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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS – UFT

CURSO DE LETRAS

A LITERATURA NEGRA COMO FORMA DE ASCENSÃO DE UM


POVO: THE HARLEM RENAISSANCE

MARCOS DIONE DA SILVA

Araguaína-TO
2020
MARCOS DIONE DA SILVA

A LITERATURA NEGRA COMO FORMA DE ASCENSÃO DE UM


POVO: THE HARLEM RENAISSENCE

Pré-projeto de Trabalho de Conclusão de Curso apresentado na


Universidade Federal do Tocantins como pré-requisito para
obtenção de nota da disciplina TCC I.

Orientador (a): Naiana Siqueira Galvão

Araguaína-TO
2020
1. INTRODUÇÃO

Foi com o fim da escravidão que houve a grande imigração dos Estados Unidos,
onde ex escravos, agora livres, não tinham mais como viver, mesmo que em condições
desumanas, se moveram para o Norte Urbano dos EUA. Antes da grande libertação eles
habitavam o Sul industrial do país, responsável pelo desenvolvimento e crescimento dos
EUA.

Foi através da 13° Emenda dos Estados Unidos da América, também conhecida
como a Lei Jim Crow, que os escravos libertados foram considerados cidadãos
americanos exceto aqueles que foram presos e condenados por qualquer tipo de crime
contra o cidadão americano. A grande imigração se destinou para diversos estados
dentro do EUA, mas principalmente para Nova York, pois já existia uma grande
quantidade de negros vivendo lá.

O Harlem era habitado por maioria pessoas brancas, e como o índice de negros
foi aumentando na região, a rua acabou que se tornando uma referência para os negros e
que por muito tempo ficou conhecido como o maior bairro de pessoas negras do mundo.

Foi nesse processo de imigração dentro dos EUA que surgiu o movimento do
Harlem, antes conhecido como The New Negro Movement, esse movimento foi um
grande divisor de águas entre os “dois “tipos de pessoas (brancos e negros, que antes da
13° emenda eram escravos) que faziam parte do território dos Estados Unidos da
América na década de 1920. O movimento foi o grande responsável pela produção e
valorização em massa da grande produção e revelação de artistas e obras produzidas por
pessoas negras.

Antes desse movimento de valorização e reconhecimento da cultura negra, já


existiam artistas negros que produziam obras, artes, literatura, todavia tendo como
referência as concepções da cultura, hábitos das pessoas brancas, ou seja, não poderia
existir naquela época uma poesia, um poema ou livros que tivessem como centro o
negro protagonista ou herói, quanto mais sendo autor/a e conhecido por seus dotes
artísticos e literários.

Por séculos o negro foi descrito e interpretado pelo branco como um escravo, um
empregado, um ladrão, um assassino. Mas esse cenário muda depois do aumento da
demanda de artistas que sugiram e foram influenciados pelo movimento do Harlem. O
negro que antes era visto como um vilão, agora assegurava a sua ascensão diante da
grande população branca. Os negros não precisavam ser representados pelas obras
criadas pelos brancos, pois agora as obras eram escritas e pensadas pelos negros, para os
negros e sobre os negros.

Sendo assim, surgiu a necessidade de tentar responder à seguinte problemática:


Por que a literatura negra é nivelada e condicionada a uma literatura menor? E de
que maneira a produção da literatura negra, feita por negros, poderia ser relembrada
e valorizada numa sociedade fundada pelos resquícios da escravidão?

A hipótese desta pesquisa parte da premissa de que a literatura negra mesmo


fazendo parte da literatura mundial e escrita através dos séculos, ainda não é bem
difundida e valorizada mundialmente por se tratar de uma literatura feita por pessoas
negras.

Com essa pesquisa pretendemos discorrer sobre o surgimento do Harlem e sua


importância para a literatura negra nos EUA, tendo como pressuposto a análise
comparativa de dois poemas produzidos no movimento negro em questão e dois poemas
escritos por negros, mas em período de escravidão.
2. JUSTIFICATIVA

O intento de realizar tal pesquisa surgiu a partir das experiências vivenciadas


durante a prática de observações e regência de aulas na disciplina de Estágio
Supervisionado em Língua Inglesa e Literaturas e das aulas de Literatura Americana
(Prosa, Poesia e Drama) que tive enquanto aluno do curso de Letras Inglês. O interesse
por este tema surgiu a partir do contato que tive com algumas poesias negras, em
especial do autor Langston Hughes. Observei que a maioria dos poemas abordavam
temas como valorização e ascensão do negro dentro da sociedade branca. Dessa
maneira, estes poemas foram eficazes na desconstrução de padrões e estereótipos
referentes a literatura negra que eu tinha em mente anteriormente.

A oportunidade de prática docente, me ajudou a trabalhar em sala de aula alguns


poemas de pessoas negras, já que muitos alunos nem sabiam que negros no período pré
e pós abolicionista, poderiam ser escritores. Dessa maneira, assim como pude perceber a
grandeza da linguagem, construção estética e estilística textual da poesia, os alunos
também puderam perceber. Eles, ao lerem as traduções dos poemas e poesias, ficaram
maravilhados e assustados com o modo que as obras eram escritas. Ficaram
maravilhados com a forma do negro ser retrato nas obras.

Neste caso, irei tratar sobre a literatura negra. Pois foi através dessa literatura
que vi a valorização do meu povo. Foi através dessa literatura que vi que o negro não
pode mais ser deixado a margem, o negro não pode mais ser silenciado. Não posso
deixar de enaltecer a importância e o protagonismo da professora Naiana Galvão na
escolha do assunto desse TCC e sua atuação como agente principal na sala de aula,
responsável por redescobrir a valorização da literatura vinda das pessoas negras.

Por fim, quero que esta pesquisa sirva de ignição para a produção de construções
acadêmicas sobre assuntos relacionados a literatura feita por pessoas negras e para a
desconstrução de pensamentos ocidentalistas acadêmicos sobre essa literatura negra.
3. OBJETIVOS
3.1 GERAL

 Analisar a incidência do movimento Harlem e suas marcas de resistência


na escrita negra como ascensão na sociedade branca nos poemas I, Too
(1932) e Hey, Black Child (1975).

3.2 ESPECIFICOS

 Fazer uma análise comparativa dos poemas I, Too (1932) e Hey, Black
Child (1975).
 Compreender toda a formação e perpetuação da literatura negra nos EUA
durante o período do Harlem Renaissence.
4. METODOLOGIA DA PESQUISA

A pesquisa se baseia num estudo do viés qualitativo e caracteriza-se como linha


de pesquisa bibliográfica. Para um melhor entendimento e explicação sobre o que seria
uma pesquisa bibliográfica e de cunho qualitativo trabalharemos como autores que
definem tais campos de pesquisas como GIL (2008) e MINAYO (2001).

Em poucas palavras, podemos dizer que a pesquisa qualitativa é aquela que


busca entender um fenômeno específico em profundidade. Na pesquisa qualitativa não
se procura comprovar a um fato com números ou estatísticas, mas a partir do
pressuposto de uma análise detalhada, abrangente e coerente, assim como na
argumentação lógica das ideias.

Para Minayo (2001), a pesquisa qualitativa trabalha com o universo de


significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um
espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser
reduzidos à operacionalização de variáveis. A pesquisa qualitativa é criticada por seu
empirismo, pela subjetividade e pelo envolvimento emocional do pesquisador
(MINAYO, 2001, p. 14).

Segundo Gil (2008) uma pesquisa é bibliográfica é desenvolvida com base em


material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Segundo
Fonseca (2002),

A pesquisa bibliográfica é feita a partir do levantamento de referências


teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como
livros, artigos científicos, páginas de web sites. Qualquer trabalho científico
inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador
conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Existem, porém, pesquisas
científicas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando
referências teóricas publicadas com o objetivo de recolher informações ou
conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a
resposta (FONSECA, 2002, p. 32).

O objeto de pesquisa desse trabalho são os poemas I, Too de Langston Hughes


(1932) e Hey, Black Child de Countee Cullen (1975) tendo como contraponto de análise
poemas da Phillis Wheatly, escritora negra no período do regime colonial. Sendo assim,
uma análise histórica social nos períodos pré/pós abolicionistas fomentarão argumentos
que desencadearão as marcas de resistência e ascensão do povo negro.
5. REFERENCIAL TEÓRICO

Antes The New Negro Moviment, hoje The Harlem Renaissence, foi o
movimento responsável pelo grande descobrimento e valorização da cultura negra. O
negro pode então, dentro desse movimento de descoberta e valorização, encontrar sua
ascensão social e cultural.

É esse senário que vai servir de instrumento para a criação da literatura negra,
uma “literatura menor” no sentido dado ao termo por Gilles Deleuze e Félix Guattari:
“uma literatura menor não é a de uma língua menor, mas antes a que a minoria faz em
uma língua maior” (DELEUZE e GUATTARI, 1977, p. 28).

Portanto, o que importa não é tanto a língua que o escritor escolhe como veículo
de comunicação, já que a migração dos EUA envolveu tanto imigrantes quanto não
imigrantes, mas o modo não convencional de usa-la, desfamiliarizando-a para dotá-la de
novas significações, ou seja, falar a própria língua como um estrangeiro, ou ainda, dar
um outro significado para a própria língua.

A literatura negra ainda que considerada minoritária, poderia em suas diversas


formas de atuação, desenvolver um papel ainda mais de criador e desenvolvedor de
identidades. O negro que agora era livre, poderia em suas obras, denunciar os maus
tratos, ou falar sobre a sua luta em busca da conquista pela ascensão. O negro dentro da
sua escrita, poderia encontrar o seu próprio eu, dessa forma o conceito de literatura
menor designaria então,

as condições revolucionaria de toda literatura no seio do que chamamos de


grande. Mesmo aquele que tem a infelicidade de nascer no país de uma
grande literatura deve escrever em sua língua, como judeu tcheco escreve em
alemão, ou como um usbeque escreve em russo. Escrever como um cão que
faz seu buraco, um rato que faz sua toca. E, para isso, encontrar seu próprio
ponto de subdesenvolvimento, seu próprio patoá, seu próprio terceiro mundo,
seu próprio deserto. (DELEUZE e GUATTARI, 1977, p. 28-29)

Ao falar sobre o que seria uma literatura menor, o autor faz acontecer um
processo paralelo entre cultura e literatura, tornadas não mais a cultura pura e
homogênea, ambas são agora consideradas como hibridas e “impuras”, já que há uma
contaminação em favor de uma mistura sutil e complexa, ou seja, abertura do único
caminho possível que poderia levar a descriminalização da literatura negra.

No contexto brasileiro a diferença cultural esteve sempre atrelada ao


componente do racismo – histórica e politicamente instalado com o advento da
colonização. Como bem observou Florestan Fernandes (2007), a densa desigualdade
racial reflete a condição de sociedade pós-escravagista advinda de um contexto político
em que o processo abolicionista foi mais simbólico do que realmente moral em relação
aos escravizados, não se efetuando medidas de poder na contemporaneidade.

O movimento do drama afro-americano de um discurso exclusivo para o público


branco em relação à dialética negra de Bullins 1 começou durante o Harlem Renaissance
dos anos 1920. Respondendo ao crescimento de grandes comunidades afro-americanas
nos centros urbanos do norte, os escritores e dramaturgos negros imaginaram
seriamente, pela primeira vez, uma literatura que não se baseava inteiramente nas
expectativas brancas.
Os escritores do Harlem Renaissance voltaram as suas características para um
novo tipo de artista: Um artista que precisa encontrar uma forma que exprima o espírito
racial por símbolos de dentro e não por símbolos de fora.

1
Ed Bullins, uma figura importante no drama contemporâneo e afro-americano.
6. REFERÊNCIAS

CICOTTA, Howard. Perfil da história dos EUA. Departamentos dos Estados Unidos
da América. s/d.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI,Felix. Kafka, por uma literatura menor. Tradução


Julio Castañon Guimarães. Rio de Janeiro: Imago, 1977.

FERNANDES, Florestan. O negro no mundo dos brancos: Apresentação de Lilia


Moritz Schwarcz. 2. ed. São Paulo: Editora Global, 2007.

FONSECA, João José Saraiva da. Metodologia da pesquisa científica. Ceará:


Universidade Estadual do Ceará, 2002.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas,
2008.

GOWER, Roger. Past into present. London: Longman, 1996.

KARNAL, Leandro. Estados Unidos: A formação da nação. São Paulo: Contexto,


2001.

KNOWLES, Gerry. A cultural history of the English Language. London: Arnold,


1998.

LAKATOS, E. M. de A.; MARCONI, M. de A. Fundamentos da metodologia


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McMICHAEL, George (Org.). Concise Anthology of American Literature. New


Jersey: Prentice Hall, 1998.

MINAYO, M. C. S. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis:


Vozes, 2001.

REIS, Eliana Lourenço de Lima. Pós-colonialismo, identidade e mestiçagem


cultural: a literatura de Whole Soynka. Belo Horizonte: Editora UFMG,2011.

THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa - ação. 2. ed. São Paulo: Cortez,


1986.

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