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Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande
Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande
ISSN: 2178-1486 • Volume 4 • Número 12 • maio 2014
Edição Especial • Homenageado
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RESUMO: Este artigo tem o intuito de promover uma reflexão sobre a metodologia da pesquisa
sociolinguística e um dos aspectos que costumam inquietar o estudioso em descrição linguística é a
questão da seleção do informante para a pesquisa, quem deve ser entrevistado, qual a quantia ideal e que
critérios implicam a caracterização do informante ideal. Para auxiliar o pesquisador na busca por
respostas a tais indagações, acreditou-se na necessidade de um aporte teórico acerca da Teoria da
Variação Linguística (LABOV, 1966, 1972, 1983), enquanto aspecto mais concreto da Sociolinguística,
parte da Macrolinguística responsável por analisar a língua segundo dimensões sociais. A abordagem
metodológica, por sua vez, ficou a cargo dos pressupostos encontrados em Milroy & Gordon (2003), mas
igualmente tratados por Tarallo (2007), em cuja proposta se fundamenta o artigo. Ao discutir a pesquisa
sociolinguística, esse autor sugere a organização dos critérios para seleção dos informantes através de
grupos de células, a partir das quais, pode ser mais fácil quantificar o número de pessoas que atendem aos
perfis escolhidos. Espera-se, portanto, que o texto ofereça contribuições aos pesquisadores em
sociolinguística, de modo proporcionar condições para a execução de novas pesquisas a fim de explicar
melhor as nuances da heterogeneidade do português brasileiro.
1
Mestre em Linguística (UFPE) e Doutor em Letras (UFPB). É professor do Centro de Ensino Superior
de Arcoverde, em Pernambuco e se dedica a estudos (geo)sociolinguísticos em Pernambuco.
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Introdução
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Apesar de sua difusão entre os fins dos anos 60 e início dos anos de 70,
conforme encontrado em Romaine (1994), estudos já ocorriam desde os anos 50, período
em que os linguistas e sociólogos acreditavam na influência da linguagem na sociedade e o
contexto social da diversidade linguística.
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Além do gênero, a faixa etária também tem se mostrado fértil nas pesquisas de
variação linguística, a partir da relação entre as variantes inovadoras ou conservadoras e
os falantes que as produzem em sua fala espontânea. A esse respeito, Tarallo (2007, p.
65) menciona:
2
La lengua es una forma de conducta social; como tal, creada y moldeada por los seres humanos,
desarrolla diferenciaciones internas que corresponden a los parámetros que caracterizan a los diversos
subgrupos que constituyen el sistema social. Las correlaciones variacionales entre lengua y sociedad han
sido reconocidas desde siempre.
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Labov (1972) expôs, ao citar seu trabalho concretizado em Nova York na década
de sessenta, que os falantes pouco escolarizados optaram por construções da linguagem
não-padrão. As variantes cultas, por sua vez, predominaram nos falantes escolarizados,
pois, de acordo com a tradição, são bem-conceituadas socialmente. Tais formas:
[...] opõem-se aos falares das pessoas que não desfrutam de prestígio social e
econômico, pois ocorrem em contextos mais formais, mas elitizados, entre
interlocutores que se transformam em modelos e pontos de referência do bem
falar e escrever. As formas socialmente prestigiadas são semente e fruto da
literatura oficial, que as transforma em língua padrão (VOTRE 2004, p. 51).
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Tarallo (2007, p.27) sugere, inicialmente, que jamais se deixe claro que o
objetivo da pesquisa será uma análise da língua, pois isso inibirá o informante de usar a
variante mais espontânea, ou seja, se ficar claro que a pesquisa será sobre o plural das
palavras, será mais difícil obter exemplos sem a referida marca morfossintática.
A busca por informantes que sigam um certo parâmetro tende a ser uma das
tarefas mais árduas do pesquisador, seja pela dificuldade em encontrar a pessoa ideal,
solícita, com uma desenvoltura suficiente à coleta de dados e sem problemas
articulatórios, seja pelo próprio receio do informante, na sua grande maioria, com uma
instrução escolar limitada ou com pouco tempo disponível. Tarallo (op cit) sugere que
se recorra, inicialmente, a alguém que conheça o provável informante ou que tenha
algum parentesco com ele, pois facilitará o contato e a execução da pesquisa com maior
proveito.
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Assim, Tarallo (op cit, p. 28), sugere a distribuição dos parâmetros sociais –
chamados na Sociolinguística de variáveis independentes – em células. Por exemplo, se
o propósito é verificar a variação da consoante /r/ na fala de habitantes da zona rural e
da zona urbana e a hipotética influência do sexo (ou gênero), é necessário construir dois
grupos de células:
Se, no mesmo trabalho, o pesquisador quiser verificar até que ponto a faixa
etária do informante pode influenciar na preservação ou inibição do fenômeno em tela,
pode organizar outro conjunto de células:
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Uma forma de organizar os grupos de células de uma maneira ainda mais fácil é
através de uma estrutura arbórea, conforme disposto na figura 1:
Tarallo (2007, p. 29 – 30) sugere que sejam escolhidos cinco informantes para
cada célula, o que resultaria, no caso da distribuição da figura 1, em 120 pessoas a
serem entrevistadas e, ao final, ter-se-ia uma amostra representativa do fenômeno
pesquisado. Porém, caso fossem considerados menos grupos de células, naturalmente o
número de pessoas tenderia a diminuir. Seriam, então, 10 pessoas para o sexo, 20 para a
localização e 60 para a faixa etária.
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O linguista Fernando Tarallo faleceu muito jovem, aos 41 anos, em 1992, mas
isso não o impediu de deixar seu legado e as pesquisas sociolinguísticas realizadas nas
últimas duas décadas só ratificam essa reflexão.
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O trabalho realizado por Silva Filho (2010) sobre a variação das proparoxítonas
em Jabotão, cidade próxima à capital pernambucana, reforça a importância da escolha
de informantes, conforme a proposta de Tarallo (2007). Foram escolhidas apenas 12
pessoas, estratificadas conforme sexo, faixa etária entre 20 e 50 anos de idade e acima
de 50 anos de idade. A escolaridade também ficou aleatória, entre analfabeto e a 4ª série
(atual 5º ano) do ensino fundamental.
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Figura 3: Distribuição arbórea dos informantes da pesquisa de Silva Filho (op cit)
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