presente em nosso

cotidiano desde o relacionamento pessoal, as relações no

trabalho e em vida social. Atualmente, nos deparamos

frequentemente com escândalos, com divergências políticas

e com diferenças sociais. Tudo isso nos leva a refletir sobre o tema.

Você certamente já ouviu coisas do tipo: “A Comissão de Ética do Congresso vai analisar

a postura dos parlamentares”, “Isso é uma falta de ética”, “Aquela pessoa não tem ética”, “O

Código de Ética de Medicina não admite esse tipo de postura profissional”.

Ética, eis a questão.

Reflexão

Vamos tomar por base uma frase de Aristóteles: "O homem quando

guiado pela ética é o melhor dos animais; quando sem ela, é o pior

de todos." Pare para pensar: as pessoas nascem boas ou más?

Mesmo sabendo o que é certo ou errado? Já percebeu que, muitas

vezes, a própria sociedade educa moralmente seus membros?


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Sabemos que a ação humana é fruto de escolhas entre o certo e o errado; entre o bem e o

mal. Portanto, os comportamentos dos indivíduos baseiam-se em parâmetros socialmen-

te aceitos que permitem a convivência em sociedade. Somos guiados por conceitos que

norteiam a prática dos valores positivos e das qualidades humanas.

Podemos afirmar então, que a ética não serve como base apenas nas relações

entre indivíduos, mas, também, como pilar das relações sociais dos homens, uma

vez que a ética é a base da justiça e das leis que regulam a convivência de todos os

indivíduos que vivem em sociedade.

Mas, vamos entender um pouco mais: Por que algumas pessoas agem de determinada

maneira e não de outra? Por que algumas ações são condenáveis ao seu modo de ver? Sua

conduta segue a quais princípios e valores?

Vídeo

Pare agora e assista ao vídeo que conta um fato ocorrido com o

corredor espanhol Fernades Anaia e traz uma reflexão sobre o nosso

tema.

Como vimos, o vídeo mostra que os valores morais e as condutas são intrínsecas ao indi-

víduo. Portanto, podemos concluir que, ética é um modo de regular comportamentos do

indivíduo, formados por si próprio, por meio de valores (que partilha com outros) para

dar sentido às ações e às decisões.


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Assim, entendemos que a autonomia do indivíduo é algo paradoxal, pois na medida em

que o indivíduo é livre, lhe é imposto um encargo: que este procure encontrar equilíbrio

entre a sua própria liberdade e a responsabilidade sobre os outros.

Vídeo

Fernando Savater, filósofo espanhol, aponta as três grandes virtudes a

serem estimuladas no ensino da ética: a coragem, a generosidade e a

prudência. Ainda, reflete sobre como a educação é negligenciada pelos

governantes e sobre o papel da população para mudar este problema.

Os princípios éticos são os caminhos pelos quais o homem, enquanto

ser racional e livre, rege sua conduta.

Significa dizer que a ética proporciona, simultaneamente, a teoria (o “bem”, e o “mal) e

uma dimensão prática (o que deve ser feito). Portanto, esses princípios ajudam a explicar

as razões de nossas ações e, através deles, admitimos as consequências de nossas ações.


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Conceito

Vale aqui ressaltar o conceito de ética, bem explicado pelo autor Gilberto

Cotrim, ”ética é uma disciplina teórica sobre uma prática humana, que

é o comportamento moral... A ética tem também preocupações práticas.

Ela orienta-se pelo desejo de unir o saber ao fazer. Como filosofia prática,

isto é, disciplina teórica com preocupações práticas, a ética busca aplicar

o conhecimento sobre o ser para construir aquilo que deve ser". Cotrim

(2004, p. 264)

Como vimos, a ética orienta a conduta humana porque “nenhum homem é uma ilha”. Esta

famosa frase do filósofo Thomas Morus, ajuda-nos a compreender que a vida humana é

convívio. Para o ser humano, viver é conviver.

Vídeo

Você já parou para pensar nas consequências das suas escolhas?

Como fazer ações justas? O que é ser bom ou ruim? E como se tornar

bom?
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Como podemos observar, o agir obedece a um código de conduta humana que nos

permite gerir nossos próprios comportamentos que, consequentemente, são aplicados

num contexto social.

A ética, por ser autorreguladora, desempenha um papel inicial de reflexão e julgamento

individual, assim, os motivos para agir são compromissos pessoais para com a sociedade,

pois devem respeitar os valores partilhados e a responsabilidade, mais do que a ameaça de

sanção.

Estudo
Complementar

Sugere-se a leitura do artigo “O Indivíduo Ético na Sociedade

do Espetáculo” para um aprofundamento sobre o assunto de

ética como valores do indivíduo e das organizações.

Como vimos, a ética proporciona ao homem os seus valores morais. Cabe ao mesmo a

responsabilidade por suas ações. Então, ética e moral são sinônimos? Não são. Mas, vamos

tratar deste assunto mais à frente.

Ouça a música “Quatro vezes você” e veja o que podemos aplicar dos conceitos tratados

hoje.
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Tópico 02 - O Indivíduo e os Aspectos da


Moral
Neste tópico, veremos como os conceitos de ser bom e justo podem variar. Isso acontece

em decorrência dos valores de uma maneira geral, pois podem variar de acordo com as

pessoas ou ainda, pelos valores culturais.

O estudo dos valores e suas variações é o que podemos definir

como o objeto principal da moral.

Pare um pouco e reflita! Considere uma cultura na qual as pessoas acreditam que é errado

comer carne de vaca. Pode mesmo ser uma cultura pobre, na qual não há comida suficiente.

Ainda assim, as vacas não são tocadas.

Uma tal sociedade parece ter valores muito diferentes dos nossos. Mas, tem ela valores

diferentes? Nós ainda não perguntamos por que essas pessoas não querem comer carne

de vacas.

Suponha que elas acreditem que depois da morte as almas dos humanos habitam os

corpos dos animais, especialmente as vacas, de tal forma que uma vaca poderia ser a avó

de alguém. Diríamos nós que seus valores diferem dos nossos? (RACHELS, p.27, 2013)

Williams (2005, p.1) levanta questões reflexivas: "Por que existe alguma coisa que eu

deveria, precisaria fazer?". "Dê-me uma razão para fazer alguma coisa; nada tem sentido".

Bobbio (2004, p.187) nos leva à reflexão: "como são compatíveis, teórica e, praticamente,
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duas verdades opostas?". E ainda: "como é possível demonstrar que o mal-estar diante de

uma minoria ou diante do irregular, do anormal, mais precisamente do 'diferente', deri-

va de preconceitos inveterados, de formas irracionais, puramente emotivas de julgar os

homens e os eventos?".

O mesmo autor responde: "O que deve ser combatido, mesmo nos documentos oficiais

internacionais, não é a intolerância, mas a discriminação, seja ela racial, sexual, étnica, etc".

Conceito

Cordi (2003, p.64) conceitua, “a moral é

tanto um conjunto de normas que deter-

minam como deve ser o comportamento

quanto ações realizadas de acordo ou

não com tais normas”.

Para o autor, estamos sujeitos a influências do meio social desde a infância, seja pela

família, escola, amigos, meios de comunicação, tecnologia.

Dessa forma, vamos adquirindo aos poucos os princípios morais. Assim, ao nascermos,

somos apresentados a um conjunto de normas já estabelecidas e aceitas pelo meio social.

Conceito

MURCHO (2004) define o conceito de

moral como: "costumes, hábitos, compor-

tamentos dos seres humanos, as regras

de comportamento adotadas pelas

comunidades. ”
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De acordo com Chauí (2003), para que exista a conduta moral é necessário:

Ter consciência de si e dos outros

Reconhecer que o simples fato de o outro existir já nos torna sujeitos iguais.

Ser dotado de vontade

Saber controlar e orientar nossos impulsos e vontades para que sempre ande confor-

me nossa consciência, sendo assim capaz de decidir corretamente a entre as opções que

surgem.

Ser responsável

Assumir, reconhecer e responder por nossas ações, sendo capaz de avaliar os as consequ-

ências e efeitos que serão gerados no próximo.

Ser livre

Ser capaz de oferecer-se como causa interna de seus sentimentos, atitudes e ações, por

não estar submetido a poderes externos que o forcem e o constranjam a sentir, a querer

e a fazer alguma coisa. A liberdade não é tanto para escolher entre alternativas possíveis,

mas o poder para autodeterminar-se, dando a si mesmo as regras de conduta.

Como vimos, a moral é tudo o que não faríamos de jeito nenhum, mesmo que não tivesse

ninguém olhando.
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Vídeo

Como somos pessoas diferentes e, durante a vida, agregamos valores dis-

tintos, seja pelo núcleo familiar, pela religião ou mesmo pelo meio em que

vivemos e, portanto, não agimos da mesma forma diante de determinadas

situações, torna-se necessário formalizar normas de conduta social e, ao

contrário do que se possa imaginar, o conceito de moral “tem menos a ver

com repressão do que com liberdade”.


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Tópico 03 - Ética e Moral: Dois Pilares da


Condição Humana
Agora que definimos o que é ética e o que é moral, fica a questão: esses temas são realmente

os pilares da condição humana e da vida em sociedade?

Reflexão

Com os conceitos que aprendemos até agora, vamos tentar imaginar a

seguinte situação:

Um médico está diante do seguinte dilema: para salvar a vida de uma

criança, ele precisa fazer uma transfusão de sangue. No entanto, a

criança segue uma religião em que a transfusão de sangue é proibida

e, sendo assim, os pais dela não permitem que o procedimento seja

realizado.

Neste momento, o médico está diante de dois valores: o valor religioso

da família da criança e o valor do juramento que ele fez como profissio-

nal.

Os dois valores correspondem à Moral.

Podemos concluir que moral é sempre normativa, ou seja, deriva das regras de como

proceder diante das convenções da sociedade. Ela não possui qualquer conteúdo filosó-

fico, é apenas o que as pessoas fazem e pensam, e deriva dos costumes e valores criados

pelos diferentes grupos humanos. Portanto, a moral é a “matéria-prima” para que a Ética

seja aplicada.

Como exemplos de valores morais de nossa sociedade podemos elencar:


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• a liberdade;
• a igualdade entre os seres humanos;
• a honestidade;
• a prioridade no cuidado com crianças, doentes e idosos;
• a valorização do trabalho;
• e a própria democracia.
Costumamos achar que ética e moral são sinônimos e é nesse momento que aparecem os

problemas de comportamento e a necessidade de encarar os questionamentos. Vejamos

as principais diferenças:

Moral Ética
• Não tem qualquer conteúdo filosó- • Disciplina que analisa os comporta-
fico. mentos e crenças, para determinar se

• É apenas o que as pessoas fazem e são aceitáveis ou não.

pensam. • Considera a essência do SER.


• Valores criados por diferentes grupos
humanos.

Portanto, a moral, não tendo conteúdo filosófico, é formada por valores que o indivíduo

adquire durante toda a sua vida. Já a ética tem a ver com o que o indivíduo é, independente

do que ele acredita.

No cotidiano, muitas vezes a ética irá pôr em questão a verdade sobre os valores morais da

sociedade, mas, sem um conjunto de valores, a ética não tem como delimitar quais atitudes
devem ser tomadas, levando-se em conta que os valores podem ser alterados. Portanto, a

moral é relativa e está sujeita às transformações da sociedade.


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Barbosa (2011), afirma que a ética nos conduz à reflexão sobre a responsabilidade do ato

moral, que é um ato de livre escolha.

Diante das alternativas de conduta, ela nos orienta a prever suas possíveis consequências, a

avaliá-las e a decidir qual delas é a mais adequada aos nossos objetivos e mais coerente com

os nossos valores. Por exemplo: como se portar diante da regra “não matar” em situações

tão diferentes como guerra, aborto, eutanásia, produção de armamentos?


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Encerramento
Muitos são os assuntos que envolvem os conceitos aprendidos nesta aula, uma vez que

estão ligados à ética que se fundamenta na natureza e na condição humana e nos direitos

naturais dos seres humanos pelo simples fato de serem humanos, independentemente de

idade, cor, etnia, gênero, capacidade física ou mental, nacionalidade, orientação sexual,

estado civil, religião, posição filosófica ou política, postura, comportamento e até se está

vivo ou morto. Já a moral, define-se pelo conjunto do que é aceitável em uma determinada

sociedade.

Reflexão

Por que certas pessoas defendem direitos humanos dos criminosos em ca-

sos, por exemplo, de condenação à tortura e de atos desumanos que lhes

são infligidos? Por que certas pessoas não os defendem nesses exemplos?

Quando refletimos sobre assuntos como o citado, percebemos que existem pessoas ou

sociedades que respeitam um postulado filosófico de que, independentemente de seu

estado em relação à moralidade ou à sanidade psíquica, os criminosos continuam sendo

humanos e, portanto, dignos de serem tratados como tais. Aqui, não se exclui a punição

pelo crime que cometeram, mas, humanos que são, devem ser respeitados em seus direi-

tos naturais.

Assim, podemos afirmar que, a ética e a moral são pilares para uma sociedade justa e

igualitária.

Como observamos nesta aula, ética e moral estão sempre presentes em nosso cotidiano.

É um tema que vem se desenvolvendo durante toda a história da humanidade, por isso,

estudaremos a origem e o desenvolvimento da ética no tempo.


Ética, Cidadania e Realidade
Brasileira 01
Aula 02 - Concepção Filosófica de Ética na
Grécia

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Ética, Cidadania e Realidade
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Aula 02 - Concepção Filosófica de Ética na Grécia

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Introdução da
Aula

Na aula “Concepção Filosófica de Ética na Grécia” você estudará o relativismo políti-

co e social dos sofistas, Sócrates e Platão - Razão X Emoção e Aristóteles e a busca pela

felicidade. Nesta aula você deverá:

• Compreender a ética que vem se desenvolvendo durante toda a história da


humanidade, baseada nos pensamentos filosóficos de grandes pensadores.

Reflexão

Questões como: Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos?

Qual o sentido da nossa vida? - são questões que acompanham

todos nós. Mas, em que momento surgiram tais questionamentos?


5 Ética 01

Tópico 01 - O Relativismo Político e Social


dos Sofistas
Podemos afirmar que os referidos questionamentos somente existem em virtude dos

gregos se sentirem livres para pensar, investigar e questionar.

Na Grécia Antiga, existiam professores itinerantes que

percorriam as cidades ensinando, mediante pagamento,

a arte da retórica, ou seja, a arte do discurso. A prin-

cipal finalidade de seus ensinamentos era introduzir o

cidadão na vida política.

Conhecidos como sofistas, inauguram uma radical inovação na problemática filosófica,

retirando os questionamentos do cosmo, das divindades, deslocando-os para o homem.

Inaugurando, assim, o período "humanista" da filosofia grega.

Entre as principais mudanças, podemos elencar:

• A crise da aristocracia;
• Crescimento do poder do povo;
• Fluxo de estrangeiros entre as cidades;
• Ampliação do comércio;
• Difusão das experiências dos viajantes;
• Crescimento do conhecimento;

A palavra sofista, originalmente, significa “sábio”, ou melhor, “professor de sabedo-

ria”. Posteriormente, adquiriu o sentido de desonestidade intelectual, pois trata-

va-se de pessoas que usavam, de má-fé e com intenção de enganar, o poder da

oratória e da argumentação.
6 Ética 01

O termo “sofista” não corresponde a uma escola filosófica, mas a uma prática.

Características Comuns aos Sofistas:

• Oposição entre natureza e os costumes – A Podemos dizer que a maior parte dos
sofistas apresentava interesse pelos problemas dos homens e da natureza. Acredi-

tavam que, aquilo que é próprio da natureza humana não pode ser alterado. Mas,

tudo o que é adquirido pela cultura é mutável.

• Relativismo – Os sofistas pregavam que tudo o que se refere à vida prática pode
ser modificado. Ou seja, a religião e a política, que eram considerados fatores

culturais, poderiam ser alteradas.

• A existência dos deuses - Para os sofistas, a existência dos deuses é relativa. Mas,
eles não rejeitam sua existência, apenas a questionam.

• A natureza da alma - Os sofistas acreditavam que a alma humana era passiva e


poderia ser mudada através do conhecimento e experiências do exterior. Este

conceito era muito importante para a prática que exerciam: o discurso - se a alma

era passiva, poderia ser persuadida através dos encantadores discursos.

• Rejeitam questões metafísicas – Isso acontecia com o intuito de priorizar a vida


prática, ou seja, aquilo que consideravam útil.

• A habilidade de argumentar - Imprescindível no sofismo, com a consolidação e


o desenvolvimento da democracia em Atenas, Era fundamental que os sofistas

soubessem argumentar em público, com o objetivo de convencer a maior parte

da assembleia.

• Antilógica - Como estratégia de ensino, ensinavam os jovens a defenderem uma


posição e, depois, a defenderem no oposto. Com essa técnica argumentativa,

faziam com que os jovens entendessem pontos fracos de seu discurso


7 Ética 01

Estudo
Complementar

Sugere-se que você assista ao filme - O Mundo de Sofia – O filme, baseado

em um dos mais famosos livros sobre a filosofia, é interessante e fundamental

para o entendimento de questões filosóficas, incluindo aí ótimas conversas

sobre ética e moral.

Como podemos observar, para os sofistas, as convenções sociais tinham maior importân-

cia. A educação era oferecida, mediante pagamento, mas não tinha como objetivo nenhu-

ma teoria geral da vida.


8 Ética 01

Tópico 02 - Sócrates e Platão - Razão X


Emoção
Como vimos no tópico anterior, os sofistas, fazendo uso de discursos bem elaborados,

defendiam que as convenções e a busca pelo prazer deveriam ser priorizadas, fazendo com

que cada cidade-estado da Antiguidade Grega, tivesse suas próprias leis.

Reflexão

Agora, pare e reflita! Se todas as convenções são válidas, não existe um

fundamento sólido que nos obrigue a agir de determinada maneira. Na

concepção dos sofistas, em um determinado lugar poderia ser autorizado

o aborto, e em outro, poderia ser rechaçado veementemente. Para você,

cada um pode fazer o que quiser, já que a moral está centrada exclusiva-

mente em sua opinião?

Sócrates

Em meio ao caos que estava se instalando com base no senso-comum e

incertezas, Sócrates apresenta um novo espírito crítico, colocando em

cheque os ensinamentos pregados pelos Sofistas.


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Para Sócrates, os valores éticos poderiam ser ensinados: o homem virtuoso era aquele que

aprendeu o bem. Assim, passou a se ocupar em entender o homem e sua conduta. Desta

forma, Sócrates fundamentou a ética na natureza humana.

Você deve estar se perguntando, não era exatamente o que os Sofistas defendiam? Na re-

alidade, não. Para Sócrates, a natureza humana consiste em uma essência do ser humano,

que deveria fundamentar a moral. O conceito universal sobre a existência do homem está

além dos desejos individuais. Assim, cada indivíduo deve ter consciência de suas ações,

dominá-las pelo conhecimento e isso o conduz a uma vida ética.

“Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância.”

Para conhecimento verdadeiro sobre o bem, o mal e a justiça, Sócrates utilizava de seu

espírito astuto e questionador, levando seus seguidores a reflexões filosóficas de questões

urgentes: O que é bom? O que é certo? O que é justo?

Usando da ironia, Sócrates deixava indeciso aquele que está seguro de si mesmo, fazendo

com que os homens reconhecessem seus problemas, despertando curiosidade e estimulan-

do a reflexão, ou seja, não ensinava uma verdade, mas ajudava cada um a descobri-la nele

mesmo. Considerava que aprender não é fácil, só lenta e progressivamente se chega ao

conhecimento da verdade.

Como vimos, a ética socrática tinha como princípio do conhecimento a dúvida! Daí surge

a máxima “Só sei que nada sei”. Essa afirmação, não se trata da ignorância e sim da virtude

de reconhecer-se como ser limitado e em constante aprendizado.

Para o discípulo de Sócrates, a alma - princípio que move o homem - é constituída de

três partes: razão, vontade e desejo. Portanto, para alcançar a ética o homem precisaria

desprezar os prazeres, as riquezas, renunciar às coisas mundanas, para assim libertar-se da

matéria e contemplar o que realmente é a ideia do bem.


10 Ética 01

Vídeo

Podemos concluir que a ética para Sócrates estava baseada no

respeito às leis e, portanto, à coletividade. É pela submissão às leis

que a ética da cidade se organiza, já que a ética do coletivo está

sempre acima da ética do individual.

Diante de sua polêmica, e a ameaça que apresentava aos poderosos da época, Sócrates foi

preso sob acusação de corrupção da juventude e de não acreditar nos deuses da cidade.

Como pena, foram-lhe dadas duas opções: exilar-se ou morrer (ingerindo um veneno – a

cicuta).

Firme em sua postura, optou pela morte como prova de que ele defendia o valor da lei

como elemento de ordem do todo. Deixou como legado, a busca incansável pela verdade, o

desapego dos bens materiais, a postura ética frente a si próprio e à sua sociedade.

Platão
11 Ética 01

Saiba mais

Platão, o mais famoso dos discípulos de Sócrates, desenvol-

veu ainda mais o método de argumentação. Antes de você

compreender como Platão entendia a ética, assista ao vídeo

abaixo, que apresenta um resumo sobre a vida e a obra deste

filósofo Grego.

Como podemos observar, Platão aprimorou os questionamentos de Sócrates e levado a

uma orientação extrema, afirmava que para atingir uma vida ética, era imprescindível que

os indivíduos separassem a razão da emoção, ou seja, deveria ser eliminado todo e qualquer

tipo de paixão, de vontade e de inclinação.

Para Platão, a razão determina como devemos nos portar no meio social. E somente

afastando-se das vontades e desejos era possível conhecer a essência das coisas, que se

encontra no mundo das ideias.

As ideias, segundo Platão, são impalpáveis, espirituais, incorpóreas, não sensíveis,

incorruptíveis, permanentes, divinas, inalteráveis, autossuficientes, transcendentes. Ele

considera que existem dois tipos de realidade: o mundo em que vivemos, o que temos

apenas um conhecimento aparente, e um mundo ideal, que são as essências derivadas da

própria existência.
12 Ética 01

Vídeo

Pare agora e assista ao vídeo abaixo, onde Maurício de Souza apresenta

uma releitura sobre o Mito da Caverna, escrito por Platão. Nela, pode-

mos refletir sobre as “verdades” e vemos como elas podem depender do

que queremos de fato enxergar. Nesse diálogo, são questionados assun-

tos referentes à organização social, onde são apresentadas questões

importantes sobre o viver, ação e ética.

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A ética platônica está diretamente ligada à política, pois é na pólis

(cidade estado) que acontece a vida moral.

No seu entendimento, o homem é bom enquanto bom cidadão. O estado ideal estava divi-

dido entre: trabalhadores, guerreiros e governantes.

O senso de justiça baseava-se na harmonia entre as três virtudes - trabalhadores, guerrei-

ros, governantes – então, se cada um segue a sua natureza e faz o que lhe compete, estarí-

amos em uma sociedade justa.


13 Ética 01

Tópico 03 - Aristóteles e a Busca pela


Felicidade

Vídeo

Aristóteles renunciou à teoria das ideias de seu mestre Platão, e funda-

mentou seus estudos no mundo concreto. Observar a realidade, segun-

do Aristóteles, nos leva à constatação da existência de inúmeros seres

individuais concretos e mutáveis que podem ser percebidos por nossos

sentidos.

Como podemos observar, partindo da existência do ser é que devemos atingir a sua essên-

cia em um processo de conhecimento que caminha do individual para o coletivo.

"É SÁBIO UUEM Havia a necessidade de harmonia entre a razão e os senti-


DO
dos. Prazer e razão.

Se houver disposição para perdoar os próprios erros e a

segurança desmedida, permaneceremos em eterno conflito

com os outros e, então, tais atitudes são prejudiciais ao

nosso caráter.
14 Ética 01

Por outro lado, a inibição também. Ao passo que a felicidade é a virtude. E virtude é o

hábito em escolher o meio justo. “A virtude está no meio”. Em contrapartida, a inibição

também.

A virtude, sob o ponto de vista de Aristóteles, é mediadora entre dois extremos, e os

extremos eram considerados vícios. Ao contrário de Platão, não identifica virtude com

saber, mas oferece importância à escolha, que está mais condicionada à vontade do que à

razão.

Para Aristóteles, o homem encontra virtudes prontas que são transmitidas pela vida em

sociedade e, essas virtudes têm validade e consentimento universal (por exemplo: prudên-
cia, generosidade). Assim, a atitude ética não surge dos julgamentos, mas é adquirida pela

prática, exercício, hábito e aprendizagem.

Partindo da Ética, chegamos ao pensamento político de Aristóteles:

“O Homem é por natureza um animal político. Assim sendo, o homem

não deve ignorar a coletividade, privilegiando interesses particulares”.

Segundo ele, a origem do Estado ocorre de maneira instintiva. Aristóteles observa que

o homem necessita de coisas e dos outros, sendo, por isso, um ser carente e imperfeito,

buscando a comunidade para alcançar a felicidade.


15 Ética 01

E a partir disso, deduz que o Estado tem o dever de tornar possível

a vida feliz. Somente ele pode trazer a completa realização das ca-

pacidades humanas, já que a finalidade do Estado é o bem comum.

Podemos concluir que, para Aristóteles, o grau máximo de realida-

de é o que percebemos ou sentimos. O que está na alma do homem

é apenas reflexo dos objetos da natureza: tudo o que temos nos

pensamentos e em ideias veio do que podemos ver e ouvir, desta

forma existe uma razão inata ao ser humano.

Diante de tudo o que estudado sobre a ética grega, apresentamos uma análise do legado que

os gregos nos deixaram: quer queira ou quer não, somos herdeiros intelectuais dos gregos.

01. É da nossa natureza a busca pelo bem e pela felicidade, que somente pode ser

alcançada por meio de uma conduta virtuosa. O bem e a felicidade, aqui, devem ser

entendidos como algo comum a todos, pois a vida só ocorre em comunidade, não
existe ética individual.

02. A virtude é um conceito essencial dentro da filosofia moral dos gregos. Para eles,

é impossível que o homem seja bom sem ser virtuoso. Portanto, a virtude consiste na

consciência humana do bem e na conduta definida pela vontade, que deve ser guiada

pela razão. É a racionalidade que exerce o controle sobre os instintos e impulsos irra-

cionais que são inerentes aos seres humanos.

03. A consciência das possibilidades, ou seja, o agente sabe o que está e o que não está
em seu poder de realizar. Saber delimitar o que está ao alcance do ser humano signi-

fica, principalmente, não se corromper pelas circunstâncias, nem pelos desejos, nem
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pelos interesses, mas com a capacidade de afirmar a própria vontade e independência.

Podemos resumir a ética dos antigos com três aspectos principais: o racionalismo, o natu-

ralismo e a ligação entre ética e política. Vamos entender melhor cada um desses aspectos.

Racionalismo

O racionalismo, como observamos a vida virtuosa, consiste em agir em conformidade com

a razão. O sujeito moral grego caracterizava-se por lutar contra suas paixões e seus vícios,

educando sua vontade de acordo a racionalidade. Somente por meio da consciência, ou

seja, da racionalidade, era possível atingir o bem e a felicidade. Podemos resumir como

critérios do sujeito moral, a vontade, a liberdade e a consciência.

Naturalismo

O naturalismo, a vida virtuosa é agir em conformidade com a natureza do mundo e com a

natureza humana, que é uma parte do todo natural.

Os gregos definem o SER e o DEVER SER. O ser está ligado ao que as coisas são, con-

cluindo que o homem é um animal racional. E o dever ser relacionado com as capacidades

humanas, ou seja, embora o homem seja um animal, possui capacidade para se tornar um

ser virtuoso, através da educação e da ética.

Ligação entre Ética e Política

A ligação entre ética e política, isto é, a conduta do indivíduo e os valores da sociedade

estão intrinsecamente ligados, pois somente na vida em sociedade encontramos liberdade,

justiça e felicidade.

Assim, a ética era concebida como forma de educação do caráter do sujeito moral, com o

objetivo de dominar racionalmente as paixões e desejos, orientando a vontade rumo ao

bem e à felicidade. O objetivo principal era a harmonia entre a conduta virtuosa do indiví-

duo e os valores coletivos, que também deveriam ser virtuosos.


17 Ética 01

Encerramento
Como observamos nesta aula, o movimento sofista trouxe para o centro da reflexão

filosófica questões humanistas. Sócrates, por sua vez, inseriu a reflexão como forma de

conhecimento da natureza humana. Para Platão, a ética encontrava-se no mundo das ideias

e somente é possível atingi-la por meio do conhecimento racional e purificando o conheci-

mento sensorial. Por sua vez, Aristóteles rejeitou a teoria de seu mestre Platão, colocando

o mundo concreto no centro das reflexões.

Agora que finalizamos, você está apto a realizar os exercícios desta aula.

Fique atento a sua performance e frequência nas atividades!


Ética, Cidadania e Realidade
Brasileira 01
Aula 03 - Ética e Religião
Ética, Cidadania e Realidade
Brasileira 01

Aula 03 - Ética e Religião


4 Ética 01

Introdução da
Aula
Na aula “Ética e Religião” você estudará sobre a finalidade do agir, livre arbítrio e liberda-

de. Nesta aula, você deverá:

• Entender a chegada do cristianismo e a sua influência nos princípios éticos.

Reflexão

A religião é um auxílio para uma conduta ética? Para que possamos

atingir condutas éticas, a religião nos auxilia na compreensão de

valores morais? Como seres racionais limitados que somos, a religião

justifica as condutas éticas? Para compreender melhor essas questões,

assista ao vídeo "Ética e Religião".


5 Ética 01

Tópico 01 - A Finalidade do Agir - Fé e


Caridade
Você deve estar se perguntando: como a filosofia grega foi influenciada pelas tradições

cristãs? A resposta é simples, pois, durante todo o período medieval, os filósofos foram

teólogos, bispos e padres.

Portanto, nesse período, a vida ética deveria estar pautada na relação

espiritual e interior com Deus e pela caridade com o próximo.

A ética cristã se baseia no amor e, provavelmente, você já ouviu falar nos mandamentos.

O primeiro, considera o amor a Deus acima de todas as coisas e o amor ao próximo. É no

amor que o cristianismo encontra sua realização espiritual mais profunda e as bases funda-

mentais para a vida em sociedade.

Os precursores da filosofia cristã buscavam conciliar a fé e


a razão como instrumento de análise e reflexão. Portan-

to, para o cristianismo, a felicidade da vida em sociedade

somente poderá ser atingida por meio da fé e da caridade.

Afastando, assim, a ética humanista repercutida pelos

gregos, transformando-se em uma ética proveniente das

divindades.

Tal como Sócrates e Platão, na Idade Média, quem se destaca é Santo Agostinho, bispo,

teólogo e filósofo.
6 Ética 01

Foi um homem profundamente voltado para sua

interioridade, pois acreditava que somente nessa


interioridade era possível realizar o encontro com

Deus e com a nossa verdadeira essência. Inserido nes-

se contexto, Santo Agostinho acrescentou conceitos

fundamentais para a ética cristã.

Todos os grandes filósofos medievais herdaram

elementos da tradição filosófica grega, no entanto, os

reconfiguraram, adequando-os à realidade cristã.

São Tomás de Aquino representa uma aproximação

entre fé e razão, utilizando o pensamento aristotélico

como base fundamental.

Para Aquino, a ética deve ser trabalhada no âmbito da

sociedade, assim como pregavam os gregos. Ele con-

cordava com o entendimento de que o homem, por

natureza, é um animal social e político.

Partindo desse princípio, na ética cristã, a primeira forma de sociedade do homem é a

família, a segunda, é o Estado. Sendo que, apenas o indivíduo tem a realidade substancial e

transcendente, levando à conclusão de que o indivíduo não é o meio para o Estado, mas o

Estado torna-se o meio para o indivíduo.

Segundo Aquino, o Estado não exerce apenas uma função repressiva e econômi-

ca, mas também organizadora e espiritual. No entanto, o Estado sempre estará

subordinado à Igreja, pois somente ela tem a ligação divina para a alma.
7 Ética 01

Tópico 02 - Livre Arbítrio

Reflexão

Será que temos capacidade de escolha e de decisão? Ou a nossa ação

está ligada a acontecimentos anteriores, sendo um efeito de um acon-

tecimento passado?

Para responder a estas perguntas devemos lembrar que, na antiguidade clássica o conceito

de liberdade encontrava-se consolidado. Em Atenas, a liberdade tinha uma importância

significativa na vida social e política.

O Cristianismo oferecia o Reino de Deus, no qual todos eram livres. E com o intuito de

justificar filosoficamente este conceito cristão, Santo Agostinho introduz os conceitos de

livre arbítrio. Ao contrário dos gregos, fundou-se na vontade interior do ser humano.
8 Ética 01

Reflexão

Somos portadores de liberdade? Somos capazes de decidir, escolher e julgar

por nós mesmos? Para auxiliar, observe a imagem abaixo:

Diante desta problemática, Santo Agostinho foi compelido a encontrar uma

saída para o mal no mundo: uma vez que Deus é perfeito e não poderia ter

criado a maldade. Assim, ele afastou a origem divina da crueldade por meio

do livre arbítrio. A questão é: o problema do mal foi resolvido?

Oportunidade ou possibilidade de tomar decisões por vontade própria, seguindo o próprio

discernimento e não se pautando numa razão, motivo ou causa, estabelecida: a fé não im-

põe regras, mas confia no livre-arbítrio de cada cristão.

A afirmação de que somos dotados de livre arbítrio em decorrência do “pecado original”,

leva-nos a concluir que o impulso espontâneo do homem - a vontade - nos conduz ao mal,

ou seja, ao pecado. Portanto, somos seres pecadores, eternamente divididos entre o certo

e o errado.
9 Ética 01

Em síntese, enquanto para os filósofos clássicos a vontade era uma faculdade racional capaz

de controlar nossos desejos, possibilitando a vida moral, o Cristianismo fundamenta que

a vontade do homem está corrompida pelo pecado, tornando-se necessário recorrer ao

divino para alcançar a moral.

Desta forma, a concepção cristã introduz uma nova ideia na concepção moral: a ideia do

DEVER, ou seja, a ideia de que a virtude é a obrigação de seguir os mandamentos de Deus.

Para o Cristianismo, é na Bíblia que manifesta Sua vontade e Suas leis, definindo eterna-
mente o bem e o mal, a virtude e o vício, a felicidade e a infelicidade, a salvação e o castigo.

Para cumprimento da lei divina, estabeleceu-se três virtudes essenciais: fé, esperança e

caridade.

No Cristianismo, ainda foram definidas virtudes quanto ao nosso comportamento exterior

ou à nossa conduta:

• Sobriedade
• Generosidade
• Trabalho
• Castidade
• Paciência
• Modéstia.
10 Ética 01

Na contramão das virtudes, encontram-se os vícios, que na ética cristã são definidos como

os sete pecados capitais:

• Gula
• Avareza
• Preguiça
• Luxúria
• ira (ou cólera)
• soberba (ou orgulho)
• inveja.
Aos humanos, cabe reconhecer a vontade e a lei de Deus, cumprindo-as obrigatoriamente,

isto é, por atos de dever. Esse é o único ato que torna moral um sentimento, uma intenção,

uma conduta ou uma ação.

No Cristianismo, o ato moral não é a conduta da virtude baseada na consciência ou na

vontade racional, mas sim o cumprimento voluntário do dever de cumprir a lei divina.

Nesse sentido, podemos classificar a conduta em três grandes grupos:

01. Condutas MORAIS: condutas que estão de acordo com a lei divina.

02. Condutas IMORAIS: condutas que são reprováveis, que estão elencadas nos

sete vícios capitais - verifique quais são os vícios no glossário.

03. Condutas AMORAIS: condutas que não dizem respeito às leis morais, po-

demos utilizar como exemplo a alimentação, no entanto, também não se pode

comer muito, pois aí se tornaria um ato imoral - gula.


11 Ética 01

Outro conceito que compõe a ética cristã é a ideia de intenção. No cristianismo, a relação

é íntima e privada do indivíduo com Deus, sem qualquer intermediação do Estado. Então,

esse Deus todo poderoso está em todos os lugares, inclusive na cabeça e no coração de

todos nós, portanto, não só serão reprováveis suas ações morais, mas também suas

intenções e sentimentos morais.

Reflexão

Existindo a lei divina como algo exterior ao homem, que diz como se

deve agir e se comportar, a pergunta que surge é: Existe autonomia? O

homem é livre e consciente?


12 Ética 01

Tópico 03 - Liberdade?
A ética cristã regulamenta a vida íntima e externa dos se-
res, baseando-se em leis divinas. Com a reforma protestante

decorrente de novas interpretações da Bíblia, a corrupção

do clero e as novas éticas religiosas, o cristianismo perdeu

forças.

Na modernidade, desenvolveram-se o Renascimento e o

Iluminismo. O desenvolvimento intelectual resgata da era cristã o homem autônomo e

forte. No Iluminismo, essa orientação fica mais evidente, fundamentando a moral não

mais em valores religiosos, mas naqueles oriundos da razão humana.

Na ética moderna, a negação do cristianismo e do passado será a chave para os intelectu-

ais apresentarem questionamentos sobre a origem do valor moral. Aqui, a reflexão está

centrada na autonomia humana.

IMMANUEL KANT (1724-1804)

“A autonomia da vontade é o princípio único de todas as leis morais e dos deveres que estão

em conformidade com elas.”

Como podemos observar, para Kant as obrigações morais

não são impostas por Deus, nem resultam de nossos sen-

timentos: as regras morais são leis que a razão natural cria

através do conhecimento e das experiências.


13 Ética 01

Vídeo

Não são raras as vezes que observamos nas mídias e nas redes sociais, ati-

tudes que demonstram condutas éticas. Pare agora e assista à reportagem

sobre a conduta de um senhor que achou um boleto e o dinheiro

para pagá-lo:

Assim, só por meio da racionalidade o ser humano é capaz de entender as razões do dever,

ou seja, por que fazer ou não fazer algo.

No raciocínio de Kant, o dever não se apresenta através de um conjunto de conteúdos

fixos que definem a essência de cada virtude e determinam os atos que devem ou não ser

praticados: dever não é uma lista de “faça isto” e “não faça aquilo”.

Partindo desse entendimento, Kant propõe uma fórmula em que se distingue: imperativo

categórico de um imperativo hipotético.

Imperativo, na visão de Kant, é um mandamento da razão que serve para orientar nossa

ação.

O imperativo categórico comanda uma ação como necessária em si mesma, indepen-

dente das circunstâncias: é necessário agir de determinada forma. Assim, uma ação só é

considerada ética quando a máxima que a rege pode ser universalizada, ou seja, quando a

ação individual pode ser praticada por todos, sem prejuízo na/da humanidade.
Já o imperativo hipotético apresenta uma ação como meio para alcançar determinado

fim, e este tipo de imperativo, diz Kant, pode ser uma regra de prudência ou de técnica,

mas jamais da moralidade.


14 Ética 01

Portanto, como apresenta CABRAL, podemos concluir que a ética em Kant, baseia-se:

Ética - Kant

Máxima

Lei

Ação

Máxima

A máxima moral é a pergunta que um ser consciente deve se fazer para saber se deve ou

não agir de uma forma e não de outra. Ex.: “Posso, em uma dificuldade, roubar? ”.

Lei

A lei é a constatação do interesse egoísta, visto que a contradição expressa na máxima

deverá sair do particular para o universal. A lei é a expressão do interesse universal, evi-

denciando que é possível pensar em leis racionais válidas universalmente. Ex.: “Nenhum

ladrão, por mais que roube, aceita ser roubado”.

Ação

“após este exercício de consciência, o agente moral age segundo a escolha que fizer.

Para ser uma escolha moral, a ação deve ser conforme a lei, isto é, conforme o dever.

No entanto, Kant entende que é possível agir somente por dever, isto é, obedecer à lei a

contragosto, forçado ou constrangido. Ainda assim, a ação é moral. Essa distinção é im-

portante, justamente para mostrar que a lei, sendo racional, deve ter força para obrigar os

indivíduos a obedecê-la, sem o que nenhuma convivência seria possível. É o fundamento

da organização social, que começa nos hábitos, costumes e cultura de um povo, mas deve

passar pelo crivo da reflexão crítica do ser racional e consciente. ”


15 Ética 01

HEGEL (1770-1831)
A ética em Hegel pode ser chamada de ética contextu-

alista, pois apresenta como critério para avaliar se uma


ação é eticamente correta, a necessidade de observar o

contexto em que o indivíduo está agindo.

Dessa forma, conclui que a moralidade é relativa e

assume conteúdos diferenciados ao longo da história, ou

seja, os valores morais podem variar de acordo com as

crenças, culturas e costumes.

Nesse sentido, para Hegel, a moralidade é o resultado da relação do indivíduo com o

conjunto social e se manifesta tanto na cultura como em códigos normativos próprios da

realidade em que os indivíduos vivem.


16 Ética 01

Encerramento
Como observamos nesta aula, o conceito de moral e ética sempre esteve no centro das

discussões da humanidade, graças aos destaques dos principais filósofos das épocas

abordadas e seus conceitos.

É inegável que, com o desenvolvimento da sociedade, apresentam-se desafios cada dia mais

complexos: o desenvolvimento das civilizações, a globalização, o desenvolvimento das

tecnologias e dos meios de comunicação, necessitando-se de uma postura ética.

Agora que finalizamos, você está apto a realizar os exercícios desta aula.

Fique atento ao seu desempenho e frequência nas atividades!


Ética, Cidadania e Realidade
Brasileira 01
Aula 04 - Ética e a Sociedade
Globalizada
Ética, Cidadania e Realidade
Brasileira 01

Aula 04 - Ética e a Sociedade


Globalizada
4 Ética 01

Introdução da
Aula
Na aula “Ética e a Sociedade Globalizada” você estudará os Aspectos Ideológicos e Cultu-
rais para o Exercício da Cidadania, Liberdade/Responsabilidade (Eu e o outro) e Público/
Privado (O papel do Estado). Nesta aula você deverá:
• Definir os aspectos ideológicos e culturais para exercício da cidadania, quais os
limites entre liberdade e responsabilidade, qual o papel do Estado para garantir
a cidadania;
• Refletir sobre questões práticas que envolvem valores para a garantia de direitos
básicos.

Reflexão

Você deve estar se perguntando: ética, moral e cidadania não são todos

assuntos iguais?
5 Ética 01

Tópico 01 - Aspectos Ideológicos e Culturais


para o Exercício da Cidadania
Ética, moral e cidadania são diferentes assuntos, mas ligados entre si. Para isso, vamos
diferenciar ética de moral.

ÉTICA MORAL

É a reflexão filosófica sobre a moral Tem caráter prático


(caráter teórico) (com força normativa)

É permanente, pois é universal É temporária, pois é cultural

São aspectos de condutas


É princípio
específicas

É a ciência que estuda a moral Está relacionada com os hábitos


(diretamente relacionada à Política e costumes
e à Filosofia) (determinados grupos sociais)

Agora, que vimos as principais diferenças entre ética e moral, torna-se necessário dife-
renciar ética de cidadania, que embora pareçam ter o mesmo significado, são assuntos
diferentes.
É inegável que ética e cidadania apresentam muitas questões em comum, assim podemos
utilizar como exemplo a busca pela justiça e a necessidade de agir de forma que beneficie o
coletivo. Contudo, devemos tomar cuidado para não confundi-las.
6 Ética 01

Conceito

Rodolfo Alves, define que a cidadania é o conjunto

de direitos e deveres exercidos por um indivíduo

que vive em sociedade, no que se refere ao seu

poder e grau de intervenção no usufruto de seus

espaços e na sua posição em poder nele intervir e

transformá-lo.

Vídeo

Para entender ainda mais o que é cidadania e as

diferenças durante toda a história, assista ao vídeo

abaixo: Pare agora e assista ao vídeo:


7 Ética 01

Historicamente, a origem do termo “cidadania” está ligado ao termo “política”. Na Grécia


Antiga, político era a pessoa responsável por cuidar e tomar as decisões em relação a polis
(cidade, região). Com a invasão da Grécia pelo Império Romano, ocorreu a redesignação
do termo polis para o termo civis proveniente do latino. Daí a Por isso, historicamente,
civilização remete ao termo política.
O que é um político para você? Certamente, sua resposta é que político refere-se ao
profissional da política. Equivocadamente, nos afastamos do que a história nos afirma:
todo cidadão é um ser político.

Para melhor compreensão do que é um cidadão, devemos saber o conceito de cidadão da


Antiga Grécia, onde o cidadão é aquele que cuida de seu ambiente, de sua cidade, ou seja,
ser político no sentido de adotar medidas que fazem bem para si e para o coletivo.

O eixo da cidadania, portanto, está na noção de cuidado com a coletividade. Podemos citar
como exemplos simples dessas ações:
• O respeito às leis;
• Não jogar lixo no chão;
• Economizar água;
• O respeito ao patrimônio público;
• Ajudar os mais necessitados, etc.
8 Ética 01

Você deve estar se perguntado: Ora, não era exatamente esse o conceito de Ética para
Aristóteles? E você está completamente certo. Para Aristóteles, o homem é por natureza
um animal político, e, portanto, deve agir da melhor forma possível, da forma mais justa,
mais próxima do bem e, antes de mais nada, do bem comum.

Contudo, o pensamento ético veio se desenvolvendo durante toda a história da humanida-


de. Na Idade Média, o foco passa a ser a ética de Deus. Na Idade Moderna, a ética está cen-
trada no homem. E em nossos dias, as questões éticas passam a ser os avanços científicos,
os tecnológicos e os da macropolítica. No entanto, considerando todo o conhecimento que
adquirimos até aqui, podemos afirmar que, embora tenhamos épocas diferentes, a ênfase
no bem comum e na justiça sempre foi o que marcou a trajetória da ética.

Podemos afirmar que, o princípio da ética reside na busca pela melhor ação a ser realizada e
que atenda ao interesse de um número maior de pessoas. Ou seja, o bem coletivo é o ponto
em comum entre a ética e a cidadania.

Como podemos observar, toda a questão da ética está relacionada ao bem e à justiça. No

entanto, tal tarefa mostra-se árdua quando consideramos que somos todos diferentes,

tornando-se difícil estabelecer normas que respeitem às diferenças e, ao mesmo tempo,

tornem o Estado bom e justo.

Agora, que conceituamos cidadania e recordamos os conceitos de moral e ética, vamos

entender melhor o que é cidadania e por que devemos ter atitudes cidadãs.
9 Ética 01

Tópico 02 - Liberdade/Responsabilidade -
Eu e o Outro
Já afirmamos que a cidadania é a adoção de medidas que preservam o meio em que
vivemos. Mas, por que deveríamos cuidar do meio em que vivemos? A resposta é sim-
ples e objetiva: devemos ter posturas cidadãs, pois, antes de tudo, a cidadania é um ato de
inteligência.

Devemos ter em mente que, somos completamente


dependentes do outro e esse outro não significa somente
nossa família, colegas de trabalho ou amigos, mas sim
o outro em um conceito amplo de todo o meio físico
em que vivemos. Você já parou para pensar quantas
pessoas estão envolvidas no seu dia para que tudo esteja
em ordem?

O cuidado com a coletividade é, antes de mais nada, o cuidado com

nós mesmos. O que nos leva a refletir que quanto melhor o meio em

que se vive, maior será a possibilidade de se viver bem.

Cabe aqui destacar, diante do exposto acima, que o entendimento de quem é você na
coletividade, perpassa pelo conceito de identidade, hoje em um contexto de consequências
humanas e sociais, resultantes de um processo globalizante. Todos estamos em movimento
e é necessário adaptar-se às situações emergentes dos diferentes contextos.
10 Ética 01

Vídeo

Podemos observar que, nossas decisões, por mais simples que sejam, estão

baseadas em condutas éticas e valores morais, tanto quando falamos das ações

conscientes quanto das inconscientes. E, aqui, é importante recordar que a ética

estuda, analisa, investiga e explica a moral. Pare agora, assista ao vídeo e faça a

sua reflexão:

Em nossas vidas, estamos sempre rodeados de problemas morais práticos como podemos
observar no vídeo. Apesar de existirem normas morais e jurídicas, muitas vezes ficamos
na dúvida sobre como agir. Isso ocorre em virtude de ainda não existirem normas, não a
conhecermos ou não sabermos interpretá-las.

Você se recorda dos versos de Vinícius de Moraes: “é impossível ser feliz sozinho”? Ou seja:
o bem é comum, somente em sociedade podemos encontrar a felicidade. Portanto, o nosso
projeto pessoal deve estar inserido em um projeto coletivo que seja capaz de conduzir toda
a realização do que a própria felicidade é: humana.

É importante trazer as reflexões de Kant quanto à consciência humana e à nossa capaci-


dade de termos ética nas relações pessoais e com o mundo. COMPARATO (2006, p. 463)
esclarece:
“(...) só o ser humano é dotado de liberdade, e, por conseguinte, de responsabilidade; isto é, só
ele é capaz de escolher conscientemente as finalidades de suas ações, finalidades que podem
revelar boas ou más para si e para outrem, devendo, portanto, o agente responder perante os
demais pelas consequências de seus atos. Em outras palavras, só o homem, como Aristóteles
já havia assinalado, é, pela sua própria essência, um ser ético, que tem consciência do bem e
do mal, capaz das maiores crueldades e vilanias, assim como gestos mais heroicos e sublimes.”
11 Ética 01

Como afirmado por Aristóteles, o homem é um ser ético por natureza, no entanto, às
vezes, somos tomados por egoísmos, mas devemos ter a consciência de que estamos
diretamente ligados ao meio em que vivemos.
Portanto, quando adotamos condutas éticas que beneficiam a sociedade como um todo,
estamos na realidade nos ajudando. Quando pensamos que somos seres isolados, temos a
falsa ideia de que nada poderá nos atingir.

Reflexão

Para que fique mais claro o pensamento errôneo de que somos seres iso-

lados e para que possamos fortalecer as ideias estudadas de cidadania,

vamos imaginar uma pessoa no ponto mais alto de um navio. Embora,

boa parte do navio já tenha afundado, ela tem a ilusão de que o buraco

no casco do navio não irá colocá-la sob o mesmo risco que aqueles que

se encontram nos pontos mais baixos.

Ser cidadão é perceber que vivemos numa


sociedade e esta, quanto mais feliz, saudável,
conectada, harmônica, equilibrada e justa mais
retornam estes sentimentos na nossa vida, e na
vida de cada indivíduo.
12 Ética 01

Tópico 03 - Público/Privado – O Papel do


Estado

É comum fazermos distinção entre ética pública e privada. Mas, seria ética pública aquela
que trabalha para o bem comum, representada pelas instituições públicas? E ética privada,
aquela marcada pelas empresas, pelos interesses individuais e a ganância do ser humano?

Além desses questionamentos, surgem outros, tais como: A separação entre o público e
o privado são tão claras? Como o poder do Estado pode interferir em sua vida privada?
Existem pontos em comum? Como a ética poderá auxiliar na resolução do conflito entre
público e privado dentro de um sistema democrático? Como representar o interesse de
diversos grupos da sociedade?

Antes de adentrarmos na realidade que nos cerca, é necessário entender um pouco melhor
como essa separação ocorreu durante o desenvolvimento da civilização.
13 Ética 01

Vídeo

Como observamos, durante toda a elaboração histórica das ideias modernas

sobre ética, houve um tema recorrente: a necessidade humana da vida em

sociedade, bem como a busca pelo bem e pela justiça. A separação entre o

público e o privado esteve presente durante todo esse percurso.

Pare agora, assista ao vídeo e reflita:

Inicialmente, vamos ver as ligações entre ética e política para os filósofos gregos Platão e
Aristóteles. Ambos mantêm uma visão semelhante sobre a ligação e a determinação entre
essas duas atividades, embora existam pontos controversos no que tange à tentativa de
criar uma organização política ideal.
Como observamos no vídeo, os dois autores dominaram o debate político ao longo de
toda a Idade Média, tornando-se referência para os filósofos do cristianismo, como Santo
Agostinho, evidentemente influenciado pela oposição platônica entre o mundo das apa-
rências e o mundo das essências, e São Tomás de Aquino, que redireciona e redescobre o
pensamento político aristotélico.

O Renascimento apresenta um marco decisivo para esse debate por


meio da contribuição de Maquiavel, o qual buscou incessantemente
diferenciar a ética política e pública da ética privada e religiosa.
14 Ética 01

Desenvolvendo ainda mais, Thomas Hobbes utiliza-se dos argumentos de Maquiavel,


direcionando para o seu contrato social, baseado na autoridade máxima do poder, subor-
dinado à uma ética própria da política. Rousseau e Karl Marx voltam à discussão com o
argumento de que a ética política deve ser pautada para a transformação da sociedade.
Max Weber, por sua vez, seguindo a linha de Maquiavel, reafirma a existência de uma ética
política própria, que contraria a ética privada e religiosa.
Assim, podemos separar os pensadores em dois grandes grupos:
• O primeiro, é aquele dos que priorizam o futuro e a transformação social através
da política - filósofos gregos, o iluminista francês Rousseau e Marx.
• O segundo grupo é o dos que se concentram na dimensão política do presente e
na verdade efetiva das coisas - Maquiavel, Hobbes e Max Weber.

Agora que entendemos que como a ética pública e a ética privada se desenvolveram ao
longo da história, precisamos entender o conceito.
Como vimos, a ideia de separação da ética privada e pública foi difundida por Maquiavel,
que apontou a necessidade do governante de abrir mão dos ideais pessoais e até mesmo de
ideais políticos como uma forma correta de agir, para que, assim, o governante pudesse ter
a capacidade de controlar seu povo e administrar o estado. E aí, surge uma grande questão.

Reflexão

“Os fins justificam os meios.”

Nicolau Maquiavel

Para você “os fins justificam os meios”?

A resposta para esta questão depende de quais são os seus fins ou metas

e os meios que estão sendo utilizados para atingi-los. Se os objetivos são

bons e nobres e os meios que utilizamos para atingi-los também os são, isso

significa que os fins justificam os meios.


15 Ética 01

Entretanto, não é isso que a maioria das pessoas tem em mente. A grande maioria das
pessoas utiliza essa expressão como uma desculpa para alcançar interesses pessoais através
de qualquer meio, não se importando se eles são bons ou ruins, se prejudicaram pessoas ou
não, desde que o objetivo seja alcançado.
Portanto, trazendo o pensamento de Maquiavel para nossa realidade, será que poderíamos
alterar a frase para “não importa como você alcance o que quer, contanto que você
alcance”?

Se você estivesse diante do seguinte dilema: para salvar o mundo é necessário que você
mate uma pessoa, você faria isso?
( ) SIM ( ) NÃO

Se respondeu sim:
Estamos diante de um resultado moralmente certo justificando o uso de meios imorais
para que o bem seja alcançado. No entanto, devemos refletir alguns pontos: a moralidade
da ação, a moralidade do resultado e a moralidade da pessoa que executa a ação.
Nesta situação, a ação matar alguém é claramente imoral, mas salvar o mundo é um resul-
tado bom e moral. Será? Qual o tipo de mundo está sendo salvo se os assassinos são autori-
zados a decidir quando e se o assassinato é justificado e ainda permanecem livres? Ou será
que o assassino terá que encarar punição pelo seu crime no mundo que salvou? O mundo
que foi salvo será justificado em tirar a vida de alguém que tinha acabado de salvá-lo?

Se respondeu não:
Estamos diante de um resultado moralmente errado visto que o uso de meios morais impe-
de que o bem seja alcançado. No entanto, devemos refletir alguns pontos: a moralidade da
ação, a moralidade do resultado e a moralidade da pessoa que executa a ação.
Nesta situação, a ação matar alguém é claramente imoral, mas salvar o mundo é um resul-
tado bom e moral. Será? Qual o tipo de mundo está sendo salvo se os assassinos são autori-
zados a decidir quando e se o assassinato é justificado e ainda permanecem livres? Ou será
que o assassino terá que encarar punição pelo seu crime no mundo que salvou? O mundo
que foi salvo será justificado em tirar a vida de alguém que tinha acabado de salvá-lo?
16 Ética 01

No reino dos fins, tudo tem ou um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem preço, pode ser subs-
tituída por algo equivalente; por outro lado, a coisa que se acha acima de todo preço, e por isso não admite
qualquer equivalência, compreende uma dignidade.

Immannuel Kant

Tomando por base a frase de Kant, podemos afirmar que a dignidade está acima de
qualquer preço e não pode ser comprada ou trocada por coisa parecida, porque não tem o
mesmo valor.

Embora, inconscientemente, quando qualificamos de “pública” a ética,

inevitavelmente subentende-se a existência de uma ética “privada”.

E, por consequência, surge o questionamento: a ética, como estudo

fundamentado dos valores morais que orientam o comportamento

humano em sociedade, não é algo que deve ser seguido independente

da investidura em algum cargo público?

Estudo
Complementar
Admitindo-se que existam duas éticas, cada uma portadora de auto-

nomia relativa, quer isso dizer que os indivíduos devem se comportar

de diferentes maneiras quer se encontrem aquém ou além do marco

divisório das duas esferas?

Para ajudar a responder essas questões, leia o texto de Alberto Oliva e

Mario Guerreiro, “Ética Pública e estado de Direito”.


17 Ética 01

Encerramento
Caro cursista, com base em tudo o que estudamos aqui, é possível concluir que existe uma
ética pública e uma ética privada? Os fins justificam os meios? Alguém investido em um
cargo público deve seguir uma ética diferente da ética que devemos seguir em nosso dia a
dia?
Como observamos nessa aula, além dos conceitos de ética e moral, há também a cidadania:
onde o homem, como ser social que é e pensando no seu ‘eu” e no “outro”, executa sua
moral com objetivo de alcançar o bem social. Podemos refletir sobre o quanto pequenas
ações podem influenciar no nosso meio e, por fim, refletimos sobre a existência de uma
ética “pública” e uma ética “privada”.

Agora que finalizamos, você está apto a realizar os exercícios desta aula.
Fique atento a sua performance e frequência nas atividades!
Ética, Cidadania e Realidade
Brasileira 01
Aula 05 - A Ética das Virtudes
Ética, Cidadania e Realidade
Brasileira 01

Aula 05 - A Ética das Virtudes


4 Ética 01

Introdução da
Aula
Na aula “A Ética das Virtudes” você estudará sobre a honestidade, a justiça, o amor, a
liberdade, a igualdade, a solidariedade, a democracia e as instituições. Ao final da aula você
deverá serr capaz de:
• Analisar conceitos de virtudes como honestidade, justiça e amor que podem ser
traduzidos em liberdade, igualdade e solidariedade, bases de todas as democracias.

Reflexão

Quais são as virtudes que norteiam atitudes éticas? Que prin-

cípios devem ser utilizados para que seja possível atingir um

comportamento ético?
5 Ética 01

Tópico 01 - A honestidade, a justiça e o


Amor
Atualmente, temos observado tempos de incertezas, de escândalos de corrupção nos mais
diversos níveis de nossa sociedade, de atitudes de intolerância e de preconceitos. Portanto,
torna-se necessário conhecer os princípios basilares do comportamento ético.

Mas, o que são princípios éticos? Quais são os valores, as virtu-

des que conduzem a atitudes éticas?

Segundo COMPARATO (2006, p. 520), tratam-se de normas que apontam para um


objetivo final do comportamento humano, valores que devem prevalecer em uma
sociedade. Por isso, devem se adequar ao meio, à realidade, tornando-se princípios
ilimitados, posto que devem alcançar na história uma vigência universal.
COMPARATO (2006, p. 520), afirma que:

“as qualidades próprias dos princípios éticos nada mais são, na verdade, do que uma decorrência lógica
do fato de se fundarem, em última análise, na dignidade da pessoa humana, reconhecida como paradigma
supremo de toda a vida social.”
6 Ética 01

Desse modo, os princípios baseiam-se na digni-


dade humana, devendo abarcar cada indivíduo
independente de sua raça, credo ou orientação
sexual, além dos povos politicamente organizados
e de todas as nações independentes das relações
internacionais.

Tais virtudes ou princípios são adquiridas por meio da repetição. Ou seja, são construí-
dos através de atos sucessivos que compreendem todas as dimensões da pessoa humana,
sendo eles: honestidade, justiça e amor. Estes, por sua vez, desdobram-se nos princípios da
liberdade, igualdade e solidariedade, os quais passaremos a conhecer. Importante destacar
que, mesmo alguns tendo o significado plenamente conhecido, aqui definimos cada um
como forma de apresentar o referencial completo, além da possibilidade de você refletir
sobre cada um, a saber:

Honestidade

Conceito

Segundo o dicionário Houaiss (p. 1033), honestidade “é a qualidade

ou caráter de honesto, atributo do que apresenta probidade, honra-

dez, segundo certos preceitos morais socialmente válidos. ”


7 Ética 01

Ao se discutir o princípio ético da honestidade, devemos dar ênfase ao fato de que este é o
princípio que conecta o homem à realidade.

A questão que surge é: somos honestos com nós mesmos e em nossas atitudes?

A aplicação desse princípio orienta o homem racional na vida em sociedade, guiando suas
atitudes para uma vida pautada em atitudes éticas.

Sentimentos, desejos, paixões não podem guiar decisões, pois não são parâmetros eficazes
da realidade - decisões contundentes são tomadas baseando-se em fatos. E esse mesmo
princípio deve ser adotado nas relações sociais.

Partindo desse princípio, a vida em sociedade apresenta duas consequências principais:

• A primeira, diz respeito à honestidade entre as atitudes do próprio indivíduo para


com os outros;

• A segunda, deve guiar a reação do indivíduo frente à ação dos demais membros
da sociedade.

Atenção

Portanto, a honestidade é o ato de ser verdadeiro. Trata-se de uma

virtude que exige coerência entre a sinceridade no agir, falar e sentir

e está implícita tanto na relação do sujeito com o mundo, como na

relação deste com a sociedade. O agir honestamente nos remete auto-

maticamente a outro princípio, o da justiça.


8 Ética 01

Justiça

Platão inicia o diálogo buscando a ideia de justiça. Para ele, a definição clássica de justiça
consiste em dar a cada um o que lhe é devido. Ainda dentro do raciocínio dele, a essência
da justiça está em não fazermos aos outros aquilo que não queremos que nos façam.

Inicialmente, é necessário compreender que a justiça não se refere apenas ao cumprimento


da lei, mas a uma concepção social.

Reflexão

Será que é justo desperdiçar alimento enquanto tantos ainda passam

fome? É justo gastar com festas e roupas caras enquanto muitos não

têm o mínimo necessário para uma vida digna? É justo o desperdício de

água? É justa a desigualdade social? É justo julgar o outro pela aparên-

cia? Será que é fácil ser justo?

Conceito

Segundo o dicionário Houaiss (p. 1.141): “Justiça é o caráter, qualidade

do que está em conformidade com o que é direito, com o que é justo;

maneira pessoal de perceber, avaliar aquilo que é direito, que é justo. ”


9 Ética 01

A justiça, como princípio ético, deve procurar dar a cada indivíduo o que é seu por direito,
ou aquilo que merece. Atua como um valor humano que se revela na vida social e deve
contribuir para a evolução da vida em sociedade. Trata-se de um princípio mutável que
deve se adequar à realidade e aos costumes da sociedade.

Concluímos, portanto, que a virtude da justiça tende sempre a alcançar um


estado de equilíbrio, longe de todo excesso.

Amor
Amor pode ser compreendido como afeição, compaixão, misericórdia, paixão, querer bem,
satisfação, desejo entre outras. A mais popular, no entanto, refere-se à maneira como uma
pessoa pode se relacionar com outra.

Conceito

Houaiss (p. 119) define Amor como a “forma de interação psicológica

ou psicobiológica entre pessoas, seja por afinidade imanente, seja por

formalidade social”.

O amor, apesar de sua subjetividade, de suas infinitas dimensões e da nossa tendência em


relacionar essa virtude basicamente ao amor entre casais, devemos ter em mente que se
trata de algo que é muito mais abrangente, pois encontra-se envolvido com os familiares,
os amigos, o trabalho, a arte, os objetos, o próximo, os animais, a natureza, etc.

Assim, como as demais virtudes, o amor vem sofrendo alterações ao longo do tempo, e,
para compreender melhor essas mudanças, devemos também entender os interesses que
permeiam os relacionamentos.
10 Ética 01

As relações apresentam-se inseridas em um ambiente


de instabilidade, volatilidade e fragilidade, que decorre
principalmente do avanço tecnológico e da expansão do
capitalismo.

Reflexão

Agora, que observamos que o amor também é uma virtude que se ade-

qua à realidade, questiona-se: Como o amor está presente nas socieda-

des?

E a resposta para o questionamento acima é simples, o amor possui a energia capaz de


despertar o que pode existir de melhor dentro de cada um, sendo fonte de transformação.
11 Ética 01

Tópico 02 - A Liberdade, a Igualdade e a


Solidariedade

Liberdade, igualdade e solidariedade, tratam-se de especificações decorrentes da honesti-


dade, justiça e amor. Por isso, devem ser interpretadas e aplicadas à luz dos valores cardeais.

Para COMPARATO (2006, p. 536,537), tais valores são tão vitais e mutáveis que “nunca se
poderá dizer que uma humanidade conseguirá alcançar a perfeição em matéria de liberda-
de, igualdade, segurança e solidariedade. ”

A liberdade, igualdade e a solidariedade encontram-se pela sua própria essência, numa


implicação recíproca de dependência, ou seja, de complementaridade.

Vamos entender melhor.

A verdadeira liberdade não é uma situação de isolamento, todavia, é no relacionamento


das pessoas ou povos, que os indivíduos se reconhecem reciprocamente dependentes, em
situação de igualdade de direitos e deveres. Ou seja, que se reconhecem pertencentes à raça
humana.

Reflexão

A escravidão coloca quem detêm o poder em uma posição de privilégio

em relação aos escravos? Seria então possível garantir a liberdade se

não temos igualdade?

Por fim, é impossível separar a liberdade e igualdade se não houver altruísmo solidário,
por força do qual todos se respeitam e se ajudam, como partes integrantes de uma mesma
raça humana, pautados sempre nos princípios da verdade, da justiça e do amor.
12 Ética 01

Estudo
Complementar

Como sugestão, assista ao filme - Laranja Mecânica – Como

pensar uma sociedade sem que todos os homens sejam

dotados de liberdade e respondam por seus atos? Uma das

obras-primas de Stanley Kubrick que se sustenta em questões

como esta.

Igualdade

Reflexão

Provavelmente, você já discutiu ou estudou a questão de cotas,

bolsas e demais medidas sociais que têm como objetivo reco-

locar determinado grupo subjugado em uma situação em que

se possa ter de fato as mesmas oportunidades. Tais medidas

estariam aproximando-nos da igualdade ou nos afastando?

A igualdade é um valor que só pode ser estabelecido mediante a comparação entre duas
ou mais ordens de grandeza e, assim, sempre estará vinculada a uma comparação entre
situações ou pessoas. Sempre surgirão questões como: igualdade entre o quê ou quem?

BOBBIO (2000. p. 298-299) afirma que, ao falarmos de igualdade, temos que responder a
duas perguntas:

a) igualdade entre quem?


13 Ética 01

b) igualdade com relação a que coisas?

No exemplo que utilizamos quanto a cotas e bolsas, podemos refletir se devemos ter
tratamento igualitário, o porquê de uma política de cotas ou de bolsas. Por outro lado,
devemos pensar também: será que as pessoas que utilizarão as cotas ou as bolsas tiveram
as mesmas oportunidades de acesso à educação?

Reflita sobre a frase de Aristóteles: “Devemos tratar igualmente os iguais e desigualmente


os desiguais, na medida de sua desigualdade. ”

Eric Maia Barros, em complemento ao pensamento de Aristóteles, conclui que,


“o ato de tratar os iguais de forma igual e os desiguais de forma desigual é um caminho para equilibrar o
desequilíbrio até que os instrumentos de maior igualdade sejam alcançados. A partir daí a ideia do mérito
pode prevalecer, pois, antes disso, não há mérito entre 8 e 80. ”

Agora, que entendemos o caráter social da igualdade, vamos entender como a igualdade
se desenvolve na individualidade de cada ser humano.

A igualdade, no campo do reconhecimento da individualidade, está relacionada à não-dis-


criminação, ou seja, a lei reconhece que todos são iguais perante a lei e, portanto, não
se admite discriminações que excluam pessoas ou grupos baseados em suas escolhas ou
modo de vida. Isso equivale a dizer que não se pode discriminar, pela religião, raça, costu-
mes, gêneros, sexualidade.

Novamente, estamos diante das duas perguntas: a) igualdade entre quem? e b) igualdade
com relação a que coisas?

FRISCHEISEN afirma que, “as respostas parecem depender dos pactos


sociais que são realizados em determinada sociedade e ainda da resposta
a uma outra pergunta: quanto de desigualdade uma sociedade pode
suportar ou aceitar? ”
14 Ética 01

Conceito

Segundo o dicionário Houaiss (p. 1.045) Igualdade “fato de não se

apresentar diferença de qualidade ou valor, ou de, numa comparação,

mostrarem-se as mesmas proporções, dimensões, naturezas, aparências,

intensidades; uniformidade; paridade; estabilidade. ”

Como podemos observar, a igualdade pode ser definida em múltiplos sentidos, no entan-
to, vamos nos restringir apenas a dois:

• Igualdade formal - a que considera a igualdade de todos ser igual perante a lei.
• Igualdade material - o direito de todos terem acesso à direitos básicos, tais como
educação, saúde, lazer, trabalho.

Como os demais princípios, devemos ter em mente que a igualdade é um conceito


sempre em construção, pois sempre poderemos incluir na titularidade de um direito, tais
como, casamento entre pessoas do mesmo sexo (igualdade formal) ou educação inclusiva
que garante o direito de inclusão de crianças e adolescentes com deficiências em salas dos
cursos regulares de ensino (igualdade material).
15 Ética 01

Liberdade

Para você, o que é ser livre? De acordo com o dicionário Houaiss, liberdade é o direito de
expressar qualquer opinião, agir como quiser; independência. Ter licença ou permissão. É
também a condição de não ser prisioneiro ou escravo.

Conceito

O dicionário Houaiss (p. 1.175) conceitua Liberdade “conjunto de direitos

reconhecidos ao indivíduo, considerado isoladamente ou em grupo, em

face da autoridade política e perante o Estado; poder que tem o cida-

dão de exercer a sua vontade dentro dos limites que lhe faculta a lei” ou

ainda, liberdade é o direito de expressar qualquer opinião, agir como

quiser; independência. Ter licença ou permissão. É também a condição

de não ser prisioneiro ou escravo.

A liberdade se desdobra em diversos tipos: podemos ser livres no pensamento, na opinião,


na religião, na orientação sexual, na visão política, dentre tantas outras variações que nossas
experiências possam nos proporcionar.

Assim, de acordo com a ética, a liberdade está relacionada à responsabilidade, uma vez que
um indivíduo tem todo o direito de ter liberdade, desde que essa atitude não interfira na
liberdade do outro.
16 Ética 01

Solidariedade

Conceito

Vejamos o conceito de Solidariedade no dicionário Houaiss (p. 1.766):

“princípio segundo o qual todos os homens são submetidos à lei e

gozam dos mesmos direitos e obrigações ” ou “sentimento de simpa-

tia, ternura ou piedade pelos pobres, pelos desprotegidos, pelos que

sofrem, pelos injustiçados etc.”

Vídeo

Portanto, podemos afirmar que a solidariedade é o valor que nos

conduz a partilhar momentos bons ou ruins, ajudar ao próximo ou

aos menos privilegiados, por isso é um valor que exige um contexto

social, tornando as relações mais humanas.

De acordo com COMPARATO (2006, p. 581), para construção de uma sociedade justa,
é imprescindível que haja solidariedade e que todos sejam considerados seres comuns da
raça humana, com direitos que são considerados “patrimônio da humanidade”, tal como
uma vida digna.
17 Ética 01

Tópico 03 - A Democracia e as Instituições


Em tempo de incertezas como o que estamos vivendo, nunca é demais recordar o que é
democracia e quais os conceitos fundamentais que regem nosso país.

Saiba mais

Você conhece a constituição brasileira? Sabe quais são seus direi-

tos e deveres como cidadão?

Pare agora e responda a esse questionário: Você conhece as Leis

básicas da constituição brasileira?

Como podemos observar através da atividade proposta, é necessário estudar e compre-


ender nossos direitos e deveres, bem como em que fundamentos estão pautadas nossas
leis. Somente assim, seremos capazes de refletir sobre os erros e evoluir em termos de
sociedade.

Para consolidação da Democracia podemos elencar alguns elementos importantes para que
se concretize: estabilidade institucional, distribuição de riqueza, justiça social e participa-
ção popular nas decisões governamentais, além do atendimento das capacidades pautadas
pela dignidade.

Os princípios fundamentais dizem respeito à organização institucional, ou seja, a união


indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constituindo-se em Estado
Democrático de Direito.

Os princípios devem observar os fundamentos basilares:

• A soberania
• A cidadania
• A dignidade da pessoa humana
18 Ética 01

• Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa


• Pluralismo político.
Os valores e princípios que estudamos nesta aula também se encontram expressos na
Constituição Federal, como objetivos fundamentais: a construção de uma sociedade livre,
justa e solidária, trabalhará para:

• Garantir o desenvolvimento nacional


• Erradicar a pobreza e a marginalização
• Reduzir as desigualdades sociais e regionais
• Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação.

A título de conhecimento, vamos ver as principais disposições sobre a igualdade, liberdade


e solidariedade.
“Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança

e à propriedade, [...].”

Como podemos observar, os valores que estudamos até aqui fundamentam as leis de nosso
país e podemos usar como exemplos claros a liberdade de imprensa, a liberdade religiosa;
quanto à igualdade podemos ressaltar as cotas raciais e a união homoafetiva; e a solidarie-
dade que se manifesta na contribuição previdenciária, na garantia de acesso a medicamen-
tos e a tratamentos.
19 Ética 01

Encerramento
Nesta aula, vimos que a honestidade, a justiça e o amor estão diretamente ligados à liber-
dade, igualdade e solidariedade. Embora não seja tão simples identificar tais valores nas
atitudes cotidianas, vimos que referidos fundamentos são bases da nossa sociedade.

Agora que finalizamos, você está apto a realizar os exercícios desta aula.
Fique atento a sua performance e frequência nas atividades!
Ética, Cidadania e Realidade
Brasileira 01
Aula 06 - A Ética e a Cidadania numa
Sociedade Repleta de Contradições
Ética, Cidadania e Realidade
Brasileira 01

Aula 06 - A Ética e a Cidadania numa


Sociedade Repleta de Contradições
4 Ética 01

Introdução da
Aula

Na aula “A Ética e a Cidadania numa Sociedade Repleta de Contradições” você estudará


sobre diferenças humanas, desigualdades sociais, preservação da dignidade humana, do
caráter comunitário dos bens e dos serviços públicos.

Nesta aula, você deverá:

• Analisar o futuro da ética na atualidade, questões de desigualdades sociais e pre-


conceitos.

• Reconhecer fatores que nos afastam da dignidade humana.

Reflexão

Você considera justo que pessoas ocupando o mesmo cargo re-

cebam remunerações diferentes? Para você, homens receberem

remuneração superior ao que é pago às mulheres seria uma

forma de desigualdade social?


5 Ética 01

Tópico 01 - Diferenças Humanas e


Desigualdades Sociais

Somos iguais em direitos e deveres, mesmo vivendo em um país de grande extensão terri-
torial e com influências culturais variadas e ricas. Embora existam preceitos fundamentais
que devem guiar a sociedade, eles nem sempre são observados, acabando por ferir direitos
básicos dos cidadãos.

Todas as sociedades foram marcadas por mudanças muitas vezes motivadas por preconcei-
tos sociais, raciais, religiosos e políticos, dificultando o respeito às diferenças e à integração
necessária ao desenvolvimento do ser humano.

Em recente pesquisa realizada pela Catho, foi analisada a diferença salarial entre homens e
mulheres que ocupam os mesmos cargos. Vejamos os resultados:
6 Ética 01

Como podemos observar, as mulheres ganham menos do que os homens em todos os


cargos analisados. Essa disparidade entre os gêneros também pode ser observada na análise
de renda realizada pelo IBGE. Essa análise mostra que a média salarial entre os homens é
de R$ 2.251, e a das mulheres é de R$ 1.762, o que representa uma diferença de aproxima-
damente 25%, baseada exclusivamente no gênero.
7 Ética 01

Tópico 02 – Diferença não Corresponde a


Desigualdade
Partindo do exemplo prático, temos a necessidade esclarecer que, diferença não correspon-
de a desigualdade. Assim, precisamos estabelecer uma definição clara que possa nos ajudar
a entender melhor os processos sociais e históricos e as complicações geradas em forma de
desigualdades sociais.

Em matéria de diferenças humanas e desigualdade social, podemos

afirmar que, embora tenhamos clara a ideia de que todos os seres

humanos são essencialmente iguais apesar das diferenças biológi-

cas - homem, mulher, gordo, magro, alto, no entanto, sempre houve

desigualdades em relação às posições sociais, seja com base em um

sistema de privilégios, seja com fundamento na riqueza patrimonial.

Aqui, podemos usar um ditado que, provavelmente, você já ouviu: “manda quem pode,
obedece quem tem juízo”.

Atenção

As diferenças decorrem exclusivamente da natureza humana, no

entanto, as desigualdades sociais sempre são frutos da ação

humana.
8 Ética 01

Você já pensou no motivo para as pessoas nascerem e viverem na pobreza? Tal fenô-
meno decorre, exclusivamente, por conta da estrutura imposta pela sociedade. O grande
equívoco está em sempre invocar as diferenças como forma de justificar as desigualdades
socioeconômicas.

Portanto, uma desigualdade é uma diferença que se traduz como uma vantagem ou
desvantagem. Existem diferenças de sexo, de idade etc., mas somente pode-se afirmar que
há desigualdade se essas diferenças provocarem uma vantagem ou desvantagem. Podemos
utilizar como exemplo a diferença salarial entre homens e mulheres, conforme demons-
trou a pesquisa que analisamos acima.

Quando tratamos de desigualdades, devemos ter em mente que elas são múltiplas, podendo
ser divididas em desigualdades de direito e de fato. Passemos a analisar as diferenças.
01. As desigualdades de direito embora não estejam mais presentes em nosso país,
ainda se manifestam em alguns lugares do mundo. Para a Justiça do Irã, o testemun-
ho de uma mulher vale metade do que o do homem. Ou seja, duas mulheres precisam
testemunhar para que suas palavras tenham o mesmo peso do que as de um único
homem. Além disso, o Estado iraniano define que a indenização a ser paga por matar
ou machucar uma mulher é a metade do que deve ser pago caso esses danos sejam-
causados a um homem.
02. Desigualdades de fato são aquelas referentes às desigualdades sociais e econômicas.
Por exemplo, existem desigualdades sociais, que são a pobreza, a fome, o acesso à saú
de, e as desigualdades econômicas. Podemos utilizar a diferença de remuneração entre
homens e mulheres.
9 Ética 01

Tópico 03 – A Estrutura que causa as


Desigualdades.
Diante do que até aqui foi lido, estudado e discutido, é necessário repensar a estrutura que
causa desigualdades. Assim, surgem as seguintes perguntas:

-Que tipo de economia produz essas desigualdades?

-Que consequências a concentração de riqueza produz?

Vamos refletir então? E quais as consequências que a desigualdade social causa?

• Crescimento desordenado das favelas nas grandes cidades;


• Crescimento da fome e da miséria;
• Aumento da mortalidade infantil, do desemprego e da criminalidade;
• Atraso no desenvolvimento econômico da nação;
• Dificuldade de acesso a serviços básicos de saúde, transporte público, saneamento
básico e educação.

Além das desigualdades apresentarem um caráter reprodutivo, elas também são mutáveis.

As desigualdades evoluem, ou seja, novas desigualdades sempre irão aparecer. Isso se


manifesta de acordo com o tempo, as crenças e os costumes da sociedade.

Por exemplo, em um passado recente, o racismo não era considerado crime, portanto,
desigualdades entre negros e brancos eram plenamente aceitas. Hoje, no entanto, exis-
te legislação específica contra o preconceito racial. Podemos concluir que, com o tempo,
algumas desigualdades são afastadas e novas desigualdades são construídas.

Reflexão

Na sua opinião, quais serão as desigualdades sociais do amanhã? Quais as

saídas para redução das desigualdades sociais?


10 Ética 01

Para COMPARATO (2006, p. 573),


[...] é preciso entender que as diferenças de gênero ou de etnia, ou as particularidades culturais dos diferen-
tes povos, são valores humanos da maior importância, e que devem, por conseguinte, ser universalmente
respeitados.

Como já observamos até aqui, as diferenças não podem ser utilizadas como justificativa
para a desigualdade social. Somente através da ética e de seus princípios, é possível esta-
belecer políticas sociais que diminuam as desigualdades não apenas no Brasil, como no
mundo.

Com vistas à diminuição das desigualdades sociais, foi desenvolvido o princípio da digni-
dade da pessoa humana, que será estudado no próximo tópico.

OBSERVAÇÃO!

Antes de finalizar esta aula, destacamos aqui outro tema muito discutido e sobre o qual
todos devem refletir, que está relacionado à Ética , à Cidadania e aos Direitos, mas que é
muito bem abordado na disciplina virtual Sociologia: a questão étnico-racial.

As desigualdades sociais e as violências decorrentes de concepções racistas não se dissol-


vem completamente por decretos nem por atos de violência, mas as resistências e a cons-
tante luta pela igualdade de direitos impedem que elas se perpetuem. As ideias de raça e
etnicidade, que frequentemente resultam em divisões sociais, são uma constante na his-
tória, mas a luta contra as desigualdades e a promoção do bem comum não sucumbe aos
autoritarismos. É preciso refletir sobre como as sociedades compreendem e usam esses
conceitos, por que eles persistem, e quais são as formas que eles assumem nas sociedades.
11 Ética 01

Estudo
Complementar

Assista ao filme - Crash, no Limite – ele aborda questões éticas ligadas

ao preconceito racial e étnico, adequação a uma sociedade e estereo-

tipacão. A história é rica em mostrar manifestações de falta de moral/

ética, ou ao menos de uma chamada ética da conveniência. Ou seja, se

esta ação vai me fazer bem, então ela talvez não seja tão ruim assim.

Encerramento

Vimos nesta aula o que são diferenças humanas e desigualdade social. Também, abor-
damos a necessidade de preservação da dignidade humana, com a utilização de políticas
públicas que diminuam a desigualdade social.

Fique atento a sua performance e frequência nas atividades!


Ética, Cidadania e Realidade
Brasileira 01
Aula 07 - A Relação entre o Poder e os
Direitos
Ética, Cidadania e Realidade
Brasileira 01

Aula 07 - A Relação entre o Poder e os Direitos


4 Ética 01

Introdução da
Aula
Na aula “A Relação entre o Poder e os Direitos “ você estudará sobre a promoção da igual-
dade social, sob a perspectiva do poder e a ameaça aos direitos, bem como sobre a ética e a
sua contribuição no que se refere à igualdade social.

Nesta aula, você deverá:

• Identificar como a ética pode contribuir para a preservação e a promoção da


igualdade social.

Reflexão

Inicialmente, pare e pense: de que forma as políticas

públicas, como programas habitacionais para popu-

lação de baixa renda, contribuem para a diminuição

da desigualdade social?

Bom, sabemos que existe uma diversidade social infinita que é formada pelo conjunto
de diferenças e valores compartilhados pelos seres humanos na vida em sociedade. São
expressões culturais, diferenças físicas, étnicas, crenças, modos de vida, classes sociais etc.
Como também já vimos, existem diferenças próprias de cada ser humano, o que torna cada
indivíduo único.

Contudo, em muitas oportunidades, as diferenças são utilizadas como forma de justifi-


car as desigualdades sociais. Não é raro nos depararmos com situações de preconceito,
discriminação e intolerância, o que comprova uma violência e exclusão social de pessoas
ou grupos sociais.
5 Ética 01

A dignidade da pessoa humana apresenta-se como conceito fundamental para alcançar


direitos humanos, direitos esses que nascem com as pessoas, no entanto, é tarefa árdua de
conceituá-la.

Vídeo

Como já estudamos, existem direitos que são inerentes aos seres hu-

manos, devendo o Estado garanti-los. E é nesse campo de garantia

dos direitos intrínsecos a cada ser humano que surge a dignidade

da pessoa humana. Mas, como conceituar o que é a Dignidade da

Pessoa Humana?

Todos temos dificuldades para compreender o que é a dignidade da

pessoa humana. Assista ao vídeo abaixo e compreenda o conceito

um pouco mais.
6 Ética 01

Tópico 2 – A Dignidade Humana e os


Direitos Humanos
Diversos doutrinadores criam conceitos que nem sempre concordam entre si. Um dos
principais nomes da doutrina brasileira em relação aos direitos humanos é Ingo Sarlet, que
define que a dignidade da pessoa humana é algo intrínseco a cada ser humano, que – por
sua condição de humanidade – se torna merecedor do respeito e consideração do Estado e
dos outros seres humanos.

Kant, quando traz o conceito de dignidade humana destaca o valor supremo que cada
indivíduo possui, ou deve possuir, indistintamente.

Esta perspectiva de Kant representou um novo conceito de

dignidade e respeito humano com a qual não mais caberia ex-

ceções ou distinções. Como ser livre e consciente, o ser humano

existe de forma absoluta. Nesta perspectiva, é inaceitável qual-

quer tipo de humilhação e desvalorização do outro.

Com base nesse entendimento, tem-se por dignidade da pessoa humana a qualidade
intrínseca e distintiva reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor do mesmo
respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade.

Nesse sentido, implica-se um complexo de direitos e deveres fundamentais que asseguram


a pessoa contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, e lhe garantem as
condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover
sua participação ativa e corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em
comunhão com os demais seres humanos.
7 Ética 01

A dignidade da pessoa humana é um direito consagrado pela Declaração Universal dos


Direitos Humanos, e reconhecido pela comunidade internacional, de que a dignidade e o
“direito a ter direitos” são imanentes aos seres humanos.

Vídeo

A dignidade da pessoa humana é um direito universal, indivisível

e interdependente, ou seja, um direito não existe sem o outro.

Para compreender a Dignidade da Pessoa Humana, assista ao

vídeo abaixo.

O valor da dignidade da pessoa humana, reconhecido a partir da Declaração Universal


na comunidade internacional, não ficou restrito ao âmbito do direito internacional, pois
influenciou também o direito nacional, podendo ser apontado como elemento caracteriza-
dor da efetivação da justiça.

Os Direitos Humanos constituem instrumentos de defesa das prerrogativas dos

seres humanos contra os abusos de poder provenientes de órgãos do Estado.

Aliado a isso, visam alcançar condições dignas da vida humana

e de seu desenvolvimento.
8 Ética 01

O respeito aos Direitos Humanos é utilizado como


parâmetro de avaliação das condições e possibilidades
do país. A consolidação da Democracia depende da con-
cretização de um projeto que diminua as desigualdades
sociais, utilizando-se de políticas que distribuam a riqueza e
promovam a justiça social.
9 Ética 01

Tópico 3 - A Paixão pelo Poder e a Ameaça


aos Direitos

Reflexão

Diante do cenário político e econômico que nosso país vem enfrentando,

quais são as consequências para a população?

O impulso pela conquista e manutenção do poder, em qualquer meio social - familiar,


tribal, nacional ou internacional - e em suas diferentes modalidades - poder político,
econômico, religioso, cultural -, tem-se mostrado uma das mais fortes paixões.

A paixão pelo poder é histórica e para a sabedoria grega, nada mais é do que orgulho
desmedido, considerado o mais devastador dos defeitos humanos.

Aristóteles observou que “a maior parte dos homens deseja exercer um poder absoluto
sobre muitos. ” Thomas Hobbes compartilhou integralmente dessa opinião ao afirmar que
reconhece “como uma inclinação geral do gênero humano o desejo perpétuo e incansável
de poder e mais poder, inclinação essa que só cessa com a morte.”
10 Ética 01

Segundo COMPARATO (2006, p. 591), a paixão pelo poder é intrinsecamente corrupto-


ra,“ há, sem dúvida, a corrupção mais vulgar daquele que compra a consciência alheia, ou
vende a sua. Mas, há também uma forma muito mais complexa e sutil, que frisa à loucura
moral ”, pois utiliza todos os sentimentos éticos como forma de manter-se no poder.

Vídeo

Para que fique mais claro, assista ao vídeo e observe como fun-

ciona, na prática, a paixão pelo poder e a corrupção.

Assim como no vídeo, às vezes, não paramos para refletir o quanto pequenos atos de cor-
rupção afetam a sociedade como um todo.

Atualmente, conseguimos perceber de forma mais escancarada os escândalos de corrupção


que envolvem grandes empresários e figuras políticas no Brasil. Mas, será que perceber-
mos as consequências e prejuízos que são causados pelos atos cometidos?
11 Ética 01

Devemos avaliar o efeito que a corrupção prova na economia como um todo e, assim,
identificar consequências sociais tais como: diminuição de empregos, medidas que cortam
direitos dos menos favorecidos, ou o desespero de famílias que perdem seu sustento.

Devemos ter consciência de que pequenos atos de corrupção praticados por muitas pessoas
acabam por representar grandes volumes e causam grandes efeitos.

A política vem se desenvolvendo durante toda a


história da humanidade, no entanto, em poucos
países do mundo é possível identificar tamanhas
desigualdades sociais como as encontradas no
Brasil. Um país onde, diariamente, as pessoas
são confrontadas com a falta de dinheiro, saúde,
moradia e educação: fatores que nos impossibi-
litam exercer a plena cidadania.

Certo é, conforme já verificamos, que o conceito de dignidade humana também evoluiu


com o tempo e nem sempre tivemos a noção de que a dignidade é um direito comum a
todos os seres humanos. Sabemos que, muitas atrocidades foram cometidas para que se
alcançasse o direito ao mínimo.

Ultrapassamos grandes guerras mundiais,


genocídios, entre outros acontecimentos que
escancararam a crueldade do homem pela de-
fesa de territórios e dinheiro. Portanto, nada
mais justo do que a constante preocupação
com o binômio ética-dignidade.

No entanto, atualmente, o que se observa é a degradação das questões éticas que, conse-
quentemente, apresentará reflexos na dignidade humana, posto que caminham juntas e,
portanto, podem crescer ou regredirem juntas.
12 Ética 01

Normalmente, o governo apresenta soluções emergenciais para resolução de problemas


pontuais. Ocorre que, a adoção de medidas emergenciais não apresenta resultados que
reduzam as desigualdades sociais.

Nesse ponto, devemos refletir se as políticas públicas realizadas de forma emergencial são
feitas para cuidar dos problemas e necessidades da população ou são utilizadas como meio
de se manter no poder.

Ao que tudo indica, a política brasileira encontra-se focada, exclusivamente, no lucro e


no sucesso no exterior, sem importar-se primeiro com a garantia de uma sociedade justa
e igualitária.
13 Ética 01

Encerramento
Nesta aula, refletimos se a política deve servir como forma de se manter no poder ou como
forma de diminuição das desigualdades sociais, visando, principalmente, ao crescimento da
população e ao bem-estar dos cidadãos.

Agora que finalizamos, você está apto a realizar os exercícios desta aula.

Fique atento a sua performance e frequência nas atividades!


Ética, Cidadania e Realidade
Brasileira 01
Aula 08 - Responsabilidade social: A Ética
para a Estruturação de uma sociedade
que respeite o homem e o planeta
Ética, Cidadania e Realidade
Brasileira 01

Aula 08 - Responsabilidade social: A Ética para a


Estruturação de uma sociedade que respeite o
homem e o planeta
4 Ética 01

Introdução da
Aula
Na aula Sustentabilidade: Percalços, Conquistas e Desafios, você deverá:

• Investigar a recente a questão da responsabilidade social no contexto em que


vivemos e atuamos e a necessidade de regulamentação da ética nas profissões;

• Refletir como a ética pode ser a saída para problemas que afetam a humanidade.

Reflexão
Diariamente, somos surpreendidos com notícias que retratam

uma generalizada imoralidade. Seria a ética o caminho para

salvar o homem e a humanidade?

Para compreender melhor o impacto da globalização e a crise

moral que afetam a humanidade, sugere-se a leitura do artigo A

Ética para os dias de hoje: reflexões e apontamentos.


5 Ética 01

Tópico 01 - Responsabilidade Social, uma


Prática Recente nas Empresas
Nesta aula, estudaremos as grandes questões que envolvem a globalização e a importância
da ética para manutenção dos contextos a nossa volta. Não são raras as vezes que temos
a sensação de que o mundo sempre foi da forma como o conhecemos hoje. No entanto,
não só o mundo sofre contínuas transformações, mas os seres humanos também estão em
constante evolução.

A globalização, revolução tecnológica aliada às constantes exigências de um mundo


capitalista, carrega consigo novos parâmetros que constantemente impõem a redefinição
da ética e de suas relações.

Valores como a ética, o espírito de equipe, a equidade, a moralidade, a honestidade e a


cultura começaram a ser vistos pelas organizações como essenciais para o desenvolvimen-
to eficaz e socialmente responsável.

A preocupação com os princípios éticos, valores morais e

um conceito abrangente de cultura apresentam-se cada vez

mais necessários para que possamos estabelecer critérios

e parâmetros adequados nas relações profissionais e nas

atividades empresariais.

Existe uma ligação entre os valores, a Ética e a globalização que podemos resumir da
seguinte maneira: a globalização é um processo histórico recente e que vem causando
significativas mudanças nos valores culturais em todo o mundo. Tratar destas transforma-
ções requer um esforço ético muito grande.

A globalização e a revolução digital podem ser consideradas marcos na história recente.


Sendo a Ética matéria que estuda a ação humana no tempo presente, é fundamental enten-
6 Ética 01

der esse processo, pois, só assim, poderemos visualizar os desafios que nos sãos propostos
em termos de valores e conduta.

Responsabilidade Social

Mundialmente, as primeiras noções de responsabilidade social foram apresentadas nos


Estados Unidos durante o século XX, na década de 30. No entanto, suas primeiras
definições surgiram apenas na década de 50, sendo classificadas como uma obrigação
que o homem de negócios tem para com a sociedade.

Podemos afirmar que, esse conceito evoluiu rapidamente, mas podemos dizer que,
atualmente, a responsabilidade social é vista como uma forma das empresas terem maior
participação dentro da sociedade.

Vídeo

Como cita FELIX (2009, p. 17), "para facilitar a gestão e operacio-

nalização, nas últimas décadas foram propostos procedimentos,

acordos, termos, roteiros e indicadores de responsabilidade

social nas empresas: Agenda 21; Indicadores Ethos de Responsa-

bilidade Social; Metas ou Objetivos do Milênio; Pacto Global;

Balanço Social e Governança Corporativa são caminhos

concretos e delimitados que podem ser percorridos pelas em-

presas". Para compreender um pouco mais sobre a evolução da

responsabilidade social, assista ao vídeo abaixo.


7 Ética 01

A responsabilidade social é um tema recente. Para um melhor entendimento, podemos


dividir a questão em dois momentos.

O primeiro momento se desenvolve na transição da economia agrícola para a industrial,


onde predominava a ideologia do liberalismo. Nessa realidade, a interferência do Estado
era considerada prejudicial ao desenvolvimento econômico, restando ao Estado apenas
regulamentar a concorrência, resguardar a propriedade privada e promover ações sociais
essenciais.

Portanto, podemos dizer que, durante um período, a função social das empresas estava
resumida na geração de empregos e no pagamento de imposto, porém, com a arrecadação
dos impostos, as empresas deveriam promover ações sociais.

Essa foi a primeira definição de responsabilidade social. Em 1970, o economista Milton


Friedman escreveu um artigo onde sustentava que a responsabilidade social das empresas
estava restrita à geração de lucro para seus acionistas, desde que seguissem as regras da
sociedade.

Felizmente, tal posição não perdurou por muito tempo e os argumentos propostos por
Friedman mostram-se inconsistentes em virtude dos efeitos da industrialização, tais como:
degradação do meio ambiente e baixa qualidade de vida em virtude do agravamento de
problemas sociais.
8 Ética 01

Diante da precariedade das relações trabalhistas, a socieda-


de devidamente organizada começou a pressionar o gover-
no e as empresas pleiteando melhores condições de vida.
Esse fato levou algumas empresas a repensarem a neces-
sidade de responsabilidade social, sendo incluídas a partir
desse momento na concepção empresarial.

Saiba mais

Para saber mais, sugere-se a leitura do texto “A responsabilidade

Social de empresas privadas como novo elemento na dinâmica

democrática do Brasil”, de Marisa Jacomini de Sousa.

O segundo momento ocorre com o desenvolvimento da sociedade pós-industrial e


caracteriza-se pela valorização de um fator referente à produção, ou seja, o conhecimen-
to técnico. Na sociedade pós-industrial começam a ser valorizadas questões como: o ser
humano, a qualidade de vida e o respeito à natureza.

Na concepção que se desenha, a responsabilidade social empresarial passa a fazer parte dos
objetivos da empresa e diz respeito ao compromisso dela para com o desenvolvimento
sustentável e com a melhoria na qualidade de vida dos cidadãos.

Com a globalização e o desenvolvimento tecnológico, as empresas tiveram a oportunidade


de escolher como e onde produzir, muitas vezes, aproveitando-se de países com baixos
padrões ambientais e trabalhistas.
9 Ética 01

Diante da nova realidade e da possibilidade de retrocesso, em


31 de janeiro de 1999, durante a realização do Fórum Eco-
nômico Mundial, foi proposto um pacto global, desafiando
as empresas a promoverem ações e parcerias para o alcance
de metas conhecidas como os Oito Objetivos de Desenvolvi-
mento do Milênio, com o objetivo final de conquistar uma
economia global mais sustentável e inclusiva.

Conceito

A definição mais aceita para Desenvolvimento Sustentável é o

desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração

atual, sem comprometer a capacidade de atender às neces-

sidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não

esgota os recursos para o futuro.

Essa definição surgiu na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,


criada pelas Nações Unidas para discutir e propor meios de harmonizar dois objetivos: o
desenvolvimento econômico e a conservação ambiental.

Como podemos observar, embora recentes, as discussões sobre responsabilidades sociais,


que englobam direitos humanos e do meio ambiente, aos poucos vêm tomando corpo, vez
e voz entre as nações.
10 Ética 01

Tópico 02 - A Necessidade de Regulamenta-


ção Ética das Profissões
No tópico anterior, vimos como o desenvolvimento industrial contribuiu para evolução
do que hoje chamamos de desenvolvimento sustentável. E de que forma o desenvolvimen-
to industrial manifesta-se em nossa vida?

Podemos considerar que a Revolução Industrial foi o pontapé inicial da modernidade.


Embora pareçam coisas rotineiras, elas somente foram possíveis em virtude das trans-
formações industriais e tecnológicas, tais como: como a rapidez dos transportes - carros,
aviões, trens - e das comunicações - televisão, rádio, celular internet - todas essas transfor-
mações tiveram seu início a partir desse ponto.

Vídeo
Aliada a todas essas transformações, iniciou-se a exploração do

trabalho humano, tomando proporções nunca vistas na história da

humanidade. Tais relações criaram o ciclo que move o capitalismo. Para

entender como ele se desenvolve, ouça a Música de Trabalho da banda

Legião Urbana.
11 Ética 01

Dentro desse cenário, as empresas passaram a não só valorizar a capacidade técnica do


trabalhador, mas uma reunião de virtudes que possam contribuir com o crescimento da
empresa, tais como: respeito, lealdade, generosidade, capacidade de trabalho em grupo,
capacidade de somar esforços para um bem comum, transparência nas relações.

Portanto, o profissional precisa ser mais do que um conhecedor da técnica. Deve ser
alguém que tenha capacidades de relações com os demais de maneira positiva. Desta forma,
podemos afirmar que as relações profissionais exigem uma postura ética, a qual não pode-
mos mais definir como diferencial entre profissionais.

Ser um profissional ético torna-se, a cada dia, mais uma


exigência básica no mercado de trabalho. Diante das no-
vas exigências do mercado de trabalho surge a questão:
é possível ser um profissional ético, sem ser uma pessoa
ética? Não, porque o profissional ético é, antes de tudo,
uma pessoa ética.

Não podemos nos enganar pela ideia de que é possível separar as atitudes profissionais da
postura pessoal. Ser ético, é ter uma postura pessoal ética, que acaba por refletir na esfera
profissional.

Sabemos que determinadas profissões exigem posturas diferentes e específicas, posto que
estão relacionadas diretamente ao trabalho que se executa. Por exemplo, a postura ética
que se espera de um médico, certamente é diferente da ética que se espera de um advogado,
pois tais diferenças decorrem das inúmeras diferenças entre as atividades executadas.

Em virtude das diferenças existentes entre as mais variadas profissões, tornou-se neces-
sário que cada uma das profissões regulamentasse posturas consideradas éticas próprias,
baseadas em uma cultura comum, ou seja, nos valores de uma sociedade.

Pare agora e assista ao vídeo abaixo sobre o sigilo médico e a ética:


12 Ética 01

Tópico 03 - Ética e Responsabilidade Social


para a Estruturação da Sociedade
Seria possível existir uma ética capaz de salvar a humanidade e o planeta?

Diariamente, todos nós tomamos conhecimento de notícias que comprovam a genera-


lizada imoralidade que tem devorado o homem e o mundo. Embora pareça exagerada a
afirmação, devemos concordar que somente através da ética poderemos estruturar uma
sociedade que respeite o homem e o planeta.

Questões como fome, pobreza, imigração, preconceitos, desigualdades sociais, decorrem


principalmente da falta de ética com o ser humano. Igualmente, questões como o aqueci-
mento global, degelo das calotas polares, reciclagem, calor e frio em excesso, falta de chuva
ou chuva em excesso e falta de água são questões que decorrem de falta de posturas éticas
com o planeta.

Portanto, no atual momento em que vive nossa civilização, uma educação que restaure a
ética em todos os campos de nossa civilização deve estar voltada ao respeito à dignidade
humana e à sustentabilidade.

Nos últimos séculos, promovemos revoluções políticas, econômicas e tecnológicas. No


entanto, não aprimoramos a ética. Acabamos nos afastando dos princípios que movem o
indivíduo e a sociedade.
13 Ética 01

Vamos refletir sobre a necessidade de autopreservação do planeta. Inúmeros são os discur-


sos de que devemos cuidar do planeta como se ele fosse o maior ameaçado. Você acha que
o planeta é o maior ameaçado ou a ameaça maior refere-se a vida humana?

Na verdade, somos nós os mais ameaçados com os danos que causamos ao planeta. Ora,
pelo que se tem conhecimento, o planeta já passou por inúmeras catástrofes, no entan-
to, nenhum desses acontecimentos foi capaz de acabar com a vida nele. Isso, pensando
exclusivamente na espécie humana. Somos apenas uma das infinitas possibilidades da
vida. Portanto, o risco de desaparecermos é muito maior que o de a vida no planeta deixar
de existir.

Vídeo

Nós, seres humanos, necessitamos de muitas condições para

manter a vida, clima, alimento, dentre outros. Caso o planeta

venha a sofrer severas alterações em decorrência de nossas

atitudes, provavelmente, seremos os primeiros a sumir daqui.

Existem formas de vida muito mais simples que poderiam

sobreviver a severas catástrofes. Por isso, é preciso com-

preender que, cuidar do planeta é cuidar do meio que nos

sustenta.
14 Ética 01

Ao falarmos de Responsabilidade Social, levamos em conta pelo menos 40 Indicadores,


propostos pelo Instituto Ethos de Responsabilidade Social. Estes 40 indicadores estão con-
tidos nos 7 critérios abaixo (FELIX, 2009, p.19):

Valores, Transparência e Governança

Auto-Regulação Da Conduta

• Compromissos Éticos
• Enraizamento na Cultura Organizacional
• Governança Corporativa

Relações Transparentes com a Sociedade

• Relações com a Concorrência


• Diálogo e Engajamento das Partes Interessadas (Stakeholders)
• Balanço Social
• Público Interno
Diálogo e Participação

• Relações com Sindicatos


• Gestão Participativa

Respeito ao Individuo

• Compromisso com o Futuro das Crianças


• Compromisso com o Desenvolvimento Infantil
• Valorização da Diversidade
• Compromisso com a Não-Discriminação e Promoção da Equidade Racial
• Compromisso com a Promoção da Equidade de Gênero
15 Ética 01

• Relações com Trabalhadores Terceirizados


Trabalho Decente

• Política de Remuneração, Benefícios e Carreira


• Cuidados com Saúde, Segurança e Condições de Trabalho
• Compromisso com o Desenvolvimento Profissional e a Empregabilidade
• Comportamento nas Demissões
• Preparação para a Aposentadoria
• Meio Ambiente

Responsabilidade com as Gerações Futuras

• Compromisso com a Melhoria da Qualidade Ambiental


• Educação e Conscientização Ambiental
Gerenciamento do Impacto Ambiental

• Gerenciamento do Impacto no Meio Ambiente e do Ciclo de Vida de Produtos


e Serviços

• Sustentabilidade da Economia Florestal


• Minimização de Entradas e Saídas de Materiais
• Fornecedores
Seleção, Avaliação e Parceria com Fornecedores

• Critérios de Seleção e Avaliação de Fornecedores


• Fim do Trabalho Infantil na Cadeia Produtiva
• Fim do Trabalho Forcado (ou Análogo ao Escravo) na Cadeia Produtiva
• Apoio ao Desenvolvimento de Fornecedores
• Consumidores e Clientes
16 Ética 01

Dimensão Social do Consumo

• Política de Comunicação Comercial


• Excelência do Atendimento
• Conhecimento e Gerenciamento dos Danos Potenciais de Produtos e Serviços
• Comunidade
Relações Com a Comunidade Local

• Gerenciamento do Impacto da Empresa na Comunidade de Entorno


• Relações com Organizações Locais
Ação Social

• Financiamento da Ação Social


• Envolvimento com a Ação Social
• Governo e Sociedade
Transparência Política

• Contribuições para Campanhas Políticas


• Construção da Cidadania pelas Empresas
• Práticas Anticorrupção e Antipropina
Liderança Social

• Liderança e Influência Social


• Participação em Projetos Sociais Governamentais
Como vimos, as ações de Responsabilidade Social são claras, objetivas, aplicáveis e
mensuráveis. Cabe a decisão, vinda da alta-administração, de praticá-las. Na disciplina
Ética 2, detalhamos ainda mais os indicadores e os critérios acima.
17 Ética 01

Encerramento
Nesta aula, observamos que a revolução industrial trouxe uma nova realidade, sendo
necessário estabelecer critérios para uma responsabilidade social. O crescimento industrial
e, consequentemente, o aumento nas relações de trabalho exigiram uma nova postura dos
trabalhadores. Em virtude das diferenças existentes entre as profissões, tornou-se neces-
sária a regulamentação através de códigos de ética profissional. Por fim, devemos refletir
se nós adotamos, diariamente, posturas éticas com vistas à preservação da vida humana e
do planeta.

Agora que finalizamos, você está apto a realizar os exercícios desta aula.

Fique atento a sua performance e frequência nas atividades!

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