Tabacaria foi escrito em 15/1/1928 e pertence a terceira
fase, da obra poética de Álvaro de Campos, caracterizada
por um profundo pessimismo e marcante angústia. O poeta traz na sua poética temas como o cansaço e a inquietação confrontado com o incompreensível. Igualmente importantes e presentes são o niilismo, o sentimento de revolta, o inconformismo, a desumanização, um vazio deprimente e a desilusão própria dos tempos do pós-guerra. Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Nos quatro versos iniciais há uma configuração de
fracasso, espaço em que Álvaro de Campos confessa o seu insucesso, apresentando como algo sem solução. Organizado como um poema narrativo o poeta reflete sobre questões existenciais. Ele retrata uma angústia voltada para o tudo e para o nada, oscilando entre interioridade e cosmos, repleto de paradoxos e exageros. Assim, estabelece um diálogo de antíteses que se complementam: o tudo é nada; a Verdade é inacessível. A consciência desse fato torna o próprio cotidiano pesado. Permeando essa narrativa surgem diálogos com alguém não identificado, mas sugerido como sua musa da inspiração. Procurando inutilmente inspiração em figuras clássicas – deusas gregas, marquesas do séc. XVIII, trovadoras ou imagens modernas ainda não delineadas A consciência da verdade inalcançável é um peso tão desgastante que só aparece próximo da morte: “Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade. / Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer”. Álvaro de Campos evidencia a angústia ontológica, não encontra uma referência segura para suas inquietações. A consciência da inutilidade leva-o a sentir-se exilado. Nos versos finais o eu-poético e o dono da tabacaria, que é um ser sem inquietações metafísicas, são confrontados. Campos sente a real inutilidade e se envolve em uma profunda solidão.