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26522016 1291
REVISÃO REVIEW
A systematic review of the process of regionalization
of Brazil’s Unified Health System, SUS
Abstract This review focuses only on specif- Resumo Nesta revisão foram incluídos apenas
ic studies into the SUS regionalization process, estudos específicos sobre o processo de regionaliza-
which were based on empirical results and pub- ção do SUS, baseados em resultados empíricos e
lished since 2006, when the SUS was already un- publicados a partir de 2006, já sob o referencial do
der the aegis of the Pact for Health framework. Pacto pela Saúde. Foi evidenciado que o processo
It was found that the regionalization process is de regionalização é hoje uma realidade em todas
now underway in all spheres of government, sub- as esferas de governo, sujeito a um conjunto de de-
ject to a set of challenges common to the different safios comuns às diversas realidades do país. Entre
realities of the country. These include, primarily, os principais, os colegiados são valorizados com
that committee-structured entities are valued as espaços de inovação, mas ainda em busca da supe-
spaces for innovation, yet also strive to overcome ração da cultura política burocrática e clientelista.
the bureaucratic and clientelist political culture. A governança regional é ainda prejudicada pela
Regional governance is further hampered by the fragmentação do sistema e, em particular, pela
fragmentation of the system and, in particular, histórica deficiência com planejamento, desde o
by the historical deficiency in planning, from the nível local às políticas estratégicas de incorpora-
local level to the strategic policies for technology ção tecnológica. As análises permitiram implicar
incorporation. The analyses enabled the identifi- a cultura de amplo privilégio para negociação po-
cation of a culture of broad privilege for political lítica em detrimento do planejamento como uma
negotiation, to the detriment of planning, as one das principais responsáveis por um ciclo vicioso
1
Departamento de of the main factors responsible for a vicious circle que sustenta a deficiência técnica da gestão.
Medicina Preventiva, Escola
Paulista de Medicina, that sustains technical deficiency in management. Palavras-chave Regionalização, Descentraliza-
Universidade Federal de São Key words Regionalization, Decentralization, ção, Reforma dos serviços de saúde, Política de
Paulo. R. Botucatu 740/4º, Health services reform, Health policy saúde
Vila Clementino. 04023-
062 São Paulo SP Brasil.
gmello@unifesp.br
2
Departamento de Medicina
Preventiva, Faculdade de
Medicina, Universidade de
São Paulo. São Paulo SP
Brasil.
3
Escola Nacional de Saúde
Pública, Fiocruz. Rio de
Janeiro RJ Brasil.
1292
Mello GA et al.
432 46 10
Metadados
79 13 10
Literatura
cinzenta
102
Resumos
40
Leitura
integral
26
Estadual
5 Souto Júnior Papel da CIB na 2004 a Artigo Estudo de caso de abordagem
(2010) regionalização do SUS-MG 2007 original qualitativa
Fontes: atas de reuniões da CIB/
MG
Dimensão Federal
1 l Tipologia regional: “dois Brasis”, Norte/Sul:
1. situação socioeconômica menos desenvolvida e sistema de saúde menos complexo: alta cobertura de
PSF; baixa relação médicos/hab.; maior percentual de leitos SUS
2. situação socioeconômica mais desenvolvida e sistema de saúde mais complexo: mais de 30% de planos e
seguros privados, maior número de médicos e faculdades de medicina
l Prestação: mix público-privado disseminado e sem padrão definido (predominância do prestador
saúde
l Percepção de um vetor de encurtamento das distâncias entre os “dois Brasis”
avançada
l Impactos institucionais do processo: radicais, incrementais, embrionários ou ausentes
l Processo regional orientado pela equidade – acesso e financiamento (19 estados); foco também na
ampliação da capacidade instalada (17); integração com outras políticas econômicas e sociais (5)
l Quase todos os estados: organização de redes e fluxos induzidas pelas normativas federais
qualificação técnica
l Atores: predomínio SMS e SES; privado (11 estados), universidades (3), consórcios (3) e Legislativo (2)
nos estados com maior tradição de planejamento regional, contextos mais favoráveis, e priorização nas
agendas estaduais e municipais, além de forte atuação das SES no planejamento
l Também nas áreas mais populosas, densamente urbanizadas e modernizadas, concentradoras de
regionalização
l Centro-Oeste – contextos mais favoráveis, institucionalidade intermediária e avançada da regionalização
regionalização
4 l A tipologia proposta aproxima-se dos pressupostos teóricos relacionados aos determinantes sociais do
l Predomínio de interesses de regiões de maior poder econômico e político na repartição dos recursos,
continua
1296
Mello GA et al.
Quadro 1. continuação
Tipo de
N Autor Objetivo/Dimensão Período Metodologia
publicação
Estadual
7 Vargas et al. Fatores de influência na 2010 a Artigo Estudo de caso de abordagem
(2014) implementação política de 2012 original qualitativa. Fontes: entrevistas
Redes Integradas de Saúde ligadas à gestão (17), grupo focal,
- PE observação, análise documental
Macrorregional (intra/interestadual)
10 Stephan-Souza Regulação do acesso em Juiz 2007 Artigo Estudo de caso de abordagem
et al. de Fora, com foco no HU/ original qualitativa. Fontes: entrevistas
(2010) UFJF. Macrorregião Sudeste ligadas à gestão (10)
MG (94 munic./1,6 mi hab)
continua
1297
Estadual
7 lFinanciamento da CIR e estrutura de funcionamento indefinidos
l Critérios de construção e coordenação das redes imprecisos
política partidária
l Subfinanciamento
l Rotatividade de gestores
cartorial
l Pautas privilegiam os ritos da CIT-CIBs em detrimento dos problemas locais
9 l 52% dos procedimentos hospitalares e 72% dos ambulatoriais foram realizados sob gestão municipal
l Maiores índices de dependência na assistência hospitalar em relação à ambulatorial
lAs regiões da Região Metropolitana da Grande São Paulo apresentaram maior dependência em relação ao
Interior
l A gestão municipal tem influência sobre o índice de dependência, mas está condicionado ao contexto
equidade
l Apesar do maior papel dos municípios, a média complexidade hospitalar ainda é dividida com a SES,
privados
l Dificuldade com planejamento e execução da assistência nas regiões de saúde
Macrorregional (intra/interestadual)
10 l Hospitais universitários (HU)/UFJF: fluxo informal intra e interestadual
l PDR intraestadual: não regula fluxo do RJ para MAC do município
gestão
l HU/UFJF: resistências internas à proposta de regionalização do SUS; descompasso entre pensamento do
continua
1298
Mello GA et al.
Quadro 1. continuação
Tipo de
N Autor Objetivo/Dimensão Período Metodologia
publicação
Regional
11 Pereira (2009) Papel da SES na 2003 a Dissertação Estudo de caso de abordagem
regionalização do SUS/MG 2007 de qualitativa. Fontes: entrevistas
mestrado ligadas à gestão (18) e análise
documental
Regional
11 l Regionalização antiga, mas historicamente, descoordenada e fragmentada
l Falhas no papel do estado em controlar o processo
l SES: fonte de estímulo e apoio técnico à gestão microrregional e redes de atenção; administração indireta
l Descontinuidade de gestão
l SES: notável fragilidade estrutural e técnica para assumir novo papel regulador
- Capacidade técnica limitada das SMS; desconfiança gestora sobre transparência do processo
(ocultamento de oferta); coexistência de mecanismos forais e informais de pactuação; racionalidade
técnica da PPI; subfinanciamento; interferência de Hospitais Municipais na regulação regional; falta de
governabilidade regional e municipal para discutir a competência financeira; Regiões metropolitanas;
invasão proveniente de localidades externas à região; mecanismos formais de coordenação do cuidado
insuficientes; falta de protocolos de encaminhamento; foco na MAC; modelo medicalizante; redução de
oferta em serviços acadêmicos; distância e transporte; pagamento por produção
16 l Invasão dos serviços do SUS por munícipes vizinhos
continua
1300
Mello GA et al.
Quadro 1. continuação
Tipo de
N Autor Objetivo/Dimensão Período Metodologia
publicação
Regional
17 Silva MJ Análise do CGR Região Oeste 2010 a Dissertação Estudo de caso de abordagem
(2014) – MT (12 municípios) 2012 de qualitativa. Fontes: entrevistas
mestrado ligadas à gestão (11), observação e
análise documental
19 Silva, Gomes Aplicação do PDR, PPI, PDI 2010- Artigo Estudo de caso de abordagem
(2014) na Grande ABC – SP 2011 original qualitativa. Fontes: entrevistas
ligadas à gestão(10), análise
documental
continua
1301
Regional
17 l Descontinuidade da política de regionalização fortalecida entre 1995 e 2002
l CGR enfraquecidos por “recentralização” da SES/MT
funcionamento adequado
l Espaço valorizado pelos atores, mas de legitimidade relativa
l Baixa regulação do setor privado contratado. Compra de serviços no mercado privado por valores acima
da Tabela do SUS (pagamento direto a médicos de outros municípios por procedimentos já custeados pelo
SUS)
19 l PDR: necessidade de atualização para equilibrar a relação oferta/demanda
l CGR: espaço importante, mas com governabilidade parcial: “somatório das partes”
l Interferência político-partidária
21 l Vale do Ribeira. Baixo protagonismo regional. Relação de dependência da DRS. Suporte do consórcio da
instalada
l ABC paulista: maior protagonismo, dinâmica mais compartilhada e horizontalizada. Relação com
consórcio metropolitano
l Baixada Santista: desmonte do processo anterior. Rotatividade de gestores
l Governo do Estado: distante, autoritário, burocrático, quando não dificultador. Forte prestador com
colegiado regional
l CIR: dificuldade de sair da pauta da assistência, interesses municipais, vulnerável aos interesses
particulares
l COAP pouco referido – mais na captação financeira do que de pactuação regional
continua
1302
Mello GA et al.
Quadro 1. continuação
Tipo de
N Autor Objetivo/Dimensão Período Metodologia
publicação
Regional
22 Kehrig et al. Regionalização da 1995- Artigo Estudo de caso de abordagem
(2015) saúde sob o recorte da 2009 original qualitativa. Análise documental.
institucionalidade e Fontes: atas da CIB-CGR (também
governança. Região Sul-Mato- regulamentos, regimentos e
Grossense (MT) instrumentos de gestão.
Fronteiriça
24 Preuss, Regionalização na fronteira ? Artigo Estudo de caso de abordagem
Nogueira entre Brasil (RS), Argentina e original qualitativa. Fontes: entrevistas
(2012) Uruguai ligadas à gestão (n?)
Metropolitana
25 Spedo et al. Regionalização metropolitana 2005 a Artigo Estudo de caso de abordagem
(2010) do município de SP. (foco em 2008 original qualitativa. Fontes: entrevistas
uma Supervisão Técnica) ligadas à gestão (5) e análise
documental
continua
1303
Regional
22 l Forte indução da SES, principalmente nos oito primeiros anos de existência da CIB Regional (1995-
2002)
l Organização de consórcios intermunicipais, criação das CIB Regionais, câmaras de compensação para
l Dificultadores:
l CIR: fórum importante de negociação e pactuação, mas com participação limitada dos gestores
l SES: centralizadora, mas ausente nas questões de regulação e pouco apoio técnico aos municípios
Fronteiriça
24 l Conselho Municipal de Saúde: principal ator no processo de pactuação
l Ações de integração isoladas, distância dos centros decisórios
Metropolitana
25 l Fracasso da reforma regional intramunicipal
l SMS: caráter centralizador; separação político-administrativas entre atenção básica e a assistência
hospitalar e U/E. Não assumiu de fato a gestão dos ambulatórios e hospitais estaduais
l Poder institucional e resistência dos hospitais em se integrar ao sistema de saúde
l Falta de negociação prévia com atores institucionais. Baixa inclusão das várias representações (ex.
usuários)
l Indefinição do papel estadual
26 l “Dupla identidade”, metrópole e região: prob. regionalização vs. prob. implantação da região
metropolitana
l “Invisibilidade” do tema metropolitano para o gestor local e regional
l CIR: importante espaço de discussão. Fragilidade técnico-política a mantém como espaço meramente
homologatório
l Baixa capacidade de regulação: mecanismos informais e interpessoais associados
* Recentemente foram publicados artigos das teses/dissertação. Entretanto foram mantidos os resumos dos trabalhos originais, até
por terem maior amplitude do que os artigos iniciais gerados42-44.
1304
Mello GA et al.
Quadro 2. Categorias prevalentes sobre regionalização no discurso ligado à gestão pública em saúde no Brasil.
Albuquerque, 2013
Martinelli, 2014
Mesquita, 2011
Pereira, 2009
Guerra, 2015
Coelho, 2011
Silva, 2014
Importância da indução x x x
Federal
Subfinanciamento x x x x x x x x
SMS/SES: cultura x x x x x x x x
burocrática, perfil
centralizador
SMS: baixa capacidade x x x x x x x x x x x x x x x
técnica, rotatividade
SES: baixa liderança e x x x x x x x x
apropriação do processo
CIR/CGR: importância, x x x x x x x x x x x x x x x x
inovação
CIR/CGR: burocrática, x x x x x x x x x x x x x x x
interesses,
vulnerabilidade
Planejamento: baixa x x x x x x x x x x x x x
cultura,carência de
instrumentos
Regulação: baixa x x x x x x x x x
clareza,carência de
instrumentos
Jurídico: carência de x
instrumentos efetivos
Influência do mix estado/ x x x x x x
mercado (público/
privado)
Dificuldade na inserção/ x x x
oferta dos hosp.
universitários
Apoio do COSEMS x x x x x
* Duarte et. al (2015) estão ausentes do quadro por não trabalharem elementos discursivos.
Categoria onipresente, as SMS, principais Como regra, a esfera estadual é vista como
responsáveis pelo pressuposto da gestão coope- o parceiro ausente. Há certo clamor para que as
rativa, solidária e de interdependência regional, SES assumam maior papel de liderança na co-
são vistas como estruturas burocráticas de perfil ordenação do processo regional, com presença
centralizador. Sua atuação é ainda prejudicada efetiva na regulação, mediação e negociação. En-
pela descontinuidade política decorrente da ro- tretanto, é reconhecida sua fragilidade estrutural
tatividade de secretários. A fragilidade técnica e técnica para este novo protagonismo.
é talvez seu maior ponto de vulnerabilidade. O
CONASEMS aparece citado como importante
apoiador no processo regional.
1305
A esfera estadual, por sua vez, agrega pouco como elo frágil do processo). Balança em que se
no cômputo global, na maioria das vezes tida pesam continuamente medidas estruturais e não
como omissa, algumas como entrave. No entan- estruturais na busca de um equilíbrio dinâmico10.
to, a fragilidade técnica do ente municipal – mas
também estadual – surge como um dos entraves Necessidades municipais e a regionalização
mais categóricos do processo de regionalização
no país; sem dúvida com reflexo na percebida A gestão municipal é amplamente interpreta-
vulnerabilidade e burocratização dos CGR/CIR. da como um elo frágil e dificultador do proces-
De modo geral, as categorias temáticas resul- so regional, questão que naturalmente embute a
tantes são de compreensão imediata, sendo des- ideia de que a melhoria técnica do quadro mu-
necessário estender discussões específicas sobre nicipal impactaria na capacidade regional. Sem
cada uma. Entretanto, a dimensão e a perenidade dúvida, mas, de fato, os estudos não avançam em
desse conjunto em diálogo com o contexto his- uma questão nuclear: porque essa fragilidade não
tórico-estrutural do país permite aprofundar as dá mostras de reversão ao longo do tempo? Não
análises em categorias analíticas mais robustas, parece ser apenas um problema do ‘como fazer’,
realizadas a seguir. algo para o qual alguém logo sugeriria cursos téc-
nicos, de especialização e afins, ou apenas ligada
Regionalização, descentralização à rotatividade.
e re-centralização Sob outro olhar, pode ser aventado que o foco
das análises esteja demasiadamente concentrado
Há uma crítica renitente à participação da no conteúdo regional da reforma, na formação
SES no processo regional. Embora seu enuncia- de redes, na assistência, em detrimento dos ato-
do tenha origem no âmbito da regionalização, o res envolvidos50. Aqui pensando especificamente
problema é anterior e se remete ao processo de em inverter a perspectiva da visada para o muni-
descentralização4,5. Provavelmente, com influên- cípio como ator principal interessado na regio-
cias mais abrangentes e antigas, pois o desenho nalização e suas próprias necessidades (e não na
da polarização entre municípios e federação já ‘regionalização’ interessada no município). Deste
havia sido caracterizada na política varguista47. novo ponto de vista, aparentemente paradoxal,
Uma questão, portanto, é saber em que medida parece despontar a necessidade de apoio, reforço
o processo regional depende também da atuali- e investimento na gestão municipal como parte
zação da questão federativa. inerente das próprias políticas de regionalização.
Sabe-se que a municipalização trouxe um pa- Questão que releva também a discussão do papel
drão mais democrático de governança local48,49. do COSEMS, ator pouco rememorado nos estu-
Mas, inversamente, é conhecido o problema da dos, mas sempre de forma positiva.
descentralização com a iniquidade regional, bu- A indução exitosa da capacidade técnica mu-
rocratização e politização dos níveis locais, ao nicipal é uma possibilidade histórica concreta51.
mesmo tempo em que dificulta a regulação do Fica o desafio de se pensar um modelo de indução
nível central6, justamente as motivações para o que fortaleça tecnicamente município e região em
fortalecimento da questão regional no país. paralelo, e em período de tempo aceitável. É como
Os estados brasileiros alcançaram estágios di- se necessitasse – e se necessita – entrar em uma
ferenciados de descentralização na saúde, o que sociedade pós-industrial, sem antes experimentar
se traduz em particular no grau de controle sobre a industrialização; ou entrar em uma adminis-
a média e a alta complexidade (MAC), definindo tração pública moderna, sem antes experimentar
posição privilegiada ao hospital de referência na uma administração burocrática eficiente.
organização do sistema. O papel que esse hospi- Em posição serena e reflexiva, Gilles Dus-
tal exerce na governança regional é ainda pouco sault52 assinala aquela que lhe parece a maior
compreendido no processo de regionalização14. diferença gerencial entre as culturas anglo-saxãs
Há certa percepção de que os estados que mais e latinas: “o grau de profissionalização e corres-
avançaram na descentralização dos seus sistemas pondente despolitização da gestão dos serviços
de saúde têm hoje mais dificuldade em regular o de saúde e, em geral, dos serviços públicos”;
processo regional, o que levantaria a possibilida- aliada a uma tradição de formação em gestão e
de de que algum grau de recentralização poderia favorecimento da nomeação meritocrática, es-
ser benéfico em alguns casos (questão certamente pecialmente “para postos de direção em que esta
incompleta, uma vez que São Paulo detém consi- resulta das competências e experiências que cor-
derável componente da MAC e é também visto respondem às exigências específicas da função”.
1307
vernança regional deve enfrentar a fragmentação a política parece bem representada na presença
do sistema e a histórica deficiência com plane- significativa das universidades no processo regio-
jamento, desde as questões locais às políticas es- nal em apenas três estados35, além da histórica di-
tratégicas, como a incorporação tecnológica. As ficuldade de inserção dos hospitais universitários
análises permitiram uma incisiva implicação da no planejamento da rede assistencial23. De fato, o
cultura de amplo privilégio da negociação políti- descompasso entre a implementação de políticas
ca em um ciclo vicioso que sustenta a deficiência sociais e a pesquisa acadêmica tem sido descri-
técnica da gestão. to na literatura internacional como um desafio
Uma produção científica em franco amadure- comum59. Uma variável fundamental na baixa
cimento releva, entre outras características, a la- reflexividade do desmonte recente dos processos
tência entre as prioridades políticas estabelecidas regionais da saúde canadense teria sido justa-
no setor saúde e a capacidade de reação acadêmi- mente a ausência de evidências científicas sobre
ca em prover evidências e indicadores do proces- as políticas instituídas9.
so. A distância entre as prioridades acadêmicas e
Colaboradores
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br/index.php/reciis/article/view/84/79 Versão final apresentada em 23/09/2016