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21/08/2021
Número: 0727002-97.2021.8.07.0000
Classe: AGRAVO DE INSTRUMENTO
Órgão julgador colegiado: 7ª Turma Cível
Órgão julgador: Gabinete do Des. Cruz Macedo
Última distribuição : 20/08/2021
Valor da causa: R$ 0,00
Processo referência: 0705827-90.2021.8.07.0018
Assuntos: Prova Objetiva
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Advogados
ANA CLAUDIA BARROSO DE CARVALHO (AGRAVANTE)
SAMIA WALESKA PEREIRA BARBOSA DE CARVALHO
(ADVOGADO)
DISTRITO FEDERAL (AGRAVADO)
POLICIA CIVIL DO DISTRITO FEDERAL (AGRAVADO)
CENTRO BRASILEIRO DE PESQUISA EM AVALIACAO E
SELECAO E DE PROMOCAO DE EVENTOS - CEBRASPE
(AGRAVADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
28404141 21/08/2021 Decisão Decisão
03:23
Poder Judiciário da União
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS
Gabinete do Des. Cruz Macedo
DECISÃO
1. Agravo de instrumento com pedido de antecipação de tutela recursal interposto por Ana
Cláudia Barroso de Carvalho contra decisão da 3ª Vara da Fazenda Pública do Distrito
Federal que indeferiu a liminar pleiteada na Ação Popular de nº 0705827-90.2021.8.07.0018,
ID nº 100771351, págs. 1-12.
10. Confiro o art. 5º, LXXIII da Constituição Federal e o art. 1º da Lei nº 4.717/65, Lei da
Ação Popular (LAP):
LXXIII – Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a
anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à
moralidade administrativa, ao meio ambiente, e ao patrimônio histórico e cultural,
ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da
sucumbência.
Art. 1º Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou a declaração
de nulidade de atos lesivos ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados,
dos Municípios, de entidades autárquicas, de sociedades de economia mista
11. A Lei nº 8.437/1992 que “dispõe sobre a concessão de medidas cautelares contra atos
do Poder Público e dá outras providências”, estabeleceu algumas restrições ao poder geral
de cautela do Magistrado frente à Administração Pública, não possibilitando a concessão de
medida liminar que esgote, no todo ou em parte, o objeto da demanda.
13. A pandemia e suas consequências, que dispensam comentários, fizeram com que todos
os setores da sociedade adotassem mecanismos de contenção à disseminação do SARS-CoV-
2.
14. Desde os primeiros casos de covid-19 confirmados no País o Governo do Distrito Federal
editou dezenas de atos normativos e adotou medidas concretas para minimizar as
consequências da pandemia. Em diversas oportunidades este Tribunal de Justiça
reconheceu a assertiva atuação governamental.
17. Concursos públicos foram realizados em diversas cidades. No Distrito Federal, neste ano,
ocorreram concursos da Polícia Federal e do Ministério Público do Distrito Federa e
Territórios, dentre outros, com milhares de candidatos; não há evidência de que tenham
contribuído para a proliferação do vírus, sem contar que houve ampliação da cobertura
vacinal para as faixas etárias que concorrem a cargos públicos.
18. Há, notoriamente, desde os dois concursos mencionados, mais pessoas vacinadas. As
19. A melhoria do quadro geral não autoriza o abandono das medidas de proteção, mas não
impedem a realização do concurso público questionado, cumprindo-se as medidas de
precaução (Edital nº 9, item 6, publicado em 12/8/2021).
20. Por sinal, a agravante não tem evidência acima da dúvida razoável do que afirma. São
temerárias, sem base empírica ou científica, a afirmação de que as vacinas aplicadas não
seriam suficientes para garantir a saúde daqueles que participarão do concurso e de que o
Distrito Federal e a banca examinadora não adotaram medidas preventivas com o intuito de
evitar a disseminação do vírus.
21. Quanto à primeira afirmação, a agravante não encontrou sequer um litisconsorte inscrito
no concurso para a promoção da ação popular e é impossível que tenha um relatório sobre a
situação vacinal de cada candidato ou sequer a origem territorial de cada um. Sobre a
segunda afirmação, o certame não começou. A autora não pode afirmar o que ainda não
aconteceu. Clarividência não é meio de prova válido em Direito. As medidas serão tomadas
no dia e no local das provas e estão previstas e documentadas no edital e nas leis em geral.
22. Exigir dos réus a realização de exame RT-PCR em todos os candidatos “para atestar a
negatividade de contaminação para COVID e, desse modo, há risco iminente de
contaminação ante ao quantitativo expressivo de gente no mesmo local” é um pleito sem
qualquer razoabilidade. Basta imaginarmos as filas, o tempo de espera e a reação dos
candidatos, que teriam que chegar ao local de provas com muita antecedência, sem contar
que o preço do exame RT-PCR seria pago, obviamente, pelo candidato, elevando o valor da
inscrição em R$ 100,00 ou mais, equivalentes ao custo médio nos laboratórios locais, o que
afetaria a própria autora, que pediu gratuidade de Justiça. Não será ela a única pessoa inscrita
no certame que não teria recursos para pagar o exame e não faria a prova.
23. A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, alterada pela Lei nº 13.665, de 26
de abril de 2018, impôs ao Juiz, no art. 20, mais uma obrigação ao fundamentar, nos termos
dos art. 93, X da Constituição Federal, suas decisões:
Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base
em valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas
da decisão.
24. Ao aplicar conceitos e valores abstratos o Juiz deve demonstrar as consequências práticas
de sua decisão. Deve, ainda, motivadamente, demonstrar as demais alternativas existentes e
26. Sem deixar a objetividade que deve conduzir esta decisão, a dicotomia de Roscoe Pound
pode ser resumida na necessidade de se dar às “leis no papel” um sentido de “lei na prática”,
na vida das pessoas. Foi por essa razão que o legislador adotou o princípio consequencialista.
O Juiz, antes de atender pedidos formulados, deve analisar as consequências da sua decisão.
29. Há indícios de que a autora usou a ação popular com aparente intenção de defesa de
interesse pessoal, devendo demonstrar, oportunamente, sua boa-fé para afastar as
consequências previstas no art. 5º, LXXIII da Constituição Federal. Dos indícios, destaco o
valor estratosférico que atribuiu à causa, R$ 27.897.390,00, somatório do preço da inscrição
de cada candidato, o que não guarda qualquer relação com o pedido; e a ausência de
demonstração do ato lesivo ao patrimônio público ou à moralidade administrativa.
30. Neste juízo de estrita delibação, cuja cognição ocorre de maneira sumária, não vislumbro
as ilegalidades apontadas pela agravante, tampouco o risco de lesão ao patrimônio
público ou à moralidade administrativa que justificasse a imediata suspensão das provas para
provimento de cargos na Polícia Civil do Distrito Federal.
DISPOSITIVO
32. Indefiro a antecipação de tutela recursal (CPC, arts. 995, parágrafo único e 1.019,
inciso I).
34. Comunique-se à 3ª Vara da Fazenda Pública do Distrito Federal, com cópia desta
decisão.