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Ciência & Saúde Coletiva

ISSN: 1413-8123
cecilia@claves.fiocruz.br
Associação Brasileira de Pós-Graduação
em Saúde Coletiva
Brasil

de Albuquerque, Marli B. M.; Alvarenga Lima e Silva, Francelina Helena; de Oliveira


Cardoso, Telma Abdalla
Doenças tropicais: da ciência dos valores à valorização da ciência na determinação
climática de patologias
Ciência & Saúde Coletiva, vol. 4, núm. 2, enero, 1999, pp. 423-431
Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
Rio de Janeiro, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=63042994016

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Doenças tropicais: da ciência dos valores à valorização

TEMAS LIVRES FREE THEMES


da ciência na determinação climática de patologias

Tropical diseases: from the science of values to praise


of science on the climatic determination of pathologies

Marli B. M. de Albuquerque 1
Francelina Helena Alvarenga Lima e Silva 2
Telma Abdalla de Oliveira Cardoso 2

Abstract Microbiology as we know, has given Resumo A medicina e as observações científi-


the theoretical and methodological elements to cas incorporam noções de valores culturais as-
set up and evaluate the concept of “tropical dis- sociados aos aspectos climáticos para definir
ease”, to confirm and establish it. Tropical Med- um grupo nosológico específico denominado
icine is known today as a science dealing with “doenças tropicais”, “patologia dos climas quen-
parasites and infections, the most common tes” ou ainda “doenças exóticas”. Pretendemos
causes of health affections throughout the in- resgatar neste estudo a relevância do aspecto
tertropical zone of the globe. Due to a wider climático na definição de patologias, enfatizan-
identification of these infections, this speciality do as interseções ideológicas, políticas e cultu-
has increased its scope, the infections having a rais que contribuíram para a formulação de
natural diversity in the tropics. The vision of correntes de pensamento preocupadas em dis-
the tropics, which the main component includ- cutir cientificamente a importância do clima
ed the climatic determination of disease, is de- na construção ideológica de um “mundo parti-
creased today by the concept that diseases are cular”, os trópicos.
on a social and economic basis, as well as eco- Palavras-chave Doenças Tropicais; Doenças
logically set up. This interpretation which high- de Chagas; Medicina Brasileira; História
lights the physical and natural determinants of
disease, tends to place climatic, geographic and
biological factors on the same level, reducing
man to the animal interaction plan and turn-
ing culture and society as another way of the
environment.
Key words Tropical Diseases; Chagas Disease;
Brazilian Medicine; History

1 Casa de Oswaldo Cruz,


Fundação Oswaldo Cruz,
Av. Brasil 4036, sala 716,
21040-361, Manguinhos,
Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
laura@fiocruz.br
2 Núcleo de Biossegurança,
Fundação Oswaldo Cruz.
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Albuquerque, M. B. M.; Silva, F. A. L. & Cardoso, T. A. O

Os trópicos segundo os viajantes sobrevivência através da generosidade climá-


médicos e naturalistas a ciência dos tica, contrariamente aos países de climas frios,
valores; os trópicos como risco natural onde a sobrevivência dependia de uma orga-
nização mais complexa, onde os homens de-
Desde o século XVIII, viajantes percorreram veriam trabalhar e as técnicas deveriam se de-
as terras do Brasil procurando estudar e clas- senvolver a fim de organizar indústrias capa-
sificar a natureza tropical, destacando os as- zes de garantir o bem estar das populações do
pectos exóticos de um mundo tão vasto quan- norte.
to diverso em paisagens e ares. No século XIX, Estes valores, incorporados à mentalidade
a expansão das fronteiras das ciências físicas européia, iriam constituir um “pano de fundo”
e biológicas seria decisiva para a formulação permanente nas formulações de estudos ampa-
dos argumentos científicos para fundamentar rados pelo desenvolvimento da biologia no sé-
antigas noções de que a ambiência climática culo XIX. Alexandre Von Humbolt (1779-1859)
definia a ambiência social. Para Montesquieu tinha como objetivo científico a compreensão
(1772), os costumes dependiam do clima, que da totalidade complexa do universo; por isso
era o responsável pelos vícios que acabavam dedicou grande parte de seu trabalho à explo-
por fim em provocar desordem. ração da América tropical. O principal interes-
É o clima que deve decidir as coisas. De que se de Humbolt estava nas características físi-
serviria enclausurar as mulheres em nossos paí- cas e biológicas, tal como demonstraram seus
ses do norte, em que seus costumes são natural- estudos, onde as observações efetuadas nas re-
mente bons e onde todas as paixões são calmas, giões tropicais eram destinadas a explicar as
pouco ativas, pouco requintadas, onde o amor relações existentes entre vegetação, zonas de
tem, sobre o coração, um domínio tão controla- latitudes, climas e cultura, estabelecendo se-
do que a menor vigilância basta para orientá- melhanças entre as culturas asiáticas e nativas
las? Referindo-se à política, Montesquieu con- americanas.
siderava que: a servidão política não depende A leitura e classificação dos trópicos esta-
menos da natureza do clima do que a servidão va basicamente fundamentada nas teorias so-
civil e doméstica (...). bre o mundo elaboradas pela História Natu-
O calor excessivo diminuía a força e a cora- ral. Buffon (apud Duchet, 1975) considerava
gem dos homens e havia nos climas frios uma em seus estudos que os homens pertenciam a
certa força de corpo e de espírito que tornava uma única espécie de origem comum, contu-
os homens capazes de ações duradouras, pe- do as raças não européias teriam sofrido um
nosas, grandes e ousadas. tipo de degeneração, fato que explicava o cará-
Não nos devemos, pois, espantar que a co- ter primitivo dos homens dos trópicos, meros
vardia dos povos de clima quente os tenha, qua- contempladores da natureza. As causas dessa
se sempre, tornado escravos, e que a coragem dos especificidade do homem tropical seriam, se-
povos dos climas frios os tenha mantido livres. gundo Buffon, o resultado natural da influên-
É uma conseqüência que deriva de sua causa na- cia do clima que regulava a alimentação e os
tural Montesquieu (1772). costumes. O ano de 1859 marcou a publica-
Foi sobre este suporte ideológico que se ção do livro A Origem das Espécies de Charles
construiu a expansão da fronteira econômica Darwin, cujas idéias sobre adaptação ao meio
e cultural dos países dominantes da Europa e sobre a evolução influenciaram as ciências
ocidental durante o período moderno. Segun- sociais, contribuindo para a construção cien-
do Montesquieu, na Ásia reinava um espírito tífica de uma antropologia ancorada nas ques-
de servidão historicamente incorporado à cul- tões que relacionavam meio ambiente, “cultu-
tura daquele continente. O clima aliado à de- ras primitivas” e civilização.
terminação da exuberância da natureza expli- As observações da esfera biológica pare-
cava para a América a inclinação de seus ha- ciam proporcionar a chave do entendimento
bitantes para a liberdade. científico das diferenças em níveis culturais e
O que faz com que haja tantos povos selva- nas atividades econômicas, tal como explicita-
gens na América é o fato de seu solo produzir ram os estudos de Friedrich Ratzel (1844-1904)
por si próprio muitos frutos com os quais pode- em sua Anthropogeographie, cujo primeiro vo-
mos nos alimentar Montesquieu (1772). lume apareceu em 1882.
Entre os selvagens, o equilíbrio se manti- Os olhares científicos de inúmeros viajan-
nha pela preguiça; a natureza possibilitava a tes que percorreram as terras do Brasil formu-
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laram minuciosos estudos sobre o exotismo estado bruto. A superação do estado natural,
da natureza e da cultura tropical, alguns bas- propiciada em parte pela exigências do meio
tante “imaginosos”, preenchidos de pranchas ambiente menos luxurioso, possibilitava a re-
e mapas deixando claro o desejo de inventa- velação de homens superiores capazes de trans-
riar paisagens e populações num único con- formar as agruras da natureza em benefícios
texto natural. A paixão classificatória dos rela- supremos. Assim, segundo Buffon o homem
tos de viagens objetivava, em grande parte, in- civilizado, o europeu: ...traz à luz, graças à sua
formar às academias de ciências da Europa os arte, o que ela ocultava em seu seio. Quantos
achados. Esta fonte de informação científica tesouros ignorados! Quantas riquezas novas! As
contemplava juízos que os observadores em- flores, os frutos, os grãos aperfeiçoados, multi-
butiam em seus estudos. No relato da viagem plicados até o infinito; as espécies úteis de ani-
pelas províncias do Rio de Janeiro e Minas Ge- mais transladadas, propagadas, aumentadas
rais, Saint-Hilaire (1938) formulou em seu tex- inumeramente, as espécies nocivas reduzidas,
to uma apreciação discreta daquilo que ele confinadas, relegadas; (...) as torrentes conti-
atribuía à ignorância científica do país, justi- das, os rios dirigidos, constrangidos; (...) a ter-
ficando, em parte, a necessidade das expedi- ra acessível por toda parte, por toda parte viva e
ções estrangeiras que deveriam mostrar o Bra- fecunda; (...) os desertos trocados por cidades
sil ao Brasil e ao estrangeiro, apresentando co- habitadas Duchet (1975).
mo chave para o conhecimento da natureza Na primeira metade do século XIX, assim
dos trópicos o paradigma classificatório da como os naturalistas, os médicos viajantes tra-
História Natural. çaram detalhados estudos sobre as regiões
Entre tantas plantas às quais se atribuem fal- “exóticas”. Os rastreadores dos trópicos incluí-
samente propriedades maravilhosas, algumas ram nos seus registros as doenças, centrando
existem que fornecem remédios eficacíssimos. Se no clima as principais questões que explica-
existisse no Brasil maior número de homens ins- vam a natureza social, física e cultural das mo-
truídos, o governo desse país faria obra de gran- léstias identificadas como causa maior dos ma-
de utilidade, nomeando para cada província uma les que abatiam a população. Martius, por
comissão que se encarregasse de submeter a exa- exemplo, atribuiu a determinação do clima às
me minucioso todas as plantas de que se utili- diferenças do caráter das doenças ocorridas
zam os colonos para aliviar seus males. Por esse em São Paulo e no Rio de Janeiro.
meio poder-se-ia chegar a constituir, para os ve- A real inserção dos valores europeus na
getais, uma matéria médica brasileira, que elu- leitura do Brasil, efetivada pelos naturalistas,
cidaria os colonos a respeito de remédios inefi- não impediu que estes elaborassem a descrição
cazes ou perigosos, e ao mesmo tempo daria a da natureza tropical como esteticamente bela
conhecer aos nacionais e estrangeiros grande nú- e grandiosa, ao contrário dos médicos que de-
mero de plantas benéficas Saint-Hilaire (1938). senharam imagens soturnas, retratos som-
A observação de Saint-Hilaire sobre a ig- brios de uma natureza pestilenta, úmida e
norância dos homens a respeito de sua própria quente, propiciadora de hábitos insanos e pro-
região natural, sugeria que a generosidade pro- míscuos.
piciada pelo ambiente natural não significava Apesar das diferenças existentes nos esti-
muito, pois os benefícios da natureza só pode- los e preocupações dos seus relatos, médicos
riam ser utilizados positivamente pela interfe- e naturalistas fundamentaram suas conclusões
rência do homem através da classificação que sobre o paradigma que privilegiava a impor-
possibilitava uma seleção racional dos recur- tância da natureza como explicação para a cul-
sos naturais. Saint-Hilaire, em sua apreciação tura e para o clima como determinantes da
expressava de forma atenuada o pensamento saúde das populações e do caráter dos povos.
de Buffon sobre as correspondências entre ci- Um outro enfoque sobre a natureza huma-
vilização, clima e natureza com as potencialida- na do Brasil, também condicionada pelo cli-
des humanas. Para Buffon (apud Duchet, 1975) ma, reconhecia no brasileiro uma vocação na-
a superioridade dos europeus, traduzidas na tiva para o prazer, para a liberdade e para a li-
beleza e perfeição desses homens manifestava- bertinagem, características atribuídas ao com-
se nas relações que estes estabeleciam com a portamento coletivo, o que contribuía para o
natureza, ao contrário dos homens selvagens aumento do risco de propagação de doenças.
que eram resistentes às tarefas empreendedoras, Essa visão foi em parte baseada na observação
preferindo usufruir do mundo natural em seu dos índios, tidos como indolentes, pouco ades-
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trados para o trabalho regular, adeptos das ma, uma afeição refletida, meditada, analisada,
danças e das bebidas fermentadas, traiçoeiros, sistemática, um produto da educação Montes-
desconfiados e rebeldes. Quase animais, pre- quieu (1772).
feriam a morte ao cativeiro. A intensa proxi- O desdobramento de tais formulações, de-
midade entre brancos, negros e índios, favo- saguariam nas teses que associaram clima e in-
recia a expansão de uma mestiçagem degene- ferioridade cultural, fatores decisivos para ex-
rada, refrataria à ordem requerida pelas socie- plicar a miscigenação, fato que justificava a
dades civilizadas. idéia da inferioridade racial. Para muitos au-
Assim, o clima foi também um argumen- tores, a mestiçagem favoreceu a moldagem de
to relevante para explicar a triste realidade da uma sub-raça indolente, incapaz para o tra-
miscigenação, pois o calor favorecia a exibi- balho construtivo e reprodutor. Gobineau
ção dos corpos semi despidos, suados; cenas (apud Peixoto, 1975), por exemplo, baseado
do quotidiano que estimulavam uma sensua- nesta idéia profetizou a extinção do Brasil.
lidade não controlada, hábitos que possibili- O setenciamento dos “tristes trópicos”, ex-
tavam, em parte, o contágio e a propagação de pressão usada por Claude Levi-Strauss, foi co-
doenças. Em seu livro, publicado em 1848, Étu- mum nos registros científicos. Citamos como
des sur le Brésil, o médico francês, Dr. Alphon- exemplo os de Bryce apud Peixoto (1975) e
se Rendu, quando do relato que descreve os Buckle apud Peixoto (1975). O primeiro, após
brasileiros, concluía que les jeunes Brésiliens observar a flora brasileira, verificando um
sont souvent pervertis presque au sortir de grande número de espécies vegetais em peque-
l’enfanse; outre l’exemple de leurs pères qu’ils nos espaços e comparando-a com a vegetação
ont sous les yeux, garçons et filles, maîtres et es- gregária da Europa, colocou a seguinte ques-
claves, passent ensemble la plus grande partie tão. Se a flora apresentava tal desagregação, os
de la journée à demi vêtus; la chaleur du climat animais, os homens não seriam também de-
hâte le moment de la puberté, les désirs excités sagregados?
par une éducation vicieuse el le mélange des se- Buckle apud Peixoto (1975), consideran-
xes sont souvent provoqués par les négresses, et do mais o aspecto climático, afirmou que o ex-
ne rencontrent jamais d’obstacles; la débauche cesso de calor e de umidade dificultava no Bra-
s’empare peu à peu de ces enfants et les précipi- sil a constituição de uma civilização avança-
te bientôt dans un abattement physique et mo- da, buscando como prova de sua afirmação, a
ral Rendu (1848). comparação entre os “selvagens” brasileiros,
O julgamento feito por Rendu, fazia parte os incas e os astecas Peixoto (1975).
do imaginário europeu sobre um mundo des- Esta visão fatalista dos habitantes dos tró-
conhecido, misterioso e primitivo, onde os ho- picos pode ser identificada ainda hoje. O ho-
mens agiam segundo o clamor da natureza; mem nordestino, o sertanejo em particular, o
por isso expressavam livremente seus desejos “paraíba”, é tido nos centros urbanos, sobre-
e eram mais afeitos aos prazeres furtivos. A tudo nos do Sudeste, como ser inferiorizado,
própria composição física dos habitantes dos no largo contexto de vida da espécie a que per-
trópicos favorecia uma maior agilidade e sen- tence. Homem – quase se pode dizer – mutante,
sualidade dos gestos e da expressão corporal, o não genético, propriamente, mas ambiental, das
que facilitava o alcance do prazer exigido so- características originais de seus semelhantes. In-
mente pelo corpo destituído de sentimento e ferioridade que se exterioriza no nanismo físi-
espiritualidade, sendo o ato sexual quase uma co e no retardo mental, mas atestada pela des-
manifestação do instinto. nutrição, pelas parasitoses e infecções, sempre
Montesquieu (1772), descreveu para a En- presentes como razões causais da injúria orgâ-
ciclopédia (1762) um verbete onde os habi- nica. Gente de obituário precoce e de saúde cons-
tantes das regiões de clima quente eram apre- tantemente abalada Pereira (1990).
sentados aos europeus como (...) menores, mais De uma certa forma, o sertanejo nordesti-
magros, mais vivos, mais alegres, comumente es- no é a versão atualizada do “Jeca Tatu”, perso-
pirituosos, menos laboriosos, menos vigorosos nagem de Monteiro Lobato, metáfora de um
(...) que os habitantes dos países frios; (...) que Brasil miserável, improdutivo, ignorante,
nos climas muito quentes, o amor é nos dois se- doente, responsável também pela desgraça po-
xos um desejo cego e impetuoso, uma função cor- lítica do país. Para “Jeca Tatu”, o ato mais im-
poral, um apetite, um grito da natureza, (...) que portante da sua vida é votar no governo. Vota.
nos climas temperados ele é uma paixão da al- Não sabe em quem, mas vota Barbosa, (1981).
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Abrimos aqui um parêntese para lembrar vam o controle das doenças através da drena-
que uma das grandes polêmicas sobre misci- gem dos pântanos para os aterros, e o sanea-
genação e propagação de doenças, pautou-se mento e a urbanização das cidades, formulan-
sobre o tema da “sifilização do Brasil”. Segun- do um ideal higiênico, que visava ao estabele-
do Gilberto Freyre (1993), a sifilização come- cimento de normas profiláticas prescritas pa-
çou a ocorrer quando dos primeiros encon- ra os corpos e para as relações sociais.
tros fortuitos de europeus com índias nas A orientação indicada pelo higienismo re-
praias da costa brasileira. A grande epidemia velava a possibilidade de neutralizar os efeitos
da doença na França no século XVI, teria sido negativos do clima em benefício da constru-
a principal causa da transferência da doença ção de uma sociedade organizada e civilizada.
para o Brasil. Contudo os mesmos estudos O grande projeto de recuperação da ima-
mostram que estavam também os portugue- gem do Brasil, país tido como pestilento e de-
ses infectados, pois o mal assolou o Velho vorador de estrangeiros, foi arquitetado e exe-
Mundo em fins do século XV Freyre (1993). cutado como meta prioritária do governo de
Alguns estrangeiros, como Sigaud, atribuí- Rodrigues Alves, que prometia a moderniza-
ram à sífilis um caráter tropical, contudo os ção visível dos centros urbanos a curto prazo.
primeiros viajantes e cronistas que se referem Para realizar a recuperação sanitária do Rio de
ao clima e às doenças do Brasil não assinala- Janeiro, o governo convocou o médico Oswal-
ram a existência da doença entre os índios que do Cruz, que utilizando-se dos métodos reco-
viviam isolados e mantinham-se longe do con- mendados pela bacteriologia, alcançou um in-
tato com os europeus. questionável sucesso no combate às epidemias
A incidência de doenças estaria também li- que graçavam na cidade. Estava a bacteriologia
gada à perversão moral, à bestialidade e ao sa- no centro do foco científico, imprimindo e
dismo, comportamentos moldados nos homens modificando conceitos nas ciências da saúde,
brasileiros desde da infância, pois a proximi- determinando a natureza microbiana das
dade com os animais domésticos e com os ne- doenças e indicando terapêuticas baseadas nes-
gros escravos favorecia o despertar de uma se- te princípio.
xualidade anormal induzida pelos efeitos do Como sabemos, a bacteriologia permitiu
clima sobre os hábitos e desejos humanos. aos países dominantes da Europa a ocupação
No que diz respeito à ação médica, a redu- dos territórios coloniais da África e da Ásia,
ção dos efeitos maléficos do clima sobre a saú- onde as doenças “tropicais” representavam um
de dos homens centrava-se na perspectiva de efetivo risco para os colonizadores. Os países
fundamentar a identificação da doença e sua mais envolvidos na partilha da África duran-
classificação através dos sinais externos e de te o século XIX, criaram seus institutos de me-
sua relação direta com os elementos do meio dicina tropical. Os mais importantes foram, o
ambiente, com a alimentação e com os costu- Instituto de Medicina Tropical de Hamburgo,
mes. Os ares das regiões quentes não eram sa- o Curso de Medicina Colonial de Paris, a Lon-
lubres e um dos fatores agravantes dessa má don School of Tropical Medicine, a Liverpool
qualidade do meio ambiente era a existência School of Tropical Medicine, o Tropical Iara
de inúmeros sítios pantanosos determinado da Holanda, a Écule de Medicina Tropical da
pela umidade. A razão teórica da medicina pa- Bélgica, além do Instituto Pasteur de Paris, um
ra explicar a inferioridade climática dos tró- dos principais irradiadores do saber elabora-
picos era comprovada pela insalubridade des- do pela microbiologia.
sas regiões, confirmada em estudos científicos
que verificaram que nos pântanos estão em di-
gestão e dissolução substâncias animais e vege- A reconstrução do conceito de “doença
tais, as quais na presença de grandes calores, en- tropical” e a autoridade científica de
trando em putrefação, dão origem a pestíferos Carlos Chagas. A valorização da ciência
gases, que devem levar a todos os viventes os pre-
liminares da morte, já pela sua ação imediata No fim do século XIX, franceses, ingleses e ale-
na periferia do corpo, e continuação das suas mães, deixaram o confortável e organizado so-
membranas, já pela entrada nos órgãos da res- lo europeu para habitar e dominar um mun-
piração Silva (1808). do de hábitos, cores, clima e doenças exóticos.
Em torno dessa razão teórica da medicina Nesse mundo agressivo e inóspito, o inimigo
miasmática, as medidas práticas aconselha- principal era invisível, o microrganismo que
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fazia de sua aparente passividade a principal As novas perspectivas científicas das pes-
resistência à penetração de corpos estrangeiros quisas praticadas pelos europeus nos trópicos,
no macromundo político econômico, social e sobretudo as realizadas pelos pastorianos nas
cultural. colônias francesas da África e da Ásia, atribuí-
Armados com o saber da microbiologia, os ram grande importância ao clima para a defi-
“missionários” da nova ciência elaboraram nição de patologias, confirmando o termo tro-
pesquisas para tornar visível os agentes pato- pical. Dessa forma, a nosologia relacionada
gênicos das doenças tropicais que poderiam com o clima foi um dos elementos teóricos que
comprometer a ocupação européia. Segundo definiu o modelo de investigação da parasito-
Albert Delaunay (1962) Os brancos não supor- logia fundamentada na microbiologia e, em
tam climas desconhecidos para eles; sobretu- última análise, estabeleceu como “verdades
do porque sofrem com as doenças infeciosas, científicas” as diretrizes teóricas e metodoló-
perdas terríveis. Tem-se a sensação de que to- gicas inscritas no modelo experimental.
da uma patologia específica deve ser criada Para Carlos Chagas (1903) o período da
para que se possa estabelecer, em seguida, uma ciência inaugurado por Pasteur representou a
profilaxia. A bacteriologia , única capaz de re- “renascença da medicina” através da “via segu-
solver dificuldades, se torna então o centro de ra da experimentação”, meio pelo qual se aban-
todas as atenções” (Delaunay, 1962). donaram as “hipóteses arbitrárias” para o ri-
Grande parte dos tratados médicos basea- gor da observação clínica, estabelecendo o de-
dos na teoria microbiana sobre “doenças exó- terminismo dos fenômenos mórbidos. Para tan-
ticas”, associaram os aspectos climáticos dos to, dava-se base anatômica às concepções pato-
países de clima quente com as patologias in- gênicas, estabelecendo, finalmente pela obra ge-
fecciosas e parasitárias. Estes tratados atribuí- nial de Pasteur, a etiologia da moléstia.
ram à ciência microbiológica o poder e a real A medicina experimental baseada na mi-
possibilidade de controlar um universo mais crobiologia era tida como a “chave” com a qual
amplo, interferindo na organização social, im- se abririam as possibilidades de resolução de
primindo políticas, reorganizando a econo- todas as questões ligadas ao entendimento do
mia e reavaliando valores culturais. universo vivo, percebendo-o em suas multi-
No Précis de Pathologie Exotique de Jean- plicidades cíclicas de reprodução da vida em
selme e Rist (1909), o discurso político colo- todas as suas dimensões. A via da experimen-
nialista justifica a urgência das pesquisas cien- tação microbiológica permitia o entrecruza-
tíficas sobre as doenças parasitáriasl O discur- mento de vários domínios do conhecimento
so médico deixa de ter uma conotação do ob- científico capazes de respaldar a eficiência do
servador externo, para ser o formulador de modelo e formular, para o cientista, uma con-
ações precisas sobre os perigos oferecidos pe- cepção otimista frente ao universo microscó-
los trópicos, não só para o colono, mas sobre- pico, agora visível e dizível. Esta certeza nas
tudo, ao projeto colonial. O perigo tropical é possibilidades da experimentação era tradu-
visualizado nas endemias que comprometem a zida por Chagas como uma profunda confian-
energia e a saúde da força de trabalho. ça na “vitória” da ciência no combate às enti-
A velha Europa continua conscientemen- dades mórbidas. A doença vista enquanto mo-
te na conquista de terras inexploradas, para lá léstia tinha agora uma designação de caráter
vende seus produtos (...), mas o branco não po- provisório e caberia à microbiologia fornecer
de se manter neste meio hostil, senão na con- os elementos da “cura infalível” ou as soluções
dição expressa de se conformar estritamente profiláticas das entidades mórbidas dos maio-
com as regras da higiene e da profilaxia(...). res flagelos humanos através dos soros cura-
As grandes endemias tropicais fazem também tivos e pelas vacinas imunizantes.
vítimas entre as raças de cor, onde não há colo- Como observamos, Carlos Chagas atribuía
nização possível, na zona tórrida, sem a aju- à microbiologia a certeza de solução para todas
da da mão-de-obra nativa. Dela, na maior par- as questões apresentadas como desafio ao do-
te, depende o sucesso. Ela é o braço que deve mínio de conhecimento das ciências da saú-
executar obedientemete, o que o cérebro do de. Imbuído dessa convicção, Chagas dirigiu
branco concebeu(...). O conhecimento das seu interesse para as investigações das doen-
doenças dos países quentes aparece portanto ças parasitárias, primeiro a malária e depois a
como uma necessidade pública. (Jeanselme & tripanossomíase americana, entidade mórbi-
Rist, 1909). da por ele definida como patologia específica,
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em 1909, e conseqüentemente classificada co- tam-se por algumas unidades apenas, as doen-
mo doença tropical. A partir desse momento, ças exclusivas dos países tropicais, e também,
Chagas iria levantar um grande debate para raríssimas aquelas circunscritas aos países frios
reavaliação e relativização do conceito de e temperados. A maioria das espécies mórbidas
doença tropical, definida também como, doen- escapam as delimitações geográficas, nas quais se
ças dos países quentes ou doenças exóticas, de- deveria basear o conceito de uma patologia de
fendendo a necessidade da criação de uma área latitudes, e as mesmas doenças se representam
de conhecimento própria para o estudo de nos quadros nosológicos de todas as regiões do
doenças tropicais na Faculdade de Medicina globo. A sífilis, a tuberculose, o câncer, as infec-
do Rio de Janeiro. Seu discurso tinha duas di- ções do grupo colli-tifo, as pneumopatias infec-
reções, uma no sentido político institucional, ciosas, as parasitoses intestinais, e grande nú-
outra no sentido estritamente científico. mero de outras espécies infecciosas, atingem o
A justificativa política, buscava o modelo homem em quaisquer zonas da terra, desde as
europeu para reforçar seus argumentos para mais frias, de climas glaciais, até as de tempe-
oficializar uma cadeira de doenças tropicais. raturas mais elevadas, de climas tórridos. E se
As nações da Europa, zelosas de suas colô- assim ‘e relativamente’ as infecções, mais se afir-
nias nos trópicos, organizaram-se em especiali- ma a uniformidade nosológica, em todos os paí-
zações, seja nas universidades ou em grandes ses, quando apreciamos os processos mórbidos
institutos de pesquisas, o estudo e o ensino da que independem, mediata ou imediatamente,
patologia dos países quentes. Aqui, não tanto os de agentes animados. Na patologia de aparelhos
interesses de ordem econômica, quanto deveres e sistemas orgânicos nunca se decifram varian-
do mais exaltado e previdente nacionalismo nos tes regionais apreciáveis, senão constância dos
obrigam ao estudo e à pesquisa da nosologia bra- elementos fundamentais e dos sinais, que por
sileira, a fim de promover o aperfeiçoamento de toda parte se caracterizam. Por outro lado, mes-
nossa raça, de raros predicados nativos, e reali- mo no agrupamento das entidades mórbidas,
zar, pelo método profilático, a redenção sanitá- que o critério epidemiológico unânime reuniu
ria de nosso território Chagas (1926a). e classificou, mesmo aí, a maioria das doenças
Chagas pronunciava um discurso de auto- transpõe os limites geográficos das zonas equa-
ridade científica, reconhecida internacional- toriais que se verifica em países de clima tem-
mente graças ao impacto de sua descoberta. perado ou mesmo frio Chagas (1926a).
Foi respaldado, em parte, neste poder que Cha- Como exemplo da problemática da classi-
gas assumiu a sucessão de Oswaldo Cruz na ficação das patologias ditas exóticas, o palu-
direção do Instituto Oswaldo Cruz, posição dismo, moléstia mais vulgarizada como “pe-
que favoreceu a introdução no espaço institu- rigo dos trópicos”, tinha focos tradicionais na
cional da Faculdade de Medicina, o saber bio- Europa, como na Itália e nas regiões mineiras
médico produzido em Manguinhos. da Europa Setentrional. Sendo doença carac-
O discurso científico relativizava o concei- terizada como cosmopolita, era verificada sob
to de doença tropical; assim Chagas iria dis- a forma endemo-epidêmica, mesmo nos países
tinguir o aspecto climático do geográfico: o de clima frio e temperado. Contudo, a Ama-
clima afeiçoa a nosologia dos países quentes. zônia, por exemplo, oferecia, segundo Chagas,
Com esta afirmação, Chagas iria recupe- as condições climatológicas ótimas para à evo-
rar o debate conceitual das denominadas pato- lução sexual do protozoário, a sua propagação
logias tropicais. Pelo fato de estarem situados e o estímulo à voracidade sugadora do mos-
os países do hemisfério sul na faixa climática quito transmissor.
de predominância tropical, eles não estavam Também as duas tripanossomíases huma-
condenados à exclusividade das patologias pa- nas, a doença de Chagas e a doença do sono,
rasitárias (as mais identificadas como tropi- constituíam nos níveis epidemiológicos e en-
cais), assim como os países do hemisfério nor- dêmicos, patologias características dos climas
te, de clima temperado, não estavam a salvo tropicais e subtropicais. O próprio descobri-
das mesmas. Dessa maneira, a denominação dor da tripanossomíase americana deixava cla-
tropical ou exótica, era um artifício classifica- ro em seu estudos que sabemos que estas doen-
tório, que sintetizava, para além das doenças ças não são exclusivas de países quentes, porque
e do clima, um valor cultural incorporado his- uma e outra têm sido verificadas em zonas frias
toricamente na mentalidade européia. Segun- ou temperadas, onde existem apenas os agentes
do Chagas são muito poucas, em verdade, e con- transmissores; mas, como as influências clima-
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Albuquerque, M. B. M.; Silva, F. A. L. & Cardoso, T. A. O

tológicas se exercitam intensas sobre as glossi- ticas ou tropicais, inscreveram-se na ciência


nas e sobre os triatomas, e se fazem ainda sentir dos vetores, visto que o meio, sobretudo o fa-
sobre a biologia dos flagelados, modificando- tor climático, fundamentava a teoria da vei-
lhes as condições de evolução no hematófago, a culação mecânica dos agentes patogênicos.
epidemiologia e a curva endemo-epidêmica des- No final do século XIX e início do XX, as
sas doenças apresentam feição correlata (Cha- investigações realizadas pelos cientistas dos
gas, 1926a). grandes centros de pesquisas europeus nas co-
A peste bubônica e o cólera foram flagelos lônias da Ásia e da África, resultaram em des-
europeus, não só nas regiões portuárias do Me- cobertas significativas no campo da parasito-
diterrâneo, mas também na Rússia, apesar das logia orientada pelo modelo microbioano.
baixas temperaturas. Bruno Latour refere-se à três possibilidades
O calazar fez parte do quadro epidemioló- que explicam o sucesso do novo modelo cien-
gico da Espanha e foi registrado em outros paí- tífico na intervenção sobre as doenças “exóti-
ses da Europa. A difusão da leishmaniose cu- cas” nos territórios coloniais da Europa, da
tânea na Argentina contribuiu para reforçar o África e da Ásia.
argumento de que as doenças, ditas tropicais, Primeiro, a maior parte das doenças eram
escapavam às restrições climáticas que funda- novas. A clínica era unicamente feita pelos mé-
mentavam a classificação e a nomenclatura dicos militares, os primeiros a usarem a pas-
adotada. teurização. Os pastorianos não precisavam pois
A lógica que orientou esta classificação es- de usar velhas clínicas seculares. Segundo, as
tava baseada nas características específicas das doenças que poderiam despertar interesse,
manifestações mórbidas das doenças, modifi- eram todas provocadas por germes ou por pa-
cadas pelas condições climáticas, o que deter- rasitas. Terceiro, a maior parte das doenças
minava uma observação biológica diferencia- acompanhava o ciclo de vida dos insetos La-
da dos agentes patogênicos nas regiões tropi- tour (1984).
cais. Utilizando-se desses pressupostos, Car- Ao abordar a pertinência entre vetores e
los Chagas justificou o estabelecimento de um climas para fundamentar cientificamente a de-
ensino próprio no domínio da medicina tropi- nominação “nosologia dos países quentes”,
cal no Brasil, explicitando que não faltam à Chagas afirmaria que bastará de sobra para
patologia dos países quentes características fun- concretizar o raciocínio emitido, referir apenas
damentais, que a delimitam como ramo espe- alguns aspectos da nosologia dos países quentes;
cial da medicina” Chagas (1926a). e melhor e o mais depressa podemos concluir, se
Estas características estavam portanto, no argumentarmos com as doenças transmitidas
âmbito das “verdades científicas”, ligadas às pelos insetos sugadores, nos quais é decisiva a
“exigências biológicas” dos germes patogênicos influência dos fatores climáticos, que aí se exer-
e no mecanismo de sua difusão nos climas citam principalmente, senão exclusivamente,
quentes, pois a compreensão da doença de- sobre a biologia do germe patogênico e do agen-
pendia da elucidação de três aspectos, ou se- te transmissor Chagas (1926).
ja, o contágio, o meio e a virulência. A microbiologia, como vimos, forneceu os
Para a teoria microbiana, no contágio di- elementos teóricos e metodológicos para rea-
reto, o meio era irrelevante, pois os germes não valiar e relativizar o conceito de “doença tro-
encontrando o meio exterior favorável não pical” para enfim legitimá-lo e confirmá-lo.
eram capazes de processar organicamente a Reconhece-se hoje a medicina tropical, co-
evolução, a transformação, para permanecer. O mo domínio da ciência voltada para as infe-
contágio direto dava-se de indivíduo a indiví- ções e parasitoses, que são as causas mais co-
duo. muns do comprometimento da saúde humana
Para o contágio indireto, o clima, entendi- na zona intertropical do globo. Esta especia-
do como meio externo, assumia importância lidade têm sido ampliada em função da iden-
fundamental, pois determinava a vitalidade tificação de uma diversificada natureza dessas
do germe e propiciava o contágio permanen- afeções nos trópicos.
te através das condições mesológicas ideais, A visão fatalista dos trópicos, cujo princi-
permitindo uma relação vital perfeita entre o pal componente foi a determinação climática,
agente patogênico e seu hospedeiro. está hoje minimizada pela noção de que as
A partir das diferenças estabelecidas entre doenças são sociais, economicamente impos-
contágio direto e indireto, as patologias exó- tas e ecologicamente ambientadas. As inter-
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Ciência & Saúde Coletiva, 4(2):423-431, 1999


pretações que priorizaram os aspectos físicos gráficos, biológicos, etc., reduzindo o homem
e naturais na determinação das doenças, ten- à sua dimensão animal e convertendo a pro-
deram a colocar sob um mesmo plano natu- dução da cultura e da sociedade num elemen-
ral-a-histórico os elementos climáticos, geo- to a mais do meio.

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