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Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande
Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande
ISSN: 2178-1486 • Volume 4 • Número 12 • maio 2014
Edição Especial • Homenageado
F E R N A N D O T A R A L L O

A PESQUISA SOCIOLINGUÍSTICA E A SELEÇÃO DE


INFORMANTES: O QUE SUGERE FERNANDO TARALLO?

Edmilson José de Sá1 (CESA)


edmilsonjsa@hotmail.com

RESUMO: Este artigo tem o intuito de promover uma reflexão sobre a metodologia da pesquisa
sociolinguística e um dos aspectos que costumam inquietar o estudioso em descrição linguística é a
questão da seleção do informante para a pesquisa, quem deve ser entrevistado, qual a quantia ideal e que
critérios implicam a caracterização do informante ideal. Para auxiliar o pesquisador na busca por
respostas a tais indagações, acreditou-se na necessidade de um aporte teórico acerca da Teoria da
Variação Linguística (LABOV, 1966, 1972, 1983), enquanto aspecto mais concreto da Sociolinguística,
parte da Macrolinguística responsável por analisar a língua segundo dimensões sociais. A abordagem
metodológica, por sua vez, ficou a cargo dos pressupostos encontrados em Milroy & Gordon (2003), mas
igualmente tratados por Tarallo (2007), em cuja proposta se fundamenta o artigo. Ao discutir a pesquisa
sociolinguística, esse autor sugere a organização dos critérios para seleção dos informantes através de
grupos de células, a partir das quais, pode ser mais fácil quantificar o número de pessoas que atendem aos
perfis escolhidos. Espera-se, portanto, que o texto ofereça contribuições aos pesquisadores em
sociolinguística, de modo proporcionar condições para a execução de novas pesquisas a fim de explicar
melhor as nuances da heterogeneidade do português brasileiro.

PALAVRAS-CHAVE: Sociolinguística; Variação; Informantes; Tarallo.

ABSTRACT: This article is intended to promote a reflection on the methodology of sociolinguistic


research and one of the aspects that tend to fuss the researcher in linguistic description is the question of
the selection of the informant to the search, who must be interviewed, what the ideal amount and what
criteria involve the characterization of ideal informant. To assist the researcher in the search for answers
to such questions, it was believed in the need for a theoretical contribution about the theory of Linguistic
Variation (LABOV, 1966, 1972, 1983), while more concrete aspect of Sociolinguistics, part of
Macrolinguistics responsible for parsing the language according to social dimensions. The
methodological approach, in turn, was in charge of the assumptions found in Milroy & Gordon (2003),
but also treated by Tarallo (2007), in which the proposal article is based. When discussing the
sociolinguistic research, this author suggests the organization of criteria for selection of informants
through groups of cells, from which it may be easier to quantify the number of people that meet the
chosen profiles. It is expected, therefore, that the text offer contributions to researchers in
Sociolinguistics, in order to provide conditions for the execution of new research to better explain the
distinctions of the heterogeneity of Brazilian Portuguese.

KEYWORDS: Sociolinguistics; Variation; Informants; Tarallo.

1
Mestre em Linguística (UFPE) e Doutor em Letras (UFPB). É professor do Centro de Ensino Superior
de Arcoverde, em Pernambuco e se dedica a estudos (geo)sociolinguísticos em Pernambuco.

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Introdução

Descrever uma língua implica dizer que o estudioso se colocará diante da


variação que ela possui quer influenciada por critérios que distinguem o falante
socialmente, quer influenciada pela região onde o falante mora ou até mesmo pela
cultura que ele detém.

Dentre os aspectos supracitados, destaca-se a questão de influência social, acerca


da qual versa a Sociolinguística, que permite explicar se a variação da língua é
ocasionada principalmente por conta do gênero, da faixa etária e da escolaridade do
falante.

Com a preocupação de explicar a variação da língua em diversas comunidades,


sobretudo nas que não constituem grandes centros urbanos, várias pesquisas têm sido
desenvolvidas, cujos produtos são verificados através de monografias, dissertações e
teses defendidas nas universidades brasileiras e, obviamente, além de suas fronteiras.
Isso implica uma necessidade contínua de rever conceitos e metodologias para que os
resultados sejam sempre proveitosos.

Deste modo, a fim de fazer uma reflexão sobre a metodologia da pesquisa


sociolinguística, pretende-se, nesse artigo, apontar alguns direcionamentos acerca da
seleção de informantes, tomando como inspiração as ideias preconizadas por Tarallo
(2007), mas já mencionadas em Labov (1966; 1972; 1983) e também encontradas em
Milroy & Gordon (2003).

Para atingir o objetivo proposto, o artigo se estrutura da seguinte forma:


inicialmente será feita uma abordagem sobre a variação linguística de cunho social. Em
seguida, serão apresentados alguns aspectos em que os parâmetros sociais são aplicados
a estudos linguísticos. Num terceiro momento, serão mencionados alguns critérios para
seleção de informantes à la Tarallo e, em seguida, para ratificar a eficácia do método,
serão descritas algumas pesquisas já realizadas. Por fim, apresentar-se-ão as
considerações finais e as referências utilizadas.

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1 Variação linguística e sociedade: conceitos e implicações

O homem expressa as suas ideias através da língua e também expressa as de sua


geração e da comunidade a que pertence. Deste modo, pode-se dizer que a língua é um
retrato de seu tempo e cada falante é usuário e agente modificador de sua língua,
fixando marcas motivadas pelas situações por ele vividas. Nesse sentido, concorda-se
com Câmara Jr.(1985), quando diz que a língua é distinto instrumento da projeção
cultural de um povo.

É, pois, através da vivência dessa cultura que as pessoas e grupos se reúnem,


permitindo a sua aproximação a práticas comunicativas, refletindo, assim, numa
mudança de comportamento intuída na variação da língua (WARDHAUGH,2006).
Tem-se, aqui, a prova de que as relações sociais interferem na comunicação.

A linha de pesquisa responsável por conceituar o estudo da língua em seu


contexto social, ou seja, por descrever todas as áreas do estudo da relação entre língua e
sociedade, é chamada de Sociolinguística.

Apesar de sua difusão entre os fins dos anos 60 e início dos anos de 70,
conforme encontrado em Romaine (1994), estudos já ocorriam desde os anos 50, período
em que os linguistas e sociólogos acreditavam na influência da linguagem na sociedade e o
contexto social da diversidade linguística.

A teoria em questão passou a ser chamada de Teoria da Variação e Mudança


Linguística, como pressupostos de análise da Sociolinguística, considerando parâmetros
sociais e linguísticos como modalizadores da sua diversidade, o que se ratifica nas
palavras de Silva-Corvalán (1989, p. 68), quando afirma que:

[...] a língua é uma forma de comportamento social. Como tal, criada e


moldada por seres humanos, desenvolve diferenciações internas que
correspondem aos parâmetros que caracterizam os diversos subgrupos que

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constituem o sistema social. As correlações variacionais entre linguagem e


2
sociedade têm sido reconhecidas desde sempre. (tradução nossa)

Percebe-se, nas palavras descritas acima, que as relações entre os falantes e as


características externas como sexo, faixa etária, etnia, escolaridade e nível
socioeconômico parecem ser refletidas sistematicamente em comportamentos
linguísticos diferenciados.

2 Aprofundando ideias sobre os parâmetros sociais e a relação com a variação


linguística

Conforme já mencionado no tópico anterior, a língua varia de falante para


falante e, para explicar o porquê de uma variante se sobressair em detrimento de outra,
costuma-se avaliar as dimensões sociais do falante, a exemplo do sexo, faixa etária e
escolaridade, na iminência de verificar uma possível mudança na língua ou a sua
estabilidade.

Quando se fala em sexo, logo se discorre sobre a sinonímia de gênero. Segundo


encontrado em Milroy & Gordon (2003), sexo diz respeito a um atributo biológico dos
indivíduos, enquanto o gênero é marcado como nível social. Todavia, a ideia é que se
considere a linguagem a partir do sexo do falante, mas a explique a partir do gênero. A
esse respeito, investigações têm apontado a mulher como mais detentora da forma
padrão como Labov (1972) elucida com os estudos de Gauchat (1905) e Fischer (1958).

Além do gênero, a faixa etária também tem se mostrado fértil nas pesquisas de
variação linguística, a partir da relação entre as variantes inovadoras ou conservadoras e
os falantes que as produzem em sua fala espontânea. A esse respeito, Tarallo (2007, p.
65) menciona:

2
La lengua es una forma de conducta social; como tal, creada y moldeada por los seres humanos,
desarrolla diferenciaciones internas que corresponden a los parámetros que caracterizan a los diversos
subgrupos que constituyen el sistema social. Las correlaciones variacionales entre lengua y sociedad han
sido reconocidas desde siempre.

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A relação de estabilidade das variantes (a situação de contemporização)


avultará, se entre a regra variável e a faixa etária dos informantes não houver
qualquer tipo de correlação. Se, por outro lado, o uso da variante mais
inovadora for mais frequente entre os jovens, decrescendo em relação à idade
dos outros informantes, há uma situação de mudança em progresso.

Ainda sobre a interferência obtida pelo falante, a escolaridade tem sido


reguladora do prestígio, já que ela exerce papel incisivo no comando das variantes
cultas.

Labov (1972) expôs, ao citar seu trabalho concretizado em Nova York na década
de sessenta, que os falantes pouco escolarizados optaram por construções da linguagem
não-padrão. As variantes cultas, por sua vez, predominaram nos falantes escolarizados,
pois, de acordo com a tradição, são bem-conceituadas socialmente. Tais formas:

[...] opõem-se aos falares das pessoas que não desfrutam de prestígio social e
econômico, pois ocorrem em contextos mais formais, mas elitizados, entre
interlocutores que se transformam em modelos e pontos de referência do bem
falar e escrever. As formas socialmente prestigiadas são semente e fruto da
literatura oficial, que as transforma em língua padrão (VOTRE 2004, p. 51).

Votre (op cit) ainda apregoa que o modo de comunicação do falante


desprestigiado econômica e socialmente tende a ser qualificado coletivamente como
exprobrado, ou seja, trata-se de uma linguagem inferior em termos estéticos e
informativos, pelos membros da comunidade discursiva.

3 Critérios de seleção de informantes para uma pesquisa sociolinguística

Para se fazer uma pesquisa sociolinguística, é preciso, a priori, definir o objeto a


ser pesquisado, seja de natureza fonética, léxica ou morfossintática. Em seguida, tendo
escolhido a comunidade a ser investigada, passa-se à seleção de informantes para
realização da pesquisa.

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Tarallo (2007, p.27) sugere, inicialmente, que jamais se deixe claro que o
objetivo da pesquisa será uma análise da língua, pois isso inibirá o informante de usar a
variante mais espontânea, ou seja, se ficar claro que a pesquisa será sobre o plural das
palavras, será mais difícil obter exemplos sem a referida marca morfossintática.

A catalogação dos dados depende de uma gravação prévia e só a presença do


instrumento de gravação poderá inibir ainda mais o informante, a menos que fique claro
que tal recurso apenas servirá de apoio, mas não será, em hipótese alguma, utilizado em
público ou identificará a autoria da mencionada gravação.

A busca por informantes que sigam um certo parâmetro tende a ser uma das
tarefas mais árduas do pesquisador, seja pela dificuldade em encontrar a pessoa ideal,
solícita, com uma desenvoltura suficiente à coleta de dados e sem problemas
articulatórios, seja pelo próprio receio do informante, na sua grande maioria, com uma
instrução escolar limitada ou com pouco tempo disponível. Tarallo (op cit) sugere que
se recorra, inicialmente, a alguém que conheça o provável informante ou que tenha
algum parentesco com ele, pois facilitará o contato e a execução da pesquisa com maior
proveito.

Para a escolha do informante, pode-se usar, in limine, o critério da amostragem


aleatória, típico dos primórdios da pesquisa sociolinguística, a exemplo do que Labov
(1966) realizou na comunidade de Martha’s Vineyard. Tarallo (2007, p.27) aconselha
que tal procedimento deve ser aplicado em grandes centros urbanos, para os quais o
pesquisador deve ter um cuidado maior nos informantes no que tange aos grupos
socioeconômicos.

Mesmo numa escolha aleatória, é necessário que o informante atenda a


determinado perfil. Se for delimitado que a pesquisa seja feita apenas com homens e
mulheres que já tenham ultrapassado os 50 anos, é possível catalogar variantes
conservadoras e, obviamente, refletir sobre as ocorrências que estariam próximas a
serem arcaizadas, algo que não poderia ser verificado, caso houvesse informantes mais
jovens.

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Tendo chegado a um consenso no objetivo do trabalho, eis uma dúvida que


ainda paira nas mesas do pesquisador: o número de informantes e a sua organização. A
questão é ter dados consolidados de que a marca em evidência realmente é característica
de um determinado grupo social.

Assim, Tarallo (op cit, p. 28), sugere a distribuição dos parâmetros sociais –
chamados na Sociolinguística de variáveis independentes – em células. Por exemplo, se
o propósito é verificar a variação da consoante /r/ na fala de habitantes da zona rural e
da zona urbana e a hipotética influência do sexo (ou gênero), é necessário construir dois
grupos de células:

Grupo 1 (localização) – zona rural e zona urbana (duas células)


Grupo 2 (sexo) – homem e mulher (duas células)
Então, a distribuição de células ficaria organizada da seguinte forma:
- Homem zona rural
- Homem zona urbana
- Mulher zona rural
- Mulher zona urbana

Se, no mesmo trabalho, o pesquisador quiser verificar até que ponto a faixa
etária do informante pode influenciar na preservação ou inibição do fenômeno em tela,
pode organizar outro conjunto de células:

Grupo 3 (Faixa etária) – 18 a 30 anos, 31 a 50 anos, mais de 50 anos (três células)


Caso deseje, o pesquisador pode, ainda, acrescentar a escolaridade do
informante, no intuito de verificar se o fenômeno está condicionado a qualquer uma das
células propostas para esse grupo de variáveis. Assim, poder-se-ia criar o seguinte
grupo:

Grupo 4 (escolaridade): ensino fundamental e ensino médio

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As combinações dos grupos escolhidos resultam na seguinte estrutura:

Sexo Localização Faixa etária Escolaridade


1. Homem Zona urbana 18 a 30 Ens. Fundamental
2. Homem Zona urbana 18 a 30 Ens. Médio
3. Homem Zona urbana 31 a 50 Ens. Fundamental
4. Homem Zona urbana 31 a 50 Ens. Médio
5. Homem Zona urbana Mais de 50 anos Ens. Fundamental
6. Homem Zona urbana Mais de 50 anos Ens. Médio
7. Mulher Zona urbana 18 a 30 Ens. Fundamental
8. Mulher Zona urbana 18 a 30 Ens. Médio
9. Mulher Zona urbana 31 a 50 Ens. Fundamental
10. Mulher Zona urbana 31 a 50 Ens. Médio
11. Mulher Zona urbana Mais de 50 anos Ens. Fundamental
12. Mulher Zona urbana Mais de 50 anos Ens. Médio
13. Homem Zona rural 18 a 30 Ens. Fundamental
14. Homem Zona rural 18 a 30 Ens. Médio
15. Homem Zona rural 31 a 50 Ens. Fundamental
16. Homem Zona rural 31 a 50 Ens. Médio
17. Homem Zona rural Mais de 50 anos Ens. Fundamental
18. Homem Zona rural Mais de 50 anos Ens. Médio
19. Mulher Zona rural 18 a 30 Ens. Fundamental
20. Mulher Zona rural 18 a 30 Ens. Médio
21. Mulher Zona rural 31 a 50 Ens. Fundamental
22. Mulher Zona rural 31 a 50 Ens. Médio
23. Mulher Zona rural Mais de 50 anos Ens. Fundamental
24. Mulher Zona rural Mais de 50 anos Ens. Médio
Quadro 1: Distribuição de células para realização de uma pesquisa com 4 grupos

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Uma forma de organizar os grupos de células de uma maneira ainda mais fácil é
através de uma estrutura arbórea, conforme disposto na figura 1:

Figura 1: Distribuição arbórea de 4 grupos de células

Tarallo (2007, p. 29 – 30) sugere que sejam escolhidos cinco informantes para
cada célula, o que resultaria, no caso da distribuição da figura 1, em 120 pessoas a
serem entrevistadas e, ao final, ter-se-ia uma amostra representativa do fenômeno
pesquisado. Porém, caso fossem considerados menos grupos de células, naturalmente o
número de pessoas tenderia a diminuir. Seriam, então, 10 pessoas para o sexo, 20 para a
localização e 60 para a faixa etária.

Percebe-se, aqui, que o trabalho de pesquisador em linguagem não é fácil, mas a


riqueza de dados catalogados e as variadas interpretações realizadas à luz de outros
estudos de mesma natureza ou de outras correntes de investigação linguística.

A julgar pela arduidade da pesquisa sociolinguística, Tarallo (op cit, p.31-32)


demonstra certa preocupação, acreditando na inibição do pesquisador em prosseguir
com o trabalho, dada a quantia de cuidados a serem tomados, mas, ao mesmo, em suas
próprias palavras, ele pede que não haja desânimo, pois só a experiência fará com que
novas estratégias sejam criadas e, pelo continuum, que os efeitos negativos ocasionados
pelas dificuldades sejam minimizados com o tempo.

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4 Alguns trabalhos de coleta de dados e a proposta de seleção de informantes de


Tarallo

O linguista Fernando Tarallo faleceu muito jovem, aos 41 anos, em 1992, mas
isso não o impediu de deixar seu legado e as pesquisas sociolinguísticas realizadas nas
últimas duas décadas só ratificam essa reflexão.

Considerando pesquisas mais recentes, destaca-se o trabalho de Carvalho (2007),


sobre a variação do ditongo decrescente em Recife. A autora entrevistou 48
informantes, escolhidos com base em três grupos de variáveis sociais, quais sejam: sexo,
faixa etária, escolaridade e localização. No que concerne à faixa etária, o grupo foi
estruturado em três células, semelhante ao que Tarallo (1982a) sugeriu: de 17 a 25; de
26 a 49 e de 50 anos em diante. Já no caso da escolaridade, foram construídas duas
células (até 4 anos e mais de 4 anos de escolaridade), enquanto a localização foi
organizada a partir de alguns bairros mais representativos do município, o que permitiu
a criação de duas células (os bairros do subúrbio e os bairros centrais). Os resultados do
trabalhos apontaram para a relevância da faixa etária em relação à localização do
informante e a sua escolaridade.

A pesquisa de Sá (2007) sobre a variação da consoante lateral /l/ em posição de


coda silábica na fala de Arcoverde, cidade do interior de Pernambuco, também seguiu o
modelo de células sugerido por Tarallo (2007), mas com algumas alterações. Nesse
trabalho, foram entrevistadas 48 pessoas, distribuídas equitativamente em grupos de
células de que fizeram parte os níveis sexo, faixa etária, escolaridade e localização.

A figura 2 mostra a organização arbórea do trabalho realizado por Sá (op cit).

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Figura 2: Distribuição arbórea do 4 grupos de células da pesquisa de Sá (op cit).

As indicações estruturadas na figura 2 são assim compreendidas:

a) Sexo: M – masculino ; F – feminino


b) Faixa etária: 1 – de 15 a 25 anos ; 2 – 26 a 49 anos; 3 – mais de 49 anos
c) Escolaridade: A – até 4 anos ; B – mais de 8 anos
d) Localização: r – zona rural ; u – zona urbana

O trabalho realizado por Silva Filho (2010) sobre a variação das proparoxítonas
em Jabotão, cidade próxima à capital pernambucana, reforça a importância da escolha
de informantes, conforme a proposta de Tarallo (2007). Foram escolhidas apenas 12
pessoas, estratificadas conforme sexo, faixa etária entre 20 e 50 anos de idade e acima
de 50 anos de idade. A escolaridade também ficou aleatória, entre analfabeto e a 4ª série
(atual 5º ano) do ensino fundamental.

O gráfico disposto na figura 3 insinua uma limitação no número de informantes,


o que não garante, em tese, a representatividade do fenômeno, cabendo, então, a outros
campos de análise a explicação para a variação existente.

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Figura 3: Distribuição arbórea dos informantes da pesquisa de Silva Filho (op cit)

Algumas considerações finais

O propósito deste artigo foi trazer uma reflexão sobre a pesquisa


sociolinguística, priorizando a metodologia aplicada para selecionar os informantes
necessários para a coleta de dados.

Inspirado em Tarallo (2007), foi sugerida a construção de grupos de células dos


mais variados parâmetros de natureza social, que visam a possibilitar a compreensão
sobre a preservação ou inibição de determinados fenômenos, com o auxílio de métodos
estatísticos das mais variada tipologias.

Conforme os exemplos citados no artigo, o modelo de organização de células


pode ser flexível, a depender do foco do pesquisador e algumas considerações
aproximativas que ele já detenha sobre o fenômeno. Porém, em certos casos, a
arduidade da pesquisa e talvez a inexperiência do pesquisador resulte numa coleta de
dados pouco organizada, o que pode comprometer a interpretação dos fenômenos.

Assim, ainda que se perceba alguma flexibilidade na organização dos grupos de


células que determinem o perfil do informante, é preferível que isso ocorra o mínimo,

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principalmente em relação a questões quantitativas de cada uma das células. Deste


modo, convém reforçar que a amostra pode ser aleatória, mas o foco da pesquisa nunca
poderá ser.

Referências

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Cecília & BRAGA, Maria Luiza. Introdução à sociolinguística variacionista: o
tratamento da variação. São Paulo: Contexto, 2004.

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, nº 12, mai. 2014 120
Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br
Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande
Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande
ISSN: 2178-1486 • Volume 4 • Número 12 • maio 2014
Edição Especial • Homenageado
F E R N A N D O T A R A L L O

WARDHAUGH, Ronald. An Introduction to Sociolinguistics. Oxford: Blackwell,


2006.

Recebido Para Publicação em 20 de abril de 2014.


Aprovado Para Publicação em 9 de maio de 2014.

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, nº 12, mai. 2014 121

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