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Apelação Cível Nº 1.0000.21.

080342-5/001

<CABBCAADDAABCCBCABBCCABDACCBABBCBACAADDADAAAD>
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM
PAGAMENTO - INSUFICIÊNCIA DO DEPÓSITO JUDICIAL - CORREÇÃO
MONETÁRIA E JUROS MORATÓRIOS - INCIDÊNCIA - CABIMENTO -
TERMO INICIAL - DATA DE VENCIMENTO. Ante a insuficiência do
depósito judicial efetuado, deve o pedido formulado na ação de
consignação em pagamento ser julgado parcialmente procedente,
liberando o devedor apenas do que foi depositado judicialmente e
determinando a apuração do valor remanescente do débito em sede de
liquidação de sentença.
APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0000.21.080342-5/001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - APELANTE(S): BANCO DO
BRASIL SA - APELADO(A)(S): EDNILSA FEITOZA DO NASCIMENTO

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 13ª CÂMARA CÍVEL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da
ata dos julgamentos, em REJEITAR A PRELIMINAR E DAR PARCIAL
PROVIMENTO AO RECURSO.

DES. JOSÉ DE CARVALHO BARBOSA


RELATOR

Fl. 1/9

Número Verificador: 1000021080342500120213645513


Apelação Cível Nº 1.0000.21.080342-5/001

DES. JOSÉ DE CARVALHO BARBOSA (RELATOR)

VOTO

Trata-se de Recurso de Apelação interposto por BANCO DO


BRASIL S.A., nos autos da Ação de Consignação em Pagamento
movida por EDNILSA FEITOZA DO NASCIMENTO, perante o Juízo da
20ª Vara Cível da Comarca de Belo Horizonte, tendo em vista a
sentença proferida nos seguintes termos:
“Ante o exposto, e por tudo mais que dos autos
consta, julgo procedente o pedido inicial e, assim,
resolvo o mérito processual, nos termos do art. 487,
inciso I do vigente Código de Processo Civil, para
declarar extinta a obrigação da autora em relação
ao contrato descrito na peça de ingresso, ficando os
valores depositados nos autos à disposição da parte
ré para levantamento.
Baseado no conhecido Princípio da
Causalidade, condeno a parte ré ao pagamento das
custas processuais e honorários advocatícios, os
quais arbitro em 15% sobre o valor da causa, nos
termos do art. 85 do Código de Processo Civil.
Transitada em julgado, nada mais sendo
requerido e tomadas as providências necessárias,
arquivar com baixa e anotações pertinentes.”

Em suas razões recursais, o réu, ora apelante, alega que o valor


consignado é muito inferior à quantia realmente devida.
Diz que o contrato deve ser respeitado.
Salienta que a autora não levou em conta os encargos moratórios e
a correção monetária.
Aduz que não há nenhuma prova de que tenha se negado a receber
qualquer quantia ou, até mesmo, que tenha se negado a resolver a
questão de forma amigável.
Defende que a real intenção da autora é se ver livre de sua dívida
sem precisar pagar os encargos moratórios ou a correção monetária.
Eventualmente, pede a redução dos honorários advocatícios.

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Preparo regular (doc. nº 107/108).


Contrarrazões anexadas ao documento nº 111, arguindo preliminar
de não conhecimento do recurso por razões dissociadas.
É o relatório.
Conheço do recurso.
PRELIMINAR
Não conhecimento do recurso
Afirma a parte apelada que o banco réu não rebateu os
fundamentos da sentença, pelo que seu recurso não merece ser
conhecido.
No entanto, de uma simples leitura das razões recursais, nota-se
que o banco réu deixa claro os motivos pelos quais entende que a
sentença recorrida merece ser reformada.
Assim, rejeito a preliminar e conheço do recurso.
MÉRITO
Extrai-se dos autos que a autora ajuizou ação de consignação de
pagamento alegando que era sócia minoritária da empresa PAMPULHA
CERVEJARIA DA ESQUINA LTDA., empresa essa que contratou um
empréstimo com a instituição financeira ré, com vencimento em 15 de abril
de 2011.
Salientou que, embora o sócio majoritário tenha se comprometido a
arcar com o pagamento da integralidade do empréstimo, quedou-se inerte.
Afirmou que, após se desligar da referida empresa, começou a
trabalhar como vendedora de cosméticos, mas que, após passar pelo
período de experiência, não pode ser contratada, pois seu nome estava
negativado nos cadastros de restrição ao crédito em razão da referida
dívida.
Disse ter procurado o banco réu para quitar sua dívida, mas que
este lhe informou que “o recebimento de valores deveria ser pelas vias
judiciais”.

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Em sua defesa, o banco réu esclareceu que a parte autora atuou


como garantidora do contrato de empréstimo, empréstimo esse
“proveniente do Fundo de Amparo ao Trabalhador”.
Afirma que, mesmo que a autora tenha ido a qualquer agencia para
negociar o seu débito, o que nega ter ocorrido, essas agências “não têm
alçada para recebimento de valores de linhas de crédito financiadas com
recursos públicos”.
Alegou, ainda, que o valor depositado pela autora é menor do que a
quantia realmente devida.
O douto Magistrado a quo entendeu por bem julgar procedentes os
pedidos iniciais, ao fundamento de que era dever do banco réu “indicar o
montante que entende devido”.
Pois bem.
A ação de consignação em pagamento é o procedimento que a lei
concede ao devedor para exercitar o seu direito de pagar uma dívida,
sempre que, por qualquer razão, surjam obstáculos ao exercício desse
direito.
Sobre o tema, leciona Humberto Theodoro Júnior:

“Esse sucedâneo do pagamento é a consignação,


cuja forma consiste no depósito judicial da quantia ou
da coisa devida. O uso dessa via liberatória é
franqueado ao devedor, tanto quando o credor se
recusa injustificadamente a receber a prestação,
como quando o devedor não consegue efetuar
validamente o pagamento voluntário por
desconhecimento ou incerteza quer em torno de
quem seja o credor, quer em razão de sua ausência
ou não-localização ao tempo do cumprimento da
obrigação” (Cód. Civil, art. 973) (Curso de Direito
Processual Civil. Rio de Janeiro: Forense, 17ª edição,
p. 12).

Com efeito, o pagamento em consignação pressupõe a existência


de uma obrigação líquida e certa, a ser adimplida pelo consignante, e a
prova da recusa do recebimento ou do obstáculo criado pelo credor ao seu
cumprimento.

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Ovídio A. Baptista da Silva elucida a respeito da comprovação da


recusa pelo credor:
“A prova de ter havido recusa ou mora por parte do
credor (art. 896, I) é ônus que pesa sobre o autor,
bastando, para a improcedência da ação, que o
demandado controverta sobre tal alegação (art. 302,
combinado com o art. 334, III, do CPC), e o autor não
logre produzir prova capaz de convencer o juiz da
existência desses pressupostos." (Comentários ao
Código de Processo Civil, volume XIII, São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, pág. 66.)

Desse modo, o pressuposto da ação em comento é a recusa do


credor, competindo ao devedor demonstrar a mora creditoris, ou seja, que
foi solver e o credor não quis receber.
No caso dos autos, apesar do banco réu afirmar que não se negou
a receber os valores da autora, ele confirma a alegação da autora de que
ela não conseguiu efetuar o pagamento almejado diretamente em uma
agência bancária, já que o empréstimo firmado pela empresa do qual ela,
autora, era sócia minoritária, era “proveniente do Fundo de Amparo ao
Trabalhador”, de modo que suas agências “não têm alçada para
recebimento de valores de linhas de crédito financiadas com recursos
públicos”.
Ademais, o banco réu, a todo o momento, se mostra contrário ao
recebimento da quantia ofertada pela autora, dizendo que a quantia se
mostra insuficiente, sem, no entanto, indicar qual seria a quantia correta.
No entanto, não se pode perder de vista que o valor depositado pela
autora em 13/07/15 (R$8.034,75 – doc. nº 13), corresponde ao valor do
débito em 04/07/14, data em que seu nome foi negativado pelo banco réu
(doc. nº 10).
Assim, de fato, a autora não observou a incidência dos encargos
moratórios previstos no contrato e da correção monetária entre o período
de 04/07/14 e 13/07/15.
Dessa forma, ante a evidente insuficiência do depósito judicial
efetuado para quitação do débito sob discussão, deve ser reformada a

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sentença recorrida, para que os pedidos iniciais sejam julgados


parcialmente procedentes, liberando a autora/devedora apenas do que foi
depositado judicialmente e determinando a apuração do valor
remanescente do débito em sede de liquidação de sentença.
Em casos análogos, assim já decidiu este eg. Tribunal:

"PROMESSA DE VENDA E COMPRA.


CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO E AÇÃO DE
RESCISÃO CONTRATUAL. REAJUSTAMENTO DAS
PRESTAÇÕES. OBRA JÁ CONCLUÍDA.
INAPLICAÇÃO DO ÍNDICE SETORIAL DA
CONSTRUÇÃO CIVIL. ART.1º, § 1º, DA LEI Nº 7.774,
DE 08.06.89. PARCELAS OFERECIDAS COM
ATUALIZAÇÃO FEITA ATÉ A DATA DO
VENCIMENTO E NÃO ATÉ O DIA DA OBLAÇÃO.
INSUFICIÊNCIA. - Estando a obra finda, inadmissível
apresenta-se a pretensão de reajustar-se as
prestações pelo índice setorial da construção civil, por
inaplicável à espécie o disposto no art. 1º e § 1º da
Lei nº 7.774, de 08.06.89. - É insuficiente o depósito
feito pelo devedor na consignatória que não inclui a
correção monetária correspondente ao período
compreendido entre a data do vencimento e o dia da
efetiva oblação em juízo. Recursos especiais não
conhecidos" (STJ- Quarta Turma, REsp 49.137/SP,
Rel. Min. Barros Monteiro, j. aos 17/12/1998, DJ
12/04/1999, p. 152).

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE


CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO - DESCONTO
DAS MENSALIDADES ESCOLARES -
DISCRICIONARIEDADE NA ANÁLISE DO DIREITO
E PERCENTUAL DE DESCONTO - VALOR
DEPOSITADO INSUFICIENTE - DIFERENÇA
DEVIDA - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
(...) - Não obstante, na ação de consignação em
pagamento, a insuficiência do valor do depositado
pela autora não conduz à improcedência do pedido,
mas sim à quitação parcial da obrigação, até o
montante da importância consignada. - Sendo o
depósito insuficiente, pode haver a complementação
na fase de liquidação da sentença, na forma do art.
545, § 2º, do CPC/2015. (TJMG - Apelação Cível
1.0433.15.028240-1/001, Relator(a): Des.(a) Shirley
Fenzi Bertão , 11ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em
10/10/2018, publicação da súmula em 17/10/2018)

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EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE


CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO - QUANTIA EM
DINHEIRO - ATUALIZAÇÃO MONETARIA -
NECESSIDADE - OBRIGAÇÃO POSITIVA E
LÍQUIDA - JUROS DE MORA - TERMO INICIAL -
INADIMPLEMENTO - DEPÓSITO INSUFICIENTE -
SENTENÇA - DETEMINAÇÃO DO VALOR AINDA
DEVIDO - TÍTULO EXECUTIVO. 1. Em ação de
consignação em pagamento, a quantia em dinheiro a
ser depositada deve ser integral, ou seja, deve estar
necessariamente atualizada monetariamente. 2. Em
se tratando de obrigação positiva e líquida, os juros
de mora devem incidir a partir do inadimplemento,
data em que o devedor foi constituído de pleno direito
em mora. 3. A sentença que, em ação de
consignação em pagamento, concluir pela
insuficiência do depósito, determinará, sempre que
possível, o valor ainda devido e valerá como título
executivo, que poderá ser cobrado pelo credor nos
mesmos autos. (TJMG - Apelação Cível
1.0056.10.010915-8/001, Relator(a): Des.(a) Maurílio
Gabriel , 15ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em
23/03/2017, publicação da súmula em 31/03/2017)

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL - APELAÇÃO - AÇÃO


DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO - DEPÓSITO
INSUFICIENTE - NÃO PAGAMENTO DE JUROS E
CORREÇÃO MONETÁRIA - PROCEDÊNCIA
PARCIAL - AUSÊNCIA DE EFEITO LIBERATÓRIO -
CRÉDITO REMANESCENTE - POSSIBILIDADE DE
EXECUÇÃO PELO CREDOR NOS PRÓPRIOS
AUTOS - SUCUMBÊNCIA PARCIAL RECONHECIDA
- RECURSO CONHECIDO E PROVIDO EM PARTE. -
A insuficiência do depósito permite o reconhecimento
de procedência, em parte, da ação de consignação,
liberado o devedor apenas do que foi depositado e
reconhecido o crédito remanescente do credor, que
pode ser executado nos próprios autos (artigo 899, §
2º, do CPC). -Sucumbência parcial considerada na
distribuição de custas e imposição da verba honorária.
-Recurso conhecido e provido em parte. (TJMG -
Apelação Cível 1.0024.05.826930-9/001, Relator(a):
Des.(a) Márcia De Paoli Balbino , 17ª CÂMARA
CÍVEL, julgamento em 28/01/2010, publicação da
súmula em 16/03/2010)

PROCESSO CIVIL - AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM


PAGAMENTO - DEPÓSITO INSUFICIENTE - JUROS

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E CORREÇÃO MONETÁRIA - TERMO DE


INCIDÊNCIA. Comprovada a insuficiência dos valores
depositados para quitar a taxa mensal do condomínio,
é de se julgar procedente, em parte, o pedido
formulado na ação de consignação em pagamento,
sendo facultado ao credor promover a execução do
saldo devedor, nos mesmos autos. Na ação de
consignação em pagamento e prestações periódicas,
a correção monetária terá incidência a partir da data
em que o pagamento deveria ter sido feito e não o foi.
Os juros de mora decorrentes do não-pagamento da
diferença da taxa condominial devem ser computados
a partir da data do vencimento de cada prestação,
uma vez que se trata de obrigação líquida, certa e a
termo. (TJMG - Apelação Cível 2.0000.00.395375-
5/000, Relator(a): Des.(a) Maurício Barros , Relator(a)
para o acórdão: Des.(a) , julgamento em 15/09/2004,
publicação da súmula em 25/09/2004)

Sobre o valor dos honorários advocatícios, tenho que não merece


qualquer reforma a sentença recorrida, posto que o valor arbitrado (15%
sobre o valor da causa) não se mostra abusivo, estando em consonância
com as peculiaridades do caso concreto e com os critérios previstos no
artigo 85, § 2º, do NCPC, não havendo qualquer motivo para a pretendida
redução.
Com tais considerações, rejeito a preliminar e dou parcial
provimento ao recurso, reformando a sentença para julgar parcialmente
procedentes os pedidos iniciais, liberando a autora/devedora apenas do
que foi depositado judicialmente e determinando seja apurado o valor
remanescente do débito, referente aos encargos moratórios e correção
monetária entre o período de 04/07/14 e 13/07/15, em sede de liquidação
de sentença.
Em razão do provimento mínimo do recurso, mantenho a
distribuição dos ônus sucumbenciais na forma fixada em primeira instância,
majoro os honorários advocatícios para o importe de 20% sobre o valor da
causa (artigo 85, § 11, do NCPC) e condeno o banco réu/apelante ao
pagamento das custas recursais.

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JD. CONVOCADA MARIA DAS GRAÇAS ROCHA SANTOS - De


acordo com o(a) Relator(a).

DES. ALBERTO HENRIQUE - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "REJEITARAM A PRELIMINAR E DERAM


PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO"
Documento assinado eletronicamente, Medida Provisória nº 2.200-2/2001 de 24/08/2001.
Signatário: Desembargador JOSE DE CARVALHO BARBOSA, Certificado:
00A8FCF7B48D26431E68AA407AEDBAED41, Belo Horizonte, 12 de agosto de 2021 às 15:28:44.
Julgamento concluído em: 12 de agosto de 2021.
Verificação da autenticidade deste documento disponível em http://www.tjmg.jus.br - nº verificador:
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