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Movimentos sociais e mídia


de espalhamento:
democratização da comunicação
em contexto de convergência

Maria Clara Aquino Bittencourt


Doutora em Comunicação e Informação pela UFRGS
E-mail: aquino.mariaclara@gmail.com‎

Resumo: Refletindo sobre convergência e espalhamento de Sobre espalhamento e convergência


conteúdos que circulam por um espaço de fluxos que perpassa
as mídias de massa e as mídias sociais, propõe-se debate pau-
tado pelo tensionamento sobre o uso das mídias sociais não
Em 10 de julho de 2013, um dia antes da
apenas por movimentos sociais e cidadãos, mas também pela paralisação nacional programada para 11 de
mídia de massa. Observa-se como processos de produção, julho, a Câmara de Vereadores de Porto Ale-
circulação e consumo de conteúdos se alteram em função de
práticas colaborativas em coexistência com práticas da mídia gre foi ocupada por manifestantes do Bloco de
de massa, na condução das bases de um modelo híbrido de Luta pelo Transporte Público,1 assim permane-
circulação.
Palavras-chave: Espalhamento, convergência, movimentos
cendo até 18 de julho. Uma das primeiras me-
sociais. didas da ocupação foi a proibição da presença
de jornalistas da mídia corporativa dentro da
Movimientos sociales y medios de dispersión: prácticas de cola-
boración para democratización de la comunicación en contexto Câmara. Apenas veículos independentes obti-
de convergencia veram a permissão dos ocupantes para realizar
Resumen: Al reflexionar sobre convergencia y dispersión de
contenidos en un espacio de flujos que atraviesa medios oficia-
a cobertura de dentro do plenário.
les y redes sociales, se propone un debate guiado por el uso de
las redes por movimientos y ciudadanos, y también por estos O Bloco de Luta pelo Transporte 100%
medios. Se observa cómo producción, circulación y consumo Público decidiu, em assembleia, restringir
cambian debido a prácticas de colaboración en convivencia o acesso da mídia corporativa às nossas
prácticas de medios distributivos en el desarrollo de un mode- atividades durante a ocupação na Câma-
lo híbrido de circulación.
Palabras claves: Dispersión, convergencia, movimientos sociales.
ra. Por experiência própria e pela história
dos movimentos sociais, sabemos que esses
Social movements and spreadable media: collaborative practices meios não os retratam de forma justa. [...]
for democratization of communication in convergence context Em nossa opinião, isso se deve ao fato de
Abstract: Reflecting on convergence and spread of contents in que a mídia no país não é democratizada
a space of flows running through the mass and social media,
it is proposed a debate guided by tension over the use of so-
e nem regulada, sendo dominada por meia
cial media not only by movements and citizens, but also by
mass media. It is observed how production, circulation and 1
O Bloco de Luta pelo Transporte Público é “composto por di-
consumption of content processes are altered by collaborative versas organizações unidas pela luta contra o aumento da pas-
practices in coexistence with practices of mass media, conduc- sagem e por um transporte coletivo público e popular de quali-
ting to the bases of a hybrid model of circulation. dade em Porto Alegre”. Disponível em: <https://www.facebook.
Keywords: Spread, convergence, social movements. com/groups/blocodelutapoa/>. Acesso em: 17 jul. 2013.

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dúzia de famílias. O caso específico da RB$ ciência dos brasileiros com os problemas do
é paradigmático, pois esse jornal nasceu e país. Porém, diferente de manifestações que
cresceu durante a ditadura militar. A gran- o país já vivenciou, desta vez o barulho não
de mídia atua, portanto, como uma exten-
se limitou à tomada das ruas, mas partiu das
são do poder de classe dos ricos, fomentan-
do um imaginário de que os movimentos redes sociais. E foi ganhando força através
sociais são criminosos.2 não só de mobilizações presenciais, mas, e
talvez principalmente, via sites como Twitter
No entanto, a relação dos manifestantes e Facebook, e grupos de comunicação online
com a mídia corporativa, em Porto Alegre, independentes, chamados aqui de coletivos
não foi abalada apenas por essa ação restri- midiáticos. A tensão das ruas também se es-
tabeleceu sobre as relações comunicacionais,
em um panorama midiático onde os meios
e os veículos de massa perderam o protago-
Diferente de nismo e agora disputam a atenção das audi-
manifestações que ências com mídias sociais e coletivos midiá-
o país já vivenciou, ticos. Estes coletivos não se limitam a cobrir
desta vez o barulho os acontecimentos sobre os protestos em di-
não se limitou à ferentes cidades, mas também atuam de for-
tomada das ruas, mas ma crítica, questionando a mídia de massa e
lutando pela democratização da comunica-
partiu das redes sociais
ção. Nesses espaços, a colaboração serve de
base para a produção de conteúdo e a diver-
sidade de formatos aponta para um processo
de convergência, através do qual percebe-se
tiva. A insatisfação com a cobertura sobre os transformações significativas sobre a circu-
protestos realizada pelo jornal Zero Hora, do lação midiática no âmbito dos movimentos.
Grupo RBS – afiliada da Rede Globo – já vi- Dito isso, à necessidade de reflexão sobre
nha sendo aclamada pelas ruas quando, em as reconfigurações políticas decorrentes de
alguns dos atos, os manifestantes se dirigi- um levante de mobilizações junta-se a de-
ram para frente do prédio do jornal. Dian- manda pela reflexão sobre transformações
te dessas manifestações, jornalistas do Zero de níveis técnico, social e cultural que se es-
Hora publicaram um manifesto sobre as vaem por práticas baseadas nas apropriações
ameaças ocorridas durante os dias 17 e 20 de de tecnologias para a comunicação entre e
junho.3 sobre os movimentos. A partir de uma re-
O mês de junho levou para os gabinetes flexão sobre questões referentes à conver-
não só do governo municipal de Porto Ale- gência (Aquino Bittencourt, 2012) e ao es-
gre, mas de outros prefeitos, governadores e palhamento (Jenkins; Green; Ford, 2013) de
até da presidência da República, uma série conteúdos que circulam por um espaço de
de questionamentos sobre as demandas do fluxos que perpassa as mídias de massa e as
povo, que se espalharam pelo Brasil em car- mídias sociais, propõe-se um debate pautado
tazes que ilustravam o esgotamento da pa- pelo tensionamento sobre o uso das mídias
sociais não apenas por movimentos, coleti-
2
Da fanpage do Bloco de Luta pelo Transporte Público. Dispo- vos midiáticos e cidadãos, mas também pela
nível em: <https://www.facebook.com/permalink.php?story_
fbid=560882697307648&id=488875294508389>. Acesso em: mídia de massa. Diante das apropriações da
17 jul. 2013. última década, observa-se como os proces-
3
Disponível em: <http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/geral/noti-
cia/2013/06/jornalistas-de-zero-hora-divulgam-manifesto-so-
sos de produção, circulação e consumo de
bre-ameacas-ao-jornal-4179488.html>. Acesso em: 17 jul. 2013. conteúdos se alteram em função de práticas

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colaborativas em coexistência com práticas mento de comunidades decorrentes de novas


da mídia de massa, na condução das bases de tecnologias e das organizações em rede que
um modelo híbrido de circulação. elas potencializam, de modo que a ordem so-
cial estaria abandonando as instituições e se
O abraço às mídias sociais: usos e constituindo em um território deslizante de
apropriações por atores diversos movimentos impulsionados através do uso
de dispositivos móveis de comunicação. É
No início dos anos 2000, o uso dos celu- possível ainda citar as mudanças em termos
lares para registrar desastres já mostrava o de representatividade, mencionadas por De-
poder da tecnologia nas dinâmicas sociais, leuze (Foucault, 1979, p. 70), antes mesmo
como, por exemplo, o furacão Katrina nos dessa configuração digital:
Estados Unidos, em 2005, e as explosões no Aqueles que agem e lutam deixaram de
metrô de Madrid, em 2004 – quando os ce- ser representados, seja por um partido ou
lulares foram usados para comunicar sobre um sindicato que se arrogaria o direito de ser
o que acontecia no local dos fatos, e também a consciência deles. Quem fala e age? Sempre
quando o conteúdo audiovisual gerado a uma multiplicidade, mesmo que seja na pes-
partir desses aparelhos foi retransmitido em soa que fala ou age. Nós somos todos peque-
canais de televisão. Não havia de demorar nos grupos. Não existe mais representação,
para que os celulares fossem usados na or- só existe ação: ação de teoria, ação de prática
ganização de mobilizações de rua. Dois dias em relações de revezamento ou rede.
após as explosões em Madrid, milhares de Nesse sentido, ganham força as recon-
pessoas se organizaram a partir da troca de figurações nos movimentos sociais decor-
SMS e cercaram a sede do Partido Popular rentes de usos e apropriações de tecnologias
(PP) em protesto pelos feridos nas explo- digitais em sua organização e dinâmicas co-
sões de 11 de abril e pelas supostas menti- municacionais, assim como se fortalecem
ras envolvendo o partido. Para Toret (2012), os coletivos que utilizam essas tecnologias
tais manifestações antecediam o potencial na cobertura de atos de rua. As relações em
das multidões conectadas, hoje mais claro rede favoreceram a constituição de um siste-
através de movimentos como o 15M, assim ma de poder que no âmbito da comunicação
como a expressão da autocriação de um já não mais se concentra apenas nos gran-
acontecimento distribuído e o estabeleci- des veículos, mas que se esvai em múltiplas
mento do que ele chama de afetação coletiva ramificações. Estas, pela lógica do espalha-
dos corpos, através das redes e da tomada do mento, conquistam força suficiente (ain-
espaço público expandida no tempo. da que não equivalente) para coexistir com
Vive-se, cada vez mais, em um ambien- grandes grupos de mídia. Ainda na discussão
te marcado pela presença da tecnologia e da sobre representatividade, Foucault (1979, p.
conexão e, com base na perspectiva tecno- 71) destaca que as massas já não precisam
política de Toret (2012) – uma “articulação dos intelectuais para saber e da mesma for-
entre o uso estratégico das tecnologias de co- ma dispensariam os grandes meios, já que,
municação para a ação e organização coleti- segundo o autor, “elas sabem perfeitamente,
va” – o desenvolvimento da tecnologia e suas claramente, muito melhor do que eles; e elas
apropriações nos processos comunicacionais o dizem muito bem”.
definem uma reconfiguração que põe em A partir dessa apropriação tecnológica,
xeque certezas sobre a circulação de infor- os movimentos fortalecem possibilidades
mações até o fim dos anos 90. Até mesmo o de articulação e estratégias de visibilidade,
futuro do espaço democrático é questionado explica Gohn (2010), reconfigurando for-
por Antoun (2004), diante do desenvolvi- mas de organização e de ações. Os estudos

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sobre os movimentos sociais, que começa- esses valores a partir da criação de novas
ram a ganhar espaço no mundo ocidental normas de convívio social. O exercício de
nos anos 60, ganham um novo viés a partir um contrapoder por parte desses movimen-
da apropriação de diferentes ferramentas de tos se dá pela sua autoconstrução através da
comunicação para o estabelecimento de di- comunicação autônoma, que não se subme-
nâmicas comunicacionais e organizacionais. te ao poder das instituições. A trajetória dos
O emprego de novas práticas por diferentes movimentos que deflagraram os protestos de
movimentos justifica, para Gohn (2004), 2013 no país é marcada por demandas anti-
que há um questionamento de estruturas gas e formas de mobilização já conhecidas,
que passa pela proposição de novas formas mas seus processos comunicacionais vêm
de organização para a sociedade política, o sofrendo transformações capazes de influen-
que garante o seu enquadramento como ino- ciar a própria continuidade do movimento.4
vadores e indicadores de mudança social. Na Ao lado dos choques de interesses que
mesma linha, a atuação dos coletivos midiá- movem a mídia, os partidos políticos e os
ticos vem sendo guiada pelo questionamento manifestantes – muitos destes desvinculados
e pela cobrança sobre a atuação da mídia de de qualquer partido político – há um confli-
massa, no esforço de reconfigurar os proces- to de posicionamentos que, se antes não ti-
sos a partir de práticas colaborativas e demo- nha visibilidade nos meios tradicionais, hoje
cráticas. se espalha pelas redes sociais, sob múltiplos
A mobilização pelas redes reflete uma formatos, com cada vez mais velocidade e
cultura de organização coletiva que se carac- representatividade, questionando a mídia de
teriza por princípios de horizontalidade, en- massa através da produção independente de
gajamento cívico, social e político, e que se for- conteúdo e embaralhando ainda mais o ce-
talece além das redes em diversos países, sob nário opinativo e interpretativo sobre o que
diferentes formas de manifestações. A atual se passa.
configuração desses movimentos extrapola os
meios tradicionais não só de organização das Observa-se o desenvolvimento da cultura
mobilizações, mas também de comunicação de resistência via meios de comunicação
e, ao mesmo tempo, sobre as formas como alternativos. Os espaços comunicacionais
são estratégicos tanto ao movimento, para
os movimentos se reportam à sociedade. A
publicizar suas demandas e buscar algum
partir da Internet, a circulação do conteúdo espaço contra-hegemônico como para seus
produzido pelos movimentos concorre com a opositores, que buscam desqualificá-los e
produção das mídias de massa pelas audiên- isolá-los da opinião pública ao retratá-los
cias que transitam por diferentes espaços de como fonte e origem da violência. A inter-
publicação. O fluxo de produção, circulação net tem sido o grande meio/veículo arti-
e consumo de informações ao mesmo tempo culador de ações coletivas e movimentos
sociais (Gohn, 2010, p. 149-150).
em que é ampliado, é diluído na imprensa dita
oficial e nas redes pelas quais transitam não O consumo das mídias sociais é feito a
só integrantes dos movimentos e colabora- partir de uma seleção de perfis e páginas a
dores de coletivos midiáticos, mas jornalistas serem seguidos; cada indivíduo define as pu-
e produtores de conteúdo que trabalham em blicações a seguir de acordo com seus valo-
veículos tradicionais. res e preferências pessoais. No contexto dos
Ao longo da história, Castells (2012) des-
taca os movimentos sociais como produto- 4
Recuero aponta que a divulgação, nas redes sociais, da re-
res de valores e objetivos em torno dos quais pressão policial através de atos de violência contribuiu para a
escalada das manifestações nas ruas do país. Disponível em:
ocorrem transformações em instituições que <http://www.raquelrecuero.com/arquivos/2013/06/ars-a-esca-
passam por modificações para representar lada-dos-protestos-no-brasil.html>. Acesso em: 17 jun. 2013.

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protestos de 2013, percebe-se uma diversida- assim como as dinâmicas e as configurações


de de atores utilizando as mídias sociais, ex- do contexto, que se modificam a partir das
pondo conteúdos dos mais diversos forma- relações entre produtores e consumidores de
tos e naturezas, configurando um processo informações.
de convergência não só em nível técnico, no Identificar as transformações nesse pro-
sentido de que há uma pluralidade de forma- cesso com características de um modelo que
tos utilizados, mas também em níveis social se perfaz em paralelo ao modelo de broadcas-
e cultural (Bittencourt, 2012). Essa conver- ting é demanda que surge a partir da apro-
gência de três níveis é o pano de fundo de priação das mídias sociais por diversos atores
um enfrentamento diário entre publicações
da mídia de massa e das mídias sociais – es-
tas constituídas não só pela presença de ci-
dadãos comuns, participantes e líderes de Além da ampliação de
movimentos sociais e coletivos midiáticos, sujeitos que integram
como também pela atividade de partidos e ações coletivas, há
figuras políticas, e pelos próprios veículos da também alterações
mídia de massa. O resultado é uma conjun-
nas mobilizações, que
tura social e política fortemente impactada
por conteúdos de diversas origens e que, ao
agora passam a ser
serem espalhados por diferentes redes, so- estruturadas em rede
frem apropriações e reapropriações capazes
de redefinir rumos dos acontecimentos. A
influência de determinados nós nas redes no atual contexto marcado pela digitaliza-
acaba por ser o poder que rege a história a ção. Trata-se de buscar esclarecimento sobre
partir do espalhamento de publicações que mudanças em um jogo midiático movimen-
circulam por múltiplos espaços. tado a partir de vários espaços de publica-
Não se trata de negar o momento de li- ção, gerenciados pelos produtores da mídia
bertação do cidadão das amarras da mídia tradicional, e também por outros atores, que
de massa a partir das mídias sociais. O alerta nos últimos anos vêm se apropriando de fer-
é sobre a condução dada pela grande mídia ramentas de participação e colaboração nos
aos acontecimentos a partir de sites como processos de produção, circulação e consu-
Twitter e Facebook. A captura da agenda dos mo midiático.
protestos pela mídia de massa e a maneira
como essa agenda passou a ser tratada com
o passar dos dias de manifestações,5 mostra Espalhamento e convergência: relações
entre mídia de massa e mídias sociais
como as mídias sociais podem ser utiliza-
das em um processo de imbricação com os Em Spreadable Media, Jenkins, Ford e
conteúdos que circulam por outros meios. Green (2013) afirmam que o que não se es-
Trata-se de um processo organizado, com ca- palha está morto. A argumentação aborda
racterísticas de um modelo de espalhamento a transição de um modelo baseado na dis-
(Jenkins; Ford; Green, 2013) que altera as tribuição para outro baseado na circulação
regras de um processo no qual os partici- e na participação em processos de criação,
pantes trocam de papel a todo o momento,
compartilhamento e remix de conteúdos.
5
Em artigo no Observatório da Imprensa, Luciano Costa abor-
Este emergente modelo híbrido de circula-
da a virada na cobertura. Disponível em: <http://www.obser- ção, segundo os autores, mistura forças de
vatoriodaimprensa.com.br/news/view/uma_virada_na_co-
bertura>. Acesso em: 25 jul. 2013.
cima e de baixo, que determinam como as
mensagens podem ser compartilhadas por

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diferentes culturas através de formas como o O modelo de espalhamento valoriza a


boca a boca e o compartilhamento, que vêm produção que facilita o compartilhamento,
conduzindo a maneira como as pessoas in- de acordo com Jenkins, Ford e Green (2013),
teragem entre si nos movimentos sociais de- como pelo uso de redes sociais que forneçam
flagrados nos últimos três anos. No entanto, links ou códigos para a publicação do conte-
os autores alertam para que não se conclua, údo em outras páginas. O sistema integrado
equivocadamente, que as atuais formas de de canais de participação e de práticas que
circulação possam ser explicadas apenas pela suportam um ambiente onde o conteúdo
infraestrutura tecnológica, ainda que esta te- pode ser largamente espalhado adquire sig-
nha um papel determinante recentemente. A nificação a partir de atividades comunicacio-
abordagem coloca as lógicas sociais e as prá- nais que vão além da distribuição de conteú-
ticas culturais como responsáveis pela popu- do, englobando práticas colaborativas e que
impulsionam o espalhamento por canais e
plataformas diversas, como no caso de cole-
Um jornal não finda tivos midiáticos que utilizam espaços online
sua visibilidade nas diversos na cobertura de atos e protestos,
páginas impressas, bem como na rotina de organização de mo-
assim como um vimentos. Fanpages e grupos no Facebook,
como os do Bloco de Luta pelo Transporte
canal de TV
Público, bem como a diversidade de canais
não se extingue utilizados pelo Mídia Ninja6 na cobertura
na transmissão dos protestos pelo Brasil, ilustram a apro-
priação baseada na convergência, que forma
o conjunto de práticas de organização e co-
municação que coloca em circulação conte-
larização de novas plataformas, questionan- údos de caráter midiático junto ao fluxo co-
do o motivo de o compartilhamento ter se municacional também composto pela mídia
tornado tão comum. de massa.
Diante da argumentação de que as funcio- Ao analisarem dinâmicas participativas
nalidades das tecnologias atuam como um ca- em produtos de caráter ficcional, bem como
talisador para reconceitualizar aspectos de cul- as relações entre produtores e fãs consumido-
tura, repensar relações sociais e reimaginar a res, Jenkins, Ford e Green (2013) identificam
participação cultural e política, vale-se da ideia argumentações que enquadram tais práti-
de mídia de espalhamento para pensar a co-
cas como formas de resistência ao mainstre-
municação no âmbito dos movimentos sociais
am das indústrias midiáticas, mas acreditam
e tensionar transformações técnicas, sociais e
que mais do que resistência ou oposição, o
culturais nessas dinâmicas. Gohn (2010) abor-
que acontece é mais complexo. A aproxima-
da mudanças em função das relações entre
ção, nesse sentido, pode ser efetuada sobre os
diferentes sujeitos sociopolíticos que com-
processos comunicacionais de coletivos midi-
põem a cena pública. Ela destaca que além
áticos e movimentos sociais que utilizam as
da ampliação de sujeitos que integram ações
mídias sociais com vistas não apenas organi-
coletivas, há também alterações nas mobiliza-
zacionais, mas como alternativa de resistência
ções, que agora passam a ser estruturadas em
e de oposição à mídia de massa. Nesse caso a
rede. Uma dessas mudanças está diretamente
complexidade se configura quando é preciso
relacionada à difusão de novas tecnologias e à
expansão dos meios, que se torna mais fluida 6
Disponível em: <https://www.facebook.com/midiaNINJA>.
dentro de um contexto de trocas. Acesso em: 25 jul. 2013.

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refletir sobre as transformações de nível téc- A presença da mídia de massa nas mí-
nico, social e cultural que se depreendem dos dias sociais ainda carrega a autoridade de
usos e apropriações midiáticas das redes di- seus meios originários, porém, como desta-
gitais. Os autores acreditam que hoje se fala ca Malini, o isolamento desses veículos não
muito mais em políticas com base na partici- converge com práticas já adotadas pelos per-
pação, o que reflete um mundo onde o poder fis e páginas de movimentos e cidadãos que
dos meios, cada vez mais, repousa nas mãos fazem circular através da interatividade uma
dos membros das audiências, ainda que, des- pluralidade de conteúdos baseados em téc-
tacam, os meios de massa continuem detendo nicas e práticas de convergência. O ambiente
voz privilegiada no fluxo informacional. das redes vem sendo ocupado pelas mídias de
A mídia de massa já não se restringe aos massa, o que ainda ocorre a passos lentos é a
seus meios originais: um jornal não finda sua adaptação – e a experimentação – às possibi-
visibilidade nas páginas impressas, assim como lidades já consolidadas, ainda que dinâmicas,
um canal de TV não extingue se extingue na de espaços de circulação nos quais a unilate-
transmissão. Ambos estão nas mídias sociais, ralidade não é e nunca foi palavra de ordem.
por conta própria e pela atividade de seus con- Alguns ranços do modelo broadcasting ainda
sumidores, ou não. O questionamento a ser permeiam a ocupação desses espaços por ve-
feito é sobre como essa presença se produz e ículos da mídia de massa, que assim travam
se espalha diante de um cenário alternativo, uma espécie de concorrência com as mídias
que critica, aponta falhas e questiona práticas livres e atividades de participação, comparti-
comunicacionais. No dia 04 de julho, a Folha lhamento e interatividade características de
de S.Paulo publicou matéria na qual afirmava ferramentas diversas de comunicação digital.
a autoridade de jornais, portais e TVs brasilei- Para Jenkins, Ford e Green (2013), o es-
palhamento é uma evolução, os invés de uma
ros sobre o conteúdo compartilhado nas redes
revolução, devido a grupos e pessoas moti-
sociais sobre os protestos de junho, em função
vados a produzir e fazer circular conteúdos,
da quantidade de links da mídia brasileira es-
além de utilizarem inovações tecnológicas
palhados pelas redes.7 Entrevistado para esta
em suas práticas. Essa motivação é clara no
matéria, Malini (2013) rebateu as afirmações
que concerne às rotinas organizacionais e
do jornal explicando que por mais que o jorna-
comunicacionais de movimentos sociais e
lismo seja muito compartilhado, as causas são
coletivos midiáticos atuantes nas redes nos
óbvias: o rápido acesso ao poder constituído e
últimos anos. O espalhamento dos conteú-
a setores da sociedade civil e a concentração de dos adquire organicidade a partir de intera-
dinheiro que facilita a proximidade e o contro- ções e compartilhamentos, atribuindo a esse
le das fontes. No entanto, Malini aponta que modelo híbrido ressignificações sobre fluxos
não só os jornalistas adquirem autoridade, mas e dinâmicas de circulação.
perfis oficiais de mobilizações também, pois
possuem a exclusividade de notícias factuais,
como convocações de atos, por exemplo. Seu A busca pela democratização nas
rotinas dos coletivos midiáticos
ponto é de que a autoridade difere da noção de
centralidade, importante em um contexto de O número de coletivos midiáticos que,
redes como no caso dos movimentos sociais, e vinculados ou não aos movimentos, têm ado-
que se concentra nas mãos de manifestantes e tado uma pluralidade de ferramentas para
ativistas, como se pode observar recentemente. cobrir os protestos em diversas partes do
mundo não é um fenômeno tão recente. No
7
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/
poder/2013/07/1305911-jornalismo-domina-rede-social- início da década, os chamados warblogs (Re-
-durante-protestos-pelo-pais.shtml>. Acesso em: 17 jul. 2013. cuero, 2003) já faziam as vezes de uma cober-

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tura descolada das mídias de massa, quando O coletivo midiático Mídia Ninja vem se
blogueiros (jornalistas ou não) narravam a destacando no país, realizando a cobertura
Guerra no Iraque. Recuero apontava os war- não só dos protestos no Brasil, como também
blogs como representação de uma ruptura outros acontecimentos como, por exemplo,
importante nas formas de disponibilização da a visita do Papa ao país em julho de 2013.
informação, principalmente em função das Mídia Ninja significa “Narrativas Indepen-
tecnologias digitais. A prática foi apontada dentes, Jornalismo e Ação”, mas a expressão
pela autora como estimuladora de debates e também dá conta do trabalho desempenha-
trocas de informação entre autores e leitores, do por diversos “ninjas” – pessoas que vão às
modificando o fluxo de comunicação caracte- ruas em busca de notícias e relatos. O interes-
rístico dos meios de massa. Ao perceberem as se em participar de coletivos como o Mídia
mudanças, Recuero afirma que alguns veícu- Ninja é crescente: depois de 48 horas de uma
los tradicionais começaram a investir em blo- publicação no Facebook em que chamavam
gs para os seus jornalistas realizarem a cober- por tradutores e redatores, receberam mais
tura da guerra. Para ela, os warblogs buscavam de 2.500 e-mails. O coletivo também deu
formar fóruns de debate sobre a guerra, além origem à PosTV, um canal de transmissão
de permitirem que qualquer pessoa pudesse ao vivo pela Internet. O Tomada.tv nasceu
se manifestar sobre o assunto para o mundo, logo após os conflitos do dia 20 de junho de
transformando o fluxo de informação, antes 2013, como uma proposta complementar ao
predominantemente vertical, em horizontal. trabalho do Mídia Ninja, trabalhando edição
O surgimento de sites de redes sociais e roteirização dos registros feitos por cine-
fortaleceu ainda mais essa conjuntura de grafistas. O objetivo é catalogar e colocar em
transformações, ao oferecerem espaços de circulação vídeos sobre o que se passa na li-
conversação e compartilhamento de con- nha de frente dos protestos e na política que
teúdos diversos, inserindo a convergência fundamenta as reivindicações. Além dos ví-
nas dinâmicas comunicacionais baseadas na deos originais de atos e pronunciamentos de
horizontalidade. Os fóruns públicos hoje se políticos, o coletivo também reúne paródias
espalham por blogs, páginas, perfis e gru- em cima desses registros.
pos em redes sociais, nos quais o conteúdo O Linha de Frente é outro coletivo que tam-
da mídia de massa também circula, mas em bém produz material audiovisual, que busca
conjunto com a produção de diversos atores registrar a memória das manifestações e, ao
que, pautados pela busca de um processo de mesmo tempo, fazer um contraponto à mídia
comunicação mais democrático, não apenas tradicional. Assim, o grupo realiza reuniões se-
transmitem conteúdo, mas estimulam o diá- manais para avaliar o que é veiculado na mídia
logo e a participação dos cidadãos na cons- de massa, para então definir o que precisa ser
tituição coletiva dos processos de produção, mostrado nos vídeos. Na mesma vibração, o
circulação e consumo de informações. Os RioNaRua também trabalha, desde o dia 20 de
hoje denominados twitcastings, através de junho de 2013, para ser uma central de infor-
plataformas de vídeo e sistemas de streaming, mações para quem está nas ruas, participando
estimulam a produção de conteúdo audiovi- das manifestações, e para quem está em casa
sual, que acaba circulando não só nas redes, acompanhando as coberturas. Pautados pela
mas também em canais da mídia de massa, democratização da comunicação, buscam pro-
maximizando a convergência em termos mover o acesso à informação.
técnicos, e também estabelecendo uma re- Entre diferenças, algumas sutis, outras
circulação (Jenkins; Ford; Green, 2013) que nem tanto, em termos de organização e roti-
coloca em questão as argumentações sobre a nas, esses coletivos trabalham com um obje-
autoridade de uma mídia sobre a outra. tivo de narrar os fatos, sob diferentes ângulos,

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mostrando aquilo que julgam ser omitido mação e da emoção. Ainda assim contestam,
pela mídia de massa – o que, em alguns casos a cada questionamento, a ideia de que seriam
lhes confere um caráter visivelmente parcial movidos por interesses econômicos.
sobre os fatos. Para isso usam e criam novos Em meio a suposições e acusações, o
usos para tecnologias e ferramentas que am- fato é que o jornalismo, com base em tais
pliam a visibilidade dos conteúdos a partir práticas colaborativas, se ressignifica e de-
da participação e do compartilhamento que manda por reflexão sobre formatos, rotinas
impulsionam o modelo de espalhamento. e sistemas de circulação. A hegemonia da
Além dos “ninjas” que estão transmitindo ao mídia de massa vem perdendo força diante
vivo imagens, áudios e mensagens sobre as da evolução de um modelo híbrido de cir-
ruas, o engajamento se dá também por aque-
les que acompanham de casa, mas que tam-
bém trabalham nesse esquema, ainda que Além dos que estão
sem saber, ao compartilharem e colaborarem transmitindo ao vivo
para o espalhamento dos conteúdos. imagens, áudios e
Há poucos anos, a ideia de que práticas mensagens sobre as
colaborativas tratavam de cobrir o que a mí-
ruas, o engajamento se
dia de massa omitia ou deixava de publicar já
perpassava os estudos sobre jornalismo par- dá também por aqueles
ticipativo (Träsel; Primo, 2006), ainda que que acompanham de casa
de forma limitada ao acesso permitido por
canais de participação ao leitor em grandes
jornais ou a partir de blogs de caráter mais
local ou regional que buscavam levar aos ci- culação, que não elimina processos unilate-
dadãos notícias sobre suas localidades. Do rais de comunicação, mas que cada vez mais
início dos anos 2000 para cá, percebe-se a abre espaço para a ocorrência de dinâmi-
ampliação de dinâmicas colaborativas e par- cas colaborativas que, fundamentadas em
ticipativas, além da diversificação de forma- participação e compartilhamento, reconfi-
tos, conferindo às rotinas de trabalho opor- guram o cenário midiático que passa a ser
tunidades de convergência que englobam constituído por uma diversidade de atores
transformações nos níveis técnico, social e que moldam os processos de produção, cir-
cultural dos processos de produção, circu- culação e consumo a partir da convergência
lação e consumo dos conteúdos espalhados. estabelecida através de uma rede de pessoas,
Mas há que se atentar para a idoneidade dos meios, formatos e dispositivos.
processos. Assim como a mídia de massa é
seu alvo de duras críticas, esses coletivos, que Considerações finais
proclamam sua independência e liberdade
para cobrir os acontecimentos também são Quando da finalização deste texto, as ma-
questionados na própria rede. Frequente- nifestações pelo Brasil continuavam aconte-
mente circulam suposições e até acusações cendo e davam pistas de que estavam longe
de financiamentos de partidos políticos, já de cessarem. Pautados por várias causas, or-
que, por mais que tenham como bandeira ganizados por múltiplos grupos e cidadãos
a democratização da comunicação, não são os atos de protestos seguem acontecendo nas
imparciais, como qualquer veículo de comu- ruas e nas redes, onde através de usos e apro-
nicação. Em suas coberturas o trabalho se priações de ferramentas de comunicação di-
mistura com a participação nas manifesta- gital vêm se espalhando por inúmeros canais
ções, incorporando a manipulação da infor- de comunicação. A luta tem se mostrado não

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apenas pelo fim da corrupção, por melhores insere em um contexto de transformação de


condições de educação e saúde ou por me- modelos comunicacionais. As considerações
lhorias no transporte público, mas em gran- aqui apresentadas servem de fundamenta-
de parte pela constituição de mecanismos de ção para a continuidade da pesquisa sobre o
comunicação mais democráticos. tema, no intuito de colaborar para o avanço
Este artigo buscou construir apontamen- teórico sobre a comunicação no âmbito dos
tos acerca da convergência e do espalhamen- movimentos sociais, diante da proliferação
to que vêm marcando dinâmicas comunica- de práticas colaborativas que imprimem
cionais articuladas pelas mídias de massa e mudanças nos processos de produção, cir-
através do uso de mídias sociais por atores culação e consumo de conteúdos midiáticos.
diversos em um fluxo comunicacional que se (artigo recebido ago.2013/ aprovado out.2013)

Referências

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