Para entender a caracterização do sujeito projetado, ou seja, a imagem que
faz de si no discurso, é necessário que se recorra ao conceito de ethos.
Segundo a concepção aristotélica, o ethos é a imagem que o orador projeta de si mesmo no discurso, e que desempenha importante papel na persuasão.6 Na referida carta, Pessoa formula uma espécie de exórdio, no qual apresenta a primeira caracterização de sua imagem autoral: pede desculpas ao destinatário e evoca a precariedade do meio sobre o qual a escrita irá se desenvolver. Ao explicar, por exemplo, os motivos da publicação de Mensagem, Pessoa insiste na não premeditação do livro, reforçando, através do apelo ao acaso, a imagem de escritor extraordinário: Coincidiu, sem que eu o planeasse ou o premeditasse (sou incapaz de premeditação prática), com um dos momentos críticos (no sentido original da palavra) da remodelação do subconsciente nacional. O que fiz por acaso e se completou por conversa, fora exactamente talhado, com Esquadria e Compasso, pelo Grande Arquitecto.7 Nesse trecho, insiste-se no caráter involuntário da decisão de Pessoa de publicar sua obra, ressalta-se a “coincidência” de que Mensagem veio a público em um