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“Entre 1885 e 1887 Durkheim publicou várias análises críticas das obras de
Schäffle, Lilienfeld e outros pensadores alemães. A crítica de Durkheim ao Bau
Und Leben Des Socialen Korpes de Schäffle foi a sua primeira publicação, que
nos fornece indicações muito claras no que se refere a orientação do pensamento
do seu autor no inicio da sua carreira intelectual. A crítica de Durkheim ao livro de
Schäffle da a entender que estava de acordo com os pontos principais da
argumentação da obra criticada. Segundo Durkheim, uma das contribuições mais
importantes do Schäffle para o pensamento social consiste no fato de esse autor
ter definido um modelo de analise morfológica muito útil dos principais
componentes estruturais de diferentes formas de sociedade. Ao faze-lo, Schäffle
utiliza largamente as analogias orgânicas, comparando as varias partes da
sociedade aos órgãos e tecidos do corpo. Esse processo é segundo Durkheim,
perfeitamente válido, pois o Schäffle não pretende deduzir diretamente as
propriedades da organização social das da vida orgânica. Pelo contrário, Schäffle
insiste em que o recurso a conceitos biológicos não passa de uma <<metáfora>>
que contribui para facilitar a análise sociológica.” [Página 111]
“A divisão do trabalho não produz coesão não produz coesão social porque
se encontra num estado anômico. Ou seja, a relação entre o capital e o trabalho
assalariado aproxima-se efetivamente das condições que os utilitaristas
consideram eticamente ideais [...]. O resultado de um tal estado de coisa é um
estado crônico de conflito de classe.” [Página 127]
“Isto não quer dizer, acrescenta Durkheim, que a psicologia em nada pode
contribuir para explicar o suicídio: compete aos psicólogos estudar os motivos e
circunstâncias particulares específicos colocados em circunstâncias sociais
relevantes a suicidar-se. ”[Página 134]
“[...] << considera-se os fatos sociais devem ser tratados como coisas >>.
Este postulado é de ordem metodológica e não ontológica, tendo de ser
interpretado em termos de concepção de modalidade de progresso da ciência que
Durkheim fora buscar em Comte. [...] <<os fatos intervém de modo secundário,
como exemplos ou provas confirmativas>>. Esse estágio pré-científico é
ultrapassado por meio da introdução do método empírico, e não apenas pela mera
discussão de conceitos. Isto é talvez mais importante na ciência social do que na
natural, uma vez que estuda a atividade humana [...]. A proposta de que fatos
sociais devem ser tratados como <<coisas>> é formulado com o objetivo de
contrariar essas tendências. Durkheim assimila assim os fatos sociais ao mundo
da realidade natural, na medida que suas propriedades, tais como as dos objetos
da natureza não podem ser conhecida como instituição direta, nem ser modificada
pela vontade humana. << A característica mais importante de uma “coisa” é o fato
de ser impossível modificá-la pela simples ação da vontade. Não é que a coisa
seja refratária a todas as modificações, mas o mero ato da vontade não basta para
produzir nela uma modificação... Vimos já que os fatos sociais partilham dessa
caraterística.>>” [Páginas 137-138]
“[...] A explicação dos fenômenos sociais pode ser tentada a partir de duas
abordagens, a funcional e a histórica. A análise funcional de um fato social implica
o estabelecimento de uma <<correspondência entre o fato em questão e as
necessidades gerais do organismo social, e determina em que é que essa
correspondência consiste...>>. A <<função>> deve ser distinguida da
<<finalidade>> ou <<propósito>> psicológico, << porque os fenômenos sociais,
não existem geralmente em função dos resultados úteis que produzem>>. As
motivações e os sentimentos que levam os indivíduos a participar nas atividades
sociais não correspondem na maiorias dos casos às funções dessas atividades. A
sociedade não é apenas um agregado de motivações individuais, mas antes
<<uma realidade específica que tem suas próprias características>>: os fatos
sociais não podem por conseguinte ser explicados em termos dessas motivações.”
[Página 139]
“[...] O Estado pode tornar-se uma força repressiva, isolada dos interesses
da massa dos indivíduos componentes da sociedade civil. Essa eventualidade
poderá verificar-se caso não existam entre o indivíduo e o Estado grupos
secundários fortemente constituídos que possam intervir: só se esses grupos
forem suficientemente fortes, contrabalançando assim o poder do Estado, é que
os direitos do indivíduo poderão ser adequadamente protegidos. A teoria do
Estado de Durkheim e a sua democracia relacionam-se através desta asserção,
da necessidade de pluralismo, o que leva a preconizar o restabelecimento das
associações profissionais (corporations).”[Página 152]
“[...] em a Divisão do Trabalho defende que toda a crença que faça parte da
consciência coletiva tende a assumir um caráter religioso, se bem que essa
hipótese seja apresentada na obra como <<conjectura altamente provável>>, que
necessita de ser aprofundada. O significado que Durkheim atribui a religião como
parte integrante da consciência coletiva da sociedade é porém contrabalançado
pela afirmação de que as sociedades modernas se caracterizam nesse aspecto
por grandes alterações. [...] O declínio da importância da religião nas sociedades
contemporânea é declínio da significação da solidariedade mecânica: << a
importância que atribuímos assim à sociologia da religião não implica de modo
algum que a religião deva desempenhar nas sociedades atuais a mesma função
que desempenhou em tempos idos. Em certo sentido, a conclusão contrária seria
mais verdadeira. Precisamente porque a religião é um fenômeno primordial, e terá
cada vez mas de ceder às novas formas sociais que engradou>>. ”[Página 156]
“Quando Durkheim defende essa tese, não está a propor-nos uma forma de
<<materialismo mecânico>> [...]. Durkheim tenta de resto mostrar que esse ponto
de vista se apoia na premissa da interação dinâmica entre o substrato da
sociedade e as ideias coletivas.” [Página 166]
“[...] O pensamento conceptual e as regras morais são, pelo contrário,
<<impessoais>>, no sentido de que são universalizadas; não se refere nenhum
indivíduo particular. Todos os homens começam a vida como um ser egoísta (se
bem que não anômico) que conhece apenas sensações, e cujas as ações são
governadas pelas necessidades sensoriais. Mas a criança torna-se pouco a pouco
num ser social, e sua natureza egoísta e parcialmente suplantada por aquilo que
apreende da sociedade. Todos os indivíduos mantêm na sua personalidade uma
faceta de egoísmo, que coexiste com o ser social. As exigências morais da vida
em sociedade nunca podem ser inteiramente com as inclinações egoístas: << a
sociedade não pode constituir-se ou manter-se à custa de sacrifício constantes e
penosos por parte de todos os nós>>. Esta afirmação tem, porém, de ser
interpretada dentro de uma dimensão histórica, se bem que as necessidades
sensoriais sejam <<o tipo por excelence das tendências egoístas>>, há muitos
outros desejos egoístas que não derivam diretamente das necessidades
sensoriais. << O nosso próprio egoísmo é em grande parte produto da
sociedade.>> [Página 168]