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LIÇÃO 7

A TEOLOGIA LITÚRGICA
DA SANTA CEIA

Nada há que se assemelhe à Santa Ceia do Senhor na liturgia cristã. Em todos


os sentidos, esta cerimônia é completa: é rica de significados e símbolos espirituais, é
tão embelezada por seus tantos detalhes, ao mesmo tempo em que é simples no modo
como nos propõe a união com Cristo. É banquete de um pedacinho de pão e menos
que um gole de vinho, mas é fartura da qual todos participam. Sustenta a alma, ainda
que não alimente o corpo. O cadinho de suco da vide alegra o espírito, mesmo que só
um pouco adoce a boca.

Do ponto de vista litúrgico, o ato é vivaz. A cerimônia é solene, respeitosa,


grave, ao mesmo tempo em que é alegre, avivada e reluzente. É a Santa Ceia do
Senhor, instrumento de ministração de vida às nossas próprias existências. O pão não
é o corpo de Cristo, mas é como se fosse. O vinho não é Seu sangue, mas o representa.
Em Seu corpo e em Seu sangue, partido e derramado por nós, vibramos pela nossa
salvação, anunciando o retorno do Cristo em glória.

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A teologia da Santa Ceia Esboço da Lição
Os equívocos teológicos sobre a Santa Ceia
Notas históricas sobre a Santa Ceia
A liturgia da Santa Ceia do Senhor
Conclusão

Ao término desta lição, o aluno deverá estar apto para: Objetivos da Lição

- definir, à luz das Escrituras, o que realmente é a Santa Ceia;


- apontar os erros cometidos em relação à Santa Ceia;
- levantar o retrospecto histórico da Santa Ceia;
- definir os procedimentos litúrgicos da Santa Ceia;
- definir a posição teológica do movimento pentecostal ortodoxo quanto à Santa Ceia
do Senhor.

1. Leia atentamente esta lição. Atividades de


Aprendizagem
2. Faça todas as questões de estudo.
3. Separe, no mínimo, 3 horas diárias para estudar.
4. Faça o autoteste no final desta lição.

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Desenvolvimento A despeito do quanto é bela a Santa Ceia do Senhor, esta reunião é, a exemplo
da Lição
de tantas outras, motivo de discordâncias irreconciliáveis dentro do Cristianismo. É
desacordo entre católicos e protestantes, e entre protestantes e protestantes. Era para
ser a reunião que mais unisse, no entanto, talvez seja a que mais tenha afastado,
separado e provocado celeumas. Os que em similitude reformaram, depois distaram
irremediavelmente um do outro: lá, Zwinglio; ali, Lutero. Um crendo no que descria o
outro, um insistindo no que o outro abominava. Foi o grande revés do protestantismo
europeu.

Para Lutero, Cristo estava “em, com e sob” os elementos sacramentais, para
Zwinglio isso era improvável. Mesmo no encontro de ambos, em 1529, na cidade
alemã de Marburgo, Lutero resistiu obstinadamente ao seu par reformador,
sustentando suas próprias conclusões sobre a Santa Ceia do Senhor, ainda que hoje,
não sejam poucos os luteranos que já discordem do que dizia o príncipe da Reforma.

Essa questão, de estar Cristo em, com e sob os elementos da Ceia, posto que
onipresente, não é única. D.S. Schaff, no excelente e clássico Nossa crença e a de nossos
pais, assinala outras:

Entre os romanistas, a mesa é chamada altar; entre os protestantes


tratam-na como a mesa do Senhor ou mesa da Comunhão. Nas
igrejas protestantes, a Eucaristia é um ato [...], de que tomam parte
todos os cristãos. Na Igreja Romana ela é ao mesmo tempo um
serviço sacramental e um sacrifício, em que real oferenda é feita a
Deus. O pão partido – e Cristo partiu o pão – o cerimonial romano
substituiu pela obreia ou hóstia – palavra latina que designa a vítima
sacrificial.

1. Assinale cada alternativa correta.


a) A cerimônia da Santa Ceia é uma cerimônia completa, rica de significados e
símbolos espirituais, embelezada por seus muitos detalhes, ao passo que é simples
no modo como nos propõe a união com Cristo.
b) Do ponto de vista litúrgico, o ato da santa ceia é algo vivaz. É uma cerimônia
solene, respeitosa, grave, ao mesmo tempo que alegre, avivada e reluzente.
c) A Santa Ceia do Senhor não é somente um memorial da morte e ressurreição de
Jesus, sendo também um instrumento de ministração de vida.
d) Através de participar espiritualmente de Seu corpo e Seu sangue, partido e
derramado por nós, celebramos nossa salvação, anunciando o retorno do Cristo em
glória.
e) A Santa Ceia foi motivo de discordâncias irreconciliáveis entre Católicos e
Protestantes, contudo se tornou um elemento unificador entre os Protestantes.
f) Entre os católicos, o lugar de comunhão é chamado de altar; entre os protestantes
ele é tratado como a mesa do Senhor.
g) Nas igrejas protestantes, a Eucaristia é um serviço sacramental e um sacrifício, em
que uma real oferenda é feita a Deus.

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A TEOLOGIA DA SANTA CEIA OBJETIVO 1
Definir, à luz das Escrituras,
o que realmente é a Santa
A base teológica e litúrgica da Santa Ceia do Senhor encontra-se em alguns Ceia.
textos específicos do NT: Mt 26.26-29; Mc 14.22-25; Lc 22.19 e 20; Jo 6; 1Co 10.16-
21 e 11.17-34. O retrospecto histórico demonstra que a Santa Ceia (eucaristia) iniciou-
se como uma festividade, uma refeição completa, quase que uma repetição da Páscoa
judaica. É a razão que levou o apóstolo Paulo a repreender (1Co 11.17-34) os crentes
de Corinto por causa dos excessos como a gula e a embriagues. Foi posteriormente à
Igreja Primitiva que a Ceia do Senhor reduziu-se a um cerimonial litúrgico, deixando
de ser uma refeição comunal.

Ao que indicam os testemunhos históricos, a Santa Ceia era praticada em duas


ou três etapas, conforme o caso: (1) uma festividade, que era a refeição comum; (2)
seguia-se o ritual do lava-pés, que era praticado por algumas comunidades cristãs
apenas, não consistindo de um rito de aceitação universal; e finalmente a (3) Ceia do
Senhor, que era o partir do pão e o distribuir do cálice, conforme o instituído por
Cristo.

2. Assinale cada alternativa correta.


a) A Santa Ceia do Senhor é considerada completa porque tem significados e
símbolos.
b) Se a cerimônia da Santa Ceia não for solene, respeitosa, ela compromete sua
validade litúrgica.
c) A palavra latina obreia ou hóstia designa a vítima sacrificial.
d) A Santa Ceia teve inicio em uma Páscoa.

Há virtude na Eucaristia?

Esta é uma palavra bastante interessante do ponto de vista teológico, pois


seu sentido original é ações de graça. Assim, todas as vezes que uma refeição ia
ser iniciada, ou um culto, ou mediante qualquer outro motivo de louvor, fazia-se
a oração de graças ao Senhor, eucaristia. Sendo que a expiação pelo sangue de
Cristo é real motivo de louvor, do que nos lembramos na Santa Ceia, o termo
eucaristia (ação de graças que antecedia as refeições) associou-se tanto à Ceia
que passou a denominar esta cerimônia. Lembremo-nos de que nos tempos
primitivos da Igreja, havia uma refeição completa (a Festa do Agape) na Santa
Ceia, e não apenas a fração do pão distribuída acompanhada de um gole de suco
de uva.

A virtude da eucaristia é defendida pelo Catolicismo, que tem a Santa Ceia


como sacramento, com a propriedade salvífica de remoção da culpa, além de conferir
graça ao participante, desde que a celebração seja corretamente presidida pelo
sacerdote. Essa crença é reforçada pela interpretação equivocada de que o pão
consagrado vem a possuir, como inerente a si, a virtude divina – carne do próprio
corpo de Cristo. Por isso diz o Concílio de Trento que a Ceia liberta os que dela tomam

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parte das suas culpas diárias, preservando-os de pecados mortais. É tal a força desta
concepção que a remissão dos pecados é esperada quando da Eucaristia. Mas esta
virtude é negada por nos evangélicos, posto entendermos, pela clareza do Texto
Sagrado, amparados pelas regras da sadia hermenêutica, que os elementos sacramentais
são símbolos, e nada mais.

Se quanto à mutação (transubstanciação) dos elementos no real corpo de Cristo


discordam católicos e protestantes, em outras percepções, acordam. Quando afirma o
Doutor da Igreja Tomás de Aquino, que “A Ceia do Senhor contém todo o mistério de
nossa salvação”, está ele correto: a ordenança da Ceia expressa figuradamente a
propiciação de Cristo na cruz, em favor de todos os homens. Tanto aos católicos como
para os evangélicos isso é o cumprimento da promessa feita por Cristo sobre Seu
contato com os salvos. Mas deste ponto em diante, já se retomam as divergências, uma
vez que os protestantes apontam esta presença de Cristo como espiritual (para os
católicos, ela é física), pois não se opera nas mãos do celebrante a transformação dos
elementos em outros.

3. Assinale cada alternativa correta.


a) O retrospecto histórico demonstra que a Santa Ceia (eucaristia) iniciou-se como
uma festividade, uma refeição completa, quase que uma repetição da Páscoa judaica.
b) A Ceia do Senhor se reduziu a um cerimonial litúrgico, deixando de ser uma
refeição comunal porque o apóstolo Paulo repreendeu em sua carta os crentes de
Corinto em razão da ocorrência de excessos.
c) O ritual do lava-pés, que era praticado durante Ceia do Senhor, era um rito de
aceitação universal.
d) O termo eucaristia (ação de graças que antecedia as refeições) associou-se tanto à
Ceia que passou a denominar esta cerimônia.
e) A Santa Ceia é um sacramento, com a propriedade salvífica de remoção da culpa,
além de conferir graça ao participante.
f) A ordenança da Ceia expressa figuradamente a propiciação de Cristo na cruz, em
favor de todos os homens.

OBJETIVO 2 OS EQUÍVOCOS TEOLÓGICOS SOBRE A SANTA CEIA


Apontar os erros cometidos
em relação à Santa Ceia.
O dogma da transubstanciação

É uma doutrina católica inconsistente e contraditória. A etimologia acusa a


origem latina: trans (cruzar) e substancia (substância). Portanto, é a doutrina que
sustenta a alteração da substância dos elementos da Santa Ceia: o pão em corpo de
Cristo, e o vinho em Seu sangue.

Na forte definição de Schaff, transubstanciação é “a exagerada atribuição de


virtude inerente aos elementos consagrados do pão e do vinho”. Pois este exagero
sem razão é a justificativa desta doutrina incontinente, fruto podre da irracionalidade
teológica dos medievos.

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Definida como dogma no Quarto Concílio de Latrão (1215), reza a
transubstanciação que no instante em que o sacerdote ergue a hóstia e o cálice,
dizendo como Cristo “Este é o meu corpo” ou “meu sangue”, os respectivos
elementos se transformam nos reais e verdadeiros corpo e sangue de Jesus!
Notadamente aí, iniciam-se as esdruxularias: o pão e o vinho se tornam outra coisa
(corpo de Cristo, e Seu sangue), estranhamente mantendo a substância original –
continuam com gosto e textura de pão e de vinho. Como pode ser isso? O Catecismo
Tridentido diz: “o mesmo corpo que nasceu da Virgem Maria e se assenta a mão
direita de Deus” está realmente sobre o altar, sendo de fato o mesmo corpo pregado
no madeiro. A hóstia é o corpo retalhado pela chibata e pregado com cravos. O
mesmo. Afirma o Concílio de Trento: “Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus
e verdadeiro homem, está verdadeira e realmente na substância contida sob as
espécies daquelas coisas tangíveis, pão e vinho [...] de modo que no santíssimo
sacramento da Eucaristia, Cristo se contém, se oferece e se consome – continetur,
offertur et sumitur. [...] Pela consagração do pão e do vinho, faz-se a conversão de
toda a substância de seu sangue; tal conversão é com propriedade chamada
transubstanciação [...]”.

4. Assinale cada alternativa correta.


a) A eucaristia é o real motivo na Santa Ceia lembrarmos a morte de Cristo.
b) A Santa Ceia para Igreja Católica, remove a culpa.
c) O Concílio de Trento afirma que a Santa Ceia liberta das culpas diárias.
d) Os elementos sacramentais são apenas símbolos, para protestantes e católicos.

História do Dogma da Transubstanciação

É marcante o fato de que a linguagem comumente empregada para tratar


da Santa Ceia, desde os comentários primeiros, sempre foi extremamente
metafórica e mística. Isso, no entanto, não pode ser considerado como fundamento
do dogma da transubstanciação. Tudo faz quer que era a intenção dos primitivos
líderes cristãos convencer os participantes do ato de sua grande importância, por
isso o exagero calculado no trato com os elementos. Evidentemente, a iniciativa
saiu do controle; Justino Mártir assegurou que “o alimento que é abençoado pela
oração, e do qual nossos sangue e carne pela transmutação se nutrem, é a carne
e o sangue de Jesus, que se fez carne por nós”. Schaff acredita que esta veemência
era apenas para realçar, por uma linguagem realista e crua, a ideia central da Santa
Ceia. Seja como for, a partir de Pascasio Radberto e seu tratado, a discussão
acirrou-se, e os Pais Apostólicos passaram a ser citados tanto a favor como contra
a transubstanciação.

Historicamente, foi a partir do ano 850 que esta discussão mereceu maior
atenção dos debatedores, quando Pascasio Radberto escreveu De corpore et sanguine
Domini, o primeiro tratado sobre a Eucaristia. Curiosamente, Radberto não escreveu
transubstanciação em seu texto, no entanto foi enfático ao grafar que “o pão
eucarístico não é outra coisa senão a carne de Cristo, que nasceu de Maria, sofreu

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sobre a cruz e ergueu-se do túmulo”. Radberto buscou sistematizar a crença comum
entre os cristãos, de que comungavam com Jesus de alguma forma na Santa Ceia,
contudo o fez equivocadamente, apontando a transubstanciação.

Quando a teoria de Radberto foi apresentada, Carlos, o Calvo, rei da França,


determinou que Ratramno de Corbie, filósofo e teólogo francês, examinasse o tratado
de Radberto. O resultado foi o total rechaço da ideia de transubstanciação, mesmo
porque, todos os cristãos criam que Jesus estivesse de alguma forma presente na Ceia,
mas não era amplamente crido que esta presença fosse física, e operada pela mutação
do pão e do vinho.

Apesar da negação da teoria de Pascasio Radberto, ele próprio não foi punido ou
excomungado. Até sua morte, continuou contribuindo para outros debates. Mas finalmente,
em 1215, no Concílio de Latrão, a proposta de Radberto prevaleceu sobre a apologia de
Ratramno, até que o Concílio de Trento incluiu o texto do monge de Corbie no Index
librorum prohibitorum (a lista de escritos vetados e proibidos pela Igreja Católica). Mas até
que Latrão declarasse o dogma da transubstanciação, outros debates aconteceram.

Cerca de 200 anos após Pascasio Radberto, Berengar de Tours (teólogo francês)
voltou ao tema, defendendo as argumentações de Ratramno, e antecipando muitos dos
argumentos empregados posteriormente contra o dogma católico da presença física de
Cristo na Ceia. Berengar foi julgado e condenado pelo Sínodo de Ruão que assim
posicionou-se: “O corpo inteiro de Nosso Senhor não só está, de maneira sensível, no
sacramento, mas é verdadeiramente tocado pelas mãos do sacerdote, quebrado por
ele e partido pelo fiel com os dentes”.

Finalmente o Concílio de Latrão estabeleceu o dogma, em 1215, denominando-


o teologicamente de transubstanciação, asseverando aos fiéis que o corpo e o sangue
de Jesus estão contidos no sacramento do altar, sob as espécies de pão e vinho. A partir
de então, seriam considerados hereges todos os que rejeitassem este dogma.
Evidentemente, isso não bastou para encerrar o debate. O teólogo inglês John Wycliffe
combateu com brilhantismo o erro católico, antecipando a reação protestante e
extraindo da Bíblia uma variedade de argumentos contrários à transubstanciação. Ele
ensinou que Cristo estava presente, mas apenas espiritualmente, assim como um rei
está em todas as partes de seus domínios, ou como um raio do sol está no vidro de
uma janela. Bem diferente da fantasiosa ideia tomista de que o cristão não apenas
“participava da carne de Cristo, mas de todo o corpo de Cristo, isto é, ossos, nervos e
outras partes dessa espécie”.

5. Assinale cada alternativa correta.


a) Os comentários sobre a Santa Ceia são predominantemente metafóricos.
b) A intenção dos líderes cristãos da igreja primitiva era de convencer os fiéis da
importância da Santa Ceia.
c) Os Pais Apostólicos discordavam da transubstanciação.
d) Eram considerados, os fiéis que não cressem que o corpo e o sangue de Jesus estão
contidos no sacramento do altar na espécie de pão e vinho segundo Latrão.

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Combatendo o dogma da transubstanciação

Durante a Reforma Protestante, principalmente, os elementos da Santa Ceia


foram novamente considerados com correção, como símbolos do corpo e do sangue
de Cristo. Tratados e textos como a Confissão de Westminster consideraram o dogma
uma lenda desprovida de confirmação bíblica, “repugnante às Escrituras, mas até ao
senso comum e à razão” (Confissão de Westminster); “[o] santo sacramento deve ser
recebido em lembrança da meritória cruz e paixão de Cristo e como perpétua
memória de sua preciosa morte e sacrifício” (Livro de oração comum); “o papismo
tem perniciosamente ensinado e condenavelmente crido” (Confissão escocesa, 1560).

Baseia-se a argumentação do Catolicismo em uma interpretação literal do que


Cristo quis dizer com “Isto é o meu corpo” (Lc 22.19). Além deste versículo, há uma
outra passagem muito mais sugestiva: “Na verdade, na verdade vos digo que, se não
comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis vida
em vós mesmos” (Jo 6.53). De fato, parece mesmo que a recomendação é comer um
pedaço de Jesus. A réplica protestante sustenta que o exercício hermenêutico católico é
antibíblico, pois em outra passagem, o mesmo João utiliza-se de simbolismos e figuras
de linguagem para tratar do mesmo assunto, o que prova que Jesus não falava
literalmente. Schaff comenta:

O argumento tirado da palavra – “Este é o meu corpo” – entra em


conflito com a significação que o verbo assume em outros lugares em
que Cristo comparou a Si mesmo com coisas materiais e com a
operação destas. Os protestantes dão às palavras a significação natural:
“Isto representa o meu corpo”. Quando Cristo disse: “Eu sou a
videira”, “Eu sou a porta”, “Eu sou o caminho”, não quis significar
que fosse uma videira real, com ramos e raízes, ou uma porta real,
com ferros e gonzos, ou uma estrada por que os homens transitassem,
mas inculcou que aquelas coisas materiais eram figuras da relação
espiritual que existe entre Ele e seus seguidores. Era natural que Cristo
seguisse o costume do Antigo Testamento, o qual emprega a
linguagem figurada com frequência ao representar as coisas espirituais,
como quando os profetas e salmistas diziam que “Deus é um sol”,
“Deus é uma rocha”, “Deus é um escudo”, “Deus é uma fonte de
águas”, não querendo isso dizer que Deus fosse uma esfera
incandescente, ou que fosse duro, ou de bronze, ou torrente a correr.

6. Assinale cada alternativa correta.


a) A transubstanciação é uma doutrina bíblica que sustenta a alteração da substância
dos elementos da Santa Ceia: o pão em corpo de Cristo, e o vinho em Seu sangue.
b) A etimologia da palavra transubstanciação vem do grego: trans (cruzar) e
substancia (substância).
c) Reza o dogma da transubstanciação que no instante em que o sacerdote ergue a hóstia
e o cálice, dizendo como Cristo “Este é o meu corpo” ou “meu sangue”, os respectivos
elementos se transformam nos reais e verdadeiros corpo e sangue de Jesus!

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d) Na definição de Schaff, a transubstanciação é “a correta atribuição de virtude
inerente aos elementos consagrados do pão e do vinho”.
e) Durante a Reforma Protestante, o teólogo inglês John Wycliffe combateu com
brilhantismo a transubstanciação, extraindo da Bíblia uma variedade de
argumentos contrários à mesma.
f) Os elementos da Santa Ceia foram novamente considerados com correção
durante a Reforma Protestante, como símbolos do corpo e do sangue de Cristo.
g) Baseia-se a argumentação do Catolicismo a favor da transubstanciação em uma
interpretação literal do que Cristo quis dizer quando disse “Se não comerdes a
carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós
mesmos”.
h) A réplica protestante a esta argumentação sustenta que o exercício hermenêutico
católico é antibíblico, pois em outra passagem, João utiliza-se de simbolismos e
figuras de linguagem para tratar do mesmo assunto, o que prova que Jesus não
falava literalmente.

Se continuarmos a analisar outras falas de Cristo, o argumento pró-


transubstanciação perde mais força ainda, em razão da construção material de algumas
enunciações de Jesus. O sentido literal de ser a carne o pão e o sangue o vinho é
corrigido pelo sentido de outros pronunciamentos, paralelos a este, como “O que vem
a mim nunca terá sede [...] e o que vem a mim de modo nenhum lançarei fora” (Jo
6.35 e 37). Além disso, falou Jesus aos estarrecidos discípulos: “O espírito é que
vivifica, a carne para nada aproveita. As palavras que vos disse são espírito e vida”
(Jo 6.63). Além disso, como poderia um corpo ocupar dois lugares no espaço ao
mesmo tempo? Os milhares de discos de farinha distribuídos na Eucaristia, durante a
missa, são o corpo de Cristo, em muitos milhares de templos católicos ao redor do
mundo, e ao mesmo tempo? Fisicamente impossível!

Mas não é apenas na Bíblia que se podem encontrar resistências consistentes ao


dogma da transubstanciação. Fora do arcabouço inspirado do Texto Sagrado, existem
as argumentações lógicas. Por exemplo, todos os participantes católicos da Santa Ceia
afirmam categoricamente que o pão e o vinho permanecem inalterados em seus gosto
e textura. Isso porque a transubstanciação demanda a transacidentação (um
neologismo de Schaff para indicar a necessidade de alteração nas qualidades do pão e
do vinho). Mas ninguém sabe explicar porque os elementos não mudam. Aquino
propôs três motivos nada razoáveis para a condição imutável dos elementos: (1) fere
gravemente a cristandade a ingestão de carne crua; (2) não há necessidade de levantar
contra a Igreja a acusação de canibalismo; (3) o desenvolvimento da fé do cristão.

Schaff estabelece outras considerações, bem mais, digamos, curiosas:

Que é feito do corpo de Cristo e de seu sangue, quando a hóstia cai


no assoalho, ou uma gota de vinho cai sobre o pano do altar?
Adotou-se a regra de lavar-se o pano em água e ser esta bebida pelo
sacerdote. Uma questão mais embaraçosa se impôs: que efeito teria a
hóstia se fosse devorada por um ratinho? Daria ela os benefícios da

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vida eterna ao roedor? Esta pergunta foi assunto da mais aguda
especulação escolástica. Sua resposta envolve toda a teoria da virtude
sacramental da hóstia. Boaventura concebeu a ideia mais graciosa: em
tais circunstâncias, Cristo se retira e o pão volve a ser de novo o pão
natural. Tomás de Aquino empunhou, todavia suas armas e ensinou
que o pão continuava a ser o corpo de Cristo, mas o camundongo,
não tendo nascido para usar da hóstia como sacramento, come-a “de
modo natural e não de maneira sacramental” – distinção que
exigiria a mente de um escolástico para a decifrar.

7. Assinale cada alternativa correta.


a) Cristo referia-se ao pão como carne e ao vinho como sangue, sempre literalmente
em seus pronunciamentos.
b) A Bíblia apresenta provas consistentes do dogma da transubstanciação.
c) Os católicos afirmam que o pão e o vinho permanecem inalterados, embora
transmutem-se em corpo de Cristo.
d) Todas as alternativas estão corretas.

Idolatria da hóstia

É pernicioso o dogma da transubstanciação, a ponto de provocar a idolatria


entre os fiéis. Sendo o corpo de Cristo o pão sobre o altar da paróquia ou da catedral,
então é merecedor de culto legítimo, pois é o próprio Jesus nas mãos do sacerdote. É
não é o que acontece? O sacerdote eleva a hóstia, toca-se uma sineta, e ele e sua
assistência fazem mesuras à hóstia. De acordo com o Concílio de Trento, é anátema
quem não adorar o disco de farinha.

A negação do cálice aos leigos

Mais uma aberração da liturgia romana para a Santa Ceia. A negação do cálice
à assistência é justificada pela preocupação de que algum fiel viesse a pecar contra o
sangue de Cristo, cuspindo no vinho. Além disso, a reserva do vinho ao oficiante o
coloca em posição de destaque em relação a todos os outros. Justifica Aquino a prática
fazendo lembrar que Cristo sustentou uma multidão de 5 mil ouvintes apenas com
pão, não com vinho – ora, sendo assim, que se sirvam peixes no lugar do vinho aos
fiéis!

Como garantia da exclusividade do sacerdote sobre o vinho, o Concílio de


Constança estipulou que seria excomungado o sacerdote que se atrevesse oferecer o
vinho ao povo. Afinal, é como reza a doutrina católica da concomitância: o corpo e o
sangue, os nervos e os ossos, estão no pão e também no vinho. Diz Trento: “Cristo,
todo e completo, está debaixo das espécies do pão e todo o Cristo está debaixo das
espécies do vinho [...] os que recebem um ou outro, não ficam privados de nenhuma
graça necessária à salvação”. Portanto, de acordo com essa doutrina, Jesus em corpo

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completíssimo presente no pão, comido pelos fiéis, não precisa ser outra vez
distribuído no vinho, posto que já foi dissolvido na boca dos católicos que
comungaram.

J. Reis Pereira ensina:

Trata-se de um ato memorial apenas, em que o pão e o vinho


têm o valor de símbolos. E por isso mesmo é preciso que haja
na cerimônia tanto o pão como o vinho, não se podendo dizer
que o primeiro contém o segundo, como ensina a doutrina
católica da concomitância. Com a mesma desenvoltura com que
tomou literalmente as palavras de Jesus, a teologia católica
chegou à conclusão de que era mais prático negar o vinho aos
fiéis, sob a alegação de que o corpo – isso é o pão – já contém
o sangue. Tal alegação, entretanto, não vale para o sacerdote
oficiante que bebe também o vinho.

A doutrina da concomitância foi promulgada no Concílio de


Constança, em 1415, e confirmada no de Basileia, em 1439.
Diz a doutrina que estando o corpo de Cristo presente no pão,
o sangue também está, pois não se consegue corpo sem
sangue.

Digo que se houvesse motivos para escolher entre um ou outro elemento para
distribuir aos fiéis, é lógico que o suco de uva tem símbolo mais forte, pois é o sangue
de Cristo que nos lava de nossas iniquidades. É uma aberração doutrinária e litúrgica
o que faz o Catolicismo com a Santa Ceia do Senhor.

8. Assinale cada alternativa correta.


a) O dogma da transubstanciação provocava idolatria entre os fiéis da igreja
primitiva.
b) Pelo Concílio de Trento é considerado anátema quem adorar a hóstia.
c) Ficou estabelecido no Concílio de Constança que o sacerdote que oferecesse vinho
ao povo seria excomungado.
d) Não pode ser considerado uma aberração doutrinária o que faz o Catolicismo com
a Santa Ceia do Senhor.

Consubstanciação

É o arremedo composto por Lutero em substituição à transubstanciação católica.


Dizia o reformador alemão que na Santa Ceia, o corpo e o sangue de Cristo
encontram-se realmente presentes em substância (presença real substancial) no pão e
no vinho, ainda que esses elementos não sofram alterações em seus acidentes. Essa
ideia já foi classificada de monstruosa, posto exigir a onipresença do corpo físico de
Cristo e de Seu sangue. Atualmente, a maioria dos luteranos rejeita esta tese.

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9. Assinale cada alternativa correta:
a) A transubstanciação não demanda a transacidentação, implicando na necessidade
de alteração nas qualidades do pão e do vinho.
b) O sacerdote eleva a hóstia, toca-se uma sineta, e ele e sua assistência fazem
mesuras à hóstia. Mas de acordo com o Concílio de Trento, é uma idolatria adorar
a mesma.
c) Como garantia da exclusividade do sacerdote sobre o vinho, o Concílio de
Constança estipulou que seria excomungado o sacerdote que se atrevesse oferecer
o vinho ao povo.
d) A Santa Ceia se trata de um ato memorial apenas, em que o pão e o vinho têm o
valor de símbolos. E por isso mesmo é preciso que haja na cerimônia tanto o pão
como o vinho, não se podendo dizer que o primeiro contém o segundo, como
ensina a doutrina católica da concomitância.
e) A consubstanciação é o arremedo composto por Zuinglio em contraposição à
transubstanciação adotada por Lutero.

NOTAS HISTÓRICAS SOBRE A SANTA CEIA OBJETIVO 3


Levantar o retrospecto
histórico da Santa Ceia.
Chama-se “a última Ceia” porque foi a derradeira celebração da Páscoa entre
Cristo e os discípulos, as na verdade, foi a primeira Ceia, porque foi aquela em que
Jesus fez ser ordenança a cerimônia em questão. A instituição da Santa Ceia como
ordenança, e com o simbolismo que lhe damos, está nos Evangelhos e também em 1Co
10.16 e 17; 11.23-29.

É consensual entre os estudiosos que quando Cristo falava sobre Si como o pão
vivo descido dos céus (Jo 6), já referia-se à Santa Ceia. Ainda outras referências fazem
menção ao ato da Ceia, como o partir do pão entre Jesus e os dois discípulos que
seguiam a Emaús. O livro dos Atos dos Apóstolos nos informa que o partilhar do pão
era um costume da Igreja Primitiva. Além das referências no texto bíblico, existem as
provas testemunhais extrabíblicas, como os documentos O ensino dos Doze e ensaios
de Justino Mártir, que contêm orações a respeito da Santa Ceia.

A importância histórica da ordenança

Durante os primeiros anos do Cristianismo, a Santa Ceia era tão importante, e


considerada com tal temor, que vinha sendo realizada de forma quase secreta, em
reuniões discretíssimas, que só contavam com a presença dos cristãos em comunhão
plena. Estes cuidados eram para evitar a profanação do cerimonial. Desta
impressionante veneração, alguns costumes nada recomendáveis se inventaram, como
colocar um copo do vinho consagrado à Ceia na sepultura dos entes queridos – o que
foi repudiado pelo Concílio de Cartago (397).

Não somente os cristãos comuns davam imenso valor à Santa Ceia, mas
também os estudiosos, sobretudo os escolásticos. Estes não se dedicaram mais a outro
assunto que não a Eucaristia (nome pelo qual o sacramento da Ceia é chamado

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entre os católicos). Dela, escreveram amplamente Aquino, Magno e outros, de forma
que é deles, dos escolásticos, os rituais completos adotados pela Igreja no Concílio de
Trento.

10. Assinale cada alternativa correta.


a) A primeira Santa Ceia, foi aquela em que Jesus a fez ordenança.
b) Nos primeiros anos do Cristianismo, a Santa Ceia foi era considerada muito
importante, e depois foi banalizada.
c) O Concílio de Cartago apoiava colocar uma copo do vinho consagrado à Ceia na
sepultura dos entes queridos.
d) Os cristão e estudiosos na igreja primitiva davam grande valor à Santa Ceia.

A Festa do Ágape

Esta celebração da Igreja Cristã Primitiva é correlata ao banquete judaico da


Páscoa, ocasião em que Cristo, na última celebração pascal na companhia dos discípulos,
instituiu a Santa Ceia do Senhor. De fato, a proposta da comunhão, da união e do
amor que liga todos os cristãos em Jesus é presente na Santa Ceia, bem como na
proposta da Festa do Agape.

Não é possível afirmar categoricamente como se providenciavam os alimentos


para a festividade do ágape. O que sugerem alguns textos é que cada família trazia
uma porção de alimento que seria partilhada com todos os presentes. Mas o resultado
trágico observado na igreja de Corinto é que os mais necessitados acabavam com
menor quantidade de comida para si e os seus, enquanto que os abastados regalavam-
se em uma orgia gastronômica. Por conta disso a Festa do Ágape foi gradativamente
eliminada da liturgia cristã, até que sua extinção consumou-se em ordem geral. A
Santa Ceia, então, tornou-se protagonista deste conjunto cerimonial, sendo celebrada
usualmente à noite, porque à noite Cristo a instituiu como ordenança.

Até o século II, a Festa do Ágape era parte da Eucaristia, embora, já no I século,
ela tenha sido gradativamente abandonada pelas comunidades cristãs, e em alguns
casos por recomendação apostólica. Originalmente dedicada ao benefício dos menos
afortunados, a Festa tornou-se, em muitas ocasiões, motivo de dissensões e discussões
entre os crentes. Até o ano de 313, esta celebração ainda podia ser observada em
muitos lugares, mas como não atendia a qualquer demanda religiosa, ela foi suspensa
oficialmente pela Igreja.

11. Assinale cada alternativa correta.


a) É consensual entre os estudiosos que quando Cristo falava sobre Si como o pão
vivo descido dos céus (Jo 6), já se referia à Santa Ceia.
b) O livro de Atos dos Apóstolos nos informa que o partilhar do pão era um
costume da Igreja Primitiva. Além das referências no texto bíblico, existem provas
testemunhais extrabíblicas.

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c) Durante os primeiros anos do Cristianismo, a Santa Ceia era tão importante, e
considerada com tal temor, que vinha sendo realizada de forma quase secreta, em
reuniões discretíssimas, que só contavam com a presença dos cristãos em comunhão
plena.
d) A Festa do Ágape foi instituída no último banquete da Páscoa de Jesus, ocasião em
que Ele instituiu a Santa Ceia do Senhor.
e) A proposta da comunhão, da união e do amor que liga todos os cristãos em Jesus
está presente na Santa Ceia, bem como na proposta da Festa do Ágape.
f) No princípio a Festa do Ágape fazia parte da Eucaristia, embora num certo
momento tenha sido abandonada pelas comunidades cristãs, por determinação
apostólica.

A LITURGIA DA SANTA CEIA DO SENHOR OBJETIVO 4


Definir os procedimentos
litúrgicos da Santa Ceia.
Em busca da Santa Ceia original do Senhor

É muito provável que a Ceia fosse presidida pelo líder costumado da congregação,
no entanto, nos tempos primitivos da Igreja, essa não era uma reunião exclusivista
(apesar do extremo cuidado dos cristãos com a participação de estranhos), mas inclusivista
e plena. Passando-se o tempo, no entanto, ela veio a tornar-se uma espécie de mistério
apenas destinado ao clero, que, conforme diz essa lição, veio a utilizá-la como forma de
manipular a cristandade, fortalecendo seu episcopado monárquico. Essa ideia é bastante
reforçada pela sacramentalização da Ceia, e por outros detalhes como a proibição do
vinho aos participantes (reservado ao sacerdote, apenas).

Em busca da Santa Ceia do Senhor original, os reformadores, em movimento


unânime, retornaram à fonte única normativa da liturgia cristã, a Bíblia, em especial o
NT. O resultado disso foi o repúdio ao cerimonial medieval, repleto de invenções
humanas.

Acompanhemos o comentário tão exato de J. Reis Pereira:

Surgirá, naturalmente, a esta altura uma pergunta: mas por que Jesus
instituiu a cerimônia? A resposta está muito clara no relato de Lucas
e de Paulo. Num outro está a ordem: “fazei isto em memória de
mim”. Trata-se de um ato memorial apenas, em que o pão e o vinho
têm o valor de símbolos.

A liberdade litúrgica protestante/evangélica

As igrejas protestantes/evangélicas tratam a questão litúrgica da Santa Ceia do


Senhor com relativa liberalidade. Não há resoluções que tomem por anátemas aqueles
que se utilizam de cálices individuais ou cálices únicos, por exemplo. Há igrejas que
realizam duas Santas Ceias por mês, outras uma apenas. E os evangélicos costumam
respeitar a liberdade uns dos outros.

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Historicamente, Lutero defendia a realização da cerimônia todos os domingos,
ao passo que Calvino preferia realizá-la mensalmente – se bem que seus seguidores
de Genebra acabaram por forçar a realização da Santa Ceia em intervalos bem
maiores. Seja como for, é costume entre os protestantes e evangélicos salientar o
autoexame de consciência de que Paulo fala em 1 Coríntios. Além disso, todos os
protestantes participam plenamente de todo o cerimonial da Santa Ceia, como defendia
Lutero ao afirmar que ela pertence à Igreja, e não ao sacerdote.

12. Assinale cada alternativa correta.


a) Tornada uma espécie de mistério apenas destinado ao clero, a Santa Ceia fortaleceu
o episcopado monárquico.
b) O vinho era reservado apenas aos participantes e não aos sacerdotes.
c) A cerimônia medieval era repleta de invenções humanas.
d) Os protestantes participam de toda a Santa Ceia como defendia Lutero.

OBJETIVO 5 CONCLUSÃO
Definir a posição teológica
do movimento pentecostal
ortodoxo quanto à Santa Guiados pelo estudioso J. Reis Pereira, enfileiraremos algumas conclusões:
Ceia do Senhor. · a instituição da Santa Ceia do Senhor tem caráter memorial apenas;
· a Bíblia não recomenda periodicidade ideal para realização desta cerimônia;
mas concordamos com Calvino quando diz que não se deve ausentar da
mesa do Senhor por muito tempo;
· Cristo associa o pão e o vinho ao Seus corpo e sangue de forma simbólica,
não literal;
· não há transubstanciação dos elementos, nem na Igreja Católica, nem nas
igrejas protestantes;
· Cristo não delegou a discípulo algum o poder de transubstanciar os
elementos da Santa Ceia;
· os indícios históricos testemunham que a Ceia era um ato simples, e não o
exagero perpetrado pelo Catolicismo.

Encerra J. Reis Pereira:

Um fator de inegável importância no desenvolvimento do espírito


religioso é o mistério, o indevassável, o impenetrável. Há na
religião cristã, sem dúvida, um tanto de mistério. Há os que
aceitamos pela fé e que não sabemos explicar como, por exemplo, o
mistério do amor de Deus. Mas esse mistério não nos leva a
cerimônias complicadas, percebíveis só por iniciados, destinados a
conjurar os deuses, a torná-los propícios, e a obter vantagens
pessoais. Eram assim as religiões de mistérios contemporâneas de
Cristo. Há abundante material informativo sobre os cultos de
mistério que se realizavam na Grécia, dentre os quais avultam os
mistérios de Eleusis. Mas por muito que tenham feitos as religiões
de mistérios anteriores, posteriores ou contemporâneas a Cristo,

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nenhuma foi tão longe como a religião do próprio Cristo, deturpada
por seus discípulos [os cristãos posteriores ao primeiro século]. Isto
de uma cerimônia cheia de ritos complicados e que só, realmente
um pequeno grupo de entendidos, de iniciados, pode compreender
de princípio a fim; isto de uma cerimônia chamada “missa”, um
sacerdote e meia dúzia de palavras em latim, conseguir esse prodígio
de fazer o seu Deus entrar numa obreia de pão; isso bate qualquer
dos mistérios com que os sacerdotes helênicos enganavam o povo de
seu tempo. Assim, como diz Will Durant, o Cristianismo
[Catolicismo] vem a tornar-se na última e maior das religiões de
mistério.

13. Assinale a alternativa correta.


a) Nos tempos primitivos da igreja a Santa Ceia era uma reunião muito exclusivista
devido ao extremo cuidado dos cristãos com a participação de estranhos.
b) Em busca da Santa Ceia do Senhor original, os reformadores, em movimento
unânime, retornaram à tradição dos Pais Apostólicos, resultando no repúdio ao
cerimonial medieval, repleto de invenções humanas.
c) Historicamente, Lutero defendia a realização da cerimônia da Ceia todos os
domingos, ao passo que Calvino preferia realizá-la em intervalos bem maiores – se
bem que seus seguidores de Genebra acabaram por forçar a realização da Santa
Ceia mensalmente.
d) Nem todos os protestantes participam de todos os rituais da Santa Ceia, pois
alguns creem como Lutero que parte deles pertencia somente ao sacerdote.
e) Calvino dizia que não se deve ausentar da mesa do Senhor por muito tempo, por
isso a periodicidade ideal para a mesma deve ser de um mês.
f) Cristo associa o pão e o vinho ao Seu corpo e sangue de forma simbólica, não
literal.

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AUTOTESTE CERTO-ERRADO: Escreva C para as alternativas corretas e E para as erradas.
CERTO-ERRADO:

____ 1. O assunto da Santa Ceia trouxe desacordo tanto entre católicos e


protestantes, como entre protestantes e protestantes.
____ 2. Na Igreja Católica a Eucaristia é um serviço sacramental e um sacrifício, em
que uma real oferenda é feita a Deus.
____ 3. O retrospecto histórico demonstra que a Santa Ceia (eucaristia) iniciou-se
como uma festividade, uma refeição completa, quase que uma repetição da
Páscoa judaica.
____ 4. Excessos como a gula e a embriaguês são razões pelas quais o apóstolo Paulo
repreendeu (1Co 11.17-34) os crentes de Corinto e cancelou a Festa do Ágape.
____ 5. Foi logo no começo da Igreja Primitiva que a Ceia do Senhor reduziu-se a
um cerimonial litúrgico, deixando de ser uma refeição comunal.
____ 6. O termo eucaristia (ação de graças que antecedia as refeições) associou-se
tanto à Ceia que passou a denominar esta cerimônia.
____ 7. A igreja católica afirma que a Santa Ceia é um sacramento, com a
propriedade salvífica de remoção da culpa, além de conferir graça ao
participantes.
____ 8. A transubstanciação é um dogma católico que sustenta a alteração da
substância dos elementos da Santa Ceia: o pão em corpo de Cristo, e o
vinho em Seu sangue.
____ 9. Reza o dogma da transubstanciação que no instante em que o sacerdote
ergue a hóstia e o cálice, dizendo como Cristo “Este é o meu corpo” ou
“meu sangue”, os respectivos elementos se transformam nos reais e
verdadeiros corpo e sangue de Jesus!
____ 10. Preconizando a Reforma Protestante, o teólogo inglês John Wycliffe já
combatia com brilhantismo a transubstanciação, extraindo da Bíblia uma
variedade de argumentos contrários à mesma.
____ 11. O Concílio de Trento estabeleceu um dogma em 1215, denominando-o
teologicamente de transubstanciação, asseverando aos fiéis que o corpo e o
sangue de Jesus estão contidos no sacramento do altar, sob as espécies de
pão e vinho.
____ 12. Na definição de Schaff, a transubstanciação é “a atribuição exagerada de
virtude inerente aos elementos consagrados do pão e do vinho”.
____ 13. Baseia-se a argumentação do Protestantismo contra a transubstanciação em
uma interpretação literal do que Cristo quis dizer quando disse “Se não
comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não
tereis vida em vós mesmos”.
____ 14. Não é apenas na Bíblia que se podem encontrar resistências consistentes ao
dogma da transubstanciação. Fora do arcabouço inspirado do Texto
Sagrado, existem argumentações lógicas contra o mesmo.
____ 15. A transubstanciação demanda a transacidentação, que implica na
necessidade de alteração nas qualidades do pão e do vinho.
____ 16. Ensina a doutrina católica da concomitância que é preciso que haja na
cerimônia da ceia tanto o pão como o vinho.
____ 17. Durante os primeiros anos do Cristianismo, a Santa Ceia era algo tão
importante, e era considerada com tal apreço, que era viabilizada sua
ocorrência a cada dia com a participação de todos.

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____ 18. A proposta da comunhão, da união e do amor que liga todos os cristãos em
Jesus começou a ser distorcida na Festa do Ágape, por isso esta festa foi
descontinuada logo no começo do primeiro século.
____ 19. Em busca da Santa Ceia do Senhor original, os reformadores, em
movimento unânime, retornaram à tradição bíblica neotestamentária,
resultando no repúdio ao cerimonial medieval, repleto de invenções
humanas.
____ 20. Historicamente, Lutero defendia a realização da cerimônia da Ceia todos os
domingos, ao passo que Calvino preferia realizá-la em mensalmente – se
bem que seus seguidores de Genebra acabaram por forçar a realização da
Santa Ceia em intervalos bem maiores.

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RESPOSTAS ÀS QUESTÕES DE ESTUDO
RESPOSTAS

1. a), b), c), d) e f) 4. b) e c)

13. f) 9. c) e d)

2. Todas as alternativas estão corretas. 5. a) e b)

12. a), c) e d) 8. a) e c)

3. a), d) e f) 7. c)

11. a), b), c) e e) 6. c), f), g) e h)

10. a) e d)

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