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Ética Profissional
É com satisfação que a Unisa Digital oferece a você, aluno(a), esta apostila de Ética Profissional, par-
te integrante de um conjunto de materiais de pesquisa voltado ao aprendizado dinâmico e autônomo
que a educação a distância exige. O principal objetivo desta apostila é propiciar aos(às) alunos(as) uma
apresentação do conteúdo básico da disciplina.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..................................................................................................................................................... 5
1 INÍCIO DO PROBLEMA........................................................................................................................... 7
1.1 Ética ou Moral?...................................................................................................................................................................8
1.2 Moral ou Direito.................................................................................................................................................................9
1.3 Autonomia e Heteronomia............................................................................................................................................9
1.4 Relativismo Moral........................................................................................................................................................... 10
1.5 A Obrigação Moral......................................................................................................................................................... 11
1.6 A Escolha Moral............................................................................................................................................................... 12
1.7 Objetivismo e Subjetivismo....................................................................................................................................... 12
1.8 Valor e Simulação: uma Questão Pós-Moderna.................................................................................................. 13
1.9 Utilitarismo e Pragmatismo: o Empirismo Moral..................................................................................................... 14
1.10 Ética Discursiva............................................................................................................................................................. 15
1.11 A Ética nos Negócios.................................................................................................................................................. 16
1.12 Ética e Tecnologia........................................................................................................................................................ 17
1.13 Comportamento Antiético nas Organizações................................................................................................... 18
1.14 Resumo do Capítulo................................................................................................................................................... 20
1.15 Atividades Propostas.................................................................................................................................................. 20
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................................................33
RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS...........................................35
REFERÊNCIAS...................................................................................................................................................37
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a),
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1 INÍCIO DO PROBLEMA
É a partir o século V a.C. que aparecem na ticas desse mundo feudal, no qual a religião cristã
Grécia, particularmente em Atenas, os primeiros começa a despontar como a única fonte de unida-
problemas éticos. Com a vitória da democracia es- de social. Nesse contexto, a ética aparece profun-
cravista e o surgimento de instituições eletivas, co- damente impregnada por um sentimento religioso.
meçam a surgir os impasses relacionados à vida pú- Surge, então, uma norma moral baseada na revela-
blica na polis (cidade). É nesse sentido que a ética ção de Deus, que acaba estabelecendo a Filosofia
relaciona-se primordialmente com a política, isto é, como serva da Teologia (philosophia ancilla theo-
com o comportamento humano na vida em socie- logiae). Sendo assim, não é de se estranhar que a
dade. Assim se entende melhor os pensamentos ética, nesse mundo medieval, fosse compreendida
de Sócrates, Platão e seu discípulo Aristóteles, rela- como uma doutrina moral e a justiça, condiciona-
cionados com a cidade-estado, uma comunidade da pelas formulações sacras do Direito Canônico,
democrática limitada por um espaço geográfico. confundia-se com a piedade e a santidade. Para os
Algum tempo depois, a destruição da autonomia primeiros pensadores cristãos, como Agostinho de
dessas cidades-estado, causada pela ascensão dos Hipona (354-430), o Direito Natural, que por razão
grandes impérios (macedônio e romano), levou os do pecado original vinculou-se à corrupção, pare-
filósofos estoicos e epicuristas a não mais relacio- ce, muitas vezes, não se conformar com a vontade
nar a ética com a pólis, mas sim com o kósmos (uni- divina. Diante dessa constatação, a Igreja se viu
verso), fazendo-a, desse modo, não depender mais obrigada a refletir sobre a relação entre a lei divina
de uma determinada comunidade, caracterizada e a lei do mundo concluindo daí a necessidade de
por sua organização social. restaurar o Direito Natural, que devia ser entendido
como a imagem da lei divina na alma humana. A
solução descoberta pelos eclesiásticos medievais
Atenção culminou no Direito Canônico, no qual a lei huma-
na, junto às necessidades e atividades jurídicas dos
Embora os primeiros problemas éticos fiéis, estava subordinada à autoridade da Igreja,
do Ocidente tenham surgido com os gre-
gos, o problema da distinção entre Ética, que tinha o dever de zelar por uma ordenação jus-
Moral e Direito não tem aí a sua origem. ta e santa da vida social
Esse problema só aparece na Moderni-
dade, com a autonomia das ciências e a Embora os primeiros problemas éticos do
passagem do teocentrismo para o antro- Ocidente tenham surgido com os gregos, o pro-
pocentrismo. blema da distinção entre Ética, Moral e Direito não
tem aí sua origem. Esse problema só aparece na
modernidade, com a autonomia das ciências e a
passagem do teocentrismo para o antropocentris-
Com a passagem do mundo antigo para o mo. Verifica-se, daí, uma separação entre o bem
mundo medieval, ocorrida no século IV, o cristianis- (ideal) e o que é bom (real), entre o legal (jurídico)
mo torna-se a religião oficial e o modelo escravista e o legítimo (justo).
cede lugar ao regime de servidão. A fragmentação Enquanto na Idade Média, a Filosofia, in-
econômica e política eram as principais caracterís- cluindo-se a Ética, estava subordinada à Teologia,
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na modernidade (séc. XVI-XIX) começa-se a de- apresenta-se como legislador supremo. Tal como
senvolver uma nova tendência que desvinculará Nicolau Copérnico (1473-1543), ao demonstrar
definitivamente o agir do homem de uma con- que era a Terra que girava em torno do Sol e não o
cepção teocêntrica de mundo. A ética originada contrário, Kant realiza uma revolução copernicana
dessa tendência atingirá seu ponto culminante no no modo de conceber a ética, mudando o teocen-
pensamento do filósofo alemão Immanuel Kant trismo de lugar com o antropocentrismo.
(1724-1804), no qual o homem, e não mais Deus,
A ética (do grego éthos, modo de ser) é um des biológicas, psicológicas e por realidades cultu-
conhecimento racional que, partindo da análise rais”. O valor da ética está no que ela explica. Não
de comportamentos concretos, caracteriza-se pela lhe cabe formular juízos de valor acerca de uma
preocupação em definir o que é bom, enquanto a prática moral realizada em outras sociedades, em
moral (do latim mores, costumes) inclina-se ao pro- outras épocas, em nome de uma moral absoluta e
blema do que fazer em cada situação concreta. As universal. No passado, a ética acabou se transfor-
duas não se excluem e não estão separadas, em- mando em doutrina e, por conta disso, não foi o
bora os problemas teóricos e práticos se diferen- que deveria ter sido, isto é, uma investigação sobre
ciem. Dessa forma, podemos dizer que decidir e o comportamento moral. Por vezes, ela se prestou
agir concretamente são problemas práticos e, por- a justificar, ideologicamente, comportamentos
tanto, morais. Investigar sobre essa decisão e ação, morais que se pretendiam absolutos e universais.
a responsabilidade que as subjaz, sobre o grau de Contrariamente, a ética deve partir sempre da mo-
liberdade e determinismo que aí se encontram, é ral como uma realidade histórico-social, tentando
um problema teórico e, portanto, ético. Também explicar a diversidade e as mudanças das práticas
são problemas éticos a natureza e os fundamentos morais sem, contudo, tomar partido deste ou da-
do comportamento moral enquanto obrigatório e quele princípio em particular.
o da realização moral, enquanto empreendimento A variedade de contextos históricos, sociais
individual e coletivo. e culturais leva a uma pluralidade de morais. Isso
significa dizer que morais concretas podem coexis-
tir ou suceder umas às outras. É nessa pluralidade
Atenção
que o homem, enquanto sujeito moral, expressa
O valor da Ética está no que ela explica. Não lhe seu papel ativo e criador. Todavia, apesar da varie-
cabe formular juízos de valor acerca de uma
prática moral realizada em outras sociedades,
dade de contextos, o fato moral, de acordo com
em outras épocas em nome de uma moral ab- Immanuel Kant, é sempre constituído da mesma
soluta e universal. forma, ou seja, pelo dever e pela liberdade. O dever
é incondicionado, expressando uma necessidade
que se pronuncia não pela natureza, mas pela ra-
Se de um lado a função da ética é fundamen- zão, através de uma norma e de um fim. Em outras
talmente investigativa e sua natureza é de ordem palavras, o dever deve ter seu fundamento não
conceitual, de outro, a moral, por ser de ordem na sensibilidade empírica ou na contingência das
iminentemente prática, é impensada fora de um circunstâncias, mas unicamente nas leis racionais,
contexto histórico, social, político e econômico. De válidas para todos os homens em todas as condi-
acordo com o teólogo luterano Paul Tillich (1886- ções. A liberdade, por sua vez, deve ser entendida
1965), “o conteúdo da lei moral é condicionado como a capacidade de eleger uma ação possível.
historicamente” e “determinado pelas necessida- Trata-se, tal como o dever, de um fato a priori da ra-
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zão que enfrenta, como algo absoluto, a realidade estão incorporados na essência do homem.
espaço-temporal. Nesse sentido, dever e liberdade
Enquanto a norma moral se cumpre por uma dico. Conclui-se, desse modo, que nem sempre o
convicção íntima do indivíduo, a norma jurídica se que é legal (jurídico) corresponde ao que é legíti-
cumpre por uma imposição coercitiva de natureza mo (justo).
externa. A adesão interna, própria da norma moral, Tal como a moral, o direito objetiva a coesão
não é exigida pela norma jurídica. Ainda que al- social. Todavia, para torná-la possível serve-se do
guém esteja intimamente convencido de que uma organismo estatal, que lhe confere validade e po-
lei é injusta, isso não o permite transgredi-la. Por der para submeter os indivíduos, mesmo que para
outro lado, se alguém está intimamente convenci- isso tenha que passar por cima de suas vontades.
do de que uma determinada ação não é boa, já é o Não obstante, é bom deixar claro que existe ainda
bastante para não praticá-la. uma distinção importante entre Direito Positivo e
Em moral, a convicção íntima do indivíduo Direito Natural. Direito Positivo é aquele conjunto
não deve ser compreendida como mero subjeti- de leis em vigor em um determinado Estado. Essas
vismo, pois ela é sempre produzida por uma justi- leis obrigam todos a delas tomarem parte. Direito
ficação social, prática, lógica, científica e dialética. Natural, por sua vez, se refere a uma ideia abstrata
No direito (do latim directum, aquilo que é reto), de direito, isto é, ao sentimento de justiça de uma
a convicção do julgador é sempre produzida por comunidade. Um bom exemplo disto é que o Direi-
uma verdade formal (tal como consta nos autos) e to Positivo não obriga ao pagamento de duplicata
nunca por uma verdade material (o fato tal como prescrita, enquanto que para o Direito Natural esse
ocorreu), uma vez que esta lhe é desconhecida. pagamento é devido e correto. Como se pode ob-
Com isso, o julgador pode ser levado, pelas teste- servar, o Direito Positivo tange ao que é legal e o
munhas e provas de um processo, a formar uma Direito natural, ao que é legítimo.
convicção errada sobre um determinado fato jurí-
O agente moral constitui, por sua racionali- Deus, de uma classe profissional etc. Nesse senti-
dade, o centro de todos os valores e de todas as do, podemos afirmar que a autonomia moral de
ações derivadas destes. Distinta do eu e da alma, uma pessoa é simplesmente, como sugere o fi-
a pessoa moral tem uma manifestação peculiar lósofo Max Scheler (1874-1928) em uma de suas
na responsabilidade ou imputabilidade de sua obras1, a condição prévia para que ela pertença ao
conduta e de seus atos. Por sua vez, toda respon- domínio da moralidade e seus atos sejam morais
sabilidade é sempre uma responsabilidade diante na medida em que são imputáveis.
de, que tanto pode ser diante de outra pessoa, de
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A obra referida é Der Formalismus in der Ethik und die materielle Wertethik (O Formalismo na Ética e a Ética Material
dos Valores), dividida em dois volumes e concluída em 1916.
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No decorrer da sua existência, o ser humano se avaliação, não é correto concluir que uma é sinôni-
depara com uma variedade de situações nas quais mo perfeito da outra.
deve fazer uma escolha. A escolha é um exercício da A escolha é uma reação exclusivamente pes-
liberdade que envolve a totalidade e a concretude soal do sujeito, despertada nas relações cotidianas,
de um ser que toma decisões em uma determinada podendo ser norteada não só por elementos inter-
situação. Não se trata de um sujeito epistemológico nos (sentimentos, distúrbios psicológicos etc.), mas
diante de uma situação puramente teórica. A esco- também por elementos externos (pressão social,
lha é sempre abrangente, pois envolve a pessoa por norma jurídica etc.). Já a avaliação, por outro lado,
inteiro: os impulsos psicológicos, a corporeidade, implica necessariamente que se levem em conta as
a espiritualidade, os aspectos da vida social, a for- condições concretas nas quais se avalia e o caráter
mação do caráter subjetivo, enfim, o mundo que se concreto dos elementos que intervêm na avaliação.
relaciona permanentemente com cada eu. Todavia, Como se pode observar, contrariamente à escolha,
a escolha pressupõe uma avaliação que é a atribui- a avaliação não é exclusivamente pessoal, decorre
ção de um valor a um determinado objeto ou ação daí o seguinte:
realizada pelo homem.
Ao pressupor a avaliação, a escolha acaba a) ao realizar uma escolha, um ser humano nem
compreendendo logicamente os elementos que sempre decide pelo que é objetivamente
constituem a atribuição dos valores. Em outras pa- mais valioso;
lavras, o valor atribuível, o objeto avaliado e o sujeito
b) na avaliação, o sujeito utiliza, inevitavelmen-
que avalia são elementos que constituem não só a
te, os critérios axiológicos (de valor) estabele-
avaliação, mas também a escolha. Entretanto, ape-
sar de haver uma estreita relação entre a escolha e a cidos pelo contexto histórico-social em que
vive.
Todas as coisas que o homem cria, assim vismo e o subjetivismo. O objetivismo axiológico tem
como seus atos e os produtos de suas atividades, como representantes ilustres os filósofos idealistas
têm um valor. O valor existe unicamente em um alemães Max Scheler (1874-1928) e Nikolaï Hart-
mundo social, pelo e para o homem. Nesse sentido, mann (1882-1950). De acordo com os partidários
é correto afirmar que o valor não pode existir fora dessa posição, os valores são absolutos, imutáveis
da relação com os interesses e com as necessida- e incondicionados. Eles subsistem por si e indepen-
des do homem, compreendido como um ser social. dem dos objetos e ações nos quais se encarnam,
Também não é possível concebê-lo independente- aliás, eles nem precisam estar encarnados. Trata-se,
mente das propriedades objetivas que possibili- na verdade, de uma separação visível entre o valor
tam a avaliação, pois a atribuição de um valor exi- e a realidade.
ge certas qualidades reais, uma vez que não existe A posição defendida pelos objetivistas é mui-
valor em si mesmo, como se fosse uma entidade tíssimo discutível, pois nenhum valor é objetivo em
ideal ou metafísica. si mesmo, sua objetividade não é material e nem
Na história filosófica da avaliação, encontra- ideal. Ela também não pode ser reduzida ao ato
mos dois modos distintos de sua aplicação: o objeti- psíquico de um indivíduo, e tampouco às proprie-
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dades naturais de um objeto real. A objetividade pelo fato de ser apreendido através de uma intui-
de um valor transcende o limite de um indivíduo ção natural. Ao sustentar essa posição, os intuicio-
ou de um grupo, mas não ultrapassa o âmbito do nistas acabam caindo em um problema semelhan-
homem como ser histórico-social. Olhando aten- te ao dos emotivistas.
tamente, não será difícil encontrar no objetivismo Os partidários do subjetivismo axiológico não
axiológico uma semelhança, ainda que sutil, com as deixam de ter certa razão quando defendem que
linhas gerais da metafísica idealista de Platão, pois,
não existem objetos e ações que tenham valor em
ao separar o valor da realidade para conferir-lhe si mesmos, porém cometem um erro ao deixarem
uma objetividade intrínseca, e porque não dizer es- de lado o fato de que a avaliação não é exclusiva-
sencial, o objetivismo deixa de lado o valor e passa a
mente pessoal. Todo indivíduo pertence a uma
focar um metavalor. época e como ser social está sempre inserido em
Além dos objetivistas, encontramos alguns uma sociedade determinada por uma cultura que
filósofos que transferem o valor de um objeto ou tem critérios de avaliação socialmente significati-
de uma ação para o sujeito. Trata-se dos subjetivis- vos. Vale recordar que um valor só pode ser conce-
tas, representados geralmente por filósofos de lín- bido como tal se estabelece relações entre os indi-
gua inglesa, tais como o neopositivista Alfred Ayer víduos de uma mesma sociedade.
(1910-1989) e o analítico George Moore (1873- A avaliação é impossível sem o indivíduo, mas
1958). jamais poderá ser compreendida fora de um jogo
Pelo fato de ser defendido por duas corren- de significações próprias, caso contrário somos le-
tes filosóficas distintas, o subjetivismo axiológico é vados a um intuicionismo, no qual a avaliação não
apresentado sob dois aspectos: o emotivismo e o pode ser justificada racional e objetivamente e
intuicionismo. Para os emotivistas, representados nem ser comprovada empiricamente.
pelos filósofos neopositivistas, não existe objeto Parece ironia, mas os filósofos ingleses, ana-
ou ação que possua valor em si. O valor depende, líticos ou neopositivistas, na tentativa de libertar
em última análise, do efeito emocional produzido os critérios de avaliação da metafísica tradicional,
em alguém ou da emoção que um sujeito pode acabam criando um tipo de metafísica, na qual a
provocar em outros sujeitos. Esse posicionamento compreensão do valor deve ser buscada não na
cai inevitavelmente num irracionalismo, uma vez realidade do mundo das relações, mas no mundo
que se torna impossível encontrar razões objetivas não histórico, não temporal e não racional dos afe-
para justificar um valor. Já os intuicionistas, repre- tos. O valor se vê, assim, novamente transformado
sentados pelos filósofos analíticos, defendem que num metavalor.
o valor não pode ser observado empiricamente
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Embora essas críticas gozem de fundamentação, o francês Jean Baudrillard (1929) passa a relacionar
fato é que elas brotam da própria razão moderna. valor e simulação, em suas reflexões sobre a frag-
O outro ataque contra a Modernidade par- mentação do real.
tiu da Escola de Frankfurt, significativamente re- Para Baudrillard, a Pós-Modernidade se ca-
presentada pelo filósofo Jürgen Habermas (1929). racteriza por uma espetacularização do social evi-
Segundo ele, o que marca a Modernidade é uma denciada pela estetização dos valores. Trata-se de
razão instrumental que, caracterizada pela instru- uma orgia, na qual todos os modelos de represen-
mentalização do conhecimento pelo poder, deve
tação do real são admitidos. É desse modo que a
ser transformada numa razão comunicativa, res-
imagem não só troca de lugar com a realidade, mas
ponsável pela criação de um espaço público, no
acaba engolindo-a. Tal situação é decorrente da sa-
qual o diálogo, como condição de possibilidade,
deve permitir a construção de uma sociedade eti- turação do sentido das formulações. Sendo assim,
camente responsável. Tal como no pós-estrutura- resta-nos somente a simulação, o simulacro, isto é,
lismo, a crítica da Escola de Frankfurt contra a Mo- fingir ter o que não se tem.
dernidade utiliza a mesma racionalidade moderna De acordo com o filósofo e sociólogo francês,
que, para Habermas, trata-se, na verdade, de um que não se rejubila com a liquidação absoluta dos
projeto inacabado. referenciais, a história pode ser dividida em quatro
Em 1979, o filósofo francês Jean-François Lyo- estágios: natural, no qual o valor se origina em refe-
tard (1924-1989) introduz a ideia de uma condição rência ao uso natural do mundo; mercantil, no qual
pós-moderna. De acordo com ele, a Modernidade o valor surge em referência a uma lógica da merca-
com suas metanarrativas (narrativas mestras de- doria; estrutural, no qual o valor se desenvolve em
senvolvidas para a justificação de toda a realidade), referência a um conjunto de modelos e fractal, que
permeadas de pretensões atemporais e universali- não comporta mais referências a algo específico e
zantes, perdeu o sentido, tendo em vista que não nem geral. A Pós-Modernidade se enquadra nesse
é mais possível explicar a realidade social através último estágio. Sem referências, nela o que se pro-
de uma racionalidade, nem instrumental e nem cessa é uma espécie de metástase geral do valor,
comunicativa. Tomando como base os jogos de uma proliferação e dispersão aleatória. A saturação
linguagem (Sprachspiele) de Ludwig Wittgenstein do valor, análoga à multiplicação desordenada de
(1889-1951), Lyotard chega à conclusão de que o células cancerígenas, é para Baudrillard uma simu-
consenso habermasiano não é possível, pois a di- lação, um tipo de autorreprodução ao infinito. Essa
versidade dos jogos, caracterizados por um poder generalização, transformada numa hiper-realidade,
de transignificação, multiplica o sentido dos valo- torna o real simulado (esvaziado na sua existência
res, tornando-os ao mesmo tempo sem sentido. pela multiplicidade de sentidos), aparentemente
Partindo dessa abordagem, o filósofo e sociólogo mais agradável e desejoso.
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estatístico de casos particulares, pretende chegar a Charles Sanders Peirce (1839-1914), William James
uma lei dita experimental. (1842-1910), John Dewey (1859-1952) e represen-
Tomando a experiência em seu sentido ge- tado atualmente pelo filósofo Richard Rorty (1931),
ral, o empirismo acaba por transformar-se em um afasta-se das questões abstratas da metafísica ao
psicologismo, no qual tudo, inclusive os valores, é dar mais atenção à prática do que a teoria. Difere
reduzido à experiência interna e individual de um do utilitarismo ao tomar como referência de valor
sujeito que, pela diversidade de seus pensamentos não o que é mais vantajoso para o maior número
e percepções, torna-se inútil como modelo com- de indivíduos, mas as práticas que permitem atin-
parativo e inconsistente como base para qualquer gir, dentro de cada situação concreta, o êxito.
argumentação. Esse empirismo psicologista, pai do Ao tentar salvar os valores de um reducio-
intuicionismo e do emotivismo, é naturalmente irra- nismo conceitual, o empirismo e suas ramificações
cional, relativista e imoral. De outro lado, tomando (psicologismo, utilitarismo e pragmatismo), longe
a experiência em seu sentido técnico, o empirismo de torná-lo experimental acabaram transforman-
apresenta-se sob duas formas: como utilitarismo, já do-o numa simulação, na qual seu sentido tornou-
mencionado anteriormente, e como pragmatismo. -se diluído nas experiências individuais e nas abs-
Apoiado em algumas teses do utilitarismo, trações estatísticas.
o pragmatismo, fundado nos Estados Unidos por
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Nada menos de 76% das empresas brasileiras elas, prestadores de serviços (21%), clientes (17%) e
já sofreram algum tipo de fraude. A conclusão foi fornecedores (10%).
da pesquisa A Fraude no Brasil, realizada pela con- As maiores perdas vieram da falsificação de
sultoria KPMG. cheques ou documentos, roubo de ativos e contas
Segundo a mesma, 48% das fraudes em em- de despesas. As companhias afirmaram que 73%
presas foram causadas por funcionários das pró- das fraudes foram inferiores a 1 milhão de reais,
prias companhias; 52%, por fontes externas, entre mas em 46% dos casos, o valor não foi recuperado.
Vimos neste capítulo que embora os primeiros problemas éticos do Ocidente tenham surgido com
os gregos, o problema da distinção entre Ética, Moral e Direito não tem aí a sua origem. Esse problema
só aparece na Modernidade, com a autonomia das ciências e a passagem do teocentrismo para o antro-
pocentrismo.
Estudamos que o valor da ética está no que ela explica. Não lhe cabe formular juízos de valor acerca
de uma prática moral realizada em outras sociedades, em outras épocas em nome de uma moral abso-
luta e universal. Os autores admitem que a ética nos negócios reflete os hábitos e as escolhas que os
administradores fazem no que diz respeito às suas próprias atividades, ou seja, reflete o sistema moral de
valores pessoais, próprios de cada um.
O imperativo ético da responsabilidade exige, ao mesmo tempo, atenção aos experimentos do
presente e uma sincera preocupação com as consequências futuras de nossas ações.
1. A ética contemporânea, ao tratar da obrigação do ato moral, costuma distinguir duas teorias.
Quais são elas? Explique-as.
2. Segundo Moreira (1999), quais seriam as razões para que uma empresa tenha um bom com-
portamento ético?
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A RESPONSABILIDADE SOCIAL
2 CORPORATIVA COMO DIFERENCIAL NO
NOVO CENÁRIO ECONÔMICO
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Para essas empresas, a responsabilidade so- diferenciais competitivos. Busca, desta for-
cial não é só uma questão ética, senão também ma, diferenciar-se dos seus concorrentes
assumindo uma nova postura empresarial
um instrumento de trabalho com atitudes conso-
– uma empresa que investe recursos finan-
lidadas de respeito a quem participa da cadeia de ceiros, tecnológicos e de mão-de-obra em
produção, desde o presidente da empresa ao mais projetos comunitários de interesse públi-
simples dos trabalhadores. co. (p. 100).
Melo Neto e Froes (2001) deixam bem claro
A atuação da empresa-cidadã amplia e com-
o impacto que a cidadania empresarial traz para o
pleta seu papel de agente econômico e a transfor-
país, ao afirmarem que:
ma em agente social por disponibilizar os mesmos
recursos usados no seu negócio para transformar
Uma empresa-cidadã tem no seu compro-
misso com a promoção da cidadania e o a sociedade e desenvolver o sentido do bem co-
desenvolvimento da comunidade os seus mum.
Nos últimos tempos, temas como a ética, a ponsabilidade social da empresa e com os impac-
filantropia, os cuidados com o meio ambiente, a tos de sua atuação no ambiente físico e social da
transparência e os valores empresariais vêm adqui- comunidade na qual atua.
rindo nos meios acadêmicos e empresariais valores As empresas sempre realizaram doações de
diferenciados, com uma postura voltada à respon- forma esporádica e sem um foco específico, ape-
sabilidade social. nas como forma de contribuição filantrópica. Mas,
Vale destacar, no entanto, que o conceito de essa doação pode até contribuir para ajudar a re-
responsabilidade social somente há pouco tempo solver algum problema ou necessidade imediata,
passou a integrar à realidade das empresas bra- mas quase sempre se dilui e não atinge um resul-
sileiras. E nesse cenário, em que as empresas dão tado social significativo. Esse procedimento já era
ênfase ao social, preocupando-se mais com o bem- conhecido como filantropia empresarial (BORGER,
-estar de seus funcionários e da sociedade em ge- 2001).
ral, considera-se relevante a abordagem do tema Aguilar (1996) define a ação voluntária da em-
responsabilidade social, tanto para as empresas em presa na comunidade, realizada de forma pontual,
geral quanto para a sociedade. pouco profissional, pouco planejada e com peque-
Atualmente, há uma preocupação com a res- no impacto de mudança da realidade daqueles que
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são beneficiados. De fato, a filantropia está baseadafunção de governo, para quem pagam quase meta-
mais na decisão individual do empresário, calcada de de sua renda em impostos. Deve-se considerar
em um sentimento de solidariedade ou até religio- que nos processos que envolvem a responsabilida-
so, de “fazer o bem”. de social empresarial ou a responsabilidade social
Numa caracterização de filantropia, Melo corporativa, deve-se levar em conta o espírito de
Neto e Froes (1999) dizem ser ação individual e solidariedade e filantropia, não sendo somente a
voluntária, fomento da caridade, ter base assisten- participação em ações comunitárias e preservação
cialista, ser restrita a empresários filantrópicos e ambiental.
abnegados e prescinde de gerenciamento. Não se Na responsabilidade social corporativa, o
identifica como uma ação permanente e não inte- sentimento que embasa as ações iniciam-se inter-
gra o sistema de gestão e nem a cultura da organi- namente, ainda no ambiente empresarial. Antes de
zação, sendo passível de descontinuidade aos pri- voltar-se para os públicos externos, a empresa bus-
meiros sinais de crise. ca a responsabilidade social interna, com seus fun-
O contexto empresarial atual exige uma nova cionários, os terceirizados e seus acionistas (MELO
postura das empresas quanto ao campo social, em- NETO; FROES, 1999).
bora ainda existam escolas que dizem ser isto uma
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cumpre com os compromissos éticos que tiver, Os clientes, hoje em dia, querem saber, por
adotando postura ética frente às estratégias de exemplo, a origem da matéria-prima e o que faz
negócios. Isso quer dizer que a atitude da empresa a empresa com o seu lucro. Nesse sentido, há um
é respaldada em honestidade em seus relaciona- interesse direto das empresas em se posicionarem
mentos internos e externos. Esses relacionamentos no mercado como ativas e atuantes na postura éti-
abrangem clientes, fornecedores, sócios, funcioná- ca e de responsabilidade social, agregando, assim,
rios, governo e toda a sociedade (AGUILAR, 1996). valor ao seu produto e/ou serviço.
Uma empresa ética calca seus valores e ex- Porém, vale destacar que para o setor priva-
pectativas no cumprimento de suas responsabili- do ser reconhecido como socialmente responsá-
dades públicas e em sua atuação como boa cida- vel, será preciso que seja ético nos negócios por
dã. Assim, a liderança da organização enfatiza as princípio e não por ser modismo. É preciso que o
responsabilidades públicas, valorizando o cunho setor privado entenda que “a Responsabilidade So-
de empresa cidadã. Essa responsabilidade pública cial passa pela conduta de seus negócios traduzida
refere-se às expectativas da organização referentes pelos seus princípios e missão de forma clara e ine-
à ética nos negócios, atenção à saúde pública, se- quívoca.” (MELO NETO; FROES, 1999, p. 7).
gurança e proteção ambiental. A moderna gestão De igual forma, na apuração e apresentação
empresarial pressupõe relacionamentos éticos no dos resultados contábeis e econômico-financeiros
mundo dos negócios para poder sobreviver e tam- e na distribuição de lucros deve apresentar dados
bém para conseguir obter vantagens competitivas consistentes e transparentes.
(DONAIRE, 1999). Esse comportamento deve influenciar direta-
A transparência de informações por parte mente a participação das ações sociais, que devem
das empresas está sendo cada vez mais valorizada apresentar resultados efetivos de impacto junto às
e considerada como um importante valor no meio comunidades as quais se destinam.
empresarial. Esse comportamento de respeito à Sob o ponto de vista acadêmico, Carvalho
verdade, que gera respeito e confiança nos rela- Neto et al. (2004) enfatizam que a Responsabilidade
cionamentos, garante às empresas que o adotam Social Empresarial (RSE) é, geralmente, associada à
o perfil de empresa ética. Esse aspecto deve ser Ética nos Negócios (EN). Os referidos autores expli-
aplicado em todos os níveis de negociação, tanto cam que o diálogo teórico entre a EN e RSE deve
internos quanto externos. ser abordado conforme as três dimensões da ética:
Aguilar (1996) avalia que cada vez mais a requer-se, ao mesmo tempo, uma ética da respon-
postura ética está sendo valorizada no mundo dos sabilidade, uma ética do princípio da humanidade
negócios. Diante dessas circunstâncias, observa-se e uma ética geradora de moral convencional.
que há um misto de intenções. Ou seja, “a postura Carvalho Neto et al. (2004) enfatizam que, a
das empresas preocupadas com as questões so- partir dessa constatação, verifica-se a necessidade
ciais, hoje em dia, representa condição básica para de um modelo de EN que possa balizar a pesquisa
o sucesso do empreendedor competente, revelan- sobre RSE, a fim de evitar o risco de ideologização
do uma consciência cidadã” (p. 37), atributo ainda do conceito, na medida em que o caráter ético de
um pouco raro no meio. Assim, o espírito humani- iniciativas empresariais isoladas é globalizado para
tário toma conta do meio empresarial. toda a atuação da organização, efetivando-se, as-
Por outro lado, existem pressões de merca- sim, uma abstração que leva a acreditar que orga-
do para que o setor privado assuma sua parcela nizações que desenvolvam projetos sociais, ou am-
de responsabilidade no trato das questões sociais, bientais, por exemplo, sejam fundamentalmente
ultrapassando em muito as exigências tributárias e empresas éticas.
contributivas legais. Na visão de Costa (2004, p. 48), uma empre-
Aliado a isso, a postura do consumidor bra- sa-cidadã é compromissada com a elevação da ci-
sileiro ficou bem mais exigente. Atualmente, há dadania e o desenvolvimento da sociedade e o seu
uma grande valorização de marcas que vão além diferencial competitivo, procurando, dessa manei-
da simples verificação do preço ou mesmo da com- ra,
paração da qualidade (DONAIRE, 1999).
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ser uma organização que investe em re- a responsabilidade das empresas está para
cursos financeiros, tecnológicos e mão- além de suas ações sócio-ambientais e eco-
-de-obra em projetos de interesse público, nômicas, sejam de caráter interno ou exter-
é uma organização que cria um ambiente no. A autora destaca o papel dessas organi-
agradável de trabalho valorizando seus re- zações como agente de estabilização social
cursos humanos e tem capacidade de de- que deve ser valorizado por sua capacidade
senvolver um exemplo de gestão integrado de salvaguardar o emprego, valor essencial
no qual os indivíduos têm um papel decisi- da socialização na sociedade contemporâ-
vo no seu compromisso com relação à co- nea.
munidade e à sociedade em geral. E ainda,
é uma empresa que se organiza e constrói No âmbito da responsabilidade social, a em-
maneiras alternativas de participar, convi- presa que opta pelas boas práticas de governança
ver e viver melhor. corporativa adota como linhas mestras a transpa-
rência, a prestação de contas (accountability) e a
Para Kirschner (1998, p. 65),
equidade.
No Brasil, o chamado terceiro setor, composto truturar suas visões e disseminar práticas relaciona-
pelas organizações não governamentais, sem fins das à responsabilidade social e à gestão nas empre-
lucrativos e que atuam em função de um bem co- sas, conforme se poderá perceber. Para o Instituto
letivo (COELHO, 2000)3, apresenta-se como “agente Ethos (2005), a responsabilidade social empresarial
censor” das atividades empresariais desde 1961, é a forma de gestão que se define pela relação éti-
quando da criação da Associação dos Dirigentes ca e transparente da empresa com todos os públi-
Cristãos de Empresas (ACDE), em São Paulo. cos com os quais ela se relaciona e pelo estabele-
Entre as organizações criadas no Brasil, entre cimento de alvos empresariais compatíveis com o
as décadas de 80 e 90, originárias do processo de desenvolvimento sustentável da coletividade, res-
redemocratização e com o objetivo (lato sensu) de guardando recursos do meio ambiente e da cultura
sensibilizar e mobilizar o empresariado do país para para gerações futuras, respeitando a diversidade e
a questão social pode-se destacar, por ordem cro- promovendo a redução das desigualdades sociais.
nológica: o Instituto Brasileiro de Análises Econômi- De forma bem próxima, Ferrell, Fraedrich e
cas e Sociais (IBASE), em 1981; a Fundação Instituto Ferrell (2001) concordam com o Instituto Ethos
de Desenvolvimento Empresarial e Social (FIDES), (2005), na medida em que caracterizam a responsa-
fundada em 1986; o Pensamento Nacional das Ba- bilidade social corporativa como uma obrigação da
ses Empresariais (PNBE), movimento de empreen- empresa de elevar ao máximo seu impacto positivo
dedores formado em 1987; a Associação Brasileira nos stakeholders (clientes, proprietários, emprega-
de Empresários pela Cidadania (CIVES), fundada em dores, população, fornecedores e governantes) e
1994; o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas em minimizar o negativo.
(GIFE), criado em 1995; além do Instituto Ethos de Em 2003, o Instituto Ethos desenvolveu a ter-
Empresas e Responsabilidade Social, criado em ceira versão de seus Indicadores Ethos de Respon-
1998 (ALLEDI FILHO; SCHIAVO, 2005). sabilidade Social Empresarial, uma ferramenta de
Alguns desses movimentos articulados da aprendizado e ponderação da gestão da organiza-
sociedade civil, além da academia, começam a es- ção no tocante à inclusão de exercícios de RSE, ao
3
Coelho (2000, p. 66) complementa que as organizações do terceiro setor “existem com a finalidade de distribuir riquezas e
bens coletivos a populações desservidas e negligenciadas, para advogar mudanças sociais e prestar serviços”.
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Estudamos neste capítulo que as empresas descobrem, na responsabilidade social, uma nova es-
tratégia para se manterem em um mercado altamente competitivo e globalizado.
2. Sob o ponto de vista acadêmico, Carvalho Neto et al. (2004) enfatizam que a Responsabilidade
Social Empresarial (RSE) é, geralmente, associada à Ética nos Negócios (EN). Os referidos autores
explicam que o diálogo teórico entre a EN e RSE deve ser abordado conforme as três dimensões
da ética. Quais são elas?
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A ESTRATÉGIA NO PROCESSO
3 ORGANIZACIONAL
Chiavenato e Sapiro (2003) dizem que o ho- 6º Formular estratégias e construir ações por
mem sempre esteve preso a um plano de estraté- meio de planos operacionais;
gia, para conseguir ser bem-sucedido em suas con- 7º Definir objetivos.
quistas.
Os autores explicam que devem ser seguidos Nesse contexto, ressalta-se a figura dos cha-
alguns itens para o processo de planejamento es- mados stakeholders. Assim, é preciso que a orga-
tratégico, tais como: nização tenha ideias claras do que os vários sta-
keholders esperam dela pela execução do plano
1º Deve-se declarar as pretensões da organi- estratégico, a fim de atender de modo equilibrado
zação; a todos os diferentes interesses envolvidos.
2º Ter uma visão de negócios;
3º Analisar diferentes dimensões do ambien-
te que possam influenciar a organização; Dicionário
4º Mapear a organização na questão das di- Stakeholders: pessoas ou grupos capazes de in-
nâmicas ambientais, forças e fraquezas; fluenciar ou serem influenciados pelos resultados
estratégicos alcançados.
5º Avaliar os determinantes de sucesso no
processo de planejamento, os fatores-
-chaves;
De forma congruente às convicções de Carva- tram que a ética empresarial se refere às regras e
lho Neto et al. (2004), Alledi Filho e Schiavo (2005) princípios que orientam decisões de indivíduos e
propõem um modelo teórico que concebe a gêne- grupos de trabalho. Os autores também explicam
se da responsabilidade social a partir de um “núcleo que a responsabilidade social se refere ao efeito de
ético”, base para o delineamento das estratégias decisões das empresas sobre a sociedade.
corporativas. Os autores ressaltam ainda que na au- À luz desse debate, a presidente da Compa-
sência dessa unidade central, as ações empresariais nhia Siderúrgica Nacional (CSN), Maria Silvia Bas-
teriam uma conotação absolutamente rarefeita e tos Marques (apud REVISTA BRASIL SEMPRE, 2000),
puída de valores sólidos o suficiente para contribuir considera que “[...] a responsabilidade social precí-
com o desenvolvimento social, em sentido amplo. pua da empresa é a busca do lucro”. Porém, segun-
Reforçando as discussões sobre a aparente do ela,
dicotomia entre ética nos negócios e responsabili-
dade social, Ferrell, Fraedrich e Ferrell (2001) mos-
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observa-se que a busca do lucro pelas em- O professor Giannetti da Fonseca ressalta
presas, numa visão contemporânea, está ainda que sem cumprir o mínimo legal, é estranho
condicionada a padrões éticos de com-
“que as empresas se preocupem com o máximo
portamento, no que diz respeito aos mais
diferentes públicos. Entretanto, este papel, moral” (apud GUROVITZ; BLECHER, 2005).
apesar de essencial, ainda é insuficiente. Dessa forma, como explica Kapra (apud ALLE-
[...] As organizações, como agentes proemi- DI FILHO, 2002), se as empresas tiverem condições
nentes e engajados nesta sociedade, têm
de fazer filantropia, façam. Se tiverem condições de
sido peça essencial deste esforço, como
pode ser verificado pelos dos balanços so- fazer voluntariado, façam. O limite é a própria ca-
ciais, que já se fazem usuais no país (apud pacidade da empresa em operar esses programas.
REVISTA BRASIL SEMPRE, 2000, p. 12). Assim, é possível constatar que existem diver-
sos meios estratégicos para as empresas definirem
De forma dogmática, Kapra (apud ALLEDI e adotarem uma forma de desenvolvimento de po-
FILHO, 2002) explica que a responsabilidade so- líticas quanto à responsabilidade socioambiental.
cial de uma organização não pode ser diferente da
As organizações que reconhecerem o papel
responsabilidade social dos indivíduos; guardadas
expressivo da criação de projetos socioambientais
as devidas proporções. Deve-se ter, sobretudo, um
e se remeterem ao esforço de manter uma gestão
comportamento ético.
empresarial comprometida com a sensibilização
Avançando dos fundamentos teóricos às dos recursos humanos acerca da participação ativa
práticas corporativas, nota-se que o exercício da na problemática e na busca de soluções, poderão
cidadania empresarial, adquirindo o status de “em- obter vantagens competitivas através da prática do
presa-cidadã”, pressupõe uma atuação eficaz da uso da ferramenta da gestão ambiental.
organização em duas dimensões, que são a gestão
Os meios para adquirir a experiência nesse
de responsabilidade interna e a gestão de respon-
campo se constituem no esforço conjunto de pro-
sabilidade externa.
mover o cumprimento da legislação ambiental,
aplicar estratégias de educação ambiental e pro-
Saiba mais mover situações em que a empresa contribua efe-
tivamente para a melhoria da qualidade ambiental.
No que concerne à questão legal, Alledi Filho (2004) é
veemente quando afirma que a questão do cumpri-
mento das obrigações legais não denota responsa-
bilidade social, e sim compulsoriedade citadina. Para Atenção
o autor, a responsabilidade social revela-se através da
proatividade empresarial ética, após todos os requisi- As organizações que reconhecerem o
tos legais terem sido atendidos. papel expressivo da criação de projetos
socioambientais e se remeterem ao es-
forço de manter uma gestão empresarial
comprometida com a sensibilização dos
O diretor-presidente do Grupo Odebrecht, Sr. recursos humanos acerca da participa-
ção ativa na problemática e na busca de
Emílio Odebrecht, reforça a proposição de Alledi Fi-
soluções, poderão obter vantagens com-
lho, complementando: petitivas através da prática do uso da fer-
ramenta da gestão ambiental.
Estamos convencidos, também, de que
as ações das empresas devem ultrapassar
os limites de suas obrigações legais, razão As ações desenvolvidas pelas organizações
pela qual [as empresas do grupo], desde a se constituem atualmente na aplicação de medidas
sua fundação, contribuem com programas participativas com a finalidade de adquirir um nível
educativos e educacionais nas comunida- de comprometimento interno dos recursos huma-
des onde atuam. (apud REVISTA BRASIL
nos, favorecendo a coesão e facilitando a gestão
SEMPRE, 2000, p. 10).
ambiental. Portanto, nenhuma empresa consegui-
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Estudamos neste capítulo que as organizações que reconhecerem o papel expressivo da criação de
projetos socioambientais e se remeterem ao esforço de manter uma gestão empresarial comprometida
com a sensibilização dos recursos humanos, acerca da participação ativa na problemática e na busca
de soluções, poderão obter vantagens competitivas através da prática de uso de ferramenta da gestão
ambiental.
1. Quais itens, Chiavenato e Sapiro (2003) sugerem que devem ser seguidos no processo de pla-
nejamento estratégico?
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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ver os colaboradores e estimular ações autônomas para que eles possam desenvolver seu trabalho de
formas eficaz. O planejamento das ações envolve a criação de programas sociais com a participação dos
colaboradores, o treinamento de situações que envolvam riscos ambientais e a disseminação de uma cul-
tura organizacional que tenha a finalidade de sensibilizar o trabalhador a seguir as devidas orientações
para evitar impactos ambientais.
Nesse sentido, essa postura pró-ativa dos recursos humanos que fazem parte da empresa é extre-
mamente relevante, e como a responsabilidade socioambiental deverá ser de todo cidadão consciente é
papel das empresas estimular e educar os recursos humanos para posturas ativas.
Finalizando, as empresas investem em responsabilidade social, primeiramente, para melhorar sua
imagem, ou seja, esteticamente. No entanto, o processo, para ser eficiente, precisa ser contínuo e trará
resultados em longo prazo.
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RESPOSTAS COMENTADAS DAS
ATIVIDADES PROPOSTAS
Capítulo 1
1. A ética contemporânea, ao tratar da obrigação do ato moral, distingue duas teorias: a deonto-
lógica e a teleológica. A primeira compreende como moralmente boa ou má uma ação que se
enquadre ou não na norma moral estabelecida em um determinado contexto, de acordo com
as necessidades histórico-sociais. Já a segunda, vincula a moralidade de uma ação não a uma
norma, mas às suas consequências. Essa teoria é também conhecida como consequencialismo,
uma vez que é a consequência de uma ação que a determina como sendo moralmente boa
ou má.
2. Moreira (1999) lista algumas dessas razões, tais como: ótimos relacionamentos com os seus
stakeholders; obtenção do lucro com respaldo moral; custos menores do que uma empresa
antiética (devido à inexistência de pagamentos irregulares ou imorais, como suborno, com-
pensações indevidas e outros); geração de lucro para o acionista ficar livre de contingências
futuras devido a procedimentos indevidos; e legitimidade moral para exigir comportamento
ético dos empregados.
Capítulo 2
1. É aquela que se preocupa com os problemas sociais existentes no país em que opera; que
entende que a incorporação de populações relegadas ou excluídas do mercado é necessária
para o próprio desenvolvimento empresarial; que assume os desafios do desenvolvimento;
que cria valores e exemplos que influenciam não só outras empresas, mas também as comu-
nidades que são impactadas por essas ações.
2. São elas: ética da responsabilidade, ética do princípio da humanidade e ética geradora de moral
convencional.
Capítulo 3
1. Os autores explicam que devem ser seguidos alguns itens para o processo de planejamento
estratégico, tais como:
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